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LIÇÃO Nº 8 – ABIGAIL, UM CARÁTER CONCILIADOR

Abigail ensina-nos como evitar contendas e dissensões.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo de personagens bíblicas que nos ensinam o caráter do cristão, estudaremos Abigail.

– Abigail ensina-nos como evitar contendas e dissensões.

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I – ABIGAIL, A MULHER DE NABAL

– Na sequência do estudo de personagens bíblicas que nos ensinam o caráter do cristão, estudaremos Abigail, a mulher que impediu a destruição de seu lar e que acabou por se tornar uma das mulheres de Davi.

– “Abigail” é um nome que significa “meu pai é alegria”, “pai da alegria” ou “exultação”.

Há mais de uma personagem bíblica com este nome, mas a personagem que iremos estudar é mencionada pela vez primeira nas Escrituras em I Sm.25:3, quando é apresentada como mulher de Nabal, homem que é apontado como morador de Maom, cujas possessões estavam no monte Carmelo, um homem apontado como mui poderoso e que tinha três mil ovelhas e mil cabras (I Sm.25:2).

– De pronto, esta primeira menção de Abigail já revela a sua importância. Não era comum informar-se o nome da mulher em uma narrativa histórica como a que é feita nesta passagem bíblica, mas o fato é que, logo depois de ser dito o nome daquele “homem poderoso com possessões no Carmelo”, é dito que sua mulher se chamava Abigail.

– Tal atitude mostra-nos, de pronto, que Abigail era uma peça fundamental na estrutura daquele homem.

Apesar de ser um “homem mui poderoso”, que tinha como ancestral nada mais, nada menos que Calebe, um exemplo de fidelidade para todo o povo de Israel, sendo, portanto, do mais importante dos clãs da tribo de Judá, o fato é que Nabal é apresentado nas Escrituras como sendo um “homem duro e maligno nas obras” (I Sm.25:3).

– Esta passagem bíblica mostra, claramente, que nem sempre a riqueza é demonstração de fidelidade a Deus ou de uma vida conforme a vontade do Senhor, como ensina a teologia da prosperidade.

Nabal era um homem duro e maligno nas obras, mas, mesmo assim, era um “homem mui poderoso” e que tinha uma prosperidade material digna de nota.

– No entanto, apesar de sua dureza e malignidade, sua prosperidade era mantida em grande parte por causa de sua mulher.

Abigail, ao contrário de seu marido, é apresentada no texto sagrado como sendo uma “mulher de bom entendimento e formosa”.

Temos aqui uma demonstração do que diz Salomão a respeito da mulher sábia e da mulher virtuosa.

– Diz o proverbista que a mulher sábia edifica a sua casa (Pv.14:1a) e, deste modo, é indispensável que a mulher tenha sabedoria, algo que somente provém de Deus, para poder impedir a destruição do lar.

Nos dias em que vivemos, infelizmente, são poucas as mulheres que buscam a sabedoria e, deste modo, tenham condições de manter de pé a sua família, a estrutura familiar, ainda que o marido seja “duro e maligno nas obras”, como era o caso de Nabal.

– O significado do nome de Abigail, “meu pai é alegria”, de certo modo, aponta para esta característica dela como uma “mulher sábia”, isto porque Salomão identifica a sabedoria como “a alegria”, ao dizer que a sabedoria se alegrava em todo o tempo quando Deus criava todas as coisas (Pv.8:30,31). Sendo, pois, a sabedoria a “alegria” desde a criação, temos, claramente, que Abigail era “filha da alegria”, ou seja, “filha da sabedoria”.

OBS: Na Nova Versão Transformada (NVT) fica bem mais clara esta circunstância em Pv.8:30,31: “Eu estava ao seu lado como arquiteta, eu era sua alegria constante, sempre exultando em sua presença. Como me alegrei com o mundo que ele criou! Como exultei com a humanidade!”.

– O texto sagrado diz que Abigail era “formosa” e, talvez por causa desta sua formosura, tenha sido dada em casamento a Nabal que, por ser um homem mui poderoso, rico, pôde escolher para si uma mulher formosa para ter como esposa.

Certamente, naquele tempo, Abigail não teve como impedir este casamento e, assim, teve de carregar um “fardo pesado”, tendo de conviver com uma pessoa rude e maligna.

– A formosura de Abigail era realmente extrema. A tradição judaica diz que Abigail foi uma das mulheres mais belas de todos os tempos em Israel. Diz o Talmude (segundo livro sagrado do judaísmo): “…a Guemara [i.e., o comentário dos rabinos judeus sobre as tradições judaicas, observação nossa] cita uma baraita [uma tradição judaica, observação nossa] na qual os Sábios ensinaram:

Houve quatro mulheres de extraordinária beleza no mundo: Sara, Abigail, Raabe e Ester…” (Tratado Megillah 15a) (tradução nossa de texto em inglês disponível em: http://www.sefaria.org/Megillah.15a.7?lang=bi&with=all&lang2=en Acesso em 25 fev. 2017).

– Abigail era formosa, muito bela, mas não se deixou embalar pela sua “formosura”, não se contentou em ser apenas “bela” e se comportar como um mero adorno para seu marido ou um simples “objeto sexual”, como, lamentavelmente, muitas mulheres procuram ser nos dias de hoje, onde a suposta “emancipação feminina” trouxe senão o aumento do tráfico de mulheres e da exploração sexual do sexo feminino desde a tenra idade.

– Com efeito, temos de lembrar aqui outro ensinamento de Salomão a respeito das mulheres (e se tem um homem que pode dizer que entendeu de mulheres foi Salomão que teve mil…): “Enganosa é a graça, e vaidade, a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada” (Pv.31:30).

A mulher sábia não é aquela que faz da beleza o seu trunfo, a sua razão de ser, a causa de sua existência, mas, sim, aquela que procura temer a Deus, obedecer-Lhe, inclusive assumindo as funções no lar que lhe são cometidas pelo Senhor, que, afinal de contas, foi quem criou a família e o casamento, como também estabeleceu quais as funções de marido e de mulher.

– Abigail era uma mulher formosa, belíssima, mas, antes disto, diz o texto sagrado, era “mulher de bom entendimento”, uma “mulher sábia” e, por isso, a casa de Nabal, apesar de sua dureza e malignidade de obras, andava bem e a prosperidade se mantinha.

– Abigail era uma mulher virtuosa e, como tal, tinha pleno conhecimento do dia-a-dia dos negócios de seu marido.

Com efeito, o texto bíblico diz que “a mulher virtuosa faz bem e não mal ao seu marido todos os dias de sua vida” (Pv.31:12), tem amplo domínio sobre a administração da casa (Pv.31:13-18,27), é trabalhadora (Pv.31:19,22), previdente (Pv.31:21) e cuida para o bem-estar do marido e dos filhos em todos os aspectos, tanto materiais quanto emocionais (Pv.31:17,23,28,29).

– Apesar de ter um marido duro e maligno de obras, que, certamente, não teria sido escolhida por ela para poder conviver, Abigail não buscou, aproveitando de sua formosura, trair aquele homem mau, mas velava para que tudo prosperasse no seu lar, para que seu marido nela pudesse confiar, buscando sempre servir a Deus e a cumprir o papel que o Senhor estabeleceu para ela como mulher, como esposa.

– Que bom seria que, em nossos dias, as mulheres que se dizem cristãs também agissem da mesma maneira, não querendo senão assumir as funções que o Senhor lhes estabeleceu no casamento e no lar.

Muitas, porém, preferem acreditar nas ilusões das feministas, nos discursos completamente divorciados da Palavra de Deus, querendo assumir posições e funções que não são as suas.

O resultado é o esgotamento, tanto físico quanto mental e emocional, as frustrações e, não raras vezes, a própria destruição do lar, pois, quando nos distanciamos da Palavra de Deus, da sã doutrina, deixamos de ser sábios para ser tolos e o proverbista é bem claro ao afirmar que “a mulher tola destrói a casa com suas próprias mãos” (Pv.14:1b).

– É urgente que as mulheres cristãs tornem a cumprir o papel que lhes é reservado nas Escrituras Sagradas, tomando em suas mãos a administração do lar, tanto do ponto-de-vista material quanto do emocional e sentimental, sendo as verdadeiras e genuínas mães dos filhos e esposa de seu marido.

Não estamos dizendo que as mulheres devam abandonar o mercado de trabalho, caso isto não seja possível para a própria sobrevivência familiar, mas que devam evitar ao máximo que eventual exercício profissional anule por completo o papel a elas destinado na família. Não é por outro motivo que os lares dos sedizentes cristãos estão cada vez mais sendo destruídos em nossos dias. Não há como ter êxito fora da Bíblia Sagrada!

– Abigail era esta mulher que, mesmo tendo um marido rude e mau, contribuía enormemente para o bem-estar do seu esposo e para a manutenção do progresso e do êxito de seu marido, sem que, para isto, fosse alheia ao dia-a-dia da casa, inclusive do ponto-de-vista profissional.

– A menção feita a Nabal e a Abigail no texto sagrado tinha a sua razão de ser. Estávamos vivendo o reinado de Saul e o rei israelita estava obcecado com a ideia de matar Davi, a quem já havia reconhecido como sendo aquela pessoa profetizada por Samuel que haveria de sucedê-lo no trono.

– Davi, após a morte de Samuel, resolveu ir para o deserto de Parã com seus homens e ali desenvolveu uma amizade e proximidade com os servos de Nabal que estavam a cuidar do gado de seu senhor no Carmelo.

– Durante um bom período, que as Escrituras não precisam, os homens de Davi ajudaram os servos de Nabal, dando-lhes proteção e todo tipo de assistência.

Quando chegou o tempo de tosquia das ovelhas, Davi, necessitado que estava de recursos para a manutenção de sua tropa, pediu a dez de seus homens que fossem até Nabal e pedissem um auxílio para o grupo de Davi, como retribuição pela ajuda que haviam fornecido (IO Sm.25:4-9).

– Nabal, porém, era um homem maligno em suas obras, não ajudava a quem quer que seja, era mesquinho e avarento.

Ante o pedido feito pelos criados de Davi, respondeu asperamente, negando ajudá-los e ainda desprezando Davi, dizendo ser ele um “fugitivo de seu senhor”, que era acompanhado de homens sem procedência (I Sm.25:10-12).

– Ainda lembrando o proverbista, vemos que a “palavra dura suscita a ira” (Pv.15:1b) e, ao saber do teor da resposta dada por Nabal, Davi não teve outra reação senão a de querer “acertar contas” com aquele homem, matando-o por sua insolência e dureza.

– Alguém pode, e com razão, censurar a atitude de Davi. Sem dúvida alguma, a reação de Davi, embora provocada pela dureza de Nabal, que, inclusive, havia insultado o próprio Davi, era desproporcional e seria, à evidência, uma atitude pecaminosa, pois haveria um derramamento de sangue, o que era proibido pela lei de Moisés.

– No entanto, é preciso vermos o contexto em que Davi se encontrava. Davi estava necessitando de recursos, era impiedosamente perseguido por Saul e tinha de manter seus homens com o necessário para sobreviver.

 A recusa de Nabal tornar as coisas muito difíceis e, como se não bastasse, a resposta dada por Nabal punha em xeque a autoestima tanto de Davi quanto de seus homens.

Não tinha outra alternativa Davi senão querer fazer prevalecer o orgulho próprio e, mediante a violência, não só revidar o insulto como também obter víveres para os seus soldados.

– A dureza de Nabal foi reprovada por seus próprios criados. Como é triste quando não podemos ser referenciais para aqueles que lideramos! Como é triste ter um comportamento repreensível, censurável diante daqueles a quem deveríamos ser o exemplo!

Não é por outro motivo que se exige de quem for posto à frente do povo de Deus, que seja irrepreensível, seja para presbítero, seja para diácono (I Tm.3:2,10; Tt.1:6), exigência, aliás, que é feita para todo servo de Deus, pois a irrepreensibilidade é pressuposto para que tenhamos condição para evangelizarmos (Ef.1:4; Fp.2:15; II Pe.3:14).

– Nabal faltou com o bom senso, aliás, o nome “Nabal” significa “sem juízo, tolo, mau, insensato”.

Certamente soube da ajuda que Davi e seus homens haviam dado a seus criados no Carmelo e quis simplesmente “tirar vantagem”, achando-se sem qualquer obrigação para ajudar aqueles homens que tanto bem lhe haviam feito.

Muitos assim procedem na atualidade: são ajudados por muitos mas não querem retribuir. Querem apenas o seu próprio bem, esquecendo-se de que não estão sós neste mundo e que nada podemos dizer que obtivemos por nós mesmos.

– Nabal era demasiadamente orgulhoso e arrogante. Em sua dura resposta, afirmou que o pão, a água e as reses eram “seus”, esquecendo-se de que tudo é do Senhor (Sl.24:1).

Na verdade, se bem formos ver a realidade, era ele o que menos contribuía para todo aquele êxito e prosperidade existentes, fruto da diligência de sua mulher e da dedicação e trabalho de seus servos.

– Os maridos, embora sejam valida e legitimamente as cabeças do casal (I Co.11:3; Ef.5:23), pouco importando que as leis atualmente vigentes tenham se distanciado deste modelo bíblico, pois a Palavra de Deus permanece para sempre (I Pe.1:25) e devemos obedecer mais a Deus que aos homens (At.5:29), não podem se esquecer que cabeça é feita para pensar e para comandar, mas que, sem o restante do corpo, a cabeça para nada vale, devendo, pois, ser sempre reconhecido que os comandos, os planos e a última palavra somente se tornarão em ações concretas e atitudes se tiverem a cooperação do restante do corpo, o que deve ser sempre reconhecido e valorizado. Não hajam tolamente como Nabal.

– Ademais, se o marido é cabeça do casal, não pode se esquecer que Cristo é a sua cabeça (I Co.11:3), de forma que a sua liderança está sempre submissa ao planejamento e ao comando de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Nabal não podia dizer que coisa alguma era “sua” e, ante a existência de pessoas necessitadas, como era o caso de Davi e seus homens, ante os benefícios que haviam sido feitos gratuitamente por Davi e seus homens, tinha o dever, segundo a lei de Moisés, de retribuir o bem realizado, de ser grato.

Se a lei mandava ajudar até o inimigo (Ex.23:5), que dirá aqueles que só lhe haviam demonstrado amizade. Nabal estava usando de falsidade com o seu próximo, tirando indevidamente vantagem da situação, vulnerando assim Lv.19:11.

– Quando um dos criados de Nabal soube da decisão de Davi de atacar Nabal e matá-lo e a todos os seus, não teve qualquer dúvida: comunicou o fato a Abigail (I Sm.25:14-17).

– Por que foram contar o fato a Abigail e não a Nabal? Precisamente, porque sabiam que Nabal era um homem com quem não se podia dialogar, era duro e maligno nas obras, um tolo, em cuja boca está a vara da soberba (Pv.14:3), que, quando se encoleriza, dá-se por seguro (Pv.14:16), que despreza a correção de seu pai (Pv.15:5), não valendo a pena falar-lhe, pois isto será perda de tempo (Pv.23:9).

– Abigail, entretanto, era conhecida como uma mulher de bom entendimento, uma mulher sábia, que bem poderia mudar aquela situação, que era uma circunstância de vida ou morte, pois todos sabiam que Davi e seus homens, grandes guerreiros que eram, não teriam dificuldade alguma para destruir toda a casa de Nabal.

– Abigail percebeu a gravidade da situação, tanto que se apressou. Nada disse a seu marido, porquanto sabia que ele nada poderia resolver e só complicaria o que já era gravíssimo.

Tomou duzentos pães, dois odres de vinho, cinco ovelhas guisadas, cinco medidas de trigo tostado, cem cachos de passas, duzentas pastas de figos passados e os pôs sobre os jumentos, mandando que os servos de Nabal que haviam recebido os benefícios de Davi e seus homens fossem à frente dela, para se fazer conhecidos, pois ela os seguiria de perto. Que prudência esta de Abigail!

– Por primeiro, sabia que havia se criado uma amizade entre os homens de Davi e os servos de Nabal e, portanto, seria melhor falar com Davi dentro de um clima amistoso. Precisamos criar situações favoráveis para aplacar a ira de alguém, criar ambientes propícios ao acordo e à reconciliação. A brandura sempre desvia o furor (Pv.15:1a).

– Por segundo, Abigail não foi à frente pois, sendo como era formosa, isto poderia dar uma conotação que não seria própria para uma mulher digna e casada como era ela. Por pior que fosse o seu marido, Abigail era casada e deveria se comportar como tal.

Ademais, era uma serva de Deus e não poderia dar margem a qualquer aparência do mal (I Ts.5:22). Até mesmo entre os gentios, isto era observado. Quem não conhece o velho adágio de que “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta” ?

OBS: Transcrevemos aqui, aliás, a história por trás deste adágio popular: “A estória é bastante conhecida. Decorria, em casa de Júlio César, no dia 1 de Maio do ano 62 a.C., a festa da Bona Dea “Boa deusa”, uma orgia báquica, reservada exclusivamente às mulheres.

 A celebração fora organizada por Pompeia Sula, segunda mulher de Júlio César, ao que consta, uma mulher jovem e muito bela. Acontece que Publius Clodius, jovem rico e atrevido, estava apaixonado por Pompeia, não resistiu: disfarçou-se de tocadora de lira e, clandestinamente, entrou na festa, na esperança de chegar junto de Pompeia.

Porém, foi descoberto por Aurélia, mãe de César, sem que tivesse conseguido os seus intentos. Nesse mesmo dia, todos os romanos conheciam a peripécia e César decretou o divórcio de Pompeia.

Mas César não ficou contra Publius Clodius, chamado a depor como testemunha em tribunal, disse que nada tinha, nem nada sabia contra o suposto sacrílego.

Foi o espanto geral entre os senadores: “Então porque se divorciou da sua mulher?”. A resposta tornou-se famosa:

“A mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita” Esta frase deu origem a um provérbio, cujo texto é geralmente o seguinte:

“À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta.” (BRITO, Carla. “A mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta. Disponível em: http://estoriasdahistoria12.blogspot.com.br/2016/05/a-mulher-de-cesar-nao-basta-ser-honesta.html Acesso em 25 fev. 2017).

– Lamentavelmente, atualmente, o comportamento de muitas mulheres está longe desta prudência.

Não procuram “parecer honestas”, dando guarida a todo mexerico e a toda desconfiança e achando ainda estarem certas, pois “mexerico é pecado”, esquecendo-se, porém, que devemos ser irrepreensíveis, não ser instrumentos de escândalo, pois isto é altamente perigoso e pernicioso.

Lembremos do que disse o Senhor Jesus: “É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem!” (Lc.17:1).

– Por terceiro, Abigail seguiu os criados de perto, ou seja, embora tenha tido a prudência de não ir à frente, não perdeu o controle da situação, exerceu a sua liderança.

Tudo deveria ser feito consoante a sua orientação, não deixou de assumir o protagonismo que era necessário. As pessoas têm de ter um caráter conciliador, têm de evitar as dissensões e contendas, mas não podem deixar de fazer valer a sua autoridade, a sua posição.

Abigail era a mulher de Nabal, a senhora de todos quantos ali estavam e devia, portanto, comportar-se como tal.

Além do mais, como mulher virtuosa que era, olhava pelo governo da sua casa (Pv.31:27), fazendo, pois, valer a sua autoridade. Afinal de contas, haviam pedido para que ela tomasse providências.

– Por quarto,. Abigail nada comunicou ao seu marido, pelas mesmas razões por que os criados de Nabal não haviam se dirigido a ele. De nada adianta conversar com um tolo. Caso Abigail fosse falar com Nabal, não seria compreendida e a situação pioraria.

A tolice do marido havia gerado aquele gravíssima situação, pois “a boca do tolo é a sua própria destruição” (Pv.18:7ª; 10:14b), “o pensamento do tolo é pecado” (Pv.24:9a).

– Quando os dois grupos se encontraram, Davi “desabafou” para os criados de Nabal, dizendo que Nabal havia pagado o bem com o mal e por isso não ficaria sequer um menino vivo até o dia seguinte na casa de Nabal (I Sm.21,22).

Vemos aqui a prudência de Abigail. Ela deixou que primeiro Davi se encontrasse com os criados de Nabal e, assim, “desabafasse”, “abrisse o seu coração”, deixasse extravasar toda a sua cólera para que, então, mais calmo pudesse Abigail com ele se encontrar.

– Numa atitude conciliadora, é primordial que deixemos que as pessoas falem, extravasem, “abram o seu coração”, para que, então, depois de tudo o que estiver reprimido seja posto para fora, tenhamos um ambiente favorável para a conversa, para a conciliação, para o apaziguamento. O conciliador deve, antes de tudo, ser um sábio, alguém que saiba primeiro ouvir para depois falar (Pv.18:13; Ec.5:1; Tg.1:19).

– Depois que Davi “desabafou” com os criados de Nabal, Abigail apressou-se e desceu do jumento onde estava montada e prostrou o seu rosto diante de Davi, inclinando à terra (ISm.25:23).

– Abigail não quis valer a sua condição de mulher de Nabal, de uma senhora rica e próspera da tribo de Judá.

Muito pelo contrário, tomou uma atitude de humildade. Sabia que estava diante de um homem guerreiro e que estava sobremodo encolerizado, que tinha, como se diz, “a faca e o queijo na mão” e que poderia, muito bem, já começar a matança pela mulher do homem cuja casa queria destruir.

– Abigail adota uma atitude de consideração, respeito e reverência. Como mulher, dentro de uma sociedade patriarcal, prostra-se diante de Davi, inclina-se à terra, reconhecendo a autoridade daquele homem.

Não tentou seduzir Davi com a sua formosura ou beleza, nem tampouco respondeu com dureza à ira de Davi, mas num gesto de humilhação, procurou desviar o furor daquele homem conhecido por sua valentia e destreza na arte da guerra.

– Temos de, diante de pessoas encolerizadas e violentas, agir do mesmo modo. Não se pode “pôr água no fogo” com atitudes ríspidas ou com orgulho próprio.

Temos de desviar o furor do encolerizado e a primeira forma de o fazermos é darmos a devida consideração, o devido respeito àquele que se sente ferido e injustiçado.

Lembremos de que todos nós somos feitos imagem e semelhança de Deus, temos uma dignidade advinda de nosso Criador, por mais errados que estejamos, como era, aliás, o caso de Davi naquele instante.

– Se somos discípulos de Cristo Jesus, renunciamos a nós mesmos (Lc.14:33) e, portanto, não faz sentido algum querermos prevalecer o nosso ego em uma discussão ou no relacionamento com quer que seja. Humilhemo-nos, comportemo-nos com humildade e alcançaremos a vitória, dissiparemos as intrigas e desviaremos o furor de quem pode, com violência, inclusive ceifar a nossa vida.

– Abigail, então, lançou-se aos pés de Davi, implorando por sua vida e de sua casa. Chamou a Davi de “senhor”, assumiu a transgressão de seu marido como sua e pediu permissão para falar (I Sm.25:24).

– Esta atitude de Abigail tem uma aplicação espiritual extraordinária. Assim como Abigail e a casa de Nabal, estávamos condenados à morte por causa de nossa ingratidão para com Deus, que nos criou e deu as condições para que tivéssemos vidas sobre a face da Terra, mas, quando nos foi pedido que entregássemos ao Senhor o nosso coração, a nossa vida, rejeitamos tal pedido, insultando ao nosso Benfeitor.

O resultado foi o decreto de morte contra nós, mas, se fizermos como Abigail, confessarmos a nossa culpa, reconhecermos o senhorio de Deus e nos lançarmos aos Seus pés, certamente alcançaremos a Sua misericórdia (Pv.28:13; Jo.6:37).

– Estamos dispostos a fazer o que fez Abigail em relação ao Senhor? Ou faremos como Nabal, que não quis voltar atrás e que teve como destino a morte, ainda que diferida por causa da ação de Abigail?

Os que rejeitarem a Cristo também terão o mesmo fim de Nabal, ainda que diferido pela ação dos servos de Deus que têm intercedido em prol da humanidade, ação que cessará quando do arrebatamento da Igreja. Ajamos como Abigail e alcancemos a misericórdia do Senhor.

– Mas, alguém pode dizer, como Abigail poderia assumir uma transgressão que não era sua? Lembremos que Abigail era mulher de Nabal e ambos eram uma só carne, portanto. Abigail não procurou salvar a sua vida, mas a de sua casa, incluindo o seu marido, pois era esta a sua função como esposa.

Abigail toma para si aquela transgressão diante de seu papel como administradora do lar, como aquela que deveria edificar e zelar pela manutenção do lar.

– Abigail, embora tivesse tomado a transgressão para si, não deixa de observar que Nabal era um homem de Belial, um tolo, justificando que não havia visto os servos de Davi que tinham vindo falar com o seu marido.

Abigail dá a devida razão a Davi e assevera que, se tivesse visto aqueles criados, Davi já teria obtido a ajuda de que necessitava.

– Mas, ao mesmo tempo em que Abigail aponta a tolice de seu marido, também não deixa de observar a Davi, com brandura, que o gesto que haveria de ser tomado contrariava a lei.

Disse, com coragem, que o Senhor estava impedindo Davi de derramar sangue inocente e que estava exercendo este papel de evitar a prática do pecado por parte de Davi (I Sm.25:26).

– O conciliador precisa ser brando, educado e humilde, mas não pode deixar de falar a verdade, que é um dever de cada servo do Senhor (Ef.4:25).

Falar a verdade não é ser ríspido, mal educado, mas, sim, falar aquilo que está acontecendo, o que corresponde à realidade, algo que deve sempre ser dito com brandura e ternura, de forma a que as pessoas, sem se irarem ou se encolerizarem, possam refletir e perceber os seus erros e acertos.

– Muito sabiamente, Abigail exaltou ao Senhor (e seu nome significa “exaltação”) por estar impedindo Davi de derramar sangue inocente. Sem dizer diretamente que Davi estava para se tornar um homicida, contrariando a lei, Abigail agradece a Deus pelo encontro que estava a ocorrer e que impediria o derramamento de sangue pretendido.

Abigail deseja que Nabal tivesse o mesmo fim dos inimigos de Davi, mas, ao invocar o nome do Senhor, deixa claro a Davi que só Deus pode dar e tirar a vida.

– Este também deve ser o papel do cristão: aquele que impede que haja homicídios, seja o derramamento de sangue, como no caso que estamos a analisar, como toda manifestação de ódio ao próximo, pois o Senhor Jesus nos deixou bem claro que qualquer que odeia a seu irmão é homicida (Mt.5:22), o que depois foi repetido pelo apóstolo João (I Jo.3:15).

Temos sido impedimentos ao ódio ao próximo, ou somos os primeiros a lançar pedras sobre o outro? Pensemos nisto!

– Em seguida, Abigail apresenta todos os víveres que havia trazido para Davi e seus homens, convidando-o a distribuir tudo quanto havia trazido aos seus homens, “os que andavam após as pisadas do meu senhor” (I Sm.25:27).

– Neste instante, Abigail pede perdão a Davi pela transgressão cometida e deseja a Davi que o Senhor lhe desse uma casa firme, uma vez que Davi guerreava as guerras do Senhor e nele não se achava qualquer mal (I Sm.25:28).

– Entendem os rabinos judeus que este desejo de Abigail era uma verdadeira profecia, considerando Abigail, pois, como uma profetisa, como a admitir que, naquele momento, o próprio Espírito Santo tomou a Abigail, diante de suas atitudes feitas consoante a vontade de Deus e de acordo com a Sua Palavra.

Não temos um respaldo bíblico para afirmá-lo desta forma, mas é inegável que Abigail estava ali agindo com sabedoria e que a sabedoria advém de Deus.

– Abigail, como muitos em Israel, sabiam muito bem que Davi estava sendo injustiçado por Saul e que havia se notabilizado por “fazer as guerras do Senhor”, por cumprir o seu papel como soldado do exército real, livrando o povo de Israel de seus inimigos e de que era um homem temente a Deus.

Era perceptível a muitos que Davi era um homem escolhido pelo Senhor para defender o povo. Como serva de Deus, Abigail tinha uma visão espiritual e pôde, então, compreender a importância daquele homem, a sua comunhão com Deus e a necessidade de considerá-lo como tal.

– Por isso mesmo, Abigail tinha consciência de que estava ali não apenas salvando a sua casa, mas, sobretudo, impedindo Davi de cometer um horrendo pecado e perder a comunhão que tinha com o Senhor.

Ele fora chamado para “fazer as guerras do Senhor”, não para criar contendas, dissensões e, por motivos particulares, matar pessoas inocentes.

– Nós, também, não podemos permitir que os nossos irmãos deixem de guerrear as “guerras do Senhor”, deixe de enfrentar as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais para se voltarem contra “a carne e o sangue”, contra aqueles que não são os nossos verdadeiros inimigos e que, por serem o nosso próximo, devem não ser combatidas nem mortas, mas alvo do nosso amor, do nosso bem querer, a fim de que possam alcançar a salvação e juntamente conosco ver o Senhor nos ares e estar para sempre com ele. Temos feito isto?

– Abigail, ainda que em tom de súplica, lembra Davi que, em não sendo ele culpado diante do Senhor, certamente seria alvo de livramento do Senhor quando alguém lhe quisesse matar, pois, em não derramando sangue inocente, não haveria de ter o seu sangue derramado em qualquer circunstância de risco de vida, o que, certamente, sempre ocorreria, já que Davi era um guerreiro e sempre estava arriscando a sua própria vida (I Sm.25:29).

– Com muito tato e brandura, Abigail lembrava Davi da lei da ceifa, segundo a qual haveremos de colher o que plantamos (Os.8:7; Gl.6:7).

 Assim, se Davi derramasse sangue inocente, certamente teria também o seu sangue derramado, como, aliás, o Senhor disse a Noé ao firmar com ele pacto após o dilúvio (Gn.9:6), preceito que, posteriormente, foi repetido por Deus a Israel e inserido na lei (Ex.21:12).

– Abigail estava ministrando a Palavra para Davi, demonstrando ser uma mulher sábia, uma mulher que não só conhecia como cria na Palavra de Deus, nos preceitos divinos. Na verdade, estava mesmo a profetizar, pois, realmente, muitos anos depois (cerca de 39 anos depois, segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen), Davi teve um livramento de morte no campo de batalha, episódio que fez com que nunca mais Davi saísse para guerrear (II Sm.21:15-17). Se tivesse matado Nabal, certamente não teria obtido este livramento.

– Abigail, também, revelou ter pleno conhecimento de que Davi haveria de suceder a Saul, pois manifestou a ele a certeza de que ele seria rei sobre Israel e esperava que, em mantendo ele a fidelidade ao Senhor, pudesse ter êxito durante o seu reinado, pedindo, então, que, quando se desse essa ocasião, pudesse ele se lembrar dela e da beneficência que estava a fazer com ele naquele momento (I Sm.25:31).

– As palavras de Abigail tocaram o coração e a alma de Davi, que era um homem segundo o coração de Deus (I Sm.13:14).

Davi pôde verificar que aquela mulher estava simplesmente declarando a Palavra de Deus e que sua intenção de matar Nabal e sua casa não estava de acordo com a vontade do Senhor.

Reconhece que Abigail havia sido mandada pelo próprio Deus para impedir que ele pecasse, reconhecendo o seu erro e aceitando os víveres que ela lhe trouxera, desistindo de atacar e matar Nabal e os seus (I Sm.25:32-35).

– Abigail, então, retornou para a sua casa, com a intenção de tudo relatar a Nabal. Observemos, portanto, que não era intenção alguma de Abigail fazer “coisas escondidas” de seu marido, pois não pode haver segredos entre marido e mulher.

O plano bíblico do casamento é que haja perfeita comunhão entre os cônjuges (“uma só carne” – Gn.2:24) e nenhuma privacidade entre eles (Gn.2:25).

– Nos dias em que vivemos, lamentavelmente, não são poucos os casais que escondem dados relevantes de um para o outro, o que contraria o propósito divino para o casamento e para a família.

A única intimidade que podemos ter e que não seja do conhecimento do cônjuge são as peculiaridades que tivermos com o Senhor e, mesmo assim, se o próprio Espírito Santo nos determinar que não haja compartilhamento.

– Abigail não poderia falar com Nabal que iria ao encontro de Davi diante da estultícia do seu marido, mas, depois de ter tudo solucionado, era seu dever comunicar a Nabal o que havia ocorrido, pois nada pode ser escondido do cônjuge.

– Entretanto, ao chegar à casa, Abigail encontrou uma verdadeira “farra”, pois Nabal estava a promover um banquete, como banquete de rei, e estava totalmente embriagado.

Não era, portanto, a circunstância propícia para lhe contar o que havia ocorrido, Abigail era sábia, sabia que há um momento oportuno para que se tratar de cada assunto, há o tempo de estar calado e o tempo de falar (Ec.3:7).

Como é importantíssimo termos este discernimento no relacionamento conjugal, muitas discussões, contendas seriam evitados e muitos casamentos seriam salvos. Abigail também sabia que “como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo” (Pv.25:11).

– Temos aqui outra demonstração da estultícia de Nabal. Apesar de sua riqueza, tanto que preparou um “banquete de rei”, ele não tinha a menor reverência pelo seu ambiente familiar, o menor respeito ou pudor, pois, a exemplo dos gentios (e lembremos, a propósito, da festa promovida pelo rei Assuero – Et.1:10,11), fez uma festa em que as mulheres de bem e de renome não poderiam participar, pois como entender que tenha feito a festa sem a presença de sua mulher?

– Imitar os costumes daqueles que não servem a Deus é uma demonstração de tolice, de insensatez espiritual, um comportamento que somente cabe naqueles que são “malignos nas suas obras”, como era o caso de Nabal.

Lamentavelmente, e com muito mais frequência, temos visto com tristeza muitos “Nabais” entre os que cristãos se dizem ser, cujas festas e comemorações são feitas segundo os moldes mundanos, sem qualquer reverência ou temor a Deus. Fujamos disto, amados irmãos!

– Além desta adoção de costumes gentílicos, Nabal embriagou-se, numa atitude que é típica de quem não serve a Deus, pois as Escrituras estão repletas de advertências contra os que fazem uso de bebida embriagante, a chamada “bebida forte”, cujo consumo sempre foi totalmente proibido para os sacerdotes (Lv.10:9), os nazireus (Nm.6:3) e desaconselhado para os reis (Pv.31:4).

Nós, que somos feitos por Jesus Cristo reis e sacerdotes para Deus, o Pai (Ap.1:6) não podemos, portanto, consumir este tipo de bebida e, muito menos, nos embriagarmos, como fez Nabal.

– Abigail, uma mulher sábia, uma serva de Deus, nem sequer adentrou ao local do banquete, pois não era, mesmo, um ambiente apropriado para alguém que serve ao Senhor, preferindo uma ocasião mais oportuna para falar com seu insensato marido.

– Quando Nabal voltou à sobriedade, Abigail, então, lhe foi contar tudo o que havia acontecido e Nabal, então, verificou a tolice que havia praticado e como havia sido liberto da morte pela ação de sua sábia esposa.

Nabal tomou um choque muito grande, um susto, tendo tido, ao que parece, um problema cardíaco por causa da reação às notícias recebidas, pois a Bíblia diz que seu coração amorteceu e ficou duro como pedra (I Sm.25:37).

– Não se passaram, porém, dez dias e o Senhor vingou a maldade praticada por Nabal, ferindo-o. Deus não Se deixa escarnecer e, no tempo que Ele quiser (e que pode ser, inclusive, no juízo final), haverá de fazer justiça, dando aos ímpios o devido pago.

Não precisam os servos do Senhor querer “fazer justiça com as suas próprias mãos”, o que somente os levará a pecar e a sofrer a mesma condenação eterna daqueles que lhes fizeram mal. Deus matou Nabal por causa de sua malignidade, que havia, com Davi e seus homens, chegado ao limite da longanimidade divina.

II – ABIGAIL, A MULHER DE DAVI

– Assim, embora tivesse poupado a vida de seu marido e de toda a casa, Abigail, num espaço de dez dias depois que havia conseguido aplacar a ira de Davi, via-se viúva e sem filhos.

– Ao saber da notícia da morte de Nabal, Davi agradeceu a Deus, não porque Nabal havia morrido, mas, sim, porque reconheceu, mais uma vez, o grande livramento que o Senhor lhe havia proporcionado, impedindo-o de derramar o sangue de Nabal.

Davi pôde compreender que o Senhor estava ao seu lado e que a Deus cumpre fazer justiça e não a nós. Davi reconheceu que Abigail havia sido uma grande bênção na sua vida, impedindo-o de pecar e perder a comunhão com o Senhor.

– Davi entendeu que Abigail havia sido uma bênção na sua vida e, deste modo, como ela agora estava viúva e era formosa, resolveu que deveria tê-la a seu lado de forma permanente e, então, mandou que alguns de seus homens fossem ao encontro dela para lhe oferecer casamento.

– Davi viu em Abigail uma mulher de bom entendimento e formosa e quem não deseja ter uma mulher que serve a Deus e também é bonita ao seu lado? Tudo quanto fora desprezado por Nabal, era agora valorizado por Davi.

Embora se tratasse de uma escolha inteligente, não podemos aqui deixar de observar que a atitude de Davi não era conforme o princípio estabelecido por Deus com relação ao casamento, pois, àquela altura, Davi já era casado com Mical, a filha de Saul, embora fosse verdade que Mical tivesse se negado a acompanhar Davi em suas fugas e, ademais, aceitado casar-se com outro homem, por ordem de seu pai (I Sm.25:44).

– Todavia, o texto sagrado nos relata que, quando do convite de casamento a Abigail, Davi não estava sozinho, mas, sim, já havia se casado, em circunstâncias que a Bíblia não esclarece, com Ainoã, de Jizreel, passando, então, a ter duas mulheres (I Sm.25:43), o que contrariava o princípio monogâmico estabelecido por Deus ao homem (Gn.2:24).

– Abigail, ao receber o convite, prontamente o aceitou, estando pronta para “servir de criada para lavar os pés dos criados do meu senhor” (I Sm.25:41).

Deus honrou a sabedoria de Sua serva, fazendo-a esposa de Davi, um homem segundo o coração de Deus, depois de todo o sofrimento que teve ao lado de um homem ímpio e mau como era Nabal.

– Abigail não precisou burlar a lei do Senhor para ser honrada em sua fé. Não partiu para o adultério, não forçou uma situação de divórcio.

Simplesmente confiou em Deus e o Senhor, no momento certo, na ocasião oportuna, livrou-a de Nabal e dos laços matrimoniais, de acordo com a Sua Palavra, dando-lhe um marido que era um homem segundo o coração de Deus, um homem temente e que a sabia escutar.

– Que bom seria que todas as mulheres cristãs tomassem este exemplo de Abigail e jamais procedesse de forma contrária à Palavra de Deus.

Se a legislação pátria permite o divórcio e o tem facilitado sobremaneira nos últimos anos, não nos esqueçamos de que a lei de Deus não muda e que os princípios bíblicos estabelecidos para o casamento continuam os mesmos, somente permitindo o divórcio nos casos de impasse entre o servir a Deus e o manter o relacionamento conjugal.

– Confiemos em Deus e aguardemos o momento oportuno em que seremos livres de circunstâncias constrangedoras e difíceis, como as que passava Abigail.

 Ademais, todos sabemos que o casamento é algo que é próprio desta Terra, que não subsiste quando passamos para a dimensão eterna e que a salvação é muito mais importante do que qualquer outra coisa em nossas vidas e que, portanto, se tivermos de “carregar esta cruz tão pesada” que talvez tenha se tornado o casamento, isto valerá a pena, pois, como diz o apóstolo Paulo, “…as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm.8:18). Para que perder a salvação e a comunhão com Deus transgredindo as leis divinas a respeito do casamento?

– A decisão de Abigail não foi fácil. Deixou uma posição confortável do ponto de vista material para se unir a Davi, então um fugitivo do rei Saul.

Fê-lo porque viu em Davi o homem escolhido por Deus para reinar sobre Israel, porque tinha visão espiritual e era desprendida das coisas materiais. Davi, também, ao propor casamento para Abigail não foi movido por interesses materiais, pois não foi morar na casa de Nabal nem tomou seu patrimônio, prosseguindo a sua trajetória errante, fugindo de Saul.

Era a união de duas pessoas que criam em Deus, observavam a Sua lei e estavam dispostos a servi-l’O em todas as circunstâncias.

– A vida de Abigail não foi fácil a partir de então. Deixou todo o conforto que tinha e passou a ir de um lado para o outro com Davi.

Mesmo quando Davi ganhou uma cidade do rei de Gate, a cidade de Ziclague (I Sm.27:6) e isto fez com que Abigail deixasse de ser uma nômade e passasse a morar, novamente, num lugar fixo, nem assim teve uma vida tranquila, pois acabou sendo levada cativa quando Ziclague foi saqueada pelos amalequitas (I Sm.30:1-5).

– Quando Davi foi ungido rei sobre Judá e passou a morar em Hebrom, Abigail foi morar ali e Abigail alcançou a bênção da maternidade, dando a Davi o seu segundo filho, chamado Quileabe (II Sm.3:3), também chamado de Daniel (I Cr.3:1).

“Queliabe” significa “protegido pelo pai”, enquanto que Daniel significa “Deus é meu juiz”. Parece ter sido este o único filho que Abigail teve.

– Não sabemos porque a Bíblia dá dois nomes para este segundo filho de Davi e único filho de Abigail. De qualquer modo, ambos os nomes são elucidativos.

O primeiro nome, “protegido pelo pai”, parece-nos indicar que se está fazer alusão à sabedoria de Abigail, “cujo pai era a sabedoria”, como dissemos, como também a nos fazer crer que Davi o cercava de cuidados, lembrando que fora protegido por Deus por intermédio de Abigail.

O outro nome, “Deus é meu juiz”, também faz alusão à própria justiça que Deus fez a Davi com a maldade de Nabal, impedindo-o de pecar e fazendo com que Deus fizesse justiça para Davi.

– É interessante notar, ainda, que, embora fosse o segundo filho de Davi, Quileabe/Daniel não é mencionado na sequência do texto sagrado.

Todas as crises e problemas vividos entre os filhos de Davi não tiveram jamais a participação de Quileabe/Daniel. Amnom, o primogênito de Davi, filho de Ainoã, foi assassinado por Absalão, filho de Maaca, que era o terceiro filho de Davi e que é apresentado, então, como o herdeiro do trono, tanto que acabou por usurpar o reino.

– Tudo indica, portanto, que Quileabe/Daniel, o filho de Abigail, morreu antes de todos estes fatos, tendo, assim, sido “protegido” da espada que veio sobre a casa de Davi por determinação divina em virtude dos pecados cometidos por Davi (II Sm.12:10), a indicar, portanto, que realmente o filho de Abigail foi “protegido pelo pai”, teve Deus como juiz, sendo poupado, pois “perece o justo, e não há quem considere isso em seu coração, e os homens compassivos são retirados, sem que alguém considere que o justo é levado antes do mal” (Is.57:1).

O que pode ter sido, pois, uma dor imediata para Abigail, constituiu-se numa bênção ao final da história.

– Nada mais se fala a respeito de Abigail, desde então, mas o fato é que, por sua sabedoria, Deus a honrou sobremaneira e a fez uma das mulheres do rei Davi. Se formos igualmente sábios, também faremos parte da esposa do Filho de Davi e viveremos para sempre com ele. É esta a nossa condição? Pensemos nisto!

Ev. Caramuru Afonso Francisco

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