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Jovens – Lição 10 – Jesus, o Bom Pastor

Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Silas Queiroz, comentarista do trimestre.

INTRODUÇÃO

Jesus permaneceu em Jerusalém algum tempo depois da Festa dos Taber­náculos. Os Evangelhos não informam onde exatamente Ele costumava ficar durante suas estadas na cidade.

Uma das hipóteses é que, pelo menos em parte desse tempo, recorresse aos amigos de Betânia (Lázaro, Marta e Maria), citados especialmente por João.

No próximo capítulo, trataremos mais dessa forte amizade e dos indicativos que temos de que Jesus fazia viagens pela Judeia ou em torno dela, para lugares previamente conhecidos da família de Betânia — por isso foi possível Marta e Maria mandarem chamá-lo quando Lázaro estava enfermo (Jo 11.1-6).

Nessa ocasião mesmo, é possível que Jesus tenha permanecido na Judeia por cerca de quatro meses, visto que a partir do versículo 22 do capítulo 10 João narra fatos ocorridos durante a Festa da Dedicação.
E em Jerusalém havia a Festa da Dedicação, e era inverno.

E Jesus passeava no templo, no alpendre de Salomão. Rodearam-no, pois, os judeus e disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente. (Jo 10.22-24).

Infelizmente, a verdadeira intenção dos judeus não era saber se Ele realmente era o Cristo, para que cressem, mas para acusá-lo de blasfêmia, como fizeram quando Jesus se declarou igual ao Pai.

O clima hostilizado era muito grande por parte dos judeus, os quais não alcançavam fé em Jesus. Isso acontecia pela dureza de seus corações, em decorrência de suas obras más e do orgulho que nutriam. Estavam espiri­tualmente cegos.

É para essa geração incrédula que Jesus repetidamente se revelava, apresentando-se como o Messias prometido pelos profetas.

Nem mesmo a evidente correlação feita com as profecias messiânicas faziam com que os judeus cressem nas Escrituras e vissem em Jesus o cumprimento delas. Neste capítulo analisaremos parte dessas profecias, que anunciaram o Messias como um Pastor eterno para Israel.

O Diálogo e o Retrato das Lideranças de Israel

Jesus começa seu diálogo com os judeus usando uma linguagem figurada. Apresenta um curral de ovelhas e menciona as figuras do ladrão, do salteador e do pastor de ovelhas (10.1,2).1

Nesse ponto Jesus está fazendo uma refe­rência ao quadro espiritual há muito vivido por Israel, um rebanho espoliado por ladrões e salteadores, os quais não entravam no curral pela porta. Eram invasores.

Não protegiam o rebanho, mas o deixavam vulnerável ao lobo, que as arrebatava e dispersava, assim como fazia também o mercenário (10.12).

A nação de Israel teve bons líderes nos tempos de seu nascimento, com Moisés, no deserto, e Josué, no tempo da conquista da Terra Prometida.

Um líder autêntico, muito espiritual e zeloso do verdadeiro culto a Deus (Js 24.1-25), Josué somente falhou em não cumprir integralmente a missão que recebera de Deus por meio de Moisés, quanto à eliminação de todos os povos das terras delimitadas como herança para os hebreus (Dt 20.16-18).

Naquele tempo havia, também, um firme compromisso dos sacerdotes em preservar as tribos de Israel de qualquer idolatria. Exemplo disso é o que se vê no episódio em que Fineias, o sacerdote, filho de Eleazar, filho de Arão, conclama aos filhos de Rúben e de Gade e a meia tribo de Manassés à preservação do compromisso de exclusiva adoração ao Deus de Israel (Js 22.10-34).

A crise de liderança começa logo depois da morte de Josué e da geração que havia testemunhado os grandes feitos de Deus em prol de seu povo.

A fase seguinte foi a dos juízes, com sucessivas crises morais e espirituais, seguidas de opressões e de livramentos miraculosos por meio de líderes como Débora, Baraque, Gideão, Jefté e Sansão. Eugene H. Merrill assim sintetiza o período desse “padrão cíclico que caracterizou a história de Israel por mais de trezentos anos”.

Se, por um lado, havia a forte inclinação do povo para a apostasia, por outro, é nítido como o texto bíblico associa isso à falta de líderes fortes, ou seja, à sucessão das gerações experimentadas, por novas gerações, sem experiências e compromisso com Deus (Jz 2.7-13).

