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LIÇÃO Nº 12 – EXORTAÇÕES FINAIS NA GRANDE MARATONA DA FÉ

O autor aos hebreus termina o livro com diversas exortações aos destinatários da carta.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo da carta aos hebreus, analisaremos os capítulos 12 e 13.

O autor aos hebreus termina o livro com diversas exortações aos destinatários da carta.

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I – O EXEMPLO DE JESUS

– Na sequência do estudo da carta aos hebreus, analisaremos os capítulos 12 e 13 do livro.

Como afirma o comentarista bíblico Matthew Henry (1662-1714), a epístola aos hebreus passa, a partir do capítulo 10, versículo 19 tem a sua “parte prática”, ou seja, após o autor ter demonstrando a supremacia de Cristo e a total irrazoabilidade da ideia dos destinatários da carta de abandonarem a fé em Cristo Jesus e retornarem ao judaísmo, passa a fazer exortações àqueles crentes para que tivessem uma sadia vida cristã.

– Assim, após ter dito como devemos nos dirigir a Deus, ante a supremacia de Cristo, tendo ousadia para entrar no santuário, chegando em inteira certeza de fé e com o coração lavada com água limpa, alertando, uma vez mais, contra os perigos da apostasia e demonstrando a necessidade de termos fé, tendo, então, apresentado a “galeria dos heróis da fé”.

– Após dar uma importantíssima lição de que os grandes nomes do Antigo Testamento venceram pela fé, o autor aos hebreus passa a trazer o exemplo principal que devemos seguir, qual seja, o exemplo de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo que, em relação a todos aqueles servos de Deus mencionados, é superior.

– Com efeito, diante do testemunho dos antigos, que havia sido mencionado anteriormente, o autor concita os seus leitores a deixar o embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e correr com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da nossa fé (Hb.12:1,2).

– O testemunho dos antigos deve produzir no cristão uma atitude importantíssima, que é a de deixar o embaraço.

No texto original grego a palavra traduzida na Versão Almeida Revista e Corrigida por é “ogkos” (ογκος), cujo significado é de “peso”, “carga”, “empecilho”, ou seja, algo que torna mais dificultoso o caminhar, algo que pode determinar a queda.

– “…Visto que o apóstolo se utiliza da metáfora de uma pista de corrida, ele solicita a que estejamos desembaraçados, pois não há maior obstáculo à rapidez do que nos encontrarmos sobrecarregados com excesso de bagagem.

Deparamo-nos com todo gênero de cargas que nos atrasam e embaraçam nossa corrida espiritual, ou seja, o apego a esta presente vida, os deleites que o mundo proporciona, os apetites da carne, as preocupações terrenas, as riquezas e as honras, bem como outras coisas desse gênero.

Todo aquele que porventura queira competir na corrida de Cristo deve antes desvencilhar-se de todo e qualquer entrave; porquanto, por natureza já somos mais lentos do que deveríamos ser; de sorte que não permitamos que outras causas nos sirvam de atraso.…(CALVINO, João. Comentário de Hebreus. Trad. de Válter Graciano Martins, p.336).

OBS: “Na Grécia antiga, era permitido aos escravos correrem ao lado das pessoas livres nas competições olímpicas.

Foram criadas leis especiais que asseguravam ao escravo a liberdade, se este fosse vencedor do prêmio.

A coroa da vitória era posta na sua cabeça e automaticamente aquele escravo recebia para sempre a sua liberdade.

No entanto, durante as competições eram colocadas joias preciosas no trajeto percorrido pelos atletas.

O objetivo disso era despertar o interesse do escravo a fim de que seus passos fossem “embaraçados”, ao se deter para apanhar as joias.

Muitos eram levados pela tentação de pegá-las e assim, não cruzavam a linha de chegada em primeiro lugar, perdendo o prêmio e, consequentemente, a liberdade.

Paulo lembrou estes acontecimentos quando comparava os obreiros cristãos aos atletas, advertindonos:

‘… Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível’ (I Co. 9:24,25).…” (SILVA, Severino Pedro da. Hebreus: as coisas grandes e novas que Deus preparou para você, pp.243-4).

O embaraço não é pecado, mas é algo que pode nos levar ao pecado, que pode nos atrapalhar em nossa jornada para o céu.

O autor relembra-nos que, a exemplo dos patriarcas, estamos numa peregrinação terrena (Hb.11:9,13) e, portanto, nada desta vida pode nos fazer perder o alvo, o objetivo que é buscar a pátria celestial (Hb.11:10,15,16).

Os crentes judeus estavam buscando conviver “sem problemas” com os seus compatriotas em meio à tensão que se vivia com os romanos, querendo “inclusão” na sociedade israelita, desconsiderando a pátria celeste para onde estavam a ir desde o momento em que haviam crido em Cristo Jesus.

OBS: “…1. Todo embaraço, isto é, todo sentimento e preocupação excessivos pelo corpo e pela presente vida no mundo.

A preocupação excessiva por esta vida, ou a predileção por ela, é um peso morto sobre a alma, que a puxa para baixo quando esta deveria subir, e a puxa para trás quando deveria incentivá-la a ir adiante; torna os deveres e dificuldades mais pesados do que seriam por si só.…” (HENRY, Matthew. Comentário bíblico. Novo Testamento – Atos a Apocalipse. Trad. de Luís Aron et alii, p.811).

Além do embaraço, é necessário, também, deixar o pecado que tão de perto nos rodeia.

O autor aos hebreus diz-nos algo que nos causa espécie. Por não ser o embaraço pecado, seria razoável pensarmos que o embaraço está mais próximo de nós do que o próprio pecado.

No entanto, o escritor quer deixar bem claro aos seus leitores que o pecado não está longe de nós.

