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LIÇÃO Nº 7 – CULTUANDO A DEUS COM LIBERDADE E REVERÊNCIA

O culto ao Senhor, embora não seja formalista, não é uma desordem ou confusão.

INTRODUÇÃO

– O movimento pentecostal tem como uma de suas características mais marcantes a de permitir a plena liberdade do Espírito Santo nas reuniões de adoração, o que faz realçar a comunhão entre Deus e Seus servos e entre os próprios servos entre si, fator que tem sido reconhecido por muitos como um dos principais motivos para o seu crescimento vertiginoso.

OBS: Em uma de suas obras, o ex-Presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, com a autoridade de sociólogo internacionalmente reconhecido, não deixa de se juntar aos que reconhecem este fato:

“…Atualmente, existe uma dimensão de solidariedade virtual no comportamento e mesmo uma busca de formas de sociabilidade que animem um sentimento de coesão social (basta constatar a expansão das religiões pentecostais, ou os movimentos ambientalistas)(…).

As religiões reformadas, sobretudo as pentecostais, guardam, é certo, importante papel socializador, principalmente junto às camadas mais pobres e menos integradas à sociedade.

Dão a seus crentes acesso a setores sociais, localizados muitas vezes em estratos mais altos da hierarquia social. Funcionam segmentadamente como fator de coesão e de integração social, mas também sem perspectiva nacional.…(A arte da política: a história que vivi, pp.511 e 679).

– Entretanto, embora a presença atuante do Espírito Santo traga um fervor e um vigor espirituais similares ao da igreja primitiva, precisamos estar bem conscientes de que Deus não é Deus de confusão ou de desordem e que, portanto, todo culto, por mais poderoso e fervoroso que seja, sempre será uma demonstração de ordem e decência.

I – O CRENTE TEM O DEVER DE ADORAR A DEUS

– O homem, como ser racional e moral criado por Deus, deve adorá-l’O, porquanto é preciso reconhecer que Deus é o Senhor de todas as coisas, inclusive do próprio ser humano.

Como Deus fez o homem com esta capacidade de discernimento, é um imperativo que venha a adorar ao Senhor. Por isso, Jesus disse, quando de Sua tentação, que se deve adorar somente ao Senhor e a Ele servir (Mt.4:10).

– A adoração, embora envolva o culto formal a Deus numa igreja, não se confunde com esta prática, pois é algo que deve estar presente em todas as ações do ser humano, tanto que Jesus nos ensinou que os verdadeiros adoradores adoram a Deus em espírito e em verdade (Jo.4:23), ou seja, em todo o tempo, independentemente de local ou ocasião.

– A Declaração de Fé das Assembleias de Deus afirma que “…Cremos, professamos e ensinamentos que a adoração é um serviço sagrado, culto, reverência a Deus por aquilo que Ele é e por Suas obras: ‘Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele servirás’ (Mt.4:10)…” (DFAD XV, p.143).

– A primeira vez que a palavra “adorar” aparece na Bíblia é em Gn.22:5, quando Abraão avisa seus servos que iria ao monte Moriá, juntamente com Isaque, para adorar e, depois, voltaria, com o seu filho, até o pé do monte, onde os servos deveriam esperar.

– Entretanto, não é esta a primeira vez que vemos um homem adorando a Deus nas Escrituras, ainda que a palavra não estivesse registrada antes no texto sagrado.

Com efeito, o primeiro casal tinha um momento peculiar com Deus na viração do dia (Gn.3:8), um instante em que se dirigiam a Deus e a Ele prestavam contas por tudo que tinham feito durante o dia.

Era um momento em que se reconhecia a soberania divina e em que o homem se dedicava a um encontro mais íntimo com o seu Senhor.

– Após a queda do homem, apesar da impossibilidade de uma comunhão com Deus, pois o pecado fez uma divisão entre Deus e o homem (Is.59:2; Ef.2:14), o primeiro casal ensinou a seus filhos que havia a necessidade de se render a Deus um tributo, um louvor, de reconhecer que Deus é o Senhor de todas as coisas e que, portanto, devemos dar a Ele satisfação e Lhe render graças.

Por isso, vemos Caim e Abel apresentando ofertas a Deus, numa atitude nítida de adoração a Deus (Gn.4:3,4). Podemos observar nesta passagem algumas características da adoração, no limiar da história humana, a saber:

a) A adoração é uma prática que acompanha a própria existência do homem – Como vimos, o primeiro casal tinha um instante diário de adoração e, diante desta prática, havia ensinado seus filhos a procederem da mesma maneira. O homem, portanto, foi feito para adorar a Deus.

b) A adoração é necessária, mas espontânea – A adoração é uma atividade que era considerada necessária por parte da primeira família, tanto que Caim, mesmo não estando interiormente disposto a fazê-lo, não ousou negar-se a oferecer algo a Deus, pois tinha consciência da necessidade deste gesto.

Embora necessária, a adoração é espontânea, tem de partir do homem. Não confundamos a adoração com a sujeição, que é o ato pelo qual Deus, por Sua soberania, imporá, num tempo por Ele determinado, Seu senhorio sobre todos os seres, através de Cristo Jesus (I Co.15:27,28; Ef.1:22; Hb.2:8). Isto é sujeição, não adoração.

c) A adoração consiste de atos externos – A adoração é demonstrada através de gestos concretos, visíveis por todos os demais homens. Caim trouxe uma oferta de vegetais, enquanto Abel sacrificou animais.

d) A adoração também se faz no interior do homem – Embora se manifeste por atos exteriores, a adoração começa no homem interior, é uma atitude que tem seu nascimento no espírito, que é a parte do homem que mantém o canal com Deus. Por isso, a oferta de Abel foi aceita, mas não a de Caim.

e) A adoração é acompanhada e observada por Deus – A disposição para a adoração partiu do homem, mas foi atentamente observada pelo Senhor. Quando nos dispomos a adorar a Deus, jamais nos esqueçamos de que o Senhor a tudo está observando e conhece quais são nossas intenções e os nossos atos, tanto que aceitou a oferta de Abel, mas rejeitou a de Caim.

f) A adoração permite uma comunicação entre Deus e o homem – Mediante a adoração, Deus aceita, ou não, o gesto do homem, mas é através dela que Deus Se manifesta ao homem, mesmo àquele que não teve aceita a sua oferta, de modo que se estabelece o necessário relacionamento entre Deus e o homem.

Através da adoração, o homem tem condições de entender que o pecado é o responsável pela ruptura da comunhão entre o ser humano e o seu Criador

g) A adoração, para que seja aceita por Deus, exige um ato de fé e uma prévia justificação dos pecados – A Bíblia afirma-nos que Abel era uma pessoa dotada de fé de de justiça (Mt.23:35; Hb.11:4), enquanto que Caim era do maligno (I Jo.3:12).

Reside, então, aí a razão por que a adoração de Abel foi aceita e não a de Caim. Para que possamos adorar a Deus, devemos ter fé, pois sem ela é impossível agradar-Lhe (Hb.11:6).

Tendo fé, poderemos ser justificados diante de Deus, passando a ter paz com ele (Rm.5:1) e, deste modo, livres do pecado, poderemos ser aceitáveis diante do Senhor. Como diz conhecido cântico, “em altar quebrado, não se oferece sacrifício a Deus”. (cfr. I Rs.18:30).

– A palavra “adoração” vem do latim “ad orare”, que significa “para ser feito com a boca”, ou seja, “beijar”.

Esta expressão deve ser entendida na cultura da Antiguidade, ainda hoje seguida em alguns segmentos sociais (como a Igreja Romana, por exemplo), em que o beijo é um gesto de reconhecimento da autoridade de alguém.

– Assim, “adorar” é reconhecer a autoridade de uma pessoa e se inclinar diante dela, curvar-se a seu senhorio e a sua superioridade.

Adoraremos a Deus, portanto, quando reconhecermos a Sua autoridade, a Sua supremacia, quando agirmos de forma a mostrarmos às pessoas que é Deus quem manda em nossas vidas.

Quando o diabo pediu a Jesus para ser adorado (Mt.4:9), estava, precisamente, pedindo que Jesus reconhecesse uma superioridade do diabo sobre Sua vida, o que, como bem mostrou nosso Senhor, era um rotundo absurdo (Mt.4:10).

