Sem categoria

LIÇÃO Nº 6 – A CONDIÇÃO DOS GENTIOS SEM DEUS   

Os gentios são um povo sem esperança e sem Deus no mundo.  

INTRODUÇÃO

– Em continuidade ao estudo da carta de Paulo aos efésios, analisaremos o trecho de Ef.2:11-13.  

– Os gentios são um povo sem esperança e sem Deus no mundo.  

I – QUEM SÃO OS GENTIOS  

– Em continuidade ao estudo da carta de Paulo aos efésios, estudaremos o trecho de Ef.2:11-13.  

– O apóstolo acabou de nos mostrar que Deus nos vivificou, por Sua riquíssima misericórdia, salvando-nos pela graça, para que para sempre O glorifiquemos, a partir desta dimensão terrena, fazendo boas obras aqui.  

– Esta glorificação a Deus não deve apenas se dar pela prática de boas obras nesta dimensão terrena, mas Paulo nos mostra que devemos nos lembrar da nossa condição pecaminosa, pois advirá daí uma imensa gratidão, que nos fará glorificar cada vez mais ao Senhor. É preciso que tenhamos uma “grata memória”.  

– Como afirma João Crisóstomo (347-407):

“…É costume de todos nós, quando fomos levantados de uma profunda humilhação, ou promovidos ainda mais alto, perder até a memória do nosso estado anterior, à medida que nos acostumamos à nossa glória atual.

Daí as seguintes palavras: “Portanto, lembrai-vos”.

– “Portanto”, entenda, pois, que fomos criados para boas obras. Não é preciso mais nos convencer a praticar a virtude. “Lembre-se”.

Basta esta memória para nos inspirar com gratidão a nosso Benfeitor.…” (Sobre Efésios – Homilia 5 – Ef.2:11-16. Cit. Ef.2:11-22, n. 500. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 19 fev. 2020) (tradução pelo Google alterada por nós de texto em francês).  

– Paulo afirma que, antes, éramos gentios na carne (Ef.2:11). Paulo lembra aqui o fato de que os gentios se distinguiam dos judeus pela circuncisão, este sinal que Deus estabelecera na carne com Abraão, a fim de que todos se lembrassem que os filhos de Abraão, haviam sido formados para ser um povo especial de Deus, para que, por este povo, viesse o Messias que salvaria a humanidade.  

– Num primeiro instante, parece que Paulo está aqui trazendo a lume algum resquício de seu antigo farisaísmo (At.23:6; 26:5), querendo mostrar uma eventual superioridade dos judeus em relação aos gentios, gentios que compunham a igreja de Éfeso.

– Afinal de contas, como afirma o pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes: “…Dois fatos importantes acerca dos gentios são destacados pelo apóstolo Paulo:

Em primeiro lugar, os gentios eram objeto de desprezo pelos judeus (2:11) (…)

Em segundo lugar, os gentios eram espiritualmente falidos (2:12).…” (Efésios – Igreja, a noiva gloriosa de Cristo, p.61).  

– No entanto, não há aqui qualquer resquício farisaico, nem atitude nacionalista. Bem ao contrário, o apóstolo quer aqui mostrar como a gratidão devida ao Senhor pela salvação alcança, entre os gentios, uma intensidade toda especial, porque os gentios haviam sido rebeldes contra o Senhor, mas o Senhor chegou a formar uma nação, de forma sobrenatural, precisamente para alcançar estes gentios.  

– Para bem entendermos a profundidade desta afirmação do apóstolo, torna-se necessário lembrarmos quem são os gentios, quem são as “nações”, tantas vezes mencionadas nas Escrituras.  

– Sabemos que, expulsos do jardim do Éden, o primeiro casal passou a lavrar a terra e a cumprir a ordem de multiplicação e enchimento da Terra (Gn.1:28).

Entretanto, a natureza pecaminosa do homem levou à destruição de toda aquela geração com o dilúvio, tendo o Senhor poupado apenas Noé e a sua família.  

– Quando Noé saiu da arca com sua família, o Senhor repetiu aos sobreviventes a mesma ordem dada ao primeiro casal (Gn.9:1).

 Assim, houve a devida multiplicação, vivendo todos numa mesma comunidade, como, aliás, ocorria antes do dilúvio.  

