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LIÇÃO Nº 12 – SENDO A IGREJA DO DEUS VIVO

INTRODUÇÃO

-Na sequência dos embates entre a Igreja de Cristo e o império do mal, veremos hoje o significado de ser a Igreja do Deus vivo.

-Somos a Igreja do Deus vivo.

I– O CONTEXTO DA EXPRESSÃO “IGREJA DO DEUS VIVO”

-Neste estudo a respeito dos embates entre a Igreja de Cristo e o império do mal, neste último bloco em que estamos a ver como deve a Igreja se conduzir em meio a esta luta contra o mundo, veremos o significado da expressão “Igreja do Deus vivo”.

-Sabemos que, ao longo das Escrituras, a Igreja é apresentada de diversas maneiras, são as várias as figuras empregadas para que possamos compreender as suas características.

-Uma destas expressões é “igreja do Deus vivo”, utilizada pelo apóstolo Paulo em sua primeira carta a seu filho na fé, Timóteo (II Tm.3:15). Veio ela em complemento a outra expressão, “casa de Deus” e foi seguida de outra, a saber, “coluna e firmeza da verdade”.

-São três expressões fortíssimas, que, numa síntese que só poderia ser dada pelo Espírito Santo, que nos guia em toda a verdade (Jo.16:13), traz imensos ensinos a respeito da natureza e das características peculiares da Igreja de Cristo e que, por isso mesmo, precisam ser objeto de nossa análise, mormente quando estamos a verificar como devemos nos portar diante da incessante luta que travamos contra o mundo em nossa peregrinação terrena.

-A Declaração de Fé das Assembleias de Deus, inclusive, em seu Cremos, adotou uma destas expressões, “coluna e firmeza da verdade”, para expressar a sua crença na Igreja.

É o que vemos no item 8 do Cremos, que ora transcrevemos: “[CREMOS] Na Igreja, que é o corpo de Cristo, coluna e firmeza da verdade, una, santa e universal assembleia dos fiéis remidos de todas as eras e todos os lugares, chamados do mundo pelo Espírito Santo para seguir a Cristo e adorar a Deus (I Co.12:27; Jo.4:23; I Tm.3:15; Hb.12:23; Ap.22:17).”

-E, no capítulo XI, que trata precisamente da Igreja, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus volta a mencionar esta passagem bíblica, “in verbis”: “…Ela, a Igreja, é a coluna e firmeza da verdade [I Tm.3:15; Mt.16:15]…” (DFAD XI, p.119).

-Torna-se, pois, importante, dada a relevância de tal figura dada à Igreja, que saibamos em que contexto foram proferidas estas palavras pelo apóstolo Paulo a Timóteo.

-Paulo escreve esta primeira carta ao seu filho na fé, Timóteo, quando se encontrava já solto de sua primeira prisão, quando foi absolvido das acusações que lhe haviam feito os judeus quando ele fora ao templo de Jerusalém para acompanhar alguns cristãos que haviam feito alguns votos (At.21:23-27;24:1-22;25:1- 11;Fp.1:21-26).

-Solto da prisão, tendo sabido que a situação na igreja de Éfeso não era nada boa, ante a proliferação de heresias entre os irmãos, o apóstolo, que havia sido o fundador daquela igreja, mandou para lá Timóteo, para que este assumisse o pastorado da igreja e resolvesse os problemas ali surgidos (I Tm.1:3,4).

-Sabedor de que Timóteo necessitava de orientações suplementares para bem desempenhar o seu papel naquela igreja, visto que, embora já com certa experiência pelo convívio com o apóstolo, era, quase certamente, a primeira igreja que estava a assumir, entendeu o apóstolo, guiado pelo Espírito Santo, que deveria mandar esta carta a seu filho na fé dando-lhe preciosas lições sobre como deveria pastorear aquela igreja local, lições que passaram a ser para todos os ministros do Evangelho ao longo da história da Igreja.

-Paulo, após lembrar Timóteo a respeito dos falsos ensinos que deveriam ser combatidos, em especial os judaizantes, manda o jovem pastor que ele militasse a boa milícia, segundo as profecias que haviam sido proferidas a respeito dele, devendo conservar a fé e a boa consciência para evitar o naufrágio na fé, como ocorrera com Himeneu e Alexandre (I Tm.3:18-20).

