LIÇÃO 04 – SUPERANDO OS TRAUMAS DA VIOLÊNCIA SOCIAL
17 de julho de 2012
COMENTÁRIOS – EV. CARAMURU AFONSO FRANCISCO
(ASSEMBLEIA DE DEUS – MINISTÉRIO DO BELÉM – SEDE – SÃO PAULO/SP)
A violência social é mais outra nefasta consequência do pecado.
INTRODUÇÃO
– A violência social é mais outra nefasta consequência da entrada do pecado no mundo e, portanto, somente será debelada quando o pecado for definitivamente extirpado.
– O salvo em Cristo Jesus deve saber lidar com esta realidade, confiando em Deus e amando o próximo.
I – A ORIGEM DA VIOLÊNCIA SOCIAL
– Na sequência do estudo das aflições por que passamos nesta vida sobre a face da Terra, iniciamos agora o estudo do segundo bloco, referente ao que denominamos de “dramas sociais”, ou seja, aflições decorrentes da nossa convivência com os demais seres humanos em nossa peregrinação terra.
– O homem não foi feito para viver sozinho (Gn.2:18), é um ser gregário, ou seja, vive necessariamente com outros de sua espécie, vive em sociedade. Assim Deus fez o ser humano, de sorte que, como já dizia o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), o homem é um ser “naturalmente social”.
– Ao criar o homem um ser social, o Senhor fez com que o homem somente pudesse atingir os propósitos sublimes para ele determinados pelo próprio Deus se estivesse vivendo em sociedade. Não haveria como o homem obter a frutificação, a multiplicação, a preenchimento da Terra e a dominação sobre a criação terrena (Gn.1:28) se não vivesse em sociedade, sociedade esta que tem como célula mater a família (Gn.2:24).
– Antes que o primeiro casal pecasse, a vida que mantinham entre si era de perfeita unidade e harmonia. Tanto assim é que as Escrituras nos afirmam que não havia qualquer senão entre eles, pois, em pura inocência, embora estivessem nus, não se envergonhavam um do outro (Gn.2:25), nada escondiam um do outro, viviam na mais completa paz e comunhão, não só entre si como também com o Senhor.
– No entanto, assim que pecaram, tudo isto se modificou. Homem e mulher viram-se nus, passaram a ter vergonha um do outro, procuraram esconder-se de si próprios, um do outro e, também, de Deus, pois, quando o Senhor a eles veio na viração do dia, não tiveram como se apresentar diante d’Ele. A paz e harmonia nos relacionamentos estavam prejudicadas por causa do pecado (Gn.3:7,8).
– A sequência da narrativa bíblica mostra-nos, ainda, que homem e mulher passaram a se acusar. Adão pôs a culpa da queda na mulher e a mulher, na serpente (Gn.3:12,13). Inexistia um clima de harmonia e de comunhão, mas, em lugar daquilo que antes havia entre os seres humanos, passou a haver desconfiança, isolamento e um egoísmo em que um não queria mais saber do bem-estar do outro, mas, sim, uma ilusória busca pela salvação, mesmo em detrimento do outro.
– Esta situação lamentável não cessou ali no Éden. Pelo contrário, o Senhor, ao pronunciar o juízo sobre o primeiro casal, foi claro ao mostrar que esta desarmonia, este desequilíbrio nos relacionamentos perduraria como consequência do pecado. Ao se dirigir à mulher, a sentença foi claríssima: “o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará” (Gn.3:16 “in fine”).
– Ao pronunciar esta sentença, não estava o Senhor adotando um “patriarcalismo” ou um “machismo”, como se anda propagando em nossos dias e, pasmem todos, com a adesão de muitos que cristãos se dizem ser. O Senhor não estabeleceu qualquer superioridade do homem sobre a mulher, mas, sim, afirmou que, como consequência do pecado, haveria um desequilíbrio entre os relacionamentos humanos, haveria um traço de iniquidade produzido pelo pecado nas relações humanas, a começar pelo domínio do homem sobre a mulher.
– Este domínio do homem sobre a mulher era a primeira demonstração de que, com a entrada do pecado no mundo, prevaleceria o egoísmo, o interesse próprio nas condutas humanas, não haveria lugar para o amor ao próximo, para o desenvolvimento da fraternidade.
