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APÊNDICE Nº 1 – O NOVO MANDAMENTO

  apêndice 01

Em o novo mandamento, Jesus dá a síntese completa da lei de Deus.

Texto áureo “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei a vós, que também vós uns as outros vos ameis.” (Jo.13:34).

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INTRODUÇÃO

 – Em apêndice ao trimestre, que se dedicou ao estudo dos dez mandamentos, estudaremos o “novo mandamento”, também chamado de “décimo primeiro mandamento”, que foi dado por Jesus aos Seus discípulos nas Suas últimas instruções.

– Em o novo mandamento, Jesus dá a síntese completa da lei de Deus.

I – A REGRA ÁUREA  

– Em apêndice ao trimestre, que se dedicou ao estudo dos dez mandamentos, estudaremos o “novo mandamento”, que também é chamado de “o décimo primeiro mandamento”, que foi dado por Jesus aos Seus discípulos nas Suas últimas instruções.

– De início, para vermos até mesmo o porquê deste estudo, trazemos história narrada pelo príncipe dos pregadores britânicos, Charles Haddon Spurgeon (1834-1892): “…Sem dúvida, muitos de vocês já ouviram a história do encontro do arcebispo Usher com o Sr. Rutherford.

 Mas ela é tão apropriada a este assunto, que não deixarei de contá-la novamente. O arcebispo tinha ouvido sobre o maravilhoso poder da devoção de Rutherford e da beleza singular da ordem de sua casa e quis testemunhar por si mesmo.

Contudo, ele não sabia como fazer isso, até que lhe ocorreu que poderia disfarçar-se como um viajante pobre. Seguindo essa ideia, ao cair da noite, ele bateu à porta do Sr. Rutherford, sendo recebido pela Sra. Rutherford.

Perguntou se poderia ter abrigo para passar a noite. Ele respondeu: ‘Sim’, visto que costumavam receber estranhos.

Ele o levou à cozinha e lhe deu algo para comer. Como parte de sua disciplina regular, a família catequizava os filhos e os empregados no sábado à noite.

 E, como é evidente, o homem pobre ficou entre eles na cozinha. A Sra. Rutherford fez a todos eles algumas perguntas sobre os mandamentos. Ao homem pobre perguntou: ‘Quantos são os mandamentos?’ Ele respondeu:

‘Onze’. ‘Ah! que coisa feia para um homem de sua idade, cujos cabelos estão grisalhos: não saber quantos são os mandamentos. Em nossa paróquia não há nenhuma criança maior de seis anos que não saiba isso’.

O homem pobre nada disse em resposta, mas teve a sua refeição e foi para cama. Mais tarde ele se levantou e ouviu a oração de meia-noite de Rutherford.

 E ficou encantado com ela, se deu a conhecer, emprestou dele um casaco melhor e pregou por ele no domingo pela manhã, surpreendendo a Sra. Rutherford por usar estas palavras como seu texto: ‘Novo mandamento vos dou’.

 Ele começou com a observação de que isso poderia ser apropriadamente chamado de Décimo Primeiro Mandamento. Depois, o arcebispo foi embora, mas ele e Rutherford se revigoraram juntos. Esse é o Décimo Primeiro Mandamento.

Na próxima vez que nos perguntarem quanto mandamentos existem, responderemos corretamente: onze.…” (SPURGEON, Charles H. O novo mandamento de Cristo. Sermão pregado no Tabernáculo Metropolitano em Newington, na noite do domingo, dia 14 de abril de 1875. Trad. de Wellington Ferreira. Disponível em: http://assembleianospuritanos.blogspot.com.br/2011/06/o-novo- mandamento-de-cristo-charles.html Acesso em 14 jan. 2015).

– Desde o início deste trimestre letivo, temos visto que o Senhor, ao criar a humanidade, também criou as leis morais que deveriam regê-la, estatuiu qual deveria ser o comportamento, a conduta que o ser  humano deveria ter para poder cumprir o propósito divino para ele estabelecido não só como administrador de toda a criação terrena, mas, também, no seu próprio relacionamento com o seu Criador.

– Já no Éden, como bem demonstram os rabinos judeus, podemos ver que o Senhor estabeleceu preceitos que deveriam ser seguidos pelo homem, preceitos estes que independiam da existência do pecado, já que foram dados ao homem quando ele ainda não havia pecado, quando ainda vivia em perfeita comunhão com o seu Criador.

– Tais preceitos constituem o que o Catecismo Maior de Westminster chama de “lei moral”, definida naquela exposição doutrinária como sendo “…a declaração da vontade de Deus, feita ao gênero humano, dirigindo e obrigando todas as pessoas à conformidade e obediência perfeita e perpétua a ela – nos apetites e disposições do homem inteiro, alma e corpo, e no cumprimento de todos aqueles deveres de santidade e retidão que se devem a Deus e ao homem, prometendo vida pela obediência e ameaçando com a morte a violação dela” (resposta à pergunta 93. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm Acesso em 14 jan. 2015), “…a regra de obediência revelada a Adão no estado de inocência, e a todo o gênero humano nele, além do mandamento especial de não comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal…” (resposta à pergunta 92. end.cit.), lei esta que, como diz o Catecismo da Igreja Romana, “…o chama a fazer o bem e evitar o mal”. Esta lei ressoa em sua consciência” (§ 1713 CIC).