– Após o dilúvio, houve uma novidade na organização social. Deus estabeleceu o governo humano, determinando que o homem tomasse medidas para que o mal fosse reprimido, a fim de que não se tivesse a situação anárquica que havia levado à destruição da geração antediluviana (Gn.9:1-6).  

– Entretanto, a natureza pecaminosa do homem uma vez mais se revelou nesta comunidade única pósdiluviana.

Quando já se estava na quarta geração depois de Noé, Ninrode, bisneto de Noé, assumiu o comando desta comunidade (Gn.10:8-12) e os levou a se rebelar contra o Senhor.  

– O episódio da torre de Babel nada mais é que rebelião contra o Senhor, porquanto a decisão de construir uma torre em Babel era recusa à ordem divina de se espalhar pela Terra, de enchê-la.   

– É o que deixa bem claro o historiador Flávio Josefo ao comentar esta passagem bíblica, em trecho que vale a pena transcrever:

“Deus ordenou que mandassem colônias a outros lugares, a fim de que, multiplicando-se e estendendo-se, pudessem cultivar mais terras, colher frutos com maior abundância e evitar as desinteligências que de outro modo poderiam ser suscitadas entre eles. Mas esses homens rudes e indóceis não obedeceram e foram castigados pelo seu pecado, com os males que lhes sucederam(…).

Ninrode, neto de Cão, um dos filhos de Noé, foi quem os levou a desprezar a Deus, desta maneira.

Ao mesmo tempo valente e corajosos, ele os persuadiu de que deviam unicamente ao seu valor, e não a Deus, toda a sua boa fortuna.

E como ele aspirava ao governo e queria levá-los a escolhê-lo para seu chefe e deixar a Deus, ofereceu-se para protege-los contra Ele (se Ele ameaçasse a terra com outro dilúvio), construindo uma torre para esse fim, tão alta que não somente as águas para esse fim, tão alta que não somente as águas não poderiam chegar-lhe ao cimo, mas que ainda ele vingaria a morte dos seus antepassados.

O povo insensato deixou-se dominar por essa estulta persuasão, de que lhe seria vergonhoso ceder a Deus e começou a trabalhar nessa obra, com ardor incrível…” (Antiguidades Judaicas, I, 4. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.28).  

– Toda a comunidade, portanto, posicionou-se contra o Senhor e o resultado disto foi a confusão das línguas, medida tomada por Deus para destruir esta comunidade sem que se destruísse o homem.

Esta comunidade espalhou-se pela Terra, dando origem às diversas nações, que, a propósito, foram elencadas na chamada “tabela das nações”, que se encontra em Gênesis 10.   

– São estes integrantes da comunidade única pós-diluviana, que foi desfeita pela confusão das línguas, dando origem às nações mencionadas em Gênesis 10 e que geraram ainda outras nações ao longo da história, que são chamados de “gentios”, porque pertencem às “gentes” ou “nações”.

– De pronto, vemos que os gentios constituem um grupo que é rebelde contra o Senhor. Ao contrário do que acontecera antes do dilúvio, em que Noé e sua família acharam graça diante de Deus, no episódio da torre de Babel ninguém agradou ao Senhor, todos se rebelaram, como se diz no Sl.14:1-3, texto que bem ilustra a condição dos gentios.  

– A rebeldia foi tanta e generalizada que o Senhor teve de criar um povo para que dele viesse o Salvador, ante a rebelião dos gentios.

Foi por isso que chamou Abrão e prometeu que dele, de Seu descendente, viria a bênção sobre todas as famílias da Terra (Gn.12:3,7; Gl.3:16).  

– Esta rebelião só fez aumentar, como, por exemplo, nos povos que viviam primitivamente na terra de Canaã, aludindo o Senhor às “abominações dos gentios” como sendo as práticas horrendas existentes entre eles (II Rs.16:3; 21:2; II Cr.28:3; 33:2; 36:14; Ez.23:30).  

– Os gentios eram o contramodelo para o povo de Israel, tanto que os israelitas deveriam fazer exatamente o contrário que faziam os gentios para se manterem um povo santo (Lv.18:24).  

– Eis a razão porque o gentio é tomado, no texto sagrado, como uma figura do impenitente, daquele que não obedece ao Senhor.

