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LIÇÃO Nº 13 – ORANDO SEM CESSAR

A oração é “exercício espiritual” indispensável para estarmos em forma na luta contra o mal.

INTRODUÇÃO

– Terminando o estudo sobre a batalha espiritual, abordaremos a questão da oração que, ao lado da vigilância, são as duas atitudes que deixam o salvo em “forma espiritual” para ter sucesso na batalha espiritual.

– A oração é “exercício espiritual” indispensável para estarmos em forma na luta contra o mal.

I – A COMUNHÃO COM DEUS EXIGE UMA VIDA DE ORAÇÃO

– Na vida agitada dos nossos dias, no corre-corre do nosso cotidiano, é quase certo que se não administrarmos o nosso tempo, estaremos correndo sério risco de não fazermos tudo o que necessitamos no dia.

Faz-se preciso, entretanto, que não só administremos bem o tempo, mas que impeçamos que esta má administração seja uma arma utilizada em detrimento de nosso relacionamento com Deus.

– Não podemos permitir, de forma alguma, que os dias maus em que vivemos sejam uma grande arma do adversário para nos impedir de ter uma vida espiritual saudável conforme os ditames bíblicos.

Que possamos seguir o conselho do apóstolo e remir o tempo, porquanto os dias em que vivemos são maus (Ef.5:16).

– A vida espiritual, como qualquer vida, não é algo que se manifeste de vez em quando, mas é algo que tem uma determinada permanência, é algo que necessita de uma continuidade, de um desenvolvimento que não permite qualquer paralisação.

Todos nós sabemos que não podemos, no sentido físico, viver um dia por semana, ou alguns dias no mês.

– Se isto é uma realidade no ponto-de-vista físico, onde o homem é comparado a uma flor da erva, que, pela manhã, está viçosa e ao entardecer já está seca e sem qualquer esplendor (I Pe.1:24), que dirá a vida espiritual, que é a melhor parte, aquela que está relacionada com a eternidade e que se constitui na própria razão das coisas?

Portanto, o nosso cuidado diário no nosso relacionamento com Deus deve ser prioridade e devemos lutar incansavelmente para que esta porção não nos seja roubada, pois, via de regra, o ladrão age sutilmente, na nossa falta de vigilância e este tem sido um dos aspectos que mais tem colaborado para o fracasso espiritual de muitos, ainda mais diante da realidade de que estamos em luta contra as forças malignas.

– A vida espiritual é uma vida de comunhão com Deus. Ora, a comunhão é, como nos diz o Dicionário Koogan-Larousse, entre outras coisas, “união no mesmo estado de espírito”.

Com efeito, quem está em comunhão com Deus discerne a vontade de Deus, segue a direção de Deus, sabe perfeitamente como agradar a Deus, tem condições de apresentar o seu corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, ou seja, de lhe prestar o culto racional (Rm.12:1).

– Entretanto, para que possamos estar em comunhão com Deus, faz-se mister que saibamos exatamente o que Deus quer que façamos, bem assim que tenhamos com ele um diálogo, uma intimidade, da mesma maneira que um casal que, ao passar dos anos, somente pelo olhar tem condições de se comunicar e de estabelecer uma conversa sem que uma palavra seja dita.

– A comunhão com Deus exige, pois, que tenhamos duas atitudes incessantes, duas ações que são indispensáveis para que estabeleçamos uma “união no mesmo estado de espírito” com Deus: a oração e a leitura da Palavra de Deus.

Lembramo-nos aqui, aliás, de um antigo corinho que até hoje é ensinado nas classes infantis da EBD e que sintetiza esta realidade espiritual que, por muitos, lamentavelmente, tem sido esquecida nos nossos dias: “Leia a Bíblia e faça oração se quiser crescer”.

– Orar é o ato pelo qual o homem se dirige a Deus para com Ele dialogar. É uma atitude que expressa em si, de uma só vez, uma série de verdades que, por si só, já demonstram a excelência de uma conduta desta natureza, a saber:

a) quando oramos, reconhecemos a soberania de Deus, pois estamos dizendo que Deus é o único que pode atender aos nossos pedidos, bem como é o único que merece nosso louvor e adoração, que nada mais é que o cumprimento do grande mandamento (Mt.22:36,37);

b) quando oramos, reconhecemos a nossa insuficiência, pois demonstramos a consciência de que tudo está no controle de Deus e que, sem Ele, nada podemos fazer, o que, nada mais é, que a primeira bem-aventurança proclamada por Jesus no sermão do monte (Mt.5:3);

c) quando oramos, revelamos a nossa fé, pois demonstramos que nossa confiança está em Deus e não em qualquer outro ser, o que significa uma ação que agrada a Deus, pois sem fé é impossível agradar-Lhe (Hb.11:6);

d) quando oramos, revelamos a nossa obediência, pois cumprimos a vontade de Deus expressa em Sua Palavra, que quer que oremos sem cessar (I Ts.5:17), bem como que imitemos Jesus (I Co.11:1, I Pe.2:21), cujo ministério terreno foi, sobretudo, um ministério de oração.

e) quando oramos, demonstramos o nosso amor para com o próximo, pois intercedemos por eles e, como somos justos, permitimos que tal oração tenha uma eficácia benévola em suas vidas, o que é o complemento do grande mandamento (Mt.22:39,40), bem como a comprovação de que somos filhos de Deus (I Jo.2:5).