– Esta lei, revelada ao primeiro casal no Éden e que foi posta na consciência de cada ser humano (Rm.2:14,15), torna o homem inescusável diante de Deus, dando-lhe condições de saber qual é a vontade de Deus, embora não fosse suficiente para trazer ao homem a vida eterna, pois, em virtude do pecado, o homem tornou-se carnal e, como tal, escravizado pelo pecado (Jo.8:34), impotente para fazer o bem que era querido pelo Senhor (Rm.7:5-24).

– No entanto, pela própria presença da consciência no ser humano, ao longo da história, mesmo imerso no pecado, o homem tinha a noção do que era o bem e, assim, pôde, nas mais diversas nações, ter a noção de como se poderia atingi-lo. Uma das mais expressivas demonstrações desta verdade é a chamada “regra áurea” ou “regra de ouro”, que foi considerada como a base da chamada “ética da reciprocidade”, uma máxima que foi enunciada em diversas épocas e nações.

– Segundo alguns estudiosos, a mais antiga aparição da mencionada “regra áurea” que se conhece é em um documento do Egito Antigo, conhecido como “relato do camponês eloquente”, datado entre 1970 e 1640 a.C., onde se observa a seguinte afirmação:

 “…É justamente o preceito: age para com aquele que age para fazer com que ele aja. Isto é agradecer a alguém por aquilo que ele faz, isto é evitar qualquer coisa antes de ser lançada, isto é dar uma instrução a alguém que é mestre artesão…” (Papiro de Berlim 3023. n.110. Conto do camponês eloquente, p.29. Disponível em: http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2461/11/ulsd059259_td_vol.2_4.%20Conto%20do%20Campon%C3 %AAs%20Eloquente.pdf Acesso em 13 jan. 2015).

– Outro texto em que se encontra a regra áurea, já no século VI a.C. são os Analetos de Confúcio, provavelmente escritos pelos discípulos deste filósofo chinês, onde, em duas passagens, encontramos a “regra áurea”, a saber:

 “ Chung Kung [discípulo de Confúcio – observação nossa] inquiriu sobre a benevolência. Confúcio disse: ‘Além de sua porta, comporte-se como se você se achasse reunido com hóspedes importantes. Quando empregue ao povo, comporte-se como se você estivesse fazendo ofertas importantes. O que não desejar para si próprio, não o faça a outros.

No Estado não haverá queixas, na família não haverá queixas…” (12:2) bem como “…Tzu Kung perguntou: ‘Existe uma palavra segundo a qual agir durante toda uma vida? Confúcio disse: É ‘perdão’. O que não deseje para você próprio, não o aplique a outros.” (15:23).

– Num texto budista posterior, chamado Udanavarga, de data incerta mas provavelmente do quarto século a.C., encontra-se, também, a regra áurea: “Olhe onde você quer, não há nada mais caro ao homem do que ele mesmo; consequentemente, como é a mesma coisa o que é caro para você e para os outros, não fira os outros com aquilo que dói para você próprio” (tradução nossa de texto em inglês. Disponível em: https://www2.hf.uio.no/polyglotta/index.php?page=fulltext&view=fulltext&vid=71&cid=110619&mid=&le vel=1 Acesso em 14 jan. 2015).

– E, pouco antes do Senhor Jesus, o grande rabino Hilel (60 a.C. – 9 d.C.), também sintetizou a lei e os profetas nesta “regra áurea”, como se verifica nesta passagem do Talmude da Babilônia: “…Em uma outra ocasião, aconteceu que um certo gentio veio diante de Shammai [outro grande rabino judeu da época de Hilel] e lhe disse: ‘ Faz de mim um prosélito, com a condição de que você me ensine toda a Torá enquanto eu ficar sustentado em apenas um pé.

Por causa disso, ele [Shammai] o repeliu com a vara de construtor que tinha em sua mão. Quando ele [o gentio] veio diante de Hilel, ele [Hilel} lhe disse: O que é detestável para você, não faça para o seu próximo, esta é a Torá inteira, enquanto que o resto é comentário dela, vá e aprenda isto…” (Shabbat 31-a. Disponível em: http://www.come-and- hear.com/shabbath/shabbath_31.html Acesso em 14 jan. 2015) (tradução nossa de texto em inglês).

– Verificamos, pois, que, desde os primórdios da história humana, a consciência posta nos homens fez com que, ao longo da história, tivessem os homens uma noção a respeito da essência que deve reger os relacionamentos entre os seres humanos, que tem nesta “regra áurea” uma máxima, que está presente em todas as religiões do mundo e que revela a existência de valores divinos a reger o Universo.

– O Senhor Jesus, em Seu sermão ético, o “sermão do monte” ou “sermão da montanha”, trouxe, uma vez mais, esta regra áurea, ao dizer: “ Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas” (Mt.7:12).

– Com estas palavras, o Senhor como que concluía o Seu discurso ético, onde estava a síntese da Sua doutrina, uma vez que, após tal afirmação, o Senhor faria as recomendações finais, sobre a necessidade de se seguir os Seus ensinamentos, como demonstração da salvação que estava a oferecer ao Seu povo.

– A partir desta regra áurea, portanto, que já era do conhecimento da humanidade ao longo dos séculos, Cristo mostrava, claramente, que havia a necessidade de o homem se conduzir consoante a vontade de Deus e isto somente seria possível a partir da submissão aos preceitos morais estabelecidos desde a criação pelo Senhor, preceitos estes que, embora conhecidos e até solenemente declarados, não eram, porém, cumpridos.

– Ao exarar a “regra áurea”, portanto, o Senhor Jesus dava o conceito daquele que viria a ser o “novo mandamento”. Já na apresentação de Sua doutrina, no “sermão do monte”, portanto, nosso Senhor e Salvador indicava que, através d’Ele, esta regra haveria de ser cumprida por quem se libertasse do pecado.

