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LIÇÃO Nº 7 – A MORDOMIA DOS DÍZIMOS E DAS OFERTAS   

Um dos aspectos mais relevantes da administração financeira do cristão são os dízimos e as ofertas, uma demonstração material de que reconhecemos nossa qualidade de mordomos do Senhor. 

INTRODUÇÃO  

– Quando se fala em mordomia cristã, logo nossas mentes são voltadas para o dízimo, a décima parte da remuneração que o cristão entrega na casa do Senhor para a Sua obra, como reconhecimento do senhorio de Deus e para o sustento da Igreja do Senhor. 

– Temos visto que a mordomia é muito mais do que dízimo, mas não resta dúvida de que o dízimo é uma das demonstrações mais eloquentes da conduta de um verdadeiro e fiel mordomo do Senhor. 

– Ao lado dos dízimos, as ofertas também são elemento importante para esta demonstração da mordomia na vida material, notadamente a econômico-financeira, do cristão. 

I – DEUS FALA SOBRE A RESTAURAÇÃO DA MORDOMIA 

– O texto bíblico mais conhecido a respeito do dízimo encontra-se no livro do profeta Malaquias.

Com efeito, a mensagem de Malaquias é uma das mais contundentes com respeito a este assunto.

A mensagem profética, entretanto, lança-nos muito mais do que uma admoestação para que sejamos dizimistas, como tem sido costumeiro ver entre os ensinadores da Palavra de Deus. 

– Segundo a maior parte dos estudiosos da Palavra de Deus, Malaquias foi o último profeta do Antigo Testamento, cujo ministério teria ocorrido cerca de quatrocentos anos antes do nascimento de Jesus Cristo.

Após o ministério de Malaquias, teria começado o chamado “período interbíblico“, ou seja, o período entre os dois Testamentos, um período em que Deus não levantou profeta algum no meio do povo de Israel. 

– Malaquias apresenta uma mensagem dura, pois o povo vivia um período de decadência espiritual.

O avivamento experimentado nos dias de Zacarias, Ageu, Esdras e Neemias, quase cem anos antes, havia cessado e, pouco a pouco, o povo judeu estava se envolvendo numa rotina religiosa e formalista. 

– A idolatria, que havia sido o grande mal espiritual de Israel antes do cativeiro da Babilônia, havia, agora, cedido seu espaço como grande obstáculo à comunhão com Deus à indiferença, ao formalismo religioso. 

– O povo estava “servindo” a Deus por mero hábito, por mero costume, como uma simples tradição cultural, sem qualquer sentimento de amor ou de reverência para com o Senhor.

O povo, no tempo de Malaquias, estava totalmente indiferente às coisas de Deus. A primeira queixa de Deus ao povo é a falta de reciprocidade por parte do povo com relação ao amor de Deus ao povo.

“Eu vos amei”, dizia o Senhor a Israel (Ml.1:2), mas, em troca deste amor, o povo simplesmente respondia: “Em que nos amaste?” (Ml.1:2). 

– É importante esta consideração, pois, como podemos observar, o profeta Malaquias deixa bem claro que todas as mazelas existentes no seu tempo, toda a decadência espiritual decorria da falta de amor do povo a Deus.

O amor é a essência do relacionamento entre Deus e o homem. Deus é amor (I Jo.4:8) e, se nos tornamos participantes da natureza divina (II Pe.2:4), devemos também amar a Deus (I Jo.4:7). 

– Assim, a falta de amor a Deus está na raiz de todos os problemas concernentes ao relacionamento entre Deus e o homem.

É este o cerne da mensagem do profeta Malaquias, que, em meio a esta triste realidade, começa a admoestar o povo quanto a diversas condutas, consequências desta falta de amor. 

– A primeira consequência desta falta de amor está na falta de reverência para com Deus. Não havia mais temor a Deus nos dias de Malaquias.

 As pessoas eram totalmente indiferentes ao Senhor e não tinham por Ele a menor consideração. Deus chega, mesmo, a perguntar a Seu povo:

“onde está a Minha honra?” (Ml.1:6), “onde está o Meu temor?”. 

– Em virtude desta falta de temor a Deus, os próprios sacerdotes ofereciam pão imundo sobre o altar, desprezando a mesa do Senhor (Ml.1:7).

Nos nossos dias, não tem sido diferente. Muitos têm se comportado diante de Deus de uma forma totalmente negligente e irreverente.

O apóstolo Paulo já nos advertira de que, nos últimos dias, teríamos pessoas desta qualidade em nosso meio (II Tm.3:1-7).

São muitos os que não demonstram o mínimo temor a Deus, chegando, mesmo, a transformar as coisas de Deus em negócio puro e simples (II Pe.2:3), em meio para obter a satisfação de suas incontinências e desejos perversos da mais variada natureza.

São pessoas que não conseguem discernir o corpo de Cristo (I Co.11:29), não podendo, em verdade, discernir as coisas espirituais, pois vivem segundo a carne (Rm.8:1) e, sendo assim, não têm a mente de Cristo (I Co.2:10-16).

Temos sido reverentes com as coisas de Deus ou já temos sido envolvidos por este espírito mundano de desprezo, de indiferença com relação à obra do Senhor? 

O verdadeiro mordomo tem consciência do grande valor do que lhe foi confiado e da necessidade de ser um despenseiro fiel e que cuida bem daquilo que não é seu.

Malaquias, como se observa, está a exigir do povo uma conscientização do seu papel diante de Deus, o que será fundamental para depois tratar do assunto do dízimo.

Não podemos falar em dízimo, em administração financeira antes de reavaliarmos como está o nosso temor a Deus. 

– É interessante notar que, juntamente com a falta de temor a Deus, vem o “espírito do ‘não faz mal’ “.