OBS: Por isso, não tem cabimento se falar, como se tem falado ultimamente, em “oração contrária”, algo que uma amada irmã, certa feita, bem definiu como sendo “macumba evangélica”.

A oração jamais pode revelar algo que não o amor ao próximo, o amor que temos de ter uns com os outros, assim como Jesus nos amou, o que, aliás, é o novo mandamento que deve ser observado por todo cristão (Jo.15:12).

Neste passo, aliás, uma vez mais reproduzimos o que escreveu o ex-chefe da Igreja Romana, o Papa Emérito Bento XVI, na sua encíclica Spe Salvi:

“…Apesar de Agostinho falar diretamente só da receptividade para Deus, resulta claro, no entanto, que o homem neste esforço, com que se livra do vinagre e do seu sabor amargo, não se torna livre só para Deus, mas abre-se também para os outros. De fato, só tornando-nos filhos de Deus é que podemos estar com o nosso Pai comum.

Orar não significa sair da história e retirar-se para o canto privado da própria felicidade. O modo correto de rezar é um processo de purificação interior que nos torna aptos para Deus e, precisamente desta forma, aptos também para os homens.

Na oração, o homem deve aprender o que verdadeiramente pode pedir a Deus, o que é digno de Deus. Deve aprender que não pode rezar contra o outro.

Deve aprender que não pode pedir as coisas superficiais e cômodas que de momento deseja – a pequena esperança equivocada que o leva para longe de Deus.

Deve purificar os seus desejos e as suas esperanças. Deve livrar-se das mentiras secretas com que se engana a si próprio: Deus perscruta-as, e o contato com Deus obriga o homem a reconhecê-las também.

« Quem poderá discernir todos os erros? Purificai-me das faltas escondidas », reza o Salmista (19/18,13).

O não reconhecimento da culpa, a ilusão de inocência não me justifica nem me salva, porque o entorpecimento da consciência, a incapacidade de reconhecer em mim o mal enquanto tal é culpa minha.

Se Deus não existe, talvez me deva refugiar em tais mentiras, porque não há ninguém que me possa perdoar, ninguém que seja a medida verdadeira.

Pelo contrário, o encontro com Deus desperta a minha consciência, para que deixe de fornecer-me uma autojustificação, cesse de ser um reflexo de mim mesmo e dos contemporâneos que me condicionam, mas se torne capacidade de escuta do mesmo Bem.…” (BENTO XVI. Spe Salvi, n.33. Disponível em: www.vatican.va Acesso em 18 fev. 2008).

f) quando oramos, demonstramos a nossa esperança, pois, ao orarmos, apresentamos nossos desejos diante de Deus, reconhecendo que devemos sempre esperar n’Ele, que é a âncora da nossa vida (Hb.6:19). Afinal de contas, sabemos que Deus trabalha por aqueles que n’Ele esperam (Is.64:4).

OBS: Por sua biblicidade, reproduzimos aqui trecho da segunda encíclica do ex-chefe da Igreja Romana, o Papa Emérito Bento XVI que trata da relação entre oração e esperança:

“…Primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oração. Quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve.

Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar mais ninguém, a Deus sempre posso falar. Se não há mais ninguém que me possa ajudar – por tratar-se de uma necessidade ou de uma expectativa que supera a capacidade humana de esperar – Ele pode ajudar-me.(…)

De forma muito bela Agostinho ilustrou a relação íntima entre oração e esperança, numa homilia sobre a Primeira Carta de João. Ele define a oração como um exercício do desejo.

O homem foi criado para uma realidade grande ou seja, para o próprio Deus, para ser preenchido por Ele. Mas, o seu coração é demasiado estreito para a grande realidade que lhe está destinada. Tem de ser dilatado.

« Assim procede Deus: diferindo a sua promessa, faz aumentar o desejo; e com o desejo, dilata a alma, tornando-a mais apta a receber os seus dons ».

Aqui Agostinho pensa em S. Paulo que, de si mesmo, afirma viver inclinado para as coisas que hão-de vir (Fil 3,13). Depois usa uma imagem muito bela para descrever este processo de dilatação e preparação do coração humano. « Supõe que Deus queira encher-te de mel (símbolo da ternura de Deus e da sua bondade).

Se tu, porém, estás cheio de vinagre, onde vais pôr o mel? » O vaso, ou seja o coração, deve primeiro ser dilatado e depois limpo: livre do vinagre e do seu sabor.

Isto requer trabalho, faz sofrer, mas só assim se realiza o ajustamento àquilo para que somos destinados…” (BENTO XVI. Encíclica Spe Salvi, nn. 32,33. Disponível em: www.vatican.va Acesso em 18 fev. 2008).

– Não pode existir uma vida real de comunhão com Deus sem que haja oração. A oração é o canal pelo qual o homem exercita a sua submissão a Deus, é a forma pela qual se põe como um verdadeiro servo do Senhor.

A oração é, assim, a própria exteriorização de nossa qualidade de servo de Deus. Nas páginas das Escrituras Sagradas, veremos, sempre, que os grandes homens de Deus eram homens de oração, bem como que os grandes fracassos espirituais ali descritos têm, como ponto em comum, a falta de oração, a falta de diálogo com Deus.

– Quando o homem se distancia de Deus, podemos verificar que o distanciamento se deu, num primeiro instante, pela perda de contato entre o homem e Deus através da oração.