-Aqui já verificamos, dentro do recorte que estamos a fazer deste escrito sagrado para aplicá-lo ao estudo do nosso tema trimestral, que o apóstolo manda a Timóteo que deveria “militar boa milícia”, “conservar a fé e a boa consciência” para evitar o “naufrágio na fé”.

-A “Igreja do Deus vivo” é, portanto, antes de mais nada, uma igreja em que os ministros militam a boa milícia. Militar a boa milícia é estar no combate pelas boas causas, é “combater o bom combate”, opor-se a tudo o que é mundano, a tudo que é mau, a tudo que é pecaminoso.

-Mas não são só os ministros que precisam ser “militantes”. Todo discípulo de Jesus tem de o ser, quem o diz é o próprio apóstolo Paulo, quando, na segunda carta ao mesmo Timóteo, estende a todos os crentes esta necessidade, ao afirmar que “ninguém que milita se embaraça com negócio desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra” (II Tm.2:4), inclusive lembrando o que já dissera aos coríntios quando afirmou que as armas da milícia do cristão não são carnais, mas poderosas em Deus para destruição das fortalezas (II Co.10:4).

-A Igreja é “militante”, ou seja, é um grupo de pessoas que foram chamadas para irem para a guerra contra o mal, que estão em batalha, em luta contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:12), contra o mundo (Jo.15:18,19; 17:14).

-A Igreja, inclusive, é composta de dois grupos: a igreja militante e a igreja triunfante. “…A igreja atuante é aquela que ainda milita na terra, formada por todos aqueles que seguem a Cristo, lutam contra a carne, o mundo, o Diabo, o pecado e a morte [Ef.6:12].

A igreja triunfante é constituída dos irmãos que já partiram deste mundo, tendo vencido todos os seus inimigos e que agora estão com o Senhor Jesus. Eles e nós pertencemos à mesma Igreja: ‘do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome’ (Ef.3:15).

A Igreja atuante emprega armas espirituais no bom combate: ‘Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas’ (II Co.10:4). Ela permanece firme nessa batalha contra o mal [ef.6:11], e isso vai durar até a vinda de Cristo.…” (DFAD XI.4, pp.121-2).

-Como se verifica, portanto, uma das características da “Igreja do Deus vivo” é esta “militância”. A Igreja tem uma “vida militar” e sabemos todos que os militares, entendidos aqui como os integrantes das Forças Armadas, são caracterizados por dois fatores: a hierarquia e a disciplina.

-O militar tem de estar pronto para entrar em combate a qualquer momento. Sua razão de ser é lutar pela Pátria, defender os princípios e valores do país a que pertence, ser o protetor, com custo da própria vida, do modo de vida de sua sociedade.

-O discípulo de Cristo é, também, alguém que foi chamado para sair do mundo mas, também, para entrar em guerra contra o mal, mal que se manifesta em nossa natureza pecaminosa (carne), no sistema dominado pelo diabo (mundo) e pelo próprio diabo e seus anjos.

-Em todo tempo, o discípulo de Cristo tem de estar pronto para lutar contra o mal e, para tanto, como afirma o apóstolo Paulo aos efésios, tem de se revestir de toda a armadura de Deus para que se possa estar firme contra as astutas ciladas do diabo (Ef.6:11), para que se possa resistir no dia mau e manter a firmeza espiritual (Ef.6:13).

-A Igreja do Deus vivo é militante e, portanto, age dentro da hierarquia e da disciplina. Na hierarquia, segue a direção do Espírito Santo, que é o Vigário de Cristo, Aquele que veio ficar conosco até a volta do Senhor Jesus, o outro Consolador (Jo.14:16-18).

-Por isso, o Senhor Jesus, em Suas cartas às igrejas da Ásia Menor, fez sempre questão de lembrar aos Seus discípulos que deveriam ouvir o que o Espírito diz às igrejas (Ap.2:7,11,17,29; 3:6,13,22).

-O Espírito guia-nos em toda a verdade (Jo.16:13), ensina-nos todas as coisas e nos faz lembrar tudo quanto Jesus disse (Jo.14:26) e guardar o que Jesus ensinou é essencial para que alcancemos a glorificação, último estágio de nossa salvação (Mt.28:18-20).