Como o povo ficara indiferente às coisas de Deus, ou seja, como tanto fazia trazer animais para o sacrifício, ou não, participar das reuniões solenes, ou não, ter uma vida religiosa, ou não, pois o culto a Deus, sem amor, havia se transformado num simples ritual, numa cerimônia sem sentido e vazia, começaram a aparecer animais cegos, coxos e enfermos para serem sacrificados, num total descaso para com o Senhor.  

– Hoje não temos sacrifícios de animais, mas muitos também estão a oferecer a Deus o que sobra, o que nada representa para ele, o resto, o que iria para o lixo, mas que, até por um desencargo de consciência, acaba sendo entregue para a obra do Senhor, “a coisa vil” denunciada pelo profeta (Ml.1:14).  

– Ao mesmo tempo, quem assim procede, começa a não ter maiores preocupações com a santidade. O pecado passa a ser considerado algo normal, algo justificável, algo compreensível, algo explicável.

“Não faz mal fazer isto”, “não faz mal fazer aquilo” e, daqui a pouco, somos, novamente, seres dominados totalmente pelo pecado, servos do pecado, já que o estamos cometendo (Jo.8:34).

Tomemos cuidado com este comportamento, pois ele é um indicador veemente de que não temos sido reverentes para com o Senhor, ou seja, que não O estamos amando.  

– A segunda consequência da falta de amor a Deus é o desvio doutrinário (Ml.2:8).

Quando passamos a desprezar as coisas do Senhor, a desviar nossas atenções e desejos para algo que não é o compromisso que firmamos com o Senhor, passamos a ser sacerdotes desprezíveis e abomináveis ao Senhor (Ml.2:9).

Com efeito, quando amamos a Deus, servimos-Lhe e, por conseguinte, temos prazer na Sua lei e nela meditamos de dia e de noite (Sl.1:2).  

– Quando amamos a Deus, buscamo-l’O de todo o coração e, por isso, não nos desviamos dos Seus mandamentos (Sl.119:10).

Não pecamos contra Deus apenas quando escondemos a Sua palavra em o nosso coração (Sl.119:11).

Quando nos tornamos indiferentes a Deus, não temos mais amor a Ele, não mais procuramos ter uma vida de santidade e, como é a Palavra de Deus uma das fontes de nossa santificação (Jo.17:17), passamos, naturalmente, a questionar o contido nas Escrituras e a termos uma vida em desacordo com os mandamentos do Senhor.  

– O desvio caracteriza-se por deixarmos o caminho traçado pela Palavra de Deus (Is.30:21). Quando começa a faltar o amor a Deus, vemos o surgimento e acolhimento de outras doutrinas, de outros princípios que não os estabelecidos pelo Senhor (Cl.2:22; I Tm.4:1; II Tm.4:3).

No vazio decorrente da indiferença, tentam as pessoas, ao invés de lembrar de onde caíram e se arrependerem, que é o caminho apontado por Jesus para a solução de tais casos (Ap.2:5), agarrar-se a inovações, invenções e modismos que procuram preencher este vácuo, mas que não podem fazê-lo. 

– A terceira consequência da falta de amor a Deus é a acepção de pessoas (Ml.2:9).

Quando deixamos de ter a Deus como alvo de nossas vidas, como parâmetro a ser seguido, passamos a olhar para o homem e a fazer considerações egoísticas e presunçosas, o que, fatalmente,

nos levará a uma vida segundo a aparência e segundo os interesses que agora nos guiam, pois só o amor de Deus é despido de interesse e de uma perspectiva egolátrica (I Co.13:4-6).

A discriminação de pessoas, o tratamento desigual e diferenciado em razão de posição social, econômico-financeira, de escolaridade e outras mais é uma característica típica de quem está, a exemplo do povo judeu nos dias de Malaquias, padecendo de uma decadência moral pronunciada e que precisa de uma restauração. 

– A quarta consequência da falta do amor a Deus é a deslealdade (Ml.2:10).

Passando a ser pessoa que faz acepção, o indivíduo que se deixa guiar pela discriminação, pela injustiça, acaba se envolvendo numa vida de deslealdades.

Não tem mais qualquer compromisso com o outro, busca tão somente a sua própria realização, a sua própria satisfação e, por isso, como nos tempos de Malaquias, busca levar vantagem em tudo que faz, mesmo que isto implique no prejuízo dos outros.

O que importa é que a pessoa se exalte, tenha proeminência, mesmo que, para tanto, tenha de ser desleal, infiel.  

– Dentro desta perspectiva, inclusive, como denunciou corajosamente o profeta, nem mesmo as famílias e os casamentos são poupados.

O divórcio é uma consequência natural deste comportamento e passa a ser algo absolutamente normal para padrões morais tão baixos.

Se isto já se dava nos dias de Malaquias, em especial no meio da própria classe sacerdotal, que diremos nos dias em que vivemos, onde se multiplica a iniqüidade?  

– Temos visto não só a absoluta normalidade e frequência dos divórcios e separações, como também a própria negativa das pessoas assumirem qualquer espécie de compromisso, campeando as uniões informais entre as pessoas, inclusive com aumento crescente das uniões homossexuais.

O que se tem buscado é a satisfação, o saciar dos desejos incontinentes, sem qualquer responsabilidade ou compromisso, o verdadeiro ambiente reprovado por Deus nos dias de Noé e de Ló. 

– A quinta consequência da falta de amor a Deus é a infidelidade material (Ml.3:8). 

Dentro de uma vida em que não se ama a Deus e, por isso, não se teme a Deus, não se segue a Sua Palavra, faz-se acepção de pessoas e se é desleal, é consequência mais do que natural que também não se seja fiel ao Senhor no que concerne à manutenção da Sua obra.  

