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LIÇÃO Nº 14 – A VIDA PLENA NAS AFLIÇÕES




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Em Cristo Jesus, podemos vencer as aflições da vida terrena.


INTRODUÇÃO


– Encerrando o estudo deste trimestre letivo, neste último bloco em que vemos a vitória do cristão sobre as aflições da vida, estudaremos que as aflições não têm o poder de nos tirar da comunhão com o Senhor.


– Apesar de no mundo termos aflições, o fato é que, se estivermos em Cristo Jesus, temos paz e vida e, por causa disso, não seremos derrotados pelas dificuldades passageiras que o mundo nos apresenta.


I – O ALCANCE DAS AFLIÇÕES DO TEMPO PRESENTE


– Estamos a encerrar mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical, trimestre em que estudamos a respeito das aflições da vida terrena, algo inevitável para a vida de todo ser humano, em especial daquele que decide ter a Cristo Jesus como seu Senhor e Salvador.


– Ao longo do trimestre, vimos, com absoluta clareza, que a mensagem que ultimamente se tem feito ecoar nos meios ditos evangélicos, apregoada pelos seguidores da teologia da prosperidade, de que o Evangelho nos faz parar de sofrer, é uma balela, uma grande mentira urdida pelo próprio Satanás, que é o pai da mentira (Jo.8:44).


– Quando somos salvos por Cristo Jesus, alcançamos a comunhão com Deus, é restaurada a amizade que havia entre o homem e seu Criador, amizade que foi rompida com o pecado, mas, como nos afirmou o Senhor em Sua oração sacerdotal, nem por isso deixamos de estar no mundo (Jo.17:11).


– Assim, se estamos no mundo, passamos por aflições, porque este mundo está no maligno (I Jo.5:19) e, portanto, não tem nada a oferecer ao homem senão miséria e dor. Como se não bastasse isso, pelo fato de não sermos do mundo (Jo.17:16), somos feitos “corpo estranho” neste mundo e, deste modo, temos um motivo a mais para sermos afligidos, já que vivemos em intenso e contínuo combate contra o mundo.


– No entanto, apesar de termos mais razões para termos mais aflições do que os que não servem a Deus, já que há um fator a mais a “piorar” a situação, o salvo em Cristo Jesus, embora tenha de ter consciência desta sua situação aflitiva especial, a qual o Senhor Jesus quis explicitar em Suas últimas palavras de instrução aos Seus discípulos (Jo.16:33), também foi tornado consciente de que todas as aflições do tempo presente não têm o condão de impedir a sua comunhão com Deus.

– Ao mesmo tempo em que o Senhor Jesus disse aos discípulos de que no mundo eles teriam aflições e enfrentariam o ódio do mundo contra eles por causa de sua comunhão com Deus (Jo.15:18-20), também fez questão de lhes mostrar que, apesar de sofrerem até mais aflições que os incrédulos, os Seus discípulos teriam a possibilidade de superar tais aflições, de vencê-las, algo que não está disponível a quem não serve a Deus.


– Para tanto, disse o Senhor, seria necessário que os discípulos atendessem a dois pressupostos, indispensáveis para que viessem a ter vitória nas “lutas de cada dia” que acompanham o cristão desde o momento em que se rende a Cristo: estar em Cristo Jesus e ter bom ânimo (Jo.16:33).


– Na lição anterior, já estudamos o que significa ter bom ânimo e como isto é imprescindível para que o salvo em Cristo Jesus vença as aflições. Hoje estudaremos o outro pressuposto, o de estar em Cristo.


– Na sua palavra final de instrução aos discípulos, o Senhor Jesus foi bem claro: “Tendo-vos dito isto para que, em Mim, tenhais paz”. O Senhor esclarece, de pronto, para os discípulos, que tudo quanto havia dito a eles durante o Seu ministério terreno tinha um propósito: dar-lhes a paz.


– Paz, na língua hebraica (língua em que se escreveu a quase totalidade do Antigo Testamento), é “shalom”(שלם), que, muito provavelmente, é a palavra hebraica mais conhecida no mundo. A ideia israelita de “shalom” é diferente da ideia que se disseminou posteriormente entre os povos, mormente entre os gregos. “…As palavras hebraicas se formam a partir de radicais.


