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Lição 1 – Deus dá a Sua lei ao povo de Israel

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Confira também Leitura diária – 1º Trim. 2015 – Lição 1: Deus dá a Sua lei ao povo de Israel

Comentada por: Ev. Caramuru Afonso Francisco

ESBOÇO Nº 1

  1. A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

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 Estamos dando início a mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical, agradecendo ao Senhor pela liberdade de culto e de crença que ainda temos para poder aprender a Palavra de Deus, promovendo a necessária edificação da Igreja em nossa caminhada para o céu.

   Este ano que se inicia é um ano em que devemos, com toda dedicação, clamarmos ao Senhor para que esta liberdade de culto e de crença, que se encontra sobremaneira ameaçada em nosso país, seja preservada e ampliada até, fazendo com que nosso querido Brasil continue a ser uma terra onde o Evangelho possa ser pregado e ensinado até a volta do Senhor para arrebatar a Sua Igreja.

   Neste primeiro trimestre de 2015 teremos um trimestre “temático”, ou seja, analisaremos um tema, um assunto, qual seja, o estudo dos dez mandamentos, esta suma, este resumo do caráter de Deus e de Sua santidade que foi solenemente pronunciado pelo próprio Senhor ao povo de Israel no monte Sinai.

   Pode parecer estranho que venhamos a estudar os dez mandamentos, já que estes mandamentos são o ponto máximo da lei e nós, como Igreja, não estamos mais debaixo da lei, pois Jesus Cristo a cumpriu e instaurou a graça (Jo.1:17).

   Entretanto, devemos lembrar que Deus não muda (Ml.3 :6; Tg.1:17), de modo que o que revelou a Israel como valores a serem seguidos por aquele povo, que Ele havia escolhido para ser Sua propriedade peculiar dentre os povos (Ex.19:5), são valores que devem ser seguidos por nós hoje, já que não se alteraram.

   Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo, que foi o homem escolhido por Deus para bem explicar que o salvo em Cristo Jesus não mais estava sob o domínio da lei, afirmou, com todas as letras, que “a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom” (Rm.7:12), vez que proveniente de Deus e, deste modo, nós, que somos chamados santos, por termos sido santificados em Cristo (I Co.1:1), não podemos senão atender a estes mesmos valores trazidos pela lei mostrada a Deus no monte Sinai.

   A “lei de Cristo” não veio abolir mas, antes, cumprir a lei que Deus havia dado a Israel por intermédio de Moisés (Mt.5:17), aprofunda estes valores, “…cumprimento [que] exige mais, e não menos, justiça, como diz Jesus…” (BENTO XVI. Jesus de Nazaré – primeira parte: do batismo no Jordão até a transfiguração, p.101).

   A lei, em suas máximas, que são os dez mandamentos, encerra o caráter de Deus, mostra qual é a Sua vontade na vida do homem sobre a face da Terra e, neste sentido, tem o suprassumo da moral, da convivência humana de acordo com a vontade de Deus enquanto peregrinamos nesta Terra.

   Devemos, ainda, observar que os dez mandamentos, que são, na verdade, as “dez palavras” (Ex.20:1) foram ditas diretamente por Deus ao povo de Israel no monte Sinai (Ex.20:1), como também foram diretamente escritas pelo Senhor nas tábuas de pedra (Ex.32:15,16), a revelar, pois, que se tratavam de obra direta e exclusiva do Senhor, a demonstrar toda a sua imutabilidade.

   Por isso, o estudo dos dez mandamentos é importantíssimo para o cristão, pois, através dele, ele saberá qual é a moral cristã, ou seja, como deve viver o salvo em Cristo Jesus sobre a face da Terra, como deve demonstrar a sua justiça, que tem de ser maior que a dos escribas e fariseus, se este salvo realmente pretende entrar no reino dos céus (Mt.5:20).

   A capa da revista deste trimestre apresenta das duas tábuas de pedra em que Deus escreveu as Suas “dez palavras” (Decálogo) (Ex.32:15,16), lembrando, assim, que os dez mandamentos são obra exclusiva e direta de Deus, revelam a Sua vontade de como deve ser a conduta do homem não só com Ele mas também com o próximo.

   Estas tábuas mostram-nos, também, que, na dispensação da lei inaugurada no monte Sinai, não era possível, pelo homem, o cumprimento da vontade do Senhor, tanto que as primeiras tábuas foram quebradas assim que Moisés volta ao arraial, onde o povo de Israel já estava a quebrar os dois primeiros mandamentos ao construírem e adorarem o bezerro de ouro (Ex.32:19), mas que, pela graça e misericórdia de Deus, é possível o seu cumprimento por Cristo Jesus, que é o que representam as segundas tábuas, escritas novamente pelo Senhor, mas em tábuas lavradas por Moisés (Ex.34:1,28), tábuas que figuram a escrita da lei não mais em tábuas, mas nos próprios corações humanos (Jr.31:31,32; II Co.3:3).

   A lei, por ser de um Deus imutável, não muda, mas, através de Cristo, passa a ser inscrita em nossos corações e não mais em pedras, de modo que não precisamos mais cumprir a lei para alcançarmos a salvação, algo que é impossível ao homem, mas, sim, por termos sido salvos, cumprimos a vontade de Deus, que expressa está nos dez mandamentos.

   O trimestre pode ser dividido em quatro blocos:

o primeiro bloco, introdutório, que abrange as duas primeiras lições, falará a respeito da entrega da lei por Deus a Israel e do padrão da lei moral, mostrando-nos, assim, a essência dos dez mandamentos, a chamada “lei moral”, que abarca os princípios imutáveis pelos quais devemos viver sobre a face da Terra.

   O segundo bloco, que abrange as lições 3 a 7, fala-nos da “primeira tábua” da lei, ou seja, dos mandamentos referentes ao nosso relacionamento com Deus, que cuida dos cinco primeiros mandamentos, lembrando que o quinto mandamento, relativo à honra aos pais, é, na verdade, um mandamento híbrido, que abrange tanto o relacionamento com Deus como com o nosso próximo.

   O terceiro bloco, que abrange as lições 8 a 12, fala-nos da “segunda tábua” da lei, ou seja, dos mandamentos referentes ao nosso relacionamento com o próximo, que cuida dos cinco últimos mandamentos.

   Por fim, o quarto bloco, composto apenas da lição 13, faz um estudo a respeito do papel da lei diante da Igreja.

   Nosso comentarista é o pastor Esequias Soares da Silva, presidente das Assembleias de Deus em Jundiaí/SP, que, há anos, comenta as lições bíblicas e que é, indubitavelmente, um dos grandes conhecedores na atualidade, em nossa denominação, a respeito da cultura judaica e do Antigo Testamento, sendo, ademais, um exímio apologista da fé, de modo que estamos diante de um “expert” no tema a ser tratado.

   Que o estudo dos dez mandamentos possa, num instante em que a ética e a moral se encontram em flagrante desprezo, inclusive entre os que cristãos se dizem ser, possa nos ajudar a refletir de como está o nosso dia-a-dia na peregrinação terrena e nos faça melhorar em justiça, tendo uma justiça superior ao dos escribas e fariseus, para que, assim, sendo verdadeiros e genuínos discípulos de Jesus Cristo, entremos no reino dos céus.

  1. B) LIÇÃO Nº 1 – DEUS DÁ A SUA LEI AO POVO DE ISRAEL

A lei reflete a vontade de Deus para a convivência humana sobre a face da Terra.

INTRODUÇÃO

– No início do estudo deste trimestre, em que abordaremos os dez mandamentos, veremos como Deus dá a Sua lei ao povo de Israel.

– A lei reflete a vontade de Deus para convivência humana sobre a face da Terra.

I – DEUS É SOBERANO E ESTABELECE LEIS PARA O HOMEM

– Estamos dando início a mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical e, desta feita, num trimestre “temático”, analisaremos os dez mandamentos.

– Os dez mandamentos, mais propriamente, as “dez palavras” ou “Decálogo” (Ex.20:1), são uma direta manifestação da vontade de Deus para com a conduta humana, revelam como o homem deve viver e conviver sobre a face da Terra de modo a agradar ao seu Criador.

– Para bem entendermos os dez mandamentos, torna-se necessário lembrar que Deus é o Senhor de todas as coisas, pois Ele as criou (Sl.24:1; Gn.1:1). Sendo o Criador de tudo o que há, é natural que o Senhor tenha o direito exclusivo de indicar como Suas criaturas devem agir e proceder.

 – Ao criar todas as coisas, o Senhor fez com que todo o Universo obedece a preceitos por Ele mesmo estabelecidos e criados. A ciência nada mais faz senão descobrir quais são estas “leis”, estes preceitos que foram estatuídos por Deus e que todas as criaturas têm de observar.

– A Bíblia Sagrada revela, em diversas passagens, esta realidade, ao dizer, por exemplo, no salmo 74, de autoria de Asafe, que o Senhor preparou a luz e o sol, o dia e a noite, como também estabeleceu todos os limites da terra, formando o verão e o inverno (Sl.74:16,17).

– Deus, que não é Deus de confusão (I Co.14:33), ao criar todas as coisas, estabeleceu uma ordem, tudo submetendo a regras, a preceitos, que são o que denominamos de “leis”, que são normas, regras ditadas pelo Criador através das quais tudo se organiza, tudo se desenvolve.

Não é por outro motivo que o universo era chamado pelos gregos de “cosmos”, ou seja, algo ordenado, algo que tem um formato próprio, contrário do “caos”, que é precisamente o contrário, que não tem uma ordenação, uma organização.

– Deus não moldou apenas o universo físico, não estabeleceu leis apenas para a natureza, para as coisas que criou mas que são despidas de vontade e de racionalidade. Ao criar seres morais (anjos e homens), ou seja, seres que quis o Senhor dotar de vontade, razão e sentimento, também o Senhor estabeleceu preceitos, regras pelas quais deveriam estas Suas criaturas especiais se comportar e se portar não só no relacionamento com Ele, o Criador, mas também no relacionamento entre si, com os seus semelhantes.

– Assim, no próprio relato da criação do homem, que abrange a parte final do capítulo um e todo o capítulo dois do livro do Gênesis, vemos que o Senhor criou um “mundo ético”, um “mundo moral”, onde estabeleceu preceitos que devem ser observados pelo homem, observância esta que se dá voluntariamente, porquanto o Senhor dotou o homem de livre-arbítrio, ou seja, com a capacidade de escolher entre obedecer, ou não, a tais preceitos.

– Deus, na Sua condição de Criador de todas as coisas, moldou, portanto, uma “ordenação ética”, uma “ordenação moral”, que tem de ser observada pelo homem se este homem quer agradar a Deus e viver em comunhão com o Senhor. Existe, portanto, desde o limiar da existência, uma “lei de Deus”, que deve ser devidamente observada pelos homens.

– Como dizia o filósofo e político romano Marcos Túlio Cícero (106-43 a.C.), “… a lei é a razão suprema da Natureza, que ordena o que se deve fazer e proíbe o contrário. Esta mesma razão, uma vez confirmada e desenvolvida pela mente humana, se transforma em lei.