Por isso, no Sl.10:16, é dito que os gentios serão desarraigados da Terra, expressão que significa que os que desobedeceram a Deus não herdarão a vida eterna, não terão como destino senão o lago de fogo e enxofre.  

– Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo também usou os gentios como figura daqueles que não servem a Deus, ao dizer que são os gentios que têm como foco na vida apenas a satisfação das necessidades terrenas, como comer, beber e vestir, desprezando o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:31-34; Lc.12:29-31).  

– Nosso Senhor também considerou aquele que peca contra o seu irmão e que não se arrepende, mesmo depois de admoestado particularmente, por dois ou três e, por fim, pela igreja, como um “gentio e publicano” (Mt.18:17), ou seja, o gentio é a figura daquele que está apartado da comunhão com o povo de Deus, daquele que não pertence ao povo do Senhor.  

– No entanto, apesar de o gentio ser tomado como figura do rebelde contra Deus, daquele que não O serve, desde o princípio, desde o surgimento dele, vê-se que Deus estava interessado em salvá-lo, vez que, a uma, não os destruiu,

mas apenas confundiu suas línguas para que se espalhassem sobre a Terra e, a duas, já no chamado de Abrão, disse que um dos objetivos deste chamado era fazer benditas “todas as famílias da Terra”.  

– Por isso mesmo, já nas profecias messiânicas, constava que o Messias seria o Salvador também dos gentios, como em passagens como Is.42:1,6; 49:6, que foram confirmadas em o Novo Testamento em textos como Mt.12:18,21 e At.13:47; 26:23 e que foi confirmado quando se iniciou a evangelização, que também se estendeu aos gentios (At.10:45; 11:1,18; 13:46,47; 14:27; 15:3,7,12; 21:19).  

– Assim, embora os gentios tenham se originado de uma rebelião contra o Senhor, rebelião que os fez serem como que símbolo da impenitência, jamais o Senhor deixou de amá-los e de querer salvá-los, tendo, mesmo, formado uma nação para que este propósito pudesse ser atingido.  

II – A CONDIÇÃO DOS GENTIOS  

– Paulo começa lembrando os gentios de que eles já ostentavam esta condição na própria carne, visto que não eram circuncidados (Ef.2:11).

Eram “incircuncisos”, ou seja, não tinham qualquer aliança ou compromisso com o Senhor, não eram o Seu povo, a Sua propriedade peculiar, condição que era a de Israel (Ex.19:5,6).

– Ao se referir à circuncisão, Paulo alude ao pacto firmado entre Deus e Abraão, pelo qual o patriarca, inclusive, teve a mudança de seu nome, deixando de se chamar “Abrão”, que significava “pai da altura”, para chamar-se “Abraão”, que significa “pai de uma multidão”.

 

– Quando Deus mudou o nome do patriarca, a fim de que ele pudesse ser considerado o pai de uma nação, confirmando assim a formação de um povo novo, do qual viria o Salvador da humanidade, também estabeleceu um pacto com ele, pacto este materializado na circuncisão.

Todo macho deveria ser circuncidado no oitavo dia, como sinal do concerto perpétuo que havia entre Deus e Abraão e sua descendência, entre Deus e o povo que se formaria de Abraão, que era o povo de Israel (Gn.17:1-14).  

– O apóstolo, portanto, começa lembrando os crentes de Éfeso de que eles não faziam parte daquele povo formado por Deus e que tinha como sinal de sua aliança com o Senhor a circuncisão.

Os gentios eram “incircuncisos”, ou seja, não havia, da parte de Deus, qualquer pacto, qualquer aliança que comprometesse Deus para com eles.  

– No pacto da circuncisão, o Senhor havia prometido dar a terra de Canaã à descendência de Abraão, como também ser o Deus dela e que tal pacto seria perpétuo.

Ao contrário dos israelitas, não tinham os gentios qualquer promessa da parte de Deus, nem de terem a bênção divina, muito menos de terem um lugar certo neste planeta para viver.  

– Assim, já num aspecto físico (tanto que Paulo insiste em dizer que a circuncisão era feita pela mão dos homens – Ef.2:11), os gentios estavam em nítida desvantagem com relação aos israelitas, visto que a circuncisão revelava um comprometimento divino para com os israelitas.