Muito pelo contrário, o pecado está bem perto, rodeia-nos e, portanto, todo o cuidado é pouco para aqueles que estão se dirigindo aos céus.

O servo do Senhor encontra-se nas mãos do Senhor (Jo.10:27-29),

no esconderijo do Altíssimo,

à sombra do Onipotente (Sl.91:1),

um lugar extremamente seguro, onde o maligno não lhe pode tocar (I Jo.5:18).

Por isso, Esdras e o povo que com ele voltou para Jerusalém, por estar debaixo da mão do Senhor, não pôde ser impedido de chegar até seu destino pelos inimigos, ainda que tenham eles tentado fazê-lo (Ed.8:31).

– Como se isto fosse pouco, os servos do Senhor ainda têm o privilégio de serem

templo do Espírito Santo (Jo.14:17; I Co.6:19; Ef.2:22),

obtendo o discernimento espiritual para poder se afastar de todas as astutas ciladas e ardis do diabo (I Co.2:15,16; Ef.,6:11; II Co.2:10,11).

– Apesar de toda esta proteção, o fato é que o pecado nos rodeia de bem perto e, por isso mesmo, não podemos

dar lugar ao diabo (Ef.4:27)

nem permitir que a carne, isto é, nossa natureza pecaminosa, saia da sua condição de crucifixão em que foi colocada quando de nossa decisão por Cristo (Gl.5:24)

nem tampouco que passemos a amar o mundo (I Jo.2:15), que está no maligno (I Jo.5:19),

devendo nos conservar a nós mesmos separados do pecado pois só assim chegaremos até a glorificação (I Jo.5:18; Hb.10:39).

– A vida cristã, diz-nos o autor aos hebreus, é uma carreira e, neste passo, o autor retoma a mesma figura utilizada pelo apóstolo Paulo na carta aos coríntios, quando nos fala do “atleta cristão” (I Co.9:24-27) ou quando se considerou um corredor na sua última epístola, quando diz ter “acabado a carreira e guardado a fé” (II Tm.4:7).

– Tal carreira, como diz o título de nossa lição, é uma “maratona da fé”, pois se trata de uma “corrida de resistência”, como o é a mais longa de todas as provas de atletismo, a “maratona”, onde o importante não é a velocidade, mas a resistência, a capacidade de superação, onde a chegada é, em si mesma, uma vitória.

Por isso, a carreira deve ser “com paciência”, que é a palavra grega “ypomone” (υπομονή), que tem o significado de “persistência”, “perseverança”, “paciente espera”.

– Para tanto, o autor aos hebreus diz que o cristão deve atentar para o exemplo de Jesus.

Se as personagens das Escrituras hebraicas eram inspiradoras e deveriam ser imitadas como “heróis da fé”, Jesus, uma vez mais, é apresentado como alguém que deve ser considerado como superior.

É a Cristo que devemos olhar, pois, se as personagens mencionadas anteriormente eram “heróis da fé”, o Senhor Jesus é o autor e o consumador da fé e, como tal, está acima de todos os demais.

OBS: “…(1) O que o Senhor Jesus é para o seu povo: Ele é o autor e consumador da fé – o iniciador, aperfeiçoador e galardoador dela.

[1] Ele é o autor da nossa fé; não somente o seu objeto, mas o seu autor.

Ele é o grande líder e precedente da nossa fé, ele confiou em Deus;

Ele é o que obteve por seu sangue o Espírito de fé,

o que proclamou a regra de fé,

a causa eficiente da graça da fé, e em todos os aspectos é o autor da nossa fé.

[2] Ele é o consumador da nossa fé; Ele é aquele que cumpre e é o cumprimento de todas as promessas e profecias das Escrituras; Ele é o aperfeiçoador do Cânon das Escrituras;

Ele é o aperfeiçoador da graça, e da obra da fé com poder na alma das pessoas; e Ele é o juiz e galardoador da nossa fé; Ele determina quem são os que alcançam o alvo, e dele, e nele, eles têm o prémio.… “ (HENRY, Matthew. op.cit., p.812).

– A fé salvadora é gerada pelo ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17) e, quando esta fé é apropriada pelo homem, que, em si já possui a fé inata, que é uma das faculdades de nosso espírito, temos a geração do novo homem, a nova criatura, fruto da regeneração (II Co.5:17; Gl.6:15; I Pe.1:23; I Jo.5:18).

– O Senhor Jesus dá-nos o exemplo maior, pois, vindo a este mundo, suportou a cruz e as contradições dos pecadores, pelo gozo que Lhe estava proposto, desprezando a afronta, tendo como recompensa o assentar-se à destra do trono de Deus (Hb.12:2,3).

Devemos, pois, assim como Cristo, suportar a cruz, pois cada um, quando crê em Cristo, toma a sua cruz de cada dia (Mt.10:38; 16:24; Mc.8:34; Lc.9:23; 14:27), cruz esta que nada mais é que o

“vitupério de Cristo” (Hb.11:26), o

“ódio do mundo” (Jo.15:19),

sendo, simultaneamente, a missão que nos é confiada pelo Senhor (Jo.12:23-27).

– Quando suportamos a cruz, também suportamos as contradições dos pecadores, pois o cristão, por não ser do mundo (Jo.17:14), é um “corpo estranho” no mundo, que está no maligno, e, assim, temos no mundo aflições (Jo.16:33),

sendo inevitavelmente perseguidos e injuriados durante nossa peregrinação terrena (Mt.5:11,12; At.7:52). Jesus foi contraditado (Lc.2:34) e odiado (Jo.15:19) e assim será todo aquele que seguir as Suas pisadas (I Pe.2:20,21).

– Tudo isto fazemos porque, a exemplo do Senhor Jesus, devemos ter por alvo o gozo que nos está proposto, ou seja, devemos nos guiar pelos “olhos da fé”, crendo naquilo que não vemos ainda, mas que já esperamos, que é a vida eterna, a ida para as mansões celestiais, para onde o Senhor nos prometeu levar (Jo.14:1-3).