 Por isso afirmam que a razão prática é uma lei cuja missão consiste em exigir as boas ações e vetar as más. Julgam que esta lei deriva seu nome grego da ideia de dar a cada um o que é seu, e eu julgo que o nome latino está vinculado à ideia de ‘escolher’: pois sob a palavra lei eles apresentam um conceito de equidade e nós um conceito de escolha, e ambos são atributos verdadeiros da lei.(…) este animal cauto, sagaz, complexo, aguçado, dotado de memória, de razão e de prudência, a que chamamos de homem, recebeu do deus supremo uma existência que o coloca em situação ímpar.

Pois ele é o único, entre todas as espécies e variedade de seres animados, que tem acesso a uma razão e a um pensamento, de que carecem as outras(…). Logo, se se observa que não há nada superior à razão e que esta se encontra tanto no homem quanto em Deus, resulta daí que a razão é o vínculo da primeira associação que se estabelece entre homem e Deus.

Mas os que possuem razão em comum, devem também possuir em comum a razão justa. Ora, esta não é outra coisa senão a lei, logo a lei é um outro vínculo que devemos reconhecer entre homens e deuses…” (Das Leis. Trad., introd. e notas por Otávio T. de Brito. São Paulo: Cultrix, 1977, pp.40,42).

– Vemos que este grande filósofo romano, embora pagão e politeísta, bem entendia que Deus estabeleceu dois vínculos com os homens: a razão e a lei. Através dos preceitos e regras que estabeleceu para que o homem convivesse sobre a face da Terra, Deus criou um relacionamento do homem com Ele próprio, porquanto, através destas regras e preceitos, apreensíveis pela razão, poderia o homem se relacionar com o seu Criador e, assim, estabelecer esta comunhão tão necessária à própria existência humana.

– Portanto, desde a própria criação do homem, já temos a realidade da lei, dos preceitos e regras estabelecidos pelo Senhor, na Sua condição de Soberano, para que houvesse um relacionamento entre Deus e o homem, um relacionamento entre o Criador e a sua criatura que quis Deus que fosse a “coroa da criação terrena” (Sl.8:5).

– Isto é importante porque, ao contrário do que pensam alguns, Deus não apresentou “leis” aos homens apenas quando Se manifestou ao povo de Israel no monte Sinai, mas, sim, estas “leis” foram prescritas pelo Senhor desde o instante mesmo da criação de todas as coisas e, mais amiúde, no aspecto da moral e da ética, quando criou o ser humano.

Assim, ao observamos os dois primeiros capítulos do livro do Gênesis, podemos observar ali sete princípios éticos, sete “colunas” de toda a convivência humana sobre a face da Terra, a saber:

  1. a) princípio do domínio sobre o restante da criação na terra ou princípio da dignidade da pessoa humana

 – Assim que Deus anunciou a criação do homem, afirmou que ele dominaria sobre todos os demais seres criados na face da Terra (Gn.1:26). Portanto, o homem tem o poder de dominar sobre a criação, poder este, naturalmente, que não é absoluto, mas uma mordomia que o Senhor lhe concedeu.

Em sendo assim, nenhuma conduta do homem pode ser tomada sem levar em consideração que o homem é o valor supremo que existe na face da Terra. O homem é o fim último de toda a ordem estabelecida neste planeta. Nenhum outro interesse ou objetivo pode suplantar o do atendimento às necessidade do ser humano. Este propósito divino foi reiterado pelo Senhor, como confirmação ou explicitação de que decorria de um exercício de Seu poder, em Gn.1:28. A natureza estará sempre a serviço do homem e com o fim de prover-lhe o sustento (Gn.1:29,30).

  1. b) princípio da sexualidade – Ao criar o homem, a Bíblia afirma-nos que Deus criou-os “macho e fêmea”(Gn.1:27). Portanto, ao contrário dos anjos, os seres humanos são sexuados, têm distinção de gênero, são macho e fêmea. Portanto, o sexo e tudo o que está a ele relacionado é algo próprio, natural ao homem, desde que haja a necessária distinção. Embora os homens sejam iguais, existe esta distinção de sexo, que deve ser levada em conta e observada na conduta dos homens. Aqui, também, houve a reiteração confirmatória do Senhor em Gn.1:28.
  2. c) princípio da igualdade – Embora Deus tenha distinguido o homem como macho e fêmea, é importante verificar que Deus não cria distinção de importância entre um e outro. Pelo contrário, diz que criou a ambos e que ambos são imagem e semelhança Sua. Portanto, Deus não é machista nem feminista e afirma que para Ele todos os homens são iguais. A prevalência do homem sobre a mulher será consequência do pecado de nossos primeiros pais (Gn.3:16), uma penalização, não um princípio instituído pelo Senhor na ordenação ética da humanidade
  3. d) princípio do trabalho – Depois de ter criado o homem, posteriormente Deus colocou-o no jardim do Éden, com a tarefa de guardá-lo e lavrá-lo (Gn.2:15). Ou seja, o homem não foi feito para o ócio, mas, sim, para o trabalho. O trabalho não é uma pena pelo pecado do homem, como alguns têm dito, mas é a expressão de sua dignidade. O homem foi feito para guardar a criação de Deus e para lavrá-la, ou seja, para exercer tanto tarefas intelectuais quanto tarefas físicas. O homem deve sempre trabalhar, pois para isto foi feito.
  4. e) princípio da liberdade – Como já falamos supra, Deus criou o homem com o livre-arbítrio, ou seja, o poder de escolher se aceita, ou não, a soberania divina. Deus estabeleceu ao homem que ele poderia comer livremente de toda a árvore do jardim, menos da árvore da ciência do bem e do mal.

Caso o fizesse, certamente morreria, ou seja, a liberdade tem um contraponto indissociável, a saber: a responsabilidade. O homem é um ser que deverá responder pelos seus atos diante de seu Criador. O princípio da liberdade impõe a responsabilidade. Este é um dos pontos éticos que é mais negligenciado pelo homem sem Deus, que quer ser livre, mas não quer responder pelos seus atos, o que faz a confusão indevida entre liberdade e libertinagem.

  1. f) princípio da sociabilidade – Após ter criado o homem, Deus afirmou que não era bom que o homem estivesse só (Gn.2:18). Isto demonstra que Deus criou o homem como um ser gregário, um ser que tem de viver, necessariamente, em sociedade.

É por isso que, no Seu plano de salvação, preocupar-se-á em levantar primeiro Israel e, depois, a Igreja, pois não se pode servir a Deus solitariamente, ainda que a salvação seja individual. Esta dimensão necessariamente social do ser humano tem de ser levada em conta por qualquer sistema que busque agradar a Deus na disciplina do comportamento humano.

  1. g) princípio da família monogâmica – Por fim, quando Deus criou a mulher, estabeleceu, com toda a clareza, que o homem deveria formar uma família, através do casamento com uma única mulher. A disposição de Gn.2:24 é a regra basilar para a constituição da família, que é a célula-mãe de todo grupo social. A sexualidade estabelece-se e alcança sua plenitude dentro de uma família monogâmica.

– Estes princípios, já delineados quando da própria criação humana, eram constantemente lembrados pelo Senhor que, toda viração do dia, ia ao encontro do homem para, com ele, manter comunhão, ensinando-o como deveria se conduzir no seu dia-a-dia (Gn.3:8).

– Entretanto, o homem pecou, deixando de lado estes princípios éticos, crendo na mentira satânica de que poderia ser igual a Deus, sabendo o bem e o mal, podendo construir sua própria ordem moral e ética (Gn.3:5-7). O resultado de tal comportamento foi a separação entre homem e Deus (Is.59:2), a morte espiritual (Rm.5:12).

– Tal separação, porém, não impediu que Deus mantivesse viva a Sua vontade para com a conduta do homem. Assim, após o pecado, passou a operar na consciência do homem, esta “partícula divina” inserida em nosso espírito, pelo qual os preceitos divinos são lembrados a nós, seja nos acusando, seja nos defendendo (Rm.2:14,15).

– No entanto, diante da consciência, este “tribunal de Deus” em seu interior, os homens resolveram se afastar da presença de Deus, cauterizando suas consciência pela multiplicação do pecado e do maldade, de tal sorte que “…toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente…” (Gn.6:5), levando o

Senhor, dentro de Sua justiça, a exterminar a raça humana da face da Terra com o dilúvio, poupando, porém, Noé e sua família.

– Após o dilúvio, o Senhor, então, de modo um pouco mais explícito, estabeleceu com Noé um pacto, chamado pelos teólogos de “pacto noaico”, em que estabeleceu uma lei a ser observada pela humanidade, lei esta que é chamada pelos rabinos judeus de “os Sete Preceitos dos Descendentes de Noé”, a saber:

praticar equidade; não blasfemar o nome de Deus; não praticar idolatria, imoralidades, assassinatos e roubos e não tirar e comer o membro de um animal estando ele vivo (Cf. MELAMED, Meir Matzliah. Torá: a lei de Moisés, nota 4, Gn.9, p.22):

 “…Nossos mestres ensinam: sete preceitos foram ordenados aos filhos de Noé:

leis sociais, para refrear da blasfêmia, idolatria, adultério, derramamento de sangue, roubo e de comer carne de um animal vivo…” (TALMUDE DA BABILÔNIA. Sanhedrin, 56a. Disponível em: http://www.come- and-hear.com/sanhedrin/sanhedrin_56.html Acesso em 04 nov. 2014) (tradução nossa de texto em inglês).

OBS: “…As Sete Leis de Noah são genericamente:

Avodah zarah – Não cometer idolatria. Shefichat damim – Não assassinar. Gezel – Não roubar. Gilui arayot – Não cometer imoralidades sexuais. Birkat Hashem – Não blasfemar. Ever min ha-chai – Não maltratar aos animais.Dinim – Estabelecer sistemas e leis de honestidade e justiça.…” (Leis de Noé. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Leis_de_No%C3%A9 Acesso em 04 nov. 2014).

– Através desta maior explicitude, o Senhor mostrava a Sua vontade para o homem, esperando que o homem, então, vivendo desta maneira, se aproximasse de Deus e construísse com Ele uma comunhão. No entanto, como resposta a esta proposta divina, o homem quis construir uma comunidade que estabelecia as suas próprias regras, que desafiava o próprio Deus na convivência, iniciativa esta retratada na torre de Babel (Gn.11:1-4).

– O resultado disto foi a destruição daquela comunidade política única da humanidade, através da confusão das línguas, com o espalhar dos homens sobre toda a face da Terra, com a formação das diversas nações que até hoje existem, onde cada qual tinha a sua lei, a sua ordenação ética e moral.

– Deus, então, na Sua progressiva revelação ao homem, começa a criar uma nação, um povo que seria Sua propriedade peculiar dentre os povos, chamando Abrão de Ur dos caldeus (Gn.12:1,2). Começa, então, a formação de uma nação pelo próprio Deus, nação que seria especial diante das demais, visto que seria formada para ser porta-voz do Senhor para toda a humanidade, “reino sacerdotal e povo santo” (Ex.19:6).