Eis porque todas as forças do mal buscam retirar o nosso tempo de oração, buscam eliminar a oração do nosso dia-a-dia.

A oração, como bem afirmou Paulo, é indispensável para que vençamos as hostes espirituais da maldade, pois é a ferramenta que nos coloca em forma para podermos utilizar adequadamente a armadura de Deus (Ef.6:13-18).

– E isto se explica pelo fato de que, mantendo uma vida de oração, mantemos comunhão com o Senhor e formamos com Ele uma unidade. Ora, é este precisamente o propósito da obra salvífica de Cristo: restabelecer a amizade entre os homens e Deus, quebrada com o pecado, desfazendo, assim, a primeira das

“obras do diabo” e, por conseguinte, fazendo com que Deus esteja em nós (Gn.3:14,15; Jo.17:20,21). Deste modo, como maior é o que está conosco do que o que está no mundo (I Jo.4:4), seremos sempre vitoriosos no combate que travamos contra o diabo e seus anjos.

– Diante de tamanha importância para a oração, é preciso que ela seja uma constante tanto na nossa vida pessoal, como também na vida de nossa família e de nossa igreja local, que são os grupos sociais principais aos quais nós participamos.

Individualmente, é importantíssimo que reservemos um período para que oremos ao Senhor, um período onde não sejamos importunados por pessoa ou coisa alguma, um período em que fiquemos a sós com o Senhor, adorando-O e fazendo-Lhe as necessárias petições.

– Este período, nos dias agitados em que vivemos, será, quase sempre, a madrugada, oração esta que tem o agrado do Senhor, como vemos em Pv.8:17.

É interessante observar que o grande jurisconsulto e político brasileiro, Ruy Barbosa, demonstrava as grandes vantagens para o estudo durante a madrugada, ao qual se dedicava intensamente e que é apontado como um dos fatores que fez deste grande brasileiro uma das maiores inteligências de todo o mundo.

Ora, se a busca por um saber intelectual, passageiro e falho, mostrou-se ser tão exitosa por ter se feito durante a madrugada, por que não tentar algo similar do ponto-de-vista espiritual, algo muito mais excelente, mormente quando a própria Bíblia Sagrada nos apresenta ser esta uma atitude que agrada a Deus?

Querido irmão, comece a buscar ao Senhor de madrugada e, certamente, ali, naqueles momentos, o irmão encontrar-se-á com o Senhor dos Senhores, com o Rei dos Reis!

– Em nossa família, também, devemos edificar um altar constante de oração. No mundo antigo, o que caracterizava a existência de uma família perante a sociedade era a existência de um “lar”,

entendido este como sendo um compartimento da casa onde tinham acesso apenas os membros da família (ou seja, ali não ingressavam hóspedes, visitantes ou escravos) e onde havia um altar para o culto dos antepassados, os chamados “deuses lares”, costume que vemos mencionado na Bíblia, por exemplo, em Gn.31:30,34.

– Entre os pagãos, portanto, uma família era reconhecida por ter um “lar”, ou seja, um altar para cultuar o seu deus. Será que temos edificado um lar em nosso ambiente familiar? Será que temos reunido os membros de nossa família para que haja uma oração familiar? Ou será que fazemos (quando o fazemos…) como Jó(Jó

1:4,5), que, sozinho, ia interceder por seus filhos, enquanto eles se regalavam com banquetes e festas, despreocupados com uma eternidade, de forma que fora colhidos de surpresa e tiveram ceifadas as suas vidas?

– É assaz importante que a família tenha um frequente encontro de oração, onde possa dialogar conjuntamente entre si e com o Senhor, que tem o máximo interesse em preservar e guardar a família que, afinal de contas, é instituição por Ele próprio criada.

– Causa-nos perplexidade vermos que muitos servos do Senhor, dedicados e fiéis, tiveram uma vida de oração intensa para a constituição de suas famílias e, depois, quando recebem a bênção do Senhor, passam a agir desleixada e descuidadamente, não mais buscando a direção de Deus para a administração das famílias pelas quais tanto oraram.

– Acordemos, pois na falta de oração familiar está uma das principais explicações pela paralisia espiritual de muitas famílias e pela sua total falta de resistência aos infames e cada vez mais cruéis ataques do adversário contra as famílias cristãs na atualidade.

A presença de Jesus no lar leva-nos a uma vida de maior reverência e santidade diante do Senhor em todos os demais aspectos da família.

– Basta olharmos para José e Maria e verificarmos como cumpriram rigorosamente a lei do Senhor durante a infância e adolescência de nosso Salvador.

Entretanto, bastou o Senhor estar o ausente do convívio familiar, para que nem mesmo Seus irmãos cressem n’Ele. Vigiemos e nunca permitamos que o Senhor Jesus esteja ausente em nosso lar.

A descendência de Sete foi conhecida como sendo os “filhos de Deus”(Gn.6:2), porque Sete, ainda quando tinha apenas um filho, começou a invocar o nome do Senhor em seu lar (Gn.4:26). Que possamos, do mesmo modo, sermos identificados como filhos de Deus.

II – A ORAÇÃO É UM DEVER DO CRISTÃO

– Quando falamos em oração, salientemos que a oração não é uma mera faculdade que esteja à disposição do cristão nas horas de angústia ou de necessidade.