Temos de ter bem-aventurada esperança e, assim, aguardar o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo (Tt.2:13), esperar a nossa cidade que está nos céus, de onde esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo,

que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o Seu corpo glorioso (Fp.2:20,21), purificando-nos, assim, a nós mesmos, para que alcancemos o dia em que seremos semelhantes a Cristo e veremos como Ele é (I Jo.3:2,3).

– Mas, além de fé e esperança, devemos, também, amar a Sua vinda (II Tm.4:8), ou seja, devemos amar a Deus e a Cristo (I Jo.4:7,19) e quem tem este amor não vive em pecado, não ama o mundo (I Jo.2:15).

– O autor aos hebreus mostra que não há como chegarmos à glorificação se não suportarmos a cruz.

Jesus é o caminho e o caminho de Cristo passa pela cruz antes de chegar à glorificação.

Por isso, concita os seus leitores a seguir o exemplo de Cristo, suportando as contradições dos pecadores e, se necessário fosse, resistir até ao sangue, combatendo contra o pecado (Hb.12:4), como, aliás,

haviam feito Tiago, o irmão do Senhor e pastor da igreja de Jerusalém, e outros cristãos que haviam sido, na época da epístola, mortos por ordem do sumo sacerdote.

OBS: Flávio Josefo registra este assassínio de cristãos que pode ter sido o fator que levou muitos crentes judeus a considerar o abandono da fé em Cristo:

“…Morrendo Festo, Nero deu o governo da Judeia a Albino e o rei Agripa tirou a grã-sacrificadura de José para dá-la a Anano. (…).

Ele aproveitou o tempo da morte de Festo, e Albino ainda não tinha chegado, para reunir um conselho, diante do qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo, e alguns outros: acusou-os de terem desobedecido às leis e os condenou ao apedrejamento.

Esse ato desagradou muito a todos os habitantes de Jerusalém, que eram piedosos e tinham verdadeiro amor pela observância de nossas leis…” (Antiguidades Judaicas, XX, 8, 856. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.2, p.203).

– Somente aquele que perseverar até o fim será salvo (Mt.24:13) e, por isso mesmo, o Senhor nos adverte que devemos ser fiéis até a morte (Ap.2:10).

II – A NECESSIDADE DA DISCIPLINA

– Após nos falar do exemplo de Jesus, o autor aos hebreus passa a dizer da necessidade de aceitarmos a correção divina, pois somos filhos de Deus e, como tal, debaixo da autoridade do Pai, que é o Senhor.

– Ao falar da necessidade de nos submetermos à correção do Senhor logo após dizer da necessidade de perseverarmos até o fim e inclusive, se necessário for, morrer por causa da fé em Cristo, o autor aos hebreus revela algo muito importante:

nem sempre as dificuldades que passamos nesta vida decorrem da oposição natural do mundo contra nós, mas pode ser, também, permissão divina para que atinjamos o crescimento espiritual ou, mesmo, consequência de nossos atos.

– Nem tudo que acontece de adverso em nossas vidas é fruto da ação maligna. O diabo não pode ser culpado por tudo que nos acontece.

O Senhor Jesus, no sermão do monte, disse que aquele que ouve a Sua Palavra, sofre intempéries

tanto dos céus (a chuva – simbolizando as provações, que têm origem em Deus),

dos lados (os ventos – consequências de nossos próprios atos) e do

maligno, que está embaixo (rios – as tentações, que têm origem no diabo).

– Deus nos ama e, por vezes, corrige-nos, açoita-nos, precisamente porque nos ama, pois a correção é uma demonstração de amor, motivo pelo qual, por exemplo, deve ser repudiada a legislação que procura retirar dos pais o poder de correção sobre os filhos, como, lamentavelmente, temos visto ocorrer em nosso país.

– Suportar a cruz é, também, suportar a correção divina, aceitar a repreensão do Senhor e alterar o nosso comportamento diante desta correção, pois, se os pais biológicos nos corrigem e nós os reverenciamos, por causa disto,

e tal repreensão nos serve de preciosas lições para a nossa vida sobre a face da Terra, quanto mais a repreensão de Deus, que tem por objetivo a produção de um fruto pacífico de justiça, que nos traz amadurecimento espiritual, pois só é exercitado em justiça quem se torna um cristão maduro (Hb.5:14).

– “…O ‘fruto da justiça’ significa o temor do Senhor, bem como uma vida piedosa e santa da qual a cruz é a professora.

Ele diz que ela é pacífica, porque nas adversidades somos vulneráveis ao medo e à inquietação. Somos tentados por nossa impaciência, a qual nunca descansa; mas, ao sermos disciplinados, nossas mentes se aquietam e então percebemos quão útil nos foi a correção, a qual, no momento, nos pareceu ser tão amarga e cruel.…” (CALVINO, João. op.cit., p.346).

– Quem recebe a Cristo se torna filho de Deus (Jo.1:12), mas a condição de filhos nos faz com que nos submetamos à disciplina, à correção divina, pois que filho há a quem o pai não corrija? (Hb.12:7).

Aqueles crentes judeus, portanto, deveriam estar conscientes de que parte do que estavam a sofrer não era resultado da oposição do mundo, mas, também, uma repreensão divina, uma correção que resultava da própria condição que eles ostentavam de filhos de Deus.

– Muitos, em nossos dias, não entendem esta verdade bíblica trazida pelo autor aos hebreus.

Os salvos, além de sofrerem a oposição do mundo, também são corrigidos pelo Senhor e, por vezes, padecem adversidades que têm origem no Senhor e não no inimigo, dificuldades, provas e

adversidades que têm como objetivo produzir em nós um fruto pacífico de justiça, aprimorar a nossa espiritualidade, fazendo-nos crescer na graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, para sermos participantes da Sua santidade (Hb.12:10).

