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Lição 1 – Paulo e a igreja em Filipos

ESBOÇO Nº 1 A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Estamos dando início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical, desta feita um trimestre que denominamos de “bíblico”, já que estaremos a estudar um livro das Sagradas Escrituras, a epístola do apóstolo Paulo aos filipenses. A epístola que Paulo escreveu aos filipenses é uma das chamadas “cartas da prisão”, pois se trata de uma epístola que o apóstolo escreveu enquanto estava preso em Roma (Fp.1:7,13,17), aguardando o seu julgamento diante de César, muito provavelmente quando se encontrava na prisão domiciliar na capital do Império (At.28:30), isto por volta do ano 61 d.C.

A simples existência desta epístola já testemunha o relacionamento de afeto e consideração que havia entre o apóstolo e a igreja em Filipos, igreja que foi fundada pelo próprio apóstolo no início da sua segunda viagem missionária (At.16:9-12).

Paulo escreve esta carta precisamente porque ficou a saber que os cristãos filipenses estavam entristecidos e até abalados na fé por causa da notícia de sua prisão. O apóstolo, com esta carta, embora agradecendo o cuidado que a igreja tinha por ele, quis encorajar-lhes o ânimo, mostrando aos filipenses que a sua prisão não significava uma derrota da Igreja nem tampouco um revés no seu ministério, mas tudo contribuía para o crescimento da evangelização.

Neste seu objetivo, o apóstolo vai mostrar aos cristãos filipenses a sublimidade da vida cristã, que não se modifica em absoluto com as angústias e dificuldades que enfrentamos enquanto estamos no mundo e, para tanto, vai, inclusive, mostrar àqueles crentes a própria humilhação sofrida pelo Senhor Jesus quando de Sua vinda a este mundo, a chamada “kenosis”, o Seu esvaziamento da glória divina para ir até a morte, e morte de cruz, tudo para que pudesse ser elevado sobre todo o nome.

É neste aspecto, aliás, que foi tecido o comentário da epístola aos filipenses neste trimestre.
O subtítulo do trimestre é “a humildade de Cristo como exemplo para a Igreja”, ressaltando, precisamente, que a epístola aos filipenses pretende nos mostrar que a humilhação neste mundo faz parte da vida cristã, tendo a Cristo como o próprio exemplo.

Paulo, ao mostrar que seu encarceramento não representa mal algum ao Evangelho nem demonstração de fraqueza da Igreja, traz o próprio Jesus como exemplo, para nos lembrar que, neste mundo, teremos aflições, momentos difíceis, mas que nos está reservada uma situação gloriosa, como teve o próprio Senhor.
É em virtude desta demonstração da humildade de Cristo como exemplo a ser seguido pelos crentes de Filipos, a fim de que eles não tivessem sua fé abalada por causa da prisão de Paulo, que se entende a capa da revista de trimestre.

A cena em que um homem está a iniciar a lavagem dos pés de outro remete-nos ao episódio do “lavapés”, narrado pelo evangelista João em Jo.13:1-20, quando Jesus, após ter tomado a ceia pascal com Seus discípulos, na mesma noite em que foi traído e preso, o Senhor despojou-se de Seus vestidos e passou a lavar os pés dos discípulos, num gesto de evidente humilhação.

O Senhor Jesus, com este gesto, não só demonstrou aos apóstolos que Ele próprio havia Se humilhado, assumindo a posição de servo, humilhação que prosseguiria com a obediência até a morte (Fp.2:6-9), como também que deveríamos também, em nossa vida cristã, repetir este gesto, não lavando os pés uns dos outros (como defendem alguns), mas, em todos os momentos, assumindo que estamos aqui para servir e não para sermos servidos.

Paulo, na carta aos filipenses, não cessa de mostrar aos crentes de Filipos que devemos ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, devendo tudo fazer por humildade, considerando os outros superiores a nós mesmos (Fp.2:3).

Se Jesus, sendo o Senhor, assumiu a posição de servo e, ao lavar os pés dos discípulos, tomou a posição do mais subalterno dos escravos, pois era este quem fazia tal serviço, quanto mais nós que não somos o Senhor, mas tão somente Seus servos.

Jesus lavou os pés dos discípulos para dar uma demonstração prática, um ensino prático a respeito da humildade que deve caracterizar cada servo de Deus. Como o apóstolo diz, ao escrever aos colossenses, nós devemos nos revestir de vestes de humildade (Cl.3:12).

Após uma lição introdutória, em que estudaremos o relacionamento entre o apóstolo Paulo e a igreja em Filipos (lição 1), passaremos a estudar a epístola ao longo de seus capítulos e versículos.
O comentarista deste trimestre é o pastor Elienai Cabral, presidente das Assembleias de Deus em Sobradinho/DF, que já há alguns anos comenta as lições bíblicas.

B) LIÇÃO Nº 1 – PAULO E A IGREJA EM FILIPOS

O relacionamento entre Paulo e a igreja de Filipos era de um profundo amor.

INTRODUÇÃO

– No início do estudo deste trimestre sobre a carta de Paulo aos filipenses, estudaremos o relacionamento de profundo amor que havia entre o apóstolo e a igreja que ele mesmo fundou naquela cidade da Macedônia.

– O relacionamento entre Paulo e a igreja de Filipos é um exemplo a ser seguido por todos os crentes, visto que a característica do cristão é o amor.

I – A EVANGELIZAÇÃO DE FILIPOS

– Neste trimestre, estudaremos a epístola de Paulo aos filipenses, uma das chamadas “cartas da prisão”, ou seja, uma das epístolas que o apóstolo Paulo escreveu quando se encontrava preso por causa do Evangelho, muito provavelmente na sua primeira prisão em Roma.

– “…Filipos foi uma cidade importante do Império Romano, considerada uma porta de entrada da Europa em relação aos visitantes provenientes da Ásia. Localizada no Leste da antiga província da Macedônia, a 13 quilômetros do mar Egeu, no topo de uma colina. Abaixo dela estavam o rio Gangites e a estrada militar Ignatia, que ligava a Europa e a Ásia. Sua origem remonta aos trácios, povo conquistado em 358 a.C. pelo rei Filipe da Macedônia. A cidade recebeu esse nome em homenagem ao seu conquistador. Em 108 a.C. passou ao controle romano. Em 42 a.C., foi palco da batalha de Marco Antônio e Otávio Augusto, que buscavam vingar a morte de Júlio César, contra Brutus e Cássio – da qual o poeta Horácio diz ter participado (Ode 2.7. v. 2 e 9-16).

