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LIÇÃO Nº 1 – A FORMAÇÃO DO CARÁTER CRISTÃO

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ESBOÇO Nº 1

A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Neste segundo trimestre de 2017, teremos mais um trimestre temático, quase que uma aplicação prática daquilo que estudamos no trimestre passado, quando falamos a respeito das obras da carne e do fruto do Espírito.

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A proposta da Casa Publicadora das Assembleias de Deus é a de fazermos um percurso pela Bíblia na análise de personagens bíblicas para que compreendamos o que é o caráter do cristão, como devem agir e viver aqueles que servem ao Senhor Jesus, que querem ser arrebatados e viver eternamente com o Senhor na Sua glória, pois, como afirma o pastor José Serafim de Oliveira, nosso companheiro no Estudo dos Professores e Amigos da Escola Bíblica Dominical na Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Belém na sede, em São Paulo/SP, o segredo para ser arrebatado é alcançar testemunho de que se está agradando a Deus (Hb.11:5).

Ao falarmos em “caráter”, estamos a dizer a respeito de qualidades morais do ser humano. É preciso distinguirmos entre caráter, temperamento e personalidade.

No terceiro trimestre de 2007, quando também estudamos personagens bíblicas com o intuito de verificar o que seja o caráter cristão, naquela oportunidade em comentários do pastor Eliezer Lira e Silva, o Setor de Educação Cristã da CPAD assim diferenciou estes três elementos que compõem a estrutura psíquica do ser humano:

 “…O temperamento refere-se ao estado de humor e às reações emocionais de uma pessoa – o modo de ser.

A personalidade envolve a emoção, vontade e inteligência de uma pessoa – aquilo que o indivíduo é.

O caráter, influenciado pelo temperamento e personalidade, é o conjunto das qualidades boas ou más de um indivíduo que determina-lhe a conduta – como a pessoa age. …(Lição 1 – A busca do caráter cristão. Disponível em: http://www.estudantesdabiblia.com.br/licoes_cpad/2007/2007-03-01.htm Acesso em 07 fev. 2017).

Notamos, portanto, que o caráter é algo que é adquirido ao longo do tempo, algo que é resultado de uma convivência, de um aprendizado, que, diante de nossa personalidade e temperamento, faz-nos ser o que somos.

Quando cremos em Jesus Cristo, tornamo-nos uma “nova criatura” (II Co.5:17; Gl.6:15), “nascemos de novo” (Jo.3:3,7) e, como vimos no trimestre anterior, passamos a produzir o fruto do Espírito, a ter uma nova maneira viver, diferente daquela que herdamos de nossos pais, a natureza pecaminosa (I Pe.1:18). 2º Trim. de 2017: O caráter do cristão: moldado pela Palavra de Deus e provado como ouro

Eis porque, ao passarmos da morte para a vida (Jo.5:24; I Jo.3:14), mudamos nossa maneira de agir, nosso modo de viver, passamos a ter um novo caráter, caráter este que vai se assemelhando a Cristo a cada instante de nosso crescimento espiritual, fazendo-nos tornar verdadeiros “cristãos”, ou seja, “parecidos com Cristo”, “semelhantes a Cristo”, “pequenos Cristos”.

Para tanto, temos de crescer espiritualmente, aprender com o Senhor Jesus, estar no meio do Seu povo, do Seu corpo, que é a Igreja, crescimento este que nada mais é que a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).

A santificação, que é a nossa conformação à imagem de Cristo (Rm.8:29; Ef.4:13), faz-se, em primeiro lugar, pela Palavra de Deus (Jo.17:17), sendo esta a razão pela qual o subtítulo de nosso trimestre é “moldado pela Palavra de Deus”.

As Escrituras são as testemunhas fiéis do Senhor Jesus (Jo.5:39) e, portanto, se quiser viver como Cristo, se quisermos ser “imagem de Cristo”, temos de ter nossa vida pautada pela Bíblia Sagrada. Aliás, neste ano de 2017, estamos a celebrar os 500 anos da Reforma Protestante, este importante movimento que fez a Igreja retornar, precisamente, à Bíblia Sagrada, a voltar à verdade.

Eis o motivo por que estaremos a estudar a história de algumas personagens bíblicas, pois através de seus exemplos, mandados registrar pelo Espírito Santo na Palavra de Deus, saibamos como agir para também agradarmos a Deus como eles agradaram, pois tudo o que foi escrito para nosso ensino foi escrito (Rm.15:4) e tudo foi registrado para que estas personagens, juntamente conosco, pudessem alcançar a glorificação (Hb.11:40;12:1).

Mas, além da Palavra de Deus, também somos santificados pelas provações, adversidades e dificuldades permitidas e até mandadas por Deus para promover o nosso crescimento espiritual.

Como diz o apóstolo Paulo, depois de termos entrado na graça pela fé, somos acometidos de tribulações, tribulações estas que permitem o desenvolvimento da paciência, que, como vimos no trimestre passado, é uma das qualidades do fruto do Espírito.

Por meio do sofrimento, alcançamos não só a paciência, mas, depois, a experiência e a esperança que não traz confusão (Rm.5:1-5), gerando, assim, um nítido desenvolvimento espiritual do amor, amor este que nos fará parecidos com Cristo, que, sendo Deus, é nada mais nada menos que amor (I Jo.4:8).

Aliás, como afirma o pastor Raimundo de Oliveira, o fruto do Espírito nada mais que é o amor, a saber:

  • gozo (amor sorrindo),
  • paz (amor repousando),
  • longanimidade (amor sofrendo),
  • benignidade (amor mostrando compaixão),
  • bondade (amor agindo),
  • fé (amor confiando),
  • mansidão (amor suportando),
  • temperança (amor controlando)

(apud Lição 2 – O propósito do fruto do Espírito. Prof. Marcos Diniz – Igreja Apostólica Verdade e Vida – São Paulo/SP. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vTxpquLKUP0 46’36’’ Acesso em 07 fev. 2017).

Esta mesma evolução espiritual que passa pela provação nos é mostrada pelo apóstolo Pedro, que afirma que, após nos tornarmos participantes da natureza divina escapando da corrupção que há no mundo, passamos da fé para a virtude, da virtude para a ciência, da ciência para a temperança, da temperança para a paciência (o que inclui, portanto, o sofrimento), desta para a piedade, da piedade para o amor fraternal e, então, para o amor de Deus (II Pe.2:4-7).

É por isso que o nosso tema do trimestre tem, como complemento do subtítulo “provado como ouro”, falando, precisamente, da necessária purificação que teremos de ter com as provações da vida, pois, a exemplo do ouro, que se torna mais puro quando submetido a altas temperaturas, quando colocado no fogo, de igual maneira, os salvos em Jesus Cristo são submetidos a provações para que se tornem cada vez mais santos, cada vez mais puros.