II – JESUS SINTETIZA A LEI EM DOIS GRANDES MANDAMENTOS

–  Na apresentação da Sua doutrina, o Senhor Jesus, então, aproveitou da indagação de um doutor da lei para demonstrar quais eram os dois grandes mandamentos da lei, mandamentos estes, aliás, que não se encontravam nas duas tábuas de pedra que haviam sido entregues escritas por Deus a Moisés.

– Com efeito, já no final de Seu ministério, Jesus foi interrogado por um doutor da lei que quis saber do Senhor Jesus qual era o grande mandamento na lei e o Senhor lhe respondeu que o primeiro e grande mandamento era “amar o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma e de todo o teu pensamento”, bem como que o segundo grande mandamento, semelhante àquele era “amar o teu próximo como a ti mesmo”, tendo ainda dito que “destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas” (Mt.22:34-40; Mc.12:28034 e Lc.10:25-27).

– Dentro de um sistema que continha 613 preceitos, que já haviam sido sintetizados por Deus em 10 mandamentos, seja no momento em que as palavras foram proferidas no monte Sinai, seja nas tábuas de pedra em que eles foram escritos pelo dedo de Deus, o Senhor Jesus fazia uma nova síntese, reduzindo as dez palavras em apenas dois mandamentos: o referente ao amor a Deus, que continha os cinco preceitos da primeira tábua e o referente ao amor ao próximo, que continha os cinco preceitos da segunda tábua.

– Jesus, então, mostrava ao povo judeu que toda a lei e os profetas dependiam do amor para que efetivamente pudesse ser cumprida e que, havendo amor a Deus e amor ao próximo, toda a lei seria devidamente cumprida, em todos os seus 613 preceitos.

– Jesus mostrava, assim, que a lei, embora não pudesse ser cumprida pelo homem, não era algo que estivesse distante ou que fosse muito complicado.

Embora o sistema dos 613 preceitos tivesse exigido a formação de um grupo de escribas e doutores da lei que pudessem se dedicar a meticulosos estudos e ensinasse o povo para que se pudesse ter uma rigorosa observância da lei, o que levou ao surgimento do farisaísmo e a introdução de um outro sem-número de preceitos adicionais, o que o Senhor censuraria e diria serem “fardos pesados e difíceis de suportar” (Mt.23:4), o fato é que tudo era muito mais simples do que parecia, já que eram apenas dois os mandamentos que sustentavam a lei e os profetas: o amor a Deus e o amor ao próximo.

– Nesta simplificação, Cristo procurava mostrar que a lei divina não era para ser entendida como um fardo pesado, mas, sim, como um indicador de que o amor se fazia absolutamente necessário nos relacionamentos dos seres morais, seja dos homens entre si, seja dos homens com relação a Deus.

– A “regra áurea”, portanto, não poderia ser entendida apenas como um exercício racional, como um “toma- lá-dá-cá”, onde alguém faria algo a outrem sempre pensando naquilo que o outro poderia fazer para si, mas, sim, dentro de um outro patamar, o patamar do amor, em que a pessoa se entregaria à outra, desejaria o bem da outra, agindo neste sentido, independentemente do que lhe viesse vir em troca, por um ato de pura vontade, no reconhecimento de que o próximo é imagem e semelhança de Deus e, deste modo, merece ser bem tratado, ser alvo do benefício de iniciativa daquele que age.

– Assim, o Senhor Jesus aprofundava, e muito, aquilo que havia sido captado por tantos homens ao longo da história, em virtude da própria consciência que nada mais era que a lei de Deus inscrita nos corações dos homens, como também dava o real e pleno sentido da lei que o Senhor dera a Israel no monte Sinai, do pacto que havia sido estabelecido com esta nação, que era “a propriedade peculiar de Deus entre os povos”, cuja transitoriedade fora evidenciada pelo próprio Moisés, que já dissera ao povo que viria um outro profeta, que concluiria aquilo que havia sido iniciado entre Deus e Israel, mas que Israel fora incapaz de levar até as últimas consequências.

– Não é, portanto, à toa que, logo após ter enunciados estes dois grandes mandamentos, que o Senhor Jesus venha a proferir o seu mais duro discurso em todo o Seu ministério, voltado contra os escribas e fariseus, em que vai denunciar a hipocrisia religiosa então existente entre aqueles que eram considerados os mais religiosos e piedosos daquela época entre os judeus.

– Jesus denuncia a esterilidade espiritual do farisaísmo, que, preso a um formalismo excessivo, não só via nos mandamentos apenas atitudes exteriores, como ainda gerara outro grande número de prescrições, que tornavam a vida religiosa insuportável e inatingível. Como se isto fosse pouco, tais preceitos inventados anulavam até mesmo os preceitos divinos, o que era uma inadmissível atitude, visto que toda a lei moral tem origem em Deus. Por fim, com a total desconsideração do interior, eles como que se conformavam com o pecado, entendendo que apenas uma observância exterior faria com que fossem salvos, o que era a própria negação de tudo quanto o Senhor havia dito a Israel.

– Assim, ao reduzir toda a lei e os profetas em dois grandes mandamentos, que tinham o amor como ação essencial, o Senhor Jesus dá mais um passo para dar o real e essencial sentido da lei e para demonstrar como esta lei poderia vir a ser cumprida pelo homem.