“…Deus sabe o que é melhor para os seus filhos, e vez por outra nos envia sua disciplina, e assim “… somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (II Co.3:18).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.249).

– O salvo na pessoa de Cristo é participante da disciplina divina, porque é filho de Deus e não um “bastardo”, alguém que não é reconhecido como filho.

Por isso mesmo, quando, em virtude de algum erro ou ato inconveniente cometido, sofrermos dura repreensão divina, glorifiquemos a Deus, pois isto é uma demonstração de que o Senhor nos ama, que ainda ostentamos a qualidade de filhos de Deus.

OBS: “…Nem sempre é assim, mas na maioria das vezes o sofrimento do santo serve como uma espécie de adubo em sua vida espiritual, e por meio destas provas alguns dos frutos do Espírito Santo começam então a brotar.

Davi afirmou que o sofrimento divino lhe foi proveitoso para sua vida espiritual perante Deus: “Antes de ser afligido, andava errado; mas agora guardo a tua palavra” (SI 119.67). E depois acrescenta:

“Foi- me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos” (SI 119.71).

Em Hebreus 5.8, o autor fala de Jesus como sendo um filho que fora ensinado pelo Pai, dizendo: “Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu”.

Não sabemos o porquê deste mistério, mas alguns sofrimentos trazem bênçãos inauditas para os filhos de Deus (cf. Rm 8.28).

O apóstolo Paulo, escrevendo aos filipenses, reconhece que em meio ao abatimento de sua alma, vinha logo da parte de Deus o fortalecimento, e assim escreveu:

“Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda a maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade.

Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Fp 4.12,13).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., pp.248-9).

– Por isso mesmo, de se repudiar e condenar veementemente o que se está vendo, em nossos dias, a conduta de muitas igrejas locais que, a pretexto de dizer que o Espírito Santo é quem deve disciplinar os crentes, não mais aplicam a disciplina em sua membresia, permitindo a prática desenfreada e continuada do pecado.

Quando a liderança da igreja assim age está considerando que o “rebanho do Senhor” que lhe foi confiado (I Pe.5:2,3) é formado por “bastardos” e não por filhos, o que é algo extremamente deplorável e perigoso, pois cada líder há de prestar contas das almas que lhe foram confiadas para que delas cuide (Hb.13:17).

A disciplina é aplicada por Deus, não resta dúvida, mas o instrumento de sua aplicação é o ministério que o Senhor Jesus constituiu na Igreja (Mt.18:17,18; Jo.20:23; I Tm.5:1,2,19,20; Tt.2:1-6).

III – EXORTAÇÃO À SANTIDADE

– Diante destas considerações, de seguir o exemplo de Cristo e suportar a disciplina divina, o autor aos hebreus concita os crentes judeus a “levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados” (Hb.12:12).

– “…Um corpo somente pode funcionar bem com o auxílio de todas as juntas.

Mas para que isso aconteça com perfeição é necessário que todo o corpo se encontre em perfeita saúde (Ef.4:16), o que, segundo nos parece, não podia ser dito sobre este grupo de santos.

Suas ‘mãos’ encontravam-se impossibilitadas para o trabalho e seus ‘joelhos’, inertes para suas vidas de oração e dedicação a Deus.

É lamentável quando um filho de Deus encontra-se com suas mãos

quebradas (Lv.21:19),

pesadas (Ex.17:12), mirradas (Lc.6:6),

mortas (Jr.11:21),

inativas — como no texto em foco.

Porém é louvável quando ele se encontra com suas mãos

limpas (Sl.24:4),

esforçadas (II Sm.2:7),

confortadas (I Sm.23:16),

santas — levantadas! (I Tm. 2:8).

Outrossim, o desejo de Deus é que seus filhos tenham:

• Joelhos fortalecidos (Is 35.3);

• Joelhos que oram (Lc 22.41);

• Joelhos que adoram (SI 95.6).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., pp.252-3).

– “…Ao afirmar que Deus, ainda quando nos corrige, se preocupa com a nossa salvação, o após- tolo prossegue estimulando-nos a buscarmos a renovação de nosso entusiasmo, porquanto nada há que mais nos enfraqueça, e deveras nos leve à exaustão, do que sermos tomados de uma falsa noção e não mais divisarmos a graça divina em meio à adversidade.

E nada há que seja mais eficaz para reanimar-nos do que a compreensão de que Deus está conosco, e que se preocupa conosco, ainda quando nos aflige.

Ao expressar-se assim, o apóstolo não só nos reanima a enfrentarmos nossas aflições com coragem, mas também nos aconselha, dizendo que não há a menor justificativa para que nos entreguemos à negligência ou à indolência na realização de nossos deveres.

Sabemos suficientemente, por experiência própria, o quanto o medo de uma provação nos embaraça de servirmos a Deus como deveríamos.

Muitos alegremente professam sua fé, mas, em razão de temerem a perseguição, suas mãos e seus pés são impedidos de agir em consonância com os piedosos impulsos de suas mentes.

Muitos alegremente estariam dispostos a contender em favor da glória de Deus, a defender as causas boas e justas, particular e também publicamente, e a cumprir seus deveres em relação a Deus e a seus irmãos;

mas, visto que correm o risco de se exporem ao ódio dos ímpios, e visto que divisam todo gênero de problemas à sua frente, reclinam-se comodamente e cruzam os braços em quietude.

Portanto, se este extremo medo da cruz fosse removido, e nos preparássemos para suportar com paciência, nada haveria em nós inadequado e despreparado para a obra de fazer a vontade de Deus. Essa é a intenção do apóstolo.

