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Lição 1 – O Evangelho segundo Lucas

lição 01

    Damos início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical e, desta feita, teremos um trimestre “bíblico”, como denominamos o trimestre em que estudamos um livro da Bíblia Sagrada.

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    A Casa Publicadora das Assembleias de Deus, neste novo currículo, convidanos a estudar, no segundo trimestre de 2015, o Evangelho segundo Lucas, o terceiro evangelho sinótico, ou seja, o terceiro evangelho em que há uma “sinopse”, um resumo da vida e do ministério de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

    É interessante notarmos o que significa a palavra “evangelho”. Esta palavra vem do grego “evangelion” (εύαγγέλιοον), cujo significado é de “boas novas”, “boas notícias”. Como ensina Marcos Calado em sua obra “O Evangelho desfigurado”, “…O termo grego (ΕΎΑΓΓΈΛΙΑ) , cujo significado é notícias de boas novas, tem origem no cenário pagão da antiga Roma. (…)em que “Boas Novas” serviam para o anúncio dos supostos feitos de imperadores que se apresentavam como milagreiros e eram anunciados como figuras messiânicas vindas do Oriente…” (O Evangelho desfigurado. Cópia encaminhada para revisão, pp.7-8).

    Assim, a ideia de “evangelho” era a de notícias que, de alguma forma, representavam a vinda da divindade em prol do ser humano, em seu socorro, em seu auxílio.

    Marcos, aquele que, ainda muito jovem, pôde acompanhar o ministério de Cristo Jesus (Mc.14:51,52) e que foi auxiliar tanto do apóstolo Pedro (II Pe.1:13) quanto do apóstolo Paulo (II Tm.4:11), foi quem denominou a narrativa da vida e ministério de Jesus como sendo “evangelho” (Mc.1:1), denominação que acabou designando todos os outros três livros que se ocuparam deste mesmo objetivo, livros estes escritos por Mateus, Lucas e João.

    A designação dada por Marcos não foi aleatória, mas decorre da própria nomenclatura adotada pelo Senhor Jesus, que disse ser Sua mensagem o “evangelho do reino de Deus”, como vemos em Mt.11:5; 24:14; Mc.1:15; 8:35; 10:29; 13:10; 14:9; 16:15; Lc.4:43; 7:22. Portanto, quando Marcos denominou de “evangelho” a narrativa do ministério de Jesus estava apenas autenticando uma designação que era do próprio Jesus.

    Sem dúvida, a mensagem trazida pelo Senhor Jesus era um “evangelho”, no sentido compreendido então pelo mundo greco-romano, pois se tratava de uma “boa notícia” vinda da parte de Deus para a humanidade, qual seja, a de que chegara o tempo da salvação da humanidade, que se cumprira a promessa messiânica, devendo tão somente o homem se arrepender de seus pecados e crer nesta mensagem para retornar à comunhão com Deus.

    Como diz Marcos Calado: “…Sob o prisma do cristianismo, o termo εύαγγέλια: “notícias de boas novas”, distancia-se consideravelmente da concepção pagã, pois apresenta um sentido sobrenatural que representa muito mais do que ‘notícias de boas novas, assumindo o caráter de εὐαγγέλιον τοῦ θεοῦ, “Evangelho de Deus”.

Por isso, εὐαγγέλιον muito mais do que uma ‘boa notícia’; é comunicação atuante da salvação, um evento que gera a manifestação da fé, produção de Deus, a qual, pelo poder do Espírito Santo, visa à salvação do homem.…” (op.cit., p.8).

    Estas “boas novas” foram reduzidas a escrito, por inspiração do Espírito Santo, em quatro obras, que trazem a “lei do reino de Deus”, que nos indicam como o Senhor Jesus viveu sobre a face da Terra, a fim de que cada homem possa, seguindo o Seu exemplo (I Pe.2:21) e aprendendo d’Ele (Mt.11:28-30), alcançar a salvação mediante a fé n’Ele, pois o Seu mandamento é precisamente o de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou (Jo.15:12).

    Portanto, assim como no Antigo Testamento, a revelação divina se iniciou com a lei (a “Torá”, os cinco primeiros livros de Moisés), o Novo Testamento também se inicia com a “lei do reino de Deus”, a “lei do Messias”, que é a Sua própria vida, narrada pelos quatro evangelistas.

    A existência de quatro evangelhos já era prefigurada na antiga aliança, como vemos no véu do tabernáculo, véu este que possuía quatro componentes: azul, púrpura, carmesim e linho fino, véu este que seria posto sobre quatro colunas de madeira de cetim, cobertas de ouro, cujos colchetes seriam de ouro, sobre quatro bases de prata (Ex.26:31,32).

    Além da figura representada pelo tabernáculo, também vemos na visão dos querubins dada ao profeta Ezequiel, também a prefiguração dos quatro evangelhos, pois cada querubim, ser celestial que está diante do trono e que contempla a glória de Deus, tem quatro rostos, um rosto de homem, um rosto de leão, um rosto de boi e um rosto de águia (Ez.1:6,10).

    O Senhor Jesus, então, seria descrito sob quatro aspectos, para que, através de cada aspecto, pudéssemos d’Ele aprender e seguir as Suas pisadas, tornando a cada um de nós instrumento pelo qual a glória de Deus pudesse ser mostrada a toda a humanidade (Mt.5:16).