 – Esta incircuncisão da carne revelava que os gentios estavam sem comunhão com Deus, não tinham o Cristo, até porque Israel tinha sido formado precisamente para que, em seu seio, nascesse o Salvador, que, primeiramente pregando a Israel, pudesse ser anunciado aos gentios (Is.49:6,7; Jo.1:12,13; At.18:6; 26:20; Rm.1:16).

Como o Cristo vinha dos judeus (Jo.4:22), a incircuncisão é um sinal físico de que os gentios não tinham o Cristo.  

– A incircuncisão também revelava a separação que havia entre os gentios e os judeus. Desde os tempos patriarcais, como no episódio que envolveu a grande matança dos siquemitas por parte de Simeão e Levi (Gn.34),

os israelitas recusavam misturar-se com os outros povos, exigindo que qualquer estrangeiro que com eles quisesse conviver, passasse a pertencer ao povo de Israel, circuncidando-se, o que, inclusive, foi reafirmado quando da entrega da lei, quando, por exemplo, vedou-se a participação de estrangeiro incircunciso na refeição da Páscoa (Ex.12:48).  

– Os gentios eram separados da comunidade de Israel, não podiam ter comunhão com os filhos de Israel, e esta condição se revelava na incircuncisão dos estrangeiros, no fato de os estrangeiros não serem circuncidados Não havia aliança entre Deus e eles.  

– A separação da comunidade de Israel representava, ainda, a privação das promessas que o Senhor havia dado aos israelitas, bem como o impedimento para que pudessem os gentios ser “a propriedade peculiar de Deus dentre os povos”, “povo santo” e “nação sacerdotal”.

Tudo isto não estava ao alcance do gentio, porque não havia comunhão entre ele e o Senhor Deus de Israel.  

– O apóstolo assinala, portanto, como era difícil a situação dos gentios, que ficavam completamente à margem de todas as promessas e de todo o cuidado de Deus para com Israel.  

– Por isso mesmo, o apóstolo afirma que os gentios eram “estranhos aos concertos da promessa”, ou seja, não tinham direito algum a todos os pactos que o Senhor havia feito com Israel ao longo da história.

– O primeiro pacto, já mencionado por Paulo, era o pacto abraâmico, que tinha por sinal a circuncisão.

Por serem estranhos a este pacto, não gozavam os gentios do direito de possuir a Terra de Canaã, que foi dada aos israelitas.

Não foi por outro motivo que os povos que a ocupavam foram dali retirados, salvo aqueles que foram indevidamente poupados pelos próprios israelitas, povos estes, aliás, que não mais existem em nossos dias,

exatamente porque estavam estranhos ao pacto abraâmico, que não só prometeu dar esta terra aos israelitas (e seu retorno a esta Terra a partir do início do século XX e a criação do Estado de Israel não a prova de que Deus continua a velar pela Sua Palavra para a cumprir), como também dá-la em caráter perpétuo, o que significa afirmar que a nação de Israel jamais se extinguiria.  

– O segundo pacto firmado entre Deus e Israel foi o pacto sinaítico, ou seja, o pacto firmado no monte Sinai, pelo qual Israel recebeu a lei com seus 613 mandamentos (Ex.19,20).

A lei foi dada a Israel e os gentios, por serem estranhos aos concertos, não estão submetidos a lei, como, aliás, decidiu o Concílio de Jerusalém (At.15).

Jesus, por ser israelita, nasceu sob a lei (Gl.4:4) e teve de cumpri-la (Mt.5:17), tendo sido o único que conseguiu cumpri-la.  

– O terceiro pacto firmado entre Deus e Israel foi o pacto palestiniano, ou seja, o pacto firmado nos montes Gerizim e Ebal, segundo o qual o povo israelita condicionou sua permanência na terra de Canaã à obediência à lei (Dt.27; Js.8:30-35). Por terem quebrado este pacto, os israelitas foram para o cativeiro e que permitiu que os gentios não só pisassem a Terra de Canaã, como a ocupassem e dominassem sobre os israelitas (Ne.9:33-37).

 

– O quarto pacto firmado entre Deus e Israel foi o pacto dravídico, segundo o qual o Senhor prometia a Davi que reinaria para sempre sobre Israel e, por conseguinte, o Messias seria seu descendente (II Sm.7:816).