– Esta ideia contida na palavra latina, que deu origem a nossa palavra na língua portuguesa, é, precisamente, o mesmo sentido que possui os termos originais hebraico e grego nas Escrituras.

Sempre há a ideia de homenagem, de reconhecimento de soberania e supremacia de Deus sobre a vida daquele que está a adorar a Deus. É este, aliás, o sentido que vemos no Sl.2:12, quando o salmista fala “beijai o Filho”.

– Em seguida, vemos que uma das características que temos da descendência piedosa de Sete, estava, precisamente, no fato de que era esta linha de descendentes que adorava a Deus.

A Bíblia informa-nos que, após o nascimento de Enos, o filho primogênito de Sete, passou-se a invocar o nome do Senhor (Gn.4:26), ou seja, Deus passou a ser buscado, a ser procurado, a ser reverenciado.

O fato de esta linha de descendentes adorar a Deus, buscar reconhecer a sua autoridade, era o grande diferencial entre eles e os descendentes de Caim, a ponto de a Bíblia a eles se referir como sendo os “filhos de Deus” (Gn.6:2). Deus sempre irá manter um relacionamento de pai para filho com aqueles que O adorarem!

II – MOTIVOS PARA O CRENTE ADORAR A DEUS

– Como temos visto, a adoração a Deus é algo que faz parte da própria natureza do ser humano, é uma característica que acompanha o homem desde a sua feitura.

O homem deve adorar a Deus, porque Deus o fez e Ele tudo deve a este Deus. A adoração estabelece os parâmetros corretos do relacionamento entre Deus e o homem, exatamente porque é através da adoração que Deus é reconhecido como Senhor e o homem, como Seu servo.

– O primeiro motivo, portanto, para adorarmos a Deus está no fato de que Deus, o Senhor de todas as coisas, é o Criador de tudo, inclusive do próprio homem. Quando adoramos a Deus, reconhecemos que Ele é o nosso Criador e manifestamos tal reconhecimento através da adoração.

– Todo homem é apresentado a Deus como sendo Sua criatura (Rm.1:20,21) e, através desta apresentação, deve o ser humano adorar a seu Criador.

Quando não o faz, desprezando a Deus, a Bíblia ensina-nos que são tais pessoas abandonadas pelo Senhor à sua própria sorte, gerando um sem-número de males e problemas para a humanidade rebelde, que se recusa a adorar o seu Criador (Rm.1:24-32).

– O segundo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos ama, de, apesar de ser o Criador, jamais desampara o homem, mas, muito pelo contrário, o ama e tem prazer em estar na companhia do ser humano.

Por amar o homem, Deus enviou Seu Filho para morrer por nós, quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8). Jesus é a prova suprema deste amor, pois morreu por nós na cruz do Calvário (Jo.15:13).

Deus nos amou primeiro (I Jo.4:19) e, em gratidão a este tão grande amor, reconhecemos Sua supremacia e procuramos render-Lhe culto, bem como fazemos o que Ele nos manda.

– O terceiro motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos salvou. Deus não somente amou o homem, mas providenciou a sua salvação através da pessoa de Jesus Cristo. Em Cristo, temos novamente acesso a Deus, pois os nossos pecados são perdoados e não há mais separação entre nós e Deus (Rm.5:1; Ef.2:13,14).

– Assim, tendo em vista a salvação de nossas almas, temos um caminho que nos introduz à presença de Deus, o que torna possível a adoração direta e individual, o que, antes, não era possível ao homem pecador (Hb.10:19-22).

Podemos adorar a Deus, sem obstáculo, tendo como único mediador a Cristo Jesus (I Tm.2:5). Graças a salvação, temos uma comunhão eterna com o Senhor, como antes do pecado dos nossos primeiros pais, comunhão esta que perdurará para sempre na nova Jerusalém (Ap.21:2-4).

– O quarto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele precisa ser conhecido dos homens que ainda não O conhecem como Senhor e Salvador de suas vidas.

A missão principal dos servos de Deus neste mundo é anunciar a toda criatura o evangelho (Mc.16:15), ou seja, a boa notícia de que o reino de Deus é chegado e que os homens devem nele entrar através do arrependimento de seus pecados (Mc.1:14,15).

Deus somente será conhecido dos homens se nós O revelarmos através de nossas vidas e isto só será possível mediante a visibilidade da adoração.

Pela adoração, os homens poderão ver Deus em nós (Mt.5:16; At.6:15; II Co.3:18). Como diz conhecido cântico, devemos adorar o Senhor de modo que o “mundo possa ver a glória do Senhor em nossos rostos brilhar.”

– O quinto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que o necessário crescimento espiritual do crente depende da sua vida de adoração.

A vida espiritual é uma vida dinâmica, uma vida de contínuo desenvolvimento, pois não é possível haver uma vida estacionária, parada no campo espiritual. Se não avançamos espiritualmente, estaremos, necessariamente, regredindo.

Por isso, o escritor da epístola aos Hebreus diz que devemos correr com paciência a carreira que nos está proposta (Hb.12:1) e o apóstolo Paulo afirma, somente ao final de sua vida, que tinha encerrado a sua carreira (II Tm.4:7).

– Sendo uma vida espiritual algo dinâmico, precisamos estar em contínuo relacionamento com Deus, precisamos orar em todo o tempo, mantermos uma vigilância sem qualquer trégua ou interrupção, o que somente é possível se adorarmos a Deus a todo instante, a todo momento. São estes os adoradores que Deus está buscando (Jo.4:23).

– O sexto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós temos fé em Deus, porque confiamos n’Ele.

Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6) e, portanto, para que possamos adorar a Deus, render-Lhe culto e louvor, é indispensável que creiamos que Ele existe e é galardoador dos que O buscam.

Nunca nos esqueçamos que Jesus, em muitas oportunidades, ao se dirigir às pessoas que O ouviam, fazia alguma observação a respeito da fé que elas possuíam.

– O sétimo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós amamos a Deus. Somente se amarmos a Deus, poderemos adorá-l’O.

Quando amamos alguém, queremos estar sempre ao seu lado, queremos estar, constantemente, na sua companhia.

Ora, se amamos a Deus, desejamos estar sempre ao Seu lado, estar sempre em Sua companhia e não há outra forma de o fazermos senão através de uma contínua adoração a Ele.

A igreja anseia pela contínua companhia de seu Noivo, de seu amado: ” o meu amado é meu e eu sou dele” (Ct.2:16a).

III – A ADORAÇÃO A DEUS MEDIANTE A LITURGIA

– Embora a adoração a Deus não se confunda com o culto a Deus nas reuniões coletivas da igreja local, é esta uma das formas pelas quais adoramos ao Senhor.

– É o que os estudiosos da Bíblia denominam de “liturgia”, palavra que veio do grego “leitourgía” (λειτουργία), que significava, primitivamente, “…em Atenas, ‘contribuições (de origem sobretudo ritual) que o Estado exigia dos cidadãos para alívio de determinadas obrigações do poder público, entre as quais:

1) a trierarquia ou equipagem de uma trirreme;

2) a coregia ou obrigação de equipar e organizar um coro de dança em concursos líricos e dramáticos;

3) a gimnasiarquia ou organização dos jogos públicos;

4) a hestiase ou banquete oferecido a todos os cidadãos…” (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).

– Como se pode perceber, portanto, a “liturgia” era, na Grécia Antiga, um serviço público, uma obrigação do cidadão, quase sempre de origem religiosa, um esforço que deveria fazer para contribuir para que os “deuses” se fizessem favoráveis com a cidade a que pertencia o cidadão.

Era, portanto, o cumprimento de um dever para com a divindade de forma pública, em sociedade, visando a bênção divina não só para o cidadão, mas para todo o povo.

– Este mesmo tipo de atitude vemos nas prescrições da lei mosaica, onde se estabeleceram festividades e rituais em que o povo de Israel celebrava o seu Deus, notadamente nas três grandes festas (Páscoa, Pentecostes e Festa dos Tabernáculos) e no dia da expiação, quando se fazia, inclusive, um sacrifício em prol de todo o povo.

Aqui, também, se demonstrava a necessidade de todo o povo, propriedade peculiar de Deus entre os povos (Ex.19:5,6), praticar atos públicos de reconhecimento da soberania de Deus.

– Assim, a “liturgia” é esta adoração pública, é este reconhecimento coletivo, de toda uma comunidade, da soberania do Senhor e um instante em que todos se reúnem para dar ao Senhor a glória que somente a Ele é devida (Sl.29:2; 66:2; 96:7,8; Is.42:8;48:11).

