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LIÇÃO Nº 7 – O MINISTÉRIO DA IGREJA

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo da Eclesiologia, veremos hoje o ministério da Igreja.

-Jesus deu homens para aperfeiçoar os santos na Igreja.

I – O MINISTÉRIO DA IGREJA

-Depois de termos visto que a Igreja é, a um só tempo, um organismo e uma organização, passaremos a analisar o ministério da Igreja, ou seja, o conjunto daqueles homens que são dados por Cristo à Igreja para que se promova o aperfeiçoamento dos santos.

-Cumpre observar, por primeiro, que a Igreja é ordenada, ou seja, possui um governo, uma hierarquia.

Nem podia ser diferente, pois, além de nosso Deus não ser Deus de confusão (I Co.14:33), tudo o que fez foi com ordem, inclusive os céus, onde vemos os anjos dispostos em uma rígida hierarquia (Ef.1:21; 3:10; Cl.1:16; Tt.3:1), que permaneceu mesmo entre os anjos maus (Ef.6:12).

-Deste modo, se a Igreja é o povo que, desde já, desfruta a vida eterna, prepara-se para morar com o Senhor nos céus, não haveria de ser um organismo que não refletisse a própria ordenação e hierarquia existentes nas mansões celestiais onde irá habitar.

-Muito feliz a Declaração de Fé das Assembleias de Deus ao afirmar que “Cremos, professamos e ensinamos que existe hierarquia no céu e na terra e também na igreja, pois todos nós estamos sob autoridade; todos nós prestamos contas a alguém, à autoridade [Rm.13:1; Hb.13:17].

O próprio Senhor Jesus Cristo disse:

‘Porque Eu desci do céu não para fazer a Minha vontade, mas a vontade d’Aquele que Me enviou’ (Jo.6:38).…” (DFAD XIV, p.135).

-Já no limiar da Igreja, tinham os crentes plena consciência desta hierarquia, tanto que, mesmo antes do dia de Pentecostes, entenderam ser necessário preencher a vaga deixada por Judas Iscariotes no colégio apostólico, numa clara indicação de que sabiam que o Senhor Jesus havia constituído aqueles doze homens para serem os que deveriam estar à frente do povo de Deus após a ascensão do Senhor.

-Foram os apóstolos que assumiram o ministério da palavra, desde o dia de Pentecostes (At.2:14; 5:40- 42; 6:2), sendo também os principais protagonistas no que respeita à confirmação da Palavra com sinais, prodígios e maravilhas (At.2:43; 4:33; 5:12).

-Nota-se, portanto, que o Senhor Jesus havia posto aqueles doze para liderar a Igreja, tomando conta do ministério da palavra e da oração, a fim de que dirigissem a pregação do Evangelho, que era confirmada com sinais, prodígios e maravilhas.

-Com o crescimento da igreja, os apóstolos tiveram de criar o diaconato, para que fossem supridas as necessidades materiais das viúvas e demais necessitados da Igreja (At.6:1-6), criando-se mais uma função específica dentro tanto do organismo quanto da organização, a que o apóstolo Paulo chama de “socorros” em I Co.12:28, ainda que, sob esta expressão possa estar abrangida a assistência espiritual e não apenas material.

-Se, primeiramente, foram levantados apóstolos (I Co.12:28), não demorou para que o Senhor Jesus também dotasse a Igreja de profetas (At.11:28; 13:1; 15:32; 21:9,10), portadores de mensagens sobre o futuro e de exortação, consolação e edificação dos salvos.

-Com o surgimento das igrejas locais, com a expansão do Evangelho a partir da perseguição empreendida por Saulo em Jerusalém que obrigou a membresia a se

dispersar (At.8:1-4; 9:31; 11:19,20),

criou-se a necessidade de constituir líderes que apascentassem o rebanho do Senhor,

lideranças estas que são denominadas no texto sagrado por quatro termos distintos, mas que representam a mesma função e papel, a saber,

pastor (Ef.4:11; Hb.13:7,17),

presbítero (I Tm.5:17; Tt.1:5; Tg.5:14; I Pe.5:1; III Jo.1),

ancião (At.11:30, 14:23; 15:6,23; 16:4; 20:17; 21:18) e

bispo (At.20:28; Fp.1:1; I Tm.3:2., Tt.1:7).