-Mas, para militar, é preciso que tenhamos, também, disciplina. É necessário que aprendamos como devemos agir e que ajamos como desejado por nosso Deus. Temos de estar em “forma espiritual”, para que tenhamos sucessos nos combates, nos embates do dia-a-dia.

-Devemos nos revestir da armadura de Deus, ou seja, da couraça da justiça, do cinturão da verdade, do escudo da fé, dos calçados da preparação do evangelho da paz, do capacete da salvação, da espada do Espírito (que é a Palavra de Deus), orando em todo o tempo com toda oração e súplica no Espírito Santo e vigiando nisto com toda perseverança e súplica por todos os santos (Ef.6:14-18).

-Devemos nos revestir do Espírito Santo, ou seja, sermos batizados com o Espírito Santo (Lc.24:49; At.1:8) e buscar com zelo os dons espirituais (I Co.14:1), pois só assim estaremos devidamente armados, com armas espirituais, para podermos destruir as fortalezas deste mundo dominado pelo maligno.

-A Igreja do Deus vivo é uma igreja militante e, nos últimos anos, temos visto o importante papel que exerce a militância para um determinado movimento, para uma determinada agenda.

Os embates sócio-políticos na atualidade são resolvidos basicamente por conta da militância, inclusive nas redes sociais e na internet, onde já são conhecidos os chamados MAVs (militantes em ambiente virtual).

-Entre os próprios homens, nas causas puramente terrenas, sabe-se que se não houver uma militância engajada, não será possível conquistar mentes e corações dentro dos propósitos desejados. Tendo sido alistados pelo Senhor para a guerra contra o mal, para ganhar almas, para livrar as pessoas da condenação eterna, é indispensável que sejamos militantes.

-Lamentavelmente, na atualidade, muitos são os que estão completamente ociosos, não se movem pela salvação das almas, pela divulgação do Evangelho e da Palavra de Deus, trazendo uma desmobilização que compromete a sua própria salvação. Não podemos desagradar a Deus, que nos alistou para a guerra. Lembremos disto!

-Houve, mesmo, recentemente, servos do Senhor que foram ativos militantes políticos, muitos até sendo presos por causa desta militância (ainda que as prisões sejam injustas), mas que nunca se expuseram desta maneira pela causa do Evangelho, o que é de se lamentar, porque a “boa milícia” é precisamente esta luta para que abramos os olhos das pessoas para as converter das trevas para a luz e do poder de Satanás a Deus, a fim de que recebam a remissão dos pecados e sorte entre os santificados pela fé em Jesus (At.26:18).

-Além da militância, Paulo diz a Timóteo que ele deveria “conservar a fé e a boa consciência”.

-Conservar a fé é manter-se fiel à doutrina. No final da epístola, Paulo diz a Timóteo que ele deveria “guardar o depósito que te foi confiado, tendo horror aos clamores vãos e profanos e às oposições da falsamente chamada ciência, a qual professando-a alguns se desviaram da fé” (I Tm.6:20,21a).

-Timóteo havia aprendido com sua avó Loide e sua mãe Eunice as sagradas letras (I Tm.1:5;3:14,15), ensino que depois foi complementado pelo próprio apóstolo Paulo (II Tm.2:1,2).

-“Conservar a fé”, portanto é viver segundo a sã doutrina, pôr em prática aquilo que se aprendeu ao longo da sua vida cristã, é não desviar nem para a direita nem para a esquerda da Palavra de Deus.

-A Igreja do Deus vivo é uma igreja conservadora, porque conserva a fé, não traz inovações, não distorce a interpretação das Escrituras, mas pratica a verdade, tendo suas obras feitas em Deus (Jo.3:21).

-A Igreja do Deus vivo é ensinada na Palavra de Deus e a ensina, procurando sempre dar primazia ao estudo e meditação das Escrituras, apesar de todos os movimentos e pensamentos enganosos que surgem no mundo, e até dentro das igrejas locais, procurando trazer “novos evangelhos”, “outros evangelhos”, que nada mais fazem do que endossar as oposições mundanas contra a Bíblia Sagrada, contra o que ela ensina.

-Estes “outros evangelhos” devem ser imediatamente rechaçados e seus propagadores amaldiçoados, como ensina Paulo em Gl.1:8, pois não podemos deixar de considerar que um pouco de fermento leveda toda a massa (I Co.5:6).