Muito pelo contrário, a oração é um dever, ou seja, é algo que é obrigatório e que o cristão não tem o direito de deixar de fazer.

Quem diz que a oração é um dever é o próprio Jesus. Certa feita, o Senhor contou aos discípulos uma parábola, a parábola do juiz iníquo, para ilustrar o “dever de orar sempre e nunca desfalecer” (Lc.18:1). Assim, o crente que não ora é, antes de tudo, alguém que está em falta diante de Deus.

– É importante observar que esta ideia da oração como um dever cristão não é enfatizada devidamente no meio evangélico, ao contrário do que ocorre seja entre os católico-romanos, seja entre os ortodoxos ou, mesmo, em outras religiões, como os judeus, os muçulmanos, os budistas e os hinduístas.

Esta omissão, aliás, tem sido um grande e poderoso instrumento para a disseminação de práticas esotéricas e similares, levada a efeito sobretudo pelo movimento Nova Era, exatamente porque os cristãos têm se deixado levar por uma vida secular e formalista, que tem deixado de lado o dever de orar sempre e nunca desfalecer.

– Diz Jesus que o dever de orar se caracteriza por duas propriedades: deve-se orar sempre e nunca se deve desfalecer. Orar sempre significa nunca deixar de orar.

Orar sempre significa que não há tempo nem lugar certo para orar. A oração deve ser uma constante em nossas vidas, daí porque Paulo ter dito que devemos “orar sem cessar” (I Ts.5:17).

– Mas, então, devemos nos tornar como os monges que se enclausuram em conventos e passam a se dedicar a intermináveis orações? Não, não é disto que o Senhor Jesus ou o apóstolo Paulo estão nos dizendo.

Muito pelo contrário, se é verdade que devemos ter um instante de oração a sós com Deus, a nossa missão como Igreja obriga-nos a que estejamos no mundo, a que sejamos sal da terra e luz do mundo, o que é, exatamente, o contrário desta vida contemplativa característica do monasticismo e cuja validade evangélica e bíblica é, no mínimo, questionável.

– Orar sempre significa estarmos dispostos e prontos a orar ao Senhor a cada instante, em cada situação, estarmos, para usarmos de uma linguagem moderna, sintonizados com o Senhor, na Sua mesma frequência.

Devemos ter a nossa mente dirigida para o Senhor diuturnamente e, enquanto fazemos os nossos afazeres, desempenhamos nossas tarefas do dia-a-dia, estarmos em condição de, em alguns instantes, dirigirmo-nos ao Senhor de coração e com reverência, mesmo que de forma silenciosa e sem qualquer alvoroço.

– Nossas orações devem ser discretas e provir de nossas almas, exatamente o contrário do que ocorre com os gentios, que transformam as orações em práticas rituais, cerimoniais, automáticas e mecânicas, cujo intento e objetivo é dar uma demonstração exterior e formal de santidade e de comunhão com Deus, mas que se revelam como simples exaltações do ego e de um sentimento de autossuficiência que, em si, é a verdadeira negação da submissão perante o Senhor.

É neste sentido que a oração cristã se distingue das demais, pois não é ostensiva nem busca o reconhecimento dos semelhantes, o que, entretanto, não pode servir de justificativa para uma vida sem oração, como já falamos supra.

– Vivemos em um mundo onde as principais religiões contêm em suas regras fundamentais a oração. Seja entre os judeus, seja entre os muçulmanos, seja entre os budistas, seja entre os hinduístas, a oração e a meditação têm lugar de destaque em suas práticas religiosas e em sua devoção.

Quando observamos, por exemplo, o fervor dos islâmicos que, cinco vezes ao dia, dirigem suas faces em direção a Meca e fazem suas orações onde quer que estejam, ou dos judeus, que tem suas três orações cerimoniais diárias, vemos como as palavras de Jesus são atuais (Mt.6:5) e como devemos fugir da ostentação e do formalismo em nosso relacionamento com Deus.

– Muitos crentes procuram, ante os exemplos retirados das Escrituras, em especial o de Daniel, criar algumas regras relativas à oração, estipulando o número de vezes que devemos orar, em que ocasiões devemos orar e assim por diante.

Não entendemos seja incorreto que alguém procure seguir o exemplo de homens fiéis a Deus e que, podendo, tenha o hábito de orar três vezes ao dia ou que ore ao acordar, ao se deitar, antes das refeições, hábitos que são salutares.

– O que devemos, porém, evitar é que estas práticas sejam estabelecidas como regras válidas a todos, o que seria indevida imposição de uma prática devocional pessoal a todos os demais ou, então, que tais práticas passam a ser tidas como demonstração de santidade e de comunhão com Deus por si sós, o que nos levará para o formalismo e ritualismo que tanto foram condenados por Jesus.

Diz a Bíblia que devemos orar sempre e, em sendo assim, que cumpramos a Palavra de Deus, cada um ao seu modo, cada um à sua maneira, mas dentro do modelo bíblico.

– No entanto, ao observarmos muitas orações que têm sido ouvidas e pronunciadas em nosso meio, vemos, com tristeza, que este formalismo, esta ostentação não é exclusividade dos seguidores de Maomé ou dos descendentes dos que rejeitaram em Messias na Palestina.

Há muitos crentes que se comprazem, em suas congregações, em intermináveis, longas e altas orações, para demonstrar uma santidade perante os seus conservos. Estes, assim como aqueles, têm o mesmo triste destino do fariseu da parábola (Lc.18:14).