II – DEUS FORMA UMA NAÇÃO E LHE DÁ UMA LEI  

– Uma nação exige, basicamente, quatro elementos para se formar, a saber: um povo, uma cultura, um governo e uma terra. Ao longo de quatrocentos e trinta anos (Gl.3:17), o Senhor, desde a chamada de Abrão até o encontro com “os filhos de Israel” no monte Sinai, formou esta nação e propôs que ela fosse Seu “reino sacerdotal e povo santo”, “Sua propriedade peculiar dentre os povos” (Ex.19:5,6).

– Assim, começou abrindo a madre de Sarai, cujo nome mudou para Sara, para que viesse o “filho da promessa”, Isaque. Em seguida, abriu a madre de Rebeca, que, assim, deu à luz tanto a Esaú quanto a Jacó, tendo sido este o escolhido por Deus para prosseguir o cumprimento de Seu plano de formação da nação. Em seguida, fez com que Jacó e seus filhos descessem ao Egito, onde ali se cumpriu a multiplicação dos descendentes de Israel, que saíram do Egito como uma multidão de seiscentos mil homens fora as mulheres e crianças (Ex.12:37).

– Formado o povo, Deus, então, Se incumbiu de moldar uma nova cultura, um novo “modo de viver” para os israelitas. Para tanto, foi necessário que ele fosse tirado do Egito, para onde havia sido mandado para que pudesse se multiplicar. Por isso, o Senhor permitiu que o Egito afligisse Israel, a fim de que os israelitas tivessem o desejo de sair daquela terra.

– Assim que Deus criou este desejo entre os israelitas e mostrou todo o Seu poder diante das pragas, começou a lhes mudar o “modo de viver”, começando pela alteração do calendário (Ex.12:1,2).

– Contudo, depois de ter libertado o povo do cativeiro que vivia no Egito, o Senhor levou o povo até o monte Sinai, onde lhes apresentou uma proposta de ser o Seu povo, a Sua propriedade peculiar dentre os povos, um reino sacerdotal e povo santo (Ex.19:5,6).

– Esta proposta não atingiria, entretanto, o mesmo patamar do relacionamento que havia estabelecido com Abrão, que teve seu nome mudado por Abraão, relacionamento este baseado na justificação pela fé (Gn.15:6; Rm.4), isto porque, ao longo da jornada do Egito até o monte Sinai, o povo de Israel foi testado sete vezes em sua fé, tendo fracassado em todas elas, a saber:

  • na perseguição de Faraó (Ex.14:10-12),
  • nas águas reunidas do Mar Vermelho após a passagem miraculosa (Ex.14:30);
  • nas águas de Mara (Ex.15:23,24);
  • na fome sentida no deserto de Sim (Ex.16:1-3);
  •  na colheita diária do maná (Ex.16:19,20);
  • na proibição da colheita do maná no sábado (Ex.16:22-28) e
  • nas águas de Massá e Meribá (Ex.17:1-7).  

– Diante desta teimosa recusa em obedecer aos preceitos divinos exclusivamente pela fé, deste estado inferior de relacionamento que Israel apresentava em relação ao seu Deus, o Senhor, então, propôs um outro patamar de relacionamento, um patamar que serviria de aio, de educação para que o povo atingisse, no futuro, um pleno relacionamento com o Senhor, a saber, a lei que seria entregue ao povo por meio de Moisés (Gl.3:23,24).

– O Senhor, então, propôs a Israel que aceitasse se tornar o Seu povo, um reino sacerdotal e um povo santo (Ex.19:5,6). Para ser o povo de Deus, é necessário que se esteja disposto a pertencer ao Senhor, ou seja, deixar de ter vontade própria, passar a fazer única e exclusivamente a vontade de Deus, servindo-Lhe durante todo o tempo.

– Para ser o povo de Deus, é preciso tornar-se um “reino sacerdotal”, ou seja, é imperioso que se adote o Senhor como rei, como o único governante, governante perpétuo, que jamais terminará seu mandato, já que é eterno, como também estar disposto a ser sacerdote, ou seja, a fazer diferença entre o sagrado e o profano, de estar sempre pronto a se apresentar diante de Deus, bem como a interceder pelos outros, buscando que os outros sejam propícios ao Senhor.

– Para ser o povo de Deus, é preciso tornar-se um “povo santo”, ou seja, que se esteja disposto a viver separado do pecado, não só distinguindo entre o que é sagrado e profano, mas, também, ficando sempre do lado do que é sagrado, do que é santo, consagrando-se inteiramente ao Senhor.

– Estas três propostas divinas feitas a Israel também são feitas a toda a humanidade, após a vitória de Cristo sobre a morte e o pecado. Jesus também convida o homem hoje a tomar parte do povo de Deus, que é a Igreja.

OBS: “…Já da graça oferecida aos judeus conclui-se com certeza que a lei não havia sido vazia de Cristo, pois Moisés lhes propôs esta finalidade da adoção: que fossem um reino sacerdotal a Deus [Ex 19.6], o que não podiam alcançar, salvo se uma reconciliação se interpusesse, maior e mais excelente que de sangue de animais [Hb 9.12-14].

Ora, a não ser que tão excelente bem lhes proviesse de outra parte que não de si mesmos, que é menos congruente que serem elevados à régia dignidade, e desse modo os filhos de Adão se fazerem participantes da glória de Deus, que de mácula hereditária nascem todos na servidão do pecado?

Também, como pôde vigorar o direito de sacerdócio entre aqueles que, pela sordidez das transgressões, eram abomináveis a Deus, a não ser que fossem consagrados em uma Cabeça Santa? Por isso, com muita propriedade, Pedro converte esse postulados de Moisés, ensinando ter sido exibida em Cristo a plenitude da graça, cujo gosto os judeus haviam provado sob a lei:

 “Vós sois a raça eleita”, diz ele, “o sacerdócio real” [1Pe 2.9]. Ora, a reversão dos termos aponta para isto: terem alcançado mais aqueles a quem Cristo apareceu mediante o evangelho do que seus pais, pois que todos foram dotados da dignidade sacerdotal e real, de sorte que, confiados em seu Mediador, ousem achegar-se livremente à presença de Deus.…”  (CALVINO, João. Institutas ou Tratado da Religião Cristã, v.2, Liv. II, cap. VII, p.113. Disponível em: http://protestantismo.ieadcg.com.br/institutas/joao_calvino_institutas2.pdf Acesso em 18 dez. 2013).

– A Igreja também é propriedade de Deus dentre os povos. Como afirma o apóstolo Paulo, somos de Deus em Jesus Cristo (I Co.1:30), não somos de nós mesmos, porque fomos comprados por bom preço (I Co.6:19,20).

– A Igreja, também, é sacerdócio real (I Pe.2:9), foi feita rei e sacerdote por Cristo para Deus e seu Pai (Ap.1:5,6), sendo chamada para reinar com Cristo para sempre, como também para interceder por todos os homens, levando-lhes a mensagem do Evangelho (Mc.16:15; I Tm.2:1-3).

– A Igreja, por fim, é uma nação santa (I Pe.2:9), que, santificada por Cristo Jesus, é chamada santa e invoca o nome do Senhor Jesus (I Co.1:2), devendo viver em santificação a fim de que possa ver o Senhor naquele dia (Hb.12:14).

– Diz a tradição judaica que o Senhor apresentou esta proposta a Moisés no segundo dia do mês de Sivã, no dia seguinte que Israel chegou ao monte Sinai. “…No primeiro dia do mês de Sivan, chegam os Filhos de Israel ao Monte Sinai.

No dia seguinte, chamou o Eterno ao alto da montanha a Seu profeta, para anunciar que Ele tomaria para Si, como Seu Povo Escolhido, aos Filhos de Israel. O processo do recebimento da Torá iniciou-se, pois, no dia seguinte, o segundo do mês, quando o Todo-Poderoso pronuncia Sua primeira mensagem a Israel, por intermédio de Moisés.

Nesta, Ele menciona Seu Infinito amor pelo povo judeu e lhes promete que se ouvissem atentamente a Sua Voz e assumissem a grande responsabilidade de guardar a Sua aliança e aceitar a Sua Lei, seriam para Ele, “o tesouro de todos os povos, …um reino de sacerdotes e um povo santo”.…” (SHAVOUT: a entrega da Torá. Revista Morashá, edição 49, jun. 2005. Disponível em:  http://www.morasha.com.br/ Acesso em 17 dez. 2013).

– Moisés desceu do monte e apresentou a proposta aos anciãos de Israel. O povo, então, respondeu a uma só voz que fariam aquilo que o Senhor havia falado (Ex.19:8). “…Moisés então retorna a D’us, no terceiro dia do mês.

E ouve do Todo-Poderoso a promessa que lhe fizera quando por primeira vez Se fizera ver diante dele, de que Se revelaria a todos os judeus [Ex.3:12, observação nossa]. D’us falaria a Moisés em meio a uma espessa nuvem, de tal forma que todo o povo pudesse ouvir Sua Voz para que, assim, soubessem todos que ele, Moisés, era profeta verdadeiro.

Só assim poder-se-ia ter a garantia de que todas as futuras gerações aceitariam a origem Divina da Torá e a incontestabilidade dos ensinamentos de Moisés. De modo a estabelecer a Torá como a Palavra – eterna e imutável – de D’us, a Revelação no Sinai se fez diante de todos.…” (SHAVUOT: a entrega da Torá. end.cit.).

– O povo aceitou a proposta divina e, por causa disso, tornar-se-ia o povo de Deus, a “propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos”. Israel passava, assim, não somente a ser uma nação, mas a ser a nação sacerdotal de Deus entre os homens, ou seja, o povo pelo qual Deus Se manifestaria a toda a humanidade.

– O Senhor prosseguia, então, o seu processo de formação do povo de Israel. Após ter multiplicado o povo, criando uma população, bem como ter iniciado a formação de uma cultura própria, também estava instituindo um governo, pois daria leis ao povo, não só as leis fundamentais do relacionamento com Ele, que seriam os “dez mandamentos”, como também as próprias leis de convivência entre os homens, as “leis civis”, sem falar nas “leis religiosas” concernentes a todo o cerimonial de sacrifícios e a própria construção do tabernáculo, tudo seria dado ali no monte Sinai, onde o povo ficaria por um espaço de dez meses e vinte dias (Nm.10:11).

– Diz a tradição judaica que, no Sinai, o povo de Israel alcançou a verdadeira estatura de nação, pois, embora tivesse sido liberta do Egito, não tinha alcançado ainda a libertação espiritual, o que se deu apenas quando teve um encontro pessoal com o Senhor no monte Sinai. Na verdade, somente alcançamos a verdadeira liberdade quando temos um encontro com o Senhor, pois somente quem conhece a verdade, que é Cristo, pode ser verdadeiramente liberto (Jo.8:32-36).

– O verdadeiro encontro com o Senhor é o que nos concede a libertação. Por isso, somente se pode confessar publicamente que somos salvos, o que ocorre no batismo nas águas, quando há evidências de que ocorreu este encontro, ou seja, quando nos libertamos dos vícios e de tudo quanto praticávamos quando ainda estávamos no mundo e no pecado.

