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LIÇÃO Nº 9 – HULDA, A MULHER QUE ESTAVA NO LUGAR CERTO

Hulda ocupou papel central mesmo morando na periferia.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo das personagens bíblicas que nos ensinam sobre o caráter do cristão, estudaremos a profetisa Hulda.

– Hulda ocupou papel central mesmo morando na periferia.

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I – JUDÁ NOS DIAS DE HULDA

– Na sequência do estudo das personagens bíblicas que nos ensinam sobre o caráter do cristão, estudaremos a profetisa Hulda.

Hulda é uma das seis mulheres que a Bíblia chama de profetisa e a única que é mencionada duas vezes como tal (II Rs.22:14; II Cr.34:22).

OBS: Eis as seis mulheres que são chamadas de profetisas na Bíblia: Miriã (Ex.15:20); Débora (Jz.4:4); Hulda (II Rs.22:14; II Cr.34:22).

Noadias (Ne.6:14); a mulher do profeta Isaías (Is.8:3) e Ana (Lc.,2:36). Jezabel, mulher que pertencia à igreja de Tiatira, se dizia profetisa mas não o era (Ap.2:20).

O Talmude (segundo livro sagrado do judaísmo) diz que houve sete profetisas: “…A Guemara [comentário dos rabinos sobre a tradição judaica, observação nossa] pergunta com respeito às profetisas lembradas na baraita [comentários orais dos rabinos judeus, observação nossa].

Quem foram as sete profetisas? A Guemara responde. Sara, Miriã, Débora, Ana, Abigail, Hulda e Ester.…” ( Tratado Megillah 14a) (Disponível em: http://www.sefaria.org/Megillah.14b.7?lang=bi&with=all&lang2=en Acesso em 01 mar. 2017) (tradução nossa de texto em inglês).

– Hulda viveu num período dramático da história do reino de Judá, pois se estava no reinado de Josias, que sucedeu a seu pai Amom, que reinara apenas dois anos e que fora o responsável pela manutenção da triste situação espiritual que Judá estava a viver desde o longo e terrível reinado de Manassés, que desvirtuou completamente o povo judaíta com sua idolatria e feitiçaria (II Rs.21:1-9; II Cr.33:1-10).

– Manassés tanto pecou contra o Senhor e fez o povo judaíta também pecar que Deus mandou profetas para avisar que o povo de Judá iria para o exílio (II Rs.21:10-16; Jr.15:1-4), aplicando-se, assim, a máxima pena prevista no pacto palestiniano diante da desobediência da nação (Dt.28:64).

– Verdade é que Manassés se arrependeu, depois de ter sido levado cativo pelos assírios e deixado em Babilônia (II Cr.33:11-20), mas este seu gesto de arrependimento não foi acompanhado pelo povo de Judá, tanto que seu filho Amom tornou a praticar todos os erros de seu pai (II Rs.21:19-22; II Cr.33:21-23).

– Após a morte de Amom, que foi vítima de uma conspiração promovida pelos seus próprios servos (II Rs.21:23-36; II Cr.33:24,25), o povo feriu os conspiradores e pôs no trono ao filho de Amom, chamado Josias, que tinha apenas oito anos de idade (II Rs.22:1; II Cr.34:1).

– Ao contrário de seu pai, Josias foi um rei obediente ao Senhor e que procurou promover uma reforma religiosa.

Assim que pôde efetivamente exercer o governo, no décimo oitavo ano de seu reinado, Josias mandou que se fizesse a reparação do templo, pois, em virtude de toda a idolatria e feitiçaria de Manassés, o templo havia sofrido grandes alterações, já que havia sido colocada uma imagem de escultura (II Rs.21:7), altares a todo o exército dos céus em ambos os átrios (II Rs.21:5), o que foi depois retirado por Manassés quando de sua conversão (II Cr.33:15), mas sequelas ficaram, que não foram tratadas por Amom em seu curto reinado, até porque Amom também fora um idólatra.