-Tais pessoas têm o dever de cuidar do rebanho do Senhor que se encontra num determinado lugar, exercendo o ministério da palavra e da oração, como também promovendo a edificação espiritual dos crentes e a evangelização.

São aqueles que estão à frente do povo, ou seja, “presidem” sobre ele (“presidir” é “estar à frente”) (Rm.15:2; I Ts.5:12), são os “governos” de que fala o apóstolo Paulo em I Co.12:28.

-Mas, também, o Senhor levantou mestres ou doutores (At.13:1; I Co.12:29; Ef.4:11; II Tm.1:11; 2:7), que, ao lado dos pastores, ensinam a doutrina à membresia, sendo o instrumento do Espírito Santo para abrir o entendimento das Escrituras, preservando, assim, a ortodoxia doutrinária e a obediência à Palavra de Deus.

-Mas além destes, temos também os evangelistas (At.21:8; Ef.4:11; II Tm.4:5), que são aqueles que são especialmente escalados pelo Senhor para ganharem almas para o Seu reino, coordenarem e estar à frente da importantíssima tarefa de evangelização, a missão máxima da Igreja.

-O ministério, portanto, é formado de pessoas que são postas pelo Senhor Jesus para estas tarefas específicas, que contribuem para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo até que todos cheguem à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos meninos inconstantes levados em roda por todo vento de doutrina pelo engano de homens que com astúcia enganam fraudulosamente (Ef.4:12- 14).

-Como ensina Russell Norman Champlin (1933-2018), são “homens-dons”, ou seja, pessoas, indivíduos dados por Cristo para que se possa ter esta edificação do corpo de Cristo.

-Disto decorre que os dons ministeriais são dados por Cristo à Igreja e, portanto, são elementos do organismo e não da organização.

É Cristo quem os dá, como cabeça da Igreja, pondo, no corpo de Cristo estas pessoas que, desempenhando a tarefa que lhes foi cometida, contribuirão para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério e para a edificação da Igreja.

-Não podemos, pois, confundir os ministérios com “títulos”, com uma “nomenclatura” que é criada pela organização, títulos, cargos e nomes que não podem ser repudiados, visto que, como já analisamos, a Igreja necessita ter uma organização para poder desempenhar seu papel.

-O que se deve entender é que o portador de um dom ministerial o recebe diretamente de Cristo, independentemente do reconhecimento que seja feito pelos homens.

Um exemplo disto temos no apóstolo Paulo que, por diversas ocasiões, lembrou que sua condição de apóstolo lhe havia sido dada por Jesus, ainda que muitos judaizantes não a aceitassem (Rm.1:1; I Co.1:1; II Co.1:1; Gl.1:1 Cl.1:1; II Tm.1:1).

-Por isso mesmo, os ministérios são desempenhados no organismo e alguns deles, por sua natureza, como os de apóstolo e de profeta, quase sempre trasbordam das organizações, até porque como o primeiro é o ministério de estabelecimento e implantação de novas igrejas e o segundo, de fomento de estímulo e edificação para igrejas ainda não satisfatoriamente organizadas, seus esforços não se coadunam, mesmo, com as organizações, que, no mais das vezes, ainda inexistem quando de sua atuação.

-Um dos males de nossos dias, como sempre é observado pelo pastor Luiz Henrique de Almeida Silva, pioneiro das aulas de EBD na internet, é a centralização existente na figura do pastor, a proeminência do ministério pastoral, com a quase eliminação e sufoco dos demais ministérios, o que, via de regra, constitui-se em uma supremacia da organização sobre o organismo.

-Os dons ministeriais costumam ser comparados aos dedos de uma mão, mão que, nas Escrituras, é símbolo de obra.

Somente será possível a realização eficaz e eficiente da obra do ministério quando estiverem agindo todos os dedos da mão, até porque se foi Cristo quem criou estes cinco dons ministeriais, sendo Ele a cabeça da Igreja e o Salvador do corpo, sabia perfeitamente da necessidade de todos estes dons para o bom funcionamento e desenvolvimento da Igreja.

-Destarte, toda vez que uma organização se estrutura de modo a impedir o exercício de algum ministério, estaremos num descompasso que somente trará prejuízo à obra de Deus.