– Deus tem prazer nesta adoração coletiva e sempre instou Seu povo a fazê-l’O (Lv.9:6,23; Nm.14:10), até porque, em reuniões como estas, o Senhor mostra os Seus propósitos de vida, de santidade e de amor para com o Seu povo (Dt.5:24; 26:19), de modo a que o Seu povo possa anunciar às outras nações esta mesma glória (I Cr.16:28,29; Sl.96:3; Is.42:12).

A presença da glória do Senhor nas reuniões do Seu povo, ademais, é uma demonstração de nossa filiação divina por adoção em Cristo Jesus (Sl.90:16; Is.61:6).

– Mas, ao lado deste aspecto de adoração, de relacionamento com Deus, de reconhecimento da soberania divina, a “liturgia” também tem um aspecto externo, um conjunto de ritos, formalidades e cerimônias que devem ser estabelecidos, já que estamos diante de uma adoração coletiva, de uma reunião de pessoas, a exigir, portanto que, na convivência e na reunião, haja uma organização, uma ordem, até porque se trata de um momento de grande reverência e respeito, pois se vai adorar ao Senhor de todo o universo.

– Assim, se é razoável exigir-se uma certa solenidade, uma certa formalidade quando estamos diante de ocasiões especiais na vida cotidiana, como poderemos dispensar um ambiente de respeito e de consideração quando nos reunimos para adorar a Deus?

– Além do mais, quando vemos na Palavra de Deus, observamos que o Senhor sempre exigiu reverência, respeito e consideração nas reuniões coletivas de adoração.

Quando Se manifestou a Moisés, imediatamente mandou que o futuro líder libertador de Israel não Se aproximasse da sarça ardente e, ainda, descalçasse seus pés pois o lugar onde se encontrava era terra santa, em virtude da presença do Senhor (Ex.3:5), algo que, anos mais tarde, seria repetido em relação ao sucessor de Moisés, Josué (Js.5:15), passagem que prova que a adoração não se desprende da reverência e que a reverência impõe a existência de algumas formalidades.

– Por isso, integral razão tem o pastor Osmar José da Silva, presidente das Assembleias de Deus em Sorocaba/SP, quando afirma que “…a própria liturgia envolve-se em rituais e o ritualismo religioso envolve-se em normas litúrgicas.(São como gêmeos que não se separam).…” (Liturgia: rituais, símbolos, cerimônias, doutrinas, costumes, histórias, p.15).

– No monte Sinai, também, o Senhor mandou que o povo se preparasse convenientemente para a manifestação da glória divina, inclusive mantivesse uma certa distância do monte (Ex.19:9-25), tendo, sido, aliás, esta a primeira ordem dada por Deus depois que o povo aceitou ser o Seu povo.

– Não foi à toa, portanto, que o sábio pregador advertiu os servos do Senhor a guardarem os seus pés quando entrassem na casa do Senhor (Ec.5:1 – ARC, NAA, ARA, TB), expressão cujo significado é ser reverente (como, aliás, consta na Nova Versão Internacional), ser vigilante nos seus passos, nas suas atitudes (como consta da Tradução Ecumênica Brasileira), ter cuidado (como consta na Nova Tradução na Linguagem de Hoje), “ver onde põe o pé” (como se vê na Versão do Pe. Antonio Pereira de Figueiredo).

– A reverência, o respeito, a consideração traduzem, aliás, o que a Bíblia chama de “temor do Senhor”, ou seja, o reconhecimento da soberania e do senhorio de Deus sobre cada ser humano, o que nos leva a respeitá-l’O, ou seja, “olhá-l’O com atenção”, “levá-l’O em consideração”, “prestar-Lhe atenção”, “dar-Lhe ouvidos”, como nos indica a própria raiz indo-europeia da palavra “respeito” que é “spek”.

– O respeito leva-nos, portanto, a ter algumas regras e normas no culto a Deus, normas estas que devem ser observadas e que revelam o próprio ato de adoração que está presente em cada culto coletivo a Deus.

– No entanto, se há necessidade de haver uma determinada ordem no culto coletivo a Deus e que esta ordem se manifeste por meio de algumas regras e normas, há o grande risco de, em nome da organização, estabelecermos um formalismo,

um legalismo que prevaleça sobre a própria adoração a Deus, que foi, precisamente, o mal que tomou conta do povo de Israel que passou a cultuar a Deus de modo exclusivamente externo e aparente, prendendo-se aos rituais e às cerimônias, o que levou, inclusive, o Senhor a abominar as solenidades e festividades que se passaram a realizar.

– Através dos profetas, Deus mostrou ao Seu povo que não tinha prazer em rituais, cerimônias e solenidades, se elas não viessem acompanhadas de um verdadeiro espírito de adoração, se elas não traduzissem um real e sincero reconhecimento da soberania divina da parte dos participantes das cerimônias religiosas (Is.1:10-19; 58:1-8; Zc.7:4-7; Ml.1:7-14).

– O ponto máximo do formalismo encontramos nos fariseus, a ponto que “farisaísmo” passou a ser sinônimo de um formalismo vazio e abominável ao Senhor, algo que repugna a Deus, como nos dá conta o próprio ministério terreno de Jesus Cristo (especialmente, Mt.23).

III – A LITURGIA DA IGREJA

– Tudo o que se disse até aqui com relação a Israel, é válido para a Igreja, que é o Israel de Deus (Gl.6:16), a nação santa que veio fazer as vezes de Israel na dispensação da graça como povo anunciador da salvação de Deus aqui na Terra (Mt.16:18; Ef.2:13-22; I Pe.2:9).

– A Igreja deve, portanto, reunir-se coletivamente para adorar ao Senhor e, através desta adoração, mostrar a glória de Deus a todos os povos, para que eles, com temor e tremor, creiam em Cristo como seu único e suficiente Salvador (I Co.14:24,25).

– Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus: “…Reunimo-nos como corpo de Cristo para a adoração pública ao Deus Trino. Jesus prometeu: ‘onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles’ (Mt.18:20).

A adoração pública é a atividade de glorificar a Deus em coletividade e serve também para a comunhão [I Jo.1:7; despertamento [I Ts.5:11], exortação [Cl.3:16] e edificação da Igreja
[I Co.414:26].…” (DFAD XV.1, p.144).

– Por isso, se é verdade que muitos dos rituais e cerimônias da antiga aliança já não mais têm razão de ser ou sentido nos dias da Igreja, uma vez que eram figuras e sombras do Cristo, Que já veio ao mundo, morreu por nós, ressuscitou e está à destra do Pai intercedendo por nós (Hb.10:1-18),

bem como temos, agora, o Espírito Santo em nós para nos guiar em toda a verdade (Jo.14:17; 16:13), nem por isso podemos deixar de observar que Deus não muda, nem n’Ele há sombra de variação (Ml.3:6; Tg.1:17),

de sorte que continua sendo um Deus de ordem e não um Deus de confusão (I Co.14:33), a impor regras e normas para que se processe a adoração ao Seu nome. 

– A Bíblia afirma que, quando a igreja se reúne, deve haver, na devoção coletiva, salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação, tudo com o propósito de edificação (I Co.14:20). Vejamos, pois, cada um destes momentos que deve haver na devoção coletiva a Deus.

– O primeiro ponto que deve existir numa vida devocional coletiva é o salmo, ou seja, o louvor. Quando Paulo se refere a salmo, está se referindo ao louvor, pois o salmo era a forma pela qual os judeus louvavam ao Senhor, já que os Salmos eram o hinário oficial de Israel.

– Desde os tempos do Antigo Testamento, nas cerimônias e celebrações coletivas de adoração a Deus, estava presente um momento de louvor e de cântico.

As Escrituras ensinam-nos, em diversas partes, que tudo quanto tem fôlego deve louvar ao Senhor (Sl.150:6).

O ministério do louvor é o único ministério que perdurará após a glorificação dos salvos, pois os anjos não cessam de louvar a Deus e estaremos com o Senhor para sempre, louvando-o. Deste modo, é indispensável que a liturgia incorpore momentos de louvor na vida devocional coletiva.

– Entretanto, o louvor, como bem demonstra a Bíblia, é um sacrifício pacífico que se faz ao Senhor nesta dispensação (Hb.13:15).