Daí a exigência de que haja um verdadeiro testemunho cristão antes que alguém possa descer às águas do batismo, ensino com pleno respaldo bíblico que, infelizmente, não tem sido observado por muitos em nossos dias…

– Moisés, então, retornou até o monte para dar a resposta do povo a Deus, ocasião em que o Senhor lhe disse que, então, viria numa nuvem espessa, a fim de que o povo ouvisse quando o Senhor falasse com Moisés e para que cressem nas palavras que Moisés fosse dizer ao povo (Ex.19:9).

– O Senhor mostra, então, que o relacionamento que passaria a existir entre Ele e Israel não era o mesmo tipo de relacionamento que tinha existido entre ele e os patriarcas. Por primeiro, o Senhor não falaria diretamente ao povo, conquanto o povo fosse ouvir o que seria dito. Bem diferente do que se passou com Abraão, que exultou ao ver o dia da redenção da humanidade em Cristo Jesus (Jo.8:56).

– Haveria uma mediação, através de Moisés, que havia sido escolhido para ser o legislador, ao contrário do que se passara com os patriarcas, que tinham acesso direto ao Senhor, que lhes falava diretamente (Gn.12:1- 3; 26:2-5; 28:13-15).

– Deus falaria a partir de uma nuvem espessa, ou, como diz a Bíblia de Jerusalém, “na escuridão de uma nuvem”, a demonstrar, portanto, que o pacto a ser selado indicava apenas “sombras” (Hb.10:1), não a verdadeira luz, algo que somente viria com o Senhor Jesus (Jo.1:4; 8:12; 9:5), a posteridade de Abraão (Gl.3:16).

– Mesmo sendo um pacto inferior ao dos patriarcas, não deixava de ser um encontro com Deus e, por isso, o Senhor mandou que o povo deveria se santificar durante dois dias e, no terceiro dia, deveriam estar prontos, pois o Senhor desceria diante dos olhos de todo o povo sobre o monte Sinai (Ex.19:10,11).

Como se estava no terceiro dia de Sivã, a descida de Deus no monte se deu, então, no dia seis de Sivã, que é o dia em que os israelitas celebram a festa de Shavuot, ou festa das semanas, ou, ainda, a festa de Pentecostes, ou seja, exatamente cinquenta dias depois da Páscoa (os 44 dias de peregrinação até o Sinai mais estes seis dias do terceiro mês, perfazendo, então, 50 dias).

– A exigência da santificação para o encontro com Deus é mais uma demonstração de que não podemos nos apresentar diante de Deus senão em santidade. O apóstolo Paulo diz que devemos apresentar nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o nosso culto racional, não nos conformando com este mundo, mas nos transformando pela renovação do nosso entendimento para que experimentemos qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm.12:1,2).

– Quando nos reunimos para cultuar ao Senhor, devemos estar em santidade. É por este motivo que é costume salutar que se chegue ao templo pelo menos uma meia hora antes do início da reunião para que nos dediquemos à oração, obtendo, assim, do Senhor o perdão dos nossos pecados e um espírito voluntário a fim de que possamos adorá-l’O convenientemente.

Para receber a lei, uma dispensação inferior à nossa, o povo teve de se santificar. Como podemos querer nos apresentar diante de Deus de qualquer maneira? Pensemos nisto, amados irmãos!

– Nesta santificação, o povo, também, lavou os seus vestidos (Ex.19:10,14). As vestes dos israelitas tinham de estar limpas, afinal de contas, eles seriam constituídos como sacerdotes naquele encontro. O sacerdote sempre tem que estar com as suas vestes santas (Ex.28:2-4; 31:10; 35:19), que outras não são senão as vestes da salvação (Is.61:10), vestes lavadas no sangue do Cordeiro (Ap.7:14), vestes que nos permitirão entrar na cidade celestial pelas portas (Ap.22:14), vestes que representam as justiças dos santos (Ap.19:8). Como estão as nossas vestes?

– É interessante observar que Deus disse que iria “descer diante dos olhos de todo o povo sobre o monte de Sinai”. O Senhor, com esta expressão, queria mostrar que Ele não habitava no monte, mas, sim, nos céus dos céus, mas que queria Se fazer próximo do povo.

É por isso que o próprio Moisés, quando repetia a lei, fez questão de afirmar que os mandamentos não estavam distantes do povo, de modo que eles não pudessem cumpri-los (Dt.30:11-14). Deus quis Se aproximar do povo, para que houvesse um relacionamento íntimo, ou, na expressão hebraica, um verdadeiro “conhecimento” entre Deus e o Seu povo.

Como afirmou o pai da Igreja Efrém da Síria (306-373): “…Deus, sobre o monte Sinai, rebaixou Sua Palavra até falar das coisas da terra e uma multidão inumerável ficou tomada de pavor…” (Confissões, Liv.2, n.12. citação de Ex.20:22-26. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm  Acesso em 17 dez. 2013) (tradução nossa de texto em francês). OBS: Eis o comentário de Rashi a respeito desta expressão “descer”: “…Você poderia pensar que Ele realmente desceu na montanha.

Para contraria esta noção a Torá diz: ‘Vocês viram que dos céus falei a vocês’ (Ex.20:19). Isto nos ensina que Ele dobrou os céus superiores e os inferiores e os estendeu na montanha como um lençol em uma casa, e o Trono de Glória desceu sobre eles.” (CHUMASH: o livro de Êxodo, p.135).

O comentarista Ibn Ezra(1092/3-1167), por sua vez, assim se expressou: “O ser humano só pode descrever com precisão o homem. Porém, ao descrever criaturas abaixo dele ou forças mais elevadas que ele, ele é forçado a empregar metáfora da experiência humana. Claramente, quando o versículo conta que D’us ‘desceu’ no Monte Sinai, é simplesmente uma metáfora para ajudar o leitor entender tanto quanto a mente mortal é capaz de compreender” (ibid.).

– Em mais uma evidência de que o pacto a ser selado entre Deus e Israel era num patamar inferior ao dos patriarcas, o Senhor, ainda, determinou que fossem fixados limites ao redor do monte Sinai, limites estes que o povo não poderia suplantar (Ex.19:12).

O povo ficaria ao pé do monte, não podendo ultrapassar o limite a ser fixado, sob pena de morte. Somente quando fosse tocada longamente a buzina, poderia o povo subir ao monte (Ex.19:13).

OBS: “…O Senhor Deus, nesta ocasião, veio tão perto do homem quanto era possível — sim, Ele veio mais perto que o homem poderia suportar. Até que um mediador fosse encontrado, a aproximação de Deus não trouxe ao homem senão terror.

 Embora não houvesse qualquer grande apreensão de culpa naquela vez — pois eles estavam ouvindo a lei pela primeira vez —mesmo assim o povo se moveu e se retirou, clamando: ‘se continuarmos a ouvir a voz de Deus, morreremos’…” (SPURGEON, Charles. O mediador  – o intérprete. Sermão pregado na manhã de 28 jul. 1889. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols34-36/chs2097.pdf , p.1. Acesso em 18 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).

Como bem salientou o pastor Aldery Nelson Rocha em ensino que deu na reunião de obreiros da Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Belém – sede – São Paulo/SP em 2 de dezembro de 2013, o monte Sinai foi transformado no tabernáculo de Deus, cujo modelo seria posteriormente dado a Moisés no próprio monte (Ex.25:9).

Pela determinação divina, tínhamos o átrio ou pátio, onde estava todo o povo até o limite fixado por Deus ao redor do monte; o próprio monte, para onde subiriam os israelitas após o toque da buzina, que correspondia ao lugar santo, ao lugar dos sacerdotes e, por fim, o cume do monte, onde estaria Deus, numa nuvem espessa, que corresponderia ao lugar santíssimo ou santo dos santos.

– No terceiro dia, ao amanhecer, houve trovões e relâmpagos sobre o monte, uma espessa nuvem e um sonido de buzina muito forte, de maneira que estremeceu todo o povo que estava no arraial (Ex.19:16). Moisés, então, levou o povo para fora do arraial, ao encontro de Deus, tendo todos se posto de pé diante do monte (Ex.19:17).

OBS: “… A lei não foi dada com doces sons de harpas, nem com sons de anjos, mas com uma voz horrenda no meio de um terrível incêndio. A lei não é condenatória nela mesma. Pois, se se poderia haver alguma vida por alguma lei, seria por esta lei — mas, por causa da pecaminosidade do homem, a lei opera a ira. E para indicar isto, ela foi publicada com acompanhamento de medo e morte – os batalhões do Onipotente tomaram posição para combate na cena.

A artilharia temível de Deus, com salvas medonhas, acrescentando ênfase a toda sílaba…” (SPURGEON, Charles. O mediador – o intérprete. Sermão pregado na manhã de 28 jul. 1889. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols34-36/chs2097.pdf, p.1 Acesso em 18 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).

– O monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo. O monte tremia grandemente e Moisés falava com o Senhor e o Senhor lhe respondia em voz alta, de modo que o povo escutava a voz do Senhor. O Senhor, uma vez mais, mandou que o povo observasse o limite fixado ao redor do monte e chamou Moisés para o cume do monte.

OBS: “…Paulo descreve o objetivo espiritual da lei nas palavras ‘por causa das transgressões’, i.e., para revelar para uma pessoa o seu pecado, cegueira, miséria, sua ignorância, ódio, contenda contra Deus, sua morte, o inferno e a condenação.

Este é o principal objetivo da lei e sua mais valiosa contribuição. Contanto que uma pessoa não seja um assassino, um adúltero, um ladrão, ele jurará que é um justo. Como Deus humilhará esta pessoa a não ser pela lei? A lei é um martelo da morte, um trovão do inferno e o relâmpago da ira de Deus para abaixar o orgulho e a falta de vergonha dos hipócritas.