    Além do mais, a pluralidade dos relatos narrativos a respeito da vida e ministério de Cristo Jesus teria o condão de confirmar a veracidade da narrativa, pois, como já indicava a lei mosaica, o testemunho de dois ou três é verdadeiro (Dt.17:6; 19:15; Mt.18:16; II Co.13:1; Hb.12:8).

Assim, três dos quatro evangelhos apresentam uma sinopse da vida e do ministério de Cristo Jesus, enquanto que o quarto evangelho, o de João, apresenta sinais e discursos do Cristo que provam ser Ele o Filho de Deus, complementando, assim, com sobra, a veracidade deste ministério, a verdade deste Evangelho.

    Estaremos a estudar um destes evangelhos, o terceiro evangelho sinótico, escrito por Lucas, que não se identifica explicitamente como autor deste evangelho, mas cuja autoria é demonstrada por inferências, como havemos de ver na lição 1.

    O Evangelho segundo Lucas é o mais pormenorizado de todos os evangelhos sinóticos, elaborado segundo o que hoje denominamos de “método científico”, o que não é de admirar, já que Lucas era médico (Cl.4:14) e, portanto, um cientista.

    Lucas é o único escritor gentio de todas as Escrituras Sagradas e sua obra, elaborada em dois volumes (o Evangelho e Atos dos Apóstolos), vem demonstrar, precisamente, o aspecto universal da obra salvífica de Cristo, apresentando o Messias como o “homem perfeito”, como o “Filho do homem”.

Em Lucas, vemos que Jesus é a “semente da mulher” prometida no Éden e que reataria a amizade entre Deus e o homem (Gn.3:15).

    Vemos, assim, que o Evangelho segundo Lucas é o “linho fino” do véu do tabernáculo, o “rosto de homem” de cada querubim, aquele escrito que mostra Jesus como sendo o homem sem pecado, o segundo Adão, que veio ao mundo, sofreu tudo quanto sofre um ser humano, mas que venceu o pecado e a morte e, por isso, pôde morrer em nosso lugar, realizando o sacrifício perfeito que tirou o pecado do mundo.

    Lucas mostra-nos o que Jesus fez, o que Jesus ensinou em seu evangelho (At.1:1) e, depois, mostra como, sob o poder do Espírito Santo, podemos também fazer e ensinar o que Jesus fez e ensinou, como integrantes do corpo de Cristo, como membros da Igreja, no livro de Atos dos Apóstolos.

    Esta realidade é bem demonstrada na capa da revista deste trimestre, que nos traz a coroa de espinhos posta sobre o Senhor quando de Sua paixão e, com a qual, foi crucificado.

    É interessante notar que Lucas é o único evangelista que não registra este fato (a coroa de espinhos é mencionada em Mt.27:29; Mc.15:17 e Jo.19:2,5), algo surpreendente diante da circunstância de que o evangelho do médico amado é, de longe, o mais pormenorizado de todos, o mais preciso, o mais meticuloso.

Por que, então, deixou de registrar este fato da coroa de espinhos e, mais ainda, por que se tem a coroa de espinhos como capa da revista, se ela sequer é mencionada no evangelho segundo Lucas?

    Precisamente, porque “…a coroa de espinhos tem um significado maior do que se pode imaginar. Ela simbolizava o pecado de todos os homens, que Jesus recebeu para cravar na Cruz, pecados cometidos desde o Éden até aquela atualidade. Não foi por acaso que os solados fizeram para Jesus aquela coroa, pois era necessária a sua existência, uma vez que os espinhos têm um símbolo de implantação do pecado na Terra(…). O resultado [do pecado] foi que nasceram na Terra espinhos e abrolhos.Gn.3:18.…” (FONSECA, Davi. Passando pelo Calvário, p.56).

    Lucas não precisou mencionar a coroa de espinhos, pois ela representa o pecado da humanidade posto sobre o homem perfeito, o homem sem pecado. Se Mateus precisou dizer que o Rei Jesus foi coroado de espinhos pelos soldados romanos; se Marcos precisou dizer que o Servo Jesus era o Servo Sofredor profetizado por Isaías e, por isso, teve, entre outros aspectos de Seu sofrimento, a imposição de uma coroa de espinhos;

Se João teve de dizer que o Filho de Deus foi humilhado a ponto de ser sido “coroado” com uma coroa de espinhos, Lucas nada precisou dizer, pois seu evangelho, do início ao fim, mostra aquele homem, aquela “semente da mulher” que teria de trazer a amizade entre Deus e o homem, que haveria de extirpar os espinhos e abrolhos existentes na Terra por causa do pecado.

    A coroa de espinhos é o símbolo da assunção por Jesus do pecado da humanidade, algo que lhe foi imposto, algo que não decorria de seu interior e que exigiu o derramamento do Seu sangue para pagamento do preço de nossos pecados.

    É esta humanidade perfeita que assume o preço da humanidade pecadora que nos mostra a narrativa de Lucas em seu evangelho.

    O trimestre pode ser dividido em quatro blocos. O primeiro, introdutório, que abarca a lição 1, dá-nos uma visão geral a respeito do evangelho segundo Lucas.

    O segundo bloco fala-nos da vida de Cristo antes do início de Seu ministério público, pois Lucas procura mostrar o Senhor como um homem, situando-O na história, dando conta de todo o seu desenvolvimento como ser humano, bloco que abrange as lições 2 e 3, quando estudaremos o nascimento e a infância, adolescência e juventude do Senhor.

    O terceiro bloco abrange as lições 3 a 11,  quando estudaremos o ministério terreno de Jesus, desde a Sua tentação até a “última ceia”.