Aqui se confirmou o pacto abraâmico de que seria em Israel que viria o Salvador e que a salvação partiria dos judeus para todos os gentios. Os gentios, para obterem a salvação, teriam de se voltar a este Salvador.  

– É interessante observar que o apóstolo fala em “concertos da promessa”, ou seja, a uma, havia mais de um pacto (quatro como pudemos observar);

a duas, todos estes pactos estavam relacionados com uma só promessa, que é a promessa de redenção da humanidade, tornada pública no dia mesmo da queda ao primeiro casal e que se referia a todos os homens, tanto judeus quanto gentios.   

– Os gentios, porém, eram estranhos a tudo isto, ante a sua rebelião e recusa a glorificação do Senhor  e, por conseguinte, não tinham esperança nem Deus no mundo.  

– Paulo já falara desta distinção entre judeus e gentios na epístola aos romanos. Ali, o apóstolo afirmou que dos israelitas era a adoção de filhos, a glória, os concertos, a lei, o culto e as promessas (Rm.9:4).  

– Os israelitas receberam a adoção de filhos, porquanto descendiam de patriarcas que foram miraculosamente concebidos. Isaque e Jacó eram resultado de milagres de Deus, porquanto suas mães eram estéreis (Gn.11:30; 21:1,2; 25:21), a demonstrar que esta nação foi formada pelo Senhor, por Sua vontade, sem qualquer concurso humano.  

– Os israelitas eram filhos de Deus por adoção porque voluntariamente Deus os quis ter como filhos e eles, também, aceitaram se submeter ao senhorio divino.

Verdade é que quebraram tal concerto, mas os gentios haviam se rebelado contra o Senhor, desobedeceram-Lhe e se aprofundaram na sua vida pecaminosa, de modo que não poderiam ser senão filhos por criação e nada mais.  

– Os israelitas haviam contemplado a manifestação da glória de Deus. No Sinai, Deus desceu ao monte mostrando toda a Sua glória (Ex.20:18-21), glória esta que se manifestou ainda outras vezes ao longo da história, como reflexo no rosto de Moisés quando ele retorna da sua segunda quarentena sobre o monte Sinai (Ex.34:29-35),

na inauguração do tabernáculo (Ex.40:34,35; Lv.9:23), na repreensão aos espias incrédulos (Nm.14:10), na rebelião de Datã, Abirão e Coré (Nm.16:19), nas águas de Meribá (Nm.20:6) e na inauguração do templo (I Rs.8:11; II Cr.5:14; 7:1-3).  

– Quanto aos concertos, a lei, o culto e as promessas, já mencionamos tais dádivas que Deus reservou a Israel.  

– Os gentios de nada disso participaram, não tinham direito a qualquer destes compartilhamentos feitos entre Deus e o Seu povo, que, como “propriedade peculiar dentre os povos”, tinha um tratamento especial da parte do Senhor; como “povo santo”,

era separado dos demais povos precisamente para ter tais compartilhamentos e, por fim, era “nação sacerdotal”, porque tinha como se apresentar diante de Deus, até para interceder pelas demais nações, o que, aliás, nunca fizeram já que, pelo episódio do bezerro de ouro, ficaram privados do exercício sacerdotal pela sua incredulidade.  

– João Crisóstomo entende que o apóstolo, ao se utilizar das expressões “separados da comunidade de Israel” e “estranhos aos concertos da promessa”, empregou “expressões muitos fortes”, para indicar que os gentios sofriam de uma “separação completa” das coisas do céu.  

– Por isso mesmo, os gentios não podiam ter esperança. Haviam se rebelado contra Deus e se mantiveram d’Ele separados. Não havia como reatarem tal comunhão e não podiam esperar a salvação.

 A salvação vinha dos judeus e é este o motivo porque a esperança messiânica era particular aos israelitas e, nos dias do nascimento de Nosso Senhor e Salvador, estava sobremaneira aguçada.  

– Não devemos esquecer que a promessa da redenção fora dada a toda a humanidade e que, sem dúvida alguma, os gentios também a tinham e que, vez por outra, alguns dentre eles realçavam tal esperança, como é o caso de Jó (Jó 13:15; 19:25-27),

mas é inegável que, enquanto em Israel, o ensino da lei mantinha viva tal esperança, entre os gentios tal esperança empalidecia cada vez mais, obscurecida que estava pela insensatez decorrente da recusa em glorificar a Deus, da rebeldia,

que havia criado a idolatria, primeiro passo para a degradação generalizada da humanidade, muito bem descrita por Paulo em Rm.1:18-32.  

