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LIÇÃO Nº 13 – A IGREJA E A LEI DE DEUS

 lição 13

  Cumprimos a lei porque Cristo vive em nós.  

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INTRODUÇÃO

 – No encerramento do estudo sobre os dez mandamentos, veremos o papel da lei de Deus na Igreja.

– Cumprimos a lei porque Cristo vive em nós.

I – A LEI DE DEUS E A DISPENSAÇÃO DA LEI

– Estamos encerrando o estudo deste trimestre letivo, em que analisamos os dez mandamentos. Nesta última lição, verificaremos o papel da lei na Igreja.

– Conforme vimos no início do trimestre, Deus é o Senhor de todas as coisas, vez que criou céus e terra (Gn.1:1), a Ele, pois, tudo pertencendo (Sl.24:1). Em virtude do senhorio de Deus, temos que é d’Ele a fonte de toda a ordem que existe no Universo, sendo Ele o autor das leis que regem tanto o mundo físico, quanto o mundo moral.

– Destarte, as leis instituídas pelo Senhor são imutáveis e todas as Suas criaturas estão submetidas a tais leis. As leis estabelecidas por Deus, portanto, não podem jamais ser revogadas, são imutáveis, pois Deus é imutável (Ml.3:6).

– O ser humano, portanto, está sempre, em todas as épocas e em todos os lugares, submetido à lei de Deus, visto que é uma criatura e, mais do que isto, uma criatura moral, ou seja, que foi criada por Deus com a capacidade de discernir entre o bem e o mal, pois foi feito à imagem e semelhança de Deus (Gn.1:26,27).

– Portanto, os preceitos estabelecidos por Deus para o ser humano, preceitos morais indispensáveis para que o homem possa cumprir o propósito a ele determinado pelo seu Criador, valem em todas as épocas, sendo essencialmente os mesmos desde a criação do homem.

– Por isso mesmo, já na criação, o Senhor estabeleceu os preceitos morais que deveriam ser observados pelo homem, preceitos estes que, conquanto obrigatórios, poderiam, ou não, ser obedecidos pelo ser humano, pois ele foi criado com o livre-arbítrio, ou seja, Deus deu ao homem a liberdade de escolher, ou não, atender aos preceitos estatuídos pelo Senhor, respondendo o homem pela escolha que fizesse.

– Segundo os rabinos judeus, já no Éden o Senhor estatuiu sete preceitos ao ser humano, preceitos estes que foram seguidamente repetidos à humanidade na sequência do plano divino para a salvação do homem, pois o Senhor, após a queda do primeiro casal, iniciou uma revelação progressiva à humanidade perdida, querendo, nas mais diversas etapas desta revelação, obter a salvação do homem, até chegarmos à “plenitude dos tempos” (Gl.4:4), quando o próprio Deus, na pessoa do Filho, encarnou para trazer a salvação (Jo.3:6).

– Diante desta realidade, precisamos, pois, observar que a “lei de Deus” sempre existiu, desde a criação do mundo, pois é a expressão da Sua vontade para com o homem e, como tal, em todas as dispensações, ou seja, em todos os períodos em que Deus Se relacionou com o homem de um determinado modo buscando a salvação da humanidade, sempre havia preceitos que o homem deveria observar, reconhecendo, assim, a soberania e o senhorio divinos, reconhecendo ser apenas uma criatura que deveria servir ao seu Criador.

– Não devemos, portanto, confundir a “lei de Deus”, este conjunto de princípios e regras estatuídos por Deus ao homem para que este pudesse cumprir o propósito divino, na condição de ser moral que é, com a dispensação da lei, que foi um período em que Deus tratou com a humanidade, através do pacto estabelecido no monte Sinai com Israel, a propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos, pacto este que teve nos dez mandamentos, escritos pelo dedo de Deus nas duas tábuas de pedra (Dt.4:12,13), a sua síntese, o seu resumo.

– A dispensação da lei é um período que se inicia no pacto estabelecido entre Deus e Israel no monte Sinai e que termina quando do sacrifício de Cristo Jesus na cruz do Calvário, que é quinto período da revelação progressiva de Deus à humanidade, de Seu plano para a salvação da humanidade.

– Após ter formado, a partir de Abraão, um povo que seria Sua propriedade peculiar dentre os povos, Seu reino sacerdotal e povo santo (Ex.19:5,6), mediante o qual faria benditas todas as famílias da terra (Gn.12:1- 3), Deus retira este povo do Egito e o leva até o monte Sinai, onde selaria com ele um pacto, a fim de dar continuidade a seu plano de salvação da humanidade.

– Os filhos de Israel, então, são libertos do Egito, onde estavam escravizados, e levados até o monte Sinai, para que ali se cumprisse a promessa feita a Abraão. A nação já estava formada, já estava pronta para ser um reino sacerdotal e povo santo e, através dele, tornar todas as famílias da terra benditas. No entanto, na jornada do Egito até o monte Sinai, os israelitas, provados em sua fé por sete vezes, falharam em todas elas e, por isso, não puderam receber a promessa de Abraão.

– Deus, então, lhes deu a lei como remédio, como aio para que aguardassem o cumprimento da promessa de Abraão, que não se daria naquela oportunidade, mas, sim, por meio da posteridade, ou seja, do Messias, d’Aquele que, conforme anunciado pelo próprio Moisés, traria a complementação, a consumação de todo o processo que se iniciava com a lei que se dava a Israel, lei esta que tinha nos dez mandamentos a sua síntese, o seu resumo (Gl.3).