Este, aliás, é o sentido da capa do trimestre, que nos mostra, precisamente, uma vasilha que derrama o ouro em altíssima temperatura para uma fornalha, a nos fazer lembrar o que Pedro registra em I Pe.1:7, quando fala da “prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo”. Nossa fé é provada para que, devidamente purificada, possa se tornar em “louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo”.

Somente aqueles que forem provados e aprovados estarão naquela multidão descrita em Apocalipse 5, aquele belíssimo culto do qual participarão tão somente aqueles que perseverarem até o fim, que forem fiéis até a morte, aqueles que atingirão a glorificação no dia do arrebatamento da Igreja.

O trimestre tem uma lição introdutória, em que falaremos a respeito da formação do caráter cristão e, em seguida, passaremos a analisar a vida de algumas personagens bíblicas para delas extrairmos o necessário para que também, como elas, agrademos ao Senhor.

Estudaremos as seguintes personagens: Abel, Melquisedeque, Isaque, Jacó, Jônatas, Rute, Abigail, Hulda, Maria, irmão de Lázaro; Maria, mãe de Jesus; José, pai social de Jesus e, por fim, o nosso exemplo, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Que, ao estudarmos estas vidas, que fazem parte da “tão grande nuvem de testemunhas”, possamos todos continuar a crescer espiritualmente e nos conformarmos à imagem do Senhor Jesus.

Nosso comentarista é o pastor Elinaldo Renovato de Lima, há muitos anos comentarista das Lições Bíblicas e presidente das Assembleias de Deus em Parnamirim/RN.

B) LIÇÃO Nº 1 – A FORMAÇÃO DO CARÁTER CRISTÃO

O homem salvo por Jesus é uma nova criatura e, por isso, seu caráter é completamente transformado pelo Espírito Santo, restaurando a imagem e semelhança de Deus distorcidas com o pecado.

INTRODUÇÃO

– Neste trimestre, o tema é a o caráter DO cristão, ou seja, uma proposta de melhoria da nossa vida espiritual, um estímulo para o crescimento espiritual de cada um, através da análise da vida de homens e mulheres de Deus.

A vida cristã exige de cada um de nós um contínuo aperfeiçoamento e é este o objetivo do Setor de Educação de Cristã da CPAD ao nos introduzir neste estudo.

Que, ao término do trimestre, possamos todos ter a convicção de que as lições nos serviram para que tenhamos atendido ao clamor do profeta: “…melhorai os vossos caminhos e as vossas ações.” (Jr.18:11 “in fine”, isto é, a parte final do versículo).

– Antes de estudarmos algumas personagens bíblicas para com o seu exemplo obtermos uma melhoria de nossa vida cristã, analisaremos, nesta primeira lição, o que é o caráter cristão, ou seja, precisamos, antes, saber o que é o caráter e como ele é transformado quando da nossa salvação.

I – O QUE É CARÁTER

– Sabemos que cada ser humano é diferente do outro, que não existe um indivíduo idêntico a outro, porque Deus não produz homens em série, como costumamos ver nas indústrias, mas, sim, dentro de Seu supremo poder, cria cada homem individualmente, como vemos, aliás, no relato da criação de nossos primeiros pais, cada um feito separadamente e com cuidado especial de Deus (Gn.2:7; 2:21,22).

Por isso, cada homem deve responder individualmente perante o Senhor (Ez.18:30; Rm.14:10; Ap.20:13).

– Como ensinam os psicólogos, porém, esta individualidade do homem, conhecida como personalidade, deve ser dividida, basicamente, em dois elementos básicos: o temperamento e o caráter.

“…Muitas teorias utilizam o conceito de caráter como uma parte integrante da personalidade e que define uma forma definida de conduta, que não é inata mas constituída pela história de vida de cada sujeito, considerando a condição social, ambiente familiar, educação e todos os aspectos importantes para a construção das características de cada um.

O temperamento é definido como um estado orgânico e neuropsíquico constitucional e que define atitudes e atividades espontâneas, sendo inato.

As influências do temperamento dos seres humanos são do sistema nervoso, composição bioquímica, hereditariedade e características físicas, enquanto que o caráter é influenciado pelo ambiente.

Estas características definem o temperamento como algo imutável, embora possa ser controlado e dominado.

O caráter é construído ao decorrer da vida do indivíduo e pode ser modificado.…” (Caráter e temperamento. Enciclopédia Digital. Disponível em: http://www.google.com/search?q=cache:W5TrgY3YUFAJ:paginas.terra.com.br/educacao/stcult/enciclopedia/caratertemperamento.htm+car%C3%A1ter,+personalidade,+temperamento&hl=pt-BR Acesso em: 28 nov.2004).

– Percebemos, portanto, que o indivíduo nasce com uma constituição (que é única no mundo) que trará o seu temperamento, enquanto que será moldado pelo ambiente em que vive em seu caráter.

Este é um dos fatores pelos quais, embora sejamos crentes em Cristo Jesus, não somos iguais uns aos outros.

Pelo contrário, cada um, embora tenha em si a mesma essência, ou seja, o espírito vivificado por Cristo, que nos torna conscientes e sensíveis à voz do Senhor, tementes à Sua Palavra e que nos impede de viver pecando, somos diferentes uns dos outros, a ponto, inclusive, de o apóstolo Paulo ter comparado a Igreja a um corpo humano, que é uma unidade, mas cujos membros são bem diferentes uns dos outros.

Embora tenhamos a mesma essência, temos uma FORMA diferente, para aqui se utilizar da feliz expressão utilizada pelo pastor Rick Warren.

OBS: “…Não nos damos conta de como cada um de nós é verdadeiramente único. As moléculas de DNA podem se reunir em um número infinito de formas.

A possibilidade de você algum dia vir a encontrar alguém exatamente igual a você é de 1 para 10 elevado a 2 400 000 000ª potência.

Se você escrever esse número com cada zero da espessura de uma polegada, seria necessário uma tira de papel com 60 mil quilômetros !

Para que você coloque isso em perspectiva, alguns cientistas acreditam que o número de todas as partículas do Universo não passa de 10 seguido de 76 zeros, um número muito menor que as possibilidade de seu DNA. Sua singularidade é um fato científico da vida. Quando Deus o fez, Ele quebrou a forma.

Nunca houve nem haverá alguém exatamente igual a você.(…). Você foi formado pelas experiências que teve na vida, estando a maioria delas além de seu controle. Deus as permitiu para o seu propósito na sua formação.…” (WARREN, Rick. Uma vida com propósitos, p.213).