    Por fim, o quarto bloco, abrange as lições 12 e 13, quando estudaremos o clímax do ministério de Cristo Jesus, com a Sua morte e ressurreição, instantes que representam a consumação da obra salvífica e Sua aceitação pelo Pai.

    O comentarista deste trimestre é o pastor José Gonçalves, presidente das Assembleias de Deus em Água Branca/PI, que já tem comentado, há alguns anos, as lições bíblicas.

    Que, ao término deste trimestre, estudando o homem perfeito Jesus Cristo, possamos melhorar nossas vidas espirituais, a fim de que, aprendendo com Jesus em Sua vida e ministério terrenos, prossigamos na direção que nos leva o Espírito Santo, o de sermos conformes à imagem do Filho de Deus, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos (Rm.8:29).

  1. B) LIÇÃO Nº 1 – O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS  

     O Evangelho segundo Lucas mostra-nos Jesus como o homem perfeito.

INTRODUÇÃO 

– Neste trimestre letivo, estudaremos o Evangelho segundo Lucas, o terceiro evangelho sinótico.

– O Evangelho segundo Lucas mostra-nos Jesus como o homem perfeito.

I – OS EVANGELHOS  

– Neste segundo trimestre de 2015, teremos um trimestre “bíblico”, o primeiro do novo currículo da CPAD, em que estudaremos o Evangelho segundo Lucas, o terceiro evangelho sinótico, ou seja, evangelho que faz uma sinopse, um resumo da vida e do ministério terreno de Jesus.

– Os “evangelhos” são livros que trazem as “boas novas” da salvação, ou seja, livros que apresentam a vida e o ministério terreno de Jesus, o Cristo, o Salvador da humanidade, o Messias prometido.

– A palavra grega “evangelion” (εύαγγέλιοον) tem o significado de “boas novas” e era utilizada, em Roma, para designar as notícias referentes a feitos extraordinários e miraculosos feitos pelos imperadores, notícias que tinham o propósito de fazer os súditos de Roma crerem que os imperadores eram dotados de poderes divinos e que, assim, trariam melhores dias para a vida terrena.

– Este sentido de “boas novas”, de notícias vindas da divindade para o bem do ser humano, foi dado pelo próprio Senhor Jesus quando iniciou Seu ministério terreno, pois, como nos dá conta o evangelista Marcos (que foi, aliás, o primeiro a adotar esta nomenclatura para tratar da narrativa da vida e ministério de Cristo – Mc.1:1), ao iniciar a Sua pregação, conclamou Seus ouvintes a crerem no “evangelho”, crendo que o tempo da redenção havia chegado, que o reino de Deus estava próximo e que era preciso se arrepender (Mc.1:15).

– Ao longo de Seu ministério, Jesus identificaria a Sua mensagem como sendo “o evangelho” (Mt.11:5; 24:14; Mc. 8:35; 10:29; 13:10; 14:9; 16:15; Lc.4:43; 7:22), tendo, inclusive, mandado que fosse esta a mensagem a ser pregada pelos Seus discípulos em continuidade à Sua obra.

Não é por outro motivo, aliás, que o apóstolo Paulo diz ser “o Evangelho de Cristo” “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu, e também do grego, porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: mas o justo viverá da fé” (Rm.1:16,17).

– É elucidativo que o apóstolo Paulo resuma o “evangelho” à assertiva do profeta Habacuque de que “o justo viverá da fé” (Hc.2:4), pois  “…a tradição judaica parece ir por dois caminhos com a ideia de que a Torá pode ser explicada por meio da halakhah (explicações dos rabinos, dos doutores da lei) (…) [um dos quais] refinar os vários mandamentos em princípios gerais que são cada vez menores em número.

 Por exemplo, em Makkot 23b-24a [tratado do Talmude – observação nossa], a discussão vai de uma enumeração dos 613 mandamentos identificados na Torá, para a redução de Davi do número para 11 (Salmo 15), da redução de Isaías para o número de seis (Is.33:15,16), para a redução de Miqueias para o número de três (Mq.6:8), para mais uma redução de Isaías para dois (Is.56:1), para um essencial mandamento por Habacuque (“mas o justo pela fé viverá”).

Obviamente, o apóstolo Paulo refinou as várias mitzvot para o mesmo princípio da fé (veja Rm.1:17; Gl.3:11 e Hb.10:38).…” (PARSONS, John J. Taryag Mizvot: os 613 mandamentos da Torá. Disponível em: http://www.hebrew4christians.com/Articles/Taryag/taryag.html Acesso em 10 fev. 2015) (tradução nossa de texto em inglês) (destaques originais).

– Este único princípio a que se reduz toda a Torá é chamado por Paulo de “Evangelho de Cristo”, o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiramente do judeu e depois do grego, a síntese de toda a Torá, a “Torá do Messias”, quando se pode, então, cumprir o mandamento dado por Deus neste novo tempo, o de amar uns aos outros como Jesus nos amou.

– Ora, para que possamos amar como Jesus amou, temos de saber como Ele o fez enquanto esteve aqui na Terra e é por isso que o Espírito Santo inspirou quatro homens para registrar esta vida e ministério terrenos de Cristo, para que, assim, pudéssemos seguir as Suas pisadas, aprender d’Ele e, deste modo, crendo n’Ele, alcançarmos a salvação.

