Jovens – Lição 12 – O Código de Ética de Jesus
INTRODUÇÃO
Você sabe a diferença entre ética e moral? É comum haver uma confusão entre esses termos, pois o senso comum coloca essas duas palavras como sinônimas.
Porém, quando estudamos Ética como uma área importante da Filosofia, uma das principais coisas que precisamos fazer é distinguir bem a diferença entre ela e a moral.
Enquanto a Moral refere-se ao comportamento estabelecido por um código legal, a
Ética é a reflexão acerca da Moral.
Nesse sentido, ela procura investigar a origem dos códigos morais, normas e comportamentos estabelecidos pela sociedade.
Por que uma coisa é certa ou errada? Como decidir-se em relação a uma situação moral? Quais consequências tal comportamento terá para outras gerações?
Quais os critérios usados para buscar-se um caminho correto e quais as consequências em relação ao descumprimento de um código moral?
O filósofo cristão, Arthur F. Holmes, toma esse mesmo caminho ao abordar sobre o objeto da Ética:
A ética trata do bem (isso é, dos valores e virtudes que devemos cultivar) e do direito (isso é, de quais devem ser as nossas obrigações morais).
Ela avalia pontos de vista alternativos do que é o bem e o direito; explora caminhos para alcançarmos o conhecimento moral de que necessitamos; indaga por que devemos agir com correção e, a partir daí, conduz a problemas morais práticos, que estimulam a assim pensarmos prioritariamente.1
Assim, se a Moral é o comportamento ou o próprio código, a Ética é a reflexão sobre esse comportamento ou código moral.
Essa área do conhecimento filosófico ajuda-nos a refletir acerca do nosso agir. Se agimos como agimos, o que nos move a agir assim?
O que tal reflexão tem a ver com a nossa condição de cristãos? Se obedecemos a Palavra de Deus, por que o fazemos?
Para os cristãos, a Bíblia é a base de todas as nossas obrigações morais no mundo. É por meio dela que conhecemos o propósito de Deus, o seu amor e a sua justiça.
A Bíblia, mais especificamente o Sermão do Monte, é o código ético do Reino de Deus.
O Sermão do Monte estabelece as bases para agirmos segundo o propósito de Deus de maneira consciente.
Por exemplo, não basta somente não adulterar, mas é preciso não desejar executar essa prática (Mt 5.27,27).
Ou seja, não basta só cumprir um mandamento; é preciso também saber o porquê de se estar cumprindo-o. A razão disso tem de ser nobre, justa e santa, tendo como o supremo fundamento o mandamento do amor (Rm 13.8-10).
Neste capítulo, tomaremos trechos do Sermão do Monte para refletir acerca de uma vida devocional vigorosa, que testemunhe a grandeza de Deus, a verdadeira piedade e devoção a Deus, deixando de lado qualquer fingimento ou aparência humana de falsa espiritualidade.
Veremos também que devemos juntar “tesouros no céu” e importar-se com o que reflete para o bem do Reino de Deus. É o desafio de viver-se uma vida voltada, não apenas para as coisas terrenas, como também para as coisas espirituais. Nossa herança está no Céu. Aqui, não importa apenas o que “eu faço”, mas também o que “eu sou”.
I – ESMOLAS, ORAÇÃO E JEJUM
Por que oramos? Por que jejuamos? Por que somos instados a fazer obras de misericórdia? Essas três perguntas dizem respeito ao que está por trás de nossas ações.
Elas podem revelar a intenção de nosso coração. É muito importante ressaltar que o código de ética ensinado por Jesus leva muito a sério a intenção, a nobreza e a pureza de nossa vida interior para realizar qualquer coisa.
Quando o que fazemos não traz consigo a consciência verdadeira do Reino de Deus, trata-se, portanto, de hipocrisia.
Por isso, essa palavra foi três vezes usada por Jesus no capítulo 6 de Mateus:
(1) “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens” (v. 2 – grifo meu);
(2) “E, quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens” (v. 5 – grifo meu); e
(3) “E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, porque desfiguram o rosto, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão” (v. 16 – grifo meu).
A hipocrisia mascara a sinceridade, dissimula os verdadeiros sentimentos e propaga a falsidade e o fingimento. A hipocrisia distorce a intenção pura, nobre e verdadeira.