Nove anos mais tarde, Otavio, futuro Augusto, venceu Marco Antônio e Cleópatra. Os veteranos dessas batalhas instalaram-se em Filipos, e a cidade acabou ganhando status de colônia romana e o Ius Italicum, o que a tornava uma réplica menor de Roma. Seus cidadãos tinham cidadania romana e possuíam inclusive direitos de propriedade equivalentes aos de uma terra em solo italiano. Os oficiais políticos eram descendentes dos soldados romanos, o que reforçava ainda mais o caráter latino da cidade, refletindo também seu pensamento e religião. Eram frequentes os cultos às divindades romanas, como Júpiter, Juno e Marte, e à antigos deuses italianos. As divindades gregas não tinham muito destaque. Persistia porém, adoração à deuses trácios.…” (WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Filipos Acesso em 09 maio 2013).

– Filipos aparece na história sagrada no início da segunda viagem missionária do apóstolo Paulo. Depois de ter se separado de Barnabé, o apóstolo inicia uma segunda viagem missionária a fim de verificar como estavam as igrejas que havia implantado juntamente com Barnabé na sua primeira viagem, arrumando um novo companheiro, Silas (At.15:36-41).

– Nesta verificação, o apóstolo Paulo, ao passar pela cidade de Listra, onde havia implantado uma igreja na sua primeira viagem missionária (At.14:6), ajuntou ao grupo o jovem Timóteo. Depois de ter verificado o estado das igrejas e de lhes ter anunciado os decretos do concílio de Jerusalém, Paulo, então, passou a desejar abrir novas igrejas na província romana da Ásia. No entanto, o Espírito Santo não o permitiu, impedindo-o de pregar na Frigia, na Galácia, na Mísia e na Bitínia (At.16:6-8).

– Diante desta peculiar situação, o apóstolo Paulo teve uma visão em que via um varão da Macedônia que lhe rogava dizendo para que passasse à Macedônia (At.16:9). O apóstolo, então, entendeu que o Senhor queria que ele iniciasse a pregação do Evangelho na Europa e, como vimos, a porta de entrada para a Europa, naqueles dias, era precisamente a cidade de Filipos, que era uma colônia romana, ou seja, uma cidade habitada por romanos fora de Roma mas que desfrutava dos mesmos privilégios da capital do Império (At.16:10-12).

– Paulo foi a Filipos por direta orientação divina e disposto a abrir mais esta trincheira na evangelização do Império Romano. Não é de se admirar, portanto, que fosse nascer entre o apóstolo e a igreja que ele iria ali implantar um relacionamento dos mais profundos revelados na Bíblia Sagrada entre um obreiro e uma igreja local, senão o mais profundo, pois tudo se iniciou pela orientação do Espírito Santo.

– Em nossos dias, isto também deve se dar. Não são raros, lamentavelmente, os casos em que não há empatia entre o obreiro e a igreja local onde ele está a exercer seu ministério. Tal circunstância, entre outros fatores, pode estar relacionada à falta de orientação do Espírito Santo no instante da colocação deste obreiro naquela igreja local. O episódio a envolver Paulo e a igreja de Filipos deve nos levar a pensar a respeito disto: temos pedido a orientação divina na designação de obreiros para as igrejas? Estamos sensíveis à voz do Espírito Santo como estava o apóstolo Paulo? Pensemos nisto!

– Chegando a Filipos, o apóstolo, com seus companheiros, passou ali alguns dias, buscando ao Senhor, a fim de que pudessem iniciar o trabalho de evangelização. Aqui vemos, também, outra característica que deve estar presente em todo evangelizador: a oração. Mesmo sabendo que o Senhor o mandara para aquela cidade, o apóstolo e seus companheiros não cessaram de orar, a fim de que pudessem se manter na orientação divina.

– Temos buscado a Deus em nosso trabalho de evangelização? Temos nos mantido em constante comunhão com o Senhor para aproveitarmos as oportunidades que se nos apresentarem para levar almas para Cristo? Nos dias hodiernos, vemos, com muita preocupação, a total ausência de interesse dos crentes em evangelizar, em levar pessoas para os cultos, notadamente os cultos dominicais noturnos, o que tem gerado a diminuição de conversões em nossas igrejas locais, havendo, aliás, muitas igrejas que não mais fazem sequer o apelo no final destes cultos que, em teoria, seriam cultos evangelísticos? Por que ocorre isto? Porque os crentes não estão orando mais!

– Quando, num dia de sábado, o apóstolo Paulo saiu, com seus companheiros, para buscar um lugar de oração, encontrou umas mulheres que estavam à beira do rio (o rio Gangites), passando a pregar-lhes o evangelho (uma outra evidência bíblica de que, ao contrário do que andam dizendo, o apóstolo Paulo não era machista).

– Guiados pelo Espírito Santo, começaram a pregar a estas mulheres, algo inusitado no mundo de então, mas logo viram que estavam no caminho certo, pois Lídia, uma comerciante da cidade de Tiatira, creu, juntamente com sua casa, passando a Paulo e seus companheiros a morar na casa dela (At.16:13-15).

– Em Filipos, o apóstolo acabou por expulsar o demônio de uma jovem escrava que adivinhava para seus senhores e que começou a querer exaltar os servos do Senhor, o que gerou a denúncia destes senhores aos magistrados que acabaram por prender a Paulo e a Silas, além de açoitá-los (At.16:16-23).

– Apesar de todos estes sofrimentos, Paulo e Silas começaram a louvar a Deus na prisão e o Senhor, então, mandou um terremoto, libertando a todos os presos. O carcereiro, diante deste fato, tentou se suicidar, mas Paulo o impediu e o agente penitenciário acabou por crer em Cristo, assim como sua família, tendo, inclusive, tratado Paulo de seus ferimentos (At.16:24-35).

– Os magistrados, então, mandaram que Paulo fosse solto, mas o apóstolo, fazendo uso de sua cidadania romana, exigiu que os próprios magistrados viessem se retratar diante dele, o que se fez, tendo, então, sido pedido a ele que deixasse a cidade de Filipos, o que fez, não antes de devidamente implantar a igreja naquela cidade (At.16:36-40).

– Percebemos, portanto, que a estada de Paulo em Filipos não foi longa, mas o apóstolo deixou uma impressão muito grande naqueles irmãos, pois esteve entre eles mostrando ser um homem de oração, um homem devidamente orientado pelo Espírito Santo, um homem que era usado em sinais, prodígios e maravilhas, um homem amoroso que nada pretendia senão a salvação das almas por intermédio de Cristo Jesus.

II – A PARTICIPAÇÃO DA IGREJA DE FILIPOS NO MINISTÉRIO DO APÓSTOLO PAULO

– Este testemunho deixado pelo apóstolo, apesar de sua breve estada em Filipos, foi o fator decisivo para fazer com que a igreja em Filipos assumisse o compromisso diante de Deus de auxiliar o apóstolo dali por diante em seu ministério. Os crentes de Filipos sempre foram pessoas comprometidas com o ministério do apóstolo, como o próprio Paulo testemunha na carta que lhes mandou da prisão: “ Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo sempre com alegria oração por vós em todas as minhas súplicas, pela vossa cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora” (Fp.1:3-5).