Sendo assim, há critérios que devem ser observados quanto ao louvor que deve ser entoado pela igreja ou na igreja por ocasião de nossas reuniões devocionais.

O louvor deve ser o fruto dos lábios que confessam o nome do Senhor (Hb.13:15), ou seja, o louvor é o resultado de uma vida de confissão a Deus, de uma vida de arrependimento dos pecados, de uma vida diferente daquela que é vivida pelos homens que não têm a salvação.

– Sendo assim, o louvor não pode ser igual nem tampouco semelhante à música que é seguida e observada pelo mundo sem Deus e sem salvação.

O louvor a ser entoado deve ter respaldo bíblico, não só com relação à letra, mas, e principalmente, com respeito à melodia e harmonia. Devemos fazer distinção entre o santo e o profano(Ez.22:26;44:23), pois este é um dever de todo sacerdote (e cada um de nós é um sacerdote diante de Deus – I Pe.2:9).

– O louvor é fruto daqueles que demonstram não estar conformados com o mundo (Rm.12:2). Como, então, poderemos demonstrar que estamos adorando a Deus, usando o fermento velho? (I Co.5:7,8).

É lamentável que estejamos numa época em que a música profana tem invadido completamente as nossas igrejas e ocupado o lugar dos nossos hinos sacros.

A Bíblia fala que o verdadeiro culto devocional coletivo a Deus se faz com salmos, ou seja, com hinos inspirados, santos e distintos das demais músicas, das músicas mundanas e profanas.

– É interessante, também, observar que, embora o salmo seja uma parte importante e indispensável da devoção coletiva, não é a que deve ocupar a maior parte do tempo da reunião.

– A Bíblia mostra-nos que Jesus dedicou apenas uma pequena parte do culto de instituição da ceia para o louvor (Mt.26:30), hino, aliás, que, entendem muitos estudiosos da Bíblia Sagrada, seja o salmo 116 (ou seja, Jesus cantou um cântico selecionado, um cântico sacro, um cântico do hinário oficial de Israel).

– O louvor é importante, mas é apenas um instante de preparação para o momento principal da reunião, que é a exposição da Palavra de Deus.

Hoje em dia, infelizmente, devido ao grande número de grupos musicais na igreja, sem se falar naqueles que preferem cantar individualmente, não raras vezes, três quartos do tempo da reunião são dedicados ao louvor, o que tem causado grande prejuízo espiritual ao povo de Deus.

– O alimento do homem é a Palavra de Deus e o excesso de louvores tem contribuído para o raquitismo espiritual da igreja nos nossos dias.

Precisamos voltar aos tempos passados, onde se ouviam até três mensagens numa reunião. Como tem ensinado o professor Aristóteles Torres de Alencar Filho, vivemos o tempo do “louvorzão” e da “palavrinha”… 

– O segundo ponto que deve estar presente numa reunião é a oração que, no texto mencionado por Paulo, é denominada de revelação, de língua e de interpretação.

– É indispensável que a igreja, reunida, busque a Deus em oração, para que tenhamos uma verdadeira adoração e a presença de Deus se faça sentir no meio dos crentes. Cada crente deve, assim que chegar à igreja, buscar a face do Senhor, orar para que o nome do Senhor seja glorificado na reunião.

– Nos dias antigos (e, atualmente, em outras denominações, que são tão criticadas por pontos secundários, mas que, neste aspecto, são muito mais reverentes e superiores a nós), o povo de Deus, ao chegar à casa do Senhor, dobrava seus joelhos e, numa atitude de reverência, seguindo o que determina a Bíblia Sagrada (Ec.5:1), orava ao Senhor até o início da reunião.

– Hoje em dia, estarrecidos, observamos que os crentes aproveitam este período para falar da vida alheia, rever os amigos, marcar encontros, entabular negócios e tantas outras coisas, menos para buscar a Deus.

Acham que o culto começa no momento da oração inicial, quando, na verdade, não vimos à igreja para assistir a um culto, mas para prestarmos o nosso culto a Deus, juntamente com os demais cristãos, naquele local.

– O culto na igreja começa quando ali chegamos e devemos aproveitar o nosso tempo para orar e buscar a presença de Deus.

As reuniões não têm sido mais proveitosas espiritualmente para os crentes exatamente porque não há este propósito de orarmos ao Senhor desde o instante de nossa chegada à igreja local.

– Além deste momento de oração antes do início da devoção coletiva, deve haver alguns momentos de oração durante a reunião, onde são publicadas as necessidades dos santos à igreja local, para um intercessão, bem assim comunicados os agradecimentos pelas bênçãos recebidas.

– Também este é o momento adequado para que se proceda a eventuais unções com óleo, que devem ser feitas exclusivamente sobre membros da igreja enfermos, que é a hipótese bíblica para unção na nova aliança (Tg.5:14).

Também, neste momento, deve-se abrir oportunidade aos irmãos que queiram testemunhar das maravilhas que o Senhor tem feito em suas vidas.

– A parte mais importante da devoção coletiva, entretanto, é a que diz respeito à exposição da Palavra de Deus. A explanação da Palavra é uma necessidade imensa do povo de Deus e um dos principais motivos para a sua reunião coletiva.

– Se existe a igreja local, se existe este grupo com o devido governo constituído pelo Senhor, é, precisamente, para que haja o ensino da Palavra de Deus, tarefa primordial do ministério na casa do Senhor (cfr. At.6:2,4).

Esta é a parte referente à doutrina mencionada por Paulo em I Co.14:26, o que deve ser gotejado incessantemente sobre a igreja (Dt.32:2).

– Doutrina é a exposição da Palavra do Senhor, do evangelho, dos ensinos de Deus para o homem, não se confundindo com usos e costumes.

Eis a razão por que é requisito indispensável para a separação de alguém para o ministério a sua capacidade de ensinar as Escrituras (I Tm.3:2).

– Nossas reuniões devocionais devem dar prioridade à exposição da Palavra do Senhor com, no mínimo, duas pregações ao longo da reunião.

– Antes do término da reunião, deve haver uma mensagem final de convite aos pecadores para que aceitem a Cristo como Salvador, o nosso conhecido “apelo”, que nunca deve faltar numa reunião devocional coletiva da igreja local, pois nosso objetivo primordial é ganhar almas para Jesus.

Infelizmente, muitos, por incrível que pareça, têm eliminado esta parte do culto, fazendo com que tenhamos sérias dúvidas de que tenham, ainda, consciência de que uma reunião devocional não é um mero ajuntamento social.

– Com relação à exposição da Palavra de Deus, ainda, devemos nos lembrar que tudo deve ser feito sob a direção do Espírito Santo.

A pessoa encarregada da presidência da reunião deve estar em completa e perfeita sintonia com o Espírito de Deus para que tudo conduza conforme a vontade d’Ele.

– Hoje em dia, porém, muitos têm posto simpatias pessoais, quando não interesses escusos, na definição de quem deve expor a Palavra na reunião.

Devemos deixar o Espírito Santo com liberdade para, inclusive, indicar quem deve ser o pregador. Deus sabe qual é a necessidade do povo e o que deve ser dito. Precisamos sempre ter em mente isto quando formos escolher o expositor da Palavra. Aliás, devemos, de pronto, recusar os “pregadores profissionais” que, por dinheiro, se oferecem para pregar em nossas reuniões.

A estes, verdadeiros seguidores do ex-mágico Simão, devemos sempre responder como Pedro: “O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro”. (At.8:20).

– Também faz parte da devoção coletiva a parte referente à contribuição financeira para o sustento da obra do Senhor.

As ofertas e os dízimos são parte de nossa devoção a Deus, de nosso compromisso com a pregação do Evangelho , como vimos nas lições 9 e 10 deste trimestre, são parte integrante e indissociável da nossa adoração.

Não obstante, temos aqui apenas uma parte do culto devocional, que deve ser conduzida com moderação e devida explicação de seus objetivos aos ouvintes da Palavra de Deus, buscando-se, diante do mercantilismo reinante no mundo religioso dos nossos dias, haver um devido esclarecimento e, inclusive, relevando-se que se trata de uma obrigação dos crentes, não extensiva àqueles que estejam visitando a comunidade.

IV – ALGUMAS QUESTÕES LITÚRGICAS POLÊMICAS

– A devoção coletiva, seguindo esta ordem, será, certamente, agradável ao Senhor, que Se fará presente e proporcionará não somente o aperfeiçoamento espiritual dos crentes reunidos, mas também ocasionará a salvação de vidas preciosas para o reino de Deus.