– Quando Malaquias fala do descumprimento, por parte do povo de Israel, a respeito dos mandamentos referentes aos dízimos e às ofertas alçadas, não está a dizer senão que, quem não ama a Deus, não tem como ser dizimista ou ofertar qualquer numerário à obra do Senhor.

São verdadeiros ladrões, não porque estejam apenas deixando de contribuir financeiramente para a manutenção da obra do Senhor, mas, muito mais do que isto,

porque se fazem de donos da própria vida, desobedecendo a Deus, quando, na verdade, não passam de mordomos infiéis que, como anunciou o próprio profeta Malaquias, brevemente, bem antes do que imaginam, terão de prestar contas ao verdadeiro dono de suas vidas (Ml.3:5).

– A consideração que alguns fazem de que Malaquias estaria, aqui, tão somente exigindo o cumprimento de um mandamento da lei mosaica e que, portanto, sua mensagem faz sentido apenas para a antiga dispensação, não é de ser aceita.  

– A admoestação feita por Malaquias no que diz respeito aos dízimos e às ofertas alçadas está inserida num contexto de indiferentismo vivido pelo povo judeu naquela época, é apenas uma consequência da falta de amor a Deus.

Ora, a necessidade de um relacionamento de amor entre Deus e os Seus servos é absolutamente primordial na vida da Igreja e, portanto, as considerações do profeta são plenamente atuais e válidas para a nossa dispensação, até porque, como disse o próprio Deus, pela boca do mesmo Malaquias: “Porque Eu, o Senhor, não mudo” (Ml.3:6a). 

– Verdade é que a admoestação do profeta está vinculada ao pacto palestiniano, ou seja, à aliança firmada entre Deus e Israel de que haveria prosperidade material enquanto eles permanecessem na terra de Canaã se houvesse obediência à lei do Senhor (Dt.27; Js.8:30-35)

e que a infidelidade quanto aos dízimos acarretaria, em virtude deste pacto, prejuízos materiais ao povo, o que, inclusive,

faz com que uma leitura puramente materialista deste texto de Malaquias e, inclusive, do capítulo 28 de Deuteronômio, tão utilizado pelos falsos mestres da teologia da prosperidade, impliquem numa distorção doutrinária grave e que deve ser repudiada. 

– No entanto, o texto não se esgota nesta perspectiva e deve ser entendido, em nossa dispensação, sob o seu aspecto mais profundo, relacionado com a questão do amor a Deus, algo que,

além de ser um dos pilares dos próprios mandamentos da lei de Moisés, o primeiro e grande mandamento (Mt.22:37-40), é também o novo mandamento da nova aliança em Cristo Jesus (Jo.13:35; 15:12,17; I Jo.3:23; 4:7-19). 

– A sexta consequência da falta de amor a Deus é o amor ao mundo, verdadeira agressão contra Deus (Ml.3:13,14). Totalmente apartado do serviço a Deus e de tudo aquilo que esteja relacionado com o Senhor,

o homem chega a ilusória constatação que não adianta servir a Deus, que é melhor “aproveitar a vida”, deleitar-se nos prazeres e nas coisas desta vida, pois a vida com Deus não traz vantagem alguma.

É a própria cegueira espiritual que se instala na vida daquele que deixa de amar o Senhor. Sem dúvida, uma vida de formalismo religioso é totalmente inútil, vazia e sem qualquer razão.  

– Quando perdemos o amor a Deus, não faz, mesmo, sentido estarmos todos os dias na igreja, efetuarmos trabalhos na obra do Senhor ou nos dedicarmos a este ou aquele ponto costumeiramente exercido.

Inobstante, tudo que fizermos para o Senhor, deve ser fruto do nosso amor a Ele, pois, caso contrário, se não O estivermos amando, estaremos, na verdade, amando o mundo e aquilo que nele há (I Jo.2:15).

Só quem está neste estado de letargia espiritual é capaz de ver nos pecadores e nos soberbos vantagens e de invejálos.

Bem andou o salmista quando, ao começar a pensar assim, entendeu que se estava desviando do Senhor, caindo em si e, a tempo, arrependendo-se (Sl.73:2,3). 

– Como podemos perceber, Malaquias chama o seu povo a uma restauração espiritual, a um novo concerto com Deus, à restauração de uma verdadeira e fiel mordomia, e, neste contexto, fala da contribuição do dízimo.

O dízimo somente será entendido dentro deste contexto mais amplo da mordomia, do relacionamento entre Deus e o homem. 

II – O SIGNIFICADO DO DÍZIMO NA BÍBLIA 

– Dízimo é palavra portuguesa que traduz palavras hebraicas e gregas das Escrituras cujo significado é o de “décima parte”, “um décimo”. 

Dízimo, portanto, segundo a origem da palavra, quer dizer a décima parte, um décimo de algo.

Assim, se dividirmos uma laranja em dez partes, cada uma delas será um dízimo da laranja.

– O dízimo é um ato pelo qual alguém entrega a melhor porção de seu patrimônio para Deus, a fim de ser destinado ao sustento daqueles que estão envolvidos no trabalho do Senhor, como reconhecimento de que Deus é o Senhor de todas as coisas,

em agradecimento por Deus ter provido o sustento daquele que está a dizimar, bem como  um ato de fidelidade e testemunho do compromisso que existe no relacionamento entre Deus e aquele que está a fazer a oferta. 

– O dízimo, portanto, apresenta-se como um ato pelo qual o homem reconhece que não é dono de coisa alguma que amealhou com o seu trabalho.