– Nesta atitude de Josias, já vemos um interesse na restauração do culto a Deus, na prioridade ao Senhor, apesar das mensagens de que o povo seria levado ao exílio por causa dos pecados cometidos por Manassés e que eram mantidos pelo povo em geral.

– Josias mostrava-se, deste modo, profundamente sensibilizado pela mensagem do profeta Jeremias que, no mesmo ano em que se iniciou a reparação do templo, já tinha cinco anos de ministério, ministério que visava precisamente conclamar o povo ao arrependimento diante do juízo anunciado (Jr.1:2).

– Mesmo sabendo que a Palavra de Deus se cumpre, Josias procurou levar a sua geração ao arrependimento, buscou criar condições para que o povo pudesse se arrepender dos pecados e obter a misericórdia divina.

Este, também, deve ser o comportamento nosso nestes dias que antecedem o arrebatamento da Igreja.

Embora saibamos que a Palavra de Deus se cumprirá e se terá a Grande Tribulação e o derramamento da ira de Deus sobre a Terra, temos de nos esforçar para que as pessoas creiam em Jesus e escapem da ira futura.

– Durante as obras de reparação do templo, o sumo sacerdote Hilquias achou o livro da lei que se encontra perdido no templo (II Rs.22:8).

Que lamentável situação vivia o povo de Judá neste tempo: o livro da lei, que Moisés deixara aos cuidados dos sacerdotes que carregavam a arca do Senhor e dos anciãos do povo (Dt.31:9), sacerdotes, inclusive, que deveriam sempre providenciar um traslado deste livro para o rei (Dt.17:18-20), estava perdido na casa do Senhor, numa clara demonstração que não era lido nem sequer notado naquele tempo.

– Em dias de apostasia, sempre o “livro do Senhor” é esquecido, deixado em último plano, nem sequer notado pelos que deveriam lê-lo, dele aprender e praticá-lo.

Manassés havia adulterado o templo, depois de convertido, retirou os ídolos e altares que havia ali colocado, mas algo ele nunca fez: ler o livro da lei.

Muito provavelmente, recebeu dos sacerdotes um traslado dele quando assumiu o trono, já que seu pai, Ezequias, foi um soberano obediente ao Senhor, mas ele jamais o leu e, se se converteu, foi porque sofreu as dores do exílio e da prisão.

– Quando retornou, continuou a não ler o livro do Senhor e, por isso mesmo, sua conversão nada resultou para o povo de Judá, nem mesmo para o seu filho Amom, que tornou a praticar os pecados cometidos por Manassés.

Toda esta instabilidade espiritual, todo este fracasso tem uma simples explicação: o desprezo com o “livro do Senhor”, que se viu perdido em plena casa do Senhor.

– O desprezo pelo livro era tanto que Hilquias, ao achar o livro, não fez questão alguma de lê-lo, entregando-o a Safã, que era o escrivão do reino (II Rs.22:8; II Cr.34:15).

Safã, ao receber o livro das mãos de Hilquias, mesmo após tê-lo lido, não deu a devida importância a este achado, tanto que, quando vai dar um relatório ao rei a respeito das obras de reparação do templo, trata disto somente ao final da conversa com o rei, pois sua maior preocupação era com a administração financeira da obra e com o seu desenvolvimento (II Rs.22:9,10; II Cr.34:16-18).

– Josias, porém, revelou ser diferente tanto do sumo sacerdote quanto do escrivão.

Ao ter conhecimento do achado do livro, quis que ele fosse lido para ele e Safã o fez e Josias, ao ter conhecimento do teor do livro da lei, bem entendeu a situação miserável em que se encontrava o povo de Judá e que o juízo de Deus era inevitável sobre a nação, diante da desobediência, Rasgou os seus vestidos e mandou que Hilquias, Safã, além de Aicão, filho de Safã; Abdom, filho de Mica e o ministro do rei Asaías consultassem ao Senhor a respeito deste tema (II Rs.22:11-13; II Cr.34:19-21).

– Josias foi atingido pela Palavra de Deus, porque lhe deu valor. Via a importância da Palavra e quis ouvi-la e, ao ouvi-la, creu nela e, diante desta fé, arrependeu-se de seus pecados e compreendeu a trajetória que o povo de Judá estava traçando, uma situação miserável e que levaria o povo ao exílio, à destruição do reino e de toda aquela sociedade.

– De igual modo, quando ouvimos, hoje em dia, a Palavra de Deus, recebemos a fé (Rm.10:17) e, se crermos em Cristo, também nos arrependemos dos nossos pecados, alcançando a salvação e o perdão dos pecados (Ef.2:8) e tendo, então, assim como teve Josias, o desejo de ganhar almas e livrá-las da ira futura.

II – HULDA, A PROFETISA DO SENHOR

– Diante da ordem de Josias, o sumo sacerdote Hilquias e os que haviam recebido esta mesma incumbência, resolveram consultar a profetisa Hulda, mulher de Salum, filho de Tocate, filho de Hasra, guarda das vestimentas, que morava na segunda parte de Jerusalém.

– Desde logo, é interessante vermos o significado de “Hulda”, que é “doninha”, animal tipo por imundo (Lv.11:29) e que, na Antiguidade, por exemplo, entre os gregos, era considerada como símbolo de “má sorte”.

Tal conotação talvez se deva pelo fato de que as doninhas eram consideradas “pragas” porque costumam destruir as plantações, como também, como são carnívoras, se alimentam de aves domésticas, de ovos e de pequenos roedores.

Aliás, esta qualidade de alimentar-se de pequenos roedores, fez com que as “doninhas”, muitas vezes, fossem utilizadas para captura de ratos e diminuição de sua proliferação, assim como os gatos.

– Não sabemos porque “Hulda” recebeu este nome, já que a “doninha” não era bem vista na cultura israelita, mas o fato é que, como profetisa, ela foi levantada por Deus para “extirpar os ratos”, ou seja, denunciar o pecado do povo e procurar, mediante sua mensagem, extirpar o pecado.

A tradição judaica, aliás, costuma afirmar que Jeremias foi levantado para pregar aos homens e Hulda, para as mulheres, numa demonstração de que Deus queria dar oportunidade a todos para se arrepender dos seus pecados, antes de lançar o juízo máximo sobre Judá.

– Hulda era casada com Salum, que era o guarda das vestimentas, ou seja, era o responsável pelas vestimentas sacerdotais, de forma que se tratava de um sacerdote ou de um levita e, quase certamente, Hulda também era da tribo de Levi, já que os casamentos tinham de se dar dentro da mesma tribo (Nm.36:8).

A tradição judaica, inclusive, afirmar que ela era parente de Jeremias, que, como sabemos, era também de linhagem sacerdotal (Jr.1:1).

– Hulda morava na “segunda parte de Jerusalém”, ou seja, na periferia da cidade, na parte mais nova da cidade, a demonstrar, portanto, que não frequentava o palácio nem tampouco pertencia à elite sacerdotal.

Seu marido exercia um cargo subalterno, de modo que o fato de ter sido procurada pelo sumo sacerdote Hilquias não era por causa de sua posição social, mas, sim, por causa de sua espiritualidade, por ser reconhecida por todos como uma mulher de Deus.

– Não era fácil ser, naqueles dias, uma mulher de Deus. O povo, como dissemos, estava distanciado dos caminhos do Senhor e a reforma religiosa de Josias apenas dava os primeiros passos.

Vimos que o próprio sumo sacerdote e o escrivão do reino não davam muito valor às coisas espirituais, não entendendo o significado da reparação do templo, preocupando-se apenas com os aspectos materiais, como as finanças e a organização dos trabalhos dos encarregados da obra.

– Segundo a tradição judaica, Hulda, além do mais, trazia uma mensagem semelhante a de Jeremias, de modo que também não tinha uma mensagem agradável e que conquistasse popularidade, pois estaria a denunciar os erros do povo e a necessidade de um arrependimento sob pena de serem todos levados para o exílio e de Jerusalém e o templo serem destruídos.

– No entanto, Hilquias e os demais incumbidos pelo rei sabiam que Hulda era uma mulher de Deus e que, se era necessário consultarem ao Senhor, seria ela quem poderia dar uma mensagem a este respeito.

Alguns rabinos judeus perguntam-se porque Jeremias não foi consultado e, sim, Hulda.

Alguns entendem que Jeremias não estaria em Jerusalém naquela ocasião, enquanto outros acham que foram atrás de Hulda porque teria ela uma mensagem mais suave, menos dura que Jeremias por ser mulher.

OBS: Eis o que diz o Talmude:”…A Guemara pergunta: Mas se Jeremias fosse encontrado lá, como ela poderia profetizar? Seria falta de respeito a Jeremias, que era superior dela, que ela profetizasse na presença dele.

Os Sábios da escola de Rav dizem em nome de Rav: Hulda era uma parente próxima de Jeremias e ele não se opôs a que ela profetizasse na presença dele (…) Os Sábios da escola de Rabbi Sheila dizem:

Porque as mulheres são mais compassivas, e ele [Josias, observação nossa] esperava o que ela lhes diria não seria tão duro(…) Rabbi Yohanan deu uma resposta diferente: Jeremias não estava lá naquela ocasião, porque ele foi trazer de todas as dez tribos do exílio…” (Tratado Megillah 14b) (Disponível em: http://www.sefaria.org/Megillah.14b.7?lang=bi&with=all&lang2=en Acesso em 01 mar. 2017)(tradução nossa de texto em inglês).

– Nos dias de hoje, não é diferente. Vivemos dias de apostasia espiritual, pois são os dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja (Mt.24:12), onde a maior parte das lideranças está completamente envolvida na burocracia eclesiástica, desgastando-se e ocupando a esmagadora parte de seu tempo com os aspectos materiais, tais como construções, finanças e outros temas administrativos, desprezando “o livro do Senhor”, que se encontra perdido na casa de Deus, que se encontra esquecido no dia-a-dia dos líderes, que são muito mais gestores, na atualidade, do que pastores.

– O resultado é que o povo está cada vez mais distante do Senhor, despercebido, correndo seríssimo risco de perder o arrebatamento e de, assim como o povo de Judá, sofrer a ira futura de Deus. São pouquíssimos os que agem como Josias que, ouvindo o teor da Palavra, resolve arrepender-se (e o “rasgar dos vestidos” é sinal de arrependimento e humilhação) e pedir a orientação divina para poder tentar impedir ser alvo deste juízo vindouro, bem como encontrar um meio para salvar alguns, arrebatando-os do fogo (Jd.23).

– Mas, mesmo diante de uma apostasia espiritual e de uma indiferença das lideranças com relação às profecias bíblicas, há sempre aqueles que constituem o remanescente fiel, normalmente em posições humildes, onde não despertam a curiosidade nem a ambição dos “poderosos”, daqueles que estão tão envolvidos com as coisas materiais que não dão valor algum às coisas espirituais.

– Hulda era uma destas pessoas. Conhecida por ser profetisa, mas que morava na periferia de Jerusalém, que era casada com uma pessoa que tinha uma função subalterna, mas que, diante da ordem real para que se pudesse saber algo a respeito dos juízos divinos mencionados na lei, foi lembrada, porque se tratava de uma pessoa que tinha o Espírito Santo, que tinha intimidade e comunhão com Deus.

– Será que somos lembrados por alguém quando há necessidade de se obter uma orientação divina ou de se saber algo da Palavra de Deus? Será que temos testemunho que agrada a Deus e que, portanto, somos reconhecidos pelos que nos cercam como pessoas de Deus, como homens ou mulheres de Deus?

– Muitos, na atualidade, ambicionam cargos e posições. Querem estar no púlpito, querem ter ou aquele título, querem ter “respeitabilidade” com base na hierarquia, com base na organização administrativa.

Entretanto, precisamos ser como Hulda, sermos reconhecidos como homens e mulheres que têm intimidade com Deus, que sejam dotados de conhecimento das Escrituras e que sejam abençoadores de quem está ao redor. Qual é o fruto do nosso reconhecimento em nossa igreja local e entre os irmãos? Somos Hulda ou os emissários de Josias? Pensemos nisto!

– Outra lição que Hulda nos dá é que, apesar de ser profetisa, ela se mantinha no seu lugar, morando na segunda parte de Jerusalém juntamente com seu marido, que era o guarda das vestimentas sacerdotais.

Embora fosse uma mulher de Deus, o “sucesso não subiu à cabeça” e ela continuava a exercer as suas funções de mulher de Salum.

– O título da nossa lição é “Hulda, a mulher que estava no lugar certo”. Este lugar certo não deve ser entendido apenas como o fato de ser uma mulher de Deus que podia ser consultada num momento difícil como o que vivia o povo de Judá, uma mulher que havia se disposto a servir a Deus e que era acessível aos emissários do rei Josias, mas também a mulher que foi encontrada na sua casa, cuidando de suas tarefas de esposa, apesar de ser um profetisa, de ter um ministério singular no meio do povo de Judá.

– Devemos sempre ocupar as posições que nos são dadas pelo Senhor, como também saber compatibilizar os diversos papéis que exercemos na sociedade de acordo com a vontade do Senhor.

Hoje, infelizmente, vemos muitas mulheres que, em sendo usadas por Deus na Sua obra, querem galgar posições que não lhes foram dadas. Quantas mulheres que por terem dons espirituais querem ser “pastoras”, como se existisse ministério feminino na Igreja?

Hulda não era assim: embora fosse profetisa, não deixava de exercer as suas funções de mulher, submissa a Salum, ainda que fosse ele um mero guardião das vestimentas sacerdotais.

– É fundamental que saibamos ocupar o nosso lugar e dele não sairmos. O apóstolo Paulo diz que somos “membros em particular do corpo de Cristo” (I Co.12:27) e isto significa que temos um lugar específico e insubstituível na Igreja, lugar onde somos postos pelo Senhor Jesus, que é a cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23).

Com efeito, o mesmo apóstolo diz que somos “batizados em um Espírito, formando um corpo” (I Co.12:13), ou seja, somos inseridos, “mergulhados” no corpo de Cristo, para ali ocuparmos uma determinada posição, uma determinada função.

– Ora, enquanto “membros em particular” do corpo de Cristo, não podemos sair jamais desta posição nem deixar de exercer a função que nos foi determinada pela “cabeça”, sob pena de prejudicarmos todo o corpo e deixarmos de ser um membro para ser um “tumor”, pois, como ensina a medicina, o tumor é “uma proliferação celular anormal, excessiva e descoordenada, que não cessa quando o estímulo inicial termina”.

– Se deixamos o nosso lugar, se não mais exercemos as funções que nos mandou Nosso Senhor e Salvador, passamos a causar um mal para o organismo, que é a Igreja, pois agimos de forma desordenada, excessiva e anormal, ou seja, fora das normas, de modo que passamos a fazer mal ao organismo.

– Tanto assim é que a medicina nos ensina que os tumores, via de regra, têm duas partes: o parênquima, onde estão as células tumorais e o estroma, onde estão vasos sanguíneos, tecidos conjuntivos e células de defesa do organismo que passam a atacar o tumor, numa clara demonstração que o tumor é um “corpo estranho” para o organismo, que contraria o seu desenvolvimento e que, portanto, deve ser combatido.

– Não foi por outro motivo que o apóstolo Paulo, em uma das muitas lições que transmitiu a Timóteo, disse-lhe para que “cumprisse o seu ministério” (II Tm.4:5), ou seja, fizesse tudo aquilo para o que fora determinado por Cristo na Igreja. Hulda não deixou o seu lugar, por isso cumpriu o seu ministério.

– Hulda não quis alterar a sua posição por causa do ministério que havia recebido e, por isso, foi facilmente encontrada pelos emissários do rei Josias, porque não deixava a sua residência na segunda parte de Jerusalém.

– Esta atitude de Hulda torna-se ainda mais impressionante quando a tradição judaica diz que ela teria ensinado a lei e formado uma escola para tanto, algo que consta do “targum”, ou seja, do comentário rabínico de II Rs.22:14.

Se isto for efetivo, vemos que Hulda, mesmo assumindo uma posição de destaque entre os estudantes da lei, algo similar a Elias e Eliseu, continuava humildemente na sua residência e como mulher de Salum.

– Que bom seria que os salvos, em nossos dias, também adotasse esta mesma conduta de Hulda, mantendo-se no seu devido lugar, ou nos seus devidos lugares, ante os diversos papéis que exercemos na sociedade e, em todos eles, glorificássemos ao nome do Senhor. Se todos entendêssemos cada papel que exercemos e o fizéssemos com humildade e dedicação.

– Quando os emissários indagaram Hulda a respeito das palavras do livro e do furor do Senhor que havia se derramado sobre os judaítas por causa da sua desobediência, como bem observara o rei Josias (II Rs.22:13; II Cr.34:21), Hulda profetizou, tomada que foi pelo Espírito Santo, trazendo a seguinte mensagem:

“Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Dizei ao homem que vos enviou a mim: Assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre este lugar, e sobre os seus moradores, a saber, todas as palavras do livro que leu o rei de Judá.

Porquanto me deixaram e queimaram incenso a outros deuses, para me provocarem à ira por todas as obras das suas mãos, o Meu furor se acendeu contra este lugar e não se apagará.

Porém ao rei de Judá, que vos enviou a consultar ao Senhor, assim lhe direis: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel, acerca das palavras que ouviste:

Porquanto o teu coração se enterneceu e te humilhaste perante o Senhor, quando ouviste o que falei contra este lugar, e contra os seus moradores, que seria para assolação e para maldição, e rasgaste os teus vestidos, e choraste perante mim, também Eu te ouvi, diz o Senhor, pelo que Eu te ajuntarei a teus pais, e tu serás ajuntado em paz à tua sepultura, e os teus olhos não verão todo o mal que hei de trazer sobre este lugar” (II Rs.22:15-20; II Cr.34:23-28).

– Para que não houvesse qualquer dúvida de que era o Senhor quem estava falando, Josias é mencionado, em primeiro lugar, como “o homem que vos enviou a mim”.

Evidentemente que Hulda não se dirigiria ao rei como “homem”, mas o fato é que quem falava era o Senhor e para Deus não há acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34), sendo todos “meros homens” (Sl.9:20).

– Ao tratar Josias como “homem”, o Senhor, através da profetisa Hulda, também faz com que os emissários do rei enxergassem sua pequenez e que de nada valiam as suas posições em Judá e que deveriam eles também, a exemplo do rei, priorizar as coisas espirituais ao invés das materiais.

Que esta mensagem de Hulda possa também adentrar nos corações de muitos da “elite eclesiástica” de nossos dias…

– Josias havia mandado emissários para consultar o Senhor e aqueles emissários haviam resolvido ir até Hulda para esta consulta, e Deus manda a mensagem para Josias, uma mensagem direta e objetiva.

Deus continua o mesmo: não “manda recado”, não deixa pessoa alguma em dúvida, sabe bem para quem está a falar e sempre o faz de modo objetivo. Este, aliás, é um importante critério para diferenciarmos as profecias das “profetadas”.

– A mensagem, então, tem início. Deus diz que mandaria sobre Judá todas as maldições preditas no livro da lei, não alteraria a Sua Palavra, porque Ele é um Deus fiel, que vela sobre a Sua Palavra para a cumprir (II Tm.2:13; Jr.1:12), Palavra esta que o Senhor pôs acima do Seu próprio nome (Sl.138:2).

– As palavras do Senhor não hão de passar (Mt.24:35; Lc.21:33) e, portanto, tudo o que está registrado nas Escrituras Sagradas há de se cumprir, queiramos, ou não.

Assim como a ira divina recairia sobre Judá por causa da sua desobediência, também a ira de Deus recairá sobre a Terra após o arrebatamento da Igreja, é algo inevitável.

– Deus é fiel e, diante da desobediência do povo, não caberia outra coisa senão a aplicação das maldições que, aliás, haviam sido solenemente proclamadas no monte Ebal pelas tribos de Ruben, Gade, Aser, Zebulom, Dã e Nafltali (Dt.27:13; Js.8:30-35), firmando o que se denominou entre os estudiosos da Bíblia de “pacto palestiniano”.

– Ao longo da história da humanidade, todas as vezes que Deus firmou um pacto ou uma aliança com a humanidade, Ele cumpriu a Sua parte mas os homens, desgraçadamente, não foram fiéis, de sorte que sofreu a humanidade as consequências desta infidelidade. Os judaítas perderiam a terra que haviam recebido do Senhor diante de sua rebeldia.

– Nos dias de hoje, não é diferente. A regra da dispensação da graça, do “novo pacto”, da “nova aliança” (I Co.11:25) é que se crermos e formos batizados, seremos salvos, mas, se não crermos, seremos condenados (Mc.16:16)., ou, ainda, aquele que crê no Filho tem a vida eterna, mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece (Jo.3:36).

– Todos quantos crerem em Jesus Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador serão salvos, mas os que não crerem, sofrerão a ira de Deus. Somente as fé em Jesus e o arrependimento dos pecados pode nos livrar da ira futura.

Lembremos disto e não nos comportemos como as virgens néscias, que deixaram passar a oportunidade de viverem na companhia do noivo (Mt.25:1-13).

– A mensagem profética de Hulda é claríssima: o povo seria levado ao exílio, sofreria as maldições da lei porque havia deixado o Senhor e queimado incenso a outros deuses, provocando a ira do Senhor.

A ira de Deus nunca se manifesta como ação, porque Deus é bom (Mt.19:17; Mc.10:18; Lc.18:19), mas sempre como reação à impiedade humana, à rebeldia dos homens, ao abandono de Deus por parte da humanidade.

Queremos nos livrar da ira de Deus? Nunca o deixemos nem o troquemos por ídolos!

– Hulda diz que o furor de Deus não se apagaria, porque, como profetisa que era, Hulda já adiantava ao rei Josias que o povo não se arrependeria, apesar de todas as mensagens proféticas que se diziam desde o reinado de Manassés.

O povo continuava a não dar ouvidos à voz do Senhor, como nos dias do reinado do avô de Josias (II Cr.33:10).

– Entretanto, nesta mesma mensagem, Hulda disse que o destino de Josias seria diferente. Como ele havia se humilhado e se arrependido, ao se sentir tocado com as palavras do livro do Senhor, ele não sofreria a ira divina, seria recolhido aos seus pais antes que o juízo viesse sobre Judá.

– Josias havia se arrependido e se humilhado diante de Deus, havia chorado perante a face do Senhor e, por isso, tinha sido ouvido pelo Senhor e não haveria de sofrer a ira divina, seria retirado de Judá antes que o povo fosse mandado para o exílio.

Se quisermos ser ouvidos por Deus, precisamos, antes de mais nada, nos humilharmos e nos arrependermos de nossos pecados, numa contrição sincera e que vem do coração.

– Hulda disse que o coração de Josias havia enternecido, ou seja, ficado condoído, se sensibilizado com as palavras do livro do Senhor.

Não era um coração de pedra, mas, sim, um coração de carne (Ez.11:19; 36:26), ou seja, alguém que havia realmente assumido a sua condição de pecador e, diante do que ouvira na Palavra, resolvera servir a Deus e se arrepender de seus pecados, mudar de mentalidade, mudar de vida.

A palavra hebraica é “rakak” (רכך ), que significa mesmo “tornar mais tenro, mais fraco ou suave”.

– A conversão precisa provir do coração, do íntimo do ser humano, “de dentro para fora”, sem o que não terá qualquer validade.

O Senhor mostrou que conhece o que há no interior do homem (I Sm.16:7) e quando nos humilhamos e oramos, Ele nos ouve, perdoa os nossos pecados e sara a nossa terra (II Cr.7:14).

– Assim como Josias foi poupado da ira divina por causa de sua conversão, a Igreja será poupada da ira que será derramada sobre a Terra na Grande Tribulação.

Paulo foi incisivo ao dizer que Jesus Cristo nos livra da ira futura (I Ts.1:10), o que Nosso Senhor e Salvador confirmaria ao ditar a carta à igreja de Filadélfia para o apóstolo João, quando é dito que seremos guardados DA tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam a terra (Ap.3:10).

– Josias, ao receber esta mensagem do Senhor através da profetisa Hulda, teve um comportamento bem diferente do de seu bisavô Ezequias que, ao saber que a destruição de Judá se daria fora dos seus dias, simplesmente ficou feliz, pouco se importando com a nação ou com as gerações futuras de Judá (II Rs.20:19), o que foi considerado como uma demonstração de soberba e reprovado pelo Senhor (II Cr.32:31).

– Ao saber que o castigo seria inevitável mas que ele seria poupado dele por causa de sua conversão, Josias intensificou a reforma religiosa, não só determinando a reparação do templo, mas também se esforçando para extirpar a idolatria do meio de Judá, levando o povo a celebrar a Páscoa como nunca antes havia ocorrido e a firmar o compromisso de servir a Deus, tendo, inclusive, ido até

 Israel, pois invadiu o território que tinha sido do reino do norte e, inclusive, destruiu os bezerros que haviam sido instituídos pelo primeiro rei do reino de Israel (o reino do norte, o reino das dez tribos), Jeroboão, pondo fim à idolatria que havia sido um dos principais fatores do término daquele reino, cumprindo,

assim, a profecia feita quando da inauguração daquele horrendo culto, séculos antes (I Rs.13:2), para ser mais preciso, segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen, 322 anos antes (II Rs.23:1-25; II Cr.34:23-35:19).

– Nada disso, porém, impediu que Judá fosse levado cativo, porque o povo, apesar dos esforços do rei Josias, não se arrependeu (II Rs.23:26,27). Entretanto, Josias se esforçou por levar o povo ao arrependimento e ao mesmo livramento que lhe havia sido prometido por Deus, demonstrando, ao contrário de Ezequias, altruísmo, amor ao próximo e compaixão, qualidades que devem estar presentes em todos os que servem a Cristo Jesus, que realmente compartilham da Sua natureza. Quem temos sido: Ezequias ou Josias?

– Para finalizar, dois dos portões do Segundo Templo tinham o nome de “Hulda”, não se sabendo se esta denominação foi, ou não, uma homenagem à profetisa. Alguns estudiosos, como Rashi (1040-1105), entendem que sim, dois dos portões do Templo, do lado sul, utilizados tanto para entrada como para saída, foram dados em homenagem não só à profetisa, mas, também, à sua escola.

Se isto for verdadeiro, quem soube manter o seu lugar, acabou honrada com o nome de dois dos cinco portões do Segundo Templo, portões onde se podia entrar e sair, demonstrando que, quando sabemos manter o nosso lugar, reconhecemos que somos “membros em particular” do corpo de Cristo, podemos

ser “livres portões de acesso” à presença de Deus, ou seja, cumprimos nosso papel de ser “embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse”, pessoas em condições de rogarmos, pois, da parte de Cristo, que a humanidade se reconcilie com Deus (II Co.5:20). Temos exercido este papel?

OBS: “…Havia cinco portões para o monte do Templo – os dois portões de Hulda no sul, que eram usado ambos para entrada e para saída…” (Tratado Middot 1:3) (Disponível em: https://archive.org/details/TheBabylonianTalmudcompleteSoncinoEnglishTranslation Acesso em 01 mar. 2017) (tradução nossa de texto em inglês).

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/338-licao-9-hulda-a-mulher-que-estava-no-lugar-certo-i

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