– A igreja em Filipos sempre acompanhou os passos do apóstolo Paulo, sendo os verdadeiros sustentadores de seu ministério, não só orando por ele, mas também provendo o necessário para o seu sustento durante o seu trabalho missionário (Fp.4:15,16). Podemos mesmo dizer que, durante todo o seu trabalho missionário, o apóstolo foi sustentado pelo seu próprio trabalho como fazedor de tendas (At.18:3) e pelas contribuições que lhe mandaram os filipenses.

– Durante sua estada em Filipos, o apóstolo mostrou que seu objetivo era ganhar almas para o Senhor Jesus, demonstrou todo o amor de Deus que o Espírito Santo havia derramado em seu coração (Rm.5:5) e, ante tal pureza de propósito, os crentes filipenses foram conquistados no intento de ajudar o apóstolo nesta empreitada, fazendo-se, assim, participantes de seu ministério e, certamente, também de seu galardão nos céus, certeza esta que acompanhou o apóstolo até o término de sua vida (II Tm.4:7,8).

– Lídia e o carcereiro de Filipos eram testemunhas do amor de Paulo para com os perdidos e do seu cuidado e empenho na salvação das almas. A igreja em Filipos podia dizer, com convicção, que o apóstolo não tinha a sua vida por preciosa, querendo tão somente cumprir o ministério que o Senhor lhe dera, pregando o reino de Deus (At.20:24).

– É esta atitude que precisam demonstrar, em nossos dias, os missionários e os ministros do Evangelho para que possam ter o reconhecimento e o auxílio dos servos de Deus neste último instante da Igreja sobre a face da Terra. Se houver sinceridade de propósito, demonstração inequívoca de amor e, sobretudo, transparência, certamente os homens de Deus serão ajudados pelos crentes em seus ministérios.

– Todas estas qualidades do apóstolo Paulo foram sintetizadas numa expressão pelo pastor não-conformista inglês John Angell James (1785-1859), a saber, “seriedade”. Segundo este ministro: “…observe o apóstolo Paulo. Onde encontraremos algo tão próximo da seriedade do nosso divino Senhor, quanto a conduta deste homem extraordinário? Desde o momento de sua conversão na estrada para Damasco, ele adotou um único objetivo de existência, e este foi a glória de Deus na salvação das almas; e como única maneira de buscá-la, ele adotou a mensagem dacruz. Onde quer que ele fosse, o que quer que fizesse, a quem quer que se dirigisse, ele estava sempre em busca das almas (…)nós sempre o encontramos, em todos os lugares, como o mais ´serio ministro de Jesus Cristo.…” (JAMES, John Angell. A grandeza do pastorado. Trad. de Degmar Ribas Júnior e Michael Ribas, p.164).

– Infelizmente, o que se vê, na atualidade, é a presença cada vez mais intensa de aproveitadores, de exploradores da fé, de mercadores que amam o dinheiro e não as almas, que procuram tão somente os seus próprios interesses e não os de Cristo Jesus, algo que não era desconhecido por parte dos crentes de Filipos. O apóstolo, mesmo, em sua carta aos crentes filipenses, alude a esta circunstância, fazendo questão de dizer que mandaria ao encontro deles Timóteo, que era uma pessoa que não buscava o interesse próprio, mas somente o de Jesus (Fp.2:19-21), a provar que aquela igreja não se deixava levar por estes falsos ministros.

– Muitos crentes sinceros, na atualidade, não estão a ajudar o sustento de muitos missionários precisamente porque não percebem, na atividade missionária de sua igreja local, a sinceridade de propósitos, o amor às almas perdidas que os filipenses viam no ministério de Paulo. Torna-se necessário que as secretarias e departamentos de missões das igrejas mostrem tais qualidades e, em fazendo assim, certamente angariarão recursos para o sustento destas famílias que têm sido chamadas pelo Senhor para a obra missionária.

– O bom testemunho, o foco na evangelização e a piedade fizeram com que o apóstolo cativasse o coração dos crentes de Filipos, fazendo surgir um relacionamento de amor mútuo entre Paulo e esta igreja ao longo do árduo trabalho que o apóstolo empreendeu por toda a Europa e Ásia Menor.

– É oportuno observar que o testemunho dado por Paulo não só fez com que os crentes de Filipos viessem a ajudar o sustento do apóstolo, mas também a ajudar no suprimento das necessidades de outros irmãos, como os crentes da Judeia. Quando Paulo fala com a igreja de Corinto a respeito da necessidade que eles tinham de contribuir para os crentes judeus, traz como exemplo as igrejas da Macedônia, e a primeira igreja que Paulo fundou na Macedônia tinha sido, precisamente, a de Filipos (II Co.8:1-5).

– No entanto, após ter deixado Éfeso, para onde havia ido em sua terceira viagem missionária (At.19:21-23, 19:1), Paulo foi novamente a Macedônia (At.20:1) e, depois, foi para a Grécia e dali para Jerusalém, onde foi preso, tendo ficado alguns anos em Cesareia, de onde foi mandado para Roma (At.21-28).

– Os crentes de Filipos acompanharam todo este sofrimento do apóstolo com apreensão, verificando que, em virtude da prisão, o apóstolo cessara o seu trabalho missionário, o que muito lhes fez sofrer, pois sabiam como era importante o trabalho de evangelização.

– Ao saberem que o apóstolo se encontrava preso em Roma, os filipenses, então, mandaram Epafrodito para lá, levando uma certa soma em dinheiro para a manutenção do apóstolo, pois sabiam que, em virtude da prisão, não poderia Paulo trabalhar para seu próprio sustento (Fp.2:25).

– Neste episódio, notamos que a transparência e a comunicação entre o apóstolo e a igreja de Filipos era uma constante, de modo que um continuava a ajudar o outro, pois se verificava que o propósito inicial permanecia intacto e que todos estavam empenhados na evangelização, no ganhar almas para o Senhor.

– Torna-se fundamental, ainda hoje, que haja sempre esta comunicação entre os missionários e a igreja, entre os ministros e a igreja, para que todos saibam que Jesus continua a salvar, curar, batizar com o Espírito Santo e a preparar um povo para ser arrebatado e que o nosso trabalho não é em vão. Torna-se absolutamente necessário que haja uma sincera comunicação de todas as atividades e da aplicação dos recursos arrecadados na obra de evangelização e isto trará maior confiança a todos os envolvidos e o progresso da obra de Deus.