É por isso que o dízimo é uma demonstração material, um ato efetivo e concreto de mordomia, pois, embora tenha angariado os recursos que chegam à sua mão com seu suor, o homem, ao entregar a décima parte na obra de Deus, diz, com este gesto, que está a reconhecer que do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam (Sl.24:1). 

– O dízimo, também, é um ato de gratidão a Deus, de agradecimento pela concessão dos meios pelos quais se pode amealhar os recursos financeiros necessários à nossa sobrevivência.

Quando dizimamos, estamos agradecendo a Deus, porque Lhe devolvemos a décima parte do que Ele nos deu, para que a Sua obra, que, como uma atividade feita entre os homens, depende de recursos financeiros para a sua manutenção, possa ser realizada. 

– Deus tem escolhido homens e mulheres para que se dediquem ao reino de Deus, para que se envolvam com as tarefas destinadas à salvação e aperfeiçoamento espiritual das vidas e,

por causa deste envolvimento, tais pessoas não têm condições de obter, para si, um sustento, de efetuar um trabalho material que lhes possa proporcionar o pão de cada dia.

Quando dizimamos, estamos permitindo que estas pessoas possam continuar atendendo ao chamado do Senhor e supram as suas necessidades.

Demonstramos estar agradecidos a Deus quando mantemos o sustento daqueles que por Ele foram chamados para dedicação integral à obra do Senhor. 

– O dízimo também é um ato de fidelidade e de compromisso com Deus, pois, à medida que separamos parte do nosso patrimônio para o sustento da obra do Senhor,

com certeza estamos demonstrando que não somos indiferentes à obra de Deus, damos uma prova concreta de que estamos comprometidos e envolvidos com os planos e propósitos de Deus para a humanidade.

A fé sem obras é morta (Tg.2:17) e, quando dizimamos, estamos praticando uma atitude que mostra que temos uma verdadeira fé, revelamos que amamos a Deus.

Não somos indiferentes, como eram os homens dos dias do profeta Malaquias. 

– O dízimo, também, é uma demonstração de honestidade, um indicador de moralidade.

Com efeito, ao dizimarmos, reconhecemos, como dissemos, a soberania de Deus sobre todas as coisas, bem assim a propriedade divina sobre os bens materiais.

Quando dizimamos, estamos devolvendo a Deus o que Lhe pertence, não retendo aquilo que não é nosso, mas é devido ao Senhor.  

– Por isso, Malaquias chama de ladrões àqueles que não dizimam, porque estão a reter em seu poder algo que não é seu.

O dízimo revela o alto grau de senso de moralidade do cristão que, reconhecendo que de Deus é tudo, não se atreve a reter para si aquilo que não lhe pertence. 

– Visto o que o dízimo é, devemos, agora, observar o que o dízimo não é. O dízimo não é um investimento, como muitos têm pregado por aí.

Verdade é que Deus tem prometido bênção de abastança para os dizimistas (Ml.3:10), mas isto não quer dizer que devemos dizimar visando obter maiores lucros, como se o dízimo fosse uma aplicação financeira ou um investimento de grande retorno.  

– Os teólogos da prosperidade têm, muitas vezes, dito que o dízimo ou “o sacrifício” (nome como muitos têm denominado a contribuição bem superior à décima parte, envolvendo, não poucas vezes,

todo o patrimônio de alguém, “o seu tudo”, como dizem) é o caminho mais rápido e eficaz para a riqueza e para a ampla prosperidade material.

Não devemos dizimar para nos tornarmos mais ricos, mais prósperos, mas devemos dizimar em gratidão a Deus, em reconhecimento à sua soberania.

Dízimo não é investimento, nem um modo “santo” de se canalizar a ganância, algo que é próprio dos mais miseráveis de todos os homens (I Co.15:19). 

– Dízimo não é uma fonte de obrigações para Deus. Muitos acham que, dizimando, criam para Deus obrigações.

Assim, entregam seus dízimos porque, assim, Deus estaria obrigado a lhes dar bênçãos de prosperidade material, de saúde ou, até mesmo, de salvação.

Pensam que o dízimo vincula Deus a seus caprichos, desejos e aspirações. Pensam até que o dízimo é o caminho para sua salvação. Para estes que assim pensam, podemos fazer uma pequena ilustração.

Digamos que sejamos donos de dez bolas e que as confiemos a uma criança nossa conhecida, mandando que ela tome conta delas para nós. Pouco tempo depois, a criança vem e nos entrega uma das dez bolas, e nós a recebemos.

Por um acaso, surgiu, aqui, alguma obrigação de nossa parte em relação à criança por causa da nossa bola que ela nos devolveu?  Logicamente que não! Assim ocorre com Deus.

Deus recebe de volta algo que Lhe pertence. Estaria Ele, então, obrigado a nos fazer algo que queiramos por causa desta devolução?

Deus prometeu dar aos dizimistas a bênção da maior abastança e, com relação a isto, há um dever divino, não em relação a nós ou por causa da nossa vontade, mas em virtude de Seu próprio caráter moral.  

– Maior abastança não significa outra coisa senão ter além do necessário, além do suprimento das necessidades.

Quando isto ocorre, passamos a ter uma obrigação a mais da parte de Deus, qual seja, a de socorrer os necessitados.

Assim, ter tantas bênçãos que não tenhamos onde guardá-las (como diz tanto o texto da NVI de Ml.3:8 quanto a própria tradução inglesa do rei Tiago), não é viver regaladamente e no luxo, como propalam os teólogos da prosperidade, mas assumir o encargo de auxiliar os menos afortunados. 

– Dízimo, também, não é meio de salvação. Todo salvo é dizimista, mas nem todo dizimista é salvo.