Eram dois componentes que se juntavam para formar o caldeirão de idolatria, imoralidade e violên­cia. Com essa repetição de crises chega-se aos dias do sacerdote Eli, cuja realidade estampa como o baixo nível moral e espiritual chegara ao Templo. Os filhos de Eli eram o retrato da tragédia de Israel.

Nada mais vil e desprezível do que líderes que se alimentam da exploração de seus liderados. Que não vivem para servir, mas para ser servidos, e, por vezes, de maneira abjeta, violenta e hostil, como faziam os filhos de Eli — ou, ainda que sorrateiramente, movidos pelo mesmo sentimento.

Deus levantaria um líder extraordinário para Israel, o jovem Samuel, que atuou como juiz, sacerdote e profeta, mas que logo sairia de cena diante da insurgência do povo, o qual, a todo custo, queria um rei (1 Sm 8.1-9).

Como sabemos, Deus lhes deu Saul, que logo se mostrou rebelde à voz divina e se aprofundou em uma crise espiritual, infelizmente sem volta (1 Sm 10.8-14).

O período da monarquia de Israel foi marcado por bons reis, como Davi, Salomão, Asa, Josafá e Josias, mas também reis terríveis, como Jeroboão, Acabe, Manassés, Amom e Joacaz. O sacerdócio geralmente acompanhava o declínio moral e espiritual da monarquia, fazendo mais relevante e neces­sário o ministério dos profetas. Aliás, era justamente esse o propósito de Deus com o profetismo

O ocaso da vida de Israel como nação decorreu justamente do fato de que a degeneração da monarquia e do sacerdócio passou a ser corroborada por uma horda de falsos profetas, que nada tinham a ver com expoentes do profetismo, como Elias e Eliseu.

Ao contrário, estavam comprometidos com o sistema de seu tempo. Isaías denuncia que eles associaram-se aos sacerdotes na prática da devassidão.

A Visão Profética da Dispersão

A referência que Jesus fez às multidões do povo de Israel que “andavam desgarrados e errantes como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9.36) fora vista pelos profetas há cerca de setecentos anos.

Isaías apresenta o cenário de dispersão dessas ovelhas, diante de “cães gulosos, [que] não se podem fartar […] pastores que nada compreendem; [que] se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte” (Is 56.10,11).

Ezequiel denuncia os profetas, os quais “devoram as almas”, e os sa­cerdotes, que “transgridem a […] lei, e profanam as […] coisas santas” (Ez 22.25,26).

A linguagem profética estava em plena sintonia com a parábola que Jesus contaria mais de 500 anos depois.

Ezequiel chama os príncipes (ou líderes) de Israel de “lobos que arrebatam a presa, para derramarem o sangue, para destruírem as almas, para seguirem a avareza” (Ez 22.27).

A perfeita coesão da linguagem continua, quando Ezequiel refere-se aos “pastores de Israel”.
O mais grave é que diante desse cenário tão crítico, a palavra de Deus dita pelo profeta indicava a mais profunda desolação.

Não havia um líder sequer pelo povo diante do Senhor: “E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o muro e estivesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei” (Ez 22.30).

É diante desse quadro que Jesus se apresenta como o bom Pastor, o único que em vez de viver à custa das ovelhas, dá a própria vida por elas.

“Dou a minha Vida”

Os judeus estavam cegos diante da realidade espiritual que viviam, espe­cialmente os membros da classe religiosa, inebriados com a popularidade e os privilégios decorrentes da posição de liderança que ocupavam.

Por isso, mesmo diante de uma descrição tão clara da realidade de Israel e da denúncia contundente do fracasso de seus líderes, não tinham a capacidade de compreender e aceitar a oferta pessoal de Jesus, como o bom Pastor, que dá sua vida pelas ovelhas (10.11).

Na verdade, essa mensagem incomodava aos líderes de Israel, que nada tinham de abnegação, mas, sim, de usurpação.

Quanto ao Filho de Deus, sua encarnação era a prova da mais profunda renúncia, retratada na belíssima descrição feita por Paulo dessa gloriosa obra de entrega sacrificial pela humanidade.

Sua autodoação e entrega voluntária são destacadas na declaração de Jesus:

“Ninguém mas tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la. Esse mandamento recebi de meu Pai.” (10.18). Isso torna ainda mais claro o valor do sacrifício de Jesus, fruto, como já afirmado, de sua inteira abnegação.

Sobre o fato de algumas passagens bíblicas fazerem referência ao Pai ressuscitar a Jesus, como Atos 2.32, Romanos 6.4 e Hebreus 13.20, Wiersbe afirma que “As duas coisas são verdade, pois o Pai e o Filho operam juntos em perfeita harmonia (Jo 5.17,19)”.