– A igreja de Filipos acompanhava os passos do apóstolo e o apóstolo fazia questão de mandar notícias para a igreja de Filipos, e havia um propósito de oração tanto de uma quanto de outra parte, de modo que se criavam as condições para que o Senhor atendesse aos desejos de todos os envolvidos, que era a salvação das almas. É este consenso santo que o Senhor aguarda de cada um de nós e que levará milhares de pessoas aos pés de Cristo Jesus, pois, como sabemos, há uma promessa de Deus de que o que for consensualmente estabelecido pela Igreja será realizado sobre a face da Terra (Mt.18:19; 16:19; Jo.15:16).

– Ao saber da situação de Paulo na prisão, do real risco de morte que havia, já que o apóstolo fora mandado para ser julgado por César, num tribunal onde não havia sequer chance de recurso, a igreja de Filipos se abateu. O apóstolo não estava evangelizando e não se livrava das falsas acusações dos judeus, podendo ser morto por ordem do imperador. Será que valia a pena se empenhar tanto na evangelização? Será que o apóstolo estava mesmo na direção de Deus? Será que Paulo tinha trabalhado em vão?

– Este sentimento da igreja de Filipos certamente foi transmitido ao apóstolo por Epafrodito que era testemunha ocular da situação aflitiva em que se encontrava Paulo em Roma. O próprio Epafrodito adoeceu e chegou mesmo a ficar à beira da morte, doença esta que mostrava a situação precária em que estava o apóstolo. O saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012) costumava ensinar que Epafrodito deveria ter adoecido por se privar até de uma alimentação a fim de que o apóstolo pudesse melhor usar dos recursos que lhe haviam sido mandados pelos crentes de Filipos.

– O fato é que os filipenses não se contentaram apenas em mandar Epafrodito, mas também mandaram outras pessoas para saberem do estado do apóstolo, como deduzimos das palavras de Paulo em Fp.2:26,27, e, certamente, ficaram sabendo da situação em que estava o apóstolo e que fez, naturalmente, que surgissem as indagações a respeito de tudo o que se estava passando diante do plano de Deus na vida do apóstolo.

– Era contra este abatimento que viera sobre a igreja de Filipos, das dúvidas que estavam a exsurgir em virtude da situação de prisão do apóstolo, que Paulo resolveu escrever uma carta àqueles crentes, onde demonstraria que a sua prisão em nada havia impedido o exercício de seu ministério, como também que tudo que se tinha feito ao longo de todos aqueles anos não tinham sido em vão e que, tanto o apóstolo, quanto os crentes de Filipos, apesar das dificuldades, deveriam se manter alegres e glorificar a Deus por tudo o que estava ocorrendo. Tem-se aqui um grande paradoxo, pois, é em meio a uma situação tão difícil como a que estava enfrentando, o apóstolo iria escrever aquela que é conhecida como a “carta da alegria”.

– Inspirado pelo Espírito Santo, então, o apóstolo Paulo escreve aos filipenses, carta que deve ter sido levada por Epafrodito, mostrando como a sua prisão em Roma estava precisamente dentro do propósito divino para que ele evangelizasse os gentios, visto que, através daquela prisão, estava podendo ganhar almas para o Senhor Jesus entre os da casa de César e a guarda pretoriana, pois as cadeias não o impediam de ganhar almas para Cristo, repetindo-se, assim, mas agora em escala bem maior, o que ocorrera na própria Filipos quando de sua prisão.

– A epístola de Paulo aos filipenses, portanto, é fruto de um profundo amor que havia entre Paulo e aqueles crentes, bem como uma demonstração poderosa a cada um de nós de que Deus sempre converte o mal em bem e que nada nos pode impedir de fazer e cumprir o nosso ministério.

III – A CARTA DE PAULO AOS FILIPENSES

– Entendido o contexto em que Paulo escreveu sua epístola aos filipenses, que é o tema de estudo deste trimestre, resta-nos, agora, ver, em linhas gerais, a estrutura desta carta.

– Por primeiro, como dissemos, trata-se de uma das “cartas da prisão”, como são conhecidas as epístolas que o apóstolo Paulo escreveu a igrejas durante a sua primeira prisão em Roma. As “epístolas da prisão” são quatro, a saber: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom.

– A autoria da carta é do apóstolo Paulo, que se identifica como seu autor logo no limiar da carta (Fp.1:1), fazendo questão de colocar como seu corremetente Timóteo, velho conhecido dos filipenses, já que fazia parte do grupo de companheiros que havia evangelizado Filipos com o apóstolo.

– A data da carta é motivo de controvérsia entre os estudiosos, sendo situada entre 53 e 61 d.C. As divergências surgem porque alguns entendem que o apóstolo escreveu esta carta quando ainda estava em Cesareia, antes de ter ido para Roma, enquanto outros entendem que a carta foi escrita em Roma e outros, numa suposta prisão que Paulo teria tido em Éfeso.

– A hipótese denominada “cesareana” não convence, porquanto, na carta, o apóstolo menciona a “guarda pretoriana” (Fp.1:13), que era a guarda pessoal do imperador romano, a indicar, portanto, que não se encontrava em Cesareia, mas, sim, em Roma, quando da escrita da carta, o que faz com que a data de 61 d.C. seja a mais provável.

– A hipótese denominada “efésia”, por igual motivo, não pode ser aceita, sendo, ademais, ainda mais fraca porque parte do pressuposto de que Paulo teria sido preso em Éfeso após a sua absolvição em Roma, circunstância que não tem evidência bíblica, aliás, Paulo disse aos efésios, antes de partir para Jerusalém, de que nunca mais aqueles crentes veriam o seu rosto (At.20:25), o que faz com que não se possa admitir também esta hipótese levantada pelos estudiosos.

– Tudo indica, portanto, que Paulo escreveu esta carta quando estava preso em Roma, para onde foi mandado pelo presidente da Judeia, Pórcio Festo (At.24:27), depois de ter apelado para César (At.25:12).
– O tema da carta de Paulo aos filipenses é, em primeiro lugar, um relatório àqueles crentes a respeito de sua atual situação, a fim de que a igreja em Filipos soubesse como estava o apóstolo e que tudo o que estava a ocorrer não tinha impedido o trabalho de evangelização, que agora estava sendo realizado entre os soldados da guarda pretoriana.

– Ao descrever a sua situação, o apóstolo aproveita para encorajar os crentes de Filipos, incitá-los a que mantivessem a sua alegria espiritual, como também a que permanecessem servindo ao Senhor animosamente, não se deixando abater nem tampouco se deixar influenciar seja pelos judaizantes, que queriam impor a lei de Moisés aos cristãos, seja pelos antinomistas, ou seja, aqueles que viviam desregradamente, como não existisse qualquer norma e que, por assim viverem, eram voltados única e exclusivamente para as coisas terrenas.