Querer dizer que, com a entrega do dízimo, estaremos dando passos importante para a nossa salvação é o mesmo que dizer que, pelas obras, nós seremos salvos, é ressuscitar o odioso conceito da doutrina das indulgências que fez com que Deus levantasse homens como Martinho Lutero para recuperar a santidade e a biblicidade na Sua Igreja.

O dizimista é alguém que compreende que o Senhor é o dono de todas as coisas, mas não é, por isso, alguém que deixe Deus governar a sua própria vida. 

– Dízimo não é um meio de enriquecimento de inescrupulosos e mercenários da fé.

Muitos têm se aproveitado da doutrina do dízimo para amealharem riquezas e fazerem do evangelho um negócio rentável e cada vez mais crescente.

Esta possibilidade não passou despercebida do Senhor que, em Sua Palavra, já nos primórdios da fé cristã, já advertia os crentes que muitos seriam feitos negócio com palavras fingidas de pessoas inescrupulosas (II Pe.2:3).

Antes mesmo de nossa dispensação, o profeta Ezequiel já indicara a existência de pastores infiéis, que têm como objetivo tão somente explorar as ovelhas (Ez.34:4).

Todavia, não é por causa destes que devemos de deixar o nosso compromisso diante de Deus. Façamos a nossa parte, que é entrega os dízimos na casa do tesouro (Ml.3:10), ou seja, na nossa igreja local.

Este dízimo é santo (Lv.27:32) e pertence a Deus, Que, certamente, tratará com aqueles que tiverem a incumbência de administrá-lo, pois, além de perderem sua condição de pastores (Ez.34:9,10), melhor lhes fora, diz Jesus, que lhes pusessem ao pescoço uma mó de atafona e fosse lançado ao mar (Lc.17:1).

– O dízimo, pelo que verificamos, na Bíblia Sagrada, é muito mais do que uma despesa ou um tributo de dez por cento do que ganhamos, é muito mais do que uma simples cláusula contábil.

Deus não precisa do nosso dinheiro para sustentar a Sua obra, pois é o dono de todo ouro e de toda a prata (Ag.2:8), mas é através do dízimo que revelamos aquilo que está dentro de nosso homem interior, o conceito que temos de Deus e de nós mesmos, se nos consideramos mordomos do Senhor ou “donos dos nossos próprios narizes”.  

III – O DÍZIMO NA BÍBLIA  

– Pelo que podemos deduzir das Escrituras Sagradas, desde os primórdios da civilização, ainda na primeira geração de homens após a queda do Éden, havia o costume de se cultuar a Deus com a apresentação de produtos do trabalho humano, como demonstração de gratidão e de reconhecimento da soberania de Deus sobre todas as coisas.

– Assim, vemos Caim e Abel, os dois filhos mais velhos do primeiro casal, apresentando ofertas ao Senhor, num gesto que se infere fosse costumeiro e resultado do ensino dos pais a estes filhos.

Entendemos, desta forma, que o primeiro casal tinha plena consciência de que Deus era o dono de todas as coisas e que o resultado do trabalho humano, que Deus dissera que seria penoso, era fruto da misericórdia divina que, apesar do pecado, não tinha deixado de amparar o homem. 

– De pronto, pois, observamos que a oferta era apenas uma demonstração material de reconhecimento da soberania divina.

Não se procurava agradar a Deus com bens, pois Deus, sendo o dono de todas as coisas, não precisava de qualquer bem que lhe seja trazido pelo homem, até porque o bem que, eventualmente, for trazido não é do homem, mas já é do Senhor (Sl.24:1).  

– Deus Se agrada do gesto de gratidão e reconhecimento, do que está no coração do homem, não do que está sendo apresentado em termos materiais.

Tanto assim é que, ao indagar Caim sobre sua oferta, Deus diz que ele deveria ter feito bem, ou seja, não como um mero formalismo, não como um mero ritual, mas como algo espontâneo e que proviesse do fundo da alma, pois, somente neste caso é que haverá aceitação por parte do Senhor (Gn.4:7).

Em o Novo Testamento, este Deus que não muda nem n’Ele há sombra de variação (Tg.1:17), torna a nos ensinar que Ele ama àquele que dá com alegria (II Co.9:7).

– Este gesto de reconhecimento da soberania divina através da entrega de uma parcela do produto auferido pelo trabalho, portanto, vem desde o início da história da humanidade e é encontrado, mais tarde, entre os povos do Oriente Próximo.

Abrão, diz-nos a Bíblia, deu o dízimo de tudo a Melquisedeque, por reconhecer nele um sacerdote de Deus (Gn.14:20).

Isto nos mostra, claramente, que o dízimo era um costume comum aos povos daquela época, pois, não só Abrão deu o dízimo a Melquisedeque, como este o recebeu, o que prova que se tratava de algo público e notório naquela época.

Aliás, este costume é relatado pelo historiador grego Heródoto, conhecido como o “pai da História”, em sua obra “História”, em mais de uma passagem, com relação a diferentes povos. 

– Pelo que se pode observar, portanto, o gesto de se dar parte do produto auferido pelo trabalho para a obra de Deus é algo que acompanha a própria história humana, tendo sido fixado o percentual de dez por cento como patamar mínimo de tal contribuição, daí porque ter sido tal parcela sido denominada de “dízimo”. 

– O dízimo, observado que era por Abraão (o que, certamente, mostra que se tratava de prática já existente entre os caldeus que, por sua vez, eram os sucessores diretos da comunidade humana única pós-diluviana), passou a seus descendentes, de modo que vemos, logo em seguida, notícia de que Jacó também conhecia esta prática, tanto que a prometeu (Gn.28:22). 

– Este pequeno relato histórico faz-se necessário porque há muitos que, hodiernamente, afirmam que o dízimo é um dispositivo previsto na lei de Moisés e que, portanto, não é algo que deva ser observado pela Igreja, que vive a dispensação da graça.