É necessário, entretanto, fazer, também, aqui, alguns comentários com respeito a certos aspectos que têm intrigado muitos cristãos nos nossos dias, práticas e costumes que têm sido introduzidos nos últimos tempos nas igrejas locais.

– O primeiro destes pontos refere-se ao uso de palmas nas reuniões devocionais coletivas. O uso de palmas não era desconhecido dos israelitas, como podemos verificar do Sl.47:1, passagem bíblica que tem sido utilizada por tantos quantos são favoráveis a esta prática na devoção coletiva.

– O texto em análise, entretanto, é uma expressão poética, ou seja, temos ali uma linguagem figurada, não literal, de modo que não se pode aceitar que o texto permita inferir que as palmas tenham sido uma conduta observada pelos israelitas na sua devoção a Deus.

– Mesmo que o texto fosse literal, trata-se de uma passagem isolada, sem qualquer outra repetição nas Escrituras, o que, conforme os princípios de hermenêutica bíblica, não autoriza que, com base nele, seja estabelecida uma doutrina. Assim, diante da omissão da Bíblia Sagrada, em termos doutrinários e literais, a respeito desta prática, não podemos dizer que se esteja diante de um assunto sobre o qual haja um parâmetro bíblico.

– A história da igreja no Brasil mostra que este foi um ponto que se levantou apenas para justificar o surgimento de alguns movimentos e denominações pentecostais, uma forma de se tentar estabelecer diferenças para afirmação de ministérios e lideranças, o que reforça o caráter absolutamente secundário deste tema.

Deus abençoou grandemente o movimento pentecostal no Brasil até a década de 1950 sem que houvesse tal prática no meio do povo de Deus, como também tem abençoado as igrejas surgidas a partir de então que adotam tal prática.

– Assim, mantenha-se cada um na vocação em que foi chamado (I Co.7:20), sendo reprovável do ponto-de-vista bíblico aquele que, tendo sido chamado por Deus a servir num determinado lugar, queira criar contendas em cima de um procedimento absolutamente secundário, revelando-se rebelde e insubmisso (I Tm.2:8; 6:3,4; II Tm.2:14; Tt.3:9).

– O segundo ponto refere-se ao uso de coreografia, ou seja, a existência de grupos de danças. Aqueles que se utilizam deste expediente usam como argumentos o fato de o povo de Israel usar, costumeiramente, da dança, como se pode observar em algumas passagens como em Ex.15:20 e 32:19, ou em Jz.11:24 e 21:21.

– Entretanto, todas as vezes que vemos a dança no meio do povo de Israel, esta dança não estava relacionada com o culto formalmente estabelecido por Deus conforme a lei de Moisés. Sempre foram celebrações populares, resultantes da cultura profana do povo israelita, sem qualquer conexão com o cerimonial levítico.

– Mesmo quando vemos Davi dançando, quando levava a arca para Jerusalém, isto se deu durante a subida da arca para Jerusalém, no caminho, não havendo registro de dança durante a realização dos sacrifícios, após a chegada da arca (II Sm.6:17,18).

– A dança, pelo contrário, estava presente nas festividades em honra ao bezerro de ouro (Ex.32:19). Vê-se, portanto, que não se trata de uma conduta que esteja, na Bíblia, relacionada ao culto devocional coletivo a Deus, motivo por que não deve ser adotado.

– Mesmo em nossa cultura, a dança nunca esteve relacionada a uma utilização sagrada, mas, sim, profana, salvo no que diz respeito a cultos afro-brasileiros e indígenas, o que reforça, ainda mais, a sua total inadequação para os cultos dos crentes em nosso país. Aliás, a experiência de tais expedientes tem revelado que, em muitos lugares onde houve a adoção de tal prática, houve a instalação de uma perigosa irreverência e de uma sensualidade que, em tudo, são avessos ao propósito que deve estar presente em nossa devoção coletiva.

– O terceiro ponto refere-se à presença de dramatizações e representações nas reuniões devocionais coletivas.

O teatro, diz-nos a história, foi a principal forma de educação religiosa entre os cristãos desde a Idade Média até a invenção da imprensa, no limiar da chamada Idade Moderna, em plena Reforma Protestante.

– O teatro, que era um instrumento do culto pagão grego, acabou se tornando a única forma pela qual os cristãos ocidentais, analfabetos e sem acesso às Escrituras, puderam ter contacto com o evangelho e a Palavra de Deus durante o longo período em que a Igreja Romana teve o monopólio da produção cultural do Ocidente.

– Não bastasse isso, a própria catequização dos índios brasileiros deu-se, fundamentalmente, através do teatro, como nos dão contas as inúmeras peças redigidas pelos jesuítas.

Assim, o teatro apresenta-se, culturalmente, como uma forma de difusão do evangelho não só no Ocidente, como no Brasil.

– A sua utilização, portanto, não se pode considerar como errônea, nem tampouco como nociva, desde que mantidos os parâmetros da ordem e da decência.

Infelizmente, muitos têm superado os limites do bom senso e do bom gosto, realizando dramatizações totalmente inspiradas em obras e expedientes totalmente avessos aos princípios bíblicos, como a utilização de holofotes, fumaça, ambiente à meia-luz e tantas outras inovações tecnológicas que são copiadas integralmente de apresentações artísticas que, não raras vezes, são comprometidas com o ocultismo e o satanismo.

– Deploramos, também, a realização de verdadeiros “shows” nas igrejas locais, para lançamento de produções artísticas, o que é totalmente contrário ao propósito estabelecido para a devoção coletiva, que é a adoração a Deus na beleza da Sua santidade e não o aproveitamento da oportunidade do ajuntamento do povo de Deus para a venda de produtos. Lembremo-nos que a casa de Deus é casa de oração e não casa de venda (Jo.2:16) nem covil de ladrões (Mt.21:13).

– Por falar em “shows”, é de se deplorar, também, aqui, as chamadas “igrejas de preto”, outro modismo que tem se espalhado em nossos dias.

Muitos têm adotado a prática de realizar os cultos no escuro, sem qualquer iluminação e, ainda por cima, pintando as igrejas de preto ou de cor escura.

– Os que defendem esta prática afirmam que isto “facilita a concentração”, “impede a dispersão e a distração”, trazendo um “ambiente mais propício à adoração”. Tudo isto, porém, não tem respaldo algum.

– As Escrituras dizem que os salvos são “luz do mundo”, são pessoas que “andam na luz”. Nosso Senhor e Salvador afirmou que “quem pratica a verdade, vem para a luz, a fim de que suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (Jo.3:21).

– Ora, se a luz, a claridade são figuras da vida espiritual do cristão, como entender que, num momento de adoração, esteja o salvo num lugar intencionalmente escuro e tenebroso?

– Além do mais, um ambiente desta natureza propicia a exaltação de pessoas, precisamente as únicas que estão sob iluminação (cantores, pregadores etc.), fazendo com que se tenha um ambiente similar a outros que são destinados à prática do pecado, como boates, cabarés, bordéis etc. É evidente que isto não traz qualquer edificação espiritual.

– Além do mais, a escuridão não facilita a “concentração” ou a “adoração”, mas contribui grandemente para o individualismo, o que não faz sentido em uma reunião de adoração coletiva, bem como propicia que se realizem atos que são tudo menos santos.

– O quarto ponto refere-se à concessão de tempo nas reuniões a autoridades constituídas e a candidatos a cargos eletivos, notadamente durante a campanha eleitoral.

– Os que defendem que tais pessoas ocupem os púlpitos e tenham voz buscam respaldo bíblico em passagens como Rm.13:7, que manda honrar as autoridades constituídas.

Não resta dúvida de que, vindo uma autoridade visitar a igreja local, deve ela ser recebida com a honra devida de seu cargo, de sua função. Entretanto, cessa aí o compromisso da igreja local e de sua liderança.

– A reunião devocional coletiva é para cultuarmos a Deus, para O adorarmos na beleza da Sua santidade, em espírito e em verdade, para louvarmos a Deus, ouvirmos a exposição da sua Palavra, orarmos e sentirmos o poder de Deus e a manifestação dos dons espirituais e ministeriais.