– Neste relatório aos filipenses e nestas advertências, o apóstolo produz uma descrição vívida a respeito do que é a vida cristã e, deste modo, dá-nos um verdadeiro e poderoso ensino a respeito do que é ser crente neste mundo. É nesta carta que, conforme nos assinala o pastor não-conformista inglês John Angell James (1785- 1859), o apóstolo, em uma frase curta, “…em poucas palavras, resume toda a sua vida e trabalhos: ‘Porque para mim o viver é Cristo’…” (A grandeza do pastorado. Trad. de Degmar Ribas Júnior e Michael Ribas, p.165).

– O apóstolo não só nos mostra o que é ser crente no mundo, mas, também, revela-nos que precisamos, para tanto, ter “o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus” e, deste modo, traz-nos a preciosa descrição da chamada “kenosis” de Cristo (Fp.2:5-11), ou seja, de todo o Seu esvaziamento da glória divina para Se humanizar e ir obediente até a morte, e morte de cruz, a fim de que pudesse, então, ser exaltado sobre todo o nome, mesmo trajeto que cada cristão deverá seguir, ou seja, o de se sofrer a mais completa humilhação nesta Terra para alcançar, com o Senhor, a cidade celestial, onde participaremos da glória divina para todo o sempre. Aleluia!

– A epístola aos Filipenses é o 50º livro da Bíblia e, segundo Finis Jennings Dake (1902-1987), tem 4 capítulos, 104 versículos, 1 pergunta, 96 versículos de história e 5 versículos de profecias não cumpridas.

– Segundo alguns estudiosos da Bíblia, a epístola de Paulo aos Filipenses está relacionada com a letra hebraica “vav” (ו), cujo significado é “colchete” e que é utilizado como prefixo na língua hebraica que tem o valor da conjunção “e”, sendo, portanto, um conectivo e o livro de Filipenses estaria a indicar o “conectivo” entre Deus e os homens, Cristo Jesus, que é revelado, de forma singular, nesta carta, como Aquele que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas, assumindo a forma de homem, humilhou-Se até a morte e morte de cruz.

– Neste sentido, ao relatar o que é a vida cristã e, logicamente, pôr a Cristo Jesus como exemplo desta vida cristã, através da Sua “kenosis”, da Sua humilhação, a carta de Paulo aos filipenses convida-nos, como diz o subtítulo deste trimestre, a sermos imitadores da humildade de Cristo, a saber que é nesta humilhação que se encontra a essência da própria vida cristã.

– Não é por acaso, portanto, que é na carta de Paulo aos filipenses que encontramos um dos grandes argumentos bíblicos contra o triunfalismo, a teologia da confissão positiva e a teologia da prosperidade que têm infestado nossas igrejas locais (e, lamentavelmente, nossos púlpitos), quando nos deparamos com o contentamento de Paulo a despeito de todas as necessidades materiais que estava a sofrer (Fp.4:11-19).

– A epístola de Paulo aos filipenses pode ser dividida, como quase toda carta paulina, em duas seções: uma doutrinária e outra prática.

– Assim, após as saudações iniciais, que dão o introito da carta (Fp.1,2), temos uma primeira parte, onde o apóstolo, agradecendo aos filipenses pelo seu cuidado para com ele desde “o primeiro dia”, mostra-lhes a excelência do seu ministério e como todas aquelas situações aflitivas estavam dentro do propósito divino estabelecido ao próprio Paulo desde o início de sua vida cristã, ensinando, portanto, àqueles crentes que a vida cristã é permeada de aflições que em nada abalam a fé do crente e o cumprimento de seu ministério, vida cristã que é, então, descrita pelo apóstolo (Fp.1:3-2:30).

– Depois de ter mostrado o que é a vida cristã, o apóstolo, então, inicia a parte prática da epístola, onde faz um alerta contra os judaizantes, manda aos crentes que não confiem na carne, como também a que tenham como alvo os céus, devendo, ainda, manter-se alegres em Cristo, manifestando a equidade, libertando-se da ansiedade, bem como devendo estar convictos do contentamento do apóstolo mesmo em meio às aflições(Fp.3:1-4:19).

– Advém, então, a conclusão da carta, com as saudações finais (Fp.4:20-23).

– Alguns estudiosos, notadamente os chamados “críticos”, procuram ver na mudança de tom e estilo a partir da segunda metade de Fp.3:1 um argumento para questionar a unidade da epístola, querendo afirmar que o texto a partir de Fp.3:1b não seria da autoria de Paulo ou, se se tratar de um texto do apóstolo, foi retirado de outra epístola e introduzido nesta epístola canônica.

– Tais entendimentos devem ser repudiados pelos crentes em Cristo Jesus, pois, como sabemos, a chamada “crítica bíblica” sempre procura fazer-nos desacreditar do texto sagrado, da origem divina das Escrituras.
– Houve, inclusive, quem tenha defendido que não houve uma “interpolação” do texto de outra carta na carta aos Filipenses, mas que o apóstolo teria “reiniciado” a carta depois de ter tido notícia a respeito da situação aflitiva em que se encontravam os filipenses, o que explicaria a mudança de estilo e de tom entre as duas partes da epístola.

– No entanto, também aqui devemos desprezar estes argumentos, que, aliás, para quem quer ser “racional” como é o caso dos “críticos bíblicos”, não tem qualquer evidência ou respaldo em fatos que nos permitam concluir pela sua aceitação.

– O fato é que estamos em duas situações diversas: enquanto na primeira parte, o apóstolo Paulo procura mostrar aos filipenses o que é a vida cristã, tendo a Cristo Jesus como modelo, de forma a que os filipenses possam entender a sua prisão e não se entristecer por causa dela; na segunda parte, o apóstolo, dentro de seu objetivo de sempre promover o crescimento espiritual dos cristãos, passa a tecer uma série de recomendações práticas, a fim de que os crentes em Filipos não perdessem a autenticidade da sua fé.

– É natural que, após um estudo doutrinário, baseado em exemplos, mas, nem por isso menos didático, o apóstolo tenha mudado de tom ao falar do cotidiano, do dia-a-dia que cada crente deveria viver ante a perspectiva desta vida cristã que havia sido ensinada.

– É o significado da vida com Cristo neste mundo e a necessidade de termos uma vida verdadeiramente cristã enquanto Jesus nos vem buscar que o apóstolo procurou demonstrar aos crentes de Filipos e não somente a eles, mas, como o escrito se perpetuou ao longo da história da Igreja, por se tratar de um texto inspirado, a todos nós.

