Jovens – Lição 02 – OS PREPARATIVOS PARA A CONQUISTA
Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:
Apresentar o modelo social criado por Deus para os hebreus;
Explicar como se deu o processo da formação da identidade nacional;
Mostrar o cuidado de Deus para com a vida espiritual dos hebreus ainda no deserto.
Palavras-chave: Peregrinação no deserto.
Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor Reynaldo Odilo:
INTRODUÇÃO
Toda jornada com Deus começa, sempre, com as orientações para o caminho, porque andar com o Senhor não é uma coisa fácil.
Há conflitos naturais, decorrentes da incompatibilidade entre a essência divina e a humana.
Como o Imaculado pode partilhar vida e emoções com o impuro? Como o Justo consegue conviver com o transgressor, ou o Eterno se embrenhar na vida de quem é finito e cheio de defeitos?
Nesse contexto, após a travessia do Mar Vermelho, que provavelmente aconteceu na extremidade da parte norte do Golfo de Suez1, Deus determinou que eles acampassem por aproximadamente um ano ao pé do Monte Sinai, onde receberam a lei,
para que compreendessem as regras da jornada — calcadas no princípio da santidade, bem como apresentou o desenho do Tabernáculo, a fim de que houvesse um novo espaço de adoração e manifestação da sua glória
— o lugar das revelações de Deus migraria do Monte Sinai para a planície do deserto (Nm 3.14), mais precisamente para onde estava o Tabernáculo (erguido um mês antes do início do livro de Números, Êx 40.17; Nm 1.1).
Como preparação para a travessia do deserto, Deus levantou líderes para o povo:
no primeiro escalão estavam Moisés e Arão (Nm 1.1,3) e, em
um segundo nível hierárquico, um homem de cada tribo de Israel (Nm 1.4).
O Senhor mencionou-os nominalmente (Nm 1.5-15), declarando, ademais, que eles seriam “príncipes das tribos de seus pais” (Nm 1.16).
O Senhor também mandou contar o povo, a fim de mostrar-lhes a força belicosa da nação, e estabeleceu regras que trouxessem unidade nacional, justiça, fraternidade, como corolários de sua santidade.
Eles tinham potencial para conquistar o território de Canaã e tornarem-se o país mais rico e poderoso da Terra.
I – CRIANDO A ORDEM SOCIAL
1- Censo para a Guerra
Conhecer a sua própria capacidade é requisito essencial para saber até onde se pode ir, e o que é possível conquistar.
Nesse cenário, o livro de Números começa com o Senhor determinando a contagem dos israelitas aptos para a guerra (expressão repetida quinze vezes em Nm 1).
Deus estava sendo franco: a jornada não será fácil! Haverá guerras pela frente, não com os egípcios, mas outros inimigos se levantarão para destruir o povo (aliás, os israelitas já sabiam disso, pois tinham lutado e vencido uma batalha contra os amalequitas (Êx 17.8-16).
Interessante que, mesmo com a promessa de Deus — “[…] a tua semente possuirá a porta dos seus inimigos” (Gn 22.17) —, Israel precisava conhecer sua força militar e preparar-se para o futuro.
Se ficassem inertes, o território de Canaã não seria conquistado, afinal “o cavalo prepara-se para o dia da batalha” (Pv 21.31).
Eles precisavam lançar fora o medo, pela fé, e fazer um grande esforço, como posteriormente Deus falou de modo explícito a Josué (Js 1.9). Definitivamente, a vida dos servos de Deus nunca foi, nem nunca será, uma “mar de rosas”.
2- Censo sem Discriminação
Fato extremamente curioso sobre o primeiro censo realizado por Moisés, diz respeito à iniciativa pela contagem do povo: a ideia foi de Deus (Nm 1.1).
Por óbvio, O Senhor sabia precisamente quantos homens aptos para a guerra existiam em Israel, mas, ao que tudo indica, o Todo-Poderoso anelava que os homens se credenciassem, que assumissem a posição de guerreiros, afinal não eram mais escravos.
Os que se sentissem aptos para o alistamento seriam agregados ao exército de Israel. Deus usaria a todos que se dispusessem a lutar.
A Bíblia diz que Deus não faz acepção de pessoas (At 10.34). Ele usa a todos quantos se colocarem debaixo da sua autoridade para servi-lo, por tal razão o censo não foi feito levando em consideração a posição econômica, intelectualidade, força física, beleza, ou outros requisitos subjetivos, mas, de todas as famílias, aqueles que tivessem “da idade de vinte anos para cima, todos os capazes de sair à guerra em Israel” (Nm 1.3, ARA).
Ninguém apto seria desprezado (2 Cr 19.7; Jó 34.19; At 10.34), demonstrando o princípio segundo o qual toda pessoa “nascida de novo” é um instrumento de Deus, pois certamente recebeu algum talento do Senhor (Mt 25.14-30).