Criticam as denominações evangélicas que adotam o dízimo, chegando, mesmo, a chamá-los de “judaizantes”, quando não de mercenários.  

– No entanto, pelo que podemos verificar, não só pelas próprias Escrituras, como também na própria história da humanidade, o dízimo é uma instituição que já existia bem antes da lei de Moisés e que não está circunscrita ao povo judeu,

o que faz cair por terra todas estas argumentações que são trazidas, às vezes, por pessoas bem-intencionadas, que querem impedir qualquer conotação materialista ao evangelho, mas que, no mais das vezes,

apenas se afiguram como justificativas de pessoas que, tal qual nos dias de Malaquias, querem dar vestes teológicas à sua falta de amor a Deus. 

– Quando Moisés incluiu o dízimo na lei, por determinação divina, nada mais fez senão incorporar no código legal organizado uma prática que já era costumeira e adotada não só pelos israelitas, como por todos os povos então existentes.

Como o dízimo, e isto nos mostram tanto Abraão quanto Jacó, tinha como finalidade a manutenção da obra de Deus, era preciso reconhecer a sua prática e destiná-la para o sustento da tribo de Levi e, dentre os seus membros, aos sacerdotes, já que estes não poderiam se dedicar senão ao serviço do Senhor. 

– A primeira referência que a lei de Moisés faz aos dízimos encontra-se, precisamente, no livro de Levítico, onde estão as normas a respeito dos sacerdotes.

O dízimo é tratado no final do livro, a partir do versículo 30 do capítulo 27.

Isto é importante porque mostra que, embora Deus não tenha deixado de prever o sustento dos sacerdotes, que estavam envolvidos no culto a Deus, não deveriam pôr o sustento material como prioridade em suas vidas.

Deus não deixa de cuidar do assunto, de providenciar os meios, antes de encerrar o código de normas e condutas do sacerdote, mas não coloca isto como algo que deva estar em primeiro lugar.

Primeiro deveria vir o dever dos sacerdotes, seu serviço diante de Deus. Depois, o cuidado com o seu sustento.

Lamentavelmente, muitos ministros têm cedido ao espírito materialista que impera nos nossos dias, buscando, antes de tudo, ocupar-se de como se sustentar, de como angariar meios para a sua sobrevivência, para só depois se ocupar do seu trabalho diante de Deus.

O obreiro é digno do seu salário, mas devemos cuidar das coisas na mesma forma como Deus a estabelece em Sua Palavra, até porque antes do salário tem de vir o trabalho, a obra. 

– Segundo a norma dada no livro de Levítico, o dízimo de tudo deveria ser separado ao Senhor, pois lhe era santo. A destinação do dízimo, entretanto, encontra-se no livro de Números (Nm.18:20-32).

O destino do dízimo deveria ser a tribo de Levi, pois a sua herança no meio do povo de Israel seriam, precisamente, os dízimos das demais tribos (Nm.18:21).

Mas, ao mesmo tempo em que os levitas eram os beneficiários dos dízimos, também deveriam dizimar (Nm.18:26), pois também eles eram mordomos e tinham de reconhecer a soberania divina. Os dízimos dos dízimos eram destinados ao sumo sacerdote (Nm.18:28). 

– Os dízimos eram, como se pode observar, destinados ao sustento dos levitas e dos sacerdotes. Esta é a destinação do dízimo segundo as Escrituras.

Abraão já o havia dado para um sacerdote e, agora, Moisés determina que os dízimos tenham como finalidade o sustento da tribo separada para o serviço do Senhor, ou seja, a destinação dada pela lei mosaica não é uma inovação instituída por Moisés, não se trata de criação do legislador, nem de uma ordem divina circunscrita à dispensação da lei, mas, antes, é uma característica inerente à própria instituição do dízimo.  

– Assim como dízimo é a décima parte, assim é destinado para o sustento daqueles que, por estarem envolvidos com as coisas de Deus, não têm condições para exercer um trabalho mediante o qual obtenham o próprio sustento.

Em Dt.12:5-12, quando Moisés está a repetir a lei à geração que adentraria na Terra Prometida, torna a dizer que o local apropriado para a entrega dos dízimos era a casa do Senhor, reforçando, portanto, a finalidade de tal instituição. 

– Mas, além de o dízimo ser determinado quanto à quantidade e quanto à finalidade, também era determinado quanto à qualidade. Dizia a lei de Moisés que se deveria oferecer “o melhor” (Nm.18:32), “do melhor deles, a sua santa parte” (Nm.18:29).

Bem ao contrário do que acontecia nos dias do profeta Malaquias, a lei prescrevia que somente poderemos demonstrar reconhecimento da soberania de Deus se a porção que separarmos para a obra do Senhor for a melhor, a de primeira qualidade.

Não é outro o sentido, aliás, quando se diz que as “primícias da terra” devem ser levadas à presença do Senhor, “primícias” (Nm.18:12), aqui querendo dizer não só os primeiros frutos na ordem de aparecimento, como também na ordem da qualidade (Pv.3:9). 

– Em o Novo Testamento, Jesus sancionou a prática do dízimo. Na sua duríssima crítica aos fariseus, um dos poucos pontos que Jesus aprovou em sua conduta foi, exatamente, o de serem rigorosos no dízimo.

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas” (Mt.23:23).

Como se percebe nas declarações de Jesus, o fato de os fariseus dizimarem até mesmo o que era utilizado no tempero de suas comidas, é considerado algo louvável, algo que não deveria ser omitido, que não deveria ser desprezado.