– Há muitos crentes, ainda, que, de forma automática, repetitiva e num estado em que os lábios estão completamente desligados do coração, fazem verdadeiras rezas, o que é igualmente condenado pelo Senhor (Mt.6:7).

De nada adianta ficarmos repetindo palavras a esmo, sem que nelas esteja nosso coração, nossas mentes, como se as palavras tivessem poder em si (algo, aliás, que tem sido, indevidamente, pregado por aí, como se estivéssemos acolhendo a ideia das “palavras mágicas” dos contos de fadas, ou, o que é ainda pior, acolhendo a ideia hinduísta dos “mantras”, que ficaram famosos no Ocidente através da seita “Hare Krishna”).

Deus ouve ao contrito de coração, àquele que, efetivamente, estiver entregando a sua alma no seu diálogo com Deus, num diálogo que vem do interior do homem ao interior de Deus.

– Se devemos orar sempre, Jesus também salientou que o dever de orar impõe uma outra conduta: o de nunca desfalecer. Nunca desfalecer, como bem traduziu a Nova Versão Internacional, significa nunca desanimar.

O dever de orar impõe o dever da perseverança, da insistência, de confiança diante de Deus. Quem ora deve ter a convicção de que Deus está ouvindo a sua oração e de que irá responder ao clamor, bem como que irá providenciar o melhor para aquele que O busca.

A oração daquele que desiste, daquele que esmorece, daquele que não insiste é algo igualmente vazio e sem qualquer validade diante de Deus.

– Quem ora numa perspectiva de que deve ser atendido de imediato, de que o nome de Deus é “Já” e que não tem que esperar, não ora, segundo nos ensina Jesus, mas, simplesmente, perde seu tempo, pois esta oração não corresponde ao dever que tem o servo de Deus, pois é uma oração que trará, em breve, o desânimo, que não representa qualquer submissão a Deus e que, portanto, não alcançará qualquer resultado prático.

OBS: Alguns, inadvertidamente, costumam defender a imediatidade da resposta da oração feita a Deus dizendo que Deus é “Já”, baseando-se no Sl.68:4, numa interpretação totalmente equivocada pois “JÁ” ali não é o advérbio de tempo em português mas uma versão poética do nome de Deus em hebraico, a saber, “Yah”. Pra evitar esta confusão, aliás, as versões mais recentes dizem tão somente “o Seu nome é O SENHOR”.

III – A ORAÇÃO NA PERSPECTIVA DA BATALHA ESPIRITUAL

– Esta oração incessante e contínua é bem mais compreendida quando estamos na perspectiva da batalha espiritual. Paulo, ao falar da oração sob esta perspectiva, afirma que devemos “orar em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, vigiando isto com toda a perseverança e súplica por todos os santos” (Ef.6:18).

– De pronto, verifica-se que a oração deve ser feita “em todo o tempo”. Ora, assim como o soldado tem de fazer exercícios corporais durante todo o tempo, faz parte de seu cotidiano manter-se em forma para poder estar apto para a peleja, o salvo também tem de orar para que esteja sempre pronto para enfrentar uma investida do inimigo ou, mesmo, na evangelização, lançar um ataque contra ele e suas hostes.

– O Manifesto de Manila, ao abordar a questão da batalha espiritual, assim declarou: “Afirmamos que a luta espiritual requer armas espirituais, que devemos pregar a Palavra no Poder do Espírito, e orar sem cessar para que possamos participar da vitória de Cristo sobre os principados e potestades do mal” (item 11).

– Nota-se que, de forma muito feliz, o referido documento deixa bem claro que a oração sem cessar é um dos requisitos para que se tenha vitória na batalha espiritual, pois, como dizem os cristãos chineses: “muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder”.

– Os discípulos precisavam do poder do alto, mas como foram buscá-lo? Por meio da oração. Estavam unanimemente em oração quando, então, foram revestidos de poder (At.1:14).

Estavam, também, orando, quando o Senhor manifestou fisicamente o Seu poder, movendo o lugar onde estavam reunidos, ocasião em que houve novo revestimento de poder de salvos na igreja de Jerusalém (At.4:31), manifestações sobrenaturais que tiveram como resultado o aumento da ousadia dos discípulos na evangelização, que é uma verdadeira “declaração de guerra ao reino das trevas”.

– O Pacto de Lausanne já havia dito que se deve empreender a batalha espiritual com “…as armas espirituais da verdade e da oração…” (item 12), mostrando, assim, a necessidade de recorrermos à oração para que possamos ter condições de enfrentar este conflito contra as forças espirituais malignas.

– O Senhor Jesus é o exemplo maior da oração. Antes de enfrentar o diabo no deserto, nestas primeiras e intensas tentações do diabo, o Senhor passou jejuando e orando durante quarenta dias (Mt.4:2; Lc.4:2).

Alguém pode dizer que o texto diz que Jesus apenas jejuou, mas o jejum sempre é um reforço à oração, nunca se jejua sem que se esteja, também, orando. Jejum sem oração é apenas abstenção alimentar, nada mais que isto.

– A perspectiva da batalha espiritual bem explica porque devemos orar sem cessar (I Ts.5:17). O conflito contra as hostes da maldade inicia-se no exato instante em que somos salvos por Cristo e somente terminará quando estivermos na eternidade, seja pela morte física, seja pelo arrebatamento da Igreja.