– Por isso, não podemos confundir a lei de Deus com a dispensação da lei. Deus é o Senhor e o Soberano, de modo que sempre teremos de seguir as Suas regras, os Seus preceitos, os Seus princípios, pois Ele é o Senhor e nós, Seus servos. Por isso, o ser humano sempre estará debaixo da lei de Deus, sempre deverá obedecer ao Senhor, reconhecendo Sua soberania e Seu senhorio.

– A dispensação da lei, no entanto, foi um período em que, diante da incredulidade de Israel e da sua imaturidade espiritual, não pôde o Senhor instituir a comunhão completa com Ele, não pôde fazer de Israel o reino sacerdotal e povo santo que havia proposto aos israelitas no Sinai, dispensação esta que se constituiu de 613 preceitos, que deveriam ser observados pelos israelitas, enquanto eles aguardavam a vinda do Messias, Aquele que faria o que a atitude de Israel no pacto do Sinai não permitiu que se fizesse, ou seja, o estabelecimento da unidade entre Deus e Israel, da perfeita comunhão, da retirada do pecado e da salvação.

– A lei trazida por Moisés ao povo de Israel, portanto, representa este pacto transitório, em que se aguardaria a consumação da salvação, o que somente se faria por intermédio de Cristo Jesus, o Messias prometido e anunciado pelo próprio Moisés (Dt.18:15-19).

Seria este profeta que complementaria o plano salvífico de Deus, tornando-o pleno e não apenas um paliativo e remédio, não apenas um aio, permitindo, assim, que se concretizasse o que proposto por Deus e não aceito por Israel no monte Sinai.

– Com efeito, quando vemos a proposta divina ao povo de Israel no Sinai, percebemos que o Senhor queria que, após o pronunciamento das palavras, o povo subisse ao monte, quando ouvisse um sonido longo de buzina, para, então, receber a lei em seus corações (Ex.19:13).

No entanto, logo após a pronúncia das palavras, o povo de Israel se retirou longe do monte e pediu que Moisés fosse falar com Deus (Ex.20:18,19), o que demonstra que o pacto estatuído foi inferior ao feito com Abraão, a exigir, portanto, um aperfeiçoamento, uma complementação.

– Não foi à toa, portanto, que Moisés preconizou, em seu segundo discurso de despedida, a “circuncisão do coração” (Dt.10:16), evento que o próprio Moisés já havia dito que aconteceria num momento em que o povo estivesse em total descumprimento da lei (Lv.26:41), o que torna a repetir em seu terceiro discurso de despedida (Dt.30:6).

E que é lembrado pelo profeta Jeremias, quando de sua pregação anterior à perda da Terra Prometida pelos israelitas(Jr.4:4), a máxima pena prevista no pacto do Sinai para a desobediência de Israel (Lv.26:33; Dt.28:64), profeta este, aliás, que mostra a insuficiência deste pacto e a necessidade do estabelecimento de um novo concerto entre Deus e Israel, em que a lei haveria de ser inscrita em seus corações (Jr.31:31-34).

II – JESUS E A LEI  

– Entendida, então, a distinção entre a lei de Deus e a dispensação da lei, precisamos ver qual o papel que Jesus desempenhou em relação à lei, pois, como vimos, Cristo foi anunciado por Moisés como sendo um profeta que deveria ser ouvido pelo povo e que traria aquilo que Moisés não pôde trazer ao povo quando do estabelecimento do pacto entre Deus e Israel no monte Sinai.

– O próprio Jesus diz qual é o Seu papel em relação à lei logo no sermão do monte, que é o Seu discurso ético por excelência, onde temos o resumo da Sua doutrina (Mt.7:28).

– O Senhor inicia Seu sermão ético apontando as bem-aventuranças (Mt.5:1-12), que nada mais são que as qualidades que deve ter o discípulo de Cristo Jesus. Quando analisamos as bem-aventuranças, percebemos que o discípulo de Jesus é alguém que tem qualidades que não se encontram em a natureza humana depravada pelo pecado, mas que exige uma nova criação para se manifestar.

– Como diz o Catecismo da Igreja Romana, o fim último do homem, criado à imagem e semelhança de Deus, é a bem-aventurança, à qual se chega mediante um agir reto e livre, com a ajuda da fé e da graça de Deus.

 Ora, esta bem-aventurança, este agir reto e livre somente se obtém mediante o novo nascimento, pois é preciso que se tenha uma nova criação para se atingir tal estágio, pois, como ensinou o Senhor Jesus ao grande mestre da lei, Nicodemos, “o que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo.3:6).

OBS: Reproduzimos aqui o mencionado parágrafo do Catecismo da Igreja Romana: “A terceira parte do Catecismo apresenta o fim último do homem, criado à imagem de Deus: a bem-aventurança e os caminhos para chegar a ela: mediante um agir reto e livre, com a ajuda da fé e da graça de Deus (Seção I), por meio de um agir que realiza o duplo mandamento da caridade, desdobrado nos dez Mandamentos de Deus (Seção II)” (§ 16 CIC).

– A natureza pecaminosa do homem não pode gerar a bem-aventurança, pois a carne não pode produzir o que é espiritual. Por isso, é necessário que nasçamos de novo e este novo nascimento somente é possível mediante a fé em Cristo Jesus.