Dizemos mais: operando Deus, ninguém pode impedir (Is.43:13) e, portanto, quem acabará sofrendo as sérias consequências será a organização e aqueles que a fomentaram. Pensemos nisto!

-Os dons são chamados ministeriais precisamente porque são “serviços”, “tarefas” dados a estas pessoas. Muitos gostam de se dizer “ministros do Evangelho”, querendo, com isto, dar um ar de superioridade e autoridade, mas a palavra “ministro” significa “servo”, “servidor” e é, por isso mesmo, que estes “homens- dons” são chamados de “ministros”, porque são escalados especificamente pelo Senhor para servi-l’O.

-Não é por outro motivo que, ao analisar a posição dos apóstolos, Paulo afirma que eles eram os últimos, como condenados à morte, feito espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens (I Co.4:9), sendo, aliás, elucidativo que o apóstolo se utilize aqui da palavra grega “hyperetes”, que era o escravo que trabalhava nas galés, no porão dos navios, fazendo-os avançar, uma das piores condições de escravo que havia.

-O ministério da Igreja, portanto, é essencialmente um serviço, uma disposição a se entregar, como indivíduo, pelo bem da Igreja, não uma posição de poder ou de destaque, como muitos o veem, até porque a lógica no reino de Deus, já ensinara Jesus a Seus apóstolos, é inversa da do mundo, pois, na Igreja, o grande é o escalado para servir, o grande é o serviçal (Mt.20:25-28; Mc.10:42-45).

-Dentro desta concepção, percebe-se que o ministério da Igreja é um conjunto de servidores, que, embora exerçam autoridade e participem do governo, sendo auxiliares da cabeça da Igreja, que é Cristo, estão ali para servir aos demais, e tanto maior a responsabilidade, tanto maior o serviço que devem executar.

-O ministério existe, pois, para auxiliar o Senhor Jesus na edificação da Igreja, promovendo o crescimento e desenvolvimento espirituais dos membros para a glória de Deus, tarefa que se faz necessária até o dia do arrebatamento da Igreja.

-Não existe, portanto, em relação ao ministério uma posição de mediação entre Cristo e a membresia. Ao contrário do que defendem os romanistas, não há uma distinção entre “leigos” e “sacerdotes”. Todos os membros em particular da Igreja são sacerdotes, pois a Igreja é o “sacerdócio real” e esta condição nos é dada pela nossa purificação no sangue de Cristo (I Pe.2:9; Ap.1:5,6).

-Mas o ministro não é apenas um “funcionário público”, como alegam os romanistas. É um “homem- dom”, uma dádiva divina à Igreja e que, por isso mesmo, tem autoridade dada pelo próprio Cristo para desempenhar as suas tarefas. Por isso, devem todos obedecer-lhes e dar-lhes a devida honra, autoridades que são (Rm.13:1,2; I Ts.5:12,13; I Tm.5:17-20; Hb.13:17).

-Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus: “…A forma de governo da Igreja é bíblica e define quem exerce autoridade no que diz respeito ao serviço do culto coletivo e às questões doutrinárias e administrativas.…” (DFAD XIV, p.135).

-Esta autoridade advém do Senhor, evidentemente, mas é mantida e sustentada pelo exemplo, pois os ministros devem saber que, por estarem à frente do povo, são referências.

-Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo diz que os apóstolos eram “espetáculo”, ou seja, todos os estavam vendo, todos tinham a eles como referência.

-O escritor aos hebreus, inclusive, manda que os crentes imitem a fé e atentem para a maneira de viver dos pastores (Hb.13:7), tendo o próprio Paulo dito aos crentes que o imitassem (I Co.11:1; Fp.3:17), ensinando o jovem obreiro Timóteo, a quem enviou para pastorear a igreja em Éfeso (I Tm.1:3), que deveria ser ele o exemplo dos fiéis na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé e na pureza (I Tm.4:12).

-Precisamente por conta deste papel referencial que exerce cada ministro, deve ser ele muito cuidadoso, sabendo que, pela sua posição, tem muito maiores possibilidades de ser instrumento de escândalo e, como diz o Senhor Jesus, “…ai daquele homem por quem o escândalo vem” (Mt.18:7).