– Os evangelhos, pois, desempenham, em o Novo Testamento, o mesmo papel que o Pentateuco exerce no Antigo Testamento, ou seja, trazem-nos a “lei do Messias”, lei esta que, assim como foi complementada pela história de Israel, pelos livros poéticos e pelos livros proféticos, também, em o Novo Testamento, é complementada pela história da Igreja primitiva, pelas epístolas e pelo livro profético do Apocalipse.

– Como afirma Marcos Calado, “…εὐαγγέλιον muito mais do que uma ‘boa notícia’; é comunicação atuante da salvação, um evento que gera a manifestação da fé, produção de Deus, a qual, pelo poder do Espírito Santo, visa à salvação do homem.

Reitere-se que, longe de ser um artifício criado com pretensões políticas com o objetivo de legitimar a pretensa divindade de imperadores, essa concepção de Evangelho reflete, de fato, a vontade de Deus.…” (O Evangelho desfigurado. Cópia fornecida para revisão, p.8).

– Mas por que o Espírito Santo inspirou quatro pessoas para reduzir a escrito o Evangelho? Não bastava um? Não seria esta pluralidade um fator de fraqueza da mensagem de Cristo, como, aliás, entendem os muçulmanos?

– São quatro os evangelhos precisamente para que a verdade do Evangelho fique evidenciada, visto que é o próprio Deus quem afirma que somente pode ser considerado verdadeiro o testemunho de duas ou três pessoas (Dt.17:6; 19:15; Mt.18:16; II Co.13:1; Hb.10:28) e, ao inspirar quatro evangelistas, o Espírito Santo mostra que nosso Deus não é um Deus contraditório, mas que vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12).

 O próprio Jesus disse que estaria sempre no meio de dois ou três que se reunissem em Seu nome (Mt.18:20).

OBS: Aliás, é interessante que este princípio da pluralidade das testemunhas é acolhido também pelo Alcorão, inclusive o número de quatro testemunhas, como se pode observar nas seguintes passagens: “…Ó fiéis, quando contrairdes uma dívida por tempo fixo, documentai-a; e que um escriba, na vossa presença, ponha-a fielmente por escrito ; que nenhum escriba se negue a escrever, como Deus lhe ensinou .

 Que o devedor dite, e que tema a Deus, seu Senhor, e nada omita dele (o contrato). Porém, se o devedor for insensato, ou inapto, ou estiver incapacitado a ditar, que seu procurador dite fielmente, por ele.

 Chamai duas testemunhas masculinas de vossa preferência, a fim de que, se uma delas se esquecer, a outra recordará.…(2:282); “…E àqueles que difamarem as mulheres castas, sem apresentarem quatro testemunhas, infligi-lhes oitenta vergastadas e nunca mais aceiteis os seus testemunhos,() porque são depravados” (24:4); “

– Assim, não é casual nem coincidência que sejam três os evangelhos sinóticos, ou seja, aqueles que fazem um resumo, uma sinopse da vida e ministério terrenos de Cristo Jesus e que, como complemento, venha o quarto evangelho, a apontar apenas alguns episódios desta vida e ministério (sinais e discursos) que confirmam a divindade d’Aquele que trouxe as “boas novas” (Jo.20:30,31).

– Mais ainda, desde o tempo da lei, “a sombra dos bens futuros” (Hb.10:1), o Senhor já indicara que o Evangelho seria revelado ao homem por intermédio de quatro testemunhos, as “quatro colunas” que davam base ao véu do tabernáculo, véu, este, aliás, que era composto de “quatro tecidos” (azul, púrpura, carmesim e linho fino) (Ex.26:31,32).

– Como ensina Abraão de Almeida: “…As quatro colunas de entrada do Tabernáculo tem também um significado muito importante. (…). Estas colunas representam ou falam da oportunidade para todos, pois o número quatro está sempre relacionado com a plenitude da Terra.

 Todos têm oportunidade de entrar no santuário (Mt.24:31; Jo.3:16). Os quatro véus que cobrem as quatro colunas de entrada da tenda, por suas cores significativas, apontam-nos os quatro Evangelhos, pela ordem em que aparecem no Novo Testamento.

Comparemos estas cores com os retratos de Jesus que os quatro evangelistas nos deram: 1. A púrpura. Esta cor se relaciona com a realeza e aponta para o Evangelho  segundo Mateus, que é o Evangelho do Rei.

Mateus enfatiza este aspecto do caráter de Jesus, quando, por 14 vezes, o chama de Filho de Davi, o famoso rei cuja descendência Deus prometeu perpetuar no trono de Israel. O Messias viria como Rei, conforme a profecia de Zacarias 9.9.(…) 2. O carmesim.

O Evangelho segundo Marcos está relacionado com a cor carmesim, ou seja, como sangue, que aponta para o servo sofredor, para o Messias na cruz, conforme a profecia de Isaías 42:1 (…) 3. Linho branco.

 No Evangelho segundo Lucas temos o linho branco apontando para o homem perfeito, para o caráter justo de Jesus. Esse evangelista apresenta  a pessoa do Salvador como o Filho do homem. É o Evangelho do Filho do homem.

E como todo homem perfeito, ilustre e nobre, precisa de uma genealogia, o médico Lucas registra a ascendência de Jesus. O Senhor, em Lucas, cumpre a profecia de Zacarias 6:12 (…) 4. Azul.  Finalmente, chegamos à cortina azul, essa cor indica sempre o Céu ou aquilo que é celeste.