– Por isso, o Senhor Jesus, após enunciar as qualidades que devem ter Seus discípulos, diz que eles serão sal da terra e luz do mundo (Mt.5:13-16), a mostrar que serão nova criação que contribuirá para que o mundo possa crer em Cristo e alcançar a salvação.

– Após indicar este estado espiritual de Seus discípulos, Jesus, então, se volta para a lei e nos mostra qual é o Seu papel em relação a ela. O Senhor diz, com todas as letras, que não veio destruir a lei, não veio abrogá-la, ou seja, revogá-la, anulá-la, mas, sim, cumpri-la (Mt.5:17).

– Este texto tem sido mal compreendido ao longo dos anos e precisa, pois, ser bem interpretado para que entendamos o papel de Cristo em relação a lei e vice-versa. Para tanto, precisamos contemplar o texto original.

– As palavras fundamentais para a compreensão deste texto são os verbos, a saber: “destruir”, “abrogar” e “cumprir”. Jesus disse textualmente que não veio destruir nem abrogar a lei, mas, sim, cumpri-la. Que isto significa?

– A palavra grega utilizada e que é traduzida por “destruir” na Versão Almeida Revista e Corrigida é “katalúo” (καταλύω), cujo significado é “lançar abaixo, derrubar, destruir, demolir, desmantelar, anular, invalidar, arruinar, levar ao fim, largar, desintegrar”.

– Vemos, portanto, que Jesus não veio para destruir a lei, lançá-la abaixo, anulá-la, invalidá-la. Jesus, sendo Deus, sendo o Verbo (Jo.1:1-3,14), não poderia desfazer aquilo que Ele mesmo fizera, pois Deus é imutável (Ml.3:6), não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa (Nm.23:19). O mandamento é justo, bom e santo (Rm.7:12), é a expressão da vontade de Deus e não poderia, por isso mesmo, ser anulado, invalidado pelo próprio Deus que o deu.

– Jesus não pode destruir a lei, pois a lei foi estabelecida por Deus desde a criação do homem, como um regramento moral necessário e indispensável para seres morais criados por Deus e que não serão jamais aniquilados pelo Criador.

– A palavra grega utilizada e que é traduzida por “abrogar” na Versão Almeida Revista e Corrigida é a mesma palavra “katalúo”, que, no texto original é repetida por duas vezes, a revelar a ênfase como o Senhor Jesus tratou a questão. “Abrogar” é um termo jurídico que significa a perda de validade de uma lei por outra, a substituição da lei por outra, a mudança de lei.

Como dizem os juristas: “É a revogação total de uma lei pela edição de uma nova (…). É também considerado o ato de tornar nulo ou sem efeito a norma jurídica anterior” (Abrogação. In: Dicionário Direito Net. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/514/Ab-rogacao Acesso em 12 jan. 2015).

– Jesus foi incisivo, portanto, ao mostrar que não veio invalidar a lei, não veio desintegrá-la, anulá-la nem destruí-la, até porque, como Deus, não poderia fazê-lo, pois Deus não é contraditório, é imutável, não pode negar-Se a Si mesmo (II Tm.2:13).

– Jesus, entretanto, disse que veio “cumprir” a lei. A palavra grega utilizada aqui é “pleróo” (πληρόω), cujo significado é o de “encher completamente, encher até a boca, satisfazer, executar, concluir, verificar, realizar, aperfeiçoar, estar completo” (Bíblia de Estudo Palavra-Chave. Dicionário do Novo Testamento, n.4137, p.2358).

– Jesus, portanto, disse que veio para cumprir a lei. E o que significa cumprir? Significa aperfeiçoar, completar, realizar. Jesus não só cumpriu a lei no sentido de tê-la executado, algo que homem algum tinha feito antes, como também lhe trouxe o seu significado real, completo, como vimos ao longo deste trimestre no estudo de cada mandamento.

– A lei não havia sido inscrita nos corações dos israelitas, que se distanciaram do monte Sinai logo após Deus ter pronunciado a síntese da lei, os dez mandamentos.

Não subiram ao monte e, por isso, a lei teve de ser escrita num livro, sendo que a síntese dela, além de escrita no livro, foi escrita, também, em duas tábuas de pedra, tábuas estas inseridas na arca, que era inacessível ao povo, por causa do véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo no tabernáculo.

– Jesus, porém, veio ao mundo para cumprir esta lei que ninguém havia cumprido, veio realizá-la, ou seja, torná-la um fato histórico e não apenas preceitos escritos que jamais haviam se tornado realidade.

– Jesus veio ao mundo para completar esta lei, levar-lhe ao seu sentido completo, sentido este não somente de dar o devido alcance, conforme a vontade de Deus, inclusive desconsiderando a restrita interpretação que era dada pelos doutores da lei, mas também o sentido de realização, ou seja, de sua inserção na história da humanidade, retirando, portanto, a lei do livro para coloca-la como realidade, como um fato, como um acontecimento real.

– Jesus não somente fez o que a lei mandava, não somente a cumpriu integralmente, mas, primeiramente com o Seu exemplo e, depois, com o Seu ensino, mostrou como a lei poderia ser também cumprida por todos aqueles que O seguissem (At.1:1).

– Como diz o Papa Emérito Bento XVI : “…Esperava-se do Messias que trouxesse uma nova Torá – a sua Torá.(…).