– Uma autoridade constituída por Deus para o governo da sociedade nada tem a ver com isto, de modo que não deve ter qualquer oportunidade para falar de seus planos, projetos ou quaisquer outros assuntos alheios ao propósito da reunião. Devemos dar a César o que é de César, mas a Deus o que é de Deus (Mt.22:21) e reunião devocional coletiva é algo que se faz a Deus, não a César.

OBS: A propósito, a legislação eleitoral procurou estabelecer limites para a atuação das organizações religiosas na propaganda eleitoral e na arrecadação de fundos de candidatos, prova de que precisamos ser muito mais vigilantes com relação a este assunto.

Eis o texto do artigo 24 da lei 9504/1997 com a redação que lhe deu a lei 11.300/2006: “É vedado, a partido e candidato, receber direta ou indiretamente doação em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espécie, procedente de:… VIII – entidades beneficentes e religiosas. Agora é a própria lei que proíbe que os púlpitos se transformem em palanques!

– O quinto ponto refere-se à manifestação do dom espiritual de profecia ou dos dons espirituais conjugados de língua e de interpretação.

O texto já mencionado de I Co.14 é bem claro a respeito. A língua com interpretação ou a profecia devem ser entregues para a igreja, pois são palavras diretas do Senhor para a edificação do Seu povo, sendo este um dos propósitos do ajuntamento dos servos de Deus na igreja local.

– Não tem, portanto, qualquer sentido que se proíba que alguém profetize ou interprete uma língua estranha. Entretanto, tudo deve ser feito decentemente e com ordem.

A Bíblia mostra, claramente, que o espírito do profeta está sujeito ao profeta, ou seja, o profeta (ou intérprete) tem plena consciência de que recebeu uma mensagem da parte de Deus e que deve entregá-la para a igreja, mas, também, sabe, perfeitamente, o que está se passando na reunião. Assim, guiado pelo Espírito Santo, saberá o momento certo em que deverá entregar a mensagem.

– Se Deus determinar que a mensagem se dê no exato momento da sua recepção, providenciará que ela seja ouvida por todos, inclusive interrompendo alguma pregação que esteja sendo feita.

Caso contrário, o profeta ou intérprete deverá aguardar o término da exposição da Palavra para entregar a sua mensagem à igreja. Deus não é Deus de confusão e, portanto, jamais irá permitir que alguém suplante aquele que está ministrando a Sua Palavra.

– O sexto ponto refere-se a certas práticas que têm invadido as igrejas locais, tais como a “nova unção”, a “risada santa”, ” o vômito santo”, “o dom de lagartixa”, ” o cair pelo Espírito”, ” o sopro santo”, “o aviãozinho”, “adoração a anjos”, ” coreografia a anjos”, “o paletó ungido”, ” unção de lenços, carteiras de trabalho e outros objetos”, ” sessão de descarrego”, ” rosa ungida”, ” túnel de luz”, “o corredor dos trezentos”, “corrente dos setenta”, “sal grosso”, “a ingestão das ervas amargas”, “sono santo” e outras inúmeras inovações que têm aparecido nos últimos tempos, inovações estas que, muito propriamente, foram denominadas pelo jornalista evangélico Jehozadak Pereira de “neobesteiras”.

– São todas práticas que misturam feitiçaria, meninice, despreparo espiritual e, o que é primordial, ausência de exposição da Palavra de Deus.

As pessoas têm sede espiritual e, como não tem havido a ministração da Palavra de Deus em muitos lugares, tem sido necessário impactá-las com invenções e subterfúgios, para que, emocionalmente tocadas, estas pessoas sirvam aos propósitos, quase sempre monetários, dos alardeadores destas invenções, que têm sido hábeis instrumentos do inimigo para escândalo e descrédito do evangelho de Jesus Cristo no meio do povo.

– Busca-se, hoje, emocionar os ouvintes, levá-los a um instante de êxtase, a uma experiência sobrenatural de curta duração e de grande intensidade, tal qual se vê nos cultos afro-brasileiros, nos movimentos esotéricos influenciados pela Nova Era.

É a troca de uma vida comprometida com Deus por uma vida de experiências imediatas e emocionalmente fortes, mas sem qualquer solidez espiritual, não raro com manifestação de poderes malignos, pois a mentira e o engano são próprios do diabo (Jo.8:44).

– Tomemos cuidado, queridos irmãos, rejeitemos estes ventos de doutrina e não abandonemos a simplicidade que há em Cristo Jesus (II Co.11:3).

Deus não quer espetáculo, nem precisa de espetáculos para Se manifestar, mas atuará e Se manifestará sempre que tiver corações contritos e espíritos quebrantados dispostos a servi-l’O e adorá-l’O (Sl.51:17), dispostos a se arrepender de seus pecados e buscar uma vida de santificação(Hb.12:14;
Ap.22:11).

OBS: Este descompromisso com uma vida de efetiva comunhão que estas práticas acabam gerando nos fiéis é algo que não tem sido deixado

despercebido pelos especialistas, como o sociólogo da religião Antonio Flávio Pierucci, como se vê em trecho de artigo a respeito do assunto: ” …Veja-se o caso brasileiro.

Ao lado da visibilidade cada vez maior do estilo new age de religiosidade mágico-terapêutica, as religiões institucionalizadas que mais se expandem no Brasil são, em primeiro lugar, as igrejas protestantes de extração pentecostal.

Entre as pentecostais, são as ‘neo’ que mais prosperam: Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça Divina, Renascer em Cristo…Mesmo entre as igrejas protestantes históricas, os ramos que mais crescem são aqueles que se deixaram de algum modo pentecostalizar, no estilo de culto e de pregação, tanto quanto no estilo de vida.

No interior do catolicismo, o movimento mais dinâmico e expansivo é o dos chamados católicos carismáticos. Pois bem.

Essas exitosas formações religiosas e seus motivados profissionais oferecem um tipo de religiosidade ‘ experiencial’, digamos assim, que é muito pouco exigente eticamente, mas muito eficiente misticamente.

Ou seja, as religiões mais bem-sucedidas são aquelas que, à maneira das religiões classicamente mágicas, como o candomblé, a umbanda e as outras afro-brasileiras ou o próprio catolicismo popular, estão deixando de inculcar nos fiéis uma pauta coerente de conduta ética metódica e, excusado dizer, duradoura.

Passaram a oferecer serviços lábeis (…) vias de salvação mágicas ou mágico-místicas. Caracteriza tais serviços o fato de serem tópicos, não permanentes e de consumo imediato, o mais das vezes oferecidos em troca de pagamento…” (Religião. Folha de São Paulo, cad. Mais, 31.12.2000, p.20-1).

– O sétimo ponto que abordaremos diz respeito à “ditadura do relógio”. Como dizia o saudoso pastor Walter Marques de Melo, se pudesse, daria ele fim a todos os relógios das igrejas, pois são eles que dirigem os cultos na atualidade e não mais o Espírito Santo.

– Este pensamento, ainda que possa conter um pouco de exagero, bem reflete uma realidade dos nossos dias.

Se é verdade que o culto ao Senhor deve ser ordeiro e isto implica em observância de horários, também não se deve ter um comportamento que submeta a ação do Espírito Santo ao relógio.

– Em muitos cultos, hoje em dia, é, sem dúvida, o relógio quem domina. Se é necessário termos ordem e bem organizarmos as atividades em uma reunião, de modo a que se tenha salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação, também deve ser uma realidade, em nossas reuniões, que o Espírito Santo tenha a proeminência, com liberdade para agir da forma como quiser.

– Assim, se o Espírito Santo determinar a alteração de uma sequência tradicionalmente seguida por uma igreja local, devemos ouvir o Espírito Santo e não nos prendermos a um formalismo vazio e sem sentido. Não podemos nos esquecer que Deus não é Deus de confusão e se Ele assim o desejar, mesmo que o horário não seja observado, isto não dará motivo para escândalo ou qualquer outro problema maior, se for, realmente, uma atuação do Espírito Santo e não do homem.

V – A QUESTÃO LITÚRGICA A RESPEITO DAS LÍNGUAS ESTRANHAS E A ORDEM NO CULTO AO SENHOR

– Há, ainda, um oitavo ponto polêmico que, por sua relevância dentro do tema da doutrina bíblica da atuação do Espírito Santo, de que estamos a tratar neste trimestre, exige seja tratado à parte e com mais vagar e que se refere à manifestação do dom espiritual de línguas e à ordem do culto com relação a isto.