Assim, se o conflito é incessante, a oração, que é um dos exercícios que nos deixa em forma espiritual para o combate, também não pode dar sinal algum de cessação, de solução de continuidade.

– Mas, além de orar em todo o tempo, o apóstolo diz que se deve fazê-lo “com toda a oração e súplica no Espírito”. Parece haver aqui uma redundância: “orar com toda a oração e súplica”? Que significar “orar com toda a oração”?

– A Versão Almeida Revista e Atualizada melhora um pouco a redação deste versículo, mostrando que se trata de fazer “toda a oração e súplica, orando em todo o tempo no Espírito”.

Ou seja, o apóstolo diz que devemos orar os mais diversos tipos de oração (oração intercessória, oração de agradecimento, petições, louvor etc.), mas todas estas orações devem ser feitas no Espírito. Então, “orar com toda a oração” é fazer todos os tipos de oração.

– O que será “oração no Espírito”? Algumas versões, como a Nova Tradução na Linguagem de Hoje , usam a expressão “oração guiada pelo Espírito Santo”, enquanto outros entendem que este tipo de oração é a “oração em línguas”, conforme o apóstolo Paulo registra em I Co.14:14,15.

– O fato é que a oração que deve ser feita para fins de sermos fortalecidos no Senhor e na força do Seu poder (Ef.6:10), a fim de sermos vitoriosos nos embates com Satanás e suas hostes deve ser uma oração no Espírito, ou seja, uma oração que não resulta de nosso intelecto, de nossa vontade, de nossa sensibilidade, mas, sim, uma oração que é guiada, dirigida pelo Espírito de Deus,

aquilo em que pedimos exatamente o que Deus quer que seja pedido e que, por vezes, nem mesmo sabemos o que é, uma vez que, se orarmos em língua estranha, não estaremos orando com o nosso entendimento, mas o nosso espírito será se comunicando diretamente com o Senhor, sem passar pela mediação de nosso raciocínio.

– Ao dizer que a oração a ser feita sob a perspectiva da batalha espiritual deve ser uma “oração no Espírito”, o apóstolo está simplesmente dizendo o que o Senhor Jesus já dissera na oração sacerdotal, ou seja, de que não há como termos vitória se não constituirmos uma unidade com o Senhor, se não estivermos em perfeita comunhão com o Nosso Senhor e Salvador (Jo.17:11,20-23).

– Se estivermos em comunhão com o Senhor Jesus, nossa oração sempre será atendida, porquanto haveremos de pedir exatamente o que Deus quer, pois teremos abrido mão de nossa vontade, pois o discípulo genuíno de Cristo renuncia a tudo quanto tem (Lc.14:33).

– A oração no Espírito é uma oração feita segundo a vontade do Senhor e, por isso, tudo quanto for pedido será feito (Jo.15:7).

Tudo quanto for pedido com o objetivo de realização da obra do Senhor, de realização da /Sua vontade, será sempre feito (Jo.4:34; 14:13,14).

– Quando, porém, a oração não é no Espírito, é feita com base em nossos caprichos, conceitos e para atender aos nossos deleites, tal oração não só não é atendida como também gera guerras e pelejas entre os irmãos, levando-os a um caminho totalmente contrário ao que leva a oração no Espírito, pois se esta nos conduz à unidade com Deus e à vitória sobre o maligno, aquela somente fomentará carnalidade, dissensões, inveja, cobiça e adultério espiritual, impedindo, assim, de que se tenha condição de resistir ao diabo (Tg.4:1-7).

– A oração no Espírito pressupõe a nossa sujeição a Deus, a renúncia do nosso ego e, por isso mesmo, capacita-nos a poder vencer o inimigo, fazendo com que ele fuja de nós.

– Esta oração não pode prescindir do elemento de “súplica”. Por duas vezes, o apóstolo Paulo menciona
a “súplica”, que é um dos tipos de oração (I Tm.2:1), que é a palavra grega “ deesis” (δέησις), cujo
significado é de “tornar conhecida uma necessidade específica carência”.

– No combate contra o maligno, devemos reconhecer a nossa extrema dependência de Deus, a nossa inferioridade ante o diabo e seus anjos e, por isso mesmo, é imperioso que devemos levar ao conhecimento do Senhor as nossas deficiências e imperfeições, confessar as nossas mazelas,

as nossas fraquezas e clamar para que sejamos corroborados com poder pelo Seu Espírito no homem interior (Ef.3:16), corroborados em toda fortaleza, segundo a força da Sua glória, em todo a paciência e longanimidade, com gozo (Cl.1:11).

Este pedido nada mais é que o pedido de fortalecimento no poder de Deus e na força do Seu poder que o apóstolo diz ser indispensável para que tenhamos condições de lutar contra o mal (Ef.6:10).

– Bem se vê, portanto, que, bem ao contrário do que defende a “teologia da batalha espiritual”, não se trata de, forma ufanista, iniciar uma “batalha” contra determinados espíritos malignos, máxime os supostamente “territoriais” e exibir um poder recebido da parte de Cristo para tais operações bélicas.

Deve-se, isto sim, reconhecer-se a própria miséria e limitação, rogando o fortalecimento do Senhor para que, então, fortalecidos por Seu poder, tenhamos condição de afugentar o inimigo e resistir a suas investidas.

– É de se notar, ainda, que esta oração não deve ser feita egoisticamente, ou seja, única e exclusivamente para o nosso sucesso e êxito na batalha espiritual, mas deve também ser dirigida a Deus em prol de todos os santos (Ef.6:18).

– Somos membros em particular do corpo de Cristo (I Co.12:27) e temos de demonstrar o amor fraternal e, mais do que isso, sentir a mesma dor, pois se um membro padece, todos padecem com ele (I Co.12:26).

Assim, a oração deve ser feita em prol de todo o corpo de Cristo, para que haja o êxito na batalha espiritual que, como nos mostrou o Senhor Jesus, é de toda a Igreja, pois as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, não contra apenas alguns membros em particular.

IV – IMPEDIMENTOS ÀS ORAÇÕES

– Sendo absolutamente necessário que se ore para que se tenha êxito na batalha espiritual, é forçoso verificarmos o que pode impedir as nossas orações e, deste modo, comprometer nosso desempenho no conflito contra o diabo e seus anjos.

– O salmista afirmou que as iniquidades impedem as nossas orações (Sl.66:18). No tempo da lei, somente os sacerdotes poderiam oferecer incenso.

Assim também, somente os santificados em Cristo Jesus podem orar. A única oração ouvida por Deus de quem não é santificado é a oração de arrependimento e confissão de pecados (Rm.10:9-11). Deus somente ouve a quem é temente a Deus e faz a Sua vontade (Jo.9:31).

– Destarte, quem não for temente a Deus e não estiver a fazer a vontade do Senhor, condição alguma terá de vencer o maligno, já que suas orações serão impedidas e não terá ele como estar em forma no embate contra as hostes da maldade, sendo facilmente desarmado pelo adversário e vencido.

– O segundo fator que impede as orações de serem ouvidas pelo Senhor é a insinceridade. Quando oramos “da boca para fora”, quando usamos da oração única e exclusivamente para nos exaltar, para nossa glorificação própria, esta oração não é ouvida por Deus (Mt.6:5).

São orações que buscam o reconhecimento dos homens, de forma que, ao receberem tal reconhecimento, já tiveram o que buscavam. Deus está muito, mas muito distante de tais orações.

– Por isso, o fariseu da parábola do fariseu e do publicano não foi justificado (Lc.18:14), de nada tendo adiantado a sua oração para que obtivesse o perdão dos seus pecados, sendo alguém que estava completamente vencido pelo maligno, um verdadeiro “filho do inferno” (Mt.23:15).

– Terceiro fator a impedir as orações, segundo as Escrituras, são os motivos carnais (Tg.4:3). A oração deve ser feita “em nome de Jesus” (Jo.14:14; 16:23,24), ou seja, de acordo com as Escrituras, de acordo com a vontade do Senhor.

A oração reflete a nossa comunhão com o Senhor, mostra que temos o mesmo querer de Deus, que somos um com Ele (Jo.15:7; 17:21,22).

Quando pedimos algo que sirva apenas para os nossos deleites, que tenha em vista apenas o prazer carnal, estamos dando lugar à carne e, portanto, não estaremos em comunhão com o Senhor (Rm.8:6-8). Por isso, trata-se de um mau pedido, ao qual o Senhor não atende.

– Esta oração, que é fora do Espírito, não tem o condão de nos fortalecer para o embate espiritual, mas, como diz o irmão do Senhor, apenas servirá para produzirmos obras da carne e, em meio a tal carnalidade, sucumbirmos diante do nosso acusador.

– Quarto fator a impedir as orações é a descrença. Tiago afirma que “a oração da fé salvará o doente” (Tg.5:15 “in initio”) e Jesus, em várias oportunidades, afirmou que a fé do beneficiário havia sido responsável pelo milagre realizado. A falta de fé impede que alguém receba algo da parte de Deus (Tg.1:6,7), porque sem fé é impossível agradar ao Senhor (Hb.11:6).

Não nos esqueçamos do que disse o poeta sacro, em letra adaptada/traduzida por Paulo Leivas Macalão: “Aqui só há descrença, as lutas não têm fim, mas de Jesus a presença, glória será para mim” (final da primeira estrofe do hino 204 da Harpa Cristã).

– A oração sem fé é a oração de um combatente que perdeu o escudo da fé e se deixou ferir mortalmente pelos dardos inflamados do maligno, que é a dúvida, ocasionando paralisia espiritual e a solução de continuidade da jornada rumo ao céu.

– Quinto fator a impedir as orações é a atividade satânica e/ou demoníaca. Deus, por vezes, pode permitir que haja interrupção na comunicação entre Deus e os homens por atuação de forças malignas, a serem devidamente expulsas pelo poder do Senhor mediante o discernimento espiritual dos crentes.

– Daniel teve suas orações impedidas pelas hostes espirituais da maldade (Dn.10:12,13) e isto pode acontecer em nossos dias, notadamente quando nos encaminhamos para o final desta dispensação, em que a atuação maligna aumenta grandemente diante da multiplicação da iniquidade (Mt.24:12,24; II Co.2:1; 11:3) e pelo aumento da intensidade do espírito do anticristo (II Ts.2:1-12).

– Em casos de atividade satânica e/ou demoníaca, devemos orar ainda mais, a fim de que o Senhor remova os obstáculos que permitiu houvesse para o aumento da nossa fé e da nossa perseverança.