– Desta maneira, quando falamos que ocorre uma mudança na pessoa quando ela aceita a Cristo como seu Senhor e Salvador, não queremos dizer, com isto, que a pessoa passa a ser idêntica a tantas outras que seguiram o Senhor Jesus.

As pessoas, quando aceitam a Cristo, não deixam de ser indivíduos, não perdem a sua individualidade, a sua distinção das demais pessoas, pois quem a fez foi Deus e operando Ele, quem pode impedir? (Is.43:13).

Embora a salvação seja a manifestação da graça de Deus (Tt.2:11), sabemos que Deus não pode negar a Si mesmo (II Tm.2:13b), de forma que a salvação jamais representaria a aniquilação do ser humano que foi criado pelo Senhor, mas a sua submissão à vontade do Senhor.

– A salvação, portanto, não altera a individualidade do salvo, e, portanto, não muda o seu temperamento, que é a parte da personalidade que está ligada à criação, mas, como se trata de uma mudança radical, pois, como ensina o Senhor Jesus, quem é salvo passa da morte para a vida (Jo.5:24), temos uma transformação completa não no temperamento, mas no caráter.

– “…Em contraste ao temperamento, que é principalmente herdado, o caráter é ‘menos herdado’ e é moderadamente influenciado pelo aprendizado social, pela cultura e eventos casuais da vida únicos ao indivíduo(…)Três traços principais de caráter foram distinguidos: autodirecionamento, cooperatividade e autotranscendência(…). Autodirecionamento quantifica a intensidade com a qual o indivíduo é responsável, confiável, disponível, objetivo e autoconfidente.(…).

A cooperatividade quantifica a intensidade com a qual os indivíduos se consideram partes integrantes da sociedade humana.(…).

 A autotranscendência quantifica a intensidade com a qual as pessoas se consideram partes integrais do universo como um todo. …” (Décio Gilberto NATRIELLI. Neurobiologia da personalidade. Disponível em: http://www.google.com/search?q=cache:PkzTLCHLmRkJ:www.psiquiatriageral.com.br/

psicopatologia/Neurobiologia_da_Personalidade.htm+car%C3%A1ter,+personalidade,+temperamento&hl=pt-BR Acesso em: 28 nov.2004).

– Vemos, pois, que, para os psicólogos, o caráter é aquilo que é adquirido ao longo da vida, aquilo que é apreendido pelo homem no seu convívio com o ambiente onde vive, ou seja, aquilo que incorpora, conscientemente ou não, ao longo da sua história.

Ora, a Bíblia mostra-nos, claramente, que o homem, ao fazer opção entre servir a Deus ou não, acabou optando por conhecer o mal, o que lhe foi altamente desfavorável, pois, em assim fazendo, morreu espiritualmente, pois pecou e isto fez divisão entre ele e Deus.

Em virtude deste pecado, o homem se sujeito ao domínio do pecado (Gn.4:7; Jo.8:34), de tal maneira que, adquirindo a consciência, o homem, que se encontra dominado pelo pecado, cuja natureza é pecaminosa (que é a “carne” mencionada em varas passagens bíblicas, notadamente em Romanos), acaba pecando e construindo um caráter contrário à vontade de Deus.

– O homem sem Deus, portanto, dotado de uma natureza pecaminosa, outra coisa não faz senão desobedecer ao Senhor e satisfazer aos desejos da carne, praticando atitudes e ações que revelam um sentimento de autossuficiência e de egoísmo (são “amantes de si mesmos”, cfr. II Tm.3:2), que levam a um caráter altamente reprovável, despido de autodirecionamento (não segue a sua vontade, mas o curso deste mundo – Rm.7:15; Ef.2:2), de cooperatividade (não leva em conta o próximo, mas única e exclusivamente a si próprio, aos seus deleites – Lc.8:14, I Tm.5:16; Tg.4:1) e de autotranscendência (são cegos e não reconhecem a Deus como o Senhor de todas as coisas – Mt.15:14; Jo.9:41; Rm.2:17-29).

– Entretanto, quando o homem aceita a Cristo, ocorre uma verdadeira transformação no seu ser.

O espírito do homem (que é a parte do homem encarregada da ligação do homem com Deus, que é responsável pela consciência e pela fé natural) é vivificado em Cristo (I Co.15:22), pois, com o perdão dos pecados mediante o sacrifício de Cristo no Calvário, que é aceito pelo homem que se converte a Jesus, somos justificados e passamos a ter paz com Deus (Rm.5:1).

 Vivificado, o espírito passa a controlar a alma e o corpo e se submete ao Espírito Santo, mantendo com Ele comunhão pelo qual clama “Abba, Pai” (Rm.8:9-17). Neste momento, ocorre o que Jesus denominou de novo nascimento (Jo.3:3).

– A partir do novo nascimento, o homem passa a ter um novo ambiente, que é o ambiente da comunhão com o Senhor, pois o próprio Senhor vem habitar no crente (Rm.8:9, Jo.14:23) e isto fará com que seja modificado o seu caráter.

Sim, a experiência da salvação transformará a parte da personalidade do homem que é adquirida, ou seja, o caráter, que passará a ser igual a de todos os demais crentes, pois “…há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação. Um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos.” (Ef.4:4-6).

– Entretanto, cada um continua a ser diferente um do outro, porque a individualidade, como vimos, não pode ser destruída nem aniquilada, de tal sorte que o mesmo apóstolo Paulo, após enfatizar a unidade de caráter entre os crentes, faz questão de dizer que “…a graça de Deus é dada a cada um de nós, segundo a medida do dom de Cristo.…” (Ef.4:7) e, em outra passagem, “…o corpo é um e tem muitos membros e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo(…)o corpo não é um só membro, mas muitos…” (Rm12:12,14).

– Assim, se adquirimos um novo caráter, o caráter cristão, que é o que Paulo denomina de “o fruto do Espírito”, que é idêntico a todos os crentes, pois resultado da atuação do mesmo Espírito que habita em cada um deles, não devemos nos esquecer de que cada crente tem seu temperamento, que o faz diferente um do outro, mas que, necessariamente, tem de estar sob o controle do Espírito Santo.

Assim, cada crente é diferente um do outro, pois tem um temperamento distinto do de cada irmão em Cristo, e este temperamento não é modificado pela salvação, pois é resultado de obra divina, que não pode ser aniquilada pelo próprio Deus, mas este temperamento é dirigido e controlado pelo Espírito Santo, de forma que as ações e as obras do crente não são feitas em detrimento da doutrina, pois há um controle do Espírito sobre o nosso espírito e do nosso espírito sobre o nosso temperamento.

