LIÇÃO Nº 11 – ADOTADOS POR DEUS
O salvo passa a ser filho de Deus.
INTRODUÇÃO
– Quem é salvo por Jesus Cristo passa a ser filho de Deus.
– A adoção é um dos atos do processo da salvação.
I – QUEM SÃO OS FILHOS DE DEUS
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– Na sequência do estudo da doutrina da salvação, debruçar-nos-emos sobre um ato do processo da salvação, que é a adoção de filhos, ato do processo que, temporalmente, é simultâneo a outros atos, pois, como explica a Declaração de Fé da CGADB:
“…No ato da aceitação, o pecador é imediata e simultaneamente salvo (Jo.5:24; Rm.10:9,10), justificado (At,13:38,39; Rm.3:24; Gl.2:16) e adotado como filho de Deus (Jo.1:12; Rm.8:15; Gl.4:5)” (X, 2, p.111)..
– As Escrituras Sagradas são claras ao mostrar que, quando somos salvos, nós recebemos o poder de ser chamados “filhos de Deus”, por termos crido em o nome de Jesus (Jo.1:12).
E, como afirma o apóstolo Paulo, se somos filhos, somos herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm.8:17) e esta realidade de ser sermos filhos de Deus é testificada pelo próprio Espírito Santo que habita em nós (Rm.8:16).
– Jesus mostrou-nos esta realidade do salvo ao nos ensinar que devemos nos dirigir nossa oração ao “Pai”, repetindo, assim, uma circunstância que estava presente desde o início da história do universo, quando Deus é apresentado como “Pai”.
– No instante mesmo da criação deste universo físico, Deus é identificado como Pai, pois assim o Senhor revelou a Jó, quando afirmou que, enquanto punha os fundamentos deste universo físico, os “filhos de Deus rejubilavam” (Jó 38:7), referindo-se, então, aos anjos que testemunhavam a criação do universo físico, também chamado de “universo relativo”, a dimensão que está debaixo do espaço-tempo.
– Aliás, esta denominação dos anjos como sendo “filhos de Deus” é própria do livro de Jó, que apresenta estes “filhos de Deus” como sendo os anjos fiéis, tanto que Satanás é apresentado como sendo um “intruso” entre eles (Jó 1:6; 2:1).
Vê-se, portanto, desde o início da revelação das Escrituras para a humanidade (pois se entende que o livro de Jó seja o primeiro livro da Bíblia a ser escrito) que a ideia de “filiação a Deus” envolve o exercício do livre-arbítrio em obediência ao Senhor, porquanto, como sabemos,
só são assim chamados os anjos que se mantiveram fiéis a Deus quando da rebelião de Satanás, que, por isso mesmo, é chamado assim, visto que Satanás significa “adversário”.
– Não ignoramos que a primeira acepção pela qual Deus é chamado de “Pai” é precisamente porque foi o Criador de todas as coisas e, por ter dado origem a tudo, é, realmente, o “Pai” de tudo.
É neste sentido que o escritor aos hebreus chama o Senhor de “Pai dos espíritos” (Hb.12:9) e Tiago O denomina de “Pai das luzes” (Tg.1:17).
Até hoje, aliás, é utilizada esta expressão com relação aos inventores, como, por exemplo, Alberto Santos Dumont, que é chamado de “o pai da aviação”, por ter inventado o avião.
– No entanto, não é esta a principal acepção com que Deus é chamado de Pai nas Escrituras. Em Dt.32:6, quando Moisés, em seu último cântico, ao profetizar a respeito da corrupção dos filhos de Israel, afirma que, embora Deus fosse a verdade, a Rocha cuja obra é perfeita, seja justo e reto, os filhos de Israel se corromperam, tornando-se uma geração perversa e torcida e, por isso, “não eram filhos d’Ele” (Dt.32:5).
– Notemos que, embora Deus tivesse criado a nação israelita, criação evidente visto que tudo começou com o milagre do nascimento de Isaque e do nascimento de Jacó, cujas mães eram estéreis, a partir do instante em que os israelitas se corromperam, deixaram de ser “filhos d’Ele” (Dt.32:5), a nos mostrar, portanto, que a filiação a Deus não depende apenas da criação, mas, sim, da obediência, da fidelidade ao Senhor.
– Os primeiros homens a ser chamados de “filhos de Deus” são os descendentes de Sete (Gn.6:2,4).
Eles eram “filhos de Deus” porque invocavam o nome do Senhor, seguindo, assim, o exemplo de seu pai Sete, que, ao se tornar pai, passou a invocar o nome do Senhor (Gn.4:26) e esta invocação ao nome do Senhor é uma demonstração da condição de ser salvo (Jl.2:32; At.2:21; Rm.10:13).
– Sete havia sido dado por Deus em lugar de Abel ao primeiro casal (Gn.4:25) e Sete realmente substituiu Abel no quesito de adoração e obediência ao Senhor, pois, embora fosse de natureza pecaminosa (Gn.5:3), creu certamente na promessa da redenção através da “semente da mulher” e passou a buscar ao Senhor, tendo, com seu exemplo, feito com que seus descendentes o imitassem.
A propósito, como afirma Filo, o maior comentarista judeu das Escrituras na língua grega, por esta atitude Sete se tornou o ascendente de todos os justos, vez que somente a sua linhagem, por intermédio de Noé, continuou a existir na Terra.
– Os descendentes de Sete, porém, serviram ao Senhor por quatro gerações, pois, a partir daí, começaram a se corromper, misturando-se com as “filhas dos homens” (Gn.6:1,2), ou seja, a descendência de Caim, cuja civilização foi construída fora da presença do Senhor (Gn.4:16,17).
– Os descendentes de Sete, ao se misturarem com a linhagem de Caim e assumir o seu “modus vivendi”, deixaram de ser “filhos de Deus”, perderam esta condição, a nos mostrar, portanto, que somente somos “filhos de Deus” quando tememos a Ele, quando O invocamos, quando nos mantemos separados do pecado.
– Quando do episódio da confusão das línguas em Babel, é sintomático que a comunidade única pósdiluviana tenha sido chamada de “filhos dos homens” (Gn.11:5), ou seja, aqui vemos bem caracterizado que o homem no pecado, embora seja criatura de Deus, não pode ser chamada propriamente de “filho de Deus”.
Aqueles homens que se rebelaram contra o Senhor, construindo a torre de Babel, são denominados de “filhos dos homens”, apesar de descenderem biologicamente de Sete e de Noé, ou seja, é-lhes aplicada a mesma nomenclatura empregada para os descendentes de Caim, precisamente porque estavam em pecado, em desobediência ao Senhor.
– Jesus identifica os “filhos de Deus” como sendo os “pacificadores” (Mt.5:9). A palavra grega aqui é “eirenopoios” (ειρηνοποιος), cujo significado é “aquele que faz as pazes, pacificador, um embaixador que vem trazer a paz”.
Portanto o “filho de Deus” é alguém que está em paz com Deus, que obteve a reconciliação com o Senhor e agora pode trazer a “mensagem de paz”, o anúncio da reconciliação, a indicar, portanto, que “filho de Deus” é aquele que está em comunhão com o Senhor.
– Jesus também diz que são “filhos de Deus” aqueles que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro e a ressurreição dos mortos, que ficarão para sempre livres da morte, pois são “filhos da ressurreição” (Lc.20:35,36), fazendo um contraponto entre estes e os “filhos deste mundo”.
– Ao assim afirmar, o Senhor Jesus deixa claro que somente é “filho de Deus” quem for “filho da ressurreição”, ou seja, quem tiver morrido para o mundo e ressuscitado para Deus, como nos ensina o apóstolo Paulo em Rm.6:3-11.
Só é filho de Deus, portanto, quem morre para o mundo e para o pecado e agora anda em novidade de vida, ou seja, vive para Deus.
– Para que alguém seja “filho de Deus” foi necessário que Jesus morresse pelos pecadores (Jo.11:51,52), de sorte que a filiação a Deus não pode se dar pelo simples fato de termos sido criados pelo Senhor, mas pela circunstância de aceitarmos e crermos que o sacrifício de Jesus Cristo é necessário para nos dar vida eterna, para nos fazer ser “filhos de Deus”.
– Não é por outro motivo, aliás, que o apóstolo João disse que para ser “filho de Deus” é preciso crer em o nome de Jesus, ocasião em que recebemos o poder de sermos feitos “filhos de Deus”. É o que repete Paulo ao afirmar aos gálatas que nos tornamos filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus (Gl.3:26).
II – A GERAÇÃO DOS FILHOS DE DEUS
– A filiação a Deus dá-se quando é gerada a “nova criatura” (II Co.5:17; Gl.6:15), quando se dá o “novo nascimento” (Jo.3:3,6), a “regeneração” (Tt.3:5).
– Para ser “filho de Deus”, portanto, faz-se mister que se tenha uma “nova criação”. Aqui, portanto, há a confluência dos dois sentidos com que Deus é chamado de “Pai”: o salvo “nasce de novo”, é “gerado novamente” e, assim sendo, Deus é Seu Pai por duas vezes, seja pela criação física, seja pela criação espiritual.
– Quem gera esta nova criatura é a Palavra de Deus (I Pe.1:23). Quando o homem ouve a Palavra e acolhe a fé salvadora, passa a reconhecer-se como pecador e deseja livrar-se do pecado.
Crê, então, que Jesus Cristo é o Salvador, confessa seus pecados e deles se arrepende, decidindo mudar de vida.
– Neste exato instante, os seus pecados são perdoados e são retirados, lançados no “mar do esquecimento” (Mq.7:19), desfazendo, assim, a separação que havia entre ele e Deus (Is.59:2).
O espírito humano, então, é “reativado”, pois sua função é precisamente ligar o homem a Deus, e se une, então, ao Espírito Santo, que passa a habitar neste homem que alcançou a salvação (Jo.14:17), tornando-se, assim, templo do Espírito Santo (I Co.6:19).
– Surge, então, a “nova criatura”, que nasce do Espírito (Jo.3:6,8), este “novo homem” que tem o espírito humano controlando a alma e o corpo, em perfeita união não só com o Espírito Santo, mas também com o Pai e o Filho, pois passa a ser morada de Deus no Espírito (Jo.14:23; Ef.2:22).
– Esta “nova criatura” não tem pecado, é criada reta (Ec.7:29), assim como o foram Adão e Jesus. É um nascimento do Espírito, razão pela qual é indiferente a ele qualquer circunstância física ou carnal:
“Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura” (Gl.6:15). O que importa é ter crido em Jesus e, por esta crença, ter recebido o Espírito Santo e se tornado templo do Espírito Santo:
“Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gl.3:27,28).
– Por se tratar de um “nascimento espiritual”, “não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência” (Rm.9:8).