IV – O INTROITO DA EPÍSTOLA DE PAULO AOS FILIPENSES

– Vista a estrutura da carta de Paulo aos filipenses, resta-nos, nesta lição, estudar o início da referida carta, onde Paulo demonstra todo o seu relacionamento com a igreja em Filipos, ou seja, Fp.1:1-11.

– A carta é assinada tanto por Paulo quanto por Timóteo, que se identificam como “servos de Jesus Cristo”. A menção a Timóteo é importante, pois o apóstolo conhecia a credibilidade que aquele jovem obreiro tivera em Filipos quando da evangelização daquela colônia, credibilidade que se ressalta em Fp.3:19, quando o apóstolo anuncia que mandará Timóteo a fim de que o mesmo lhe trouxesse informações a respeito daquela igreja.

– Nesta simples menção de Timóteo, aprendemos como é importante termos verdadeiros companheiros ao longo de nosso ministério, como a obra de Deus não se realiza de modo solitário, mas, sim, como, para se realizar a obra do Senhor, torna-se absolutamente necessário que vivamos um relacionamento entre os irmãos, como sinal do nosso relacionamento com Deus. Não foi, por isso, aliás, que o Senhor, quando daquela grande empreitada dada aos Seus discípulos durante Seu ministério terreno, não mandou que fossem eles de dois em dois (Lc.10:1)?

– Outra importante característica desta apresentação dos remetentes desta epístola é que tato o apóstolo quanto seu auxiliar se identificam como “servos de Jesus Cristo”, a nos mostrar que, na igreja do Senhor, o mais importante título, a mais importante posição é a de “servo”, algo que tem sido esquecido por alguns que exigem ser apresentados e identificados como “apóstolos”, “bispos”, “pastores” e por aí vai. Que diferença para a humildade destes dois grandes homens de Deus, em especial do apóstolo Paulo, que era o fundador da igreja em Filipos.

– Como dissemos supra, e o reforça o próprio subtítulo deste trimestre letivo, Paulo vai enfatizar a humildade de Cristo como exemplo a ser seguido pelos cristãos e, antes de ensiná-lo, ele próprio mostra toda a sua humildade, pondo-se como “servo de Jesus Cristo”. Amados, sigamos este exemplo e sejamos humildes em nosso relacionamento com os demais irmãos!

– Mas, além de ter se identificado como “servos”, os remetentes da carta identificam os destinatários como “todos os santos em Cristo Jesus, que estão em Filipos, com os bispos e diáconos”. Esta apresentação dos filipenses dá-nos uma verdadeira lição de eclesiologia, ou seja, de doutrina da Igreja. Senão vejamos.
– Por primeiro, o texto mostra-nos que a igreja é formada por “santos em Cristo Jesus”, ou seja, a marca identificadora da igreja, do corpo de Cristo, é a santidade. Como diz o salmista: “ a santidade convém à Tua casa, Senhor, para sempre” (Sl.93:5b).

– Devemos ter sempre em mente que a Igreja é a “nação santa” do Senhor (I Pe.2:9), que não podemos ter outra marca distintiva que a santidade, porque é ela a nota que nos faz diferentes do mundo, que está imerso no pecado e no mal (I Jo.5:19). Paulo vai se dirigir a “santos em Cristo Jesus”, ou seja, a vida cristã pressupõe a santidade, tem-na como um pré-requisito necessário para que se possa conviver com o Senhor.
– Esta santidade, ademais, só é possível por causa de nossa comunhão com Cristo Jesus. Os salvos são “santos em Cristo Jesus”, ou seja, não possuem a santidade por si mesmos, mas são santificados pelo Senhor Jesus (I Co.1:2), no exato instante em que recebem a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador, devendo se manter separados do pecado desde então até o fim (Ap.22:11), em toda a nossa maneira de viver (I Pe.1:15,16). Não podemos, de forma alguma, negligenciarmos este aspecto fundamental de nossa identidade cristã.

– Mas, além da santidade, que nos identifica como corpo de Cristo, Paulo, nesta apresentação, também mostra que a Igreja também se organiza localmente. Os “santos em Cristo Jesus” estavam num lugar determinado, “in casu”, em Filipos, a colônia romana da Macedônia. A igreja universal ocupa um determinado local, local este fruto de um trabalho evangelístico dirigido pelo Espírito Santo.

– Destarte, ao lado da igreja universal, o corpo místico de Cristo Jesus, existe uma igreja local, que se organiza como um grupo social, igreja esta estruturada sob a direção e orientação do Espírito Santo, como ocorreu com Filipos, como já visto supra no histórico da evangelização daquela cidade.

– Destarte, não há como concordar com os “anarquistas cristãos”, que consideram que a toda e qualquer organização da igreja local seja espúria e criadora de um “poder humano” que não teria o “carisma divino”. Nada mais falso. Estamos no mundo e temos de ter uma organização, uma hierarquia até, ainda mais que, ao vermos as Escrituras Sagradas, verificamos que no céu Deus não abre mão disto, tanto que os anjos são organizados em uma rígida hierarquia que os faz compara, inclusive, com exércitos (Sl.103:21). Nem podia ser diferente, pois nosso Deus é um Deus de ordem (I Co.14:33).

– Esta organização local faz com que se crie um ministério, tirado dentre os santos. Paulo identifica em Filipos os bispos e os diáconos, revelando, assim, que aquela estrutura estabelecida em Jerusalém (At.6:1-7), foi reproduzida nas igrejas cristãs. Havia, portanto, os bispos, ou seja, aqueles que deveriam se dedicar ao ministério da palavra e à oração (At.6:4), ou seja, aos assuntos espirituais, como também os diáconos, aqueles que, auxiliando os bispos, deveriam se dedicar aos assuntos materiais, ao serviço das mesas (At.6:2,3). Tanto uns como os ouros, porém, deveriam ser pessoas cheias do Espírito Santo, dotados de sabedoria divina e que tivessem bom testemunho (At.6:3; I Tm.3:1-13; Tt.1:5-9)..

– Após ter apresentado os remetentes e os destinatários, Paulo saúda a todos com “a graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo” (Fp.1:2). Esta saudação, costumeira do apóstolo em suas cartas, traz-nos duas importantíssimas lições.
3º Trimestre de 2013 – Filipenses – a humildade de Cristo como exemplo para a Igreja
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– A primeira é a de que, além da santidade, que identifica todo cristão, temos duas dádivas vindas da Divindade para nós, a saber: a graça e a paz. Não fosse a graça e a paz advindas do Senhor para nós, não conseguiríamos pertencer ao corpo de Cristo, não seríamos Igreja.