-“Conservar a boa consciência” é estar em paz com Deus, numa vida de sinceridade e de santidade. Não há homem que não peque (I Rs.8:46; II Cr.6:36) e isto faz com que, mesmo os discípulos de Jesus, venham, acidentalmente, a pecar. Quando isto acontecer, imediatamente devemos recorrer ao Senhor Jesus, que é a propiciação pelos nossos pecados e pelos pecados de todo o mundo (I Jo.1:8-2:3).

-Não podemos querer encobrir as nossas transgressões, mas confessá-las e deixar de praticá-las, pois só assim alcançaremos misericórdia (Pv.28:13).

-A Igreja do Deus vivo é formada por pessoas que têm uma boa consciência, que é a consciência que dá testemunho de que, com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus, vivem no mundo (II Co.1:12).

-A Igreja do Deus vivo tem boa consciência porque rejeita as coisas que, por vergonha, se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus e, como resultado disso, na presença de Deus, são recomendados à consciência de todo homem e pela manifestação da verdade (II Co.4:2).

-A Igreja do Deus vivo é transparente, sincera, mostra-se a todos os homens como ela efetivamente é e todos têm de admitir que seus integrantes são pessoas sinceras e direitas, tanto que só podem ser criticadas precisamente naquilo que fazem para servir a Deus.

-A Igreja do Deus vivo conserva a boa consciência porque tem um viver honesto entre os gentios para que, naquilo que falam mal deles, como de malfeitores, glorifiquem os homens a Deus no dia da visitação, pelas boas obras observadas nos discípulos do Senhor (I Pe.2:12).

-A Igreja do Deus vivo, ao conservar a fé e a boa consciência, não naufraga na fé. Já se viu, em lição anterior, que a Igreja somente pode vencer o mundo se se aplicar a desenvolver sempre a fé, se “descobrir no evangelho a justiça de Deus de fé em fé” (Rm.1:17).

-Pois bem, quem não desenvolve a fé, acaba por fazê-la naufragar, ou seja, a fé afunda-se no mar desta vida, é afogada, perece. O mar, na Bíblia Sagrada, via de regra, representa as nações, ou seja, os gentios, os incrédulos, aqueles que se rebelaram contra Deus.

Quando se afirma que a fé naufraga, temos que a fé é envolvida pelo “mar desta vida”, ou seja, é destruída, perece, desaparece, dando lugar à incredulidade, que é o fator característico, a essência deste mundo, formados pelos incrédulos cegados espiritualmente por Satanás (II Co.4:4).

-Paulo menciona dois destes que perderam a fé em Éfeso: Himeneu e Alexandre (I Tm.1:20). O apóstolo é bem duro com relação a eles: diz que os entregou a Satanás para que aprendam a não blasfemar.

-Quem não conserva a fé nem a boa consciência chega a este estado espiritual lamentável descrito pelo apóstolo em relação àqueles dois homens.

Eles estavam no mundo, sob o domínio de Satanás, o príncipe deste mundo, totalmente em suas mãos, e assim ficaram porque blasfemaram, e por que blasfemaram? Porque deixaram de observar a Palavra de Deus, passaram a crer na mentira em vez da verdade. Que Deus nos guarde!

-Depois que deu conselhos a seu filho na fé sobre a conduta que deveria ele mesmo ter, o apóstolo diz a Timóteo que deveria fazer com que a igreja efésia tivesse uma vida de oração intercessória, orando por todos os homens, em especial pelos que estavam em eminência, porque o desejo de Deus é a salvação de todos e que esta oração deveria ser feita sem ira nem contenda (I Tm.2:1-8).

-A Igreja do Deus vivo é uma igreja de oração, que sabe do seu papel sacerdotal neste mundo e que deve ser o canal para que a bênção de Deus chegue a todos os homens.

-A Igreja do Deus vivo não deixa de orar, inclusive pelos seus inimigos e perseguidores. Paulo estava escrevendo a Timóteo no limiar da primeira grande perseguição do Império Romano contra a Igreja. Ele próprio já estava sofrendo prisões por causa do Evangelho, mas, mesmo assim, mandava orar, a começar dos próprios governantes.