Quando a lei foi instituída no monte Sinai, ela foi acompanhada  de relâmpagos, trovões, sons de buzinas, para fazer em pedaços o monstro chamado autojustiça. Assim que a pessoa pense que é justa, ela se tornará incompreensivelmente orgulhosa e presunçosa. Ela vai odiar Deus, desprezar Sua graça e misericórdia e ignorar as promessas de Cristo. O Evangelho do perdão gratuito dos pecados por meio de Cristo jamais atrairá o que se autojustifica. Este monstro da autojustiça, esta besta de dura cerviz, precisa de um grande machado. E é isto que a lei é, um grande machado. Portanto, o próprio uso e a função da lei é ameaçar até a consciência mais endurecida. O espetáculo horrendo no monte Sinai retrata o uso próprio da lei, Quando os filhos de Israel saíram do Egito um sentimento de santidade peculiar os possuiu. Eles se vangloriaram: ‘Somos o povo de Deus. Tudo o que Senhor tem falado, faremos’ (Ex.19:8). Este sentimento de santidade aumento quando Moisés os ordenou a lavar suas vestes, abster-se de suas mulheres e se prepararem todos ao redor do monte. O terceiro dia veio e Moisés levou o povo para fora de suas tendas até o pé do monte na presença de Deus. O que aconteceu? Quando  os filhos de Israel viram toda a montanha queimando e fumegando, as nuvens negras e os relâmpagos na escuridão como que suja de tinta, quando ouviram os sonidos de buzina cada vez mais altos e longos, abalados pelo barulho dos trovões, ficaram tão atemorizados que pediram a Moisés: ‘Fala conosco e nós ouviremos, mas não

1º Trimestre de 2015 – OS DEZ MANDAMENTOS – Valores divinos para uma sociedade em constante mudança

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deixe Deus falar conosco, senão morreremos’ (Ex.20:19). Eu lhes pergunto: que bem fez sua lavagem, suas roupas cor de neve e sua continência para eles? Nenhum. Nenhum pôde ficar na presença do Senhor glorioso. Chocados pelo terror de Deus, voltaram para suas tendas, como se o diabo estivesse atrás deles…” (LUTERO, Martinho. Comentário de Gálatas. Gl. 3:19. Disponível em: http://www.ewordtoday.com/comments/galatians/luther/galatians3.htm Acesso em 18 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).

– Uma vez no monte, Moisés foi orientado a descer e depois a subir apenas com Arão, devendo todo o restante do povo se manter dentro dos limites fixados, prova de que o pacto a ser selado não envolveria a plenitude da promessa que havia sido dada a Abraão (Ex.19:20-25).

– Moisés desceu do monte e deu estas recomendações ao povo e, em seguida, o Senhor, então, lhes falou as “dez palavras”, o “Decálogo”, que ficaram conhecidas como “os dez mandamentos”. Na verdade, Deus disse que falaria com o povo a partir da nuvem espessa, uma fala direta, daí porque ser mais adequado usar o termo bíblico, que são “as palavras”, que se encontram registradas em Ex.20.

– Não deixam, à evidência, estas palavras de serem mandamentos, mandamentos estes que são o núcleo de toda a lei, já que revelam a base do caráter divino e do que Israel deveria fazer para que fosse povo de Deus, reino sacerdotal e povo santo.

– A mensagem recebida veio diretamente de Deus e isto nos mostra que tudo quanto ali se disse não só se trata de um pacto entre Deus e Israel, mas também nos revela o caráter de Deus e o que o que fazem aqueles que são santos, que têm comunhão com Deus.

– Isto fica bem claro no início das palavras divinas, quando o Senhor Se identifica ao povo de Israel, dizendo: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Ex.20:2). Nesta apresentação, Deus Se revela como um Ser pessoal, disposto a ter um relacionamento com cada um dos israelitas. “…perguntam nossos Sábios: não teria sido mais apropriado se D’us tivesse identificado a Si próprio como o Criador e Sustentáculo deste mundo?

 “Não”, respondem os mestres chassídicos [mestres de um movimento espiritual israelita surgido a partir do século XVIII, que trouxe uma “renovação espiritual” no judaísmo – observação nossa]. No Sinai, D’us não Se dirigiu a nós como o Autor da natureza, mas como o Executor de um milagroso Êxodo. No Primeiro Mandamento, no qual D’us nos diz ser Ele nosso Senhor, Ele Se dirige ao povo judeu na primeira pessoa. Isto significa que está falando a cada um dos judeus, em cada uma das gerações, individualmente.

O fato de ser o Criador e Mestre do Universo é de menor importância do que o fato de ser Ele um D’us pessoal, individualmente envolvido nos mais ínfimos assuntos de cada um de Seus filhos.…” (SHAVUOT: a entrega da Torá. end.cit.).

– Neste aspecto, os dez mandamentos são, sem dúvida alguma, um norte a ser seguido em termos de conduta para a Igreja, que é o atual povo de Deus, porquanto, como bem afirmou o apóstolo Paulo: “a lei é santa e o mandamento, santo, justo e bem” (Rm.7:12).

Enquanto norma de conduta, a lei é a própria revelação de Deus ao Seu povo, de forma que deve ser observada enquanto tal. O que a lei não é, porém, é critério de salvação, porquanto, já na sua revelação ao povo, vemos, com absoluta clareza, que é algo limitado e que demandava algo superior para estabelecer uma plenitude de relacionamento entre Deus e o homem.

OBS: Por sua biblicidade, reproduzimos aqui o Catecismo da Igreja Romana: “A Aliança e o diálogo entre Deus e o homem são ainda comprovados pelo fato de todas as obrigações serem enunciadas em primeira pessoa (“Eu sou o Senhor…”) e dirigidas a um outro sujeito (“tu…”).

Em todos os mandamentos de Deus, é um pronome pessoal singular que designa o destinatário. Ao mesmo tempo que a todo o povo, Deus faz conhecer a sua vontade a cada um em particular: «O Senhor prescreveu o amor para com Deus e ensinou a justiça para com o próximo, para que o homem não fosse nem injusto nem indigno de Deus.

Assim, através do Decálogo, Deus preparava o homem para se tornar seu amigo e ter um só coração com o seu próximo […]. As palavras do Decálogo continuam a ser para nós [cristãos] o que eram; longe de serem abolidas, elas receberam amplificação e desenvolvimento, com o fato da vinda do Senhor na carne» (IRINEU de Lião. Adversus haereses, 4, 16, 3-4)” (§ 2063 CIC).

– Tanto assim é que o Senhor Jesus, no sermão do monte, vai dar o verdadeiro alcance, o verdadeiro sentido da lei, porquanto só n’Ele, que foi o único a cumprir a lei (Mt.5:17,18), podemos, realmente, alcançar a justificação capaz de nos fazer efetivamente livres da condenação (Rm.8:1), algo que a lei não consegue realizar, pois, pela lei, ninguém é justificado, ninguém alcança a salvação (Gl.3:11-14; Tg.2:8-13).

OBS: Como afirma o ex-chefe da Igreja Romana, Papa Emérito Bento XVI, que, por sua biblicidade, aqui reproduzimos: “… Jesus senta-Se na ‘cátedra’ de Moisés, mas não como os mestres que para tal se formaram na escola; Ele Se senta lá como Aquele que é maior do que Moisés, que estende a aliança a todos os povos. Assim se torna claro também o significado da montanha.

O evangelista não nos diz de que colina da Galileia se trata. Isto porque o lugar da pregação de Jesus é simplesmente ‘o monte’, o novo Sinai. ‘O monte’ é o lugar da oração de Jesus, de seu face a face com o Pai; por isso mesmo é também o lugar do Seu ensinamento, o qual brota deste íntimo colóquio com o Pai. ‘O monte’ é assim por si mesmo também identificado com o novo, o definitivo Sinai…” (Jesus de Nazaré – primeira parte: do batismo no Jordão até a transfiguração. Trad. de José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, p.73).

– Os “dez mandamentos” são destinados a Israel, fazem parte do pacto estabelecido entre Deus e Israel (Ex.19:7-25). Deste modo, não temos, como igreja de Deus, de nos atermos aos dez mandamentos, nem de observá-los por causa do pacto estabelecido entre Deus e Israel, pois a lei não vigora sobre a igreja (Gl.4:21- 31).

OBS: “…No que, porém, diz respeito aos Dez Mandamentos, deve-se sustentar, de igual modo, a postulação de Paulo: “Cristo é o fim da lei para salvação de todo o que crê” [Rm 10.4]; e outra: “Cristo é o Espírito que vivifica a letra, em si mortífera” [2Co 3.6, 17].

Ora, na primeira destas postulações significa certamente que em vão é ensinada a justiça pelos mandamentos até que Cristo a confira, tanto por graciosa imputação, quanto pelo Espírito de regeneração.

 Pelo que, com justiça, Paulo chama a Cristo o cumprimento ou fim da lei, porquanto de nada valeria sabermos o que Deus exige de nós, se aos que se esforçam e estão oprimidos sob seu jugo e fardo intolerável Cristo não os socorresse.…” (CALVINO, João. Institutas ou Tratado da Religião Cristã, v.2, Liv.II, cap. VII, p.114. Disponível em: http://protestantismo.ieadcg.com.br/institutas/joao_calvino_institutas2.pdf Acesso em 18 dez. 2013).

– Entretanto, os dez mandamentos foram dados por Deus e, portanto, são Suas palavras, são a expressão de Sua vontade e de Seu caráter. Desta forma, os princípios éticos constantes daquela revelação são perenes e imutáveis, pois Deus não muda nem n’Ele há sombra de variação (Tg.1:17; Nm.23:19).

Sendo assim, a ética dos dez mandamentos é, verdadeiramente, a ética divina e, portanto, deve ser o comportamento que se aguarda do homem que se diz servo do Senhor. OBS: “…O encontro entre Deus e Moisés neste Monte conserva no coração da nossa religião o mistério da obediência que nos torna livres, que encontra o seu cumprimento na obediência perfeita de Cristo na Encarnação e na Cruz (cf. Fl 2, 8; Hb 5, 8-9). Também nós seremos verdadeiramente livres se aprendermos a obedecer como fez Jesus (cf. Hb 5, 8).

Os Dez Mandamentos não são a imposição arbitrária de um Senhor tirânico. Eles foram escritos na pedra, mas antes de tudo foram impressos no coração do homem como Lei moral universal, válida em todos os tempos e lugares.

Hoje como sempre, as Dez Palavras da lei fornecem a única base autêntica para a vida dos indivíduos, das sociedades e nações; hoje como sempre, elas são o único futuro da família humana. Salvam o homem da força destruidora do egoísmo, do ódio e da mentira.

 Evidenciam todas os falsos bens que o arrastam para a escravidão: o amor de si mesmo até à exclusão de Deus, a avidez do poder e do prazer que subverte a ordem da justiça e degrada a nossa dignidade humana e a do nosso próximo. Se nos afastarmos desses falsos ídolos e seguirmos a Deus que torna livre o seu povo e permanece com ele, então emergiremos como Moisés, depois de quarenta dias na montanha, “resplandecentes de glória” (São Gregório de Nissa, Vida de Moisés, II, 230), abrasados pela luz de Deus!

Observar os Mandamentos significa ser fiéis a Deus, mas significa também ser fiéis a nós mesmos, à nossa autêntica natureza e às nossas mais profundas aspirações. O vento que ainda hoje sopra do Sinai recorda-nos que Deus deseja ser honrado nas suas criaturas e no crescimento delas: Gloria Dei, homo vivens.

Neste sentido, aquele vento traz um convite insistente ao diálogo entre os seguidores das grandes religiões monoteístas, no seu serviço à família humana. Sugere que em Deus podemos encontrar o ponto do nosso encontro: em Deus, o Omnipotente e Misericordioso, Criador do universo e Senhor da História, que no final da nossa existência terrena nos julgará com justiça perfeita…. No Monte da Transfiguração, Deus fala de uma nuvem, como fez no Sinai. Contudo, agora Ele diz: “Este é o Meu Filho muito amado: Escutai-O!” (Mc 9, 7).