– A falta de esperança era consequência da falta de Deus. Os gentios haviam se rebelado contra o Senhor, haviam se recusado a servi-l’O e, deste modo, construído, a exemplo de Caim, uma civilização sem a presença do Senhor (Gn.4:16-24).  

– Este é o sistema gentílico até os dias hodiernos, sistema que, por ter origem em Babel, é chamado de Babilônia pelo apóstolo João no livro do Apocalipse, cujas duas vertentes, a mística ou religiosa e a comercial, têm seu fim descrito nos capítulos 17 e 18 do livro profético do Novo Testamento.  

–  Trata-se de um sistema secularista, ou seja, que não admite qualquer dimensão além da terrena, que procura construir um mundo sem Deus, que tenta, de todas as maneiras, tornar realidade a mentira satânica de que podemos ser iguais a Deus, sabendo o bem e o mal, e, portanto, podendo ter uma vida independente de Deus.  

– Esta recusa em glorificar a Deus, em considerá-l’O existente e de se submeter a Ele é que faz com que todo o sistema seja dominado por Satanás e que o homem se veja escravizado pelo pecado, sem condição alguma de se libertar deste “império da morte” (Hb.2:14).  

– Simultaneamente, este secularismo, por mais paradoxal que seja, acaba por fomentar uma falsa religiosidade, uma adoração a falsos deuses, pois o homem, por mais que tente, não consegue fugir da realidade de que existe algo além do material, algo além do terreno.  

– Eis porque, ao mesmo tempo que se recusa a glorificar a Deus, acaba criando “deuses” a quem possa adorar e servir, criando um sem-número de religiões e de crenças e superstições, aprofundando o estado de

– Não é de se admirar, por exemplo, que, nos países comunistas, que defendem o ateísmo e a antirreligião como princípios norteadores da vida social, haja uma explícita adoração das lideranças, a quem constroem estátuas e, inclusive, mantêm seus corpos embalsamados para visitação…  

– Tomás de Aquino diz que, na descrição desta condição, Paulo nos remete a três males da condição gentílica e a três privações de benefícios decorrentes deste estado. Eis o que afirma o Aquinate:

“…Atualizaos primeiro a memória de sua condição no estado passado e depois contrapõe os benefícios que eles receberam no estado atual. Quanto ao primeiro, após uma exortação, declara-lhes a condição de seu estado passado.

Ele diz: “Portanto”, isto é, para que você possa perceber que Deus nos deu toda a sua bela graça “lembre-se” (Dt 9,16); “de que em outro tempo” lembra a condição de seu estado anterior: a) quanto aos males que eles tinham; b) quanto aos bens de que foram privados.

Os males foram três:

1) o crime de gentilidade, pelo qual eles adoravam ídolos: “vocês, que eram gentios de origem” (1Co 12);

2) sua vida carnal: “in carne”, isto é, vivendo na jurisdição da carne, pela qual eles não podiam agradar a Deus (Rm 8);

3) a difamação e desprezo com que os judeus os colocaram debaixo dos pés: “o chamado prepúcio”, isto é, a incircuncisão “por aquele, a saber, circuncisão, feita na carne pela mão do homem “, isto é, pelos judeus circuncidados por tal circuncisão.

E diz “pela mão do homem”, para distingui-la da circuncisão espiritual, que é dita em Cl. 2:11: “na qual você também foi circuncidado com circuncisão não carnal ou feita à mão que corta a carne do corpo, mas com a circuncisão de Cristo;

sendo sepultado com Ele pelo batismo “; e logo depois:” de fato, quando você estava morto por seus pecados e pela incircuncisão de sua carne, então Ele fez você reviver com Ele, perdoando todos os pecados”.

Em seguida, os bens dos quais eles foram privados: “você que não teve parte com Jesus Cristo”; e

1 de participar dos sacramentos;

2 do conhecimento de Deus: “sem Deus neste mundo”.