O pastor César Moisés Carvalho, na obra O Sermão do Monte, revela exatamente isso ao descrever a palavra hipocrisia, que aparece no capítulo 6 de Mateus:
O tríplice uso da expressão “hipócritas” [hypokritēs] (vv. 2,5,6), termo grego originalmente utilizado no teatro para os atores que representavam, denota a seriedade com que são encarados os que fazem o bem com motivações escusas. É impossível não se lembrar de Mateus 25.31-46, quando as ovelhas forem separadas dos bodes, justamente por causa das boas obras executadas.
Obras que, vale ressaltar, eram praticadas sem nenhum outro interesse por parte de quem praticava a não ser o bem da pessoa necessitada.
Aliás, os benfeitores estavam fazendo ao próprio Filho de Deus, mas eles sequer sabiam disso! Nada fora feito para representar, pois eles sequer sabiam que estavam sendo observados e suas obras anotadas e contabilizadas.2
Assim, se nossa vida de devoção a Deus não estiver amparada nos princípios claros expostos ali no Sermão do Monte, corremos o risco de cair na alcunha de “hipócritas”.
Nossa vida devocional deve estar amparada em Deus, no desejo sincero de amá-lo de todo o coração, bem como amar nosso próximo para que nossas obras de piedade não se mostrem falsas.
Nossa vida devocional é para Deus
A vida devocional, conforme apresentada em Mateus 6, tem o seguinte tripé: esmola, oração e jejum. No sermão, Jesus afirma um princípio geral: os atos de piedade devem honrar a Deus e não colocar no centro a própria reputação.
O que é criticado no sermão não são os atos piedosos, mas a exibição deles. Nesse sentido, os atos de piedade devem ser feitos sem ostentação.3
1. Esmolas (caridade). É importante ressaltar um ponto relevante aqui. Ajudar as pessoas, ou seja, atendê-las por meio de obras de caridade, é uma expressão do amor de Deus.
Sim, aproximamo-nos mais de Deus quando fazemos isso. Esse entendimento estava muito presente na prática dos apóstolos.
Reconhecemos o que Jesus ensina no capítulo 6 de Mateus, além de conformado em outros Evangelhos, na prática ministerial dos apóstolos. Atente para estes versículos:
Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando vos darão; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo (Lc 6.38).
Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade (At 2.45).
Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência. (Gl 2.10)
Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo?
E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? (Tg 2.14-16).
Quem, pois, tiver bens do mundo e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar o seu coração, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade (1 Jo 3.17,18).
São textos bem contundentes. Não por acaso, desde os primeiros séculos até os séculos mais recentes, que marcaram os maiores avivamentos, os cristãos sempre se envolveram em obras de caridade no sentido de levar alívio ao sofrimento das pessoas.
Isso foi feito por causa de uma consciência que predominava no Reino de Deus e que está assentada nos Evangelhos e no ministério apostólico.
Logo, o princípio bem claro para essa dimensão devocional é o da humildade, da discrição e do amor. Se o crente faz o bem para ser elogiado ou colher louros por tal ação, o que se revelará são motivos egoístas. Assim, ele será desmascarado como hipócrita.
Isso ocorre porque, sob o disfarce de dar glória a Deus, o crente buscava a própria glória. Esse é um desafio grande para os que se esmeram em grandes associações cristãs, trabalhos de evangelização ou tudo o que despenda comunicação pública.
O que pode estar por trás de tudo isso é a competição por grandeza e a busca exagerada pelo sucesso, e não a glorificação a Deus e o amor ao próximo. O Sermão do Monte condena essa atitude.4
2. A oração. No capítulo 6 de Mateus, não é a oração pública que é condenada, mas a sua exibição (v. 5).
Ou seja, a oração genuína, e elevada a Deus com sinceridade, é a que Ele responderá. No capítulo 6, nos versículos 7 e 8, a oração é apresentada como algo que deve ser praticado com simplicidade e sinceridade, evitando as “vãs repetições”.
Nos versículos 9-13, nosso Senhor apresenta um modelo de oração. Esse modelo indica as áreas de interesse que o crente em Jesus deve apresentar diante de Deus.
Nessa oração, estão presentes ao menos seis petições: três que dizem respeito à santidade de Deus e à sua vontade e três que dizem respeito às nossas necessidades pessoais.5
Em seguida, os versículos 14 e 15 dizem respeito ao perdão, que tem uma ligação estreita com a Oração que Jesus ensinou (Pai-Nosso), como explica o teólogo Daniel J. Harrington:
“O dito sobre o perdão (vv. 14,15) está ligado ao Pai-nosso porque trata da mesma questão que a segunda das ‘súplicas sobre nós’ (6.12).