-Não devemos, ademais, nos esquecer que, em se tendo tornado um “homem-dom” por decisão soberana do Senhor Jesus, o ministro sempre tem de ter consciência que a quem muito foi dado, muito será pedido e a quem muito se lhe confiou, mais se lhe pedirá (Lc.12:48).

-É bem por isso que o ministro deve ter uma vida exemplar, a começar de sua vida espiritual, sendo pessoa que, além de ser revestida de poder (os apóstolos não puderam iniciar seu ministério antes do revestimento de poder, só foram escolhidos diáconos aqueles que já eram batizados com o Espírito Santo, fatos que nos mostram que este é, sim, um requisito indispensável para o ministro), deve ter uma vida pautada pela oração, jejum e meditação nas Escrituras, e isto acima da média, porquanto não está ele entre os membros, mas em posição de destaque e pela vontade de Cristo.

-O grau de comprometimento do ministro, portanto, tem de ser maior do que dos demais membros, porquanto deve ele estar à disposição para servir os demais, como também dar conta da responsabilidade que lhe concede a maior honra e a obediência dos irmãos. Devem os ministros lembrar que, mais do que um “cargo”, eles têm “encargos”.

-É lamentável que, em nossos dias, muitos estejam tão somente atrás de “títulos” e “nomes”, fugindo do serviço e do comprometimento e, quando uma organização é tal que permite não só a existência e a proliferação deste tipo de gente mas o seu sucesso e ascensão estamos diante de uma estrutura que caminha para sua própria destruição, primeiramente espiritual e depois até material.

-É neste ponto que devemos distinguir entre os ministérios dados por Cristo e os cargos criados nas organizações nas quais se estrutura a Igreja. Enquanto organização, a Igreja precisa ter uma estrutura, um governo, o que gera a criação de cargos e de um organograma que permita a administração de todas as atividades.

-Normalmente, esta estrutura deve ser estabelecida num estatuto e num regimento interno, a fim de que se definam as competências, as atribuições e as tarefas de todos os envolvidos, inclusive para que se possam efetuar os inevitáveis relacionamentos com os demais integrantes da sociedade.

-As Assembleias de Deus, no Brasil, por exemplo, tem seguido uma estrutura, como diz nossa Declaração de Fé, “in verbis”: “…Nossa estrutura constitui-se de pastores, evangelistas, presbíteros, diáconos e cooperadores; estes últimos identificados também como auxiliares ou trabalhadores de acordo com a região.

O termo ‘obreiro’ é genérico e usamos praticamente para todos os cargos e funções na Igreja. Nosso modelo de governo de igreja tem por base as Escrituras Sagradas…” (DFAD XIV, p.135).

-Para que a organização não sufoque ou se desprenda do organismo, mister se faz que somente ocupem cargos aqueles que têm o ministério dado por Cristo que corresponda àquele cargo, o que faz que seja critério de escolha o chamado divino, o que é essencial se estamos na Igreja, cujo comando está com Jesus e cujo Vigário, que é o Espírito Santo, mostra quem deve fazer o que, já que é Ele quem nos ensina, nos guia em toda a verdade e nos anuncia aquilo que há de vir (Jo.14:26; 16:13-15).

-Este chamado, uma vez reconhecido pela igreja, deve ser formalizado, como nos ensina o texto sagrado, mediante a imposição de mãos e oração, a chamada “consagração”, que é bíblica, como se verifica de textos como At.6:6; 13:3 e I Tm.4:14.

-Esta imposição de mãos não se trata de mera formalidade. Tem ela um sentido espiritual, que é o de confirmação da chamada que alguém recebeu da parte de Deus diante de Deus, dos homens e da própria Igreja. É um compromisso assumido não só por quem é separado, mas também por quem separa.

-Não se trata de “transferência de unção”, como alguns andam afirmando, pois não estamos mais no tempo da lei em que o Espírito Santo visitava apenas alguns e se fazia necessária esta repartição, como se verifica na escolha dos setenta anciãos para auxiliar Moisés (Nm.11:16,17) ou na própria sucessão de Moisés por Josué (Nm.27:18-23).

-Hoje o Espírito Santo é derramado sobre cada salvo, todos têm o Espírito Santo e, deste modo, não há que se falar em “transferência de unção”, pois todos temos “a unção do Santo” (I Jo.2:20,27).