Vem em João o Evangelho do Filho de Deus. Jesus, como o Filho de Deus, cumpre a profecia de Isaías 40.9 (…). João não registra a genealogia de Jesus, pois Deus não tem genealogia.…” (O Tabernáculo e a Igreja. Ebook digitalizado por Levita para o site http://ebooskgospel.blogspot.com,  pp.14-5) (destaques originais).

– A presença de quatro evangelhos, portanto, além de reforçar a ideia de que o Evangelho é para todo o mundo, ainda cumpre aquilo que havia sido tipificado no tabernáculo.

– Mas como se isto fosse pouco, é de se ver que, na visão dos querubins do profeta Ezequiel, chamada pelos judeus de “Merkavah”, tida como a “visão do trono de Deus”, mostra claramente que a glória divina tem quatro aspectos, quatro perfis, consoante os quatro rostos de cada um dos querubins: rostos de homem, leão, boi e águia (Ez.1:5,10; 10:14).

 Logo, os judeus passaram a considerar esta visão, um “mistério sagrado”, que não poderia ser ensinado senão “…aquele que fosse sábio e capaz de deduzir o conhecimento mediante o conhecimento de si mesmo” (Tratado Hagigah do Talmude 2:1).

– Ora, o Evangelho é este “mistério” (Rm.16:25; Ef.6:19), este mistério que é o próprio Cristo (Cl.2:2; 4:3). Assim como alguém, para ser identificado, notadamente nos órgãos policiais, é fotografado em vários “perfis” e “aspectos”, assim, também, o Senhor Jesus, em Sua revelação como o Messias, o Salvador do mundo, é apresentado em “quatro perfis”, em “quatro aspectos”, precisamente os “rostos” vistos pelo profeta na visão do “trono da glória de Deus”:

  • rosto de leão, a indicar a realeza de Cristo (o evangelho segundo Mateus);
  • rosto de boi, a indicar Cristo como servo (evangelho segundo Marcos);
  • rosto de águia, a indicar Cristo como Filho de Deus (evangelho segundo João) e
  •  rosto de homem, a indicar Cristo como o homem perfeito, o Filho do homem (evangelho segundo Lucas).

– A pluralidade, portanto, é não só um sinal da veracidade e da autenticidade do Evangelho de Cristo, como também a confirmação de que se tem aqui o cumprimento daquilo que fora tipificado nas mais profundas revelações divinas dadas ao homem, a demonstrar que o Evangelho de Cristo é, realmente, o cumprimento das promessas messiânicas, da promessa de salvação de toda a humanidade.

II – EVANGELHO SEGUNDO LUCAS  

– Esclarecidos porque são quatro os evangelhos, entremos, então, no estudo do Evangelho segundo Lucas, que é o tema deste trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical.

– O Evangelho segundo Lucas, segundo os estudiosos da Bíblia Sagrada, foi o terceiro evangelho a ser escrito, por volta de 58 a 63 d.C., sendo de autoria de Lucas, o médico amado, um dos cooperadores do apóstolo Paulo (Cl.4:14; II Tm.4:11 e Fm.24).

– O texto do Evangelho, em momento algum, diz que a autoria é de Lucas, o que se percebe pelas inferências. Com efeito, o evangelho se apresenta como um tratado dirigido a Teófilo, uma pessoa “excelente” (Lc.1:3), que é, então, certamente, o “primeiro tratado” mencionado pelo autor de Atos dos Apóstolos (At.1:1), cujo tema é apresentar “…o que Jesus começou não só a fazer a ensinar”.

– Ora, o autor de Atos dos Apóstolos que, portanto, é o mesmo autor deste evangelho, outro não pode ser senão Lucas, pois, além do grego refinado em que são produzidos tanto o evangelho quanto o livro de Atos, a indicar o mesmo estilo, tem-se, no livro de Atos, a evidência de que o autor do livro é alguém que era muito próximo ao apóstolo Paulo, proximidade esta que aponta para Lucas, aquele que nunca deixou o apóstolo (II Tm.4:11).

Além do mais, na própria narrativa de Atos, vê-se que o uso do pronome “nós” no relato indica que se tratava de circunstâncias em que Lucas estava a acompanhar o apóstolo (At.16:16,17; 20:13; 21:7,8,12; 27:2,18-20; 28:15).

– Como se não bastasse isso, o estilo empregado, o vocabulário empregado e o próprio método adotado, um verdadeiro “método científico” (Lc.1:1-4), revelam que o autor é alguém de refinada erudição, um auxiliar do apóstolo Paulo que tivesse uma grande formação científica, algo que somente encontramos, entre os cooperadores do apóstolo, na figura de Lucas, que era médico (Cl.4:14).

– A tradição da Igreja sempre atribuiu este evangelho a Lucas, como nos atesta Eusébio de Cesareia, em sua História Eclesiástica, “in verbis”: “…Mas Lucas, nascido em Antioquia e médico de profissão, por muito tempo companheiro de Paulo e bem familiarizado com os outros apóstolos, nos deixou em dois livros inspirados as instituições daquela arte de cura espiritual que deles obteve.

 Um deles é o Evangelho em que testifica ter registrado ‘de acordo com a tradição recebida dos que foram testemunhas oculares desde o princípio e ministros da palavra’ a ele transmitida. Aos quais também, afirma ele, seguiu em tudo.

E o outro é os Atos dos Apóstolos que compôs não de acordo com testemunhos ouvidos de outros, mas com o que viu com os próprios olhos. Também se diz que Paulo costumava citar o Evangelho de Lucas, uma vez que quando escrevia sobre algum evangelho, chamando-o seu, dizia: ‘de acordo com o meu evangelho’…” (História Eclesiástica. Trad. de Lucy Iamakami. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, pp.81-2).