OBS: “…Você é a única pessoa na Terra que pode usar suas habilidades. Ninguém mais pode assumir o seu papel, porque ninguém mais possui a configuração exclusiva que Deus lhe deu.

A Bíblia diz que Deus equipa você com tudo o que [você necessita] para fazer a sua vontade.(Hb.13:21 – A Bíblia Viva).…” (WARREN, Rick. Uma vida com propósitos, p.211).

– O segredo, portanto, de apresentarmos um caráter cristão e de controlarmos o nosso temperamento para que este caráter se forme e, portanto, que produzamos o fruto do Espírito, é o de nascermos de novo, de realmente crermos em Jesus e deixarmos que o Espírito Santo domine a nossa vida, que submetamos o nosso espírito ao Espírito Santo e, desta forma, apesar de nosso temperamento, produziremos o fruto do Espírito.

Por isso, não podemos concordar com pessoas que querem servir a Deus “do jeito que são”, que “Deus respeita o meu modo de ser”, pois não é isto que dizem as Escrituras. Embora reconheçamos a individualidade de cada um e de que ninguém é igual a ninguém, não podemos concordar com a teoria de que “ninguém é de ninguém”.

Somos de Cristo e a Ele pertencemos, se é que realmente cremos nEle como nosso Salvador. Somos Sua propriedade, porque fomos comprados por Ele por bom preço (I Co.6:20a).

II – O CARÁTER DO HOMEM ANTES DA QUEDA

– Pelo que vemos até aqui, o homem, ao ser salvo por Cristo Jesus, tem uma transformação de caráter, caráter este que se encontrava corrompido por causa do pecado. Entretanto, quando o homem foi criado por Deus, este caráter era bom, até porque tudo quanto Deus foi muito bom (Gn.1:31).

– Logo quando o Senhor anuncia a criação do homem, afirma que este ser será feito à Sua imagem conforme a Sua semelhança (Gn.1:26), numa clara demonstração, pois, de que o homem teria um caráter exemplar, uma estrutura moral e espiritual que faria lembrar a do próprio Deus.

É, aliás, este o significado das palavras de Salomão, ao dizer que Deus fez o homem reto (Ec.7:29).

– Sendo imagem e semelhança de Deus, o homem era dotado de um caráter que o tornava o reflexo da glória do Senhor.

Olhando para o homem, era possível enxergar o próprio caráter divino, pois o homem era uma projeção de Deus na criação.

Assim como o querubim ungido, que “era perfeito nos seus caminhos, desde o dia em que foi criado até que se achou iniquidade nele” (cf. Ez.28:15), assim também era o homem.

– A primeira característica apontada por Deus neste caráter de Sua mais sublime criatura é a capacidade de liderança, o domínio sobre a criação terrena. Ao anunciar a criação, Deus disse que o homem dominaria sobre a criação terrena (Gn.1:26).

O homem, a exemplo de Deus, teria a habilidade de controlar a criação terrena, de demonstrar sua superioridade em relação a ela, a tudo dominando, a tudo administrando.

A capacidade de domínio e de liderança é essencial para que se tenha um caráter de acordo com a vontade divina e isto exige, em primeiro lugar, a separação do pecado, a santidade.

– Jesus nos ensinou ao afirmar que somente pode ter esta capacidade de domínio sobre todas as coisas, inclusive sobre si mesmo, aquele que não peca: “…Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado.” (Jo.8:34b).

Dizer que o homem dominaria sobre a criação terrena era o mesmo que dizer que ele não pecaria, que seria separado do pecado, que seria santo.

– A santidade, pois, é a primeira nota que se anuncia no caráter do homem, feito reto por Deus. Não é, pois, surpreendente, como se viu supra, que a entrada do pecado no mundo tenha corrompido este caráter original do ser humano.

O próprio Deus, ao advertir Caim, foi claro ao mostrar-lhe que era dever do ser humano impedir que esta capacidade de domínio fosse perdida por causa do pecar (Gn.4:7). O homem deveria viver sem pecar, construindo, assim, um caráter santo.

– Mas, além da santidade, que é apresentada pelo seu efeito no texto sagrado, ou seja, o domínio sobre a criação terrena, o Senhor também nos mostra que o homem feito reto era, também frutífero.

“Frutificai” foi a primeira ordem dada por Deus ao homem, revelando, assim, outra capacidade que tinha o homem que criara (Gn.1:28).

– Este “frutificar” tem sido, muitas vezes, confundido com a reprodução biológica. Entretanto, se bem analisarmos o caso, veremos que não se trata, propriamente, da reprodução, porque a ordem divina prossegue com a determinação de “multiplicação” para que se enchesse a terra, estando, assim, a reprodução da espécie relacionada com esta última determinação, mais do que a primeira.

– Ante esta consideração, a ideia da “frutificação” encontra-se vinculada a algo mais sublime que a reprodução biológica, a algo atinente à dimensão espiritual, como, aliás, o Senhor Jesus nos deixa perceber quando nos conta a parábola do semeador, em que mostra que frutifica é aquele que tem boa terra para acolher a Palavra de Deus (Mt.13:23).

Frutificar nada mais é que ouvir e compreender a Palavra de Deus, é crescer espiritualmente, ter comunhão com Deus.

– O profeta Oseias afirma que devemos conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor (Os.6:3 “in initio”, isto é, a parte inicial do versículo).

Ora, entre os hebreus, “conhecer” tem um significado de ter intimidade, de se unir profundamente, tanto que o relacionamento íntimo entre um homem e uma mulher é chamado de “conhecer” (Gn.4:1; Mt.1:25).

Assim, o que o profeta nos convida a fazer é termos intimidade com Deus, buscarmos nos unir a Ele cada vez mais, de modo ininterrupto.

– Este é o significado da determinação divina primeira no instante em que o Senhor cria o homem, a mostrar que, no caráter deste ser, estava o desejo de buscar incessantemente o seu Criador.

O homem foi feito para buscar a presença de Deus, procurar, de modo ininterrupto, o conhecimento de Deus, ou seja, a comunhão, a presença constante, a companhia do seu Criador.

Chegar-se a Deus é um traço característico do ser humano e a explicação do porquê do grande vazio que está presente nas milhões de vidas que, por causa do pecado, distantes estão do Senhor.

Esta ausência de “frutificação” é a principal responsável por tudo que o homem faz ser, como aponta o mais sábio de todos os homens, apenas vaidade (Ec.12:8 “in fine”).

– Outra nota do caráter humano que nos aponta o Senhor é a sociabilidade, ou seja, a capacidade que o homem tem de viver em sociedade, de conviver. O homem deveria se relacionar não só com Deus, o que é representado pela “frutificação”, mas, também, com outros seres humanos, pois deveria se multiplicar e encher a Terra (Gn.1:28). O homem foi feito um ser social e, como tal, deveria saber conviver com outros seres humanos.