III – O NOVO MANDAMENTO   

– É dentro destas circunstâncias que exsurgem os momentos finais do ministério terreno de Jesus Cristo, momentos marcados pela intensificação do amor que o Senhor tinha para com a humanidade, como bem registra o apóstolo João ao introduzi-los em seu evangelho: “Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os Seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo.13:1).

– Mais uma vez, vemos que os ensinos de Jesus são precedidos por atitudes Suas, como deixa bem claro o evangelista Lucas logo no limiar de seu segundo tratado, o livro de Atos (At.1:1). Jesus primeiro fazia para depois ensinar. Por isso, deixou que Seu amor para com o homem aflorasse em toda a sua intensidade para só então ensinar aos Seus discípulos a respeito deste amor.

– Assim, no início daquelas que seriam as Suas últimas instruções, dadas aos discípulos durante a celebração da última páscoa, quando também instituiu a ceia do Senhor, Cristo começou dando o exemplo da humildade, ao lavar os pés de Seus discípulos.

– Neste gesto, Jesus deixou não somente a lição da humildade, mas apresentou aos discípulos que Ele, como Mestre e Senhor, deveria ser o exemplo a ser seguido (Jo.13:13-15).

– Logo em seguida a este novo elemento trazido pelo Senhor aos Seus discípulos, esta “novidade”, o Senhor apresenta, então, o novo mandamento, assim enunciado: “Que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos amei” (Jo.13:34).

– É sintomático que tais palavras tenham sido registradas pelo apóstolo João, que, em sua primeira carta, mostra bem a característica deste novo mandamento.

Em I Jo.2:5-8, dirigindo-se aos crentes de sua época, João, já então o único apóstolo ainda vivo de Jesus, disse: “Mas qualquer que guarda a Sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado: nisto conhecemos que estamos n’Ele.

Aquele que diz que está n’Ele, deve andar como Ele andou. Irmãos, não vos escrevo mandamento novo, mas o mandamento antigo, que desde o princípio tivestes. Este mandamento antigo é a palavra que desde o princípio ouvistes. Outra vez vos escrevo um mandamento novo, que é verdadeiro n’Ele e em vós; porque vão passando as trevas, e já a verdadeira luz alumia”.

– Esta passagem da primeira carta de João causa espécie, pois parece haver aí uma nítida contradição, porquanto o apóstolo fala que não escrevia um mandamento novo, mas um mandamento antigo e, depois, alude que estava se referindo a um mandamento novo. Afinal de contas, o mandamento era antigo ou era novo?

– Esta passagem bem se explica quando voltamos às últimas instruções do Senhor Jesus aos Seus discípulos. O novo mandamento era, a um só tempo, antigo e novo. Jesus, ao dar o novo mandamento aos Seus discípulos, aqueles que haveriam de salvar-se (Judas já havia saído para consumar a traição quando o Senhor traz este mandamento), revela-nos esta dupla faceta. Senão vejamos.

– O mandamento era antigo, porque o seu núcleo é o amor, que o próprio Cristo já havia dito que se tratava do resumo da lei e dos profetas. Quando o Senhor disse àquele doutor da lei que o resumo da lei e dos profetas eram dois mandamentos, os quais ambos ordenavam a amar, um a amar a Deus e outro a amar ao próximo, estava a dizer que a antiga aliança já mandava amar. Portanto, quando o Senhor diz aos discípulos que deveriam amar-se uns aos outros, não estava trazendo qualquer novidade, porquanto o amor já fora ordenado por Deus a Israel no monte Sinai.

– Nem poderia deixar de ser diferente, pois já vimos que a lei moral revelada por Deus ao homem é a mesma desde a criação. A lei tem origem em Deus e, portanto, assim como o seu autor não pode ser mudada, não pode ser modificada, porquanto Deus é imutável, Deus não muda (Ml.3:6; Tg.1:17).

– Não é por outro motivo que a “regra áurea”, cuja origem se encontra na consciência das pessoas, foi repetida em diversas épocas, por diversas pessoas, em diferentes lugares, sem que se possa dizer que tenha sido transmitida de um povo para outro.

– A “regra áurea” parte de uma constatação, ou seja, de que todos somos seres humanos e, portanto, devemos querer a mesma coisa, de sorte que se fizermos ao outro o que desejaríamos que fosse feito para nós. É a questão de uma reciprocidade, ou seja, de fazermos aquilo que gostaríamos que fosse feito para nós, algo que tem origem no amor próprio, no amor que temos por nós mesmos.

– Jesus, porém, mostrou que a lei dada por Deus a Israel no monte Sinai tinha dois fundamentos básicos: o do amor a Deus e o do amor ao próximo. Não se tratava, portanto, de apenas se colocar como ponto de referência, mas, sim, de entender que se deveria, em primeiro lugar, amar a Deus, querer agradar a Deus, reconhecer que existe um Ser Supremo, com quem devemos nos relacionar, fazendo a Sua vontade, como também, agir com relação ao próximo da mesma maneira, ou seja, fazendo-lhe o bem, querendo-lhe o bem.

– Neste sentido, tratava-se de “um mandamento antigo”, porque é a determinação que Deus havia dados ao ser humano desde a criação. Neste sentido, Jesus não estava trazendo nenhuma “novidade”, nem poderia fazê-lo, pois, como Deus, não poderia mudar aquilo que Ele próprio havia estabelecido desde o início da existência da humanidade.

– No entanto, como diz o apóstolo João, este “mandamento antigo” também era novo. E onde estava a novidade do mandamento? No fato de que este mandamento antigo tinha agora um exemplo a ser seguido: o Senhor Jesus.