Trata-se de uma verdadeira “provação”, de um mecanismo do Senhor para que O busquemos com maior intensidade e, a exemplo do profeta, que recebeu preciosas revelações, venhamos também a ter maior intimidade com o Senhor.

– Sexto fator a impedir as nossas orações de alcançarem a presença de Deus são os desentendimentos com a família. Quando há falta de comunhão no lar, quando o altar do lar está quebrado, Deus não responde, Deus não ouve o que é pedido ( I Pe.3:7).

– Sétimo fator a impedir as orações de produzirem resultado é o orgulho (Lc.18:10-14). Ao nos relatar a parábola do publicano e do fariseu, Jesus dá-nos uma lição a respeito da oração, mostrando-nos que a oração deve ser feita sempre com humildade, com reconhecimento da soberania divina e da indignidade do homem como tal.

Não podemos jamais orar com arrogância, como que a mostrar méritos ou “direitos” diante do Senhor. Oramos porque precisamos de Deus e da Sua misericórdia, porque nos reconhecemos pecadores e carentes da graça de Deus, algo bem diverso das orações dos modernos fariseus, que são uma sequência de “exigências”, “determinações”, “decretos” e tantas outras invencionices, cujo único resultado é fazer com que as pessoas orgulhosas e soberbas saiam sem justificação do templo onde vociferaram suas tolices.

– Oitavo fator que impede as orações é o desprezo pelas coisas de Deus, a idolatria, visto que algo é posto no lugar primeiro, que é exclusivo do Senhor.

Diz a Bíblia que o povo de Israel não era abençoado materialmente e que suas orações por prosperidade material não eram ouvidas porque deixaram de dar prioridade às coisas de Deus, seja deixando de edificar o templo nos dias de Ageu (Ag.1:1-11), seja nos dias de Malaquias,

quando cessaram de contribuir com seus dízimos para a casa do tesouro (Ml.3:7-10). Sempre quando passamos a pôr as coisas de Deus em segundo lugar, amando o dinheiro ou qualquer outra coisa desta vida, as orações nossas não são ouvidas, porquanto estamos a constituir ídolos em nossas vidas.

– Isto não quer dizer, como dizem os mercenários dos nossos dias, de que devamos, então, barganhar com Deus, dando-lhe bens materiais a fim de que venhamos a obter prosperidade material. Não, não e não!

Quem assim faz, comete os mesmos erros dos judeus dos dias de Ageu e de Malaquias, pois continua amando o dinheiro, que é a raiz de toda espécie de males (I Tm.6:10) e quem serve às riquezas, não serve a Deus (Mt.6:24).

– Para não termos impedidas as nossas orações por causa deste fator, basta que amemos a Deus sobre todas as coisas, que busquemos o reino de Deus e a sua justiça e, dando a prioridade a Deus e às coisas de cima (Cl.3:1,2), tudo o mais que for necessário e suficiente a uma vida digna nos será concedido pelo Senhor (Mt.6:33).

– Fator muito semelhante a este e que também causa o impedimento das orações é a recusa a ajudar os necessitados. A oração demonstra sempre amor ao próximo e não há como se admitir uma oração de quem não ama o próximo.

O proverbista é claro ao afirmar que o que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, também não será ouvido (Pv.21:13), texto que não fala apenas de uma aplicação da lei da ceifa, mas, também, da circunstância de que Deus é o primeiro a não ouvir quem assim proceder, pois Deus é o grande defensor dos pobres e necessitados, daqueles que nada têm ou podem ter, como se vê claramente nos dispositivos da lei que tratam dos órfãos e das viúvas (Sl.10:14; 146:9; Os.14:3)

– Também impede as nossas orações a recusa a submissão à Palavra de Deus. Diz o proverbista que Deus não ouve aos que O buscam mas que rejeitam a repreensão do Senhor, aos que não atendem ao conselho do Senhor, aos que não temem a Deus (Pv.1:23-32).

A todos quantos endurecerem a sua cerviz, que não atentarem aos chamados do Senhor para arrependimento e melhora dos caminhos, o Senhor não mais ouvirá suas orações e permitirá que sofram as consequências de seus desatinos, de sua teimosia, de sua dura cerviz.

Como é triste contemplarmos, hoje em dia, pessoas que endurecem seus corações para o Senhor e cujas orações não mais ultrapassam sequer o teto de seus aposentos, isto porque seus corações também não deixaram penetrar a luz da Palavra do Senhor. Tomemos cuidado para que não nos tornemos insensíveis ao Espírito de Deus e, como reação, Deus Se torne insensível ao nosso clamor.

– Por fim, também impedem as nossas orações, a recusa em perdoar ou ser perdoado. A falta de perdão denuncia uma soberba, uma arrogância, um amor de si mesmo que revela o domínio da carne sobre a vida da pessoa e, por isso, não há como Deus ouvir a oração de quem se recusa a ter o amor de Deus em seu coração.

Por duas oportunidades, no sermão do monte, Jesus sinaliza que a falta de perdão impede a comunhão com Deus – Mt.5:23,24; 6:12,14.

– Em todos estes casos, vemos que a oração será inútil e ineficaz, de forma que a derrota na batalha espiritual é evidente, visto que os orantes já sucumbiram ao pecado. Tomemos, pois, muito cuidado!

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/3774-licao-13-orando-sem-cessar-i

 

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