– Lucas, ao escrever este evangelho, quis trazer um novo perfil aos relatos que já existiam, procurando, então, já que não fora testemunha ocular do ministério de Jesus, obter criteriosas informações a respeito dos fatos relatados tanto oralmente como por escrito pelos discípulos, para, então, apresentar a um gentio, como é Teófilo, a narrativa da vida e do ministério terrenos de Jesus.

OBS: “…Mas também Lucas, no início de sua narrativa, acrescenta a causa que o levou a escrever, mostrando que muitos outros, tendo ousado pôr-se a narrar as coisas de que ele já se havia certificado plenamente para nos livrar, em seu próprio Evangelho, de suposições incertas de outros, transmitiu o relato preciso do que ele próprio recebeu plenamente por intermédio de sua proximidade e permanência com Paulo e também seu relacionamento com os outros apóstolos…” (CESAREIA, Eusébio de. op.cit., p.103).

– O objetivo de Lucas, portanto, era o de promover um relato criterioso, preciso a respeito da vida e do ministério de Cristo, que fosse apresentado como o Filho do homem, a “semente da mulher” que haveria de trazer salvação a toda a humanidade. Seu intento, certamente inspirado pelo Espírito Santo, era apresentar Jesus como o homem perfeito, Aquele que teria trazido salvação a toda a humanidade.

– Por isso, o evangelho segundo Lucas é um relato que não se prende tanto às profecias a respeito do Messias, como fez Mateus, que procurava, em seu evangelho, mostrar o cumprimento das profecias para apresentar Jesus como o Messias esperado pelos judeus, como também não é um relato em que Jesus Se apresenta como o Servo do Senhor, outra figura prevista nas profecias do Antigo Testamento, num evangelho mais voltado aos romanos, que apresentava Jesus como sendo o Servo, quase que um “soldado fiel” vitorioso, assim como os soldados do poderoso exército romano.

– Bem ao contrário, este evangelho apresenta Jesus como “o homem perfeito”, o “Filho do homem”, expressão que Lucas usa para se referir ao Senhor Jesus por 26 vezes (Lc.5:24; 6:5,22; 7:34; 9:22,26,44,56,58; 11:30; 12:8,10,40; 17:22,24,26,30; 18:8,31; 19:10; 21:27,36; 22:22,48,69; 24:7). Assim, sem se vincular às próprias profecias do Antigo Testamento, Lucas mostra Jesus como sendo o Salvador do mundo, o que era precisamente como o próprio Lucas via o seu Salvador, já que se tratava de um gentio, a propósito, o único autor gentio das Escrituras (se se entender que livro de Jó foi escrito por Moisés e não pelo próprio patriarca Jó).

OBS: Alguns entendem que Lucas era judeu, como é o caso de Finnis Jennings Dake, que afirma: “…Ele era judeu e talvez o Lúcio de Romanos 16.21; Atos 13.1. Se for verdade, era parente de Paulo…” (Bíblia de Estudo Dake, p.1626).

– Lucas, assim, mostra Jesus como o homem perfeito, aquele homem que, gerado por obra e graça do Espírito Santo (Lc.1:35), nunca teve pecado e, por isso mesmo, pôde ocupar o lugar da humanidade e Se apresentar em sacrifício perfeito que tirou o pecado do mundo, tendo, pois, Sua obra eficácia para todos os povos e não apenas para Israel, como poderia aparentar os dois evangelhos anteriores.

– Por isso, esse evangelho era dirigido a Teófilo, pessoa que deveria ser um alto funcionário do Império Romano, já que é chamado de “excelentíssimo” pelo autor do evangelho (Lc.1:3), pessoa que deveria ter sido evangelizada pelo próprio evangelista, a fim de que pudesse ele ter a certeza das coisas de fora informado (Lc.1:4).

– É por isso mesmo que o evangelho segundo Lucas é chamado de “coroa dos evangelhos sinóticos”, pois completa as sinopses anteriores, demonstrando o aspecto universal da obra salvífica de Jesus. Como afirma o Comentário Esperança Lucas: “…O evangelho de Lucas é um comentário contínuo ao misterioso dizer do apóstolo:

‘Deus enviou seu Filho, que veio na forma da nossa natureza pecaminosa a fim de acabar com o pecado’ (Rm 8.3). É como se Lucas tivesse visto sua própria função sendo exercida na atividade de Jesus. Mais do que os outros, ele descreve o Senhor Jesus como médico, precisamente como o Grande Médico, que veio não apenas para servir (Mt 20.28), mas que andou por toda parte fazendo o bem (At 10.38), demonstrou compaixão com todos os doentes do corpo e do espírito, liberou poder de si para restaurar (Lc 5.17)!

Todos relatam acerca da tentação de Jesus no deserto, mas unicamente Lucas acrescenta: “apartou-se dele o diabo, até momento oportuno” [Lc 4.13]. Todos relatam seu sofrimento no Getsêmani, mas somente Lucas preservou para nós o relato comovente do suor que ‘como gotas de sangue caindo sobre a terra’ [Lc 22.44], e do anjo que o fortalecia.

 Todos falam do arrependimento de Pedro, mas unicamente Lucas menciona o olhar do Senhor [Lc 22.61]. O terceiro evangelho é a coroa dos evangelhos sinóticos…” (RIENECKER, Fritz. Evangelho de Lucas: comentário Esperança. Trad. de Werner Fuchs, p.9. Disponível em: www.aibrern.com.br/index.php/arquivos/category/27-Lucas?…152. Acesso em 10 fev. 2015).