A ‘Torá do Messias’ é totalmente nova, diferente, mas justamente assim é que ‘cumpre’ a Torá de Moisés (…). Mas como é que se apresenta agora esta Torá do Messias? (…).

 Não se trata, portanto, de abolir, mas sim de cumprir, e este cumprimento exige mais, e não menos, justiça, como diz Jesus…(Mt.5:20)(…). O Eu de Jesus avança para uma dignidade que nenhum doutor da lei podia permitir- se. A multidão sente isso; S. Mateus diz-nos expressamente que o povo se ‘assustou’ por causa do modo como ensinava. Ele ensina não como fazem os rabinos mas como alguém que tem ‘autoridade’ (Mt.7:28; Mc.1:22; Lc.4:32).

Com isto não se visa naturalmente uma qualidade retórica do discurso de Jesus, mas sim à clara pretensão de se colocar ao nível do autor da lei — ao nível de Deus. O ‘susto’ (…) é precisamente o susto que decorre de alguém ousar falar com a alteza de Deus.

Deste modo, ou Ele se agarra impropriamente à majestade de Deus, o que seria terrível, ou então, o que quase aprece difícil de conceber, Ele Se encontra realmente à altura de Deus.…” (Jesus de Nazaré – primeira parte: do batismo no Jordão à transfiguração. Trad. de José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, pp.99-101).

OBS: “…Jesus apareceu aos olhos dos judeus e de seus chefes espirituais como um “rabi”. Com frequência argumentou na linha da interpretação rabínica da Lei. Mas ao mesmo tempo Jesus só podia chocar os doutores da Lei, já que não se contentava em propor sua interpretação em pé de igualdade com as deles, senão que “ensinava como alguém que tem autoridade, e não como os escribas” (Mt 7,28-29).

Nele, é a mesma Palavra de Deus que tinha ressoado no Sinai para a Moisés a Lei escrita, que se faz ouvir novamente sobre o Monte das Bem- aventuranças. Ela não abole a Lei, mas a cumpre, fornecendo de modo divino a interpretação última dela: “Aprendestes o que foi dito aos antigos… eu, porém, vos digo” (Mt 5,33-34).

Com esta mesma autoridade divina, Ele desabona certas “tradições humanas” dos fariseus que “invalidam a Palavra de Deus”. (Parágrafo relacionado: 2054) (§ 581 CIC).

– Jesus leva a lei até o seu sentido pleno, pois é Deus, está acima da lei, e pode trazer para o homem aquilo que Moisés não pôde trazer a Israel, precisamente porque Israel não o quis, distanciando-se de Deus, não subindo ao monte que, como ensina o pastor Alderi Nelson Rocha, representava o “lugar santíssimo” daquele “tabernáculo natural” em que havia se tornado o monte Sinai quando da descida do Senhor para selar o pacto com Israel.

– É neste sentido que devemos compreender a afirmação de João segundo a qual “a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo.1:17).

 Moisés somente pôde trazer a lei escrita num livro, tendo sua síntese em tábuas de pedra, diante da incredulidade e da falta de amor do povo de Israel, pois onde há medo não há amor (I Jo.4:18), mas o Senhor Jesus pôde trazer a graça e a verdade, ou seja, pôde trazer à humanidade a salvação, por um favor imerecido (graça), pela Palavra (a verdade), Palavra esta que pôde ser inscrita nos corações de tantos quantos crerem n’Ele e, por isso, nascerem de novo, passando a ser “novas criaturas”, criaturas que podem, então, em Cristo, cumprir a lei, que é, assim, realizada, tornada fato e não apenas uma proposta inalcançável para o homem pecador.

– Para se entrar no reino de Deus, portanto, é necessário que se vá além do que estatuído na lei (Mt.5:20). “…Como devemos agora entender esta Torá do Messias? Que caminho ela nos mostra? O que ela nos diz sobre Jesus, sobre Israel, sobre a Igreja, sobre nós mesmos e a nós? (…)

Jesus não diz nada de inaudito e de totalmente novo quando contrapõe às normas casuísticas desenvolvidas praticamente na Torá a pura vontade de Deus, como a ‘maior justiça’ que devia esperar-se dos filhos de Deus (Mt.5:20).

Ele assume a dinâmica interior da Torá desenvolvida pelos profetas e, como o eleito, como o profeta que está com Deus mesmo face a face (Dt.18:15) dá-lhe a sua forma radical.(…). Nas antíteses do Sermão da Montanha, Jesus não Se situa diante de nós nem como rebelde nem como liberal, mas como o intérprete profético da Torá, que nada anula, mas cumpre, e cumpre precisamente na medida em que indica à razão que atua historicamente o seu lugar de responsabilidade.…(BENTO XVI. op.cit., pp.101, 119-120).

– Jesus veio cumprir a lei e, neste sentido, não só fez tudo quanto estava previsto na lei, algo que jamais ninguém conseguira fazer até então, como também mostrou o verdadeiro alcance da lei, a fim de que Seus discípulos, aqueles que n’Ele cressem e que se tornassem “novas criaturas”, pudessem saber qual a conduta que deveriam ter, cumprindo, assim, como o Senhor, aquilo que era a vontade de Deus, mas não por si mesmos, mas, sim, pelo fato de estarem agora com suas vidas escondidas em Cristo (Cl.3:3), porque não mais vivem, mas é Cristo que neles vive (Gl.2:20).