– O “novo mandamento” não era apenas, como até então, um preceito que Deus havia revelado ao homem seja na consciência, seja na própria fala divina no monte Sinai ou que estivesse escrito em tábuas de pedra, mas, a partir da vinda de Jesus a este mundo, passou a ser um fato, um acontecimento, uma realidade, um dado histórico: o exemplo deixado por Jesus em seus trinta e três anos e meio de vida terrena.

– Em seu sermão já mencionado, Charles Spurgeon bem explica porque este mandamento é novo. Por primeiro, “…Ele é novo, primeiramente, na extensão do amor.

Devemos amar nosso próximo como a nós mesmos, mas devemos amor nossos irmãos em Cristo como Ele nos amou. Isso é muito mais do que amamos a nós mesmos. Cristo nos amou melhor do que amamos a Ele.

Cristo nos amou tanto que Se entregou a Si mesmo por nós, para que nenhum de nós diga: “Tenho de amar meu amigo, meu irmão, meu próximo como amo a mim mesmo”,  mas para que interpretemos assim o mandamento de Cristo:

“Devo amar meu irmão em Cristo como Jesus Cristo, que morreu por mim, me amou”. É um tipo de amor mais nobre em relação ao amor que temos de manifestar ao nosso próximo. Este é o amor de benevolência; aquele é um amor de afinidade e relacionamento íntimo.

 Envolve um grau mais elevado de sacrifício do que o recomendado pela lei de Moisés, ou mais do que teria sido entendido pela principal parte da humanidade como tendo sido pretendido pelo preceito que nos obriga a amar uns aos outros assim como nós nos amamos a nós mesmos” (end.cit., com acréscimo de tradução nossa do texto em inglês, que se encontra disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols49-51/chs2936.pdf, p.2).

– Ao dizer que devia ser seguido como exemplo, Jesus exige um patamar diferenciado para este amor, que não parte de um próprio instinto próprio, que não tem como referência a nós mesmos, e, por conseguinte, o amor humano, mas, sim, o amor de Deus, que é muito maior que o amor do homem, pois “ninguém tem maior amor do que este:

de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (Jo.15:13), amor que não pode ser encontrado em a natureza humana depravada, mas que é derramado pelo Espírito Santo no coração daqueles que creem em Jesus como Senhor e Salvador (Rm.5:5).

– Este amor é tão sublime que, dentro da reciprocidade, até seria possível que alguém ousasse morrer pelo justo, dentro do princípio estatuído pela “regra áurea”, mas Cristo morreu por nós quando nós ainda éramos pecadores (Rm.5:7,8), a mostrar que se está diante de um patamar até então nunca encontrado na história humana, residindo aí a novidade deste mandamento.

– O pastor batista norte-americano John Piper (1946- ) bem revela a profundidade singular deste amor em o novo mandamento, ao afirmar que “…Eu diria que Jesus não substituiu ou mudou o mandamento ‘amarás o teu próximo como a ti mesmo.’ Ele o preencheu e deu a ele uma clara ilustração. Ele está dizendo: Eis aqui o que eu quis dizer com “como a ti mesmo.

” Observe-me. Ou seja, assim como você gostaria que alguém lhe libertasse da morte certa, você também deve libertá-los da morte certa. É assim que estou amando vocês. Meu sofrimento e minha morte são o que quero dizer com “como a ti mesmo.” Você quer vida. Viva para dar vida aos outros. A qualquer custo.…” (Quinta-feira do mandamento. Amor ao extremo 6/9. Disponível em: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2013/03/john-piper-quinta-feira-do-mandamento-amor-ao- extremo-59/ Acesso em 14 jan. 2015).

– Por segundo, como ensina Charles Spurgeon, “…Ele é um novo mandamento porque está apoiado por uma nova razão. O velho mandamento estava amparado nesta declaração: ‘Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão’ (Ex. 20:2).

Os israelitas deviam obedecer à lei por causa da redenção que Deus havia realizado em favor de Seu povo. Nós, porém, somos ordenados a amar uns aos outros porque Cristo nos redimiu de uma escravidão pior do que a do Egito, por meio de um sacrifício de valor mais elevado do que o oferecimento de miríades de cordeiros na Páscoa.

 ‘Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado’ por nós (1 Co 5.7). Ele nos tirou do jugo de ferro do pecado e de Satanás, quebrando totalmente nossas cadeias. Nossos inimigos nos perseguiram, mas Ele os destruiu no mar, no mar Vermelho. Cristo nos redimiu com o sangue de Seu coração; por isso, Seu novo mandamento nos alcança com o maior significado possível: ‘Assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros’. É um novo mandamento por causa da sua extensão e da razão na qual está apoiado.…” (end.cit.).

– A libertação de Israel do Egito não tinha sido suficiente para libertá-los do pecado. Embora politicamente livres, os israelitas não creram em Deus, não foram capazes de chegar ao “status” espiritual de Abraão e, por isso, no monte Sinai, não puderam subir ao monte, apesar da determinação divina para tal e, por isso mesmo, continuaram servos do pecado.

Tanto assim é que o próprio Senhor Jesus disse que o fato de os israelitas serem descendência de Abraão não os havia tornado livres, pois, ao cometerem pecado, continuavam servos do pecado. A verdadeira libertação somente poderia ser feita pelo Senhor Jesus (Jo.8:31-36).

– O mandamento de Jesus era um “novo mandamento” porque trazia a libertação do pecado. Somente a partir do momento que cremos em Jesus nos libertamos do pecado, pois o Senhor Jesus, por Seu sacrifício no Calvário, tirou o pecado do mundo (Jo.1:29).