– Dentro desta finalidade do evangelho, Lucas, usando de toda a sua erudição, quis demonstrar os fatos relacionados com a vida e o ministério terrenos de Senhor Jesus como fatos devidamente comprovados, devidamente situados no espaço e no tempo, satisfazendo, deste modo, as exigências da cultura grecoromana, para mostrar a todos que Jesus é o Salvador do mundo.

– Tal cuidado quis o evangelista deixar claro logo no introito de seu evangelho, ao afirmar que, diante da preocupação que estava ocorrendo entre os cristãos de pôr em ordem a narração dos fatos relativos à vida e ao ministério terrenos de Jesus Cristo, Lucas resolveu ordená-los, registrando tão somente os fatos que fossem devidamente comprovados por testemunhas, que procurou ouvir (Lc.1:1-4). O evangelho, portanto, teria o condão de dar certeza de tudo que  Teófilo já fora informado através da evangelização de que fora objeto.

– Por isso, o evangelho segundo Lucas é o mais minucioso de todos os evangelhos, havendo uma nítida preocupação de datação e de indicação dos locais onde se deram os fatos relatados, o que faz de Lucas um parâmetro para se estabelecer a chamada “harmonia dos Evangelhos”, esforço de estudiosos das Escrituras para dar um quadro amplo da vida e ministério terrenos de Cristo.

– Diante da pormenorização do evangelho segundo Lucas, temos a possibilidade de fazer uma acurada divisão do livro. A Bíblia de Estudo Plenitude entende que o evangelho segundo Lucas pode ser dividido em sete partes, a saber:

  1. a) Prólogo – Lc.1:1-4.
  2. b) A narrativa da infância – Lc.1:5-2:52.
  3. c) Preparação para o ministério público – Lc.3:1-4:13.
  4. d) O ministério galileu – Lc.4:14-9:50.
  5. e) A narrativa da viagem (no caminho para Jerusalém) – Lc.9:51-19:28.
  6. f) O ministério de Jerusalém – Lc.19:29 -21:38.
  7. g) A paixão e glorificação de Jesus – Lc.22:1-24:53.  

– Como afirma Fritz Rienecker, no já mencionado Comentário Esperança, o evangelho segundo Lucas aponta três locais primordiais do ministério de Cristo Jesus e a narrativa segue estes três locais: Nazaré, a terra onde Jesus foi criado; Cafarnaum, a base de Seu ministério terreno e, por fim, Jerusalém, o local onde Ele seria morto e ressuscitaria.

Este esquema, aliás, comprova serem os mesmos os autores do evangelho e do livro de Atos dos Apóstolos, já que, em Atos, há, também, esta estrutura de três locais (Jerusalém, Antioquia e Roma).

OBS: “…É fácil de entender que justamente o evangelho de Lucas, aquele dentre todos os quatro evangelhos que explicita o nexo mais estreito com a evolução ulterior do cristianismo, tenha obtido uma continuação em Atos dos Apóstolos.

O evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos formam uma unidade integrada, razão pela qual também o andamento de ambos os escritos exibe uma marcante semelhança. O conteúdo do evangelho pode ser sintetizado em três nomes: Nazaré, Cafarnaum, Jerusalém. Do mesmo modo o conteúdo de Atos dos Apóstolos pode ser resumido em três nomes: Jerusalém, Antioquia, Roma.

 Em Cafarnaum manifesta-se o que foi gerado no silêncio de Nazaré. Em Jerusalém completa-se o que foi preparado em Cafarnaum. O mesmo ocorre em Atos dos Apóstolos. Em Antioquia vemos em flor a semeadura que germinou no Pentecostes em Jerusalém.

Em Roma constatamos que a nova aliança se desprendeu cabalmente do velho solo e foi transplantada para o novo solo, sobre o qual desde então produz seus frutos. Enquanto o evangelho descreve a maneira e a forma como a salvação em Israel se concretizou, apesar das hostilidades de seus líderes e da obcecação do povo.

O Atos dos Apóstolos mostra que a fundação do reino de Deus entre os gentios não aconteceu seguindo o curso normal, com Israel (o povo convertido de Deus acolhendo em seu seio os gentios), mas que, pelo contrário, a fundação do reino de Deus foi permanentemente confrontada com resistência por parte de Israel, tanto na Palestina quanto nos países gentios, até Roma, onde finalmente aconteceu a ruptura completa.…” (op.cit., p.8).

– Segundo Finis Jennings Dake (1902-1987), o Evangelho segundo Lucas, 42º livro da Bíblia, tem 24 capítulos, 1.151 versículos, 165 perguntas, o profecias do Antigo Testamento, 54 novas profecias, 930 versículos de história, 118 versículos cumpridos e 103 versículos de profecias não cumpridos.

– Segundo os estudiosos das Escrituras Sagradas que entendem haver uma correlação entre as letras do alfabeto hebraico e os livros da Bíblia Sagrada, Lucas é livro relacionado com a letra “resh” (ר), cujo significado é “cabeça”, “topo”, o que faz com que haja relação com a “sabedoria”, que é “a coisa principal”.

Lucas seria, pois, o “evangelho proverbial’, o “evangelho sapiencial”, por ser o evangelho com o maior número de parábolas, sendo que dezenove delas unicamente naquele evangelho.