Ele afirma que você tem as mãos pendidas, e que seus joelhos estão imóveis, e isso porque você não consegue divisar o genuíno encorajamento em meio à sua adversidade; e por isso você se retrai de cumprir seus deveres.

Ora, após demonstrar-lhe quão benéfica é a disciplina por meio de uma provação, essa doutrina deve infundir em todos os seus membros um novo vigor, para que você, dinâmica e prontamente, siga o chamamento divino com suas próprias mãos e pés.

Tudo indica que sua referência é a Isaías 35.3, onde o profeta ordena aos santos mestres a que fortaleçam seus joelhos vacilantes, e suas mãos descaídas, pondo diante deles a esperança da graça.

O apóstolo convida a todos os fiéis a procederem assim, pois sendo esse o benefício da consolação que o Senhor nos outorga, bem como a tarefa do mestre é fortalecer toda a Igreja, também cada um, individualmente, tem a responsabilidade de fortalecer a si próprio, aplicando essa mesma doutrina à sua necessidade pessoal…” (CALVINO, João. op.cit., pp.347-8).

– Os crentes judeus são exortados a “fazer veredas direitas” (Hb.12:13). “…A palavra ‘manco’ indica a porção da Igreja que hesitava entre o cristianismo e o judaísmo.

A preparação de ‘veredas direitas’, diante de todos, visava não se desviarem do caminho e nem perderem o prêmio.…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.253).

– “…Essa vereda direita, a qual o apóstolo nos recomenda, parte do ponto onde a mente humana vence todo medo e só leva em conta o fato de receber a aprovação divina, porquanto o medo é muitíssimo engenhoso em descobrir outros tantos desvios.

Como sempre buscamos sendas tortuosas quando nos vemos emaranhados por um medo covarde e perverso, assim também, em contrapartida, a pessoa que se vê pronta para suportar os males segue em frente por onde quer que o Senhor a chame, e não se volve nem para a direita nem para a esquerda.

Em suma, o apóstolo nos prescreve essa norma da reta conduta para que nossos passos sejam orientados pela vontade de Deus, de sorte que nem o medo, nem as seduções deste mundo, nem qualquer outra coisa nos atraia para fora do caminho…” (CALVINO, João. op.cit., pp.348-9).

– “…- “Fazei veredas direitas”. Ele o compromete contra o pecado da transgressão, que consiste em uma certa obliquidade e encurvamento; por direito é dito o equidistante entre os extremos, isto é, aquele cuja operação não se afasta da intenção e do fim adequado.

Existe uma obliquidade ou desvio triplo, isto é, na afeição, na operação e no entendimento; e os três devem ser evitados.

Ora, de uma afeição perversa, seguese o desvio no entendimento e a depravação no afeto. Portanto, quanto ao primeiro, que é a raiz do resto, ele diz:

“fazei vossos pés veredas direitas”, isto é, que suas afeições são retas;

que assim como o corpo é carregado pelos pés,

assim a alma faça com as afeições; de modo que os pés retos sejam afeições retas (Ez.1).

Endireite, então, suas afeições, que são o veículo espiritual de todo o corpo; “endireitai no ermo vereda a nosso Deus” (Is.40:3), ou seja, o que quer que esteja na sua parte, procure-o; embora o endireitar toque propriamente a Deus (Sl. 21).…” (AQUINO, Tomás de. Comentário da Epístola aos Hebreus. Trad. de J.I.M. n.51. Cit. Hb.12:4-13. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 05 dez. 2017 (tradução Google adaptada por nós de texto em espanhol).

– Quando fazemos “veredas direitas”, não só passamos a caminhar para os céus, que são o alvo, o objetivo de nossa vida cristã, como também permitimos que os outros irmãos também o façam, visto que animamos os demais a prosseguir a sua jornada de fé, visto que o crescimento espiritual, a vida cristã não é solitária, mas coletiva, embora a salvação seja individual.

Por isso, nas “veredas direitas”, seguimos a paz com todos bem como a santificação, que é indispensável para quem quer ver o Senhor.

– Precisamos, ademais, tomar cuidado para que não nos privemos da graça de Deus. Aqui, retoma o autor aos hebreus as considerações contra a apostasia.

“…Ele começa uma séria advertência contra a apostasia (v. 15).

Aqui você pode observar, em primeiro lugar, a natureza da apostasia: é privar-se da graça de Deus; é se tornar falido espiritualmente, por falta de um bom fundamento, e cuidado e diligência apropriados; é privar-se da graça de Deus, ficando aquém do princípio da verdadeira graça na alma, não obstante os meios da graça e a profissão de fé na religião, e assim ficando aquém do amor e do favor de Deus aqui e no porvir.

Em segundo lugar, as consequências da apostasia: sempre que pessoas se privam da graça de Deus, nasce uma raiz de amargura, a depravação prevalece e irrompe. Uma ‘…raiz de amargura’, uma raiz amarga, produzindo frutos amargos para si mesmos e para os outros.

Produz para si mesmos princípios corrompidos, que conduzem à apostasia e são grandemente fortalecidos e enraizados na apostasia – erros condenáveis (para a depravação da doutrina e da adoração da igreja cristã) e práticas corrompidas.

Apóstatas em geral se tornam cada vez piores e caem nas perversidades mais grosseiras, que em geral terminam em ateísmo total ou em desespero.

Também produz frutos amargos para os outros, para as igrejas a que esses homens pertenceram; por seus princípios e práticas corrompidos muitos são atribulados, a paz da igreja é violada, a paz da mente dos homens é perturbada, e muitos se contaminam, manchados por aqueles maus princípios, e atraídos para práticas imundas.

Dessa forma, as igrejas sofrem tanto na sua pureza quanto na sua paz. Mas os próprios apóstatas serão os que mais sofrerão no final.…” (HENRY, Matthew, op.cit., p.815).