Os sacramentos, cuja participação foi impedida, eram três:

1) a dignidade de Cristo; onde ele diz: “você que não teve parte com Jesus Cristo então”, isto é, sem a promessa de Cristo feita aos judeus (Jr. 23; Zc. 9);

2) a companhia dos santos, que se viram privados enquanto permaneceram na gentilidade, diz: “separados da comunidade de Israel”, pois não era lícito aos judeus lidar com os gentios (Dt 7), como São João diz que samaritanos e judeus não se comunicam;

3) Quanto aos que foram recebidos no judaísmo, tornando-se prosélitos, foram tratados com desprezo.

É por isso que ele acrescenta: “estrangeiros em relação a alianças”, como se dissesse: esses prosélitos, ao se converterem ao judaísmo e se tornarem prosélitos, eram recebidos não como cidadãos, mas como convidados, para participar das alianças divinas.

 Diz “de alianças” no plural, porque se deu aos judeus o Antigo Testamento e se lhes prometeu o Novo (…).

Ele o deu àqueles “de quem é a adoção dos filhos de Deus, e a glória, e a aliança, e a legislação, e a adoração, e as promessas”, como se diz em Romanos 9,4.39;   a esperança de bens futuros: “sem esperança de promessa”;

 porque, como declarado em Gálatas 3, as promessas foram feitas a Abraão e sua descendência.

Para piorar a situação, o pior de tudo, devido à ignorância de Deus, é: “sem Deus neste mundo”, isto é, sem conhecimento de Deus.

“Deus se fez conhecido em Judá” (Sl.76.1), não tanto para os gentios, conforme alude I Ts.4: “não com paixão libidinosa, como fazem os gentios, que não conhecem a Deus”; texto, no entanto, que pode ser entendido a partir do conhecimento pela fé; por causa do conhecimento natural, é dito em Rm 1:21: “porque, tendo conhecido a Deus, eles não o glorificaram como Deus”.…” (Lição 4 – Efésios 2:11-13. Cit. Ef.2:11-22, n.13. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 19 fev. 2020) (traduzido do Google com alterações nossas de texto em espanhol).  

– Era esta a triste condição que estavam os gentios antes de serem alcançados pela salvação em Cristo Jesus, condição que deve ser, sim, lembrada para que demos o devido valor ao que Deus, em Cristo, fez por nós.

III – A GRATA MEMÓRIA  

– Retomando o que Paulo dissera na epístola aos romanos, os gentios são o zambujeiro, que, por causa da quebra dos ramos da oliveira, foram enxertados (Rm.11:17-21).

– Ao lembrar os efésios a respeito de sua condição, o apóstolo tem, como propósito, gerar neles uma “grata memória”, ou seja, fazer-lhes conscientes da imensa graça e misericórdia que Deus lhes proporcionou ao salvá-los na pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, cuja obra irá ele descrever no trecho seguinte da epístola.

– Esta “grata memória”, por primeiro, quer nos mostrar que não tínhamos qualquer participação nas promessas e dádivas divinas, mas que, apesar de todas as nossas imperfeições, Cristo nos deu acesso a tudo isto.  

– Éramos o zambujeiro, ou seja, a oliveira-brava, também conhecida como “oliveira-da-rocha”. “…O zambujeiro é uma oliveira, uma variedade silvestre desta árvore, que cresceu na natureza sem nenhum controlo humano.

É uma espécie selvagem que não tem sido cultivada para nenhum fim concreto. Na atualidade, esta oliveira silvestre forma parte da nossa paisagem, sobretudo nas regiões mediterrânicas.

É habitual encontrá-lo ao abrigo de azinheiras, alfarrobeiras ou sobreiros. Selvagem, mas uma oliveira, ao fim e ao cabo.

É habitual confundi-lo com a “Oliveira comum” pois tem características similares. No entanto, têm frutos, folhas e portes diferentes.

O zambujeiro é uma espécie de crescimento lento com porte arbustivo. Tem ramos intrincados e um tronco pouco definido. Pode chegar a alcançar vários metros de altura se se desenvolver longe de animais (serve de alimento para o gado).

Na atualidade, foi popularizado o seu uso como bonsai, mas disto falaremos mais à frente. Uma das partes mais características do zambujeiro são as suas folhas. Ao contrário das da oliveira, estas são pequenas e delgadas, de cor verde muito escura.