-A Igreja sabe muito bem que o mundo a odeia, que os incrédulos querem engoli-la viva, mas a Igreja sabe que Jesus ama a todos estes incrédulos e quer-lhes salvar e estamos aqui para fazer a vontade do Senhor, para anunciar a salvação a esta gente. Portanto, não podemos deixar de orar por elas e devemos, para que nossas orações sejam ouvidas, não promover iras nem contendas entre nós e contra eles.

-Em seguida, o apóstolo dá orientações a Timóteo de como deveria ser o comportamento das mulheres e quais os requisitos que se deveriam buscar para a separação de presbíteros e diáconos na igreja.

-Após estas orientações, então, ´que o apóstolo diz a Timóteo que havia escrito aquelas instruções para que soubesse como convinha andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade n(I Tm.3:15).

-Tudo aquilo que havia sido escrito para Timóteo é porque ele deveria saber como era conveniente andar na casa de Deus.

II– CASA DE DEUS, IGREJA DO DEUS VIVO

-Paulo diz a Timóteo que ele andava na “casa de Deus”. A Igreja é a “casa de Deus”. Esta expressão é a palavra grega “oikos” (οικος), cujo significado é “morada, lar, casa, família”. É a palavra de onde veio “ecologia”, palavra muito conhecida de todos nós e que se refere ao “ambiente”, ao “meio ambiente”, ao “habitat”.

-A Igreja é a “casa de Deus”, ou seja, é a “morada de Deus”, o lugar onde Deus habita, onde Deus mora, onde Deus revela a Sua intimidade, onde Ele externa os Seus sentimentos, a Sua vontade, onde Ele cria e sustenta Seus filhos, onde Ele os instrui.

-Cada um dos discípulos de Jesus é casa de Deus (Hb.2:6), casa esta edificada pelo próprio Cristo (Mt.16:18; Hb.3:3,4,6).

-Sendo “casa de Deus”, a Igreja recebe a glória de Deus que a enche, pois todos os lugares que Deus escolheu para ser “Sua casa” foram cheias da glória de Deus (Ex.40:34,35; I Rs.8:10,11; II Cr.5:13,14; Ag.2:9; Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.2:26-32; 23:45). Por isso, Cristo apresenta a Sua igreja gloriosa (Ef.5:27). A Igreja, por ser “casa de Deus”, reflete a glória de Deus como um espelho (II Co.3:18).

-A “casa de Deus”, no entanto, assim só se mantém se conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até o fim (Hb.3:6).

O tabernáculo perdeu a glória de Deus (I Sm.4:21; Sl.78:56-62), assim como o templo de Salomão (Ez.9:3; 10:18,19) e o templo de Zorobabel, reformado por Herodes, o Grande (Mt.24:1,2), não só perderam a glória divina, como foram fisicamente destruídos.

-A “casa de Deus” só se mantém assim se houver a conservação firme da confiança e da glória da esperança até o fim, ou seja, se houver a fé perseverante, se a fé se desenvolver sempre, para que não haja o já aludido naufrágio.

-A “casa de Deus” é “morada de Deus no Espírito” (Ef.2:22), ou seja, é um ambiente dirigido pelo Espírito Santo, onde tem primazia a glorificação a Cristo, pois este é o papel do Espírito Santo entre nós (Jo.16:14), e, por conseguinte, a primazia do ensino das Escrituras, pois são elas a verdade (Jo.17:17), pela qual nos guia o Espírito (Jo.16:13), ensinando-nos todas as coisas e nos fazendo lembrar o que Jesus disse (Jo.14:26), que é testificado pela Bíblia Sagrada (Jo.5:39).

-A “casa de Deus” é “local de sacrifício”. No tabernáculo e nos dois templos eram efetuados continuamente sacrifícios, seja para perdão dos pecados, seja para gratidão a Deus.

-Hoje em dia, não é diferente. Na “casa de Deus”, devemos apresentar os nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, nosso culto racional (Rm.12:1), oferecendo sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo (I Pe.2:5), entre os quais estão o desejo afetuoso do leite racional, não falsificado, com contínuo crescimento espiritual (I Pe.2:2), a fé e obediência à Palavra (I Pe.2:7,8) e o abandono da malícia, do engano, dos fingimentos, das invejas e todas as murmurações (I Pe.2:1).

-Não se podem esquecer, também, os sacrifícios de louvor, o fruto dos lábios que confessam o nome de Jesus (Hb.13:15), o que faz com que tenhamos um coração agradável a Deus, pois a boca fala daquilo de que o coração está cheio (Mt.12:34). A “casa de Deus” tem um falar “sim, sim; não, não” (Mt.5:37).

-A “casa de Deus” é edificada com “pedras vivas” (II Pe.2:5). Éramos mortos, sem vida, desqualificados para qualquer edificação, mas Jesus nos resgatou e nos deu vida e agora nos constituiu como “casa espiritual

e sacerdócio santo” (I Pe.2:8). Agora, fazemos parte da Igreja, desta edificação de Cristo, podendo levar a mensagem da salvação a outros, interceder por todos e desfrutar da glória de Deus.

-A “casa de Deus” é a “família de Deus”. Somos filhos de Deus (Jo.1:12), somos irmãos de Jesus (Rm.8:29) e irmãos uns dos outros (Mt.23:8), sendo que Cristo e a Igreja são noivos, com casamento bem próximo (Ef.5:23-32; Ap.19:7-9).

-Como “família de Deus”, temos liberdade de entrar na presença de Deus, pleno acesso ao Senhor (Hb.4:16; 10:19-23), e, por isso mesmo, temos de ter intimidade com Ele, conhecendo e prosseguindo em conhecê-l’O (Os.6:3). Isto exige de nós santidade, pois Deus é santo (I Pe.2:15-17).

– A “casa de Deus” é a “Igreja do Deus vivo”. Isto já nos fala que a Igreja tem dono, e seu dono é o “Deus vivo”. Ao revelar o mistério da Igreja, escondido desde antes da fundação do mundo (Ef.3:4-6), o Senhor Jesus disse que a Igreja era d’Ele (Mt.16:18).

-Temos de ter consciência que, ao passarmos a pertencer à Igreja, tornamo-nos propriedade d’Ele (I Co.30) e, portanto, não temos mais vontade própria, temos de fazer o que Ele quer, pois Ele é o nosso Senhor, o nosso proprietário.

-Paulo lembrava Timóteo que ele deveria ter muito cuidado na condução da igreja em Éfeso, porque aquela igreja tinha um dono e o dono era o Senhor Jesus. Será que os obreiros têm esta consciência na atualidade?

-Além de ser de Deus, a Igreja pertence a um “Deus vivo”, ou seja, não podia Timóteo se esquecer que, ao contrário do templo de Diana em Éfeso, que, embora dedicada a uma deusa, estava, na verdade, sem dono, porque Diana simplesmente não existia, a Igreja do Deus vivo pertence a um Deus que existe e que governa todas as coisas, que é Todo-Poderoso, que não divide a Sua glória com ninguém (Is.42:8).

-Já vimos que o Senhor, quando provocado à ira pelos israelitas, simplesmente retirou a Sua glória do tabernáculo e dos dois templos e o resultado disto foi a destruição cabal de todas estas três edificações, não ficando “pedra sobre pedra que não fosse derribada”.

-Quem se atreve a desafiar ao Senhor por meio de ataques à Sua Igreja, saiba que está afrontando ao Deus vivo, que não Se deixa escarnecer (Gl.6:7). Assim, ao longo da história, sempre aconteceu com quem se levantou contra a Igreja, a começar de Herodes Agripa I (At.12:1-23).

-A “Igreja do Deus vivo” somente pode ter pessoas vivas. Não há como termos mortos nela. O apóstolo Pedro disse que ela é composta de “pedras vivas” (I Pe.2:5) e são vivas porque creram em Jesus e Lhe são obedientes.

-Não há, pois, como pertencer à Igreja sem ter vida espiritual, sem estar em comunhão com o Senhor, sem ter se libertado da natureza e do poder do pecado, sem ter nascido de novo pela fé em Cristo Jesus.

-É interessante que Paulo diz que Timóteo deve saber “andar na casa de Deus” de modo conveniente, ou seja, é preciso “andar na casa de Deus”, porque ela é “viva”, não se pode permanecer parado nela, pois, apesar de ser uma edificação, ela é também o “corpo de Cristo” e, como sabemos, nada em nosso organismo está parado, há um constante movimento que mostra, inclusive, que estamos vivos. O cadáver é que se mostra sem movimento e estático.