– A graça, este favor imerecido de Deus, vinda por Jesus Cristo até nós (Jo.1:17), permitiu-nos entrar em comunhão com Deus, apesar de nossos pecados. Não merecíamos o perdão divino, mas Jesus Cristo, morrendo por nós, conquistou este privilégio a cada um de nós, que se obtém pela fé n’Ele. A vida cristã não tem qualquer desenvolvimento se não tivermos sempre em mente que estamos “de favor” na companhia do Senhor pelo sacrifício vicário de Jesus no Calvário.

– Além da graça, gozamos da paz com Deus e da paz de Deus em nossos corações. Justificados pela fé, temos paz com Deus (Rm.5:1), ou seja, passamos a ter comunhão com o Senhor, completamo-nos n’Ele, já que removida a parede de separação que havia entre nós e Deus por causa dos pecados (Is.59:2; Ef.2:14-16). Como se isto fosse pouco, nosso encontro pessoal com Cristo, trouxe-nos a Sua paz (Jo.14:27), que nos impede que, apesar das dificuldades imensas em nossa peregrinação terrena, venhamos a perder o equilíbrio, a perdermos a nossa fé e esperança n’Ele. O próprio Paulo demonstrará, ao longo desta carta, a presença desta paz em sua vida.

– A segunda lição que aprendemos nesta saudação é a de que o verdadeiro cristão tem uma noção exata de que Jesus é Deus, a Segunda Pessoa da Trindade. O apóstolo, então, como que preanuncia aquilo que seria escrito posteriormente pelo apóstolo João, ou seja, de que o cristão não nega o Filho, pois quem nega o Filho, nega, também, o Pai (I Jo.2:23).

– Não é possível pertencer aos “santos em Cristo Jesus” se não se confessa a triunidade divina. A graça e a paz advêm do Pai e do Filho, ambos declarados como Pessoas Divinas. Mas, alguém poderia perguntar, e onde está o Espírito Santo nesta saudação? Ora, a graça e a paz vieram do Pai e do Filho, porquanto são as duas Pessoas Divinas que, na atual dispensação, são provedoras, não companheiras. A graça e a paz advindas do Pai e do Filho estão conosco pela companhia do Espírito Santo, que aqui está implícito, mas também presente, com quem estamos em comunhão (cfr. Fp.2:1).

– Após esta saudação inicial, o apóstolo afirmou sua gratidão a Deus pelos filipenses, dizendo ser um assíduo e ininterrupto intercessor por aqueles crentes, em virtude da cooperação que eles tinham para com ele desde o primeiro dia até aquele instante (Fp.1:3-5).

– Notamos, portanto, como já se disse supra, que o relacionamento entre Paulo e os crentes de Filipos era um relacionamento firmado no amor. Os filipenses sempre haviam cooperado com o apóstolo, tanto material quanto espiritualmente, de forma contínua, desde o início do trabalho de evangelização naquela cidade, e o apóstolo, grato por esta ajuda, também não se esquecia de orar e de lembrar dos filipenses a todo o instante.

– Tem sido este o nosso relacionamento com os homens de Deus que se dedicaram em nos evangelizar e nos ensinar o caminho da salvação? Temos mantido um estreito relacionamento de ajuda efetiva e concreta, bem como de intercessão nas orações por estes homens de Deus? Têm, também, os obreiros orado, com alegria e gratidão, pelos irmãos que os têm sustentado e ajudado ao longo de seu ministério?

– Amor não se demonstra apenas com intercessão, mas, também, com “cooperação”, ou seja, com gestos efetivos e concretos de ajuda e de auxílio. Oração não se restringe a súplicas, mas, também, em ação, em atitudes. Temos correspondido a este relacionamento que existia entre Paulo e a igreja de Filipos? Pensemos nisto!
– Paulo lembrava-se dos crentes de Filipos e agradecia a Deus por eles, mas, também, orava por eles com alegria. Esta é a primeira vez que aparece a “alegria” nesta carta que, por muitos estudiosos, é chamada de “carta da alegria”, já que esta palavra, e suas variações e derivadas, aparece em Filipenses dez vezes.

– A primeira alegria expressa por Paulo nesta carta é a “alegria da oração”, Como afirma o pastor José Barbosa de Sena Neto, “… A vida de oração é fundamental ao crente; faz parte do seu ministério sacerdotal. Devemos orar por todos os santos, e fazer isso com a maior alegria e satisfação. O segredo de orar com alegria é ‘trazer no coração’ aqueles pelos quais oramos, e ao orarmos por eles pedir para eles profundas e ricas experiências na vida em Cristo (1.9-11).…” (Carta aos filipenses: a epístola da alegria! Disponível em: http://www.cpr.org.br/bn-filipenses.htm Acesso em 14 maio 2013). Temos orado com alegria? Temos alegria quando oramos?

– Esta alegria do apóstolo não decorria do fato de ser ele o beneficiário tanto da ajuda material quanto das orações dos crentes de Filipos. Não, não e não! Esta alegria era resultado do reconhecimento de que tudo provinha de Cristo, de que tudo era resultado e consequência do fato de serem tanto o apóstolo quanto a igreja em Filipos alvo do amor de Deus e, por consequência, toda aquela cooperação mútua ser a prova indelével de que todos haviam realmente sido salvos na pessoa de Jesus.

– Tanto assim é que o apóstolo não orava para que continuasse a receber ajuda por parte dos crentes de Filipos, mas que isto prosseguisse, independentemente de ser ele o beneficiário ou não, até o dia de Jesus Cristo, pois, certamente, Aquele que havia começado a boa obra, a aperfeiçoaria até o final da dispensação da graça (Fp.1:6).

– O amor e a cooperação não podem se dar do primeiro dia até agora (cfr. Fp.1:5), mas deve permanecer até o dia de Jesus Cristo (Fp.1:6). Devemos demonstrar amor a Deus e aos irmãos durante todo o tempo de nossa peregrinação terrena. Não podemos agir por impulso, não podemos servir a Deus apenas em “períodos de campanha”, não podemos apenas nos esforçar esporadicamente, mas nossa cooperação no evangelho deve ser firme e constante, sabendo que o nosso trabalho não é vão no Senhor (I Co.15:58).

– Como é triste ouvirmos de muitos irmãos em Cristo grandes relatórios e histórias de como cooperaram na obra do Senhor no passado, de como eram diligentes, de como eram intercessores, de como eram pregadores. Entretanto, tudo o que relatam está no passado, pois o presente é de total inoperância e comodismo. No entanto, não é isto que nos ensina o apóstolo Paulo, que, reconhecendo o quanto foi feito, pede, com alegria, que isto permaneça até o dia de Jesus Cristo. Voltemos às práticas das primeiras obras, amados irmãos!