– “…Não tenho a menor dúvida de que o apóstolo está se referindo à passagem de Moisés em Deuteronômio 29.18. Depois de haver proclamado a lei, Moisés disse ao povo que tomasse cuidado para que nenhuma raiz ou semente de amargura proliferasse entre o povo de Deus.

A seguir explicou sua intenção: que ninguém induza sua alma a pecar, ou excite seus desejos pecaminosos, à semelhança dos ébrios que costumam excitar sua sede, e desse modo atraem o juízo divino, sendo seduzidos pela esperança da impunidade.

O apóstolo está fazendo a mesma coisa agora, porquanto prediz o que acontecerá se permitirmos que tal raiz se desenvolva: corromperá e contaminará a muitos.

Ele não só os intima individual- mente a erradicar tal peste de seus corações, mas também os proíbe a que permitam que a mesma cresça em seu seio.

Não é possível evitar que essas raízes estejam sempre presentes na Igreja de Deus, porquanto os hipócritas e incrédulos sempre se mesclam com os bons, mas sempre que brotem devem ser cortados, para que não suceda que, ao crescerem, sufoquem a boa semente…” (CALVINO, João. op.cit., p.351).

– Não fazer veredas direitas, não seguir a paz nem a santificação, faz com que nos privemos da graça de Deus e a consequência disto é o surgimento de uma raiz de amargura que acabará por contaminar muitos.

O grupo que estava querendo retornar ao judaísmo estava tendo este papel lamentável e o autor aos hebreus procura conscientizá-los a respeito disto, para que não lhes acontecesse o que ocorreu com o povo de Israel que, por causa do vulgo,

da mistura de gente (Ex.12:38), não israelita, que com eles saiu do Egito, viessem a fazer os israelitas perderem a santidade e, alguns até, a vida física, pois foi este “vulgo” que levou o povo a fabricar e adorar o bezerro de ouro, a desejar carne (Nm.11:4).

OBS: “…Lamentavelmente, tem havido espaço para algum tipo de erva daninha no seio da Igreja cristã.

Quando o bom semeador semeou sua boa semente, ‘… dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se’ (Mt.13:25).

No contexto espiritual, o texto em foco parece apontar para algum indivíduo ou grupo de pessoas que estavam envenenando a igreja local com algum tipo de ensinamento danoso à pureza e à santidade dos cristãos, o que, segundo o versículo 14, poderia ser entendido como discórdia ou dissensão.…” (SILVA, Severino Pedro da. op. cit., p.255).

– O autor, então, dá o exemplo de Esaú, na verdade, um contraexemplo, que não poderia ser seguido por aqueles crentes.

Esaú foi fornicário e profano, pois, além de se misturar com os habitantes da terra de Canaã, casando com duas mulheres heteias e, assim, não só desprezando o chamado divino para a constituição de um povo, adotando a poligamia (Gn.26:34), também acabou por desprezar a primogenitura, vendendo-a por um manjar (Gn.25:31-34).

– O gesto de Esaú é lembrado pelo autor aos hebreus porque era precisamente o que ameaçavam fazer os destinatários da carta.

Depois de terem se tornado filhos de Deus, de terem herdado as promessas de Abraão, aqueles irmãos estavam tencionando trocar esta “herança eterna” por um “manjar”, que era a aceitação na sociedade judaica, o retorno às práticas religiosas da lei, abrindo mão, pois, da “primogenitura”,

pois a primogenitura nada mais representa que a propriedade do Senhor sobre nós, pois passamos a ser d’Ele (I Co.1:30), assim como os primogênitos eram de Deus em Israel (Ex.13:2; Nm.3:13; 8:17).

– Esaú foi uma pessoa que desprezou as coisas de Deus, guiando-se única e exclusivamente pelas coisas deste mundo, sendo dominado pelas suas concupiscências e, por isso mesmo, não encontrou lugar de arrependimento, ainda que o tenha buscado com lágrimas (Hb.12:16,17).

– “…as bênçãos do Senhor não devem ser:

• Compradas;

• Vendidas;

• Trocadas;

• Desprezadas. Quem tais atos praticar torna-se um profano.

O ato profano praticado por Esaú foi o seu menosprezo à bênção espiritual: vendendo-a simplesmente por um prato de lentilhas. Que pena!

Mas serve de aviso solene para todos nós! Jamais negociemos as bênçãos de Deus por nada desta vida. Depois que Esaú se viu sem a bênção patriarcal, ele se sentiu um homem fora da proteção de Deus.

Então “… com lágrimas, o buscou”. Porém “… não achou lugar de arrependimento”.

Esta frase parece apontar para três direções, a saber: Esaú não achou lugar de arrependimento:

• Em Deus;

• Em Isaque;

• Em Jacó. Assim, a sua perda foi tríplice e sua rejeição também. Diz F. W. Grant: ‘Um só ato pode revelar o caráter de uma pessoa’, como sucedeu com Esaú!

Por um prato de comida ele negociou a sua primogenitura, e esse ato o caracterizou como uma pessoa profana, isto é, que habitualmente deixa Deus fora dos seus planos.

Ainda assim ele desejava a bênção, e a buscou ardentemente depois de a ter perdido, como Balaão, que queria morrer a morte dos justos sem ter vivido a vida dos justos (Nm.23:10).

Assim, Esaú ‘não achou lugar para o arrependimento’ porque, embora quisesse a bênção perdida, não julgou seus próprios caminhos diante de Deus’…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., pp.256-7).

– Esaú chorou querendo sua bênção da primogenitura, que tinha anteriormente desprezado e vendido, mas seu choro era apenas de remorso.

Ele não quis abrir mão daquilo que de equivocado tinha feito e, por isso, não pôde encontrar lugar de arrependimento, pois tinha apenas uma “tristeza segundo o mundo”, que opera a morte (II Co.7:10).