Por isso, equivocados estavam os judeus quando se achavam “filhos de Deus” única e exclusivamente porque eram “filhos de Abraão”, ou seja, confiavam em sua filiação biológica, quando, na verdade, deveriam, a exemplo da linhagem piedosa de Sete, ter invocado o nome do Senhor para alcançarem esta filiação, ser-Lhe obedientes e tementes.
– João Batista confrontou esta crença equivocada dos judeus, quando os conclamou ao arrependimento para que fossem verdadeiros “filhos de Abraão”, “filhos da promessa” e não apenas “filhos biológicos” (Mt.3:9).
– O Senhor Jesus também mostrou que os judeus estavam equivocados a este respeito, ao afirmar que para ser “filho de Abraão” era necessário praticar as “obras de Abraão”, que nada mais é que amar a Jesus, ouvir a Sua Palavra e crer e dizer a verdade (Jo.8:39-47).
– Em nossos dias, ainda há os que pensam como estes judeus equivocados.
Acreditam que por serem filhos de salvos, também são salvos, esquecidos de que Deus tem apenas filhos e não, netos. Ninguém é salvo por descendência biológica.
Assim como os pecados dos pais não são imputados aos filhos, de igual maneira a salvação do pai não é imputada ao filho (Ez.18:18-20).
– Daí porque não podemos considerar que os judeus serão salvos única e exclusivamente porque sejam judeus, porque pertencem a Israel, “a propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos” (Ex.19:5),
precisamente porque Jesus os chamou de “filhos do diabo”, porque não criam n’Ele. Somente seremos salvos se crermos em Jesus e só, assim, poderá alguém ser chamado “filho de Deus” (Jo.1:12).
– De igual modo, não tem cabimento a ideia de que o batismo salva, o que justifica o “batismo infantil”, praticado por vários segmentos do Cristianismo, inclusive protestantes.
Se sabemos que a pessoa se torna “filha de Deus” pela “nova criação” e que esta criação se dá pela Palavra, como admitir que alguém é batizado nas águas, torna-se salvo sem fazer uso da razão, única e exclusivamente porque seus pais o levaram ao batismo?
Isto nada mais é que admitir que os pais possam, ainda que por meio de um ritual, obter a salvação para seus filhos, o que nada mais é que crer numa “descendência biológica de salvação”, ainda que não só por força da geração biológica, mas mediante um ritual, uma cerimônia.
– O “batismo em Cristo” de que fala o apóstolo Paulo em Gl.3:27 é a inserção do salvo no corpo de Cristo, o que se dá única e exclusivamente pela fé em Cristo Jesus, o mesmo que o apóstolo chama, em I Co.12:13 de “batismo em um Espírito”, precisamente porque “beberam de um Espírito”,
a experiência do novo nascimento que Jesus descreve para Nicodemos, onde se faz necessário um “olhar com fé”, assim como os israelitas olharam para a serpente de metal fabricada por Jesus e se livraram da morte quando mordidos pelas serpentes ardentes do deserto (Jo.3:14-16).
– Defendem alguns que o “batismo infantil” substituiu a “circuncisão” e que isto tem a ver com a influência que os pais podem exercer sobre seus filhos, e, portanto, devem os filhos ser batizados para gozar das bênçãos da comunidade cristã, assim como todo israelita circuncidado gozava das bênçãos de Israel.
Todavia, esta influência se dá não pelo batismo nas águas e, sim, pela criação na doutrina e admoestação do Senhor (Ef.6:4), pelo exemplo, tendo a lei de Deus no coração e instruindo a criança no caminho em que deve andar (Dt.6:6-9; 11:18,19; Pv.22:6).
– Quem gera o “filho de Deus” é a Palavra, que é a “semente incorruptível”, não a “semente corruptível”, que é a herança biológica, que nos faz ser tão somente filhos de Adão e, assim, herdeiros de sua natureza pecaminosa (Gn.5:3; Sl.51:5).
– Para se tornar “filho de Deus” é preciso “crer em Jesus” (Jo.1:12) e, portanto, fazer uso da razão para que se tenha a apropriação desta fé salvadora, algo que, à evidência, um recém-nascido não tem condições de fazer e que os pais não podem fazer em lugar de seus filhos e que o batismo jamais proporcionará.
III – A ADOÇÃO DE FILHOS
– Esta nova criatura, gerada pela Palavra, não foi deixada ao léu, não é uma “criatura órfã” (Jo.14:18), abandonada no mundo.
Muito pelo contrário, assim que esta criatura é gerada, nasce, é ela adotada pelo Senhor e tornada “filha de Deus”.
– Não há como o homem viver só (Gn.2:18). Ele precisa relacionar-se tanto com Deus quanto com o próximo.
Tanto assim é que o ser humano é uma criatura que tem um longo tempo de dependência de seus genitores, muito mais do que qualquer outro ser vivo.
Tal se dá para que vejamos o nível imenso de dependência que temos de ter com relação ao Senhor e com o próximo, a indicar que precisamos exercer o amor como critério de relacionamento seja com Deus, seja com outro ser humano.
– Quando a Bíblia diz que, quando cremos em Jesus, recebemos o poder de sermos feitos “filhos de Deus”, está precisamente nos indicando que dependemos de Deus e que temos de ter um relacionamento com Ele, que é o nosso “Pai”.
“Pai” não é apenas aquele que gera, mas, também, aquele que cuida.
“…O pai e a mãe integram, de forma originária, determinante e estruturante, a família e a eles a Bíblia impõe o dever de
sustentar (II Co.12:14; Pv.31:15),
formar (Dt.6:7),
disciplinar os filhos (Ef.6:4; Hb.12:7,8) e
instruí-los moral e espiritualmente (Pv.22:6)…” (Declaração de Fé da CGADB XXIV, 2, p.205).
Se os pais humanos, que são maus, têm estes deveres, como o Pai celestial poderia ter menos atributos, sendo bom (Mt.7:11)?
– Como diz a Declaração de Fé da CGADB: “A expressão ‘filho de Deus’, com relação ao crente em Jesus designa uma filiação por adoção (Gl.4:5), individual, algo íntimo, e por isso clamamos:
‘Aba, Pai’, ou seja, ‘papai’: ‘mas recebemos o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai’ (Rm.8:15); ‘E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama: ‘Aba, Pai’ (Gl.4:6); trata-se da relação espiritual de Deus com os seres humanos mediante a fé em Jesus Cristo:
‘Porque todos sois de Deus pela fé em Cristo Jesus’ (Gl.3:26); ‘Mas a todos quantos O receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no Seu nome’ (Jo.1:12)…” (IV, 5, p.53).
– Deus é chamado de “Pai” porque adquiriu, fez e estabeleceu Israel.
Notamos, pois, que há um relacionamento entre Deus e Israel e, por isso, Deus é Pai de Israel, porque o adquiriu, o fez e o estabeleceu.
– Em Dt.32:6, o texto sagrado mostra-nos, claramente, que a Pessoa do Pai é a responsável pelo estabelecimento de um relacionamento entre Deus e os homens, relacionamento este que é estatuído por três atitudes:
a aquisição, a feitura e o estabelecimento de Israel. Vemos, pois, que o “Pai” é uma Pessoa que tem cuidado especial sobre Israel, pois, desde a criação, tudo fez por Israel, sustém-no em todos os momentos.
– Somos “filhos de Deus” porque fomos adquiridos por Ele. Ele nos comprou (I Co.6:20) mediante o preço do sangue de Cristo derramado na cruz do Calvário (I Pe.1:18,19) e é aí que vem a ideia da “adoção”, mencionada pelo apóstolo Paulo quando afirma que o salvo recebe o espírito de adoção pelo qual clama “Aba, Pai” (Rm.8:15), é remido a fim de receber a adoção de filhos (Gl.4:15) e predestinado para ser filho de adoção por Jesus Cristo (Ef.1:5).
O mesmo apóstolo Paulo também nos ensina que os israelitas eram “filhos de Deus“ por adoção (Rm.9:4).
– A palavra grega para adoção é “huiothesia” (υίοθεσία) que é um composto de duas palavras “huios” (υίός), que significa “filho” e “tithemi” (τίθημι), que significa “ser colocado”, “ser posto”. Assim, a ideia de “adoção” é a ideia de “ser posto como filho”, “ser colocado como filho”.
– Assim que o “novo homem” é gerado, ele não é deixado ao léu, mas é colocado na posição de “filho”, passa a ter um relacionamento com Deus, que Se faz de seu Pai e, como tal, assume o compromisso de nutrilo, protege-lo, ampará-lo, instruí-lo e dele cuidar.
– Trata-se de uma “adoção”, porque o salvo, embora tenha sido gerado de novo, não deixa de ser uma criatura e, deste modo, não tem a mesma natureza do Criador.
O simples fato de ter nascido, faz deste “novo homem” um ser completamente distinto de Deus, que não tem princípio de dias nem fim de vida.
– Sendo de natureza diversa de Deus, jamais poderia este “novo homem” ser filho por natureza, algo que é exclusivo de Jesus, que, por ser Deus, é Filho em toda a plenitude já que, como diz a Declaração de Fé da CGADB:
“…O Senhor Jesus Cristo é, desde a eternidade, o único Filho de Deus e possui a mesma natureza do Pai, como afirmam os credos: ‘consubstancial com o Pai’…” (III, 5, p.43).
– Como o “novo homem” é de natureza distinta, somente pode ser “colocado na posição de filho”, mediante a adoção.
“Adoção”, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “o processo legal que consiste no ato de aceitar espontaneamente como filho de determinada pessoa,
desde que respeitas as condições jurídicas para tal; a aceitação espontânea de (pessoa ou animal, ger. doméstico) como parte integrante da vida de uma família, de uma casa; aceitação, admissão do que antes era externo, alheio ou não era conhecido, us. ou cogitado”.
– Pelo que se verifica, vemos que a “adoção” envolve sempre um ato voluntário de aceitação.
Tanto assim é que a raiz da palavra “adoção” é “opt”, que significa “faculdade ou liberdade de agir, livre escolha”.
– Quando a Bíblia nos diz que Deus nos adotou como filhos está uma vez mais a indicar que a salvação é um ato voluntário de Deus, uma iniciativa divina que faz com que nós, que, no pecado, estávamos alheios ao Senhor, separados d’Ele, estranhos às Suas promessas (Ef.2:12), passássemos a fazer parte da família de Deus, a ser parte integrante da vida da família do Senhor.
– A adoção é conhecida desde as mais priscas eras. No Código de Hamurábi, o mais antigo conjunto de leis conhecido da humanidade, a adoção era disciplinada.
Dizia o item 185 do Código: “Se um homem adotar uma criança e der seu nome a ela como filho, criando-o, este filho crescido não poderá ser reclamado por outrem”.
– A adoção é, pois, um ato voluntário em que alguém recebe “o nome do pai” e é colocado “como filho”, passando, então, o pai a criá-lo, a cuidar dele e, quando crescido, ninguém poderá reclamá-lo do pai, ou seja, o pai passa a ter todos os direitos sobre o filho, o filho passa a pertencer-lhe.