– Jesus disse que os fariseus deveriam ser tão preocupados com o juízo, a misericórdia e a fé como eram com o dízimo destas mínimas coisas, mas, em momento algum, disse que o dízimo deveria ser omitido, mas, bem ao contrário, afirmou que o dízimo não poderia estar ausente na conduta de um verdadeiro servo de Deus. 

– Assim, não tem qualquer respaldo bíblico o ensinamento que muitos propalam de que o dízimo não pertence à dispensação da Igreja, que não se encontra entre as condutas que devam ser observadas pelos salvos.

Jesus disse que não devemos omitir o dízimo e, portanto, se não podemos omitir, devemos praticá-lo. O dízimo faz parte da conduta que Jesus espera de Seus servos. 

– Mas, dizem os adversários do dízimo, que não há qualquer passagem bíblica do Novo Testamento que mostre que os discípulos ou os cristãos, em geral, estivessem dizimando.

Dizem eles que há somente registro de coletas, de ofertas alçadas, citando, à saciedade, exemplos vários extraídos não só de Atos dos Apóstolos mas das epístolas paulinas.

Assim, dizem estes, o dízimo teria sido abolido por Jesus, pela graça e agora persistiriam apenas as ofertas alçadas ou coletas. 

– Tal entendimento, porém, não se sustenta.

Em primeiro lugar, o dízimo, como vimos, não poderia ter sido abolido pela graça se o próprio Jesus disse que não deveria ser omitido pelos Seus servos.  

– Em segundo lugar, o dízimo somente poderia ser abolido pela graça se tivesse sido uma criação da lei, assim como o sábado, cuja instituição se deve aos dez mandamentos recebidos no Sinai e como sinal entre Deus e Israel.

Todavia, como já observamos antes, o dízimo já era uma instituição conhecida e praticada por vários povos antes mesmo da formação da nação israelita.  

– Em terceiro lugar, um pensamento desta natureza decorre do fato de se achar que dízimos e ofertas alçadas são conceitos diversos, diferentes, opostos até.

Assim, dízimo seria uma espécie de contribuição, ou seja, a obrigatória porção de um décimo do que se ganha, enquanto que oferta alçada seria uma contribuição voluntária, independente e algo além dos dez por cento. Este conceito, entretanto, não tem, também, respaldo bíblico.  

– Quando vemos a instituição do dízimo na lei de Moisés, percebemos que os dízimos eram entregues em forma de oferta alçada (Nm.18:24).

Oferta alçada (que a versão NVI e outras versões bíblicas traduzem por “contribuição”) é um gênero que abrange os dízimos e outras contribuições feitas para o sustento dos sacerdotes.

Aliás, os rabinos judeus identificam na lei vinte e duas formas diferentes de contribuição para o sustento dos sacerdotes e levitas, dentre as quais se encontra o dízimo.

Assim, quando a Bíblia fala em ofertas alçadas na igreja, não está excluindo os dízimos, pois os dízimos são espécies de ofertas alçadas 

– Em quarto lugar, diz-se que o dízimo seria uma contribuição obrigatória e que, na dispensação da graça, já não vivemos mais a obrigatoriedade, não estamos debaixo do legalismo, mas tudo se faz voluntariamente e por amor.

O dízimo, entretanto, como já vimos, não é uma obrigação, mas, tanto quanto as demais contribuições, uma contribuição voluntária, resultado de uma vida de amor a Deus, um ato de gratidão e de reconhecimento da soberania divina.  

– O dízimo é entregue por quem, voluntariamente e com alegria, crê em Deus e reconhece que Ele é Senhor. Não se trata de obrigação alguma, mas, antes, é um gesto de desprendimento, de compromisso para com a obra de Deus.

Quem dizima, fixa em, pelo menos, dez por cento, o valor com que deve contribuir para a obra de Deus, reconhecendo plenamente o senhorio de Deus sobre a sua vida.  

– Quem não dizima, ainda que contribua, se ficar aquém do valor mínimo com que contribuíram os homens de Deus no passado, como pode dizer que está debaixo da graça de Deus, graça esta que, agora, se revelou plenamente na pessoa de Jesus Cristo?

Poderia um servo de Deus na dispensação mais ampla da história da humanidade estar contribuindo menos para a obra de Deus do que os homens das antigas alianças?

– Ademais, o apóstolo Paulo diz que somos espiritualmente filhos de Abraão, herdeiros conforme a promessa (Gl.3:29), precisamente porque somos de Cristo, somos um em Cristo Jesus (Gl.3:28,29).

Ora, se somos “herdeiros conforme a promessa”, “descendentes de Abraão”, devemos praticar o que Abraão praticou, até porque viveu ele segundo a fé, foi justificado pela fé e, como alguém justificado pela fé, alguém que vivia segundo a fé, ele era praticante do dízimo. Assim, temos mais um motivo para termos tal prática. 

– O dízimo é o primeiro gesto de administração de bens de um cristão fiel, pois, como vimos, é algo que deve ser prioritário, tanto na quantidade quanto na qualidade.

O dízimo deve corresponder a dez por cento do ganho do cristão, entendido este como o ganho bruto e não o líquido, como alguns têm defendido.

Com efeito, quando declaramos nossa renda ao Governo, declaramos que recebemos aquilo que efetivamente ganhamos, que é o bruto e não o líquido.

Ora, se para o Governo, dizemos que nossa renda é nosso ganho bruto, por que o cálculo do dízimo se faria sobre o líquido?

 

– O dízimo deve ser entregue na igreja local da qual fazemos parte. Não se trata de dinheiro que tenha outra finalidade senão a de dar o sustento para as pessoas que estão envolvidas integralmente com a obra do Senhor.

A obra do Senhor é feita por intermédio da igreja local, que é a agência do reino de Deus aqui na terra. Se somos membros de uma igreja local, ali devemos entregar nossos dízimos, pois é ali que cultuamos a Deus.  