Por isso, somente n’Ele podemos chegar ao cumprimento da lei moral, por isso de nada adianta a “regra áurea” ser estabelecida em praticamente todas as religiões do mundo, porque o preceito não pode ser vivido, não pode ser tornado fato senão quando cremos em Jesus, pois é Ele quem tem o verdadeiro e genuíno amor, é Ele quem tem o amor sublime que nos permite ficar livres do pecado e, assim, entrar em comunhão com Deus e, desta maneira, receber o amor de Deus, que é o único que nos permite cumprir a “regra áurea”.

– Por terceiro, ainda seguindo este lapidar ensinamento de Charles Spurgeon, “…É um novo mandamento também porque é um novo amor, procedente de uma nova natureza e envolvendo um nova nação. Devo, como homem, amar meu compatriota porque ele é homem.

No entanto, como pessoa regenerada, tenho o dever de amar meus irmãos em Cristo ainda mais, porque eles também são regenerados. Os laços de sangue têm de ser reconhecidos por nós muito mais do que o são pelos não-regenerados.

Esquecemos facilmente que Deus ‘de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra’ (At 17.26). Por laço comum de sangue, somos todos irmãos. Todavia, amados, os laços da graça são muito mais fortes do que os de sangue.

 Se vocês já nasceram de Deus, são irmãos por meio de uma irmandade muito mais forte do que a irmandade natural que os capacitou a dormir no mesmo berço, mamar no mesmo peito; pois os irmãos segundo a carne podem separar-se eternamente.

 A mão direita do Rei talvez seja a posição atribuída a um deles, e a esquerda, a posição designada ao outro; mas os irmãos nascidos verdadeiramente de Deus compartilham de uma irmandade que durará para sempre.

Aqueles que agora são irmãos em Cristo serão sempre irmãos. Expressamos uma atitude deveras bendita quando somos capazes de amar uns aos outros porque a graça que está em nós vê a graça que está no outro e discerne nele, não a carne e o sangue do Salvador, mas uma semelhança com Cristo e ama o outro por causa de Cristo.

Assim como é verdade que, se somos do mundo, o mundo ama os seus, assim também é verdade que, se somos do Espírito, o Espírito ama os Seus. Toda a família dos redimidos de Cristo está unida por laços firmes. Sendo nós mesmos nascidos de Deus, estamos sempre procurando outros que foram ‘regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente’ (1 Pe 1.23).

Quando os achamos, não podemos deixar de amá-los. Entre nós há, imediatamente, um vinculo de união. Vocês estão ligados a Deus. Portanto, devem ter comunhão com todos os que estão ligados a Ele, quer gostem, quer não…” (end.cit.).

– Este mandamento é “novo”, porque é estabelecido num patamar espiritual que era inalcançável e inatingível antes da vinda de Cristo a este mundo. Como o Senhor tira o pecado do mundo, torna possível que aqueles que creem n’Ele nasçam de novo (Jo.3:3-6), tornem-se “novas criaturas” (II Co.5:17; Gl.6:15), “homens espirituais”                      (I Co.2:14,15) e que podem entrar em comunhão com Deus, formando uma unidade que era até então impossível (Jo.17:21-23). Neste novo patamar, a lei pode, então, ser finalmente cumprida, tornada fato, algo que era impossível no “mandamento antigo”, como nos deixa claro o apóstolo Paulo (Rm.7:11-24).

– Por quarto, ainda seguindo o sermão de Charles Spurgeon, “…é um novo mandamento porque é compelido por novas necessidades. Os cristãos devem amar uns aos outros porque são súditos de um Rei, que é também seu Salvador.

Somos um pequeno grupo de irmãos em meio a uma vasta multidão de inimigos. ‘Eis que eu vos envio’, disse Jesus aos Seus discípulos, ‘como ovelhas para o meio de lobos’ (Mt. 10:16). Se vocês são verdadeiros cristãos, não terão o amor dos mundanos.

Não podem tê-lo. Eles os ridicularizarão e os chamarão de tolos, hipócritas ou algo igualmente desagradável. Então, apeguem-se mais uns aos outros. Em qualquer oposição que vocês enfrentarem de fora, permitam que ela os consolide em uma união mais firme [um com os outros].

Somos como uma pequena companhia de soldados, na terra do inimigo, cercados fortemente pelos vastos batalhões de inimigos; por isso, temos de permanecer juntos. Temos de ser como um único homem, unidos em comunhão íntima, como nosso grande Capitão nos ordena.

Deus permita que o próprio fato de que estamos num país do inimigo resulte em tornar-nos mais completamente um do que temos sido! Quando ouço um cristão achando erros em seu pastor, sempre admito que o Diabo encontrou alguém para fazer a sua obra suja.

Espero que nenhum de vocês jamais seja encontrado a reclamar dos servos de Deus que estão fazendo o seu melhor para promover a causa do Senhor. Já existem muitos que estão prontos a achar erros neles…” (end.cit.).

– O mandamento é “novo”, porque agora existe um “novo” povo, um povo que está liberto de seus pecados, que se constitui em um “corpo estranho” neste mundo e que, por isso mesmo, é odiado pelo mundo (Jo.15:18-23).

 Existe agora uma batalha espiritual entre os que foram resgatados pelo Senhor Jesus e os que se mantêm escravos do pecado e, por isso mesmo, precisamos nos amar uns aos outros, a fim de que possamos, na união existente entre os irmãos, ter ordenados sobre nós a bênção e a vida para sempre (Sl.133).