III– COLUNA E FIRMEZA DA VERDADE

-Mas o apóstolo também diz ao seu filho na fé que a Igreja é a “coluna e firmeza da verdade”.

-A palavra “coluna” é a palavra grega “stylos” (στύλος), cujo significado é de “um poste, ou coluna, um suporte, um pilar”. Nota-se, portanto, que a Igreja do Deus vivo é um suporte, um sustentáculo da verdade.

-Sabemos todos que a verdade é o próprio Deus, em todas as Suas Pessoas (Jr.10:10; Jo.14:6,17; 15:26; 16:13) e que a Sua Palavra é a verdade (Jo.17:17), bem como que o conhecimento da verdade, advindo da permanência na Palavra de Deus, trar-nos-á libertação (Jo.8:31,32).

-A Igreja do Deus vivo deve sustentar a verdade. Ser “coluna” da verdade implica em falar a verdade em todas as ocasiões e mostrá-la para todos (Ef.4:25). Não é por outro motivo que a Igreja deve anunciar Jesus Cristo (At.5:42).

-Ao sustentar a verdade, a Igreja deve ter consciência de que “nada podemos contra a verdade, senão pela verdade” (II Co.13:8), de modo que não podemos jamais transigir em falar a verdade, em pregar a verdade, em não distorcer a verdade, pois é andando na verdade que devemos prosseguir nesta peregrinação terrena (II Jo.4; III Jo.3,4)

-Logicamente, ao falar a verdade e anunciá-la, a Igreja entra em confronto com o mundo, pois ele é dominado pelo “pai da mentira” (Jo.8:44).

-Afinal de contas, a mensagem não é nada agradável ao mundo. É a mensagem mencionada pelo profeta Joel:”Tocai a buzina em Sião e clamai em alta voz no monte da minha santidade; perturbem-se todos os moradores da terra, porque o dia do Senhor vem, ele está perto; dia de trevas e de tristeza, dia de nuvens e de trevas espessas…” (Jl.2:1,2a).

-É a mensagem que diz que o mundo é uma “geração perversa” (Cf. At.2:40), mensagem que confronta a vã maneira de viver que os homens vivem (Cf. I Pe.1:18).

-No mundo sempre a mentira encontrou guarida, porque o mundo é formado por aqueles que creem na mentira, que satisfazem os desejos do pai da mentira. Entretanto, como diz conhecido provérbio popular, “a mentira tem pernas curtas”, ou seja, será sempre desmascarada, pois não há como prevalecer diante da verdade.

-Ser “coluna” da verdade é dar testemunho da verdade. Jesus veio ao mundo para dar testemunho da verdade (Jo.18:37) e a Igreja deve prosseguir divulgando esta verdade, que é o Evangelho, que o apóstolo Paulo, nesta sua orientação a Timóteo, resume e denomina de “mistério da piedade”: “Aquele que se manifestou em carne foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo e recebido acima, na glória” (I Tm.3:16).

-Damos testemunho da verdade quando, além de pregarmos o Evangelho com palavras, fazemo-lo com as nossas vidas. O bom testemunho que apresentamos ao mundo é a demonstração de que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Por meio de nossa conduta justa, comprovamos que Jesus é o Senhor e Salvador.

-Ser “coluna” da verdade é manter o ensino da Palavra de Deus. É tarefa da Igreja ensinar as nações (Mt.28:19) e quando ela o faz, mantém conhecida a verdade para as futuras gerações, fazendo com que se prossiga conhecendo a verdade.

Se é verdade que o Senhor mandou escrever a Sua Palavra para que ela não dependesse da “tradição oral”, como se fazia até Moisés (Cf. Sl.78:1-8), o fato é que não basta que a revelação da verdade tenha sido reduzida a escrito, mister se faz que seja ensinada (Ne.8:1-12).

-Lamentavelmente, muitos hoje estão a negligenciar o ensino da Palavra, repetindo o que se fazia nos dias de Josias, em que o livro da lei estava perdido dentro do templo (II Cr.34:14,15). Quem assim se comporta está a indicar que não pertence a Igreja do Deus vivo, porquanto não se apresenta como verdadeira coluna da verdade.

-Mas, além de “coluna”, é dito que a Igreja do Deus vivo é a “firmeza” da verdade. Em foco, aqui, está a palavra grega “hedraioma” (εδραίωμα), cujo significado é de “apoio, base, chão”.

-A Igreja do Deus vivo é a base, o apoio da verdade, ou seja, é um terreno em que a verdade pode se manter, porque a Igreja não se move, não se abala, mantém-se com a verdade, dela não abrindo mão, dela não se desfazendo. A palavra grega, aliás, é derivada do adjetivo “hedraios” (εδραίος), que significa “sedentário, imóvel, assentado, firme, estável”.

-A Igreja do Deus vivo permanece na Palavra de Deus, continua a ensinar aquilo que aprendeu do Senhor Jesus, por intermédio do Espírito Santo. É imutável, não cede a “inovações”, “novas visões”, “novas revelações”, não se cansa de dizer e ensinar as mesmas coisas (Fp.3:1).

-A Igreja do Deus vivo sabe que a verdade é uma só e que não comporta mudança, nem sombra de variação (Tg.1:17), pois Deus não muda (Ml.3:6).

-A Igreja do Deus vivo tem fé em Deus e, por isso, não é como “a onda do mar” (Tg.1:6), não se deixa levar por quanto “vento de doutrina” (Ef.4:14).

-Por ser “firmeza da verdade”, a Igreja do Deus vivo busca sempre se firmar em Cristo, crescer espiritualmente, não permitindo que os pecados acidentais venham a se perenizar na vida de cada membro em particular do corpo de Cristo. Por isso, é uma Igreja que zela pela santificação, pois só com ela teremos a certeza de que veremos o Senhor e que não serem engolidos vivos pelo maligno.

-Aqui, uma vez mais, lembramos do profeta Joel: “Tocai a buzina em Sião, santificai um jejum, proclamai um dia de proibição. Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai os filhinhos e os que mamam, saia o noivo da recâmara e a noiva, do seu tálamo.

Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar e diga; Poupa o Teu povo, ó Senhor, e não entregues a Tua herança ao opróbrio, para que as nações façam escárnio dele; porque diriam os povos: Onde está o seu Deus?” (Jl.2:15-17).

-O mundo, dominado que é pelo diabo, não se firma na verdade (Jo.8:44) e, por isso mesmo, acaba por negar a própria existência da verdade.

Vivemos dias, inclusive, em que isto é a própria característica do nosso tempo, onde o que se diz é haver uma “pós-verdade”, ou seja, algo que se impõe pela sua capacidade de convencimento e de manipulação de emoções e sentimentos.

-Como diz o sociólogo polonês Zygmunt Baumann (1925-2017), estamos num tempo que ele denomina de “modernidade líquida”, onde as relações humanas são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos, onde não se tem mais referenciais, em que tudo é mutável, não há firmeza.

Assim, a própria noção de verdade se perde, pois todos passam a achar que “tudo é relativo” e que tudo pode ser alterado a qualquer momento.

-Dentro de um mundo que, pela multiplicação da iniquidade, chega a duvidar até da existência de uma verdade, a Igreja do Deus vivo continua sendo a firmeza da verdade, o local onde a verdade está presente, é praticada, anunciada e defendida.

-Para ser a firmeza da verdade, a Igreja do Deus vivo precisa ter a visão da eternidade, não pode se deixar envolver pelos ardis do inimigo que tenta enganar os servos de Deus com as inovações tecnológicas, com a multiplicação da ciência, utilizando-se destas circunstâncias para convencer de que tudo é mutável, de que as “coisas mudaram” e que, portanto, não faz mais sentido crer na Palavra de Deus, nas Escrituras cuja redação terminou há quase dois mil anos.

-A verdade não se muda por causa do progresso tecnológico ou pelo avanço da civilização. Não há nada novo debaixo do sol (Ec.1:9-11) e as novas roupagens não retiram o fato de que existe o verdadeiro e o falso, o bom e o mau, o certo e o errado.

– Precisamos andar na verdade e nela crer, independentemente do que aconteça ou do que se venha a descobrir no campo da ciência ou da tecnologia. Deus não muda e, nós, como seus filhos, também não podemos deixar de seguir ao Senhor e fazer a Sua vontade, sendo firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o nosso trabalho não é vão no Senhor (I Co.15:58).

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/9360-licao-12-sendo-a-igreja-do-deus-vivo-i

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