A raiz da palavra shalom é formada pelas letras shim, lâmed e mem. A palavra shalem, que significa quitar, tem a mesma raiz de shalom. Podemos, então, entender que, quando não temos dívidas, sejam elas da espécie que forem – financeiras, promessas, compromissos, deveres religiosos, morais – conseguimos estar em paz; shalem significa também – completo, íntegro, o que indica que paz significa integridade – a pessoa alcança a paz ao se tornar completa, íntegra.…” (MALCA, José Schorr e COELHO, Antonio Carlos. Shalom é mais do que paz. Jornal de ciência e de fé. dez. 2002. http://www.google.com/search?q=cache:6N7CLr58BLYJ:www.cienciaefe.org.br/jornal/dez02/mt06.htm+paz,+Talmude&hl=pt-BRAcesso em 18 dez.2004). “…Basicamente, o vocábulo empregado no Antigo Testamento com o sentido de ‘paz’, shãlôm, significa ‘algo completo’, ‘saúde’, ‘bem estar’.…” (. DOUGLAS, J.D. Paz. In: O Novo Dicionário da Bíblia. v.2, p.1233).


– Assim, a primeira vez em que a palavra é empregada nas Escrituras Sagradas, na versão Almeida Revista e Corrigida, é em Gn.15:15, quando é utilizada pelo próprio Deus a Abrão, na revelação que o Senhor deu ao patriarca sobre a formação da nação hebreia, quando diz que Abrão iria a seus pais em paz, ou seja, que morreria em boa velhice, quando tivesse completado a sua peregrinação. Em Gn.26:29, a expressão é utilizada por Abimeleque e seus oficiais, para dizer que tinham deixado Isaque partir com todas as suas riquezas, com todo o seu patrimônio, completo e inteiro, sem que lhe tivessem tocado. Também, na chamada “benção arônica”, é dito que o Senhor levante o rosto sobre cada israelita, ou seja, se faça presente na vida de cada israelita e, assim, lhe dê a paz, ou seja, a completude, a integridade espiritual (Nm.6:26). Em Jó 22:21, vemos explicitamente dito que ter paz é estar unido a Deus.

– Notamos que a paz, portanto, dentro do conceito do Antigo Testamento, é um  estado de integridade, ou seja, um estado em que a pessoa se sente completa, se sente amparada, se sente segura, se sente inteira, o que somente é possível quando o homem está em comunhão com o seu Criador. O ser humano foi feito para viver com Deus, foi feito para ser imagem e semelhança de Deus, para refletir a glória de Deus e, por isso, ao final de cada dia, Deus ia ao Seu encontro no jardim do Éden, para que o homem se sentisse completo.


Entretanto, com o pecado, houve a separação entre Deus e o homem (Is.59:2) e o homem perdeu este sentimento de completude, de integridade, perdeu a paz. A separação entre Deus e o homem pelo pecado é a causa da falta de paz entre os homens. É por isso que Paulo afirma que, com a obra redentora de Cristo, restaurou-se a paz. Jesus é a nossa paz (Ef.2:14), porque derrubou a parede de separação que havia entre Deus e os homens. Cristo fez a paz (Ef.2:15).


– Fora de Israel, porém, a ideia de paz era outra. Entre os gregos, cuja cultura foi determinante para a formação do pensamento ocidental, a paz era chamada de “eirene”(είρήνη), sendo concebida como um estado de ausência de conflitos. A paz é considerada como sendo o estado de inexistência de guerras, o intervalo entre uma guerra e outra.


– Na mitologia grega, a “paz” era uma deusa, filha de Zeus, o principal deus olímpico, e Themis, a deusa da justiça, cujo culto foi instituído em Atenas a partir de 374 a.C., quando os atenienses encerraram a sua guerra contra Esparta, a sua grande cidade rival na Grécia. Desde então, a ideia de paz passou a ter esta ideia negativa, esta ideia de ausência de perturbação, de tranquilidade, de falta de agitação. É, precisamente, o sentido que tem a nossa conhecida expressão: “deixe-me em paz”. Tanto é assim que, na mitologia grega,

“Eirene” (a deusa da paz) era uma das “Horas”, divindades que se caracterizavam por serem divindades que personificavam alguns períodos de tempo, ou seja, a paz era considerada, entre os gregos, como algo passageiro, algo temporário.


– A ideia de paz como completude, como integridade somente veio depois da tradução das Escrituras para o grego (a chamada Septuaginta), quando, então, a “eirene” passou-se a se dar a ideia de “shalom”, até porque “shalom” foi traduzida por “eirene” naquela versão do Antigo Testamento.


OBS: Entre os árabes, a ideia de paz é similar à judaica. Veja-se, por exemplo, o que diz a respeito o comentarista da tradução em português do Corão: “…Em contraste com os prazeres efêmeros e incertos desta vida material, existe a vida mais elevada, à qual Deus nos está constantemente exortado. Ela é denominada O Lar da Paz. Eis que aí não há temores, desapontamentos, ou pesares. A ela todos são conclamados, mas serão escolhidos não aqueles que tiverem procurado as vantagens materiais, mas aqueles que tiverem procurado o Bom Aprazimento de Deus.

 A palavra Salam (Paz) provém da mesma raiz de Islam, a Religião da Unidade e da Harmonia. …”(nota 611 da tradução de Samir El Hayek do Corão)

– Jesus, ao falar da paz, fez uma distinção entre estes dois conceitos. Nas Suas últimas instruções aos discípulos, afirmou que lhes deixava a Sua paz, que não era a paz do mundo (Jo.14:27). A paz do mundo, conforme inferimos dos ensinos do Senhor, era uma paz precária, insegura e sujeita a temores constantes, porque era apenas a ausência de conflitos, uma ausência que não era garantida por coisa alguma.

 Era a situação vivida pelos contemporâneos de Cristo, que viviam a chamada “pax romana” (i.e., a paz romana), que era o período de ausência de guerras e de conflitos nas regiões que estavam sob o domínio romano, nos governos dos imperadores César Augusto e Tibério, que logo passaria, pois se tratava de apenas uma acomodação política instável e que dependia, fundamentalmente, da eficiência dos exércitos e dos órgãos de controle do poder romano. A paz de Cristo é “shalom”, ou seja, o sentimento de comunhão, de estar completo com a habitação divina em nosso espírito, o que se obtém apenas por se ter alcançado a salvação em Cristo Jesus. Esta é a paz descrita nas Escrituras, vivida pelos crentes e que emana das atitudes do salvo.

– É a esta paz que o Senhor Se refere na Sua última palavra de instrução. “Tenho-vos dito isto para que, em Mim, tenhais paz”. Ao contrário dos incrédulos, o salvo em Cristo Jesus tem uma garantia para enfrentar as aflições: a paz que desfruta se estiver em Cristo Jesus.

– Quando dizemos que o salvo em Cristo Jesus passa pelas mesmas aflições do incrédulo e, na verdade, é candidato por ser ainda mais afligido, alguém pode, então, perguntar: então, qual a vantagem de servir a Deus?


É verdade que o salvo em Cristo Jesus não espera em Cristo apenas nesta vida, que existe a realidade da dimensão eterna a nos aguardar, mas, qual seria a vantagem de ser crente aqui neste mundo, então, se ele é ainda mais afligido e não está imune às mesmas vicissitudes que passa o que não serve a Deus?


– A diferença encontra-se precisamente neste ponto que o Senhor Jesus quis enfatizar antes mesmo de nos advertir que, no mundo, teríamos aflições.  Ao contrário do incrédulo, o salvo, mesmo passando pelas mesmas aflições por que passa o que não serve a Deus, em meio a estas aflições não está, de forma alguma, desamparado. Pelo contrário, estando em Cristo Jesus, o salvo, mesmo sendo afligido, não perde a paz, não perde a comunhão com o Senhor e é esta comunhão, é esta paz que faz com que, em meio a tantas dificuldades, ele venha a manter a fé, a esperança e o amor e conquiste a vitória, assim como o seu Senhor.


– Ao longo do trimestre, vimos que  só há um caminho para vencermos as diversas aflições que nos sobrevém: mantermo-nos em Cristo Jesus. Somente em Jesus podemos encontrar a paz, somente em Jesus podemos manter a comunhão com o Senhor e, a partir desta comunhão, angariar as forças necessárias para prosseguirmos a nossa peregrinação terrena, sofrendo os males desta vida, mas jamais perdendo a confiança em Deus e a esperança de alcançarmos a vitória e a dimensão eterna, quando aflições não mais haverá.


– Estar em Cristo Jesus é o segredo para podermos chegar à vitória. Como afirmou o príncipe dos pregadores britânicos do século XIX, Charles Haddon Spurgeon, o cristão no mundo tem aflições, mas em Cristo, tem paz e, por ter paz em Cristo, pode alcançar a vitória sobre as aflições que o mundo lhe proporciona.


– O apóstolo Paulo mostra que quem está em Cristo não tem qualquer condenação, porque anda segundo o espírito, não segundo a carne (Rm.8:1). Quando estamos em Cristo, recebemos vida e o nosso espírito, a parte do homem que faz a ligação com Deus, passa a comandar as nossas atitudes e conduta, de tal maneira que passamos a fazer o que agrada a Deus, mortificando a natureza pecaminosa que há em nós, a “carne”.


– Em Cristo Jesus, estamos libertos do pecado e da morte, porque o Filho verdadeiramente nos liberta (Jo.8:36) e, desta forma, temos uma nova mentalidade, uma mentalidade construída pelo Espírito Santo, que nos faz ver que as aflições do tempo presente não são para comparar com a glória que nos há de ser revelada (Rm.8:18).


– Assim, apesar dos sofrimentos e das dores por que passamos neste mundo, aquele que está em Cristo entende que tudo aqui neste mundo é passageiro e que, por isso mesmo, não podemos amar o mundo nem o que no mundo há, pois temos o amor do Pai (I Jo.2:15-17). Desta maneira, não damos às coisas desta vida um sobrevalor, um valor superior ao que se tem e, deste modo, mesmo que venhamos a perdê-las, não nos desesperamos, pois, por estarmos em Cristo Jesus, temos a exata dimensão do que está debaixo do sol.


– Muitos afirmam que esta postura do cristão é de “alienação”. O salvo em Cristo Jesus estaria “alheio ao mundo”, pensando apenas no céu. Quem assim afirma, inclusive, acrescenta que o cristão seria alguém que seria forçosamente mantido “fora de órbita” a fim de propiciar as injustiças e maldades que existem em nosso mundo. Nada mais falso porém!


– O cristão não é uma pessoa “alienada”, mas, bem ao contrário, é alguém que está livre da cegueira mental que o inimigo de nossas almas impõe a todos quantos não conhecem a Jesus Cristo (II Co.4:4). O cristão sabe, perfeitamente, o que é este mundo e, pelo seu amor ao próximo, tem o mesmo sentimento divino, que é o de querer que os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4).


– No entanto, ao contrário dos que não conhecem a Jesus, o cristão tem plena consciência de que a realidade presente é passageira, está com seus dias contados e que o mais importante é, desde já, desfrutar da realidade eterna, da realidade da comunhão com o Senhor.


– Deste modo, quer, sim, e se esforça para tanto, para que o mundo em que vivemos melhore, seja mais justo. Sabe que isto somente ocorre com a retirada do pecado, motivo por que não cessa de pregar o Evangelho a toda criatura, para que, pela salvação em Jesus, o mundo possa ser transformado, a partir da transformação dos homens.


– Todavia, não tem a ilusão de que as coisas desta vida se bastam, de que a felicidade se pode alcançar somente com um olhar para o que aqui existe. “Alienado”, portanto, é quem pensa diferente, quem acha que este mundo, por si só, pode melhorar e que é a única realidade existente.


– O Senhor Jesus deixou bem claro que somente podemos superar as aflições deste mundo se estivermos n’Ele, pois é n’Ele que temos paz, é n’Ele que nos integramos a Deus, que nos tornamos um com o Senhor.


– Estando em Cristo, inclinamo-nos para as coisas do espírito e a inclinação do espírito é vida e paz (Rm.8:5,6). Por isso, apesar das aflições, temos, como diz o título de nossa lição, “vida plena”, ou seja, temos a vida em sua integridade, em sua completude.


– A verdadeira paz é aquela que subsiste mesmo em meio às aflições, às tempestades da vida.  As aflições permitem-nos avaliar como está o nosso nível de espiritualidade. Muitas das vezes o Senhor permite que passemos por alguma aflição para que avaliemos como se encontra a nossa vida espiritual, pois é no instante da aflição que verificamos se, realmente, temos a paz de Cristo em nossos corações, se realmente estamos em comunhão com Deus.


– Foi o que ocorreu na vida do patriarca Jó. Antes mesmo que tivesse o seu cativeiro mudado, Jó pôde dizer que toda aquela aflição lhe havia permitido entender que a comunhão que desfrutava com o Senhor, a mais íntima comunhão de um mortal com Deus no seu tempo, era muito inferior ao que poderia ser. Chaguento e abandonado por todos, Jó, ao chegar a esta conclusão, pôde afirmar: “…falei do que não entendia; coisas que para mim eram maravilhosíssimas, e que eu não compreendia(…). Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:3-6).

– Jó, apesar de um homem de que o próprio Deus dava testemunho, soube, por intermédio das muitíssimas aflições de que foi vítima de um momento para outro, que tudo quanto desfrutava junto a Deus era apenas um “ouvir dizer”. Agora, depois de todo aquele sofrimento, ele havia entendido que poderia aumentar ainda mais a sua comunhão com o Senhor. A aflição mostrara ao patriarca que ele ainda poderia crescer espiritualmente, que podia aumentar a sua comunhão com o Senhor.


– As aflições, portanto, não só não têm o condão de nos apartar do Senhor Jesus, como também, por vezes, são fatores que nos aproximam ainda mais de Deus. Mas, para isto, temos de estar em Jesus, temos de ter a inclinação do espírito, pois só ela pode nos trazer vida e paz.


– As aflições do tempo presente, portanto, têm um alcance limitado: somente podem nos turbar a vida terrena, a vida neste mundo. Não têm o poder de alterar, de abalar a nossa vida espiritual. As aflições dizem respeito à vida terrena e nós, em Cristo, já nos encontramos nos lugares celestiais em Cristo, abençoados com todas as bênçãos espirituais (Ef.1:3).


– Por isso, não devemos temer as aflições da vida terrena, mas, antes, devemos temer perder a comunhão com o Senhor, pois é Ele quem pode nos lançar nas trevas exteriores, onde há pranto e ranger de dentes (Mt.10:28).

– O apóstolo Paulo, ele próprio vítima de diversas aflições, é um exemplo candente nas Escrituras de que como as aflições têm limitado alcance e não perturbam o nosso relacionamento com Deus, se estivermos verdadeiramente em Cristo Jesus.


– O apóstolo mostra, claramente, que as aflições do tempo presente não nos podem separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm.8:35-39). Nada neste mundo tem o poder de nos manter separados do Senhor Jesus, se, realmente, estivermos n’Ele.


II – VENCENDO AS AFLIÇÕES DA VIDA


– O Senhor Jesus deixou-nos claro que o Seu discípulo encontraria três situações enquanto peregrinasse nesta Terra: no mundo, teria aflições; em Cristo, teria paz e, por estar no mundo e em Cristo, venceria o mundo (Jo.16:33).


– A vitória é, portanto, o resultado desta dupla existência do cristão: estar no mundo e estar em Cristo.


– O discípulo de Jesus está no mundo. Este “estar no mundo” é uma condição física. Quando recebemos a Cristo Jesus como nosso Senhor e Salvador, nem por isso abandonamos esta Terra, o que se dá apenas quando de nossa morte física ou, se estivermos vivos, no dia do arrebatamento da Igreja.


– Nossa peregrinação neste mundo é uma caminhada para a nossa glorificação. Vivemos no mundo, mas não pertencemos a ele. Estamos no mundo, mas dele não somos, assim como Jesus que esteve neste mundo, mas não pertenceu a ele (Jo.17:14).


– Por estar neste mundo, o Senhor Jesus Se fez carne, viveu numa família, comeu, bebeu, trabalhou, cumpriu Seus deveres como cidadão e como um integrante da sociedade de seu tempo, inclusive respeitando as tradições que não contrastavam com a Palavra de Deus.


– Não é porque era o Filho de Deus que o Senhor Jesus deixou de conviver com as pessoas, sempre indo ao encontro delas, pois havia vindo para buscar e salvar o que se havia perdido (Lc.19:10). Tinha uma vida social, ia ao encontro dos necessitados e lhes supria as necessidades. Tinha uma vida absolutamente normal, como qualquer outro de Seu tempo, embora tivesse uma grande diferença: jamais pecou.


– Por estar neste mundo, o Senhor Jesus passou pelas mesmas aflições que os demais homens. Teve fome (Mt.4:2), sede (Jo.19:28), cansaço (Mt.8:24), agonia (Lc.22:44),  tristeza (Mt.26:39). Ele verdadeiramente Se fez um de nós para nos mostrar que as vicissitudes desta vida terrena não nos impedem de ter uma comunhão com Deus.


– Quando vemos o registro da vida terrena de Cristo, temos de entender que não há como nos desculparmos diante de Deus se, em virtude de dificuldades e aflições, viermos a deixar Cristo ou a nos revoltarmos contra o Senhor. As aflições da vida não têm o poder de nos fazer tirar da paz que há em Cristo Jesus, não nos podem separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor.


– O ex-chefe da Igreja Romana  Paulo VI (1897-1978), em 1968, por ocasião do término das festividades do 19º centenário do martírio de Paulo e de Pedro, enunciou um “Credo do Povo de Deus”, onde resumia a fé romanista. Ao falar a respeito de Cristo Jesus, de forma bíblica, aquele Papa disse que o Senhor Jesus, em Seu ministério terreno, havia ensinado as “bem-aventuranças evangélicas”, tendo assim as enunciado: “…ser pobres de espírito e mansos, a tolerar os sofrimentos com paciência, a ter sede de justiça, a ser misericordiosos, puros  de coração e pacíficos, a suportar perseguição por causa da virtude.…” (Credo do Povo de Deus. Disponível em:  http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/motu_proprio/documents/hf_pvi_motu-proprio_19680630_credo_po.html Acesso em 31 jul. 2012).


– Destes ensinos de Cristo elencados numa feliz síntese pelo Pontífice Romano, verificamos que é o Senhor Jesus quem nos ensina, a começar de Seu exemplo, a sabermos tolerar os sofrimentos com paciência e a suportar a perseguição por causa da virtude. As aflições apresentam-nos, portanto, como oportunidades para que apliquemos, na prática diária, o que Jesus nos ensinou em Sua Palavra e em Sua vida. Temos sido bons alunos?


– Não bastasse o próprio exemplo de Cristo, ao longo da história da Igreja, a começar dos apóstolos, temos vívidos exemplos de pessoas que, apesar de todo o sofrimento que tiveram nesta vida, jamais deixaram Cristo, jamais perderam a comunhão com o Senhor, a começar dos milhares e milhares de mártires que deram suas vidas mas não negaram o Senhor Jesus, mártires, aliás, que continuam a existir até os dias de hoje, dias de intenso crescimento da perseguição contra a Igreja.


– O apóstolo Paulo afirmou categoricamente que a vida de privações que havia tido em Cristo Jesus (pois fora avisado, já no terceiro dia de conversão, de que aprenderia quanto deveria padecer pelo nome de Jesus  -At.9:16), tivera o condão de ensiná-lo que, neste mundo, deveria aprender a estar contente com o que possuísse, estivesse ele em dias de fartura, estivesse ele em dias de escassez (Fp.4:11-13).


– Se estamos em Cristo Jesus, se temos comunhão com Ele, também participaremos das Suas aflições (II Co.1:5; Fp.3:10; II Tm.1:8). Não há como querermos pertencer ao “corpo de Cristo”, se não sofrermos assim como Cristo sofreu enquanto peregrinou por este mundo.

– A nossa comunhão com o Senhor Jesus nos faz passar por aflições neste mundo. Se não sobrevierem as aflições, não há como desfrutarmos da consolação do Espírito Santo, pois só é consolado quem é afligido.


– A nossa comunhão com o Senhor Jesus nos faz ser um “corpo estranho” neste mundo, como já dissemos supra, e, assim como Cristo foi aborrecido pelo mundo, também nós o seremos, não há como escapar desta realidade.


– As aflições não são um bem, mas se tornam um bem, na medida em que, quando por elas passamos, temos o prazer da vitória, pois não há como falarmos em vitória sem que, antes, tenhamos lutas a enfrentar. Jesus disse que venceu o mundo, porque teve de lutar contra ele e nós, também, como Seus discípulos, teremos de enfrentar as lutas para sermos igualmente vitoriosos.


– Para vencermos este mundo, torna-se necessário que, por primeiro, estejamos em Cristo Jesus, desfrutemos do amor de Deus que está n’Ele (Rm.8:39). Este amor é derramado pelo Espírito Santo em nossos corações (Rm.5:5) quando recebemos a Cristo como nosso Senhor e Salvador.


– Em Cristo, somos uma nova criatura (II Co.5:17) e, por isso, não mais podemos viver da mesma maneira que vivíamos antes de nossa salvação. Eis o motivo por que muitos dos que cristãos se dizem ser, na atualidade, preferem a mensagem falsa do “pare de sofrer”, a enfrentar a realidade de que o crente padece aflições neste mundo. Eles não são “novas criaturas”, estão a viver do mesmo jeito de antes e, por isso mesmo, não estão em Cristo e só a ideia de aflições os fazem perder toda e qualquer estrutura espiritual, precisamente porque não têm paz, não estão em Cristo Jesus, como o seu viver denuncia. Qual é a nossa situação?


– O amor de Deus concede-nos uma nova conduta, como nos explicita o apóstolo Paulo no capítulo 13 de Primeira aos Coríntios. Temos realmente o amor de Deus em nossos corações? Se a resposta é afirmativa, nosso comportamento deve refletir o que diz o apóstolo naquele capítulo, ou seja, temos de ser sofredores, benignos, não invejosos, não levianos, humildes, decentes, desinteressados, sem irritação, sem suspeitar mal, não folgar com a injustiça mas, sim, com a verdade, bem como tudo sofrer, tudo crer, tudo esperar e tudo suportar. Tem sido este o nosso comportamento neste mundo?


– Mas, além do amor de Deus, que as aflições deste mundo não podem apartar de nós, é preciso que, para vencermos estas mesmas aflições, tenhamos a fé, pois, como diz o apóstolo João, “…esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (I Jo.5:4b).


– Pela fé, damos entrada na graça de Deus (Rm.5:1,2), fé que é a prova das coisas que não se veem e o firme fundamento das coisas que se esperam (Hb.11:1). Sem fé, não podemos agradar a Deus, pois é preciso que nós, que nos aproximamos de Deus, creiamos que Deus existe e que é o galardoador dos que O buscam (Hb.11:6).


– Nos momentos das dificuldades, se não crermos em Deus, se não tivermos fé, não há como vermos o que nossos olhos não estão a ver. Enquanto avistamos problemas e dificuldades, pela fé, nossos olhos espirituais nos mostram a companhia do Senhor, as  Suas promessas, a Jerusalém celestial e, desta maneira, podemos suportar tudo quanto nos sobrevém neste mundo. Sem a certeza, que advém da fé, de que tudo isto passará e que viveremos para sempre com o Senhor, não teríamos como suportar tudo quanto nos passa neste mundo.


– Esta fé tem de ser continuamente acrescentada, acréscimo este que vem de nossa aproximação a Deus, aproximação que se dá com a santificação, santificação esta que é contínua e ininterrupta (Ap.22:11).