– Por quinto, conforme o príncipe dos pregadores britânicos, “…este mandamento é novo porque é sugerido por novas características. Em nosso próximo, pode haver algo amável; mas, em nossos irmãos em Cristo, tem de haver algo amável. Suponha que sejam pessoas recém-nascidas de Deus – de minha parte, não tenho uma visão mais bela do que a de uma pessoa recém-nascida em Cristo. Gosto de ouvir as orações daquele é recém-convertido.

 Talvez haja… enganos e erros na oração, mas isso não a destrói. Um cordeiro não bali exatamente no mesmo tom em que bali um carneiro. Contudo, um cordeiro é um objeto muito lindo, e qualquer um gosta de ouvir seus frágeis balidos.

Há uma beleza nos cordeiros do rebanho de Cristo, assim como há nos carneiros adultos. Não há nada mais agradável a ser visto no mundo do que um crente envelhecido que viveu perto de Deus. Quão calmo é o espírito desse crente!

Quando ele começa a falar sobre as coisas de Deus e a testemunhar sobre o amor de seu Senhor, quão encantador é o seu falar! Há muitas coisas lindas nos verdadeiros cristãos. Então, procurem encontrar as excelências deles, e não os seus defeitos.

Se nós mesmos estivermos num estado de coração correto, é muito provável que admiraremos o que é bom nos outros… Há uma beleza em seus amigos que não há em vocês mesmos. Não fiquem sempre contemplando o espelho. Há vistas mais lindas a serem contempladas. Olhe para a face de seu irmão em Cristo; e, quando vê nele algo da obra do Espírito, ame-o por causa disso.…(end.cit).

– Jesus nos manda amar-nos uns aos outros porque agora fazemos parte do corpo de Cristo e, como tal, somos uma unidade em Deus. Deste modo, como poderia ser possível amar a Deus e não amar ao seu irmão, que vive em unidade com Cristo?

 Como bem disse o apóstolo Paulo aos coríntios, não podemos, de forma alguma, achar que há uma divisão em Cristo (I Co.1:13), de sorte que é imperioso que amemos os nossos irmãos e isto se dá em virtude da comunhão que existe entre os santos.

 Os mandamentos, como bem afirmou o evangelista Fábio Segantin, da Assembleia de Deus em Caçapava/SP, em sua videoaula da lição 1 deste trimestre (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=G7hJzby7W_g Acesso em 14 jan. 2015) mostram a santidade de Deus e o novo mandamento nada mais reflete que esta santidade se alcançou por Cristo Jesus, que cumpre Sua obra salvífica pondo-nos em comunhão com a divindade.

Como afirma o Catecismo da Igreja Romana: “…Nossa interdependência no drama do pecado e da morte se transforma em solidariedade no Corpo de Cristo, na “comunhão dos santos”.” (§ 2850 CIC), ou, ainda, “…comunhão dos santos é precisamente a Igreja” (§ 946 CIC).

– Por sexto, segundo ainda Spurgeon, “…este mandamento é novo porque é uma preparação para perspectivas melhores do que as que desfrutamos antes. Nós, que cremos em Jesus, viveremos juntos no céu, para sempre; por isso, podemos ser bons amigos enquanto estamos neste mundo. Veremos uns aos outros com a mesma glória e nos ocuparemos, para sempre, em uma realização comum: a adoração de nosso Senhor e Mestre.

A lembrança desta verdade deve remover muitas barreiras que agora existem em nossa sociedade… Pode também dar testemunho de que frequentemente eu aprendo mais em uma hora de conversa com um homem piedoso do que aprendo de um homem instruído que conhece muito pouco as coisas de Deus.

Nunca julgue os homens pelas roupas que eles vestem, mas pelo que eles são em si mesmos. É o coração do homem e, acima de tudo, a graça de Deus residente no coração desse homem que você e eu devemos valorizar e amar. Que Deus nos ajude a fazer isso!…” (end.cit.).

– O mandamento é novo precisamente porque, através deste relacionamento de amor que mantemos com os irmãos, podemos, desde já, desfrutar da vida eterna.

 A vida eterna não começa com a nossa passagem para a eternidade, mas, como disse o Senhor Jesus, o reino de Deus já está entre nós (Lc.17:21) e, por causa disso, somos a cada dia edificados em amor, produzindo dia após dia o aumento do corpo de Cristo, tanto quantitativa quanto qualitativamente (Ef.4:16).

Quantos benefícios não tem a Igreja trazido para o mundo, para a humanidade desde que o Senhor a inaugurou?

– Por sétimo, e aqui agora nos valemos de John Piper, “…o mandamento novo não era um preceito isolado para o amor, mas um mandamento incorporado na chamado de Jesus para confiar nele como o Cordeiro de Deus que carregou o pecado para tudo o que precisamos.

 E nós sabemos isto, porque João disse em 1 João 3:23: “E este é o seu mandamento [singular], que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e que nos amemos uns aos outros, como ele nos ordenou.

” Em outras palavras, na mente de João, o mandamento de Jesus para crer n’Ele, e Seu mandamento para amar uns aos outros são inseparáveis. Então, juntos, ele os chama de um mandamento: “Este é o seu mandamento [singular], que creiamos no nome de Seu Filho Jesus Cristo e amemos uns aos outros, como Ele nos ordenou”.