– Se aqueles crentes judeus abandonassem a fé em Cristo para retornar às práticas judaicas cairiam na mesma situação de Esaú e teriam grande probabilidade de não encontrarem mais lugar de arrependimento.

– Além do exemplo de Esaú, o autor aos hebreus também faz uma comparação com a aparição de Deus no monte Sinai, onde só a presença do Senhor fez com que houvesse fogo, escuridão, trevas, tempestade, sonido de trombeta, terremoto, o que fez com que o povo de Israel nem quisesse aguardar o longo sonido da trombeta para subir ao monte e selar o pacto com o Senhor (Hb.12:18-21; Ex.19:17-20:21).

– Ora, o autor aos hebreus já havia, minudentemente, mostrado que o pacto do Sinai era inferior à nova aliança estabelecida em Cristo Jesus.

Se era terrível a aparição de Deus no Sinai, o que se poderia esperar de quem se apresentasse diante de Deus, no monte Sião, na cidade do Deus vivo, na Jerusalém celestial, onde está não Moisés, mas o próprio Senhor Jesus, mediador da Nova Aliança e cujo sangue é muito mais sublime que o sangue de Abel que clamava por vingança a Deus?

– Ora, se a geração do êxodo não escapou do juízo divino consoante o pacto do Sinai, como se poderia achar que alguém possa escapar do juízo divino se romper a nova aliança?

Não há, pois, mesmo, como se achar que se ficará impune se se abandonar a fé que há em Cristo Jesus, já que estamos diante de uma aliança que não foi firmada na terra, mas uma aliança que foi firmada tanto na terra como no céu.

– Amados irmãos, devemos ter esta consciência de que temos pleno acesso ao Pai, que já desfrutamos aqui da vida eterna e que os céus estão abertos para nós.

Portanto, o abandono da fé é uma deliberada rejeição a este estado de comunhão com Deus, é voltar às costas a tal sublimidade, é uma ofensa tamanha ao Rei dos reis e Senhor dos Senhores. Tomemos cuidado!

IV – EXORTAÇÃO À CARIDADE FRATERNAL E AO VERDADEIRO CULTO

– O autor aos hebreus, então, passa a fazer diversas considerações a respeito da vida cristã.

– Por primeiro, exorta os crentes judeus a manter a caridade fraternal. Não há como dizermos que amamos a Deus senão amarmos os nossos irmãos (I Jo.4:7,20,21).

É esta a característica identificadora do servo de Cristo (Jo.13:35). Os crentes judeus, embora estivessem vacilantes neste momento, sempre haviam se caracterizado por terem amor fraternal (Hb.10:33,34).

O escritor, portanto, diz que eles deveriam “permanecer na caridade fraternal”, reconhecendo que esta era uma qualidade que já possuíam e que não podia ser esquecida ou abandonada, devendo, por isso mesmo, lembrar dos que estavam presos e dos que eram maltratados (Hb.13:3).

– Em vez de tentarem se “reincluir” na sociedade judaica, abandonando a fé em Cristo Jesus, o que deveriam aqueles cristãos fazer era ir atrás dos “excluídos”, buscando-os integrar na Igreja.

Em vez de tentar se inserir no mundo, os cristãos devem buscar inserir aqueles que, a exemplo dos cristãos, são mantidos à margem da sociedade, no reino de Deus.

– Dentro desta caridade fraternal, o escritor manda que aqueles crentes também fossem hospitaleiros, uma qualidade essencial naquele tempo, visto que era primordial que os cristãos fossem recebidos nas casas dos irmãos, máxime em uma época de perseguição como a que eles estavam a viver.

O escritor faz questão de fazer uma alusão a Abraão que, sem saber, hospedou anjos, como se vê de Gn.18:1-16.

– A “Didaché”, escrito do século II, um dos mais antigos “guias didáticos” da Igreja mostra bem a importância que tinha a hospitalidade entre os crentes, “in verbis”:

“Mas recebe todo mundo que entra em nome do Senhor e prova e o conheça posteriormente; para que tu tenhas entendimento do certo e do errado.

Se aquele que vem é um viandante, o ajude até onde for possível…” (Didaché, cap.12. In: PROENÇA, Eduardo de e PROENÇA, Eliana Oliveira de (ed.). Apócrifos e pseudoepígrafos da Bíblia. Trad. de Cláudio J.A. Rodrigues, p. 770).

– Outra atitude que tinham os crentes judeus de ter era a veneração do matrimônio e do leito sem mácula, porque os que se dá à prostituição e aos adúlteros, Deus os julgará.

Tal exortação mostra-nos, claramente, que o respeito à família é fundamental na vida cristã, o que deve ser muito bem observado nestes dias imediatamente anteriores à dispensação da graça, onde o ataque à família é imenso, como, aliás, já previra o Senhor Jesus (Mt.24:37,38).

– Cada vez mais, vemos nas igrejas locais, uma completa desconsideração do casamento, com um comportamento de completa conformação ao mundo, com a permissividade com o divórcio e novos casamentos que nada mais são que adultérios públicos e contínuos (Mt.5:31,32;19:9; Mc.10:11,12).

– Outra atitude que tinham os crentes judeus de ter era o costume sem avareza, ou seja, o desprendimento das coisas materiais.

Um dos grandes fatores de revolta dos judeus contra os romanos era a opressão econômica fomentada pelo Império, com a impiedosa arrecadação de tributos.

Este sentimento de revolta era capitaneado pelos zelotes, que ganhavam cada vez maior número de adeptos naquela época.

– Os crentes, porém, não podiam se guiar por sentimentos materialistas, não tendo qualquer atitude que os levasse a querer preservar ou conservar o seu patrimônio e, com isso, aceitarem retornar ao judaísmo, para não correrem o risco de terem confiscados seus bens ou de perdê-los seja para judeus, seja para romanos.