Faz de nossa disposição de perdoar uns aos outros condição necessária para a disposição divina de perdoar-nos nossos pecados”.6
A oração deve ser despida de qualquer exibicionismo pessoal. Não por acaso, nosso Senhor enfatizou a prática da oração em casa, no interior do quarto, fechando a porta.
Aqui, não há espaço para exibicionismo ou dissimulação. O único espectador que interessa é Deus Pai. Assim, oramos em segredo.
E o Pai, “que vê o que está oculto, [nos] recompensará” (Mt 6.6). Ora, o vigor de nossa devoção secreta determinará nossas ações públicas.
3. O jejum. O padrão para o jejum é o mesmo que foi apresentado pela caridade e oração. Requer-se descrição e recato.
Ninguém precisa saber que o crente está jejuando, somente nosso Pai que está no Céu. Assim, o que é condenado é o exibicionismo do jejum.
A respeito da prática do jejum na Bíblia e no cotidiano, o que o teólogo James B. Shelton escreveu é esclarecedor:
O jejum é designado a melhorar a relação da pessoa com Deus, como também é tempo de purgação e refinamento de motivos.
O jejum que Jesus fez no deserto demonstrou ser tempo de turbulência e prova. Os santos têm experimentado esse tipo de embate, mas eles também descrevem o jejum como tempo de purificação, limpeza, grande edificação espiritual e proximidade com Deus. A questão crucial é:
“Atenção de quem estou tentando chamar com este jejum?”.7
Em tempos de angústias, de necessidades espirituais e de muitas outras necessidades, temos no jejum uma arma poderosa para relacionarmo-nos com Deus intimamente, sermos edificados espiritualmente e fortalecermo-nos na sua presença.
Cada vez que nos aproximamos de Deus, distanciamo-nos de nosso ego e egoísmo. Nesse sentido, a disciplina piedosa da caridade, da oração e do jejum é um grande despertamento espiritual para voltarmos nossa atenção para o que realmente interessa na presença de Deus.
Cuidado para não sermos enganados pela maldade de nosso próprio coração
O pastor César Moisés Carvalho esclarece um princípio, que, se observado, não nos deixará enganados pela maldade de nosso próprio coração:
O feito de qualquer um, isto é, qualquer obra, jamais será “oculta” diante dos olhos de quem tudo vê e conhece.
Inclusive as ações, não precisam ser necessariamente ocultas, escondidas, pois se não houver outra forma ou local, elas podem ser realizadas publicamente.
A intenção com que elas irão acontecer não passará despercebida dos olhos do Pai. Portanto, o que se desaconselha aqui é a dramatização, o representar, o querer passar-se por piedoso, sendo hipócrita. Estes nada devem esperar por parte do Pai.8
O que fica claro nesse princípio é que nossa piedade deve ser sincera e verdadeira. Certamente, muitos de nós somos obreiros que têm acesso ao púlpito da igreja local, ou que estão diante de um departamento eclesiástico.
Não podemos cair na armadilha de sermos performáticos diante das pessoas que nos ouvem. Se oramos em público, ou pregamos, ou conclamamos pessoas à oração e ao jejum, tudo isso deve revelar o desejo sincero de buscar a Deus, o seu poder, a sua graça e o seu amor.
E, como vimos acima, se nossa vida devocional secreta não corresponder à sinceridade e à pureza de alma, nossa ação pública, principalmente no exercício espiritual, cairá no pecado da hipocrisia, da dissimulação e da falsa piedade. Então, de Deus jamais seremos recompensados (Mt 6.5).
Os riscos da “espetacularização” da fé
Ao estudar os princípios que regem os cristãos a partir do Sermão do Monte, não é possível deixar de olhar para a realidade e perguntar: Qual a linha tênue entre vivências espirituais como prática pública e a “espetacularização da fé”?
Mais uma vez, devemos ressaltar que nosso Senhor nunca falou contra a prática de piedade (caridade, oração e jejum), mas, sim, contra a intenção distorcida por trás do uso público da prática.
Em tempos de espetáculos da fé, o ensino de Jesus no Sermão do Monte é atual e necessário. Não são poucas as dissimulações espirituais em nome da fé. Falsos milagres, manipulação das pessoas e falsos movimentos que levam o nome de Jesus.
Nas redes sociais, ocorre a relação tênue entre evangelização e autopromoção. Tudo o que tenta usar o que é espiritual para autopromover-se não tem parte com Cristo Jesus.
Por isso, é preciso compreender bem o que marca os princípios do Evangelho e o que Jesus espera de nós para viver nesse mundo.
As marcas de Jesus passam pela discrição, verdade e sinceridade. Não nos iludamos com a glória desse mundo.