As pessoas não sabem que você é um discípulo de Jesus, se você não tiver feito uma profissão de fé em Jesus. Mas se você se declarar abertamente ser um discípulo de Jesus – o Salvador, o Senhor, o seu

Tesouro – então, o seu amor para os outros será decisivo para mostrar o que você é realmente. Você é um verdadeiro crente? Você realmente é um discípulo? Ele é realmente o seu tesouro? Você foi realmente mudado por Jesus? Todos eles vão saber “se tiverdes amor uns aos outros” (João 13:35). …” (PIPER. John. Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/MTQwNTk5Mw/ Acesso em 14 jan. 2015).

– O mandamento é novo porque, através dele, temos a realização, a execução da lei moral como fato histórico, como acontecimento entre os homens, algo que jamais havia ocorrido até a vinda de Cristo Jesus.

 De qualquer forma, após a salvação em Cristo Jesus, a lei tornou-se acessível e factível para todos os seres humanos. Jesus cumpriu a lei, mas Ele era Deus e homem e, somente através do mandamento novo, temos a “novidade” de que a lei se torne uma realidade entre os homens.

– Através desta “novidade”, o mandamento faz com que a humanidade compreenda que Deus os ama e que é possível a salvação e que Jesus realmente é o Senhor e Salvador, Aquele que foi enviado para restabelecer a comunhão entre Deus e os homens.

 É por isso que o Senhor diz que o resultado do cumprimento do mandamento novo é a compreensão, pelos homens, de que os salvos são discípulos de Jesus Cristo.

– Assim como o centurião reconheceu que Jesus era o Filho de Deus pelas circunstâncias que envolveram a crucificação de Jesus (Mt.27:54; Mc.15:39),  onde Ele demonstrou e provou o Seu amor para com a humanidade (Rm.5:8), também nós provamos que Jesus é o Salvador e que somos Seus discípulos quando nos amamos uns aos outros (Jo.13:35).

– O apóstolo João diz que se nos amamos uns aos outros provamos que Deus está em nós e em nós é perfeito o seu amor (I Jo.4:12), o que permite que até mesmo os que não têm comunhão com Deus reconheçam que somos discípulos de Cristo e que Deus está em nós.

– Como diz John Piper: “…Essa é a nossa novidade. Este é o novo mandamento. “Assim como eu vos amei, vocês também devem se amar uns aos outros.” Sim.

 Mas não copiando o meu fruto, mas por se conectarem à minha vinha. Você não de imitar, principalmente. Você participa. Seu amor de uns pelos outros não é uma simulação do meu, mas uma manifestação dele. Vós sois os ramos.

 Eu sou a videira. Se vós permanecerdes em mim, vocês podem dar fruto, e vir a ser meus discípulos (João 15:8). Isto é como todas as pessoas conhecerão que vocês são verdadeiramente meus discípulos.

 Assim, a razão do amor que temos uns pelos outros mostra que somos verdadeiramente discípulos de Jesus, é que isto somente é possível porque estamos enxertados na vida e no amor de Cristo. Nós amamos como ele amou, porque amamos com o seu amor.…” (Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/MTQwNTk5Mw/ Acesso em 15 jan. 2015).

– O amor de Deus deixou de ser algo utópico, algo inatingível, mas algo verificável e plenamente realizável, através da vida de cada um de Seus discípulos. E, ao longo da história da Igreja, temos várias situações em que os gentios e os judeus, ao ver a vida dos servos de Jesus, têm testificado, através do amor que têm uns pelos outros, a realidade de que Jesus é o Senhor e Salvador da humanidade.

– Mas há, ainda, um fator a mais neste mandamento novo. É que não só o amor de uns pelos outros demonstra a presença de Deus em nós e o fato de sermos discípulos de Cristo, mas, também, o nosso amor para com os incrédulos, para com os que não servem a Cristo, pois o amor de Deus não é exclusivo aos que creem, mas é um amor para todo o mundo (Jo.3:16).

– Os salvos em Cristo Jesus também demonstram o seu amor para com os seus inimigos, para aqueles que os odeiam. Neste ponto, também, é manifestado que somos discípulos de Cristo, pois, dominados que somos pelo amor de Deus, também conseguimos amar os nossos inimigos, como determinava Nosso Senhor e Salvador no sermão do monte (Mt.5:44-48).

– Recentemente, por ocasião de atentados terroristas em Paris, ficamos a saber que alguns grandes veículos da mídia internacional têm determinações a seus jornalistas que jamais façam quaisquer comentários ou tomem quaisquer atitudes que se considerem injuriosos à fé islâmica, mas que têm plena liberdade para atacarem a fé cristã, uma vez que “os cristãos não revidam, não se vingam”.

– Tal notícia revela, exatamente, o testemunho cristão, pois é sabido, passados quase dois mil anos da instituição do novo mandamento, que o verdadeiro servo de Jesus Cristo ama os seus inimigos e, por isso, não lhes quer mal, não lhes faz mal. No amor, portanto, todos reconhecem que somos discípulos de Jesus. Aleluia!

– Assim, em sucintas considerações, vemos porque o mandamento de Cristo é, a um só tempo, mandamento antigo e mandamento novo, uma vez que leva até o interior dos corações do homem a lei moral que o Senhor revelou ao homem desde a criação da humanidade.

Um mandamento que não é uma letra inscrita em tábuas de pedra, mas um mandamento que não só se encontra no interior do coração dos homens que receberam a Jesus como Senhor e Salvador, mas também que é um fato histórico, um acontecimento, uma realidade no mundo em que vivemos. Que Deus nos conceda a graça de podermos ser “cartas de Cristo” e, como tais, provas vivas da promulgação da lei divina entre os homens. Amém.  

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco 

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