Os homens pensariam, antes de mais nada, em si mesmos e, neste pensamento, não titubeariam em prejudicar o outro, em querer dominar o outro, em transformar o outro em mero instrumento para a satisfação de seus desejos e projetos.
– Esta triste realidade vemos bem estampada algum tempo depois no relato bíblico do episódio a envolver os dois primeiros filhos de Adão e Eva, Caim e Abel. Algumas décadas haviam se passado desde a expulsão do primeiro casal do Éden e já sentimos como as relações entre os homens se encontravam extremamente afetadas pelo pecado.
– Caim, tomado pela inveja, matou o seu irmão Abel, uma vez que o sacrifício deste havia sido aceito por Deus, enquanto que, com respeito ao seu sacrifício, não tinha havido aceitação da parte do Senhor (Gn.4:1-11). Temos aqui a notícia do primeiro crime de homicídio na história da humanidade, a clara demonstração de que a violência social tem como causa o pecado.
– Deus alertou Caim, antes do cometimento deste crime, de que ele deveria cuidar da sua comunhão com o Senhor, pois, se isto não ocorresse, o pecado o dominaria (Gn.4:7). No entanto, Caim não deu ouvidos a Deus, antes preferiu matar Abel e, desta maneira, “não ter concorrência” quando fosse oferecer sacrifícios ao Senhor.
– Na atitude tomada por Caim, notamos, com absoluta clareza, que a decisão pelo crime, pela violência é resultado de uma rejeição a Deus, é consequência direta do pecado, é resultado de uma vida impregnada de egoísmo, individualismo, de total despreocupação com o próximo. Tanto assim é que a primeira atitude de Caim ao ser interpelado pelo Senhor a respeito do paradeiro de Abel, foi a de dizer que não era ele guardador do seu irmão (Gn.4:9 “in fine”).
– A origem da violência social, portanto, é o pecado, aquele que o próprio Deus disse a Caim que estava à espreita, procurando dominá-lo. Por isso, aliás, assistimos a um grande aumento da criminalidade em nossos dias, dias de multiplicação da iniquidade (Mt.24:12).
– Muitos têm procurado defender a tese de que a causa da criminalidade é a injustiça social, a má distribuição de renda, a falta de oportunidade às camadas mais pobres da população e que, havendo melhora nos índices sociais, a tendência da criminalidade é de ser reduzida e, quiçá, debelada. Tais estudos, porém, não se coadunam com a realidade bíblica e, como sabemos, a Bíblia é a verdade (Jo.17:17).
– Estes estudos, em que pesem suas estatísticas, são diariamente infirmados pelos fatos, não podendo, pois, ser acolhidos. Estivessem eles certos, os países mais ricos seriam, necessariamente, países sem crimes ou com criminalidade descendente, o que, entretanto, não ocorre. Estivessem eles certos, a criminalidade não alcançaria as camadas mais abastadas da população, o que, também, não é o que se vê.
Notamos, portanto, que tais pensamentos e ideias, embora difundidos e apresentados como “verdade” pelos meios acadêmicos e de comunicação, não resistem aos fatos.
– Estes estudos esquecem-se do principal problema que causa a violência social, que é o pecado, pecado que, inclusive, também causa a injustiça social e a má distribuição de renda.
A violência social é resultado de uma vida sem Deus, de uma vida que busca a satisfação da natureza pecaminosa e que, por seu individualismo, egoísmo e desprezo para com o próximo, faz com que, a exemplo de Caim, não se tenha a menor dificuldade em se prejudicar, e eliminar até, o outro para que haja a concretização dos projetos malévolos levados a efeitos por quem anda sem Deus por esta Terra.
II – CONVIVENDO COM A VIOLÊNCIA SOCIAL
– Visto que a origem da violência social é o próprio pecado, temos que, à evidência, não teremos como combater a violência social se não combatermos o pecado. Não é por outro motivo que um dos caminhos efetivos de diminuição da violência social é a pregação do Evangelho, pois só ele é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16). Por isso, razão tinha o presidente brasileiro Getúlio Vargas (1882-1954) quando, certa feita, disse que quando se abre uma igreja, deixa-se de abrir um presídio.