– Temos baseado nosso estudo a respeito da liturgia em I Co.14:26, que faz parte, precisamente, do texto em que Paulo analisa este problema.

Embora seja um texto muito citado pelos evangélicos tradicionais, como forma de menosprezar e depreciar os pentecostais, o fato é que, ao lermos o ensino de Paulo a respeito, não há qualquer proibição ou restrição ao uso dos dons espirituais de línguas estranhas na devoção coletiva.

– Paulo, apenas, fiel ao propósito que deve nortear uma reunião desta natureza, esclarece que, se alguém falar em língua estranha, deve fazê-lo de tal modo que não perturbe o desenvolvimento da reunião, pois a língua estranha sem interpretação é para a edificação individual e, numa reunião devocional coletiva, nós devemos buscar a edificação de todos, não a do indivíduo.

– Assim, se, num ambiente privado, devemos dar vazão às línguas estranhas que falarmos, pois estaremos na nossa intimidade com Deus, na reunião devocional coletiva, deveremos observar se Deus está nos dando a interpretação ou se alguém está sendo usado para tanto.

Caso contrário, devemos nos conter e impedir que as nossas línguas impeçam as demais pessoas de ouvir a mensagem da palavra de Deus ou o que estiver sendo realizado na reunião naquele momento.

– Temos de reconhecer que nossas igrejas locais não têm sido rígidas cumpridoras deste princípio bíblico e que devemos nos esforçar para que isto ocorra, pois devemos ser cumpridores da Palavra (Tg.1:22), mas usar esta falha para defender que não se devam falar em línguas num culto é puro preconceito religioso, sem qualquer respaldo bíblico, sendo, mesmo, uma postura diametralmente oposta ao que ensinam as Escrituras, que não admitem que se proíba falar em línguas estranhas (I Co.14:39; I Ts.5:19).

– Precisamos, porém, diferenciar as línguas como sinal do batismo com o Espírito Santo e as línguas que são dons espirituais. Todo o que é batizado com o Espírito Santo, fala em línguas estranhas, como, aliás, percebeu

Charles Purham em seu seminário em Topeka, no Kansas, quando estudou o assunto, “descoberta” que foi importantíssima para que se iniciasse o avivamento pentecostal que perdura até hoje.

– No entanto, o dom de variedade de línguas é coisa diversa, pois se trata de um dom espiritual que não é dado a todos os crentes, embora seja o dom mais disseminado no meio do povo de Deus da atualidade.

– As línguas estranhas como sinal do batismo com o Espírito Santo se trata de um falar sobrenatural em que se enaltecem as grandezas de Deus (At.2:11).

As pessoas, portanto, no instante em que recebem o batismo com o Espírito Santo, começam a falar com Deus, a exaltá-l’O, a louvá-l’O, a glorificá-l’O de uma forma evidente e que pode ser notada e contemplada por todos os homens.

– O batismo com o Espírito Santo é uma demonstração do poder de Deus, é uma exuberante oportunidade em que o Espírito Santo usa um servo de Deus para magnificar o nome do Senhor e levar o mundo a conhecer as grandezas de Deus, por intermédio da sobrenaturalidade.

Enquanto sinal, portanto, as línguas estranhas têm como objetivo, mesmo, impactar os infiéis, dar mostra do poder de Deus a tantos quantos ouvirem e contemplarem o fenômeno e, portanto, não há conduta, não há regra que possa disciplinar a sua ocorrência.

– Disto a Bíblia nos dá conta porque não há duas ocorrências que sejam idênticas no recebimento do batismo com o Espírito Santo.

As cinco narrativas bíblicas têm peculiaridades, numa prova de que não há um método, não há um ritual, uma forma específica para o revestimento de poder e, consequentemente, do falar em línguas estranhas, algo que sempre ocorre quando alguém é batizado com o Espírito Santo.

– Por isso, não devemos nos escandalizar nem estranhar testemunhos de pessoas que foram batizadas com o Espírito Santo enquanto trabalhavam, faziam tarefas domésticas, como já ouvimos em nossos anos de fé.

– Já o dom de línguas não segue o mesmo regime normativo. Sendo um dom espiritual, tem como finalidade a edificação espiritual, não é uma simples transmissão do poder divino por si só, mas, como dom espiritual, é algo que tem um objetivo de edificação, de construção espiritual do povo de Deus.

– O dom de línguas tem, assim, um fim diverso do sinal do batismo com o Espírito Santo. Este fim, diz-nos Paulo, é, em primeiro lugar, a edificação individual do falante (I Co.14:4); em segundo, permitir que a mensagem que serve de edificação individual do falante possa ser interpretada e seja conhecida por toda a igreja que, assim, poderá compartilhar desta edificação do falante (I Co.14:5).

– Diante desta finalidade, o dom de línguas deve ser exercido conforme algumas regras, regras estas que estão na Bíblia Sagrada. Se o objetivo do dom de línguas é a edificação individual do falante, as línguas não devem ser faladas para que todos ouçam, mas devem fazer parte da devoção individual da pessoa.

– É um falar de espírito humano ao Espírito de Deus, que edifica o espírito do falante, que permite uma comunicação direta com o Senhor, comunicação esta que é uma troca de segredos entre Deus e o homem, uma demonstração da maior intimidade que pode haver entre Deus e o homem.

Por isso, é algo que deve estar no nosso instante diário a sós com Deus, naquele momento em que estaremos em secreto com o Senhor (Mt.6:6).

– Era nesta situação de intimidade que Paulo falava mais línguas do que todos os coríntios (I Co.14:18) e que ensinou não ser possível que o governo eclesiástico proíba que um crente fale em línguas (I Co.14:39), pois se trata de uma manifestação adequada à devoção individual, sobre a qual ninguém tem domínio na igreja local.

– Se a edificação é individual do falante, nas reuniões da igreja local, não podem, portanto, os crentes querer ficar falando em línguas estranhas, para serem ouvidos pelos demais, pois o dom de línguas não tem qualquer papel coletivo, a menos que se esteja diante do segundo fim do dom de línguas, qual seja, o de ser o início de um processo que culminará com a interpretação da mensagem, para que toda a igreja possa compartilhar da edificação do falante.

– Segundo, pois, o ensino do texto sagrado, a pessoa que tem o dom de línguas somente poderá falar em línguas de forma a ser ouvido pelos demais, numa reunião, numa devoção coletiva (seja familiar, seja na igreja local), se a mensagem for para ser interpretada, por ele mesmo (se também tiver o dom de interpretação) ou por outrem (I Co.14:27).

Se começar a falar em línguas na reunião e perceber que não há quem a interprete, deverá ficar calado na igreja, contendo-se, apenas falando em línguas em instantes em que a liturgia permite a manifestação individual de cada um (momentos de louvor, de oração ou similares) (I Co.14:28).

– Sabemos que não tem sido esta a forma pela qual os crentes pentecostais têm se comportado, notadamente nós, das Assembleias de Deus no Brasil, mas é para isto que estamos frequentando a Escola Bíblica Dominical, para conhecermos e prosseguirmos em conhecer ao Senhor, adequando-nos cada vez mais aos princípios e ensinamentos da Palavra de Deus, pois não somos perfeitos, somos seres humanos, mas, como salvos, devemos nos aperfeiçoar até atingir a condição de varões perfeitos, a medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:13).

– Muitos têm confundido barulho com fervor espiritual, esquecendo-se que, nas Escrituras, o barulho que chama a atenção da multidão é o da língua estranha enquanto sinal do batismo com o Espírito Santo (I Co.14:22), não enquanto dom espiritual. A inobservância desta regra bíblica somente trará escândalo e prejuízo à causa do Evangelho (I Co.14:23).

– Será que as pessoas que têm causado barulho intenso nas reuniões da igreja local, que perturbam a reunião, que impedem que as pessoas ouçam a mensagem, em especial as que não são crentes, costumam passar horas em oração, nas madrugadas, falando em línguas com o Senhor?

Será que são pessoas que têm efetiva intimidade com Deus ou querem apenas aparecer, nas reuniões, tomando para si uma atenção que deveria estar voltada apenas para o Senhor? Será que têm sido demonstrações do poder de Deus ou instrumentos do adversário para atrapalhar a operação divina em nossas reuniões?

OBS: “…Precisamos encarar com suspeita aquelas congregações locais que dependem de elevada dose de levante emotivo nos cultos, a fim de ‘ fazer baixar’ o poder.