– Jesus cumpriu a lei integralmente, em todos os seus preceitos, sejam os morais, sejam os civis, sejam os cerimoniais. Como bem ensina Frank Brito, a lei continha preceitos morais, estabelecidos por Deus independentemente do pecado, desde o instante da criação do mundo, como também preceitos civis e cerimoniais, que foram estabelecidos por causa do pecado, já que o pecado persistiu existindo, ante a incredulidade e o distanciamento dos israelitas no monte Sinai.

 OBS: “…Isso reflete uma importante distinção entre leis morais e leis civis. Leis morais vigorariam e seriam obedecidas mesmo se não houvesse queda ou pecado. Ou seja, fazem parte da ordem natural da criação.

 Por outro lado, leis civis lidam com o problema do pecado, pressupondo que há queda, que o pecado entrou no mundo. Se não houvesse queda, então, haveriam leis morais, mas não haveriam leis civis.(…) Se não houvesse queda, não haveria necessidade de expiação.

 E, não havendo necessidade de expiação, não haveria necessidade de sacrifícios de animais prefigurando o sacrifício expiatório de Cristo. Sendo assim, esta lei também pressupõe que há queda, que o pecado entrou no mundo. Se não houvesse queda, haveriam leis morais, mas não haveriam as leis cerimoniais, que prefiguravam a obra redentora de Cristo.…” (BRITO, Frank. A queda de Adão e os três aspectos da lei. 20 abr. 2014. Disponível em: http://resistireconstruir.wordpress.com/2014/04/20/o- pecado-e-os-tres-aspectos-da-lei/ Acesso em 12 jan. 2015).

– Jesus cumpriu os preceitos morais da lei, visto que sempre teve um agir correto, nunca pecou (Jo.8:46; Hb.4:15), sempre fazendo a vontade de Deus, que era a sua própria razão de sobrevivência sobre a face da Terra (Jo.4:34) e os cumpriu no sentido pleno e completo, o que, como já vimos supra, causou admiração no meio do povo.

– Jesus cumpriu os preceitos civis da lei, na medida em que sempre foi um cidadão exemplar, tanto que os Seus inimigos não tiveram de que o acusar seja perante o Sinédrio (Mt.26:59-66), seja perante o representante de César, que, inclusive, O considerou inocente (Lc.23:4,14,22).

– Jesus cumpriu os preceitos cerimoniais da lei, na medida em que, com Seu sacrifício vicário na cruz do Calvário, realizou todos os sacrifícios e ofertas que eram tipificados pelo chamado “código da santidade”, realizando o sacrifício perfeito que, em uma única vez, tirou o pecado do mundo, sendo não só o perfeito sumo sacerdote, mas a perfeita vítima oferecida por toda a humanidade, o Cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo (Jo.1:29; Hb.10:1-12).

– Por isso, ao expirar na cruz, o véu do templo se rasgou de alto a baixo (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45), a indicar que a barreira que existia entre Deus e o homem havia se rompido e que, agora, o homem podia, por Cristo, ter pleno acesso ao Senhor, podia entrar em comunhão com o Senhor, podia, finalmente, ser salvo e, portanto, poderia, em Cristo, cumprir a lei e na sua plenitude.

III – A IGREJA E A LEI  

– Jesus veio cumprir a lei, ou seja, dar-lhe o verdadeiro sentido e torná-la uma realidade histórica, completando aquilo que ficara inconcluso quando do pacto entre Deus e Israel. Através de Jesus, vieram a graça e a verdade (Jo.1:17) e, por meio deste favor imerecido, a Palavra pode ser inserta em nossos corações e, assim, não mais vivemos, mas Cristo vive em nós, somos novas criaturas capazes de cumprir os preceitos morais que constavam da lei transmitida aos israelitas por intermédio de Moisés.

– Ao cumprir a lei e tirar o pecado do mundo mediante o sacrifício perfeito ocorrido na cruz do Calvário, o Senhor Jesus, como diz o apóstolo Paulo, nos permitiu chegar perto de Deus (Ef.2:13), formando um novo povo, decorrente da união de judeus e de gentios, a Igreja, criando um novo homem, desfazendo a inimizade, ou seja, a lei dos mandamentos (Ef.2:14-16).

– A lei dos mandamentos era a perfeita demonstração da inimizade que havia entre Deus e os homens, porquanto, como explica também o apóstolo Paulo, embora a lei fosse santa e o mandamento santo, justo e bom (Rm.7:12), o fato é que ela denunciava a existência do pecado em nós e, portanto, nos dava consciência de nossa condenação, de nossa carnalidade, da impossibilidade que tínhamos de ser salvos pelos nossos próprios méritos (Rm.7:13-24).

– A lei, portanto, era um sinal de maldição, porquanto nos fazia conscientes de nossa perdição eterna, sem condições de nos salvar (Gl.3:11-13), sendo, neste sentido, o pacto da escravidão, pois demonstrava, com todas as letras, a nossa condição de escravos do pecado (Jo.8:34; Gl.4:21-25).

Como afirma Martinho Lutero: “…’Assim, a lei revela um duplo mal, um interno e o outro externo. O primeiro, que nós causamos a nós mesmos, é o pecado e a corrupção da natureza; o segundo, que Deus causa, é a ira, a morte e a maldição’ (Contra Latomus, 3 – LW 32:224)…” (apud MATOS, Alderi de Souza. Os reformadores e a lei – valor, semelhanças e diferenças. Disponível em: http://www.mackenzie.br/6968.html Acesso em 12 jan. 2015).