II – O TESOURO NO CÉU
O texto bíblico de Mateus 6.19-21 diz: “Não acumulem tesouros sobre a terra, onde as traças e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntem tesouros no céu, onde as traças e a ferrugem não corroem, e onde ladrões não escavam, nem roubam. Porque, onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração”.
Esse texto coloca ênfase na escolha que o discípulo de Jesus deve fazer entre Deus e as riquezas materiais.
Trata-se de um contraste entre a fragilidade e a vaidade dos tesouros e riquezas terrenas, com a solidez do tesouro eterno. Se o tesouro terreno é o que faz pessoas buscarem os desejos egoístas e desenfreados, o tesouro eterno é a recompensa dos que fizeram caridade, oraram e jejuaram.
Esse trecho bíblico traz-nos a oportunidade de lembrar que há um tesouro no Céu. Nossa natureza é espiritual, nossa esperança não está nas riquezas deste mundo.
Sim, a fé cristã é transcendental. A sua natureza é celestial, pois assim mesmo nosso Senhor afirmou: “Respondeu Jesus:
O meu Reino não é deste mundo; se o meu Reino fosse deste mundo, lutariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas, agora, o meu Reino não é daqui” (Jo 18.36).
Essa perspectiva do Reino não significa escapismo em relação à vida no mundo. Pelo contrário, a História da Igreja Cristã mostra que quem mais influenciou a vida no mundo tinha a “mente no Céu”.
Ou seja, viver a vida no mundo com a mente e o coração tomados pelas coisas de Deus trará efeitos concretos à nossa vida e à vida de quem nos rodeia:
“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Fp 4.8).
Que tesouro é esse?
Mas o que o texto de Mateus quer dizer com “tesouro”? Segundo o teólogo James Shelton, a palavra tesouro pode referir-se às riquezas materiais, como aparece em Mateus 2.11 e 13.44; porém, na maioria das vezes que aparece no Novo Testamento, ela remete a ideia de riquezas espirituais ou celestiais.9
Veja estes textos, onde a palavra tesouro traz essa conotação de riquezas celestiais ou espirituais: “O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más” (Mt 12.35 – grifo meu);
“Por isso, todo escriba instruído acerca do Reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13.52 – grifo meu); “Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me” (Mt 19.21 – grifo meu).
O Senhor Jesus usa a imagem de “ajuntar tesouros no céu” em contraste com “ajuntar tesouros na terra”. Este é perecível, vão, os ladrões roubam, a traça e a ferrugem consomem. Mas o tesouro que ajuntamos no Céu ninguém rouba ou consome.
Aqui, de acordo com o contexto do Sermão do Monte, fica claro que a prioridade do seguidor de Jesus deve ser viver a ética do Reino de Deus neste mundo.
No lugar de apelo às riquezas ou quaisquer coisas materiais, nossa prioridade está centralizada nas coisas de Deus — amar a Deus, fazendo caridade para com o próximo, orando com fervor ao Senhor, jejuando e vivendo a piedade cristã com sinceridade e inteireza de coração, pois
uma vez que o coração se apega ao “tesouro”, àquilo que a pessoa mais valoriza, daí a importância de que esse tesouro, daquilo que lhe é mais caro, esteja nas coisas de Deus e seja mesmo o próprio Deus. Em se mantendo tal tesouro, o discípulo nunca perderá a esperança.10
Onde juntar tesouros?
Tudo o que recebemos vem de Deus. Quando não temos essa perspectiva, achamo-nos donos de nossas vidas e abandonamos o Criador.
É contra isso que a parábola do rico insensato insurge-se (Lc 12.). Nela, o fazendeiro acha-se muito afortunado, não se lembra de Deus e nem se importa com as pessoas necessitadas.
A sua confiança está fundamentada nas riquezas que possui; por isso, ele “descansa, come, bebe e folga”. Isso ele faz dialogando com a alma dele (v. 19).
Quando o interior é devorado pela cobiça, a mente é achacada pela concentração somente nos objetos terrenos, e o coração é tomado pelo desejo de possuir riquezas.
A alma já não é alma mais, o transcendente desapareceu, e o espírito é como se não existisse. Não por acaso, explode a pergunta que acerta o âmago da questão:
“Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será?” (v. 20).
Ou seja, Deus disse que a vida daquele rico insensato extinguiria naquela noite. O insensato não tinha noção do que aconteceria com a própria alma.
Nosso Senhor encerra a parábola dizendo que assim acontecerá com aqueles que ajuntam “tesouros para si” e não é rico para com Deus.