É fato bem conhecido que no frenesi da emotividade, as pessoas com freqüência entram nos estágios iniciais de um transe; e, nessa condição, ficam sujeitas à influência de certos ‘espíritos’ e não apenas do Espírito Santo.

Além disso, sem que tenha consciência do fato, uma pessoa pode ‘ autoipnotizar-se’. É, então, neste estado, despertando poderes psíquicos naturais, que se confundem as manifestações do Espírito com as manifestações do espírito humano. Nesse estado, várias ‘ imitações’ podem evidenciar-se.

Os êxtases não são errados por si mesmos, porquanto Pedro e Paulo experimentaram transes, e então receberam visões.

Isso é típico das experiências místicas; e algumas vezes é até um fenômeno necessário(…). A mesma coisa sucede hoje em dia no espiritismo e entre os místico em todo o mundo.

Com base nesses fatos, pode-se perceber facilmente que o contato com o sobrenatural, com profecias verdadeiras, com o falar em línguas, com as curas, com todas as manifestações dessa natureza, através das experiências místicas, não precisam ser originadas por uma única fonte, necessariamente boa e justa.

Assim sendo as coisas, devemos ser cautelosos em nossa aquilatação das ‘ realidades’ e da ‘ falsidade’ de manifestações que vemos e ouvimos.

A regra de Cristo estipula que podemos conhecê-los pelos frutos(…). Isso não significa, contudo, que não devamos buscar os dons espirituais, mas significa que devemos buscá-los somente através do ‘ desenvolvimento’ espiritual, e não como desejo de obter acesso à espiritualidade mediante algum atalho fácil.

Pode-se dizer, com toda a confiança, que aquele que tem o preparo espiritual prévio, que anela em sua busca espiritual, que tem a vida moral que o aponta como um crente digno, pode buscar e obter os dons espirituais.…” (CHAMPLIN, R.N. Dons espirituais. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.218).

– Quem recebe o dom de línguas, recebe, juntamente com o dom espiritual, uma responsabilidade: orar para que possa interpretar as línguas que fala ou que Deus levante alguém que as possa interpretar durante as reuniões. Este é um dever de quem recebe este dom, conforme nos ensinou o apóstolo Paulo (I Co.14:13).

– Se um crente recebe o dom de línguas, recebe, também, o dever de orar para que as línguas sejam interpretadas e, se não o faz, i.e., se não ora neste sentido, estará se portando como o servo que enterrou o talento do seu Senhor (cfr. Mt.25:25).

– Quando recebemos do Espírito Santo o dom de línguas tem, portanto, a obrigação de orar para que o Senhor interprete a língua que está sendo falada, a fim de que todo o povo de Deus, na igreja local, possa compartilhar da edificação.

Enquanto isto não ocorrer, é imperioso que o falante de língua estranha mantenha-se calado na igreja, apenas falando em língua, como dissemos, nos instantes de devoção individual na reunião.

– A interpretação das línguas estranhas equipara o dom de línguas ao dom de profecia, que, segundo o ensinamento de Paulo, é o dom espiritual mais excelente, pois, através dele, a comunidade obtém consolação, exortação e edificação (I Co.14:3,5).

É sabido que, sem profecia, o povo se corrompe (Pv.29:18). Aos crentes que têm o dom de línguas, portanto, foi dada uma grande responsabilidade: o de orarem, intercederem pela sua igreja local, a fim de que não haja corrupção no meio da comunidade.

– Quantos crentes que, por falarem em línguas estranhas, se acham superiores e mais espirituais que os demais e que, por isso, são duros e implacáveis com aqueles crentes que, por falta de vigilância, acabam fracassando espiritualmente?

Mal sabem eles que parte desta corrupção que se introduz no meio do povo de Deus é da sua responsabilidade, pois, por serem detentores do dom de línguas, deveriam orar para que seu falar em línguas fosse interpretado e, assim, estes crentes mais fracos e vacilantes pudessem ter sido edificados, consolados e exortados, o que, certamente, inibiria muitos de caírem em pecado. Não nos esqueçamos de que quem há muito é dado, muito será cobrado (Lc.12:48).

– Por tudo que temos dito até aqui, não é surpresa para qualquer dos amados irmãos que têm lido este comentário, que a conclusão a que chegamos é a de que o dom de variedade de línguas é um dom espiritual que deve ser submetido ao julgamento dos demais crentes, ao julgamento da igreja local.

– Quase todos os crentes sabe que o dom de profecia deve ser julgado pela comunidade, pois, como afirmam as Escrituras, o espírito do profeta está sujeito ao profeta (I Co.14:32).

– A profecia é dada pelo Espírito Santo ao crente detentor deste dom espiritual e o espírito do profeta entrega a mensagem à igreja, mas, antes desta entrega da mensagem divina, esta mensagem passa pelo intelecto do profeta, de modo que poderá ele, se o quiser, deturpar a mensagem, pois Deus não retira o livre-arbítrio do homem, pois é um ser moral, verdadeiro e de caráter e que não muda nem n’Ele há sombra de variação (Tg.1:17).

– Tendo feito o homem com liberdade (Gn.2:16,17), nunca a suprimirá. Tanto assim é que a Bíblia dá-nos um exemplo, ainda no Antigo Testamento, de um profeta sincero e fiel a Deus que, num momento de deslize, resolveu profetizar por conta própria.

Imediatamente após este gesto de iniciativa própria, Natã teve de comparecer diante do rei Davi e se retratar, por determinação do Senhor (II Sm.7:1-17).

– Com relação ao dom de variedade de línguas, entretanto, como não há uma explícita determinação bíblica, bem como diante da sua disseminação no meio do povo de Deus que crê no evangelho completo e na atualidade da experiência pentecostal, há um comportamento um tanto quanto diferente e um entendimento de que o exercício deste dom está imune a qualquer julgamento da coletividade ou dos demais crentes.

Há uma quase que veneração do dom de línguas, considerado como uma manifestação direta do Espírito Santo, que não tem intermediação do entendimento humano e que, portanto, está acima de qualquer suspeita.

– Contudo, não é este o ensinamento bíblico. O dom de variedade de línguas é considerado inferior ao dom de profecia (I Co.14:1-5), uma vez que, enquanto este visa a edificação de toda uma comunidade, aquele apenas se refere à edificação individual, sendo, pois, menos abrangente e de menor utilidade, que é o critério que Paulo diz que deve ser sempre buscado no exercício dos dons espirituais, que existem não para enaltecimento dos seus detentores, mas para o aprimoramento espiritual da Igreja e facilitação de suas tarefas neste mundo (I Co.12:7).

– Quando o dom de variedade de línguas é acompanhado de interpretação, então é equiparado ao dom de profecia (I Co.14:5,15).

Se assim é, pois, quando houver interpretação, a mensagem deve ser julgada tanto quanto uma profecia, pois tem o mesmo valor que uma profecia. Deste modo, também se determina o julgamento de uma mensagem em língua estranha que seja interpretada, pois, de igual forma, o espírito do intérprete está sujeito ao intérprete.

– E se não houver interpretação? Ora, se não houver interpretação, o falante deve ficar calado na igreja. Se não o fizer, deve ser julgado, sim, pela comunidade, para que se saiba porque está falando em língua estranha em momento em que as Escrituras mandam calar-se.

– Está falando porque também está interpretando a mensagem? Está falando porque outrem está interpretando? Está falando porque não foi corretamente ensinado?

Está falando porque está sendo batizado com o Espírito Santo? Está falando porque quer aparecer diante da comunidade? Está falando porque não quer deixar que a Palavra de Deus seja pregada? Está falando porque é um instrumento das trevas?

– Este julgamento não é incredulidade, blasfêmia ou seja lá o que se quiser achar, mas simples aplicação da Bíblia Sagrada.

Precisamos fazer um culto racional, um culto com entendimento ao Senhor. Tais meninices e, muitas vezes mesmo, perturbações malignas, em nossas reuniões, são um desserviço, ou seja, são obstáculos a que possamos oferecer a Deus um sacrifício santo e agradável a Ele. Tenhamos discernimento espiritual e sejamos zelosos para que apenas o Espírito Santo atue em nossa devoção ao Senhor.

 Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6188-licao-7-cultuando-a-deus-com-liberdade-e-reverencia-i

Vídeo 02: https://youtu.be/QS17T8vtGu0

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