3 – Senso Organizacional
Refletindo o caráter de um Deus que ama o que é belo e, em tudo, é organizado, a Bíblia recomenda que os cristãos realizem as coisas com ordem e decência (1 Co 14.40).
Basta apenas olhar a natureza ao redor, e constatar-se-á claramente como o Senhor gosta das coisas em ordem.
Aliás, no princípio, existindo o caos, depois da ação do Espírito Santo, tudo passou a ser sumamente organizado.
Após fazer o censo dos guerreiros, o Senhor determinou como as tribos deveriam ser distribuídas no acampamento:
a Norte, Sul, Leste e Oeste do Tabernáculo, quer quando estivessem arranchados, quer em marcha (Nm 2.1-32).
Apresenta-se impressionante como Deus, em todos os momentos em que tratou com o seu povo, ou mostrou como é o céu (Sl 24.7-10; Is 6.1-3; Ez 1.26-28; Ap 4.3-11; 5.8-14; 21.10-23; 22.1,2), evidenciou ser extremamente detalhista e organizado.
O improviso não faz parte do Reino de Deus, pois, na verdade, a ordem é a primeira lei do céu.
Deus estava lhes comunicando que havia um padrão a ser seguido, e que eles deveriam entender que todas essas coisas faziam sentido e eram importantes!
E não somente isso: o nome de cada pessoa era importante para Deus (Nm 1.18 diz que eles foram “contados nominalmente”!).
O Senhor tem um cuidado especial pelo seu povo e por sua obra, nada acontecendo por acaso ou coincidência.
Deus sempre tem o controle de tudo e nenhum dos seus propósitos pode ser impedido (Jó 42.2). Deus sempre tem um plano, e Ele nunca erra.
As surpresas são apenas para os homens, que não conhecem a mente do Senhor. Ele, porém, já conhece o fim, desde o começo (Is 46.10).
II – CONSTRUINDO A IDENTIDADE NACIONAL
1- Senso de Pertencimento
Muitas pessoas se perdem na vida porque não possuem senso de pertencimento.
Anrão e Joquebede, por exemplo, incutiram em seu filho caçula, de forma veemente, senso de pertencimento hebreu. Está escrito: “Pela fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó” (Hb 11.24).
O libertador de Israel, com ousadia, renunciou ao título de mais alto prestígio social do mundo, simplesmente porque se sentia integrante de algo muito maior: uma família chamada Israel!
Ao analisar as determinações divinas, nos primeiros capítulos de Números, observa-se que Deus planejou que os filhos de Israel tivessem, também, esse senso de pertencimento social, eventualmente fragmentado, pelo longo período que viveram no Egito.
Assim, Deus determinou que as pessoas acampassem “junto ao seu estandarte, segundo as insígnias da casa de seus pais” (Nm 2.2, ARA), para que as amizades e associações sociais fossem formadas primariamente com base na proximidade física. O senso de pertencimento deveria nortear todas tribos.
Os filhos de Israel sabiam que cada tribo descendia de um mesmo tronco, Jacó, e isso permitiu que entendessem a necessidade de terem unidade na diversidade de suas tribos.
Cada tribo deveria se identificar com seu estandarte, cada família com sua insígnia, mas todos deveriam se sentir um só povo, uma só nação.
Esse sentimento de unidade tornou-se tão forte que, quando as tribos Gade, Rúben e a meia tribo de Manassés desejaram herdar porção de terra na Transjordânia (sem atravessar o Jordão), Moisés reagiu fortemente contra essa quebra da unidade (Nm 32.6-15).
Entretanto, essas tribos assumiram o compromisso de conquistar a Terra Prometida para seus irmãos e, somente depois, retornariam para a Transjordânia, para suas famílias (Nm 32.16-19), o que efetivamente aconteceu.
Esse senso de pertencimento era tão importante para Deus que, inclusive, a herança de uma tribo não poderia ficar para pessoas de outra, conforme se vê no exemplo das filhas de Zelofeade, as quais tiveram que casar com homens da própria tribo de Manassés para que a herança paterna não fosse transferida para outros clãs (Nm 36.5,6).
Com isso, Deus tencionava que a vida no acampamento fosse notoriamente comunitária, sem espaço para egocentrismos, conforme está escrito: “[…] amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor” (Lv 19.18).
O Altíssimo, na verdade, estava protegendo o futuro dos hebreus, incutindo-lhes a capacidade de estar juntos por um longo período.
Observe-se que é da “natureza do amor prender a si mesmo. O amor não é livre. Alguém que realmente ama outra pessoa não pode deixar de ser zeloso pelo objeto do seu amor”.2
Nos dias atuais, infelizmente, muitos cristãos perderam o senso de pertencimento familiar, eclesiástico e comunitário, aceitando a argumentação de que não se admite “mais um padrão oficial e aprovado de crença ou conduta”.3
A tendência moderna, nessa esteira, é que a pessoa se sinta integrante apenas de uma “aldeia global”.
Com isso, quebra-se a coluna vertebral das famílias, das igrejas e das comunidades, desprezando as experiências e lutas do passado, bem como os princípios e valores apreendidos, os quais foram historicamente aperfeiçoados.
2-Senso de Serviço
Jesus disse que aquele que serve é o maior. De fato, servir é um sinal de grandeza, de amadurecimento, de espiritualidade. No livro de Números, o homem é ensinado precipuamente a servir.
E, realmente, um novo comportamento começava a surgir naquela nação de ex-escravos, representado na expressão:
“Assim fizeram os filhos de Israel; conforme tudo o que o Senhor ordenara a Moisés, assim o fizeram” (Nm 1.54; 2.34; 8.20; 9.5).
É bem verdade que os filhos de Israel estavam acostumados a servir por obrigação, debaixo do jugo egípcio, mas agora eles deveriam aprender a servir uns aos outros em amor (Paulo diz que o cumprimento da lei é o amor — Rm 13.10).
Isso seria uma bênção, já que, por meio do serviço ao próximo e a Deus, as pessoas são aperfeiçoadas, pois, à proporção que elas se doam, em amor, vão morrendo um pouco mais para seus egoísmos e vaidades, e são vivificadas para com Deus (2 Co 4.5,11).
Em verdade, “à medida que as relações se tornam superficiais, […] produz-se desarraigo, certas verdades e valores centrais professados por todos, tais como comunhão, consciência de corpo, solidariedade, fraternidade, serviço, mordomia, amor, etc., perdem sua concreticidade”, e, por isso, Deus desejava que os hebreus, pelo serviço, demonstrassem bondade uns aos outros e recebessem os frutos decorrentes da obediência.
Era disso que aquela grande multidão precisava desesperadamente!
3-Senso de Reverência Sacerdotal
O Senhor Deus, tão logo estabeleceu o Tabernáculo, preparou um grupo de pessoas para serem os responsáveis pela adoração coletiva: os levitas.
Eles seriam, doravante, grandemente usados pelo Senhor como tribo sacerdotal diante de Deus.
A sociedade judaica, assim, foi dividida entre dois segmentos: de um lado a tribo de Levi e, de outro, as demais tribos.
O reconhecimento dos levitas como sendo sacerdotes de Deus, e isso por todo o povo, sem nenhum questionamento ou revolta contra esse privilégio levítico, conforme está escrito —
“[…] conforme tudo o que o Senhor ordenara a Moisés acerca dos levitas, assim os filhos de Israel lhes fizeram” (Nm 8.20) —, foi, certamente, um ponto alto na solidificação da nação judaica.
Na verdade, todos os detalhes que levaram à construção da identidade dos filhos de Israel (senso de pertencimento, serviço e reverência sacerdotal) foram entretecidos diretamente por Deus, constituindo-se num grande milagre cultural!
CONCLUSÃO
Como visto, os preparativos da viagem no deserto incluíam organização, estratégia, sentimento de unidade entre as tribos, mas, principalmente, uma forte mudança de mentalidade e o desenvolvimento de um profundo senso de compromisso do povo com Deus e a sua palavra.
O Senhor tinha chamado o seu filho do Egito e, por isso, estava o ensinando a andar e dando-lhe mantimento, mas quanto mais o atraía, mas se ia de sua face (Os 11.1-4).
Tudo era muito incerto, mas havia algo tranquilizador: o Senhor oferecia, ao longo da estrada, a garantia de sua presença constante. Deus disse a Moisés: “Certamente eu serei contigo […]” (Êx 3.12).
Os israelitas podiam ter a certeza da companhia inafastável do Altíssimo. Jesus, igualmente, assegurou aos seus discípulos: “[…] eis que eu estou convosco todos os dias […]” (Mt 28.20).
Deus é assim: exorta, adverte, repreende e disciplina seu povo, mas sempre assegura aos fiéis um futuro feliz, conforme está escrito:
Estendi as mãos todo o dia a um povo rebelde, que caminha por caminho que não é bom, após os seus pensamentos;
[…] E folgarei em Jerusalém e exultarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor.
[…] E será que, antes que clamem, eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei. (Is 65.2,19, 24)
1 PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard F.; REA, John. Dicionário Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 1502.
2 ZACHARIAS, Ravi. Quem é Jesus? Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p. 160.
3 AMORESE, Rubem. Icabode. Viçosa: Ultimato, 1998, p. 49.
4 AMORESE, Rubem. Icabode. Viçosa: Ultimato, 1998, p. 126.
Que Deus o(a) abençoe.
Fonte: http://www.escoladominical.com.br/home/licoes-biblicas/subsidios/jovens/1305-li%C3%A7%C3%A3o-2-os-preparativos-para-a-conquista.html