– Não estamos, pois, como Igreja, debaixo da lei. Cristo nos resgatou da maldição da lei, uma vez que, morrendo por nós e pagando o preço dos nossos pecados, pôde nos trazer a graça, ou seja, o favor imerecido de recebermos o perdão dos pecados, a retirada dos pecados, pela fé em Cristo Jesus, fazendo-nos, portanto, chegar perto de Deus. A lei, instituída por causa do distanciamento do povo de Israel, não se aplica àqueles, judeus ou gentios, que se chegam a Deus pelo sangue de Jesus, pela fé n’Ele.

– Ainda citando Lutero: “…“Porém, agora eu descubro que a Lei é preciosa e boa, que ela me foi dada para a vida, e agora ela é agradável para mim. Antes ela me dizia o que fazer; agora estou começando a moldar-me aos seus apelos, de modo que agora eu louvo, engrandeço e sirvo a Deus. Isso eu faço por meio de Cristo, porque nele creio.

O Espírito Santo entra em meu coração e gera em mim um espírito que se compraz nas suas palavras e obras, mesmo quando ele me repreende e me sujeita à cruz e à tentação” (Sermões sobre o Evangelho de João –LW 22:144)…” (apud MATOS, Alderi de Souza. end.cit.).

–  É o que diz o Catecismo de Heidelberg: “…

  1. Qual é o seu único fundamento, na vida e na morte? O meu único fundamento é meu fiel Salvador Jesus Cristo (I Co.3:23; Tt.2:14). A Ele pertenço, em corpo e alma, na vida e na morte (Rm 14:8; ITs 5:9,10) , e não pertenço a mim mesmo (ICo 6:19,20).

Com seu precioso sangue Ele pagou (IPe 1:18,19; IJo 1:7; IJo 2:2,12) por todos os meus pecados e me libertou de todo o domínio do diabo (Jo 8:34-36; Hb 2:14,15; IJo 3:8). Agora Ele me protege de tal maneira (Jo 6:39; Jo 10:27-30; IITs 3:3; IPe 1:5) que, sem a vontade do meu Pai do céu, não perderei nem um fio de cabelo (Mt 10:29,30; Lc 21:18).

Além disto, tudo coopera para o meu bem (Rm 8:28). Por isso, pelo Espírito Santo, Ele também me garante a vida eterna (Rm 8:16; IICo 1:22; IICo 5:5; Ef 1:13,14) e me torna disposto a viver para Ele, daqui em diante, de todo o coração (Rm 8:14; IJo 3:3).

  1. O que você deve saber para viver e morrer neste fundamento? R. Primeiro: como são grandes meus pecados e minha miséria (Mt 9:12; Jo 9:41; Rm 3:10; IJo 1:9,10).

Segundo: como sou salvo de meus pecados e de minha miséria (Lc 24:46,47; Jo 17:3; At 4:12; At 10:43; ICo 6:11; Tt 3:3-7).

Terceiro: como devo ser grato a Deus por tal salvação (Sl 50:14,15; Sl 116:12,13; Mt 5:16; Rm 6:12,13; Ef 5:10; 2Tm 2:15; 1Pe 2:9,12. Veja também Mt 11:28-30; Ef 5:8.).…” (Catecismo de Heidelberg. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/catecismos/catecismo_heidelberg.htm Acesso em 12 jan. 2015).

– Nesta afirmação do Catecismo de Heidelberg, podemos inferir que a lei ainda cumpre um papel para a Igreja na medida em que, primeiro, dá-nos a conhecer os nossos pecados e as nossas misérias, mas, ante o anúncio do Evangelho, que nos faz saber como sou salvo dos pecados e da minha miséria, a lei é como que ultrapassada pela obra salvífica de Cristo e, por meio desta obra, uma vez salvos, acabamos por cumprir a lei, em gratidão a Deus por esta tão grande salvação.

 Como podemos concluir isto? Porque é, precisamente, na terceira parte deste Catecismo, quando se fala da gratidão a Deus, que se estudam os dez mandamentos.

– Como explica o mencionado Catecismo: “…86. Visto que fomos libertados de nossa miséria, por Cristo, sem mérito algum de nossa parte, somente pela graça, por que ainda devemos fazer boas obras?

  1. Primeiro: porque Cristo não somente nos comprou e libertou com seu sangue, mas também nos renova, à sua imagem, por seu Espírito Santo, para que mostremos, com toda a nossa vida, que somos gratos a Deus por seus benefícios (Rm 6:13; Rm 12:1,2; 1Co 6:20; 1Pe 2:5,9) , e para que Ele seja louvado por nós (Mt 5:16; 1Pe 2:12).

Segundo: para que, pelos frutos da fé, tenhamos a certeza de que nossa fé é verdadeira (Mt 7:17,18; Gl 5:6,22; IIPe 1:10) e para que ganhemos nosso próximo para Cristo, pela vida cristã que levamos ( Mt 5:16; Rm 14:18,19; IPe 3:1,2).…” (end.cit.).

– Quando não mais vivemos, mas Cristo vive em nós, podemos cumprir os mandamentos, em sinal de gratidão a Deus e como resultado da vida de comunhão que temos com o Senhor. É esta a unidade que o Senhor Jesus diz ter vindo estabelecer, em Sua oração sacerdotal, quando afirma que esta unidade é constituída para que o mundo creia que Ele foi enviado pelo Pai (Jo.17:22,23).