Além disso, mostra Jesus como um “sábio” inigualável e incomparável, assim formado durante o Seu crescimento biológico (Lc.2:52), a demonstrar que se está diante da “estatura completa da humanidade” (Ef.4:13), do “homem perfeito e sem igual” , tanto que Ele não somente era sábio como também daria sabedoria a Seus discípulos (Lc.21:15).

 O próprio Jesus, aliás, reporta-se à Palavra de Deus como “sabedoria de Deus” em Lc.11:49, identificando-Se, pois, como a própria “sabedoria de Deus”, a confirmar esta linha do terceiro evangelho.

– Este perfil de Cristo como sendo o “homem perfeito”, o “Filho do homem” faz com que o evangelho segundo Lucas seja o que mais se aproxima do “espírito de Paulo”, como afirma Fritz Rienecker, “in verbis”: “…nenhum outro evangelho permite entrever vestígios tão nítidos do espírito de Paulo como precisamente o evangelho de Lucas.

É bem verdade que não seja provável que Paulo tenha tido em mente uma narrativa escrita de Lucas quando menciona o seu evangelho (Rm 2.16; 2Tm 2.8), mas apesar disso ambos convergem da maneira mais perfeita na descrição da instituição da santa ceia (Lc 22.19s; cf. 1Co 11.23-29), no relato da aparição de Cristo quando se manifestou a Pedro (Lc 24.33s; cf. 1Co 15) e em outros detalhes.…” (op.cit, p.8).

III – A HUMANIDADE DE JESUS NO EVANGELHO SEGUNDO LUCAS

– Para terminarmos esta introdução ao estudo do evangelho segundo Lucas, devemos apresentar alguns dados do próprio evangelho que confirma cuidar ele de Cristo como sendo o homem perfeito, o Filho do homem.

– Por primeiro, vemos que o evangelho segundo Lucas chama Jesus de “Filho do homem” por 26 vezes, como já se disse supra, algo que não se repete, com tanta insistência nos demais evangelhos, a demonstrar, portanto, como é realçada a humanidade de Cristo, Sua condição de “semente da mulher” a restaurar a amizade entre Deus e o homem.

A propósito, Lucas é o único livro das Escrituras, ao lado de Provérbios, a se utilizar da expressão “Deus e os homens” (Pv.3:4 e Lc.2:52).

– Por segundo, Lucas faz questão de mostrar Jesus como homem, fazendo questão de indicar todo o crescimento de Jesus como qualquer ser humano. Assim, Lucas é o único evangelista a narrar as circunstâncias em que se dá a concepção de Jesus, pormenorizadamente descrevendo a anunciação a Maria pelo anjo Gabriel, como também sendo o único que tenha indicado uma operação de Cristo enquanto feto ou embrião (Lc.1:26-45).

– Lucas, também, é o único a trazer algumas informações a respeito da adolescência e da juventude de Cristo, antes do início de Seu ministério público, inclusive a passagem em que foi interrogado pelos doutores da lei no templo quando assumiu Sua responsabilidade perante a lei (Lc.2:39-52).

– Por terceiro, Lucas mostra Jesus como a “semente da mulher” prometida no jardim do Éden, tanto que, na genealogia, ao contrário do que faz Mateus, não remonta a Abraão, mas, sim, a Adão (Lc.3:23-38), demonstrando, portanto, que Jesus era o “homem perfeito”, o “segundo Adão”(I Co.15:45), já que gerado por obra e graça do Espírito Santo (Lc.1:35).

– Por quarto, Lucas faz questão de realçar, ao longo da narrativa, a humanidade de Cristo mediante diversas referências a aspectos humanos do Salvador, tais como:

  1. a) Sua sujeição aos Seus pais como um filho – Lc.2:51;
  2. b) Sua sujeição à lei e às tradições judaicas – Lc.2:42; 4:16;
  3. c) Sua condição social de filho de José – Lc.4:22;
  4. d) Sua condição de homem de oração – Lc.6:12; 11:1; 22:41
  5. e) Sua compaixão, como alguém que tem sentimentos e pode sentir o mesmo que os fracos, doentes e necessitados – Lc.1:50,54,72,78; 7:13 – algo que deveria ser seguido pelos Seus discípulos – Lc.6:35,36;  

– Como afirmam Carlo Johansson e Ivan Hellström, “… Como todos os evangelistas, Lucas tem como objetivo apresentar Jesus. Mas seu enfoque particular é apresentar Jesus como homem, simplesmente um homem perfeito, tal como seria Adão, não fora a queda.

O primeiro Adão caiu, veio o segundo Adão (Jesus), que não caiu mas venceu o tentador em todo o tempo.

E Lucas apresenta Jesus como o homem perfeito, que se compadece dos necessitados; que estende a mão ao carente; que tem ternura para dar aos amargurados; amor para os que estão ressicados pelo ódio; poder para os fracos; que levanta os caídos; que alimenta os famintos; que tem bálsamo para aliviar a dor das feridas abertas; que carrega em seus ombros a ovelha desgarrada; que não sabe vingar-se, mas perdoar…” (Síntese bíblica do Novo Testamento: Mateus a João. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1983. Coleção Ensino Teológico n.2, pp.62-3).

-É este evangelho que nos dá a figura do homem ideal, que deve ter seu exemplo seguido para a nossa salvação que haveremos de estudar durante este trimestre.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco 

Site: http://www.portalebd.org.br/files/2T2015_L1_caramuru_oficial.pdf

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