– É exatamente isto que o apóstolo Paulo diz que Deus faz conosco. Por um ato voluntário, o Senhor quis nos tornar Seus filhos e, assim, põe o Seu nome em nós e passa a nos criar, isto é, a cuidar de nós, a nos alimentar, a nos ensinar como devemos viver, a Se apresentar como exemplo que temos de seguir, de tal sorte que passamos a crescer na Sua convivência, a conhecê-l’O, ou seja, “ter intimidade com Ele”, de forma que, uma vez crescidos, não mais sairemos de Sua família, estaremos para sempre com Ele.
– Esta relação de entre pai e filho adotivo, no Código de Hamurábi, era condicional.
Se o filho adotivo ferisse seu pai adotivo, o renegasse, poderia ser devolvido aos seus pais biológicos, ou seja, seria separado da casa de seu pai adotivo e, dependendo da falta cometida, poderia ter sua língua cortada ou seu olho arrancado.
De igual maneira, se o pai não criasse o filho adotivo, este era livre para deixar a casa do pai adotivo, sendo certo que se o pai adotivo formasse família biológica, não poderia largar o filho adotivo sem lhe dar a devida herança.
OBS: Eis os dispositivos do Código de Hamurábi sobre adoção, itens 185 a 193:
“Se um homem adotar uma criança e der seu nome a ela como filho, criando-o, este filho crescido não poderá ser reclamado por outrem.
Se um homem adotar uma criança e esta criança ferir seu pai ou mãe adotivos, então esta criança adotada deverá ser devolvida à casa de seu pai.
O filho de uma concubina a serviço do palácio ou de uma hierodula [cortesã sagrada, observação nossa] não pode ser pedido de volta. Se um artesão estiver criando uma criança e ensinar a ela sua habilitação, a criança não poderá ser devolvida.
Se ele não tiver ensinado à criança sua arte, o filho adotado poderá retornar à casa de seu pai. Se um homem não sustentar a criança que adotou como filho e criá-lo com outras crianças, então o filho adotivo pode retornar à casa de seu pai.
Se um homem, que tenha adotado e criado um filho, fundado um lar e tido filhos, desejar desistir de seu filho adotivo, este filho não deve simplesmente desistir de seus direitos.
Seu pai adotivo deve dar-lhe parte da legítima, e só então o filho adotivo poderá partir, se quiser. Ele não deve dar, porém, campo, jardim ou casa a este filho.
Se o filho de uma amante ou prostituta disser ao seu pai ou mãe adotivos: “Você não é meu pai ou minha mãe”, ele deverá Ter sua língua cortada. Se o filho de uma amante ou prostituta desejar a casa de seu pai, e desertar a casa de seu pai e mãe adotivos, indo para casa de seu pai, então o filho deverá Ter seu olho arrancado.” (O Código de Hamurábi. Disponível em: http://www.angelfire.com/me/babiloniabrasil/hamur.html Acesso em 22 go. 2017).
– Deus é fiel (I Co.1:9; 10:13), não muda (Ml.3:6; Tg.1:17), não Se arrepende (Nm.23:19) e, portanto, ao dizer que quem vem a Ele, de maneira nenhuma o lança fora (Jo.6:37), não há a mínima possibilidade de que venha a deixar de criar o filho que adotou.
– Sendo assim, a relação de filiação divina está única e exclusivamente condicionada ao comportamento que tenha o filho adotado, ou seja, se o salvo não ferir o pai nem tampouco o renegar, crescerá na casa do Pai adotivo e jamais poderá perder esta condição, uma vez crescido.
– O “filho de Deus” é colocado nesta posição por um ato voluntário do Pai e, neste exato instante, recebe o nome do Senhor, pois o Senhor Se torna o Seu Pai.
Em todas as Escrituras, vemos que o filho levava o nome de seu pai, sendo esta a identificação de cada pessoa na Bíblia Sagrada.
Assim, por exemplo, Abraão é identificado como filho de Terá (Gn.11:31); Rebeca, como filha de Betuel (Gn.24:24) e Isaque, como filho de Abraão (Gn.25:19).
– Ser “filho de Deus”, então, é receber uma “identidade”, uma “identificação”.
Quando somos adotados pelo Senhor, passamos a “levar o Seu nome” e esta é uma grande responsabilidade, pois não podemos tomar o nome do Senhor em vão, “porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o Seu nome em vão” (Ex.20:7; Dt.5:11).
– O que é tomar o nome do Senhor em vão? Diz o Catecismo Maior de Westminster:
“…não usar o nome de Deus como nos é requerido e o abuso no uso dele por uma menção ignorante, vã, irreverente, profana, supersticiosa ou ímpia, ou outro modo de usar os títulos, atributos, ordenanças, ou obras de Deus;
a blasfêmia, o perjúrio, toda abominação, juramentos, votos e sortes ímpios;
a violação dos nossos juramentos e votos, quando lícitos, e o cumprimento deles, se por coisas ilícitas;
a murmuração e as rixas, as consultas curiosas, e a má aplicação dos decretos e providência de Deus;
a má interpretação, a má aplicação ou qualquer perversão da Palavra, ou de qualquer parte dela;
as zombarias profanas, questões curiosas e sem proveito, vãs contendas ou a defesa de doutrinas falsas;
o abuso das criaturas ou de qualquer coisa compreendida sob o nome de Deus, para encantamentos ou concupiscências e práticas pecaminosas;
a difamação, o escárnio, vituperação, ou qualquer oposição à verdade, à graça e aos caminhos de Deus;
a defesa da religião por hipocrisia ou para fins sinistros; o envergonhar-se da religião ou o ser uma vergonha para ela, por meio de uma conduta inconveniente, imprudente, infrutífera e ofensiva, ou por apostasia” (item 113).
– Por termos sido adotados pelo Senhor, não podemos ter irreverência com relação ao Senhor, não podemos confundir o santo com o profano, pois se o fizermos, estaremos renegando o nosso Pai, que é santo (Lv.11:44,45; I Pe.1:16), e, conforme já vimos, a renegação do Pai ou o ferimento do Pai causa a perda da filiação adotiva.
– Quando somos irreverentes ao Senhor, não respeitamos a Sua santidade, estamos, como diz o escritor aos hebreus, a ter “por profano o sangue do testamento, com que foi santificado e a fazer agravo ao Espírito da graça”, sendo, segundo o mesmo escritor, merecedores de maior castigo (Hb.10:29).
Confundir o santo com o profano é “ferir o Pai” e, portanto, gerar a perda da filiação.
– Quando somos adotados como “filhos de Deus”, recebemos o Espírito Santo, que testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus e, por isso mesmo, nos mantém livres do pecado, pois não temos mais o “espírito de escravidão” mas “o espírito de adoção de filhos” (Rm.8:15).
– Com este testemunho do Espírito Santo, passamos a dar ouvidos ao Senhor, a aprender com Ele, pois Ele tem de nos criar na Sua doutrina e admoestação, de nos ensinar, motivo por que é a condição de “filhos de Deus” que nos faz Seus “discípulos”, ou seja, Seus alunos, Seus aprendizes.
– Por sermos adotados como filhos, passamos a aprender com Ele e a “permanecer na Sua Palavra”, pois só somos discípulos se permanecemos na Palavra de Deus (Jo.8:31) e isto nos permite permanecer libertos do pecado, porque passamos a andar na verdade (Jo.8:32; II Jo.4) e, assim agindo até o fim, ficaremos para sempre com o Senhor, pois o filho fica para sempre (Jo.8:35).
– Esta liberdade é uma característica do filho e tal figura, para ser bem entendida, tem de nos fazer reportar ao instituto da escravidão, característico das sociedades antigas. Numa família, havia os filhos e os escravos.
A diferença entre eles é que o filho era livre, não podia ser vendido, enquanto que o escravo não era livre, de modo que poderia, a qualquer tempo, ser vendido e mandado para fora da casa.
O homem, no pecado, é escravo do pecado (Gn.4:7; Jo.8:34), mas, quando crê em Jesus e é adotado, é colocado na condição de filho e, assim, está livre do pecado, porque foi liberto pelo seu Redentor, o Senhor e Salvador Jesus Cristo (Jo.8:36), entrando em íntima comunhão com Ele e, uma vez estando em Sua mão, não pode ser dali tirado por ninguém (Jo.10:28).
– Além de trazer a libertação do pecado, a adoção também nos faz participar da herança do Senhor, pois, se somos filhos de Deus, somos herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm.8:17).
O filho adotivo, como vimos no Código de Hamurábi, passa a ter direito à herança. Ainda que o pai viesse a constituir uma família biológica e quisesse abandoná-lo, era obrigado a lhe dar a sua parte na herança.
– A ideia da herança está ligada tanto à condição de ser filho que o salmista diz que “os filhos são herança do Senhor” (Sl.127:3).
A propósito, no paralelismo típico da poesia hebraica, vemos que “ser herança do Senhor” é “ter galardão”, “ser recompensado”, de sorte que, quando somos adotados como “filhos de Deus”, passamos a ter o direito a um galardão, a uma recompensa.
– Que galardão é este? O mesmo galardão, a mesma recompensa obtida por Jesus Cristo homem, que foi a de ser exaltado soberanamente sobre todas as criaturas e Se assentar à direita do Pai (Fp.2:9-11; Ap.3:21).
Trata-se de uma herança incorruptível incontaminável, que não se pode murchar, guardada nos céus para nós (I Pe.1:4).
– Ser “filho de Deus”, portanto, não significa ter imunidade contra o pecado e contra a tentação nesta dimensão terrena, nem tampouco imunidade contra as adversidades desta vida, como ensinam equivocadamente os doutrinadores da teologia da prosperidade, da confissão positiva ou, mesmo, os seguidores da doutrina da predestinação incondicional.
– Ser “filho de Deus” é receber a promessa de ter, nos céus (e não aqui na terra) a posição de Cristo Jesus homem, de desfrutar da glória de Deus e ter comunhão eterna com o Senhor para todo o sempre, ter a plena intimidade com Deus e compartilhar da Sua convivência em toda a plenitude e para sempre.
– Verdade é que, agora já somos filhos de Deus, pelo Seu imenso amor (I Jo.3:1,2) e, em razão disto, já temos a bênção divina, que nos traz todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef.1:3), entre as quais destacamos
a alimentação espiritual, por meio da Palavra de Deus (Mt.4:4);
o livre acesso ao Pai nas orações (Hb.4:15,16; 10:19-22);
a proteção divina contra o inimigo e seus agentes (Sl.34:7,19; 97:10; 107:28; 144:10; Dn.6:27; Mt.6:13; Lc.11:4).
Todavia, isto não garante, em absoluto, uma imunidade, uma situação que seja irreversível.
– Muito pelo contrário, se formos adotados como filhos e não permanecermos na Sua Palavra, não Lhe formos reverentes, teremos o mesmo destino que tiveram os israelitas que, embora tenha sido, também, adotados como filhos, quando do pacto do Sinai, logo depois,
por sua desobediência, perderam esta condição, como testifica o próprio Moisés, em seu último cântico, como acima já observamos, ou, ainda, como a linhagem de Sete que, com exceção de Noé e de sua família, pereceu nas águas do dilúvio por não ter permanecido na Palavra do Senhor, por não ter se mantido na condição de filhos em que foram postos pela benignidade divina.
– A adoção como filho de Deus traz, também, o privilégio de ser guiado pelo Espírito Santo: “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus” (Rm.8:14).
– A adoção como filhos de Deus faz com que passemos a trilhar o caminho santo (Is.35:8), caminho este que é o próprio Jesus (Jo.14:6), o caminho apertado e a porta estreita que leva à vida (Mt.7:14).
Neste caminho, onde fomos postos, somos instruídos (Pv.22:6) e dele não podemos sair, não nos desviando nem para a direita, nem para a esquerda (Dt.5:32; 17:11,20; Js.1:7; 23:6; Pv.4:27; Is.30:21).
– Não só somos postos neste caminho mas o Espírito Santo começa a nos dirigir, a nos indicar que passos devemos dar, quais devem ser as nossas pisadas, guiando-nos em toda a verdade, até porque nos mostra sempre quais as pisadas de Jesus, a quem devemos seguir e a quem devemos tomar por exemplo (Jo.16:13,14; Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23; Jo.12:26).
– Provamos ser filhos de Deus no exato instante em que passamos a ser dirigidos e guiados pelo Espírito Santo, tão somente seguindo Jesus e, por segui-l’O, tomando as mesmas atitudes que Ele tomou, trilhando os Seus passos, as Suas pisadas e, deste modo, certamente chegaremos ao céu, já que foi ali que Ele chegou após vencer o pecado, a morte e o mundo (Hb.12:1-3). Devemos andar como Ele andou (I Jo.2:6).
– O filho de Deus, neste aprendizado, tem sempre a esperança de ser semelhante ao Seu “irmão mais velho”, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, de chegar até à direita do trono do Pai e, por isso mesmo, purifica-se a Si mesmo, pois Seu Pai e “Seu irmão mais velho” são puros (I Jo.3:3).
O filho de Deus, portanto, para preservar esta condição, deseja santificar-se, até porque, tendo sido adotado como filho de Deus, precisa ostentar o mesmo nome do Filho de Deus por natureza, a saber: Santo (Lc.1:35).
– O filho de Deus, por ser “nova criatura”, não peca, porque permanece em Cristo, permanece na Palavra (I Jo.3:6).
O “novo homem” não peca e se um salvo comete pecado, isto se dá porque o “velho homem”, que está crucificado com suas paixões e concupiscências (Gl.5:24), “desceu da cruz” e voltou a atuar e, se isto se consolidar, perdurar, teremos o já mencionado “ferimento do Pai”, que acarretará a perda da condição de filho, o “desperdício da herança” de que fala a parábola do filho pródigo (Lc.16:11-32).
– Quem é nascido de Deus não comete pecado, porque a sua semente permanece e não pode pecar, porque é nascido de Deus (I Jo.3:9).
A “nova criatura” não peca, mas se o velho homem voltar a dominar, este “novo homem” morrerá, porque terá havido o agravo do Espírito da graça, terá havido a pisadura do sangue de Jesus, a quebra da aliança, a perda da condição de filho.
– A adoção de filhos faz com que sejamos cuidados pelo Senhor e, neste cuidado, somos também corrigidos.
“O Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos, porque que filho há a quem o pai não corrija?
Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos e não filhos” (Hb.12:6-8).
– A adoção de filhos faz com que sejamos corrigidos pelo Senhor e, por isso mesmo, muitas vezes, quando pecamos por ação ou omissão, sofremos o castigo divino, enquanto que aqueles que não são filhos de Deus, embora pratiquem os mesmos atos que nós e, por vezes, até conosco, não são alcançados por este castigo.
Quando isto ocorre, devemos agradecer ao Senhor, pois esta correção tem como objetivo fazermos participantes da Sua santidade (Hb.12:10).
– A correção divina, evidentemente, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela (Hb.12:11).
Assim, devemos ser gratos a Deus quando, por ocasião de nossos deslizes, somos duramente repreendidos pelo Senhor e soframos as consequências de nossos atos, pois isto é a prova de que não somos “bastardos”, mas, realmente, fomos inseridos na família de Deus e, deste modo, Deus nos castiga para que sejamos santos e continuemos a caminhar para os céus.
– Torna-se, portanto, uma atitude tresloucada a que muitos estão a empreender nas igrejas locais, qual seja, a de não disciplinar os que, publicamente, cometem pecados e causam escândalos, sob o pretexto de que a correção é do Senhor e, portanto, cabe somente a Deus tomar alguma atitude.
Se o erro, a transgressão se tornou pública, causando escândalo à Igreja, é indispensável que seja aplicada a disciplina pela própria Igreja, que tem este poder conferido pelo próprio Senhor Jesus (Mt.18:17-20), para que a pessoa possa se salvar, pois a disciplina é um remédio para curar a alma enferma, não um veneno para acabar de matar. Devemos providenciar a cura daquele que está a manquejar (Hb.12:13).
– A adoção de filhos faz com que amemos o próximo, principalmente os que também comungam conosco desta filiação, os nossos “irmãos”, os “domésticos da fé”.
– Como filhos de Deus, amamos, primeiramente, o nosso “irmão mais velho”, o nosso “irmão primogênito”, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, amor que é correspondência ao Seu amor que primeiro manifestou por nós morrendo na cruz do Calvário em nosso lugar (I Jo.4:19; Rm.5:8).
Ele não Se envergonhou de nos chamar de irmãos (Hb.2:11) e, por isso, não podemos ter vergonha de ser chamados de “irmãos de Jesus”, de “pequenos Cristos”, ou seja, de “cristãos”.
– Quem não tem vergonha de ser chamado de “cristão”, anda como Cristo andou e guarda a Sua Palavra, pois amar a Jesus não é um sentimento, mas um comportamento, o de guardar a Sua Palavra e os Seus mandamentos (Jo.14:23; 15:14; I Jo.2:4,5).
– Muitos, na atualidade, porém, têm negado o nome de Jesus, pela forma como vivem, procurando sempre ter as mesmas atitudes dos outros, para ser simpático ao mundo e aos homens e, deste modo, perdem a condição de filhos de Deus, se é que algum dia a tiveram, pois disse Jesus:
“qualquer que Me negar diante dos homens, Eu o negarei também diante de Meu Pai, que está nos céus” (Mt.10:33).
Que o Senhor nos livre desta condição e, se alguém já o tem feito, chore amargamente aos pés do Senhor e, como Pedro, seja perdoado e retome a sua jornada para os céus.
– Além de amar a Jesus, o filho de Deus ama aos seus irmãos, aqueles que foram igualmente resgatados por Cristo da perdição eterna.
O mandamento de Cristo é que nos amemos uns aos outros como Ele nos amou (Jo.15:12; I Jo.3:10,11,23; 4:11).
– Se não amamos aos irmãos, estamos ainda em trevas (I Jo.2:9,11), somos homicidas (I Jo.3:15) e, portanto, estamos na mesma condição de Caim, que era do maligno e injusto (I Jo.3:12).
Muito ao contrário, se somos filhos de Deus, temos de estar dispostos a dar a nossa vida pelos irmãos (I Jo.3:16).
– O filho de Deus, porém, ama o próximo e quem é o próximo? Qualquer pessoa, como Jesus nos ensina na parábola do bom samaritano (Lc.10:25-37), onde mostrou a um doutor da lei que próximo não era apenas o judeu, o integrante do povo de Deus, mas qualquer pessoa. Jesus amou a todos e, por isso, morreu por todos os homens, de sorte que devemos também amar a todos os homens, andando como Jesus andou.
– A adoção de filhos, por fim, envolve uma esperança, qual seja, a esperança de sermos semelhantes a Jesus, ou seja, a adoção nos traz a esperança da glorificação e é esta esperança que nos anima à santificação (I Jo.3:2,3).
Por isso, o apóstolo Paulo disse que se aguarda a “adoção”, que é a “redenção do nosso corpo”, ou seja, a “glorificação”.
– O filho de Deus, portanto, não espera em Cristo somente nesta vida, mas aguarda a “redenção do corpo”, tem sua esperança no aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo (Tt.2:13).
– Portanto, quem se diz filho de Deus e espera em Cristo somente nesta vida, buscando em Cristo tão somente prosperidade material e imunidade contra doenças e enfermidades, não é filho de Deus, mas, bem ao contrário, encontra-se na classe dos “mais miseráveis de todos os homens” (I Co.15:19), buscando tão somente ajuntar tesouros nesta terra, o que é uma conduta totalmente contrária a de quem é colocado pelo Senhor na posição de filho de Deus (Mt.6:19-21).
– Pode Deus, sim, dar aos Seus filhos bênçãos nesta vida, não estão elas descartadas, mas o filho de Deus não pode esperar apenas estas bênçãos materiais. Como diz a Declaração de Fé da CGADB,
“…A Bíblia mostra que a obra redentora de Cristo incluiu também o corpo: ‘Gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo’ (Rm.8:23).
A vontade de Deus é, portanto, curar tanto a alma como o corpo…” (XXI, p.179), de forma que bênçãos materiais, como a cura divina, estão à disposição do filho de Deus, mas a sua expectação não pode ser apenas esta dimensão das bênçãos de Deus, pois ele tem uma esperança que o dirige para as “coisas de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus”.
– É, portanto, grave equívoco invocar a filiação divina para justificar a ganância e a cobiça pelas coisas desta vida, pois isto é uma atitude de quem não nasceu de novo, de que não ressuscitou para viver para Deus,
pois, se já ressuscitamos com Cristo, buscamos as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus, pensamos nas coisas que são de cima e não nas que são da terra, porque já estamos mortos e a nossa vida está escondida com Cristo em Deus (Cl.3:1-3).
– Se agirmos pensando nas coisas desta vida é sinal de que não nascemos de novo e, se não nascemos de novo, jamais poderemos ser adotados como filhos. Tomemos, pois, muito cuidado, amados irmãos!
– Esta esperança um dia se concretizará e, como filhos crescidos, tendo atingido a medida da estatura completa de Cristo, de varão perfeito (Ef.4:13),
teremos o nosso corpo redimido, glorificado e, assim, estaremos para sempre com o Senhor (I Ts.4:17), nunca mais podendo perder a condição de filhos de Deus.
Que nos cuidemos, aprendendo com o Senhor, sendo alvos do Seu cuidado e ensino, para chegarmos lá.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/1380-licao-11-adotados-por-deus-i