– Diante desta realidade, torna-se pueril buscar-se uma vida terrena em que não haja violência ou se crer em ações ou estratégias que eliminem a violência da sociedade, pois sabemos que, sendo o pecado a origem da violência, e estando nós a viver numa época em que se multiplica o pecado, é de se esperar que a violência aumente cada vez mais, em cumprimento até ao que se encontra nas Escrituras.
– Deste modo, do salvo em Cristo Jesus, que conhece a verdade, não se pode esperar que confie nos planos criados pelos homens para a extirpação ou minoração da violência, pois não pode o Estado, a quem se atribui a tarefa de solucionar o problema, resolver esta questão, pois não se trata de uma questão política, mas, sobretudo, de uma consequência de um problema espiritual muito mais profundo e complexo.
– Enquanto a sociedade clama pela diminuição e erradicação da violência, buscando mesmo auxiliar o Estado para a solução deste problema, a própria sociedade, paradoxalmente, torna-se mais violenta a cada dia que passa. Como afirmou o sociólogo brasileiro Antonio Flávio Testa, “…Vivemos em uma sociedade que aceita, paradoxalmente, a violência, não obstante todo o investimento feito para diminuir a criminalidade.…” (A violência social no Brasil. 23 mar. 2009. Disponível em: http://professortesta.blogspot.com.br/2009/03/violencia-social-no-brasil.htmlAcesso em 29 maio 2012).
– Isto se dá precisamente porque, apesar de querer o fim da violência, a sociedade está a pecar cada vez mais intensamente, e o pecado, entre os seus produtos, gera violência, como já pudemos observar.
– Diante deste quadro, além de evangelizar, pois é através do Evangelho que podemos diminuir esta violência, pois só com a salvação em Cristo Jesus podemos nos libertar do pecado e, deste modo, também não mais satisfazermos aos desejos carnais que nos levam a uma vida de violência (Jo.8:32-36), o que deve fazer o salvo em Cristo Jesus?
– O salvo, sabendo a real origem da violência social, tem de conviver com esta dura realidade, visto que estamos no mundo (Jo.17:11), mundo está que está no maligno (I Jo.5:19) e do qual o Senhor Jesus não pede para que dele sejamos tirados (Jo.17:15).
– Temos de ser “sal da terra” e “luz do mundo” (Mt.5:13,14) e, para tanto, temos de ser mantidos aqui na Terra até o dia em que o Senhor nos quiser recolher para a eternidade ou, então, no dia do arrebatamento da Igreja. Em sendo assim, teremos de conviver numa sociedade cada vez mais violenta e, o que é real, muitas vezes sofrendo os males causados por esta violência.
– Na convivência com a violência social, devemos nos lembrar, ainda, do primeiro homicídio da humanidade. Ali a vítima do crime foi o justo Abel (Mt.23:35; Hb.11:4), prova de que os justos não estão livres de ser vítimas de crimes nesta Terra.
Aliás, os salvos, além da violência normalmente sofrida por todos os seres humanos neste mundo que jaz no maligno, ainda sofrem a violência por servirem a Deus, não raras vezes morrendo por causa da fé (Lc.21:16,17; Hb.11:35-40).
– Assim, além de termos consciência de que temos de conviver num mundo cada vez mais violento, também precisamos estar certos de que nós mesmos podemos, apesar de nossa condição de servos do Senhor, e até por causa disso, ser alvo da violência. Não estamos imunes à violência e quando ocorrer de um servo de Deus ser vítima de crime, não tenhamos nossa fé abalada, nem tampouco coloquemos em dúvida a espiritualidade daquele que for vítima da violência, mas, antes, nos lembremos do justo Abel.
– Mas alguém poderá objetar o que estamos a dizer, afirmando que Jesus, embora não tenha pedido ao Pai que nos tirasse do mundo, pediu ao Senhor que nos livrasse do mal (Jo.17:15). Não haveria, pois, uma promessa de Cristo de que jamais sucederia mal a nós, de que jamais seríamos vítima de violência neste mundo?
– Este mal a que Jesus Se refere em Jo.17:15 não significa, em absoluto, uma imunidade à violência nesta Terra, tanto que, como já dissemos, são muitos os servos do Senhor que padecem por causa da fé e, se fôssemos entender o mal mencionado em Jo.17:15 como uma imunidade à violência, não teríamos como considerar os martírios mencionados nas Escrituras, como as mortes de Estêvão (At.7:59,60) e de Tiago (At.12:1,2).
– Este mal a que Jesus Se refere é o verdadeiro mal, que é a perda da salvação, a eternidade sem Deus. Tanto assim é que, quando o Senhor Jesus adverte os Seus discípulos de que eles sofreriam e até perderiam a vida por causa do Seu nome, foi enfático ao afirmar que não deveríamos temer aqueles que podem matar o nosso corpo, mas, sim, Aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo, i.e., o próprio Deus (Mt.10:28; Lc.12:4,5).
– Confiamos em Deus e devemos pedir-Lhe proteção numa sociedade cada vez mais violenta, mas isto não significa que estejamos imunes à violência. Por isso, devemos, sim, tomar todas as precauções existentes para nos protegermos da criminalidade, lembrando, porém, que não devemos confiar nos equipamentos, nas estratégias de segurança mas, sim, lembrarmos que nossas vidas estão nas mãos de Deus.
– Nesta confiança em Deus, encontra-se outra atitude que devemos ter ante esta realidade, que é a de não sermos contaminados por uma obsessão, por uma ansiedade, por um medo excessivo, por uma fobia em razão da violência.
– Neste sentido, aliás, nosso comentarista fala dos “traumas” da violência social. “Trauma” é palavra de origem grega que significa “ferida”. Os “traumas” podem ser físicos ou psicológicos.
– “O trauma psicológico é um tipo de dano emocional que ocorre como resultado de um algum acontecimento. Pressupõe uma experiência de dor e sofrimento emocional ou físico.
Como experiência dolorosa que é, o trauma acarreta uma exacerbação do medo, o que pode conduzir ao estresse, envolvendo mudanças físicas no cérebro e afetando o comportamento e o pensamento da pessoa, que fará de tudo para evitar reviver o evento que lhe traumatizou. Igualmente, pode acarretar depressão, comportamentos obsessivos compulsivos e outras fobias ou transtornos , como o de pânico.…” ( Trauma psicológico. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Trauma_psicol%C3%B3gicoAcesso em 29 maio 2012).
– Assim, ante uma experiência de violência, pode a pessoa desenvolver um trauma psicológico, o que é cada vez mais comum, tendo em vista a crescente crueldade com que estão sendo perpetrados os crimes na atualidade, como reflexo desta multiplicação do pecado.
Os salvos, não estando imunes à violência, também não estão livres de sofrer com traumas decorrentes desta experiência terrível que é a de ser vítimas de uma criminalidade violenta e cada vez mais assustadora.
– A superação desta situação em que podemos nos envolver em virtude da experiência com a violência depende, sobretudo, de entrarmos em contato mais íntimo com o Senhor.
O trauma é uma “ferida na alma”, fonte de nossa sensibilidade, algo extremamente compreensível, mas que deve ser suplantado não só diante dos recursos existentes na ciência (seja a medicina, seja a psicologia), mas ante uma intensa aproximação com o Senhor, pois não há quem possa nos dar refrigério como o nosso Deus, o nosso socorro bem presente na hora da angústia (Sl.46:1).
– Precisamos, diante de uma experiência desta natureza, entender que, mesmo tendo sido vítimas de uma violência, não estamos desamparados pelo Senhor. Tais situações mostram-nos quanto o pecado prejudica a humanidade e que, apesar de tudo, temos garantida a salvação em Jesus Cristo e que tudo quanto estamos a sofrer aqui é passageiro, que nos espera algo muito melhor, novos céus e nova terra em que habita a justiça (II Pe.3:13).
– Muitas vezes, a experiência com a violência é permitida pelo Senhor para nos ensinar a não dar tanto valor para as coisas desta vida, mas darmos prioridade ao que realmente importa, ou seja, ao reino de Deus e à sua justiça (Mt.6:33).
Conhecemos diversos testemunhos de pessoas que foram vítimas de crimes e que, naqueles instantes tenebrosos, viram que nada valem os bens que possuíam, a posição social ou o prestígio alcançados e tão perseguidos, quando, sob a mira de uma arma de fogo, estavam a ponto de ser mortos. São experiências terríveis mas que nos fazem acordar para a realidade da vida humana.
Porventura, não foi isto que sentiu Ló quando foi levado cativo juntamente com os sodomitas (Gn.14:12).Quem sabe não foi depois esta terrível experiência que ele passou a se afligir com a maldade de Sodoma (II Pe.2:7,8)?
– O trauma desenvolve-se e se fortalece quando, em meio a tais experiências dolorosas e terríveis, a pessoa deixa de se voltar para Deus e, ao revés, volta-se contra Ele, querendo culpar-Lhe pelo acontecido, algo que, tomemos cuidado, é uma artimanha utilizada por Satanás para nos levar a uma atitude contrária à vontade de Deus.
– Quando passarmos por experiências traumáticas, jamais nos levantemos contra o Senhor, nem procuremos questionar o porquê daquela situação, como que a querer, diante de Deus, dizer que não merecíamos passar por aquela situação ou, o que é pior, culpar Deus pelo acontecido.
Deus sempre nos quer bem e, mesmo diante de situações extremamente penosas, jamais devemos deixar de considerar que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados pelo Seu decreto (Rm.8:28).
– Não resta dúvida que se trata de uma atitude difícil de ser tomada, mas é comportamento absolutamente necessário para quem serve a Deus e quer morar com o Senhor para sempre na eternidade. Não podemos querer raciocinar, em situações desta natureza, com a nossa mente humana, que é extremamente pequena e não tem condições de saber o que está acontecendo.
O Senhor bem demonstrou a pequenez do entendimento humano ante o divino ao interpelar o patriarca Jó, quando este O questionava a respeito de todo o sofrimento que estava a padecer (Jó 38-41).Não restou ao patriarca, ao final daquele questionário, senão reconhecer que falava do que não entendia, de coisas maravilhosíssimas que não compreendia (Jó 42:3).
– Ao lidarmos com as reações psíquicas decorrentes de experiências de violência, devemos, antes de mais nada, nos aproximar do Senhor e buscar n’Ele o consolo, a superação dos traumas, pois somente desfrutando do consolo e do amor divinos poderemos enfrentar situações que tais.
– Outra atitude que devemos evitar, no tratamento desta situação, é a ansiedade. Muitas vezes, não somos vítimas da violência, mas, em meio às ocorrências cada vez mais terríveis que têm acontecido em nossos dias, podemos ser tentados a viver ansiosamente, receando ser vítimas de crime a todo instante, um comportamento que, entretanto, também não pode existir entre quem cristão se diz ser.
– É evidente que, mesmo sendo servo de Deus, como já dissemos supra, nem por isso podemos ser imprudentes e alheios à criminalidade intensa que toma conta do mundo em nossos dias, e sejamos descuidados com a segurança dse nossa pessoa, de nosso patrimônio e de nossa família. Mas, entre prudência e obsessão, há uma grande diferença.
– “Ansiedade”, diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “grande mal-estar físico e psíquico; aflição, agonia”; “desejo veemente e impaciente”; “falta de tranquilidade; receio”; “estado afetivo penoso, caracterizado pela expectativa de algum perigo que se revela indeterminado e impreciso, e diante do qual o indivíduo se julga indefeso”.
– A origem da palavra “ansiedade” é a palavra latina “anxietas, atis”, que, por sua vez, tem origem no radical “ang-“, cujo significado é “’estreitar, oprimir, apertar (a garganta)”, que tem a mesma origem da palavra “angústia”, que a psicologia considera como sendo “estado de excitação emocional determinado pela percepção de sinais, por antecipações mais ou menos concretas e realistas, ou por representações gerais de perigo físico ou de ameaça psíquica” e a psicanálise, “reação do organismo a uma excitação impossível de ser assimilada, desencadeada pelo bloqueio da consecução da finalidade de uma pulsão (p.ex., a frustração do orgasmo) ou pela ameaça de perda de um objeto investido por uma pulsão (p.ex., a perda de um ser amado)”.
– Isto significa que todo ser humano, salvo ou não, tem ansiedade, pois ela é o resultado de termos uma natureza pecaminosa e, ao mesmo tempo, termos sido criados para viver com Deus, o que é impossível por causa do pecado que praticamos. Destarte, neste conflito entre o objetivo da eternidade e o domínio do pecado que nos impele para o passageiro e temporário, surge uma “estreiteza”, um “aperto”, uma “opressão” no próprio ser humano, que gera a “ansiedade” ou “angústia”. Isto decorre da própria natureza humana e não há como dela nos livrarmos enquanto não atingirmos a glorificação, que é o estado final da salvação, quando nos livraremos desta natureza pecaminosa, deste “corpo do pecado”.
Até lá, porém, quem passou a depender exclusivamente de Jesus, quem se tornou em vara da videira verdadeira (Jo.15:1), tem como se livrar desta ansiedade, lançando-a sobre o Senhor Jesus, como, aliás, nos recomenda o apóstolo Pedro (I Pe.5:7).
– A salvação é o primeiro e indispensável passo para cuidarmos da ansiedade. A ansiedade resulta do domínio da natureza pecaminosa sobre o homem, e não poderá ser tratada se a carne não estiver crucificada com Cristo. Devemos andar segundo o espírito e não segundo a carne para termos condição de lutar contra a ansiedade e, por isso, temos de ter nascido de novo, nascido da água e do Espírito (Jo.3:3-6).
– A ansiedade resulta da falta de uma sensação de bem-estar, e esta sensação de bem-estar somente advém ao ser humano quando a eternidade do seu interior se encontra com o Eterno, ou seja, quando alguém aceita a Cristo Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador, instante em que o próprio Deus vem morar no interior do homem, preenchendo aquele vazio de significado, aquele vácuo interior do ser humano, vácuo que só pode ser preenchido por Deus porque é “um vazio do tamanho de Deus”, o único ser eterno que existe.
– Assim, diante de fatos tão tenebrosos como o aumento da violência social, a reação não é viver ansioso, dar as costas para Deus, mas aumentar, mais e mais, a confiança em Deus, voltar-se ao Senhor, tomando as devidas cautelas, mas sem deixar de confiar no Senhor, sem se entrar nesta paranoia que tem tomado a vida de muitos.
– Outra reação que costuma ocorrer diante da violência social é o medo. A palavra “medo” vem da palavra latina “metus”, cujo significado é “medo, temor, desassossego, inquietação, ansiedade, temor religioso, objeto de temor”, palavra que, na linguagem do direito romano, significava, por sua vez, “constrangimento moral imposto a qualquer um para fazê-lo realizar um certo ato, pela ameaça de um mal iminente”.
– O “medo” está acompanhado de uma atitude de incredulidade. Ló, mesmo tendo sido salvo (praticamente à força) do desastre que cairia sobre as cidades da planície, não confiou que, no lugar indicado pelos anjos, estaria livre do juízo divino e, por isso, pediu que lhe fosse permitido ir para outro local, local este, aliás, muito mais vulnerável do que o monte. O “medo”, pois, sempre demonstra uma atitude de falta de confiança em Deus, está sempre relacionado com um ato de incredulidade.
– O medo é uma sensação que advém ao ser humano quando ele verifica que é incapaz, impotente para resolver uma determinada situação, de enfrentar um determinado perigo. Ao utilizar-se de sua inteligência e de sua capacidade intelectual, o homem percebe que existem circunstâncias que lhe trazem riscos, a começar pelo risco da sua própria sobrevivência, riscos estes que não tem como eliminar. Diante desta percepção do perigo, o homem, então, tem duas alternativas: ou confia em Deus, que é o seu Criador, que pode solucionar estes problemas, dando-lhe a necessária segurança, ou, então, cria mecanismos próprios que permitam amenizar ou eliminar, dentro de sua ótica, tais perigos.
– O medo é uma sensação que apresenta um lado positivo, qual seja, a consciência da fragilidade humana, de sua impotência diante do mundo. Sem que se verifique esta sensação, não há como percebermos a nossa necessidade de Deus. O medo é uma emoção humana que desmente a ilusória proposta satânica de que podemos viver num estado de autossuficiência. Se não sentíssemos medo, certamente nos seria muito difícil perceber que precisamos de Deus.
– Não é por outro motivo que, nas Escrituras, temos, por 365 vezes, a expressão “não temais” ou alguma de suas variantes, o que, pela coincidência do número de vezes da expressão com o ano do calendário gregoriano, fez com que muitos dissessem que há uma expressão “não temais” para cada dia do ano.
A insistência da Bíblia em dizer que não devemos ter medo é mais uma demonstração de que o sentimento de medo é inerente à própria condição humana, à própria natureza do ser humano, mas que Deus, ciente desta incapacidade, desta impotência do ser humano, está sempre à disposição para eliminar esta sensação, mediante a comunhão com Ele, o que se dá apenas na pessoa de Jesus Cristo que, por ser Aquele que elimina o medo, é o responsável por nos trazer a paz, aquele sentimento que nos completa e retira o medo, pois.
– Como se pode observar, portanto, o medo também não é uma reação que devamos ter em meio à violência social crescente em nossos dias. Trata-se de um comportamento inadequado para quem confia em Deus. Devemos ter uma vida de intimidade com o Senhor para evitar que tal conduta venha tomar conta de cada um nós.
– A ansiedade e o medo, ademais, são potencializados, nos dias em que vivemos, pelo sensacionalismo que muitas vezes caracteriza o tratamento da questão pelos meios de comunicação de massa. Embora seja real o aumento da criminalidade, não devemos dar crédito a tudo quanto se veicula nos meios de comunicação, a ponto de termos transformada nossa conduta numa obsessão, visto que os justos são pessoas que não “engolem” toda e qualquer informação, mas, antes, investigam o que é veiculado (Sl.10:4), confiando em Deus e sabendo que Deus é a verdade (Jr.10:10).
– Em termos de violência social, também, existe um comportamento que é o de tentar reagir à violência com mais violência, à demonstração de desamor que sempre acompanha toda e qualquer atitude violenta com o ódio. Assim, não são poucos, na atualidade, que defendem adoção de medidas de violência contra os criminosos, como os linchamentos e, não raras vezes, até mesmo a pena de morte para quem pratica delitos.
– É de Deus a competência para a aplicação seja da morte física como da morte espiritual, tanto que as Escrituras dizem que somente Deus pode dar ou tirar a vida (I Sm.2:6) como também que, no grande julgamento que haverá na humanidade, será Ele o grande julgador e a pena a ser aplicada aos transgressores será, exatamente, a pena de morte, mas a morte verdadeira, a morte eterna, a sempiterna separação de Deus (Ap.20:13-15).
– Sabemos que o tema é polêmico, mas temos a convicção de que a Bíblia Sagrada, em momento algum, dá a qualquer autoridade o poder de tirar a vida do semelhante, ainda que este seja mau e transgressor da lei.
O fato de a pena de morte ter sido, inclusive, incluída na lei de Moisés (embora nunca tenha sido rigorosamente aplicada), não invalida este nosso entendimento, pois é bíblico que muito do que se constou na lei mosaica decorreu da dureza dos corações dos homens e não da vontade operativa de Deus (ou seja, que Deus tivesse querido isto, tendo apenas permitido).
– A defesa da pena de morte é a própria anulação da mensagem do evangelho, que é baseada na crença de que o homem pode se arrepender e, em se arrependendo, obtém o perdão de todos os seus pecados. A pena de morte está baseada no pressuposto de que há seres humanos irrecuperáveis, há casos em que não é possível a restauração do homem e, portanto, deve ele ser retirado do meio social para sempre.
-Sabemos que há pessoas que rejeitam a salvação e outras que, inclusive, cometem o pecado imperdoável da apostasia, contra o qual não há redenção possível. Todavia, a Bíblia toda ensina que cabe a Deus, o único dono da vida, a aplicação de eventual pena de morte, pena esta que é definitiva, pois não atinge apenas a morte física, mas também a morte espiritual.
– A Palavra de Deus é enfática em afirmar que a vingança, a recompensa pelo mal cometido não compete ao homem efetuar, mas, unicamente, a Deus e isto desde os tempos da lei de Moisés – Lv.19:18; Dt.32:35,41,42; Sl.94:1,2; Is.61:2; Rm.12:19; Hb.10:30; Ap.6:10; 19:2.
– Portanto, a atitude que devemos ter com relação aos criminosos não é a de vingança ou de sua eliminação, mas, sim, a mesma atitude que teve o Senhor Jesus que, diante de Seus algozes, perdoou-lhes (Lc.23:34).
– Diante da violência social, sem tirar a responsabilidade do criminoso, deve todo salvo apresentar o perdão como resposta à injustiça cometida. É o perdão a atitude de quem tem a salvação para aquele que agride, violenta. Devemos lembrar que não lutamos contra a carne nem contra o sangue, mas com todas as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais em Cristo (Ef.6:12).