– A Bíblia não estabelece outro lugar senão este para entregarmos os dízimos.

Entre os judeus, os dízimos deveriam ser levados a Jerusalém, para o templo, e apenas se permitia que, diante do fato de ser custoso o transporte dos bens até lá, se pudesse convertê-los em dinheiro ou levá-los a cada três anos ao templo, devendo ficar armazenados enquanto não se completasse o período.  

– Não se constitui em dízimo, portanto, a contribuição que se dê a este título para obras assistenciais, para outras igrejas locais às quais não pertencemos, para sustento de obreiros ou quaisquer outras pessoas que estejam “vivendo da obra”.

Tais contribuições são ofertas, são contribuições, mas não são dízimo. Não temos o direito, como mordomo, de darmos destinação diversa aos dízimos senão a que foi estabelecida pelo Senhor.

Se somos mordomos, somos servos e, portanto, devemos tão somente obedecer ao Senhor e isto implica em não termos o poder de dizermos para onde vai o dízimo, pois ele não é nosso, mas, sim, do Senhor. 

– Constitui-se, também, em atitude que não tem qualquer respaldo bíblico o uso do dízimo como forma de pressão ou retaliação junto ao ministério da igreja local onde servimos a Deus.

Muitas pessoas acham que, por entregarem fartos dízimos, que representam boa parte da arrecadação da igreja local, têm o direito de opinar ou de estabelecer as diretrizes para o ministério da igreja local. Na verdade, há, mesmo, ministros do Evangelho que dão satisfações ou procuram agradar um determinado grupo na igreja local por causa do papel que eles representam no sustento seu e da obra do Senhor.

Todas estas atitudes são amplamente reprovadas pelas Escrituras, que não admitem a acepção de pessoas e tratam aos que assim procedem como pecadores (Tg.2:1-9).

Os dons divinos não se adquirem nem se exercem por dinheiro (At.8:18-23).  

– Na igreja, cuidamos de vidas, de almas e não de cifrões ou de quantias. O dinheiro é necessário, no mundo em que vivemos, para que a obra de Deus se possa realizar, não porque Deus disto precise para cumprir o Seu propósito, mas para o próprio aperfeiçoamento dos santos, para o crescimento espiritual dos crentes e, sobretudo, para a glória de Deus. 

IV – AS OFERTAS 

– Além do dízimo, conforme já vimos, existem outras contribuições, as chamadas “ofertas alçadas”, assim denominadas porque são ofertas que são levantadas para fins específicos, para objetivos outros que não o “mantimento”, ou seja,

o sustento das pessoas dedicadas exclusivamente à obra do Senhor e da própria manutenção da obra em si, como os pagamentos necessários para a manutenção das edificações e das instituições relacionadas com a obra de Deus, consoante as leis e normas vigentes numa dada sociedade. 

– As ofertas são, muitas vezes, chamadas de “ofertas voluntárias”, uma vez que não há previsão de seu montante, como ocorre com o dízimo, mas isto deve ser visto com muito cuidado, pois, como já dissemos, o dízimo também é voluntário, ainda que tenha o seu valor previamente fixado pelo Senhor em Sua Palavra, o que inocorre com as ofertas. 

– O que caracteriza a oferta e a distingue do dízimo é, precisamente, o objetivo, a finalidade de sua criação, algo que é episódico, passageiro, que não está vinculado ao cotidiano e ao dia-a-dia do sustento da obra de Deus.

 

– Exemplo de oferta alçada é a dos materiais para a construção do tabernáculo, nos dias de Moisés, conforme vemos em Ex.25:2-8, ofertas que foram levantadas para aquela finalidade tanto que, quando se verificou que já havia mais do que suficiente para tanto, determinou-se a cessação daquela contribuição (Ex.36:6,7).

É o que se deu, também, quando da reforma do templo de Jerusalém nos dias do rei Joás (II Cr.24:4-14). 

– Esta prática é explicitamente mencionada em o Novo Testamento, sendo algo muito utilizado pelo apóstolo Paulo para providenciar o socorro aos crentes da Judeia (I Co.16:1-4; II Co.8,9; At.15:26,27),

motivo por que alguns, inadvertidamente, acham que seria esta a única forma de contribuição na dispensação da graça, o que, entretanto, conforme já visto, não corresponde à realidade bíblica, vez que não há qualquer abolição do dízimo, prática que foi, inclusive, chancelada pelo Senhor Jesus.

 – A explicitação das ofertas, ao revés, é um indicador de que, na graça, a generosidade e a preocupação com os necessitados é bem mais ampla do que na lei, a nos mostrar que o dízimo é, na graça,

um patamar mínimo de contribuição e que, ao lado do dízimo, deve haver uma plena disposição para a contribuição por meio de ofertas alçadas, como, aliás, deixou o apóstolo bem claro ao repreender a desídia com que os crentes de Corinto estavam a tratar a coleta determinada pelo apóstolo. 

– Evidentemente, as ofertas precisam ser voltadas para reais necessidades e devem ser levantadas com todos os cuidados, entre os quais o da absoluta transparência tanto na arrecadação quanto na aplicação, como, aliás,

vemos o apóstolo Paulo fazer questão de demonstrar na sua repreensão aos coríntios, como a circunstância de haver irmãos que gozavam da credibilidade e confiança da membresia para a guarda dos recursos arrecadados (II Co.8:18-23). 

– Tudo que é feito na igreja do Senhor deve ser feito com transparência, lisura, honestidade acima de qualquer suspeita, pois somos “filhos da luz” (Ef.5:8; I Ts.5:5), quem anda na verdade vem para a luz para que as suas obras sejam vistas por todos (Jo.3:20,21). 

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

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