-O que existe é uma confirmação do chamado divino e a concessão visível de autoridade espiritual àquele que é separado.

Notemos, porém, que o simples ato não confere autoridade, pois pode ser de alguém ser separado sem o respaldo divino, tanto que Paulo disse a Timóteo para que não impusesse as suas mãos precipitadamente (I Tm.5:22).

-Bem por isso, um caro irmão e amigo sempre costuma afirma que, embora o ministério tenha sido dado por Cristo, está ele nas mãos dos homens (Cf. Sl.68:18; Ef.4:8) e, bem por isso, surgem entre os ministros pessoas desqualificadas, porque não chamadas pelo Senhor. Embora fosse para cumprir as Escrituras, sabido é que o próprio Jesus disse ter escolhido um diabo no colégio apostólico (Jo.6:70).

II – OS DONS MINISTERIAIS

-Paulo, preocupado em mostrar a unidade da Igreja e a sua estrutura, detém-se, na carta aos efésios, a falar sobre os chamados “dons ministeriais”, dos quais o primeiro foi dado na tarde do domingo da ressurreição – o dom de apóstolo.

-Assim, quis o apóstolo mostrar que o Senhor Jesus coordena o crescimento deste corpo, não O abandonou, escolhendo pessoas que tenham por objetivo o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:12,13).

-Os dons ministeriais são dádivas concedidas por Cristo com a finalidade de aperfeiçoar os santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, a fim de que os crentes atinjam a unidade da fé, o conhecimento do Filho de Deus, o nível de varões perfeitos, a medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:12,13). Vemos, portanto, que os dons ministeriais têm, por finalidade, trazer maturidade espiritual aos crentes, prepará-los convenientemente para o exercício das tarefas cometidas pelo Senhor a cada um deles.

-Os dons ministeriais, ao contrário dos dons ditos “assistenciais”, visam criar condições nos outros crentes para que eles, sim, exerçam o dom “assistencial” que recebeu do Espírito Santo.

-Os dons ministeriais estão elencados na relação de Ef.4:11 e, de pronto, devemos distinguir os dons ministeriais dos “títulos ministeriais” ou dos “cargos eclesiásticos”. Em os nossos dias, muitos têm confundido estas duas coisas, que são completamente diferentes.

-O dom é uma dádiva de Cristo, é um dom que vem diretamente do Senhor para o crente, dom este que é percebido pelo crente através da comunhão que tem com Deus e pela presença do Espírito Santo na sua vida e que independe de qualquer reconhecimento humano, mesmo da igreja local.

-Já os “títulos ministeriais” e os “cargos eclesiásticos”, ao revés, são posições sociais criadas dentro das igrejas locais, posições estas que, em sua nomenclatura, muitas vezes estão baseadas na relação de Ef.4:11, como a indicar que o seu ocupante tem o referido dom ministerial, mas que, nem sempre, corresponde a este dom.

-Como a igreja local, via de regra, é também uma organização humana, acabam sendo criados “títulos” e “posições” com o propósito de esclarecer a hierarquia administrativa, a própria estrutura de governo da organização eclesiástica, dados que, se apenas refletem uma necessária ordem que deve existir em todo grupo social, nada tem que ver, a princípio, com os dons ministeriais.

-São cinco os dons ministeriais, consoante a relação dada pelo apóstolo Paulo em Ef.4:11:

apóstolos,

profetas,

evangelistas,

pastores e

doutores (ou mestres).

Na relação de I Co.12:28, onde há uma “miscelânea” de dons, o apóstolo faz menção dos dons de apóstolos, profetas e doutores, também mencionando o dom de “governos”, que pode tanto indicar o dom ministerial de pastor, como o dom assistencial da presidência.

-De qualquer modo, pelo que verificamos do contexto da relação de Ef.4:11, vemos que os dons ministeriais têm por propósito a organização da Igreja de modo a que se alcance a finalidade última da Igreja que, para os crentes, é a de promover o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo,

a fim de que todos cheguem à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, alcançando, assim, o crescimento em Cristo, o bom ajuste pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, fazendo o aumento do corpo para sua edificação em amor (Ef.4:12-16).

-Percebe-se, portanto, dentro deste ensino do apóstolo Paulo, que os dons ministeriais são exercidos com o primeiro propósito de promover o aperfeiçoamento dos santos, ou seja, um dom ministerial sempre visa aumentar a perfeição de cada membro do corpo de Cristo, não tem outra finalidade senão o crescimento espiritual do irmão. Por isso, jamais um dom ministerial deve ser visto como uma fonte de poder, mas, sim, como um meio de serviço em favor do outro.

-Por segundo, o dom ministerial deve ser exercido de modo a levar os crentes a servir a Deus. O aperfeiçoamento dos santos não tem em vista outro fim senão o de levar os crentes à “obra do ministério”, ou seja, ao serviço cristão.

É por isso que o exercício dos dons ministeriais tem como consequência levar os crentes a descobrir os seus dons assistenciais, que o pastor Antonio Gilberto bem chama de “dons espirituais de ministérios práticos”. O bom exercício dos dons ministeriais leva o povo de Deus ao serviço cristão, à prática de boas obras.

-Por terceiro, o exercício dos dons ministeriais, a exemplo do que ocorre com os dons espirituais, leva à edificação do corpo de Cristo, à edificação da Igreja.

Esta edificação possui algumas características, a saber:

a) rejeição dos falsos ensinos – o apóstolo afirma que o exercício dos dons ministeriais faz com que os crentes não se deixem enganar pelos “ventos de doutrinas”. O bom exercício dos dons ministeriais leva, portanto, ao conhecimento da verdade, ao conhecimento de Cristo Jesus (Jo.14:6), da Palavra de Deus (Jo.17:17);

b) crescimento em Cristo – o bom exercício dos dons ministeriais leva os crentes a crescerem em Cristo, ou seja, a terem maior intimidade com o Senhor, a uma maior imitação de Cristo, de sorte que os crentes possam ser reconhecidos pelos homens como “cristãos”, ou seja, “parecidos com Cristo”, “pequenos Cristos”;

c) bom ajuste da Igreja – o bom exercício dos dons ministeriais faz com que os crentes percebam que são apenas partes de um todo, participantes de um corpo, membros de um corpo e que, por isso, dependem uns dos outros. Esta conscientização da interdependência permite aos crentes forjar uma unidade e um sentimento de humildade e intensificação do amor fraternal;

d) aumento do corpo – o bom exercício dos dons ministeriais ao levar o povo de Deus ao serviço cristão, ao crescimento em Cristo e à interdependência, acaba gerando um crescimento quantitativo e qualitativo da Igreja.

e) edificação em amor – o bom exercício dos dons ministeriais acaba promovendo a intensificação do amor a Cristo e do amor ao próximo, de sorte que se cumpre o mandamento de Cristo – amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.

Assim como os dons espirituais, os dons ministeriais somente têm razão de ser quando promovem o aumento do amor.

-Por quarto, o exercício dos dons ministeriais faz com que a Igreja caminhe rumo à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à estatura completa de Cristo.

São os dons ministeriais que guiam a Igreja para o dia da glorificação, quando se alcançarão estas metas aludidas pelo apóstolo Paulo.

Somente no dia da glorificação, atingiremos a perfeição, mas devemos caminhar nesta direção e isto só é possível mediante o exercício dos dons ministeriais na Igreja.

-Por quinto, o exercício dos dons ministeriais permite que os crentes sigam a verdade em amor, o que permite o nosso crescimento em tudo n’Aquele que é a cabeça, Cristo.

É através do exercício dos dons ministeriais que o cristão pode seguir a verdade em amor, ou seja, guardar a Palavra de Deus e aumentar em amor a Deus e ao próximo, pois é para isto que o Senhor dá dons ministeriais à Sua Igreja.

-Os dons ministeriais completam-se um ao outro. Estudiosos das Escrituras costumam relacionar os dons ministeriais aos dedos da mão, para mostrar que, assim como a mão somente consegue realizar suas tarefas com o auxílio de todos os dedos, assim também os objetivos e finalidades do exercício dos dons ministeriais somente podem ser bem sucedidos quando todos os dons concorrerem para tanto.

-“…Comparemos os cinco ministérios com uma mão onde cada dedo seria um ministério:

Polegar (Apostólico) – O polegar representa mais apropriadamente o ministério do apóstolo.

Quando segura algo, o polegar vai para um lado do objeto e os dedos circulam o lado oposto. Esse movimento de vir em direções opostas é o que dá poder a mão.

O polegar não está em oposição ou está sobre os outros dedos, mas está designado a completar a mão para sua plena função e poder.

A mão de Deus do ministério quíntuplo tem sido grandemente restringida em seus poderosos propósitos, em algumas igrejas falta o polegar e o indicador.

Indicador (Profético) – O indicador é referido como aquele que aponta. O profeta tem o ministério de revelação e unção que aponta o caminho para o corpo de Cristo.

O indicador também é o que está mais próximo ao polegar. O profeta e o apóstolo têm o relacionamento de trabalho mais próximo na mão ministerial do corpo de Cristo.

Médio (Evangelístico) – O dedo médio é o que mais se alonga na mão. É o ministério que mais se estende à evangelização do mundo. Está no meio de toda atividade da mão.

Anelar (Pastoral) – Esse é o dedo onde os anéis de noivado e casamentos são colocados, símbolo de compromisso e fidelidade.

O pastor está casado com a igreja, cuidando da noiva de Cristo, pastoreando, visitando, ensinando, intercedendo pelas ovelhas, se doando, visando o ser humano em primeiro lugar e não as estruturas físicas, o pastor não faz nada sozinho ele precisa dos outros cinco ministérios funcionando para que ele tenha tempo e disponibilidade para focar no cuidado das ovelhas.

Mínimo (Ensino) – Embora o dedo mínimo seja o menor, ele provê equilíbrio à mão. O ensino da palavra de Deus, linha sobre linha, preceito sobre preceito, é desesperadamente necessário para a igreja.

O mestre é um membro vital do ministério da mão de Cristo.…” (Dons ministeriais – cargos hierárquicos ou funções carismáticas? Disponível em: http://umnovoodre.blogspot.com.br/2012/06/ministerio-quintuplo-efesios-411- 13-pra.html Acesso em 12 mar. 2014).

-Os dons ministeriais, portanto, são complementares.

Se há inegável ordem hierárquica entre eles, pois temos que o dom de apóstolo é o superior de todos os demais, por exemplo, não se pode abrir mão de qualquer dom ministerial, nem o portador de um dom pode prescindir dos portadores dos outros dons. Todos são necessários para que se atinjam os objetivos preconizados pelo Senhor.

-O exercício destes dons permite que os salvos não sejam enganados por homens fraudulentos, mas permite que eles sigam a verdade em amor, crescendo em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor (Ef.4:14-16).

-Os dons ministeriais, portanto, permitem que a doutrina seja eficazmente ensinada na Igreja. Os ministros de Cristo são pessoas que, com suas variadas atividades, transmitem a sã doutrina para a Igreja e é esta sã doutrina que permite que haja o crescimento espiritual do povo de Deus da atual dispensação.

-Os ministros de Cristo, cada qual na sua função, permitem que os salvos cresçam espiritualmente e, com este crescimento de cada um, a própria Igreja cresça como corpo, fazendo com que cada salvo esteja mais próximo da conformação à imagem de Cristo (Rm.8:29).

-O crescimento espiritual é feito em Cristo e, como tal, não tem como não ser um seguir a verdade em amor, pois Jesus é a verdade (Jo.14:6) e é amor (I Jo.4:8).

-O amor leva a que todos os salvos, como membros em particular do corpo de Cristo (I Co.12:27), ajudem- se mutuamente e, assim, todo o corpo fica bem-ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas.

-É interessante observar aqui palavras do saudoso pastor Antonio Gilberto (1927-2018), que ora reproduzimos:

“…Então nós temos milhões e milhões de abandonados, crianças abandonadas nas igrejas (criança que digo, é no sentido espiritual).

Fala-se tanto, a prefeitura, Vila Velha, o Brasil, “menor abandonado, menor abandonado”, e na igreja menor abandonado é uma coisa horrível (menor abandonado que eu digo, é na fé).

Os irmãos se recordam daquele brado do salmista Davi quando disse “ninguém cuidou da minha alma”. Aquilo dói na alma da gente.

Como é que Davi escapou? “Ninguém cuidou da minha alma”.

Então, do lado de cá nossa culpa é ministrar a doutrina, porque é difícil, é difícil.

A doutrina todo mundo sabe que não é fácil. Não existe uma só doutrina organizada, catalogada como de A a Z, mesmo a mais simples, desdobrada, ou seja, é preciso à pessoa com graça, unção e sabedoria, coligir, reunir, orar, jejuar e horas e horas a sós com Deus.

Então o resultado está aí, o movimento neopentecostal ganhando tempo em nosso meio, e nós da Assembleia de Deus (a Assembleia que eu digo é a igreja ortodoxa) acabamos sofrendo com isso.…” (PONTES, Paulo. Pastor Antonio Gilberto diz que ordenação ao ministério pastoral é antibíblico:’Igreja vai prestar conta’. Disponível em : https://noticias.gospelmais.com.br/pastor-antonio-gilberto-mulheres- ministerio-pastoral-antibiblico-45779.html Acesso em 11 mar. 2020).

-A falta do exercício dos dons ministeriais traduz-se no surgimento, como diz o saudoso mestre da EBD das Assembleias de Deus, de “menores abandonados” no meio da igreja, que, como diz o apóstolo Paulo, resultará no engano de muitos que serão levados por todo o vento de doutrina, porque serão espiritualmente meninos inconstantes (Ef.4:14).

-Jesus, sendo a cabeça da Igreja, dá ao Seu povo os ministros, que são servos, pessoas escolhidas pelo Senhor para promoverem o aperfeiçoamento dos santos e a edificação do corpo em amor.

-Fala-se muito, hoje em dia, em crescimento de igrejas, mas o apóstolo diz claramente como se produz o crescimento: pelo exercício dos dons ministeriais.

Com a palavra, novamente, o pastor Antônio Gilberto:

“…A Assembleia de Deus vem entrando nesse campo e aceitando porque nossos queridos pastores – (pastor que eu digo não é ter o título, é o homem conduzir o rebanho. Então o irmão venha entender que eu não estou falando do pastor porque tem o título e a carteira de pastor, mas o homem que Deus colocou à frente do rebanho segundo o Novo Testamento) – não ministra a doutrina.

Ensinar, não tem tempo. Eu não estou querendo dizer que o pastor faça isso sozinho, é claro que não faz.

Uma igreja quando tem dez membros, quinze membros, o pastor consegue fazer muita coisa, mas quando tem cem, quinhentos, mil, dez mil, é claro que Deus dá para ele uma equipe imensa.

Agora eu pergunto: “Quem são esses homens e mulheres que estão ajudando o pastor?”

Então, o movimento neopentecostal é um desvio da doutrina da Bíblia.

Uma coisa que ajuda na resposta: por que eles se desviaram? – Falta de ensino doutrinário na igreja. É só pular, cantar, falar em buscar o batismo, falar em línguas, etc.

E a doutrina bíblica que é a doutrina que equilibra? Então oremos para que eles voltem.(…)

Nós estamos entrando pelo mesmo caminho, porque o movimento neopentecostal, do dia para a noite, enche os templos.

Mas encher de quantidade, não é encher de qualidade! Deus quer o templo cheio! Mas, como é que um templo se enche pela quantidade? Através da conversão!

E como é que um templo se enche através da qualidade? Pelo discipulado! Mas vejamos, nós não temos tempo para ministrar discipulado.

O rebanho cresce e muita gente pensa que discipulado é ter um grupo de pessoas que se reúnem certos dias, mas discipulado, aquele que Jesus disse “ide e fazei discípulos”, é algo maravilhoso…” (end.cit.).

-Estes “homens-dons”, como diz Russell Norman Champlin, são, pois, indispensáveis para que se tenha o devido crescimento espiritual de cada salvo e que o corpo de Cristo atinja o objetivo que é alcançar a perfeição, o que se obterá no dia do arrebatamento da Igreja, quando seremos glorificados (Rm.8:30; I Jo.3:1-3).

-O Senhor é fiel e continua a dar à Igreja os Seus ministros. Por vezes, é bem verdade, e, notadamente, num quadro de apostasia espiritual em que estamos, os chamados são desprezados pela “burocracia eclesiástica”, os “títulos” substituem os “dons”, mas isto não pode impedir a ação de Cristo Jesus sobre o Seu povo, que prossegue caminhando para os céus. Lembremos sempre disso!

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10217-licao-7-o-ministerio-da-igreja-i

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