Ordena-nos que escutemos o Seu Filho, porque “ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho O quiser revelar” (Mt 11, 27). Desse modo, aprendemos que o verdadeiro nome de Deus é PAI! O nome que supera todos os outros nomes: ABBÁ! (cf. Gl 4, 6).

 Em Jesus aprendemos que o nosso verdadeiro nome é FILHO, FILHA! Aprendemos que o Deus do Êxodo e da Aliança torna livre o seu Povo porque é constituído de filhos e filhas, criados não para a escravidão, mas para “a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8, 21).Por isso, quando São Paulo escreve que nós, “mediante o corpo de Cristo, morremos para a lei” (Rm 7, 4), não deseja dizer que a Lei do Senhor tenha passado. Quer significar que os Dez Mandamentos agora se fazem ouvir através da voz do Filho predilecto.

 A pessoa que se tornou livre mediante Jesus Cristo é consciente de estar ligada não exteriormente por uma multidão de prescrições, mas interiormente pelo amor que se arraigou de modo profundo no seu coração. Os Dez Mandamentos são a lei da liberdade: não a liberdade de seguir as nossas paixões cegas, mas a liberdade de amar, de escolher aquilo que é bom em qualquer situação, mesmo quando fazê-lo seja um peso.

 Não obedecemos a uma lei impessoal; aquilo que se pede é que nos sujeitemos com amor ao Pai mediante Jesus Cristo, no Espírito Santo (cf. Rm 6, 14; Gl 5, 18). Ao revelar-se a Si mesmo no Monte e tendo entregue a sua Lei, Deus revelou o homem ao homem. O Sinai está no centro da verdade sobre o homem e sobre o seu destino…”( JOÃO PAULO II. Homilia após a celebração da Palavra junto ao Mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai em 26 de fevereiro de 2000. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/travels/documents/hf_jp- ii_hom_20000226_sinai_po.html Acesso em  17 dez. 2013).

– Foi neste sentido que Jesus, ao pronunciar o sermão do monte (Mt.5-7), expôs a Sua doutrina e, de forma admirável, reafirmou a ética estabelecida no monte Sinai, não só confirmando o teor dos dez mandamentos, como, dentro da progressiva revelação de Deus aos homens, que encontrava ali, em Cristo, seu máximo esplendor, sua plenitude (Hb.1:1-3; Jo.14:8,9), deu-nos a verdadeira noção da profundidade e do alcance das normas éticas exigidas por Deus ao homem. Por isso Jesus pôde dizer que veio não para abrogar a lei mas para cumpri-la (Mt.5:17).

 OBS: “…Seria muitíssimo proveitoso que os estudantes da Escritura pudessem compreender que a lei ou vontade de Deus para o homem é inerente à criação e não às alianças. As expectativas do Criador para sua criatura, o homem, estão postas desde Adão.

 Os dois maiores mandamentos (Deuteronômio 6:5; Levítico 19:18; Marcos 12:28-31) não tiveram sua primeira aplicação quando foram incluídos na aliança feita com Israel no Sinai, mas foram nitidamente aplicados ao comportamento do homem para com Deus e os outros, desde a introdução do homem (Gênesis 4:1-12; 6:5,11-13; 18:20; Judas 7).

Um homem não está debaixo da lei de Deus por estar sob uma aliança (nova ou velha). Ele está debaixo da lei de Deus porque é um homem. Pode-se escapar da lei de Deus somente renunciando à raça humana. As renúncias tem sido freqüentemente solicitadas, porém não há evidência de que alguma tenha sido aceita.

O homem, sob a aliança, faz uma promessa de ser fiel a Deus e seus mandamentos e recebe, por sua vez, as promessas e as bênçãos do Senhor, mas seja o que for que ele fizer, não há escapatória da lei divina. Mas por que, se pergunta, num sermão sobre “o evangelho do reino” Jesus exorta seus ouvintes para que cumpram, cuidadosamente, até o menor mandamento da lei de Moisés?

 A resposta é: porque sua assistência era judaica e estava, como Jesus disse, sob a aliança. Qualquer atitude que eles tivessem para com a lei de Deus, conforme expressada na aliança judaica, eles iam trazer para o reino.

A aliança não é tão importante como o princípio da confiança absoluta e obediência a Deus em todas as coisas. Qualquer um, disposto a agir irresponsavelmente com o menor mandamento de Deus, seja qual for a aliança, é indigno do reino do céu.

Uma nova aliança viria, mas o princípio permaneceria o mesmo. Algumas ordenações de Deus são manifestamente maiores do que outras, porque elas assentam mais perto do coração da divina justiça (Marcos 12:28-33; Mateus 23:23), mas nenhum mandamento de Deus é sem imenso significado, uma vez que o sopro do Todo-Poderoso está nele (2 Timóteo 3:16).

Aquele que repreendeu os fariseus por engolirem camelos não os encorajou a deglutirem mosquitos com prazer (Mateus 23:23). Tiago procurou fazer-nos entender que os mandamentos de Deus são indivisíveis, desde que ele está por trás deles todos (Tiago 2:10-11).

Não é o caso de quebrar só um mandamento, pequeno ou grande. É o caso de desafiar a Deus e ser infiel a ele. A obediência não é limitada, por princípio, a sistemas de justificação pela lei (Gálatas 3:10).

É, também, uma expressão de fé (Tiago 2:14-26) e amor (João 14:15,23-24; 1 João 5:3) no sistema do evangelho da graça e da justificação pela fé (Mateus 7:21). Como tal, ela tem aplicação à salvação em cada época (Hebreus 11). O cidadão do reino, como os fiéis de todas as eras, não está procurando justificar a si mesmo por sua zelosa obediência a todos os mandamentos de Deus, mas a retribuir o amor que foi derramado sobre ele tão imerecidamente.

A lei de Deus é uma adaga no coração do arrogante e do que se considera justo, mas para o cristão ela é o padrão da conduta justa à qual, pela graça de Deus, ele aspira (Romanos 12:1-2). Deus pretende, não somente, redimir seu povo, mas transformá-lo também (Romanos 8:29; 2 Coríntios 3:18).”. . . será considerado mínimo no reino dos céus” (Mateus 5:19b).

Muitos comentadores, até os responsáveis, têm procurado retirar a força da advertência de Jesus, sugerindo que aqueles que tratam levianamente os mandamentos menores de Deus não sofrerão perda séria. Admitidos no estádio do céu, eles simplesmente terão de sentar-se nas galerias, em vez de nos camarotes!

Nós dissentimos vigorosamente deste ponto de vista porque (1) o resto do sermão não concorda com ele (Mateus 7:21,24-27) e (2) a expressão “grande” ou “maior no reino” é usada por Jesus, na outras passagens em Mateus, para se referir a cada cidadão no reino (Mateus 18:1-4; 20:26-28), não admitindo nenhum lugar para “o menor.”

Cuidado com aqueles mestres que pensam que sabem quais dos mandamentos de Deus são importantes e quais não são!…” (EARNHART, Paul. O sermão da montanha: extraindo os tesouros das Escrituras, exposições práticas. Disponível em: http://www.estudosdabiblia.net/e2_1.htm#9  Acesso em 17 dez. 2013).

– A ética constante dos “dez mandamentos” é o próprio caráter divino que Deus quer que seja assumido pelo homem que aceita servi-l’O. É a marca genética, hereditária, que assume o filho de Deus, aquele que nascer de novo, da água e do espírito (Jo.3:3,5,8), que for gerado pela Palavra de Deus(I Pe.1:23).

Este novo nascimento, esta geração pela Palavra faz com que o homem passe a ter princípios, valores e ações inteiramente novos (II Co.5:17), de forma que passa a produzir o fruto do Espírito (Gl.5:22), fruto este contra o qual não há lei (Gl.5:23). O cristão, portanto, não cumpre a lei para ser salvo, como defendiam os judaizantes nos tempos apostólicos, hoje representados pelos legalistas e fariseus hodiernos (alguns assumidos e organizados como, v.g., os adventistas do sétimo dia; outros enrustidos e infiltrados em nosso meio, inclusive na liderança) mas, bem ao contrário, por serem salvos, novamente nascidos, gerados pela Palavra produzem um fruto que é plenamente compatível com a ética que Deus revelou, através de Moisés, no monte Sinai e que foi reafirmada, com todo esplendor e profundidade, por Jesus no sermão do monte.

 OBS: ” …03- O Espírito por trás da letra ou da lei de Deus é amor e perdão. Ao longo do tempo pequenas leis foram adicionadas aos mandamentos do Senhor e isso vinha prejudicando o povo de Deus. Entendemos que hoje muitos pregadores e instituições continuam impondo esses adicionais aos mandamentos do Senhor. São regrinhas que vão desde a maneira certa de pentear os cabelos, até à forma de fazer as bainhas das calças dos homens.

 São regras que não falam de amor e perdão mas de usos e costumes.04 – Ao encontrar uma pessoa que é conhecedora da palavra e não exerce essa palavra nós só temos que entender que são fariseus e escribas modernos. A justiça de Deus cairá sobre eles e não há espaço no Reino de Deus para esse tipo de comportamento e pessoa. V. 20 (MOTA, Rev. Ary Sérgio  Abreu. Uma janela para o sermão do monte. http://www.ejesus.com.br/estudos/2000-01/uma_janela_para_o_sermao_do_monte.htm  Acesso em 2002).

III – A PROMULGAÇÃO DA LEI AO PÉ DO SINAI  

– Apesar de Deus ter diretamente proferido a lei ao povo, não deixou de determinar que a lei fosse promulgada, ou seja, oficialmente posta em vigor para o povo, por meio de uma solenidade. Depois de ter recebido o “código da aliança” bem como promessas e instruções, Moisés, que tinha subido ao monte e falado com Deus na nuvem da escuridade (Ex.20:21), desceu do monte, com uma instrução: a de que deveria voltar ao monte na companhia de Arão, Nadabe, Abiú e setenta dos anciãos de Israel (Ex.24:1).

– É oportuno aqui observar que há uma discussão entre os comentaristas bíblicos judeus a respeito de quando ocorreram os fatos descritos no capítulo 24 de Êxodo. Alguns, como Rashi, entendem que os fatos se deram antes da entrega da lei aos israelitas, teriam sido preparações para a outorga da lei, enquanto que outros, como Ramban, entendem que os fatos se deram realmente posteriormente após a entrega da lei.

– Entendemos que a sequência da narrativa do livro de Êxodo encontra-se em ordem cronológica. Moisés havia subido solitário ao monte para que o Senhor, conforme o pedido de Israel, lhe continuasse a falar a lei e, assim, depois, a transmitisse ao povo. Moisés, então, vai ao encontro do povo e o Senhor lhe manda que suba novamente ao Sinai, só que, desta vez, acompanhado de Arão, Nadabe, Abiú e setenta dos anciãos de Israel, devendo eles se postarem de longe, somente Moisés se chegando ao Senhor (Ex.24:1).

– Os anciãos do povo estavam ali para representar todo o Israel e terem um relacionamento inferior em relação a Deus. O fato de só Moisés poder se chegar era resultado da própria escolha do povo, que preferira ter um medianeiro para receber a lei e não recebê-la diretamente de Deus.