– É evidente que, mesmo salvos em Cristo Jesus, não temos condição de cumprir integralmente os mandamentos, visto que a natureza pecaminosa ainda habita em nós e, vez ou outra, pecamos, visto que ainda não fomos glorificados.

O mesmo Catecismo de Heidelberg atesta isto, em definições lapidares, que valem a pena transcrever: “…114. Mas aqueles que se converteram a Deus, podem guardar perfeitamente estes mandamentos? R. Não, não podem, porque nesta vida até os mais santos deles apenas começam a guardar os mandamentos (Ec 7:20; Rm 7:14,15; ICo 13:9; IJo 1:8,10).

 Entretanto, começam, com sério propósito, a viver não somente conforme alguns, mas conforme todos os mandamentos de Deus (Sl 1:2; Rm 7:22; IJo 2:3). 115. Para que, então, manda Deus pregar os Dez Mandamentos tão rigorosamente, já que ninguém pode guardá-los nesta vida? R. Primeiro: para que, durante toda a vida, conheçamos cada vez melhor nossa natureza pecaminosa (Sl 32:5; Rm 3:20; IJo 1:9) e, por isso, ainda mais desejemos buscar, em Cristo, o perdão dos pecados e a justiça (Mt 5:6; Rm 7:24,25).

 Segundo: para que sempre sejamos zelosos e oremos a Deus pela graça do Espírito Santo, a fim de que sejamos cada vez mais renovados segundo a imagem de Deus até que, depois desta vida, alcancemos o objetivo, a saber: a perfeição (ICo 9:24; Fp 3:12-14).…” (end.cit.).

– Até a morte e ressurreição de Cristo, portanto, a lei apenas cumpria este seu papel de mostrar a miséria e o pecado humanos, não podendo salvar o homem, mas apenas conscientizá-lo da sua morte espiritual.

 No entanto, com a vinda de Cristo, a lei continuou a exercer este papel de conscientização do pecado, mas o Senhor Jesus nos deu a oportunidade de, pela fé n’Ele, escapar desta maldição estabelecida pela lei.

Uma vez salvos em Cristo, porém, não vivemos sem qualquer regra ou princípio, mas, antes, precisamente por estarmos salvos, somos levados a cumprir os preceitos morais estatuídos na lei, não para sermos salvos, mas, precisamente, porque estamos salvos em Cristo e, assim, não mais vivemos, e, sim, Cristo vive em nós e, deste modo, praticamos boas obras, obras conforme os preceitos morais constantes da lei dada no monte Sinai, a imutável lei de Deus, cujos preceitos foram revelados ao homem desde o jardim do Éden.

– É por isso que o apóstolo Paulo diz que a fé não anula a lei, mas, antes, a estabelece (Rm.3:31), pois, a partir do momento que somos salvos pela graça, pela fé em Cristo, tendo os nossos pecados perdoados e nascendo de novo pelo Espírito, passamos a ser homens espirituais (I Co.2:14,15) e, como novas criaturas, podemos, então, cumprir os preceitos morais da lei, a chamada “lei de Cristo” (I Co.9:21; Gl.6:2).

– “Estabelecer” é, no texto grego original, “istanómen” (ίστανομεν) cujo significado é de “estabelecer, confirmar”, ou seja, a lei é confirmada pela fé, na medida em que seus objetivos são plenamente alcançados quando cremos em Cristo Jesus e nos afeiçoamos à Sua imagem (Rm.8:29).

– Somos, então, resgatados, ou seja, libertos da maldição da lei. A lei não pode mais nos condenar, porque, embora não tenhamos condição de cumpri-la, Cristo já a cumpriu por nós e, pela Sua graça, podemos ter vida eterna. Uma vida de santificação fará com que, cada vez mais, cumpramos os preceitos morais da lei até aquele dia em que, glorificados, quando o “velho homem”, a “carne” for aniquilada de nosso ser, chegaremos à perfeição.

– Esta é a verdadeira libertação que Jesus Cristo opera no homem. Quando cremos em Jesus, Ele nos liberta do pecado e, como tal, não somos mais condenados pela lei, pois nos tornamos espirituais e não mais carnais e, com Cristo vivendo em nós, podemos, então, caminhar sempre no sentido do integral e pleno cumprimento dos preceitos morais da lei de Deus.

– Assim, a graça e a verdade vindas de Jesus Cristo torna a lei algo real, factual, algo verificável pelos homens e não apenas um livro cujos preceitos são inatingíveis e inacessíveis. As duas tábuas de pedra que ficavam na arca, separada de todo o povo pelo véu, agora são inscritas nas carnes dos corações dos homens e, deste modo, os discípulos de Cristo se tornam “cartas vivas, conhecidas e lidas por todos os homens” (II Co.3:2).

– Não há, portanto, em absoluto, um “antinomismo” na graça, como alguns querem entender. O discípulo de Cristo, a nova criatura surgida pela fé em Cristo Jesus está, sim, submetida a lei de Deus. Como Paulo faz questão de dizer na carta aos gálatas, as novas criaturas andam conforme “esta regra”, constituindo o Israel de Deus (Gl.6:15,16).