Uma explicação complementar neces­sária a esse ponto é que essa autoridade do Filho para tornar a tomar sua vida “não se originou de si mesmo; ela veio do Pai”, com resultado de sua abnegação.

O fato de o Filho ter decidido espontaneamente dar sua vida conferia-lhe direito e autoridade para tornar a tomá-la.

Não houve, portanto, usurpação em quaisquer das fases, mas uma justa conquista, como também o é a glorificação de Cristo (Fp 2.9-11).

O comentário da Bíblia de Estudo de Genebra afirma que a declaração de Jesus registrada em João 10.18 “Refere-se à ressurreição de Cristo, um mi­lagre tão extraordinário que, tal como a criação e a salvação, é visto como uma obra das três pessoas da Trindade”.

Na verdade, não podemos alcançar a exata profundidade da expressão de Jesus, porque foge à nossa compreensão a perfeição do relacionamento entre o Pai e o Filho, um dos grandes mistérios da teologia.

Nós nos con­formamos e nos alegramos com o fato de podermos crer nesse mistério e receber as bênçãos advindas desse ministério sacrificial do eterno Pastor, que a si mesmo se entregou por nós, ovelhas desgarradas, para nos dar vida com abundância, ou seja, vida eterna (10.10).

Esvaziou-se a si mesmo

A glória de Cristo é resultado de sua entrega voluntária sacrificial, para a qual Paulo usa o termo grego ekenosen, que significa “se esvaziar”.

Enquanto Lúcifer quis usurpar a glória de Deus (Is 14.12-14; Ez 28.13-15), Cristo esva­ziou-se de sua própria glória. Essa profunda humilhação deu-lhe credenciais para receber todo o poder e glória, não somente no céu, mas também na terra e debaixo da terra (Fp 2.10).

Ao submeter-se inteiramente ao Pai em completa obediência e sem pecado (Hb 4.15), Jesus destronou por completo os poderes das trevas, triunfando sobre o inferno e a morte (Cl 2.15; 1 Co 15.55-57).

Por isso, todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai (Fp 2.10,11).

Chegará o tempo em que todo o mundo, todas as nações da terra, terão de reconhecer que Jesus, o descendente de Davi, é o Cristo, o Messias, o Todo-Poderoso. Será a implantação do seu Reino eterno, que jamais terá fim (Is 9.6,7; Dn 2.44; Lc 1.32,33; 2 Pe 1.11; Ap 3.21; 21.1).

Como enfatiza Donald Stamps, “o texto grego […] diz literalmente, que ele ‘se esvaziou’, i.e., deixou de lado sua glória celestial (Jo 17.4), posição (Jo 5.30; Hb 5.8), riquezas (2 Co 8.9), direitos (Lc 22.27; Mt 20.28) e o uso de prerrogativas divinas (Jo 5.19; 8.28; 14.10)”.

O Filho não deixou de ser Deus. Manteve completa natureza divina, mas assumiu uma natureza humana igualmente completa. Assim, o que temos é que “Esse ‘esvaziar-se’ importava não somente em restrição voluntária dos seus atributos e privilégios divinos, mas também na aceitação do sofrimento, da incompreensão, dos maus tratos, do ódio e, finalmente, da morte de maldição na cruz (vv. 7,8)”.

Essa “restrição voluntária” dos atributos deve ser compreendida como um não uso em certas circunstâncias (Mt 26.53), jamais um esvaziamento ou perda, ainda que temporária.

CONCLUSÃO

Jesus estampa diante dos judeus o estado espiritual da nação, espoliada por falsos pastores, os quais a parábola apresenta como ladrões e salteadores, e no sermão pregado logo em seguida são nominados como mercenários (ou assalariados), que “não tem cuidado das ovelhas” (10.13).16

Ao se apresentar como o bom Pastor, que conhece suas ovelhas e que delas é conhecido, Jesus refere-se a “outras ovelhas que não são desse aprisco”, numa clara referência à universalidade de sua obra e mensagem.

Não apenas os judeus, mas também os gentios receberiam a oferta da graça, a salvação gratuita, operada pela obra sacrificial do Cristo encarnado, para satisfazer a justiça de Deus (Ef 2.8,9).

Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!

Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: QUEIROZ, Silas. Jesus, o Filho de Deus: Os Sinais e Ensinos de Jesus Cristo no Evangelho de João. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2022/03/04/licao-10-jesus-o-bom-pastor/

Vídeo: https://youtu.be/_oevMu9eQ-o

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