– Notamos, assim, que o homem deveria aprender a conviver com os outros seres humanos, a se relacionar com eles de forma salutar, a levar em conta o outro em suas atitudes e ações.

Além de compartilhar a sua vida com Deus, deveria fazê-lo em relação ao próximo. Vemos, pois, que o homem deveria desenvolver o amor, seja o amor a Deus, seja o amor ao próximo, que, não por acaso, são os dois grandes mandamentos da lei (Mt.22:36-40).

– O homem foi feito para amar, amar a Deus e amar o próximo, inclusive amar a si mesmo.

A falta de amor é uma das grandes mazelas do mundo sem Deus e sem salvação, é a própria negação do propósito divino ao ser humano, uma criatura feita para projetar aquilo que de mais essencial há em Deus, que é definido pelo apóstolo João tão somente como amor (I Jo.4:8).

– Este homem santo, que busca incessantemente a Deus, que ama a Deus e ao próximo é o homem reto de que fala Salomão.

O caráter do homem se deveria, pois, construir, na separação do pecado, na busca incessante de Deus e no desenvolvimento do amor a Deus e ao próximo.

Tudo isto, porém, foi perdido quando o homem pecou, pois o pecado fez com que o homem perdesse a santidade, não pudesse mais ter comunhão com Deus e, como consequência, perdesse o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo.

III – O CARÁTER DO HOMEM DEPOIS DA QUEDA

– Com a entrada do pecado no mundo, através de um homem (Rm.5:12), temos a perda do caráter original do ser humano.

Como vimos, o caráter é adquirido através da convivência, do convívio do homem com o seu semelhante e o primeiro casal, ao pecar, perdeu o convívio com Deus e, diante disto, não tinha como construir um caráter que se conformasse aos propósitos divinos.

Esta separação entre Deus e o homem, por causa do pecado, é a morte, morte já anunciada pelo Senhor quando de Sua advertência para que houvesse obediência à Sua Palavra (Gn.2:16,17).

– A morte espiritual impediu que o homem pudesse desenvolver um caráter de acordo com os propósitos divinos.

Separado de Deus, o homem foi dominado pelo pecado e surge dentro de si a natureza pecaminosa, a natureza corrompida, a iniquidade que impede que o homem seja reto, como havia sido criado por Deus.

A retidão, que nada mais é que o desenvolvimento do caráter segundo o propósito do Criador, é perdida e, em seu lugar, surgem as “muitas invenções”, as “muitas intrigas” em que o homem é envolvido, para se utilizar aqui do texto de Ec.7:29 da “Bíblia Hebraica”, como foi denominada a tradução em língua portuguesa feita por David Gorodovits e Jairo Fridlin.

– Após a queda, o homem passou a ser um servo do pecado (Jo.8:34), nada mais fazendo senão o desejo de sua natureza pecaminosa (Rm.7:14-24), que o atrai e o leva, inevitavelmente, ao pecado (Tg.1:14,15).

Seu caráter, portanto, passa a ser moldado pelo pecado, distorcendo a imagem e semelhança de Deus que lhe foram impressas no momento de sua criação.

– Desde a narrativa da queda do primeiro casal, percebemos como é diferente o homem pecador daquele propósito estabelecido por Deus. De dominador, de capaz de sujeitar toda a criação terrena, o homem passa a ser dominado pelo pecado que nele está.

A concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida (I Jo.2:16) fazem com que o homem, seguidamente, vá desagradando a Deus, numa escalada ilimitada, um abismo chamando outro abismo (Sl.42:7), numa continuidade da prática do mal (Gn.6:5), que consegue superar a medida da longanimidade e da misericórdia do Senhor, a ponto de exigir dEle a aplicação de juízos, como o dilúvio, a confusão das línguas, a destruição de Sodoma e Gomorra, as pragas do Egito, a destruição dos povos que habitavam Canaã, entre outros.

– Este caráter pecaminoso tem se mantido ao longo dos séculos e perdurará até o instante do juízo final que Deus aplicará sobre todos aqueles que O rejeitaram e a Seu Filho.

Lamentavelmente, milhões e milhões serão aqueles que, apesar da obra salvadora de Jesus Cristo, optarão pela manutenção sob a escravidão do pecado e, por causa disto, não alcançarão a vida eterna, mas serão lançados no lago de fogo e enxofre.

Que Deus nos guarde e que possamos, o quanto antes, aceitar o convite da salvação na pessoa bendita de Cristo Jesus e passarmos a ser uma nova criatura, passando da morte para a vida (Jo.5:24), passagem esta que se verifica pela mudança de caráter, pois só quando nos separamos do pecado, buscamos incessantemente a Deus e, por causa disto, amamos a Deus e a nossos irmãos, podemos dizer que, realmente, temos a vida eterna (I Jo.3:14).

– O caráter do homem pecaminoso está bem descrito pelo apóstolo Paulo em II Tm.3:1-5. Numa extensa lista, o apóstolo apresenta quais são as notas marcantes do caráter do pecador.

– A santidade originariamente estabelecida por Deus ao homem é completamente distorcida pelo pecado.

Em sendo santo, como vimos, o homem teria a capacidade de dominar sobre toda a criação terrena, de sujeitá-la.

No entanto, vivendo em pecado, seu caráter apresenta um homem escravizado, sem domínio sequer sobre si mesmo, que dirá sobre as demais criaturas.

O caráter do homem pecador tem as seguintes notas que negam o propósito divino da santidade, a saber:

a) avarento – o homem pecador está escravizado pelo amor do dinheiro. Serve a Mamom, é um idólatra (Mt.6:24; Lc.16:13; Cl.3:5).

b) desobediente a pais e mães – o homem pecador é um desobediente, não aceita qualquer autoridade, inclusive a de seus próprios pais.

c) incontinente – o homem pecador não tem domínio sobre si mesmo, é escravo do pecado e, por isso, não consegue conter os seus desejos e paixões, é um desequilibrado.

c) profano – o homem pecador não distingue o que é santo do que é profano, o que é dedicado a Deus do que não o é, gerando a abominação do Senhor.

d) tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela – o homem pecador não tem a essência divina, nele não habita o Espírito Santo e, por isso, todas as suas atitudes negam a imagem e semelhança de Deus que ele parece ostentar.

– Mas, além de não ser santo, o homem pecador também não frutifica, não busca a Deus nem está interessado em dele se aproximar.

Cada vez mais se distancia do seu Criador, desprezando-O completamente. O caráter do homem pecador tem as seguintes notas que negam o propósito divino da frutificação, a saber:

a) presunçoso – o homem pecador acha-se superior aos demais e ao próprio Deus e, por isso, nem sequer procura a presença de Deus ou a Sua companhia.

b) soberbo – o homem pecador é autossuficiente, acha que não precisa de pessoa alguma, inclusive de Deus.

Por isso, não vai ao encontro do Senhor nem pede a Sua misericórdia. Deixa Jesus do lado de fora da sua vida, como fizeram os crentes de Laodiceia, que, por se acharem ricos e sem falta de coisa alguma, assim fizeram com o Senhor, que ficou à porta, batendo (Ap.3:17,20).

c) blasfemo – o homem pecador, como não busca a Deus, injuria-O, ataca-O com palavras, pois a boca fala do que procede do coração (Mt.15:18) e, portanto, como o coração do homem pecador despreza a Deus, a boca revela este desprezo por meio de blasfêmias.

d) obstinado – o homem pecador não ouve a voz de Deus, sempre endurece o seu coração, é uma pessoa obstinada, surda à sabedoria divina.

– Por fim, o caráter do homem pecador não tem amor, seja o amor a Deus, seja o amor ao próximo. Separado de Deus por causa do pecado bem como sem querer buscá-l’O, o homem não tem, mesmo, como ter amor, vez que Deus é amor e não há outra fonte possível de obtê-lo a não ser no Senhor.

O caráter do homem pecador tem as seguintes notas que negam o propósito divino do amor, a saber:

a) amante de si mesmo – a primeira nota que Paulo aponta no homem pecador é a total impossibilidade de relacionamento com Deus e com o próximo. O pecador somente olha para si mesmo, ama a si mesmo, ou melhor, acha que ama a si mesmo, pois, se realmente se amasse, aceitaria a oferta de salvação na pessoa de Jesus Cristo.

O homem pecador tudo faz apenas para saciar a natureza pecaminosa que o domina, o “corpo da morte” mencionado por Paulo (Rm.7:24).

b) ingrato – o homem pecador é incapaz de agradecer e retribuir ao favor seja de Deus, seja do próximo. Não sabe nem tem condições de aprender o que é agradecer, ser grato.

c) sem afeto natural – o homem pecador é incapaz de ter afetividade, de ter afeição por alguém. Só pensa nele, ou antes, em satisfazer os desejos incontidos que estão em si mesmo, a concupiscência.

d) irreconciliável – o homem pecador é incapaz de ter verdadeiros relacionamentos com os outros. Não consegue se reconciliar com quem frustrou os seus interesses, jamais perdoa ou quer bem a outrem.

e) cruel – o homem pecador tem prazer no sofrimento do outro, desde que isto signifique a satisfação dos seus interesses imediatos.

f) sem amor para com os bons – o homem pecador não tem amor, é ruim e, por isso, a existência de pessoas boas o incomoda e gera nele um ódio, que o leva ao desejo de eliminação dos bons que se encontram à sua volta.

g) traidor – o homem pecador não sabe o que é honrar a confiança do outro, não sabe o que é lealdade. Não tem amigos, apenas interesses e, por isso, trai com facilidade, desde que isto lhe traga benefícios imediatos.

h) orgulhoso – o homem pecador, na sua convivência com os demais, em vez de aprender com os outros e lhes dar valor, engrandece-se, entende-se superior aos demais, “incha” e, por isso, menospreza os demais, inclusive a Deus. Não sabe se relacionar, isola-se, esquecendo-se de que é menos que nada (Is.40:17).

i) mais amigo dos deleites do que amigo de Deus – o homem pecador não tem interesse algum em amar a Deus. Ama tão somente aos prazeres buscados pela sua natureza pecaminosa e entre esta satisfação e Deus, sempre busca a satisfação.

– O homem pecador adquire, ao longo de sua existência, maus hábitos, na sua convivência com o pecado, distancia-se cada vez mais do Senhor.

Por isso, diz o apóstolo, “aprendem sempre e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade” (II Tm.3:7).

São homens que “…resistem à verdade, (…) corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé. Não irão, porém, avante, porque a todos será manifesto o seu desvario…” (II Tm.3:8,9).

– Este caráter tão distante do propósito divino é o produtor do que o apóstolo denomina, na sua carta aos gálatas, de “obras da carne” (Gl.5:19-21), uma lista extensa e que é tão somente enumerativa, ou seja, as ações são tantas que o apóstolo, após ter apontado dezesseis condutas reprováveis, termina dizendo que existiam outras “semelhantes àquelas”, não esgotando, assim, as maldades possíveis, pois o homem pecador, lamentavelmente, possui uma imaginação continuadamente má (Gn.6:5).

 Por isso, o pecado se multiplica, máxime nos dias em que estamos a viver (Mt.24:12).

IV – A SALVAÇÃO EM JESUS CRISTO TRANSFORMA O CARÁTER DO HOMEM E RESTABELECE O PROPÓSITO DIVINO DA SANTIDADE E DA FRUTIFICAÇÃO

– No entanto, é esta é a boa notícia que Deus traz ao homem, o “Evangelho”, o homem pode ser liberto da sua natureza pecaminosa e tornar a ter a imagem e semelhança de Deus que foi distorcida quando da queda do primeiro casal.

Jesus veio trazer vida, isto é, tornar a estabelecer um convívio, uma comunhão entre Deus e o homem.

– Ao vir ao mundo para morrer por nós na cruz do Calvário, o Senhor Jesus tinha como objetivo tornar possível a reconstrução do caráter do homem.

Morrendo em nosso lugar na cruz, Cristo pagou o preço do pecado e, assim, tirou o pecado do mundo (Jo.1:29 “in fine”). Tirando o pecado, tirou a parede de separação que havia entre Deus e o homem (Is.59:2; Ef.2:13-19), de modo que podemos nos tornar santos uma vez mais(I Co.1:2; 6:11; 10:10,14).

Tendo sido santificados e nos mantendo santos em toda a nossa maneira de viver (I Pe.1:15), tornamos a ter domínio sobre o pecado e, desta maneira, voltamos a corresponder ao propósito divino da santidade.

Por isso, Jesus foi tão enfático: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres” (Jo.8:36).

– Mas, quando Jesus veio, não só tirou o pecado do mundo, mas nos trouxe a revelação completa do Pai, apresentou em toda a sua plenitude a Palavra de Deus, pois Ele é o Verbo (Jo.1:1).

O Senhor Jesus nos fez conhecer tudo quanto havia ouvido do Pai (Jo.15:15). Ora, a Palavra de Deus, além de ser o principal instrumento da nossa santificação (Jo.17:17), é também a semente que, caindo em boa terra, permite a frutificação (Mt.13:19,23).