– Como vítimas de crimes ou sendo duramente atingidos por crimes cometidos, mesmo não sendo as vítimas diretas de tais atitudes, é preciso que estejamos prontos a perdoar os criminosos. Sabemos que isto não é uma atitude fácil, mas não podemos deixar de entender que, para seguir a Jesus, temos de renunciar a nós mesmos (Mc.16:24) e o perdão é uma conduta típica de quem se negou a si mesmo (Mc.8:34; Lc.9:23).
– A grande diferença entre os que são salvos por Cristo Jesus e os demais seres humanos é, precisamente, a circunstância de que o cristão verdadeiramente ama o próximo como a si mesmo e, desta maneira, é capaz de perdoar àqueles que os perseguem. Jesus mandou que amássemos até os nossos inimigos (Mt.5:44; Lc.6:27,35) e, portanto, não temos como negar aos que cometem crimes contra nós ou nossos entes queridos o perdão.
– O perdão não significa que devamos ser lenientes com as condutas criminosas ou que permitam que campeie a impunidade. Como cidadãos, devemos exigir das autoridades que esmerem pela punição dos delitos cometidos, para um estado de segurança, pois para isto elas foram constituídas, para “castigar o que faz o mal” (Rm.13:4 “in fine”).
– A violência encontra-se banalizada na atualidade. O ambiente de multiplicação do pecado faz com que a violência seja cada vez mais admitida e aceita pela sociedade, nas mínimas coisas, o que é inadmissível e revela o alto grau de degradação moral e de corrupção da humanidade.
– Como servos de Deus, devemos exigir das autoridades uma conduta de combate à criminalidade e à violência, inclusive não permitindo que o Estado seja, ele próprio, um fator de geração de violência, como, lamentavelmente, se tem visto com cada vez maior intensidade nos aparelhos de segurança pública de nosso país, não raras vezes ele próprio promotor de atividades violentas e ilegais.
– Nunca é demasiado lembrar que, em Seu reino milenial, o Senhor Jesus terá como uma das características de Seu governo de paz, a exemplar e rápida punição de todos quantos violarem a legislação naquele tempo (Is.11:3-5). Ora, se assim será o reinado de Cristo, a Igreja deve sempre postular e defender que o modelo existente se aproxime o máximo possível daquilo que será implantado pelo Rei dos reis e Senhor dos senhores.
– A violência social é consequência do pecado e, como tal, tem a responsabilidade pessoal do criminoso. Não se pode, também, querer atribuir à sociedade ou à miséria a total responsabilidade pelo cometimento de delitos, pois todo ser humano tem livre-arbítrio e, portanto, a opção pelo crime reflete uma rejeição livre e consciente da misericórdia e da graça divinas, exatamente como se deu com o primeiro criminoso, Caim, como já dissemos supra, Caim que as Escrituras dizem ser uma pessoa maligna (I Jo.3:12).
– Por isso, o perdão que o cristão deve dar àquele que cometeu crime contra si ou contra alguém que lhe seja querido não significa, em absoluto, a impunidade em termos sociais. Cada um deve responder pelos atos que cometeu e o Estado foi criado por Deus com este propósito de punir os delinquentes, punição, entretanto, que não pode ir além dos limites traçados pelo Senhor ao próprio Estado, o que envolve não só a preservação da vida do criminoso mas a inviolabilidade de sua dignidade como pessoa humana, imagem e semelhança de Deus.
– Diante dos criminosos, a igreja deve ir aos estabelecimentos penitenciários e voltar a bradar, com a mesma unção do Espírito Santo, que os condenados e presos devem se “salvar desta geração perversa”(At.2:40), que devem se arrepender e crer em Jesus (At.2:37-39; 16:26-31), pois o nosso Deus é o mesmo Deus de Paulo e de Silas e que também manifesta Seu poder e amor nas prisões.
– Não se contesta que a violência social traz muitas e grandes aflições aos que servem a Deus, mas é também nesta circunstância tão aflitiva que devemos, com tal conduta diferente da dos demais homens, fazer com que o nome do Senhor seja glorificado.
COLABORAÇÃO PARA O PORTAL ESCOLA DOMINICAL – EV. CARAMURU AFONSO FRANCISCO
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