– Aqui vemos, claramente, que a dispensação da lei iria trazer um relacionamento cheio de restrições e onde o acesso a Deus era limitadíssimo. Temos, no monte Sinai, o que o pastor Aldery Nelson Rocha denomina de “o tabernáculo natural do Sinai” (Santa Bíblia, Versão Di Nelson, p.172), visto que somente Moisés poderia subir até o cume do monte, que representaria o “lugar santíssimo”; o próprio monte, que seria o “lugar santo” e o pé do monte, onde estava todo o povo, o “pátio”.

– Após a entrega da lei por Deus a Moisés, Moisés informa ao povo tudo quanto o Senhor mandou, ou seja, repete o que havia sido ouvido pelo povo quando das “dez palavras” e lhes instrui a respeito de todo o “código da aliança”, tendo, então, o povo de Israel admitido cumprir tudo quanto o Senhor havia proposto a eles: “…Todas as palavras que o Senhor tem falado, faremos” (Ex.24:3).

– Conclui-se, pois, o pacto entre Deus e Israel, com o povo de Israel aceitando fazer tudo quanto havia sido determinado pelo Senhor, devendo, portanto, receber as bênçãos divinas diante do cumprimento de todas aquelas ações. Era uma aliança, portanto, firmada sobre o que fosse feito pelo povo, uma aliança baseada em obras, consoante a máxima de que já falamos supra.

– Diante da aceitação de todas as leis e estatutos dados por Deus a Moisés, Moisés tudo escreveu e se levantou, de manhã de madrugada, edificou um altar ao pé do monte e doze monumentos, segundo as doze tribos de Israel.

– Como diz o pastor Aldery Nelson Rocha, o Sinai havia se tornado um “tabernáculo natural”, tanto que, ao pé do monte, que correspondia ao “pátio do tabernáculo”, foi erigido um altar, assim como no pátio haveria o altar de sacrifícios ou altar de cobre (Ex.40:6).

– O povo não tinha querido subir o monte, como estava previsto (Ex.19:13) e, portanto, como não havia sido retirado o seu pecado, havia um altar de sacrifícios entre eles e o monte, como a mostrar a necessidade de que alguém viesse e se sacrificasse pelo povo para lhes dar livre e completo acesso ao Senhor, o que seria feito única e exclusivamente pela “posteridade de Abraão”, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

– Além do altar, Moisés edificou doze monumentos, doze estelas, ou seja, pedras erguidas, alçadas, cada uma representando as doze tribos de Israel. O pacto havia sido estabelecido com o povo de Israel, que, diante da aceitação da lei, havia se tornado um reino sacerdotal e povo santo, propriedade peculiar de Deus dentre os povos (Ex.19:5,6).

– Ao reduzir a escrito as palavras que o Senhor lhe dissera, Moisés estava deixando a lei para as próximas gerações de israelitas. Aliás, os comentaristas judeus afirmam que, quando da outorga da lei a Israel, Deus teria pedido uma garantia e a única garantia que foi aceita foram os filhos dos israelitas que estavam assumindo o compromisso da lei, prova de que a lei tinha de ser transmitida às gerações futuras e isto se devia fazer pela escrita, pois, com a escrita, há a possibilidade desta transmissão de forma crível e ilimitada.

– Como prova de que Israel havia sido constituído como “reino sacerdotal”, Moisés mandou que mancebos dos filhos de Israel oferecessem holocaustos e sacrificassem ao Senhor, sacrifícios pacíficos de bezerros (Ex.24:5).

– “…O Targum [comentários das Escrituras escritos pelos doutores da lei, observação nossa] entende que estes jovens eram os primogênitos dos filhos de Israel, que desempenharam as funções ‘sacerdotais’ até a escolha de Arão e seus filhos como sacerdotes oficiais (Cohanim).

De acordo com Nachmânides [o Ramban, observação nossa], a escolha recaiu sobre os jovens (e não sobre os anciãos ou necessariamente os primogênitos0 devido à pureza espiritual dos escolhidos…” (MELAMED, Meir Matzliah. Torá: a lei de Moisés, nota Ex.24:5, p.230).

– Na verdade, todo o povo israelita havia sido constituído como sacerdote e, portanto, o fato de Moisés ter escolhido mancebos de todas as tribos para o oferecimento dos sacrifícios pacíficos, não deveria ser qualquer novidade, pois a nação era um “reino sacerdotal”.

Esta realidade perduraria até o episódio do bezerro de ouro, quando, então, por terem quebrantado os dois primeiros mandamentos, o povo de Israel perderia a sua condição de reino sacerdotal e o sacerdócio ficaria limitado à tribo de Levi, a única que se manteve fiel ao Senhor naquela terrível transgressão (Ex.32:26; Nm.18).

– Os sacrifícios que foram oferecidos eram sacrifícios pacíficos, ou seja, ofertas de gratidão. O povo estava agradecendo a Deus pela dádiva da lei, pela aliança que havia formalizado com Israel, pela sua escolha como propriedade peculiar de Deus dentre os povos.

– Devemos, também, sempre ser gratos a Deus pela nossa escolha para servi-l’O. Foi o Senhor Jesus quem nos escolheu e não nós a Ele (Jo.15:16) e devemos estar sempre conscientes que não merecíamos coisa alguma da parte do Senhor, mas que Ele nos amou e, por ter misericórdia de nós, permitiu-nos ser salvos, poder desfrutar da comunhão com Ele. Devemos ser sempre agradecidos ao Senhor (Cl.3:15).

– Se na lei, um relacionamento inferior, em que a lei teve de ser transmitida por um medianeiro e depois reduzida a escrito, em que o povo se pôs de longe e, mesmo assim, houve agradecimento e gratidão, como podemos, então, não demonstrar uma gratidão ainda maior ao nosso Deus? Paulo foi bem claro ao dizer que a gratidão é resultado de uma vida de comunhão com Deus, onde a paz de Deus domina em nossos corações (e paz, lembremos, é “shalom”, que significa “completude”, “integração”, ou seja, a instauração de uma comunhão entre Deus e nós).

– Temos sido gratos ao Senhor, amados irmãos? Temos expressado esta gratidão através de sacrifícios espirituais agradáveis a Deus? Que seja nossa a oração transformada em cântico do poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão (1903-1982): “Ó meu Senhor, dá-mais gratidão, por tudo que Tu fizeste por mim, por tua graça no meu coração, que me encheu de ventura sem fim! Mais grato a Ti, mais grato a Ti, mais consagrado, ó faz-me, Senhor! Mais humilhado e cheio de amor, faz-me mais grato a Ti, mais grato a Ti!” (primeira estrofe e refrão do hino 370 da Harpa Cristã).

– Após a oferta dos sacrifícios, Moisés tomou a metade do sangue e a pôs em bacias e a outra metade do sangue espargiu sobre o altar (Ex.24:6). Os sacrifícios eram pacíficos, ofertas de gratidão, mas o derramamento de sangue era indispensável para que Deus Se fizesse propício ao povo.

– O pecado não havia sido retirado do povo. Havia algo que separava o povo de Deus, que era, precisamente, o pecado do povo (Is.59:2). Este pecado impedia que o amor pudesse existir plenamente entre Deus e o povo, pois o amor lança fora o medo (I Jo.4:18),  tanto que o povo tinha ficado receoso e não quisera de se aproximar do Senhor, preferindo ficar de longe. Quando ficamos longe do Senhor, não tarda o momento em que viremos a negá-lo (Mc.14:54, 66-72).

– O povo de Israel escolhera ficar no pátio, isto é, ao pé do monte, não quis subir ao monte e quando ficamos neste estágio superficial da vida espiritual, não tarda o instante em que negamos tudo quanto nos comprometemos a fazer com o Senhor.

Foi esta a situação de Pedro, que se manteve no átrio do templo e acabou por negar o seu Senhor. Somente quando chorou amargamente e deixou que o Senhor nele entrasse é que realmente se converteu e se tornou o grande apóstolo, que abriu a porta do Evangelho tanto a judeus (no dia de Pentecostes), quanto a gentios (na casa de Cornélio).

O povo não se aproximara de Deus por causa do pecado e, em virtude disto, para que pudesse haver perdão dos pecados, necessário se fez derramar sangue, sangue de animais que tão somente podiam cobrir os pecados (Sl.32:1). Moisés, então, pegou daquele sangue e, metade dele, derramou sobre o altar, naturalmente o queimando, como prova de que se fazia necessário sacrifício para cobrir o pecado, sem o que, nem o limitado acesso a Deus seria possível.

– A outra metade, Moisés espargiu sobre o povo, dizendo: “Eis o sangue do concerto que o Senhor tem feito convosco sobre todas estas palavras” (Ex.24:8).

– Discute-se se o sangue foi aspergido em todo o povo ou apenas nos anciãos, que representavam o povo. O Targum de Onkelos, um dos principais comentários dos doutores da lei, entende que o sangue foi aspergido no altar em nome dos israelitas, enquanto que Ibn Ezra entende que a aspersão se deu sobre os anciãos, que representavam o povo. O fato é que houve esta aspersão, aspersão esta que o escritos aos hebreus nos explica ser a consagração da aliança firmada no monte Sinai (Hb.9:18), o que denominamos de promulgação da lei.

– Promulgação “…é o instrumento que declara a existência da lei e ordena a sua execução…” (SENADO FEDERAL. Promulgação.In: Glossário. Disponível em: http://www12.senado.gov.br/noticias/glossario-legislativo/promulgacao Acesso em 14 jan. 2014). Através deste ato de aspersão do sangue sobre o povo e de derramamento do sangue no altar, a lei entrava em vigor, passava a valer para o povo de Israel. A aliança que havia sido acordada entre Deus e Israel passava, então, a ter validade, a entrar em execução por ambas as partes.

– Como bem nota o comentarista judeu Rabi Chizkuni, “…é um costume antigo que, quando duas partes fazem uma aliança, elas dividem um animal em partes e passam entre os pedaços — como encontramos na aliança de Abraão com Deus (Gn.15:17)…” (CHUMASH: o livro de Êxodo, p.174). Daí ter sido o sangue dividido em duas metades, como a selar este novo compromisso entre Deus e Israel, um compromisso precário e transitório, que, ante a incapacidade do povo de Israel em crer plenamente em Deus, estaria como servindo interinamente de substituto daquele concerto que havia sido feito entre Deus e Abraão.

– Os animais morreram para que houvesse derramamento de sangue e, sobre este sangue de animais, se construiu a aliança entre Deus e Israel, uma aliança que não permitia o livre acesso a Deus, mas que, pelo menos, garantia ao povo a remissão, o perdão dos seus pecados, ainda que por cobertura do pecado, enquanto eles não pudessem subir ao cume do monte, enquanto eles não pudessem se chegar a Deus.

– Apesar da dureza de seus corações, que levara ao selo de uma aliança inferior à promessa feita a Abraão, Israel poderia se chegar à presença de Deus, ainda que de longe, mediante o derramamento de sangue de animais que cobririam o pecado e lhes levaria a esperança em uma redenção, quando, então, todos os obstáculos seriam removidos, quando, então, um outro medianeiro lhes pudesse levar à presença do Senhor, já que Moisés não o tinha feito, ante a incredulidade do povo.