Assim, Jesus, também, trouxe ao caráter do homem, novamente, o propósito divino da frutificação.

– Em vez das “obras da carne” produzidas pelo caráter pecaminoso, Jesus nos chama para que demos fruto e fruto permanente (Jo.15:16), o fruto do Espírito, como o denomina o apóstolo Paulo (Gl.5:22).

Este fruto do Espírito é o que caracteriza o verdadeiro discípulo de Jesus, como o Senhor deixa explicitado na abertura do sermão do monte, ao falar das bem-aventuranças (Mt.5:3-12).

Foi precisamente este o estudo do trimestre anterior, razão pela qual não nos deteremos muito nesta análise, já que acabamos de estudar este tema.

V – A SALVAÇÃO EM JESUS CRISTO TRANSFORMA O CARÁTER DO HOMEM E RESTABELECE O PROPÓSITO DIVINO DO AMOR

– Mas, no trabalho de Cristo Jesus, temos, ainda, a restauração do caráter em conformidade com o propósito divino no tocante ao amor.

Já na frutificação, vimos que a qualidade mais importante do fruto do Espírito é o amor, o amor de Deus que é derramado em nossos corações (Rm.5:5).

Por isso, o apóstolo é tão incisivo, na sua primeira carta aos coríntios, ao afirmar que não é possível haver um caráter cristão sem amor.

Se houver amor, tudo o restante pode faltar, que ainda se terá um verdadeiro cristão, mas se o amor faltar, tudo o mais não torna alguém um genuíno e verdadeiro filho de Deus (I Co.13).

– Mas quais são as características deste amor que nos é dado pelo Espírito Santo no momento em que nascemos de novo ? Paulo apresenta-as no já referenciado capítulo 13 de I Coríntios e, resumidamente, poderemos elencá-las aqui.

– O amor é sofredor (I Co.13:4), ou seja, quem tem o verdadeiro amor proveniente de Deus não se importa com o sofrimento, com o padecer. Quem ama, sofre se este sofrimento representa o bem do ente amado.

O amor divino é altruísta, ou seja, vê o benefício do outro e vive em função do outro, não de si mesmo. “… A caridade é sofredora, tendo paciência com pessoas imperfeitas.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, nota I Co.13.4-7, p.1190).

Por causa do amor divino, Jesus tudo padeceu e sofreu para nos salvar. Paulo adverte-nos que o amor tudo sofre (I Co.13:7). Quem não admite o sofrimento, quem não tolera o padecer (como os defensores da confissão positiva ou da teologia da prosperidade), não ama e, portanto, não é filho de Deus.

Nós admitimos sofrer ? Nós somos capazes de sofrer ? Eis um belo termômetro do amor divino em nós !

– O amor é benigno (I Co.13:4), ou seja, quem tem o verdadeiro amor proveniente de Deus não é malicioso, não tem má-fé, más intenções (ou, como se diz, “segundas intenções”).

Quem ama sempre é movido pela boa-fé, pela pureza de propósitos, de intenções e de pensamentos. “…Como temos pensado ? O que temos imaginado ? É algo puro e próprio de alguém que tem uma mente limpa e que só deseja o bem dos que o cercam ?

Se não há este tipo de pensar, de vontade e de intenção, não podemos dizer que amamos e, assim, não seremos um autêntico filho de Deus. Jesus bem demonstra esta qualidade ao perdoar aqueles que O cravavam na cruz !

– O amor não é invejoso (I Co.13:4), ou seja, quem tem o verdadeiro amor não cobiça o que é do próximo, não se incomoda com o sucesso, o êxito e o bem-estar do seu semelhante.

A inveja, diz-nos a Escritura, é a podridão dos ossos (Pv.14:30b) e, em razão dela, ocorreu o primeiro homicídio.

Queiramos o progresso e o sucesso do próximo, alegremo-nos com a alegria do outro, não cobicemos as suas bênçãos, nem a sua posição.

Jesus, sendo o próprio Deus, fez questão de prometer e destinar aos Seus servos maior êxito e maior sucesso ministerial do que o dEle próprio (Jo.14:12).

Se não agüentamos o bem do próximo, o sucesso do nosso vizinho, do nosso irmão, do nosso companheiro de trabalho, cuidado, este é um sinal evidente de que nós não amamos e que, portanto, não é um verdadeiro filho de Deus.

– O amor não trata com leviandade (I Co.13:4), ou seja, não busca a vanglória, não tem o objetivo de alcançar a vaidade, o poder pelo poder, a satisfação pela satisfação. Muito pelo contrário, o verdadeiro amor sempre tem uma finalidade:

o de obter a glorificação de Deus. Jesus tudo fez neste mundo para que o nome do Senhor fosse glorificado (Jo.17:4) e deve ser este o comportamento de todo verdadeiro cristão (Mt.5:16).

Quais têm sido os objetivos, os fins perseguidos por nós ? Se é a vanglória, a glória vã, a glória humana, a glória do mundo, passageira e transitória, este é um fator que está a indicar que não se tem amor, que não se é um filho de Deus.

– O amor não se ensoberbece (I Co.13:4), ou seja, o amor não gera orgulho. O amor proveniente de Deus não cria uma autossuficiência no homem, não o faz sentir melhor do que os outros, não faz nascer um senso de superioridade em quem ama.

Por isso, em lições anteriores, reafirmamos que nenhum dom espiritual ou o batismo com o Espírito Santo podem gerar no crente uma sensação de santidade diferenciada em relação aos demais crentes.

Isto não pode ocorrer, pois, se o crente batizado com o Espírito Santo ou portador do dom espiritual permanece no amor de Jesus (Jo.15:9,10), o amor não gera o orgulho.

O orgulho só exsurge quando se acha iniquidade no ser orgulhoso, exatamente do mesmo modo que ocorreu com o diabo (Is.14:12-14 c.c. Ez.28:15). Jesus dá-nos o exemplo, pois é o professor da humildade (Mt.11:29).

– O amor não se porta com indecência (I Co.13:4), ou seja, quem ama não é indecente, segue os bons costumes, demonstra pudor, recato e respeito. Quem ama é puro, tem autoridade moral, sendo transparente e de excelente reputação.

Será, sim, criticado, mas as críticas que lhes forem feitas, apenas servirão para evidenciar o seu bom testemunho e o bom porte apresentado diante de Deus e dos homens (I Pe.2:12).

Jesus mostrava esta autoridade (Mt.7:29; Jo.8:46) e nós devemos ser Seus imitadores (I Co.11:1). Podemos dizer que nos portamos com decência ? Só os decentes são autênticos filhos de Deus.