Jamais devemos ser guiados pela avareza, que é idolatria (Cl.3:5).

– “…Muitas pessoas perdem a confiança em Deus quanto à vida material, e não contentando-se com o que têm, começam a fazer negócios ilícitos, seduzidas pelo amor do dinheiro.

Elas se esquecem de que ‘… o amor [o amor — não o dinheiro] do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (I Tm. 6:10).

O problema aqui não está no ‘ser rico’mas no ‘querer ser rico’.…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.271).

– Em seguida, o autor aos hebreus manda que os crentes judeus deviam se lembrar dos seus pastores, que lhes haviam falado a Palavra de Deus, cuja fé deviam imitar.

Muito provavelmente, o escritor se referia a Tiago e aos seus companheiros que, há pouco, haviam sido mortos por ordem do sumo sacerdote e que teria sido o fator desencadeador do desejo de apostasia da fé entre alguns crentes judeus.

O exemplo de fidelidade até a morte deveria ser seguido e não ser o motivo para um desvio espiritual.

– Nesta defesa da imitação da conduta dos pastores, o autor adverte os destinatários da carta a que não se deixassem levar por doutrinas várias e estranhadas, porque o coração deveria se fortificar com graça e não com manjares que de nada aproveitaram os que a eles se entregaram (Hb.13:9), retomando, aqui, uma vez mais, a temática da superioridade da aliança em Cristo em relação à lei.

– Em Cristo, temos um altar de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo, ou seja, “…O altar, aqui em foco, é tomado para representar a Cristo e toda a extensão da sua obra redentora.

Aqueles que apenas fazem parte do cristianismo, mas que espiritualmente ainda não nasceram de novo, ‘… não [podem] ver’ e nem ‘… entrar no Reino de Deus’ (Jo.3:3,5), e assim participar de Cristo, que é ‘o Pão da vida’.

Os judeus dos dias de Jesus eram os guardiães das normas legalistas e cerimoniais do judaísmo, mas não tinham sido nomeados por Deus como sendo ‘reis e sacerdotes’ da Nova Aliança feita por Jesus Cristo.

Por esta razão não tinham o direito de participar deste altar, como agora têm aqueles que foram santificados pelo sangue de Jesus, tornando-se assim herdeiros de um ‘sacerdócio real’ (cf. Mt.8:11,12; I Pe 2:9; Ap.1:6,7).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.275).

– Diante desta constatação, o escritor convida seus leitores a levarem o vitupério de Cristo, saindo pois a Ele fora do arraial, ou seja, deveriam os crentes judeus suportar a cruz, deixar-se, inclusive,

perseguir por causa da fé em Cristo Jesus, pois Nosso Senhor e Salvador havia também padecido, fora da cidade de Jerusalém, exatamente para que nós pudéssemos ter a certeza de que temos uma cidade nos céus e não na Terra.

– De que adiantaria os crentes judeus abandonar a fé em Cristo e serem aceitos na sociedade judaica, voltar a participar das cerimônias e sacrifícios da Jerusalém terrestre, abrindo mão da Jerusalém celestial, para onde estavam indo? Isto seria uma completa insensatez!

– Por isso mesmo, deveriam estes crentes não se preocupar com os sacrifícios estabelecidos pela lei, mas, sim, em oferecer sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o nome de Cristo.

– Estamos numa nova dimensão espiritual, participando já das coisas celestiais e, portanto, nossos sacrifícios são espirituais, vindos de nosso interior, sacrifícios plenamente de louvor, ou seja, sacrifícios de gratidão, porque Cristo já ofereceu por nós o sacrifício perfeito que nos tirou o pecado do mundo.

– O verdadeiro, genuíno e autêntico louvor é aquele que confessa o nome de Cristo, é aquele que está de acordo com a Palavra de Deus, que serve para adorar a Deus e não o que temos visto, em nossos dias, cânticos que enaltecem o homem, repletos de heresias e desconformes com a Bíblia Sagrada e que, além do mais, não são sacros, mas permeados de ritmos que buscar a excitação e não a contemplação da divindade. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– Fala, em seguida o autor aos hebreus da necessidade da prática da beneficência, ou seja, a prática das boas obras, do “fazer bem”, e da comunicação, que nada mais é que a demonstração da comunhão por gestos concretos de auxílio, ajuda e aconselhamento, que são, também, os sacrifícios que se esperam dos salvos em Jesus Cristo (Hb.13:16).

– Por fim, o autor lembra que se devem obedecer aos pastores, a nos mostrar que, em meio a este titubeio espiritual, as novas lideranças estavam tendo dificuldades em de se impor aos crentes (o que, de certa forma, explica a própria carta).

Os pastores são constituídos pelo Senhor na Igreja, como Seus ministros (Ef.4:11) e não há qualquer benefício aos crentes rebelar-se contra eles ou fazê-los sofrer (Hb.13:17).

– O autor, demonstrando toda sua confiança naqueles crentes, mesmo estando eles pensando em apostatar da fé, pede oração ante a situação que estava a passar, a fim de que, já que ele tinha boa consciência e se portava honestamente, pudesse ser logo restituído, num indicativo que o autor da carta estava provavelmente preso e na Itália.

– O autor da carta deseja que os crentes judeus fossem aperfeiçoados em toda boa obra e fizessem assim a boa vontade de Deus, lembrando-lhes que a aliança firmada em Cristo o foi pelo sangue do concerto eterno e que Cristo é o grande pastor das ovelhas.

– Saúda os destinatários da carta, pedindo que eles atentassem para sua palavra de exortação, dando notícia da soltura de Timóteo e mandando a saudação dos irmãos que com o autor estavam na Itália.

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/1924-licao-12-exortacoes-finais-na-grande-maratona-da-fe-i

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