– Por isso, em meio às dificuldades e aflições, não podemos nos distanciar do Senhor, mas nos aproximarmos ainda mais d’Ele, por intermédio dos meios de santificação, entre os quais se destacam a Palavra de Deus (Jo.17:17), a oração (I Tm.4:5), o jejum (Mc.2:20), o temor a Deus (II Co.7:1) e a participação digna na ceia do Senhor (I Co.11:23-32).


– Uma das grandes armadilhas do inimigo para tentar impedir a nossa vitória tem sido a de tentar nos convencer de que, nos momentos de dificuldades e aflições, devemos nos isolar de tudo e de todos, em especial, de Cristo e de Sua Igreja. Não façamos isto jamais! É nos momentos de dificuldade que temos de nos aproximar ainda mais de Deus, sabendo que nossa fé tem de ser acrescida, pois é ele a vitória que vence o mundo.


– Mas não só de amor e de fé precisa o crente para vencer as aflições da vida. Torna-se, também, essencialmente necessário que, nos embates desta peregrinação terrena, o crente se encha de esperança, a âncora da nossa alma (Hb.6:18,19).


– Quando as Escrituras dizem que a nossa esperança é a “âncora da alma”, temos a convicção de que é a esperança a ferramenta que nos faz manter no lugar onde estamos. Com efeito, âncora é uma “peça de ferro forjado destinada a reter o navio no ponto em que se quer, segurando-o pela amarra num fundeadouro”, que tem sua origem numa raiz grega que significa “aquilo que prende, aquilo que segura”.


– A nossa esperança é o próprio Cristo Jesus em nós, a esperança da glória (Cl.1:27), aquele Cristo que entrou antes de nós no céu e que é o nosso sumo sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque (Hb.6:20).


– Sabemos que o caminho que estamos a trilhar já foi trilhado pelo Senhor Jesus e que Ele, como disse aos discípulos em Sua palavra final de instrução, venceu o mundo, numa prova de que também podemos vencer.


Ele está à direita do Pai, vitorioso, intercedendo por nós e, ao mesmo tempo, estando ao nosso lado, para que possamos vencer as aflições desta vida.


– Esta esperança é uma âncora segura e firme, que não nos permite sair do lugar onde fomos postos pelo nosso Salvador: os lugares celestiais onde temos todas as bênçãos espirituais. Esta esperança não nos permite sair dali e, por isso mesmo, não somos engolidos vivos pelo nosso adversário, pois, em Cristo, temos o refúgio, temos o descanso, temos a proteção necessária para enfrentarmos e vencermos os adversários. Aleluia!


– De posse, portanto, do amor, da fé e da esperança, destas virtudes vindas da parte de Deus, desta força que o Senhor nos dá, não há o que temermos, devendo, pois, tão somente confiar no Senhor pois a vitória é certa em o nome do Senhor Jesus!


– Em Cristo Jesus, portanto, temos amplas condições de vencer as aflições da vida. Basta que nos mantenhamos em Cristo e que tenhamos o bom ânimo, como vimos na lição passada, e certamente a vitória que veio para o Senhor Jesus também chegará a nós. Estamos dispostos a aguardá-la?


Caramuru Afonso Francisco


BIBLIOGRAFIA DO TRIMESTRE


          A bibliografia diz respeito aos estudos de todo o terceiro trimestre de 2012, não contendo bíblias e bíblias de estudo consultadas, bem assim textos esporádicos, notadamente fontes eletrônicas, cujas referências foram dadas no instante mesmo de suas utilizações.


AUSUBEL, Nathan. Trad. de Eva Schechtman Jurkiewicz. Conhecimento judaico. In: A JUDAICA. Rio de Janeiro: Koogan, 1989. vv.5 e 6.

BUNIM, Irving M. A ética do Sinai: ensinamentos dos sábios do Talmud. Trad. Dagoberto Mensch. 2.ed. São Paulo: Sefer, 2001. 523p.

CALVINO, João. A verdadeira vida cristã. Trad. de Daniel Costa. São Paulo: Novo Século, 2000. 77p.

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 5.ed. São Paulo: Hagnos, 2001. 6v.

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