O que fica claro no texto é que viver a vida como se Deus não existisse é a consequência natural de quem prioriza a riqueza e os sucessos terrenos deste mundo.
Por isso que o Senhor enquadra de maneira assertiva os ricos desse mundo: “Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os que têm riquezas!
Porque é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus” (Lc 18.24,25).
A questão aqui não é que a pessoa não entrará no Reino de Deus por causa da sua condição de rico, mas, sim, porque ela prioriza a suas riquezas e, consequentemente, distancia-se de Deus.
Ou seja, a pessoa rica, com a cabeça integralmente voltada para as coisas terrenas, escolhe abraçar “Mamom” (o deus das riquezas e das coisas terrenas), pois de nada ela sente falta e, portanto, julga não precisar de Deus.
Entretanto, é importante ressaltar que quem foi materialmente abençoado por Deus e não pôs a sua confiança na incerteza das riquezas, mas nEle, e usa os seus bens para aliviar o sofrimento do outro e abundar em boas obras, poderão ter de Deus um grande favor:
“Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos;
que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna” (1 Tm 6.17-19).
Assim, creio estar claro que, aqui, não há nenhum incentivo à pobreza ou algo do gênero, mas uma palavra de bom senso. Graças a Deus temos na sociedade seguidores de Jesus que alcançaram altos postos. Muitos foram alçados por Deus em nobres posições. Outros ainda alçarão.
Talvez você esteja entre eles, caro leitor. Mas a palavra divina para quem chega lá é: “não ponham a esperança na incerteza das riquezas”.
Estas, por mais abundantes que sejam, passam. O sopro de vida pode cessar a qualquer momento. No fim, o que sobrará?
Logo, percebemos com clareza que juntar tesouros no Céu é abundar em boas obras, não viver a vida só dirigida para o conforto financeiro, priorizando os empreendimentos terrenos.
A vida vai além disso, pois nosso fundamento é Deus. Assim, devemos glorificá-lo em tudo. Nossa esperança não pode estar assentada na “incerteza das riquezas”, mas na “certeza de Deus”. As coisas terrenas são frívolas, mas as de Deus são eternas.
CONCLUSÃO
Só compreenderá a natureza da ética de Jesus quem nasceu de novo. Por isso, o Sermão do Monte foi dirigido aos discípulos de Cristo.
Nele, não importa apenas “não fazer”, mas também o porquê de não fazer. Compreender a natureza de nossas práticas é fundamental para sermos parecidos com Jesus.
Os princípios ensinados por Ele no sermão devem ser o fundamento de nossa prática piedosa e da forma como negociamos na vida.
Jesus não deve dominar só nossa vida espiritual, mas também nossa existência inteira. O que “somos” gira em torno de todas as esferas da vida em que nos encontramos.
A vida espiritual deve ser dominada por Jesus, mas a material também. O que negociamos, o que prometemos, o que estudamos, o que empreendemos; enfim, tudo o que pensamos e fazemos deve ser dominado por Jesus.
Isso, inevitavelmente, passa pela compreensão dos princípios expostos no Sermão do Monte, o código de ética do Reino de Deus.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
BERGANT, Dianne; KARRIS, Robert J. Comentário Bíblico. Vol. 3. 3.ed. Rio de Janeiro: Edições Loyola, 2001.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
CARVALHO, César Moisés. O Sermão do Monte: A Justiça sob a Ótica de Jesus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
HOLMES, Arthur F. Ética: As decisões morais à luz da Bíblia. 5. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
Que Deus o(a) abençoe.
Telma Bueno
Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens
1 HOLMES, Arthur F. Ética: As decisões morais à luz da Bíblia. 5. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p.10.
2 CARVALHO, César Moisés. O Sermão do Monte: A Justiça sob a Ótica de Jesus. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 102.
3 BERGANT, Dianne; KARRIS, Robert J. Comentário Bíblico. Vol. 3. 3.ed. Rio de Janeiro: Edições Loyola, 2001, p. 19.
4 Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 1395.
5 Ibid, 1995, p. 1396.
6 BERGANT, Dianne; KARRIS, Robert J., 2001, p. 20.
7 ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 56.
8 CARVALHO, César Moisés., 2017, p. 102.
9 ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 56.
10 CARVALHO, César Moisés., 2017, p. 123.
Fonte: http://www.escoladominical.com.br/home/licoes-biblicas/subsidios/jovens/1974-li%C3%A7%C3%A3o-12-o-c%C3%B3digo-de-%C3%A9tica-de-jesus.html
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