– Os crentes de Filipos eram retidos no coração do apóstolo pois eles não o abandonaram um instante sequer, tendo sido participantes tanto dos momentos de graça do ministério do apóstolo, como também nas suas prisões e defesa e confirmação do evangelho (Fp.1:7). Os crentes de Filipos seguiram à risca aquilo que o próprio apóstolo ensinou aos romanos, ou seja, de que devemos chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram (Rm.12:15).

– A tendência do ser humano é somente estar ao lado daqueles que estão em momentos de graça, daqueles que se encontram “por cima”. No instante da tribulação, da dificuldade, todos se afastam. O cristão, porém, não pode agir assim. Seu amor é incondicional, desinteressado e, portanto, não ama as circunstâncias em que alguém se encontra, mas, sim, esta própria pessoa, independentemente do que está a acontecer. O cristão é um imitador de Cristo (I Co.11:11) e, como tal, deve estar ao lado dos seus amigos todos os dias até a consumação dos séculos (Mt.28:20). Temos agido assim?

– O apóstolo Paulo sabia que gozava da companhia, do afeto e da amizade dos crentes de Filipos mesmo quando se encontrava encarcerado e distante deles. A distância física não nos impede de exercer o amor cristão. Paulo sentia saudades dos filipenses, queria estar na sua companhia física (Fp.1:8), mas, nem por isso, deixava de sentir a entranhável afeição de Jesus Cristo por aqueles irmãos, mesmo estando longe deles.

– Precisamos demonstrar esta entranhável afeição de Jesus Cristo aos irmãos que estão longe de nós realizando a obra missionária. É fundamental que as igrejas locais mostrem a estes irmãos a sua entranhável afeição, pois isto é um fortalecimento para estes homens e mulheres que têm dedicado suas vidas para o anúncio do evangelho de Cristo Jesus.

– Vivemos hoje dias de intenso desenvolvimento das comunicações e isto serve para que nossos missionários não venham a sofrer tanto como o apóstolo Paulo. Se, naquela época, os crentes de Filipos faziam chegar a Paulo a sua “entranhável afeição de Cristo Jesus”, como podemos negligenciar e não aproveitar as maravilhas da tecnologia para manter os missionários perto de nós, sentindo o nosso afeto por eles? Pensemos nisto!

– Em sua alegre oração, o apóstolo pedia que o amor dos crentes de Filipos abundasse mais e mais em ciência e em todo o conhecimento, para que aprovassem as coisas excelentes, para que fossem sinceros e sem escândalo algum até ao dia de Cristo, cheios de fruto de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus (Fp.1:9-11).

– Em mais uma prova do amor existente entre Paulo e os filipenses, o apóstolo revela àqueles crentes qual era o seu pedido que continuamente fazia ao Senhor por eles. O apóstolo desejava que o amor deles crescesse em ciência e em todo o conhecimento. O desejo do apóstolo era o crescimento espiritual da igreja e isto somente se daria mediante a ciência e o conhecimento das coisas excelentes.

– Vemos, portanto, que o apóstolo não estava preocupado com as riquezas materiais dos filipenses. Seu interesse, ao contrário de muitos em nossos dias, não era arrecadatório, nem tampouco voltado para a posse de bens materiais. Paulo queria, isto sim, que aqueles crentes permanecessem na fé em Cristo Jesus até o dia do arrebatamento da Igreja, que eles entrassem no céu. É este o seu desejo, caro obreiro?

– Somente pelo crescimento espiritual, pela busca das coisas excelentes (que nada mais são que as “coisas de cima” que o apóstolo menciona em outra epístola da prisão, a saber, a epístola aos colossenses – Cl.3:1,2), é que o amor do crente crescerá. Nos dias em que vivemos, dias de esfriamento do amor de quase todos (Mt.24:12 ARA), necessitamos urgentemente que os ministros tenham esta mesma visão do apóstolo, não só desejando mas efetivamente fazendo com que os crentes venham a crescer em ciência e em todo o conhecimento, mediante a busca das bênçãos espirituais, a fim de que não venham a desfalecer em seu amor.

– Queremos ter uma igreja dedicada na obra de Deus, que sinta “entranhável afeição de Jesus Cristo”? Façamos com que esta igreja busque as “coisas de cima”, ou seja, a santificação, o batismo com o Espírito Santo, os dons espirituais, a meditação nas Escrituras, a oração e a consagração. A busca das coisas excelentes fará com que o amor da igreja abunde mais e mais e se desenvolva, de modo crescente, esta “entranhável afeição de Jesus Cristo”.

– O crescimento espiritual da igreja promoverá, ainda, três efeitos colaterais. O primeiro é a sinceridade. Crentes que crescem espiritualmente, que buscam as coisas excelentes, são sinceros, servem a Deus de coração, não tem coração dobre, nem tampouco desenvolvem a hipocrisia. São crentes autênticos, genuínos e verdadeiros.

– Além da sinceridade, estes crentes também não promoverão escândalo. Com efeito, quando um crente é sincero, desenvolve uma fé não fingida (II Tm.1:5), não existe dissimulação, não há engano e, portanto, não se tem o ambiente propício para o escândalo, que sempre se dá pela revelação de coisas ocultas.

– O terceiro efeito colateral do crescimento espiritual é a frutificação da justiça. O apóstolo Paulo foi claríssimo ao dizer que seu pedido era de que os crentes filipenses fossem “cheios de frutos de justiça”. O crescimento espiritual estreita nossa ligação com a “videira” (Jo.15:1) e este estreitamento faz com que sejamos limpos e demos ainda mais fruto (Jo.15:2).

– Esta plenitude da frutificação, porém, faz questão o apóstolo de dizer, é resultado da operação de Cristo em nossas vidas. Os frutos são “por Jesus Cristo”, pois, como disse Nosso Senhor, sem Ele nada podemos fazer (Jo.15:5). E, mais do que isto, não são apenas por Jesus Cristo, mas têm como finalidade, a glória e o louvor de Deus (Fp.1:11).

– Temos aqui um importante fator de julgamento de tudo quanto vemos em nossos dias. Muitos estão a alardear uma “frutificação”, a demonstrar um “poder de Deus” em seus ministérios e movimentos, mas, quando bem analisamos, verificamos que estes “frutos” servem apenas para o enriquecimento e glorificação próprios, para obtenção de poder econômico, político e social.

– Tais frutos não são por Jesus Cristo ou, se o foram, não são destinados para glória e louvor de Deus e, por isso, seus “produtores” certamente serão lançados fora, secarão, serão colhidos e lançados no fogo para arder eternamente (Jo.15:6). Que Deus nos guarde, amados irmãos!

– Que ao final do trimestre, possamos saber o significado de ter o viver como Cristo e, tendo aprendido o que é isto, possamos ser imitadores de Paulo como ele foi de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Amém!

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/files/3T2013_L1_caramuru.pdf

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