– O amor não busca os seus interesses (I Co.13:5). Como já dissemos, o amor proveniente de Deus é altruísta, leva em conta o outro, não está interessado em si mesmo, nem em seu próprio benefício, mas antes quer o benefício do outro.

 “… À diferença do amor passional e egoísta, a caridade (agapé) é um amor de dilecção, que quer o bem do próximo.

A sua fonte está em Deus, que amou primeiro ( I João 4,19), e entregou Seu Filho para reconciliar consigo os pecadores…” (A Bíblia de Jerusalém – Novo Testamento, nota s, p.470).

Jesus é o exemplo supremo de desprendimento e de busca exclusiva do interesse do outro (Rm.5:8). Será que temos corrido em busca do benefício dos outros, ou temos pensado apenas em nós mesmos ? Se somos egoístas, se o “eu” prevalece nas nossas atitudes, não amamos e, portanto, não somos autênticos filhos de Deus.

– O amor não se irrita (I Co.13:5), ou seja, o amor apresenta uma mansuetude, uma tranquilidade, irradia uma paz que é diferente das promessas de paz oferecidas pelo mundo.

A paz daquele que ama é, precisamente, a paz de Cristo (Jo.16:33), a paz verdadeira. O amor não é irritante, não provoca contendas, divisões, nem se envolve em competições e em tarefas de destruição do próximo.

O amor tudo suporta (I Co.13:7). Temos tratado as pessoas com brandura, com ternura ? Damos respostas brandas, oportunas, ou somos estúpidos e irritadiços ?

A agitação da vida moderna tem-nos feito estressados, nervosos, “estourados” ? Quem ama, não importa qual circunstância esteja vivendo, não se irrita, não causa contenda, nem provoca dissensões. Somos coerdeiros daquele que é o Príncipe da Paz (Is.9:6).

– O amor não suspeita mal (I Co.13:5), ou seja, quem ama não faz suposições maldosas contra o próximo, não é preconceituoso, não julga precipitadamente pela aparência, não se acha superior aos demais.

Jesus determinou que não devemos julgar com base na aparência, mas de acordo com a reta justiça (Jo.7:24).

O amor tudo crê (I Co.13:7), é crédulo, não é desconfiado nem tendencioso. Será que temos tratado as pessoas sem preconceitos, sem suspeitas, ou temos estado com nossos espíritos prevenidos, levando em conta tão somente a aparência do próximo, como se fôssemos juízes dos demais (Tg.4:12). J

esus nunca suspeitou os outros mal, a ponto de, mesmo sabendo que estava sendo traído, ter chamado Judas de amigo (Mt.26:50).

– O amor não folga com a injustiça (I Co.13:6), ou seja, o amor não compactua com a injustiça, nem a admite ou tolera. Quem ama, não pratica a injustiça, pois o filho de Deus é um praticante da justiça (I Jo.3:10).

Jesus, a quem devemos imitar, é justo (At.3:14). Somente quem pratica a justiça poderá habitar no tabernáculo do Senhor (Sl.15:1,2).Temos sido justos com nossos semelhantes ? Temos dado a cada um o que é seu ?

– O amor folga com a verdade (I Co.13:6), isto é, o amor sempre opta pela verdade, jamais se manifesta através ou por intermédio da mentira ou do engano. Por isso, Deus, que é amor, também é verdade (Jr.10:10).

Jesus, como Deus que é, também é a verdade (Jo.14:6). A Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17) e, por isso, quem ama tem prazer em obedecer aos mandamentos do Senhor. Aliás, permanecer no amor de Deus é obedecer a estes mandamentos (Jo.15:10).

Temos falado a verdade ? Temos desejado a verdade, ou temos nos enganado e enganado aos demais ? Temos prazer e vontade em cumprir a Palavra de Deus, ou estamos a questioná-la ? Quem ama, alegra-se com a prática da verdade.

– Como podemos perceber pelas características do amor divino, que é o amor do Espírito Santo que é derramado nos corações dos filhos de Deus (Rm.15:30; Cl.1:8), fazem deste amor algo bem prático, isto é, o amor divino não é uma teoria, não é um estado mental, mas é um conjunto de ações concretas, de atitudes efetivas que devem ser feitas pelos servos de Deus, não apenas faladas, pensadas ou meditadas.

“…Nos vv.4-7, a caridade é descrita por uma série de quinze verbos. É caracterizada não de maneira abstrata, mas pelo comportamento que ela suscita.…” (A Bíblia de Jerusalém – Novo Testamento, nota u, p.471).

Como Jesus deixou bem explícito na parábola dos filhos(Mt.21:28-32), o filho que agrada a Deus é apenas aquele que faz o que o Pai deseja, não o que fala que vai fazer e não faz. Jesus não somente ensinou, mas também fez (At.1:1; 10:38).

O amor divino não é um amor de palavras, de língua, mas um amor de ações, de atitudes e gestos concretos que revelam este amor (I Jo.3:18; Tg.2:14-26).

Preocupamo-nos muito, nestes nossos dias tão difíceis, com pessoas que se dizem crentes, mas que se recusam a ajudar os necessitados, mesmo os domésticos da fé.

Estes, segundo as Escrituras, não são verdadeiros filhos de Deus (I Jo.3:17).

As obras não salvam pessoa alguma, mas quem ama, pratica boas obras. “… Discipline-se na prática do amor (agape) em cada atitude, pensamento, palavra e ação.” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. Verdade em ação no livro de I Coríntios, p.1197).

OBS: “…Essa seção descreve o amor divino através de nós coo atividade e comportamento, e não apenas como sentimento ou motivação interior.

Os vários aspectos do amor, neste trecho, caracterizam Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Sendo assim, todo crente deve esforçar-se para crescer nesse tipo de amor.” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, nota a I Co.13:4-7, p.1759).

– Este é o caráter que deve apresentar todo aquele que for salvo na pessoa de Jesus Cristo.

É evidente que este caráter vai sendo moldado a cada dia, pois, como visto, o caráter é adquirido, é uma nota da personalidade que depende da convivência, do passar do tempo.

Por isso, devemos correr a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, o autor e consumador da nossa fé (Hb.12:12:1,2).

Olhar para Jesus é olhar para a Palavra de Deus, pois Jesus é a Palavra (Ap.19:13). Eis o motivo pelo qual estaremos, a partir da próxima lição, estudando a vida de algumas personagens bíblicas, a fim de que, com elas, aprendamos a moldar nosso caráter cada vez mais para cumprirmos este tríplice propósito de santidade, frutificação e amor.

Que possamos aprender na Palavra a agradar mais e mais ao nosso Deus. Amém!

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/70-licao-1-a-natureza-do-carater-cristao

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