– O escritor aos hebreus, ainda, diz-nos que, além de ter Moisés aspergido o sangue sobre o povo, também aspergiu o sangue sobre o livro que havia escrito com todos os mandamentos que o Senhor lhe dera no cume do Sinai, mostrando-nos, portanto, que o “antigo testamento”, a “antiga aliança” também havia sido edificada sobre o sangue, ainda que sangue de animais.

– Na própria promulgação da lei, portanto, vemos a sua insuficiência e a circunstância de que ela apontava para um outro concerto, para um outra aliança, que seria superior e que permitiria não medidas paliativas, mas a própria retirada do pecado do mundo e o pleno acesso que se teria a Deus, pelo sangue de Jesus Cristo, que, ao contrário do sangue dos animais, que somente santificava quanto à purificação da carne (Hb.9:13), pôde efetuar uma eterna redenção, purificando as nossas consciências das obras mortas para servirmos ao Deus vivo (Hb.9:11,14).

– Após este ato de promulgação da lei, Moisés, Arão, Nadabe, Abiú e setenta anciãos de Israel subiram o monte, como havia sido determinado pelo Senhor. Deus queria dar mais uma demonstração de que, apesar de o povo ter querido ficar longe do Senhor, o Senhor estava presente no meio do Seu povo.

– A lei era resultado do distanciamento e da incredulidade do povo, mas era um remédio, uma medida paliativa de que Deus Se havia utilizado para manter ainda a “porta aberta” para o povo. A lei não era a aliança preconizada pelo Senhor a Israel, mas era um meio, um aio pelo qual se poderia levar o povo à aliança pretendida, a Cristo (Gl.3:24).

– Assim, Deus queria mostrar a Israel que Ele estava presente, que não abandonaria o Seu povo e que, através da lei, poderiam eles chegar a ter um relacionamento com o Senhor. Por isso, apesar de ser um “degrau abaixo” da promessa de Abraão, a lei foi uma evolução no processo de redenção da humanidade, mais uma etapa da revelação progressiva de Deus e da execução do Seu plano de resgate do ser humano.

– Na relação daqueles que subiram ao monte, notamos que não foram para lá nem Eleazar nem Itamar, os dois filhos de Arão que, afinal de contas, acabaram exercendo efetivamente o sacerdócio, tendo, inclusive, Eleazar se tornado o segundo sumo sacerdote (Lv.10:6; Nm.20:25,26).

Pelo contrário, lá subiram Nadabe e Abiú, que acabaram sendo mortos por terem introduzido fogo estranho no lugar santo (Lv.10:1,2); lá subiram Moisés e Arão, que não entraram na Terra Prometida por causa da desobediência em Meribá (Nm.20:12,13); lá subiram os setenta anciãos, os quais todos morreram no deserto sem entrar na Terra Prometida (Nm.14:21-23) .

De todos os que subiram ao monte, nenhum deles entrou na Terra Prometida. Por quê? Porque a lei não justifica nem salva pessoa alguma (Gl.3:10,11). Lembremos disto, amados irmãos, quando alguém quiser que nós voltemos a cumprir a lei!

– Chegando ao cume do monte, somente Moisés pôde se chegar ao Senhor, tendo os demais ficado de longe (Nm.24:1,2). Ao chegarem ali, todos se inclinaram, tendo visto o Deus de Israel e, debaixo dos Seus pés, havia como uma obra de pedra de safira, como o parecer do céu na sua claridade (Ex.24:10).

– O máximo que estes israelitas conseguiram ver foi o que havia debaixo dos pés do Senhor. Estavam debaixo dos pés do Senhor, a revelar a inferioridade da aliança da lei, que só permitia que se viesse o que estava debaixo dos pés do Senhor.

– Quão diferente foi a experiência tida pelo apóstolo João que, arrebatado em espírito, viu um trono que estava posto no céu e um assentado sobre o trono, que era semelhante à pedra jaspe e sardônica; e o arco celeste estava ao redor do trono, e parecia semelhante à esmeralda (Ap.4:3). João, lavado e remido no sangue de Cristo, teve acesso não ao que havia debaixo dos pés do Senhor, mas ao próprio trono de Deus, podendo, inclusive ver quem lá estava sentado e que um arco celeste estava ao redor do trono.

É este o lugar destinado a todos quantos creem em Cristo Jesus, pois o Senhor Jesus nos prometeu que quem vencer se assentará no Seu trono, assim como Ele venceu e Se assentou no trono de Seu Pai (Ap.3:21). Que diferença entre a lei e a graça! Aleluia!

– Após terem tido esta visão, todos ali comeram e beberam, numa verdadeira demonstração de comunhão entre si e com Deus. A refeição para os israelitas tem um significado sagrado. “…A mesa onde comemos é como um altar para Deus, e a comida que consumimos pode ser considerada um sacrifício. Mais do que comer pelos mesmos motivos que os animais, alimentamos o receptáculo da alma. Por isso, muito mais do que um restaurante, a sala de jantar é como um Templo em miniatura, onde os judeus louvam a Deus não só com as bênçãos apropriadas mas, também, consumindo alimentos e bebidas que nutrem corpo e alma…” (BLECH, Benjamin.O mais completo guia sobre judaísmo, p.276).

– A comida e a bebida no cume do monte Sinai simbolizam a comunhão que havia se estabelecido entre Deus e Israel. Não uma comunhão plena, visto que ali estavam apenas os anciãos e os “chefes” do sacerdócio, por se estar na dispensação da lei, mas, de qualquer maneira, uma comunhão, a participação no sagrado, no que é dedicado a Deus.

– A proposta de Deus era de que houvesse uma perfeita comunhão com todo o povo de Israel. Como diz o apóstolo Paulo, eles, desde que haviam saído do Egito, foram convidados a participar desta comunhão, simbolizada pelo pão que descia do céu, o maná, e as águas que vieram da rocha ferida em Horebe. Pão e água constituíam o “manjar espiritual”, a que tinham direito todos os que haviam sido “batizados em Moisés na nuvem e no mar” (I Co.10:1-4).

– Todavia, somente pode haver uma perfeita, genuína, autêntica e verdadeira comunhão quando as pessoas agradam a Deus, o que somente é possível quando creem em Deus, pois, sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6), confiança esta em Deus que leva à obediência. Israel, no entanto, desagradou a Deus, não creu, na jornada da saída do Egito até o monte Sinai e, por isso mesmo, não puderam participar desta comunhão plena.

– Nós, agora, que pertencemos à Igreja, temos este privilégio, de nos cercarmos da mesa do Senhor, podendo participar da ceia do Senhor, participando tanto do pão quanto do vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (I Co.10:16-18). Podemos, agora, como sacerdotes que somos (Ap.1:6), participar do altar do Senhor, tendo livre acesso a Ele.

– Entretanto, quem participar da mesa do Senhor não pode, também, participar da mesa dos demônios (I Co.10:21), pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação (I Co.11:29).

Aqueles homens que participaram daquela refeição sagrada, símbolo da comunhão com Deus, por terem quebrado a aliança, morreram sem entrar na Terra Prometida: “…se não escaparam aqueles que rejeitaram o que na terra os advertia, muito menos nós, se nos desviarmos daquele que é dos céus” (Hb.12:25). Tomemos cuidado, amados irmãos!

– Após a refeição sagrada, todos desceram do monte, tendo, então, o Senhor mandado que Moisés tornasse a subir, a fim de que lhe fossem dados os dez mandamentos em tábuas de pedra feitas pela mão de Deus, para que o núcleo essencial da lei não ficasse apenas escrito por mão de homens, mas pelo próprio Senhor. Assim como, em um reino, as leis só têm valor quando assinadas pelo rei, também a lei somente estaria solenemente instituída quando viesse assinada pelo próprio rei, o Senhor Deus de Israel.

– Moisés, então, subiu ao monte, como o Senhor mandara, levando consigo a Josué, que ocupava, então, o papel de seu servidor, Josué que ficou no monte, enquanto Moisés subiu até o cume do monte.  OBS: Pode muito bem ser que Josué fosse algum daqueles mancebos que haviam sacrificado ao pé do monte, representando a tribo de Efraim ou de José.

– Antes de subir ao monte, Moisés deixou Arão e Hur encarregados de substituí-lo enquanto estivesse ausente, pois Moisés já pressentia que sua estada no monte seria longa, já que o Senhor lhe dissera que daria todos os mandamentos que deveria ele ensinar ao povo, dentro da sistemática estabelecida na dispensação da lei.

– Moisés subiu ao monte e, por seis dias, aguardou o chamado de Deus do meio da nuvem. A nuvem ficava de constante sobre o monte, como a mostrar a todo o povo que a glória do Senhor habitava sobre o monte Sinai, que, assim, era como que o “lugar santíssimo” do “tabernáculo natural do Sinai”.

– Deus mantinha aparenta a Sua glória para todo o povo, apesar de eles quererem ficar distantes. Deus continuava a sinalizar para o povo que Seu desejo era estar sempre no meio do Seu povo. Aos olhos do povo, a glória de Deus aparecia como um fogo consumidor, enquanto que, para Moisés, havia tão somente uma nuvem.

– A lei, para os que a adotam, é um “fogo consumidor”, pois não há como alcançarmos a salvação por meio dela. Este fogo consumidor, ensina-nos o escritor aos hebreus (Hb.12:25-29), faz-nos lembrar que a lei era transitória, que algo melhor estava por vir, mas, uma vez chegado este algo melhor, que é permanente, não temos para onde fugir.

Se Deus é um fogo consumidor na época da lei, que era transitória, que dirá se não nos fizermos obedientes à aliança eterna estabelecida pelo Senhor Jesus. Que Deus nos ajude, amados irmãos e tenha misericórdia de nós!

– No sétimo dia, Moisés foi chamado por Deus para entrar na nuvem, para desfrutar de uma íntima comunhão com o Senhor e dali, da nuvem, o Senhor lhe deu as instruções para a construção do tabernáculo, a “habitação” de Deus no meio do povo. Deus continuava no Seu propósito de Se fazer presente no meio do povo, ainda que de forma restrita diante da lei que havia sido instituída.

– Nós, se perseverarmos fiéis ao Senhor, também, um dia, entraremos numa nuvem (I Ts.4:17), mas não para lá recebermos instruções a respeito de algo existente no céu que deveria ser replicado na terra, mas, sim, para ingressarmos no santuário celestial, para sempre habitarmos com o Senhor. Estamos preparados para entrar na nuvem? Pensemos nisto!

– A lei estabelece um padrão moral, que, por ter origem em Deus, é perene, imutável, como, aliás, afirma o próprio subtítulo deste trimestre que fala em “valores imutáveis para uma sociedade em constante mudança”. É este padrão que haveremos de estudar na próxima lição.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco 

Site: http://www.portalebd.org.br/files/1T2015_L1_caramuru.pdf

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