Mantêmse no arbusto durante todo o amo, mesmo na época de seca (são perenes, portanto). As flores carecem de qualquer interesse, pois são pequenas, crescem em cachos axilares e têm uma tonalidade verde-amarelada.

Os frutos do zambujeiro, como os da oliveira, são conhecidos como azeitonas. São de menor tamanho, pouco carnosas e não têm tanto óleo como as variedades que são cultivadas (de maior tamanho).

O zambujeiro frutifica no verão.…” (Conheça o zambujeiro. Disponível em: https://tudohusqvarna.com/blog/fichas/zambujeiro/ Acesso em 19 fev. 2020).  

– Como se pode perceber, ao nos comparar com o zambujeiro, o apóstolo Paulo mostra que éramos marginais ao plano de Deus, estávamos, como o zambujeiro, ao largo do cultivo controlado, da qualidade e da quantidade de frutos e do crescimento rápido.

Assim, devemos sempre ser gratos ao Senhor por nos ter inserido na oliveira, por nos ter inserido no Seu povo.  

– Paulo, porém, deixa claro, no texto de Romanos, que o fato de ramos da oliveira terem sido quebrados, o que representava a rejeição dos israelitas ao Senhor Jesus, era também uma advertência a todos nós, para que tomemos cuidado para sermos obedientes ao Senhor, para que não venhamos, nós também, a ser quebrados e lançados fora.

– O Senhor Jesus, em Suas últimas instruções, disse claramente que, como ramos da videira, que é Ele próprio, não podemos, de modo algum, deixar de dar fruto, para que não venhamos a ser cortados, lançados fora, secados e, por fim, queimados (Jo.15:6).  

– Mas como evitar de ser cortado? Diz o Nosso Salvador: mantendo-nos unidos a Ele, estando n’Ele e Ele em nós, ou seja, fazendo a Sua vontade, pois quem quer servir ao Senhor, segui-l’O, indispensável que negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga ao Senhor.

Foi para construir esta comunhão, esta unidade que o Senhor veio a este mundo (Jo.17:21) e é preciso mantermos esta unidade para que usufruamos plenamente da vida eterna que já nos é dada pelo Senhor Jesus.  

– Nesta “grata memória”, Paulo dá-nos uma grande lição, qual seja, a de mostra a nossa condição antes da salvação, mas sem descrever ou se lembrar dos pecados, mas apenas mostrar a situação de miséria espiritual em que nos encontrávamos.

O apóstolo limita-se a dizer que éramos incircuncisos, sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.

– Não houve uma apologia do que fazíamos nesta condição, como observamos em muitos “tristemunhos”, em que as pessoas descrevem minuciosamente seus pecados anteriormente cometidos, como tendo prazer em tal recordação, pouco valor dando a seu atual estado de graça, a sua condição após a redenção, como que fazendo propaganda do velho homem que está crucificado com Cristo.

– O apóstolo também nos ensina que a separação que começava já no físico, com a incircuncisão, é coisa do passado e, como tal, não pode, de forma alguma, voltar a existir.

Estamos lembrando do nosso estado anterior à salvação e, deste modo, não se trata de algo que possa ser verificado, observado no presente.

– Agora temos esperança e temos Deus, embora ainda estejamos no mundo e, portanto, não só não pode haver nostalgia do estado pecaminoso anterior, como também não pode este estado reaparecer como algo presente e constante em nossa existência, sob pena de termos perdido a salvação e não mais podermos, de modo algum, gozar das bênçãos divinas.

– É interessante ver que o apóstolo fala que não tínhamos esperança nem Deus no mundo, ou seja, faz questão de mostrar que, antes da salvação, éramos do mundo, mas agora, estamos nos “lugares celestiais em Cristo” (Ef.1:3). 

– Quem está “em Cristo” é nova criatura, as coisas velhas passaram, eis que tudo se fez novo (II Co.5:17) e, desta forma, não podemos ser como éramos, temos de ter mudado, temos de ter nos transformado. É esta a nossa condição? Pensemos nisto!   

 Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5220-licao-6-a-condicao-dos-gentios-sem-deus-i

Video 02: https://youtu.be/QCoCsveqPzM

Deixe uma resposta

Descubra mais sobre Iesus Kyrios

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading