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LIÇÃO Nº 9 – O REINADO DE JOÁS

 

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo dos livros dos Reis, estudaremos hoje um rei de Judá, Joás.

Joás é um exemplo de que devemos vigiar para não perder a salvação

I – UM POUCO DA HISTÓRIA DE JUDÁ

– Os livros dos Reis, embora tratem de ambos os reinos em que se dividiu Israel, até o capítulo 17 do segundo livro dos Reis, trata mais do reino do norte do que do reino do sul, que seria melhor retratado, e com exclusividade, nos livros de Crônicas.

– Assim, é natural que, durante o trimestre, tenhamos nos detido mais no reino do norte. Esta lição, porém, vai se debruçar sobre o reinado de Joás, motivo por que se faz oportuno fazer uma breve síntese da história de Judá, o reino do sul, até a subida do trono de Joás, já que, neste trimestre, na lição 2, deixamos Judá sob o reinado do segundo rei, Abias, filho de Roboão, que havia vencido uma guerra contra Jeroboão (I Rs.15:7,8; II Cr.13).

– Vimos que Judá, após o terceiro ano de Roboão, também entrou no caminho da idolatria, o que fez com que o Senhor permitisse que, pela primeira vez desde que havia se tornado capital de Israel, Jerusalém fosse invadida pelo rei Sisaque, rei do Egito, que levou todo o ouro que existia na cidade e que fora adquirido durante o reinado de Salomão (I Rs.14:21-31).

– Abias, o segundo rei de Judá, filho de Roboão, ainda que tivesse tido um discurso de servo de Deus, notadamente quando da guerra que contra ele empreendeu Jeroboão, manteve-se na idolatria (I Rs.15:3).

– A situação de Abias é interessante. Ao observarmos o seu discurso ao exército de Israel (o reino do norte) antes da batalha em que se sairia vencedor contra Jeroboão (II Cr.13:4-12), parece que estamos diante de um fervoroso servo do Senhor, um eloquente pregador que tenta convencer os israelitas a voltar a servir a Deus, a deixar os “pecados de Jeroboão”.

– No entanto, quando vamos ao texto sagrado, vemos que ele “andou nos pecados que seu pai tinha cometido antes dele e seu coração não foi perfeito para com o Senhor, seu Deus, como o coração de Davi, seu pai” (I Rs.15:3), a nos mostrar que o Senhor não Se deixa enganar com as aparências e que bem conhece o que há no coração do homem (I Sm.16:7; Jo.2:25).

– Abias venceu, sim, a guerra contra Jeroboão, mas isto se deveu muito mais ao fato de que Jeroboão, com esta guerra, consumava a sua rebeldia contra o Senhor, querendo conquistar as duas tribos que, de antemão, o Senhor disse que havia reservado para a casa de Davi, do que pelas supostas virtudes de Abias.

– Abias teve um curto reinado, de apenas três anos, sendo, então, sucedido por Asa, que teve um longo reinado, de quarenta e um anos (I Rs.15:9).

– O significado do nome “Asa” é “médico” e, como sabemos, os médicos são profissionais que, pelo seu conhecimento, ministram remédios para a cura de seus pacientes, para o restabelecimento da saúde deles. Foi bem o que fez o rei Asa em Judá.

– Depois de dezessete anos de desvio espiritual, Asa fez com que o país retornasse a adorar a Deus, foi um rei o que fez o que era reto aos olhos do Senhor.

Começou combatendo a idolatria, tirando os rapazes escandalosos do país (prostitutos homossexuais que faziam dos cultos idolátricos, principalmente os deuses da fertilidade – Baal e Aserá), como também removendo a sua própria mãe, que havia feito um ídolo de Aserá, ídolo que foi queimado junto ao ribeiro de Cedrom (I Rs.15:12,13).

– Asa decidiu pôr fim à idolatria, inclusive rompendo com vínculos familiares, uma bela figura dos servos de Jesus Cristo, que têm de fazer também esta espécie de rompimento se isto for necessário para servirmos a Deus (Mt.10:37; 19:29; Lc.14:26).

– Com Asa se manteve a inimizade entre Israel e Judá, pois a nova dinastia que assumiu em Israel, com Baasa, também empreendeu guerra contra Judá.

– Em seu longo reinado, Asa teve de enfrentar algumas guerras, sendo que, na última delas, em vez de confiar em Deus, como fizera no princípio do seu reinado, resolveu fazer alianças e isto foi objeto de repreensão divina, tendo Asa maltratado o profeta Hanani por causa de tal mensagem.

O resultado disso foi que o rei ficou doente dos pés e esta doença o levou à morte, sem que os médicos pudessem curá-lo (II Cr.16:7-13).

– Asa foi sucedido por seu filho Josafá, cujo nome significa “Javé julga”, que já iniciou seu reinado se fortificando contra Israel. Assim como seu pai, Josafá fez o que era reto aos olhos do Senhor, buscando a Deus e não aos baalins (II Cr.17:3,4), tendo reinado vinte e cinco anos (I Rs.22:42).

– No entanto, após ter se fortificado contra Israel, Josafá cedeu à política de alianças empreendida por Acabe e, pela primeira vez desde a divisão do reino, Judá e Israel firmaram paz.

– Esta atitude de Josafá foi extremamente danosa para o reino de Judá. Ao firmar paz com Acabe, Josafá chegou mesmo a aparentar-se com aquele rei, de modo que a filha de Acabe, Atalia, casou-se com o filho de Josafá, Jeorão, misturando, assim, as linhagens reais de ambos os reinos.

– Atalia, criada na idolatria e no culto a Baal, vai morar em Judá e leva para lá o culto a Baal. Apesar de Josafá ter tido todos os esforços para levar o povo a adorar a Deus, tendo, inclusive, tido cuidado de instruir o povo na lei de Moisés (II Cr.17:7-9), cometeu deste deslize, que traria enormes consequências para o reino de Judá.

– Não há comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14) e, notadamente, no que se refere à constituição de famílias, ao casamento, jamais se pode permitir o jugo desigual, porquanto o casamento estabelece a mais íntima comunhão entre um homem e uma mulher e fica sobremodo difícil que se tenha uma vida dedicada a Deus quando o seu cônjuge é incrédulo.

– Josafá envolveu-se tanto com Acabe que acabou participando com ele de uma guerra contra a Síria, Síria com quem, tempos antes, seu pai Asa havia combatido os próprios israelitas. Nesta guerra, inclusive, Acabe foi morto e Josafá só escapou porque Deus lhe deu grande livramento (I Rs.22:32,33).

– Apesar de ter dado livramento a Josafá, o Senhor não deixou de repreender o rei por causa desta aliança por intermédio do profeta Hanani (II Cr.19:1-3).

– Mesmo após esta experiência e da repreensão divina, Josafá manteve a sua aliança com os reis de Israel e o vemos num empreendimento comercial com o rei Acazias, filho de Acabe, para fazerem navios, mas o Senhor, uma vez mais demonstrando Seu desagrado com esta aliança, predisse a ruína desta iniciativa por intermédio do profeta Eliézer e os navios realmente se quebraram, sem que pudessem ter ido a Társis, como era previsto (II Cr.20:35-37).

– Apesar deste prejuízo financeiro, Josafá não desistiu de manter sua aliança com os reis de Israel e o vemos, novamente, em guerra ao lado do rei de Israel desta feita, o rei Jorão, que havia sucedido seu irmão Acazias, em uma guerra contra Moabe, no episódio em que o profeta Eliseu realiza o milagre do fornecimento de água para os exércitos de Israel, Judá e Edom. Aqui, também, o profeta Eliseu deixa bem claro que Deus só iria livrar os reis por causa de Josafá, pois não tinha compromisso algum com Jorão.

– Notamos, portanto, que a insistência de Josafá em se manter aliado e aparentado com os reis de Israel foi uma atitude de rebeldia contra Deus e abriu uma oportunidade para que o adversário de nossas almas tentasse, de algum modo, perturbar o progresso e desenvolvimento do plano de Deus para a salvação, pois sabido era que o Messias viria da linhagem de Davi.

– Por causa desta aliança, Josafá, como seu próprio nome afirma, foi julgado por Deus, tendo prejuízos por causa desta aliança, mas o prejuízo maior viria para Judá, depois da morte deste rei.

– Não tendo Josafá se distanciado da casa de Onri (ou casa de Acabe), o fato é que, quando morreu, quem subiu ao trono foi seu filho Jeorão, cuja mulher, lembramos, era Atalia, filha de Acabe e Jezabel.

– O significado do nome “Jeorão” é “Javé é exaltado”. Temos aqui mais um nome profético, pois podemos resumir o reinado desta personagem como sendo a exaltação de Deus diante da rebeldia deste monarca.

– Depois de dois reis fiéis ao Senhor, Judá terá, novamente, um rei ímpio. Jeorão reinou oito anos, tendo, em vez de seguir o exemplo de seu pai Josafá, resolvido andar nos caminhos dos reis de Israel, com quem tinha se aparentado (II Rs.8:16-18).

– Eis os males do jugo desigual. Casando-se com Atalia e ante a própria insistência de seu pai Josafá em manter laços com Acabe e seus sucessores, Jeorão acabou sendo influenciado por Atalia, passando a ter uma vida contrária à vontade de Deus.

É isto o que quase sempre acontece com quem casa em jugo desigual, pois, como já dizia o profeta Ageu, não é o santo que santifica o impuro, mas o impuro que contamina o santo (Ag.2:11-14).

– Como resultado desta impiedade, o Senhor permitiu que os edomitas se revoltassem contra Judá, assim como Libna (II Rs.8:20-24).

– Jeorão, assim que assumiu o trono, matou a todos os seus irmãos (II Cr.21:4). Nítida a atuação satânica neste procedimento: o objetivo era destruir a casa de Davi e, deste modo, não se teria o Messias.

– Entretanto, apesar da impiedade de Jeorão e de sua atitude, as Escrituras nos dizem que o Senhor não queria destruir a casa de Davi em atenção à própria promessa messiânica (II Rs.8:19; II Cr.21:7), de modo que toda esta iniciativa acabou por fracassar, pois nenhum dos planos do Senhor pode ser frustrado (Jó 42:2 NAA).

– Neste seu desastrado reinado, Jeorão acabou sendo ferido de uma doença incurável e, depois de sofrer dois anos com esta terrível enfermidade, acabou morrendo (II Cr.21:18-20), sendo dito que não deixou saudade alguma, tamanha a sua maldade.

– Morto Jeorão, assumiu o trono o seu filho Acazias, filho de Jeorão com Atalia, neto de Acabe. Veja que o nome deste rei era igual ao do primogênito de Acabe, que o sucedeu, a demonstrar o nível de afinidade que havia entre as duas famílias a este tempo e, naturalmente, o comprometimento com a idolatria.

– Acazias era o filho mais novo de Jeorão, porque os arábios, que haviam guerreado contra os judaítas, tinham matado todos os outros filhos do rei (II Cr.22:1). Havia, portanto, uma grande manobra diabólica para exterminar a casa de Davi.

– Acazias não havia sido preparado para reinar e, ao assumir o trono, teve como conselheira sua mãe Atalia. Reinou apenas um ano, mas o suficiente para prosseguir na impiedade de seu pai. Afinal de contas, havia sido criado num péssimo ambiente familiar.

– Como prova de que era tão somente mais um seguidor da idolatria, acabou sendo morto por Jeú, quando este assumiu o trono de Israel e exterminou a casa de Acabe, pois Acazias estava indo visitar o rei Jorão, quando soube que ele havia sido ferido em batalha.

Encontrou sua comitiva com o general rebelde, que havia sido ungido por ordem divina para reinar sobre Israel, e acabou recebendo a sentença de todos os integrantes da casa de Acabe, sendo, então, morto por Jeú (II Rs.10:12-14).

– Como consequência disto, Atalia, filha de Acabe e Jezabel, vendo que sua linhagem havia sido destruída em Israel, usurpou o trono de Judá, ou seja, tomou posse do trono, fazendo-se rainha e mandando matar toda a família real (II Rs.11:1).

– Era o ato final da destruição da casa de Davi. Atalia, vendo que sua família havia sido dizimada, resolveu, também, destruir a descendência de Davi, mas Jeoseba, filha do rei Jeorão, irmã de Acazias, tomou a Joás, filho de Acazias, que era, então, apenas um recém-nascido, escondendo-o na casa do Senhor por seis anos, tendo, então, escapado do extermínio. Deus não permitiu que a casa de Davi fosse destruída, pois Deus queria salvar a humanidade! (II Rs. 11:1-3).

– Jeoseba significa “Javé é juramento” e esta princesa foi usada por Deus para manter o Seu compromisso, a Sua promessa dada a Davi e a toda a humanidade de que da sua descendência viria o Messias.

– São impressionantes as coisas que Deus faz. A criança ficou escondida por sete anos na casa do Senhor, que ficava do lado do palácio real. Quando o Senhor esconde, amados irmãos, fica escondido, ninguém consegue achar.

– Ademais, isto mostra como durante estes sete anos, o culto a Deus foi completamente desprezado, deixado de lado, pois se tornou um seguro esconderijo para o pequeno príncipe.

Agiu a princesa Jeoseba juntamente com o sumo sacerdote daquele tempo, que era Joiada, cujo nome significa “Javé conhece”.

– No sétimo ano, o sumo sacerdote Joiada resolve destronar Atalia e pôr no trono o legítimo descendente de Davi, tendo-o feito.

Com imediata aceitação popular, Joás foi ungido rei no templo e Atalia morta, assim como também todos os sacerdotes de Baal, sendo destruído o templo que havia sido construído para esta divindade em Jerusalém (II Rs.11:4-21).

– É neste contexto que sobe ao trono Joás.

II – O REINADO DE JOÁS DURANTE A VIDA DE JOIADA

– Joás (cujo nome significa “Javé é forte”) assumiu o trono com apenas sete anos de idade, tendo reinado quarenta anos. O texto sagrado já mostra que seu reinado teve seus dois momentos: durante o tempo de vida do sumo sacerdote Joiada e depois da morte dele.

– Com sete anos de idade, sem ter qualquer familiar vivo mais experiente, naturalmente que Joás não poderia assumir o reino de pronto. Fora entronizado, dera-se fim à usurpação de Atalia, mas o governo foi efetivamente exercido pelo sumo sacerdote Joiada.

– Joiada fez um pacto entre o Senhor, o rei e o povo, fazendo com que se comprometessem a que fossem o povo do Senhor, como também o pacto entre o rei e o povo (II Rs.11:17).

– Ocorria em Judá um avivamento espiritual. O povo voltava a confessar que era a “propriedade peculiar de Deus entre os povos”, “o reino sacerdotal” e o “povo santo” (Ex.19:5,6).

– Note-se que, primeiramente, Joiada fez o povo e o rei reconhecerem que deveriam ter um relacionamento com Deus, só depois, em segundo plano, fez-se um pacto entre o rei e o povo, certamente renovando o compromisso que tinham de ser governados pela casa de Davi, de onde viria o Messias.

– Não há como se ter uma restauração se Deus não for posto em primeiro lugar, como prioridade. Os judaítas deveriam se lembrar que eram o povo do Senhor e, só então, poderiam pensar em ter dias melhores nesta peregrinação terrena.

– O Senhor Jesus bem disse a Seus discípulos que devemos buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça e toda a dimensão terrena nada mais será do que acréscimos (Mt.6:33).

– Joiada recolocava o povo nos estatutos e mandamentos do Senhor e, por isso mesmo, passaria para a história de Judá como um dos grandes homens daquela nação.

– Assim que firmaram este compromisso, os judaítas entraram na casa de Baal e a derribaram, como também os seus altares e as suas imagens foram totalmente quebradas, tendo matado Matã, sacerdote de Baal perante os seus altares. O culto institucionalizado a Baal era exterminado de Judá (II Rs.11:18).

– Quando há verdadeira conversão, abandonam-se as práticas pecaminosas, dos ídolos nos convertemos ao Deus vivo e verdadeiro para servi-l’O (I Ts.1:9).

– Durante todo o tempo de vida de Joiada, Joás serviu ao Senhor, tendo feito o que era reto aos olhos do Senhor (II Rs.12:1,2).

Não poderia ser diferente, uma vez que Joás foi criado no templo, escondido que estava, aprendendo, assim, a lei do Senhor e não tendo qualquer formação idolátrica. Tinha a Joiada como verdadeiro pai, já que viveu como um órfão.

– Joás teve, como primeira iniciativa própria, a determinação para que a casa do Senhor fosse reparada. O templo estivera abandonado durante todos os reinados posteriores a Josafá e tinha de ser reparado.

– Conquanto seja literal esta preocupação de Joás, temos aqui uma lição espiritual importante, a de que devemos dar prioridade, em nossas vidas, à adoração ao Senhor, às coisas de Deus. A primeira atitude de Joás foi buscar reparar a casa do Senhor.

– Hoje a casa do Senhor somos nós (Hb.3:6) e, também, precisamos estar buscando sempre repará-la, melhorá-la a cada dia, pois temos de ser “templo santo no Senhor” e “morada de Deus no Espírito” (Ef.2:20,21).

– Joás mandou que todo o dinheiro das coisas santas que se trouxesse à casa do Senhor fosse recebido para reparar as fendas da casa. Veja que “fenda”, no original hebraico, significa “vazamento”, “brecha”. Precisamos cuidado para que não haja “brechas” em nossas vidas espirituais, que não demos lugar ao inimigo, pois é a partir das “brechas” que vem a destruição (Jr.39:2; 52:7-11).

– No entanto, apesar da ordem dada pelo rei, quando ele completou 23 anos de idade, tal reparação das fendas ainda não havia sido feita e o rei chamou o sumo sacerdote Joiada para que ele justificasse tal inércia (II Rs.12:6,7).

– É oportuno observar que a repreensão de Joás era de todo pertinente. É evidente que Joiada teve de assumir as funções de governante de fato de Judá e isto comprometeu a sua atuação como sumo sacerdote. No entanto, ao passar do tempo, quando o rei começou a ter condições de governar o país, era mister que Joiada deixasse este “ativismo” e se dedicasse às suas funções, sendo que havia ordem real para reparar as fendas da casa.

– Nos dias hodiernos, muitos são os obreiros que têm tido problema semelhante. Estão demasiadamente envolvidos com aspectos administrativos e deixam de lado a “reparação das fendas da casa do Senhor”, negligenciam as suas principais funções, que são a de apascentar o rebanho do Senhor, cuidando dele, servindo de exemplo ao rebanho (I Pe.5:1-3).

– Por isso mesmo, os obreiros precisam dar prioridade à vida espiritual própria, cuidando de si mesmo e da doutrina (I Tm.4:16), “reparando as fendas da sua própria casa”, para que possa guiar os demais membros da igreja local sob sua responsabilidade na senda para o céu.

– Joás mandou que não se tomasse mais dinheiro mas que fossem os recursos empregados para a reparação das fendas da casa (II Rs.12:7).

Aqui temos mais uma preciosa lição: os recursos materiais que são trazidos à casa do Senhor devem ser dirigidos para a obra do Senhor.

É lamentável vermos que, hoje em dia, há inúmeros casos de desvio de finalidade na aplicação dos recursos recolhidos junto à membresia.

– Após esta repreensão do rei Joás, os sacerdotes, a começar de Joiada, concordaram com o rei e, para que houvesse maior transparência, criaram a figura do gazofilácio, uma arca, com o buraco na tampa, que puseram ao pé do altar para que qualquer que quisesse contribuir com o templo, pudesse ali colocar a sua oferta, havendo recolhimentos periódicos do que era ali trazido (II Rs.12:9,10).

Foi perto desta peça que o Senhor Jesus, no segundo templo, observou a oferta da viúva pobre (Mc.12:41-44).

– O sistema de contribuição, como se vê, começa pela voluntariedade. A peça ficava perto do altar, local que poderia ser acessível a qualquer israelita, de modo que se tem aqui o ensino que todos devem contribuir para o sustento da obra de Deus. Não havia obrigação alguma, todos poderiam ali contribuir se quisessem. Esta voluntariedade continua sendo a nota característica da contribuição financeira em nossa dispensação (II Co.9:7).

– A propósito, segundo o historiador Flávio Josefo, o motivo pelo qual Joiada não teria cumprido a ordem de Joás teria sido precisamente porque o sumo sacerdote achou que o povo não contribuiria voluntariamente para a obra e, assim, não queria forçá-lo a fazê-lo.

OBS: “…Como a conservação do templo tinha sido inteiramente descuidada sob o reino de Jeorão, de Acaziase de Atalia, Joás, rei de Judá, resolveu restaurá-lo e ordenou a Jeoiada que mandasse levitas por todo o reino para obrigar a todos os súditos a contribuir cada qual com um meio siclo de prata.

Jeoiada julgou que o povo não daria de boamente essa contribuição e, assim, não cumpriu a ordem… (Antiguidades Judaicas, IX, 8, 391. In: JOSEFO, Flávio. Trad. de Vicente Pedroso. História dos hebreus, v.1, pp.208/9)

– Além do sistema da arrecadação, criou-se, também, um sistema de contagem do dinheiro arrecadado, dinheiro este que era, depois, ensacado, guardado. Tinha-se, pois, uma espécie de contabilidade, como também a guarda de tal numerário.

– Observemos, portanto, toda a transparência que deve nortear a questão financeira na obra de Deus.

Em nossa dispensação, não é diferente. Lembremos que o apóstolo Paulo fez questão que as igrejas contribuintes com as ofertas aos pobres da Judeia elegessem pessoas de sua confiança para acompanharem o apóstolo na entrega do dinheiro arrecadado e que tudo fosse feito com a máxima honestidade (II Co.8:18-22).

– O dinheiro era entregue aos que faziam a obra, o que era distribuído entre os carpinteiros e os edificadores que reparavam a casa do Senhor, como também os pedreiros e os cabouqueiros e os que compravam os materiais para a reparação, não se utilizando tal verba para outras finalidades, mesmo a fabricação de peças para o culto ao Senhor (II Rs.12:11-14).

– Joás acabou por implantar um sistema de distribuição dos recursos trazidos ao templo sem que houvesse mistura entre eles.

Além de somente os recursos arrecadados no gazofilácio serem dirigidos para a reparação das fendas da casa, também o dinheiro do sacrifício por delitos e pecados não eram trazidos à casa do Senhor, mas eram para os sacerdotes (II Rs.12:16).

III – O REINADO DE JOÁS APÓS A MORTE DE JOIADA

– Joiada viveu cento e trinta anos (II Cr.24:15), uma longevidade que já era incomum ao seu tempo, a mostrar como o Senhor o abençoou e como foi uma figura importantíssima para a manutenção do plano de Deus para a salvação da humanidade

– Como prova de que Deus honra os Seus servos (I Sm.2:30), Joiada, embora fosse sumo sacerdote, foi sepultado juntamente com os reis, porque tinha feito bem a Israel e para com Deus e a sua casa (II Cr.24:16).

Bem ao contrário do que ocorrera com o ímpio Jeorão, que, embora sendo rei, não foi sepultado com seus antecessores (II Cr.21:20).

– Neste episódio do sepultamento de Joiada temos uma figura de todo servo fiel a Cristo Jesus, pois, assim como Joiada, sendo sumo sacerdote, alcançou dignidade real ao ser sepultado, também os que perseverarem até o fim serão salvos e manterão a condição de sacerdotes e reis que lhes deu o Senhor Jesus (Ap.1:6) e, por isso, estarão a reinar com o Senhor não só no milênio mas para todo o sempre (Ap.11:15; 20:6).

– A Bíblia não registra a idade que tinha Joás quando Joiada morreu. Os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen dizem que Joiada morreu no trigésimo segundo ano do reinado de Joás, ou seja, quando o rei Joás já tinha 39 anos de idade.

– Foi Joiada falecer e o reinado de Joás tomou outro rumo. Os príncipes de Judá se prostraram perante o rei e o rei os ouviu e, então, deixaram a casa do Senhor e serviram às imagens do boque e aos ídolos (II Cr.24:18).

– Joiada havia feito o povo se comprometer primeiramente com Deus, tendo, em seguida, estabelecido um compromisso entre o rei e o povo.

Agora, os príncipes de Judá inflaram o ego do rei Joás, fazendo-o crer que ele era a pessoa principal do reino, e, assim como aconteceu séculos depois com Dario, o medo, que também foi provocado à egolatria pelos inimigos do profeta Daniel (Dn.6:6-9), acabou por se deixar levar por esta bajulação e a consequência disto é que permitiu o retorno da idolatria ao país.

– Logo retornaram os ídolos e as imagens do bosque e o texto sagrado é bem incisivo ao dizer que isto trouxe grande ira sobre Judá e Jerusalém (I Rs.24:18).

– O Senhor mandou profetas entre eles para que eles tornassem ao Senhor, mas o povo não lhes deu ouvidos (II Cr.24:17-19).

– Entendem alguns estudiosos, inclusive, que foi no reinado de Joás que profetizou Joel, por volta de 828 a.C., que seria, assim, o mais antigo profeta literário do Antigo Testamento, embora os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen situem as profecias de Joel pouco antes da morte de Joiada (que teria ocorrido por volta de 820 a.C.), como um aviso antecipado para que o povo se convertesse para não sofrer as pragas advindas da desobediência decorrente do retorno à idolatria.

– Há até quem entenda que as próprias pragas apresentadas pelo profeta Joel teriam ocorrido antes mesmo da guinada para a idolatria do povo e teriam sido o motivo pelo qual alguns passaram a adorar, novamente, os deuses da fertilidade, acreditando que pelo extermínio do culto institucionalizado a Baal é que teriam vindo as pragas descritas pelo profeta.

– Se isto é verdade, temos aqui uma figura daquilo que ocorre com aqueles que, tendo crido em Jesus, fracassam na fé uma vez que não suportam as adversidades (Mt.13:20,21).

– O pacto celebrado por intermédio de Joiada não teve continuidade com a instrução devida do povo, como havia sido feito nos dias de Josafá (II Cr.17:7-9), e, mesmo antes da morte do sumo sacerdote, vendo que havia adversidades, parte do povo já correu atrás dos cultos dos deuses da fertilidade.

– Deus não ficou inerte ante este retorno da apostasia espiritual a Judá. Levantou profetas para levarem o povo ao arrependimento, mas tudo foi em vão.

Então, ante esta reação do povo, o Senhor mostrou toda a Sua compaixão e desejo de salvação para com o povo e revestiu a Zacarias, filho do sacerdote Joiada, o qual se pôs acima do povo e, de modo veemente, conclamou o povo ao arrependimento, dizendo que, como o povo havia deixado ao Senhor, Ele também os deixaria (II Cr.24:20).

– Nestas palavras de Zacarias, vemos que o Senhor nunca abandona o ser humano, sempre quer com ele manter contato. É o homem quem dá as costas para o Senhor. O abandono divino é sempre reação da impenitência humana (Rm.1:21-32).

– Discute-se se Zacarias era o sumo sacerdote. Conquanto não haja registro bíblico a respeito, alguns dizem que Joiada foi substituído por seu filho Pedias (ou Fideas) no sumo sacerdócio. Flávio Josefo afirma que Zacarias era o sumo sacerdote (Antiguidades Judaicas IX,8, 391),

mas ele mesmo, ao designar os sumo sacerdotes, chama Joiada de “Aciorão” e diz que ele foi sucedido por “Fídeas” (Antiguidades Judaicas X, 11, 425), o que também é dito pelo “Seder Olam Zutta”, um livro judaico de genealogias redigido por volta do ano 804.

– Qual foi a reação do povo diante desta incisiva declaração de Zacarias? O arrependimento? A contrição do coração? O quebrantamento do espírito? Nada disso!

Houve conspiração contra ele e ele foi assassinado, por apedrejamento, no pátio da casa do Senhor e, tudo indica, por ordem do próprio rei Joás (II Cr.24:21) que, segundo Flávio Josefo, teria sido o mandante do crime, o que se permite inferir de II Cr.24:22, já que é dito que Joás o matou.

– O povo estava de coração tão endurecido que mataram Zacarias dentro do templo, praticando não apenas um homicídio, mas um sacrilégio também. E o texto sagrado diz que, com esta atitude, Joás demonstrou toda a sua ingratidão para com Joiada (II Cr.24:22).

– Zacarias, enquanto agonizava, disse as seguintes palavras: O Senhor o verá e o requererá (II Cr.24:22).

Tais palavras de Zacarias foram ouvidas pelo Senhor e prova disso é que, séculos mais tarde, o próprio Jesus disse que o sangue de Zacarias será requerido por Deus da nação de Israel (Mt.23:35; Lc.11:51).

– Com Zacarias, aliás, encerra-se o “rastro de sangue justo” que perpassa todo o Antigo Testamento, toda a Bíblia Hebraica, que se inicia com Abel e vai até o próprio Zacarias.

Devemos entender esta afirmação de Jesus lembrando que a ordem dos livros do Antigo Testamento entre os judeus é diferente da nossa, pois os livros das Crônicas são o último livro da Bíblia Hebraica.

– Todo o sofrimento que temos visto do povo judeu a partir da morte e ressurreição de Cristo, ou seja, nesta nossa dispensação, que ainda aumentará por ocasião da Grande Tribulação, é este requerimento do sangue dos justos que foi derramado por parte dos judeus em suas atitudes contrárias ao plano de Deus para a salvação da humanidade.

– Assim como os judeus que creram na promessa messiânica antes da encarnação de Cristo obtiveram a salvação e aguardaram a consumação da obra salvífica para saírem do seio de Abraão e irem para o Paraíso, o que ocorreu com a descida de Cristo à “mansão dos mortos” (Ef.4:8-10; I Pe.3:19,19; 4:6), também os que rejeitaram a Deus e foram usados para tentar atrapalhar este plano serão devidamente apenados por conta de tal atitude.

– E a ira de Deus não tardou em se manifestar. Hazael, rei da Síria, tomou Gate, cidade dos filisteus, e resolveu, também, invadir Jerusalém e Joás teve de entregar-lhe todas as coisas santas que haviam sido amealhadas desde o reinado de Josafá, como também todo o ouro dos tesouros da casa do Senhor e entregá-los a Hazael que, assim enriquecido, desistiu de invadir Jerusalém (II Rs.12:17,18), mas não antes de ter feito um grande estrago no meio do povo, destruindo a todos os príncipes, precisamente aqueles que haviam levado Joás ao pecado (II Cr.24:23) e isto com poucos homens, para que ficasse bem claro que isto era a mão de Deus contra Joás (II Cr.24:24).

– Vê-se, assim, que, como recompensa pelo retorno à idolatria em busca de uma “prosperidade econômica”, o rei perdeu tudo quanto havia amealhado e, ainda por cima, o que se tinha adquirido desde o próspero reinado de Josafá, que havia sido o último rei que fora fiel até o Senhor em Judá.

– O próprio rei Joás foi atingido nesta guerra, tendo ficado com grandes enfermidades (II Cr.24:25) e, como se isto fosse pouco, seus servos conspiraram contra ele e o mataram em sua cama. Assim como ele havia feito uma conspiração e determinado a morte de Zacarias, também era ele vítima de conspiração e foi morto.

– Por fim, após ter sido assassinado, não foi enterrado juntamente com os seus antecessores. Joiada, que não tinha sido rei, foi sepultado como rei e Joás, que era rei, não foi sepultado como monarca.

– Este triste fim da história de Joás mostra claramente a consequência de se deixar os caminhos do Senhor. Deixando-se levar pela soberba, Joás deixou ao Senhor, mas isto não ficou impune. Como dizia bem seu nome, “Deus é forte” e ninguém pode prevalecer diante d’Ele.

– Ao deixar ao Senhor, Joás acabou por perder tudo quanto se lhe havia sido dado pelo Senhor. Perdeu os bens, a saúde, a vida e, por fim, até o trono, pois, além de ter deixado de ser rei ao morrer, não foi sequer sepultado como rei, numa clara demonstração de que perdeu a sua dignidade real ante a sua apostasia espiritual.

– Joás é um exemplo do que acontece com quem deixa o Senhor, de quem O abandona depois de ter desfrutado da salvação.

Que Deus nos guarde para que não sigamos este triste caminho, pois, assim como Joás, perderemos todos os tesouros amealhados durante a nossa jornada de fé, os tesouros espirituais e até mesmo, por vezes, os bens materiais, seremos traídos pelo inimigo que nos enganou e, por fim, que é o mais triste, sofreremos a morte eterna, perdendo a condição que um dia tivemos de sermos parte do sacerdócio real.

Ev. Caramuru Afonso Francisco

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