– Reside aqui a verdadeira liberdade, que é a chamada liberdade heterônoma, ou seja, somente somos verdadeiramente livres quando nos submetemos à vontade de Deus. A liberdade não está em nos distanciarmos de Deus e fazermos as nossas próprias regras, em assumirmos indevidamente o lugar de Deus para dizer o que é certo e o que é errado, mas em crermos que Deus é o Senhor e, assim, passarmos a fazer a sua vontade, o que somente pode ser feito quando nos rendemos a Cristo Jesus e o recebemos como Senhor e Salvador. Esta é a “lei da liberdade” de que fala Tiago (Tg.2:12).

– Por isso, não temos “liberdade” para pecar (Rm.6:1-7). É este o simbolismo do batismo nas águas: morremos para o pecado, não mais vivemos, mas agora Cristo vive em nós e, por isso, somos livres e resgatados do pecado, para viver conforme a vontade de Deus, o que significa que passaremos a cumprir os mandamentos, passaremos a ter qualidades especiais, presentes no fruto do Espírito (Gl.5:22).

– Somente são discípulos de Cristo aqueles que têm as qualidades que o próprio Senhor enunciou na abertura do sermão do monte, ou seja, as “bem-aventuranças”, que, como afirma o Catecismo da Igreja Romana, “…retomam e completam as promessas de Deus desde Abraão, ordenando-as para o Reino dos Céus…” (§ 1725 CIC).

 “A prometida bem-aventurança nos coloca diante de escolhas morais decisivas. Convida-nos a purificar nosso coração de seus maus instintos e a procurar o amor de Deus acima de tudo.…” (§ 1723 CIC).

“Deus nos colocou no mundo para conhecê-l’O, servi-l’O e amá-l’O e, assim, chegar ao paraíso. A bem- aventurança nos faz participar da natureza divina (I Pe. 1:4) e da vida eterna. Com ela, o homem entra na glória de Cristo e no gozo da vida trinitária. Tal Bem-Aventurança ultrapassa a inteligência e as forças exclusivamente humanas. Resulta de um dom gratuito de Deus…” (§§ 1722-3 CIC).

– Em virtude da nossa fé em Cristo Jesus, portanto, podemos trilhar no caminho do cumprimento da lei, que não é perfeito, mas que caminha em direção à perfeição, já que não há mais nenhum entrave ou obstáculo para entrarmos em comunhão com Deus e podermos ter tal lei inscrita em nossos corações, mostrando, pela nossa vida, a presença de Deus em nós.

– Portanto, o verdadeiro e genuíno cristão cumpre a lei e, neste cumprimento, revela a sua filiação divina.

Estamos, pois, tornando realidade a lei divina em nossas vidas, visto que não mais vivemos pecando, glorificando, através de nossas obras, o nome do Senhor (Mt.5:16). De meio de maldição, portanto, a lei se torna demonstração de salvação, testemunho apto a levar outras pessoas a crer em Jesus.

– Não estamos, pois, mais debaixo da maldição da lei, mas agora a lei está em nós e nos leva a testificar que somos discípulos de Jesus.

– Daí porque termos estudado os dez mandamentos neste trimestre, condutas que, em sendo praticadas por nós, pelo fato de Cristo viver em nós, dará um alto testemunho da salvação em Cristo Jesus, não só demonstrando que estamos caminhando para o céu, mas levando outros também a seguir este caminho.

Temos tido tal consciência? Que Deus nos ajude a cumprirmos tal objetivo de Deus em nossas vidas. Amém!   

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco  

BIBLIOGRAFIA DO TRIMESTRE  

          A bibliografia diz respeito aos estudos de todo o primeiro trimestre de 2015, não contendo bíblias e bíblias de estudo consultadas, bem assim textos esporádicos, notadamente fontes eletrônicas, cujas referências foram dadas no instante mesmo de suas utilizações.

AUSUBEL, Nathan. Trad. de Eva Schechtman Jurkiewicz. Conhecimento judaico. In: A JUDAICA. Rio de Janeiro: Koogan, 1989. vv.5 e 6.

BENTO XVI. Jesus de Nazaré: primeira parte – do batismo no Jordão até a Transfiguração. Trad. de José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ. São Paulo: Planeta, 2007. 330p.

BUNIM, Irving M. Trad. de Dagobert Mensch. A ética do Sinai. 2. ed. São Paulo: Sêfer, 2001. 523p.

CARVALHO, Ailton Muniz de. Deus e a história bíblica dos seis períodos da criação. 4. ed. Suzano-SP: Gil & Tunice, 1998. 214p.

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 5.ed. São Paulo: Hagnos, 2001. 6v.

______________. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Candeia, 2000. 7v.

______________. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Candeia, 1995. 6v.

CÍCERO, Marcos Túlio. Das Leis. Trad., introd. e notas por Otávio T. de Brito. São Paulo: Cultrix, 1967. 132p.

COUTO, Geremias do. Sermão do monte: a transparência da vida cristã. Lições Bíblicas: jovens e adultos – revista do mestre. 2. trim, 2001. Rio de Janeiro: CPAD, 2001. 96p.

MELAMED, Meir Matzliah. Torá: a lei de Moisés. São Paulo: Sêfer, 2001. 685p.

NASCIMENTO. Misael Batista et alii. Os dez mandamentos: os preceitos do Deus da aliança – revista do aluno. Expressão, n. 53. 1. trim. 2014. São Paulo: Cultura Cristã, 2014. 64p.

SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade. São Paulo:s.ed., 2000. 7v.

WHITE, Ellen G. O grande conflito – edição condensada. Trad. de Hélio L. Grellmann. 4.ed. Tatuí-SP: CPB, 1994. 400p.

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