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LIÇÃO Nº 2 – UM LIBERTADOR PARA ISRAEL

lição 02

Moisés foi preparado por Deus para libertar Israel desde o seu nascimento.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do livro do Êxodo, estudaremos hoje a chamada de Moisés para ser o libertador de Israel.

– Moisés foi preparado por Deus para libertar Israel desde o seu nascimento.

I – A PREPARAÇÃO ESPIRITUAL DE MOISÉS E DE ISRAEL

– Na continuidade do estudo do livro do Êxodo, passaremos agora à análise dos capítulos 3 a 5, quando Moisés, depois de devidamente preparado por Deus, foi chamado para libertar e liderar Israel.

– Conforme vimos na lição anterior, Moisés, embora tivesse percebido sua chamada para liderar e libertar Israel, precipitou-se, querendo fazê-lo com suas próprias forças, tendo fracassado redondamente e tido de fugir para Mídia, como que, aparentemente, abortando aquela chamada divina que sentia em seu coração (At.7:23-25).

– Em sua fuga, Moisés assentou-se junto a um poço e, quando lá estava, chegaram as filhas de Jetro (também chamado de Reuel e de Hobabe), que foram tirar água para o rebanho, ocasião em que vieram pastores que as lançaram dali (Ex.2:17).

– Moisés, então, vendo esta injustiça, indignou-se e foi defender as mulheres, rechaçando a injustiça e permitindo que o rebanho de Jetro fosse devidamente abeberado. Notamos, assim, que Moisés continuava crendo em sua força e em seu braço. Tendo fracassado na sua tarefa de “fazer justiça com as próprias mãos” junto aos hebreus, ainda se considerava um “paladino da justiça”.

– As filhas de Reuel contaram o episódio a seu pai, que convidou Moisés a morar com ele. Moisés, então, consentiu em morar com ele e este lhe deu como mulher a sua filha Zípora. Moisés encontrava-se fora da direção divina, achando que poderia, com sua força e braço, fazer as coisas, mas o Senhor o estava preparando para a missão para a qual fora ele escolhido.

– Moisés havia sido criado em toda a ciência do Egito, mas isto era necessário mas absolutamente insuficiente para que ele pudesse liderar Israel. Ele tinha de ter a experiência do deserto, a experiência do cuidado do que não lhe pertencia, ele precisava se tornar o homem mais manso sobre a Terra.

Foi isto que ele aprendeu durante os quarenta anos que esteve cuidado das ovelhas do rebanho de seu sogro. Deixou de ser príncipe para ser pastor. Deixou de ter poder para aprender a ser subordinado. Deixou de ter tudo à mão no palácio, para aprender a depender de outrem e de nada ter, sendo apenas alguém que tinha em confiança os bens alheios. Deixou de conhecer as coisas atinentes à terra, para começar a aprender a respeito das coisas sagradas pois, não nos esqueçamos, Jetro era um sacerdote e, segundo alguns estudiosos, descendente de Jó e que, inclusive, durante este período, teria escrito o livro de Jó, a partir da própria história que lhe contara seu sogro.

– Moisés, embora criado em toda a ciência e cultura do Egito, tinha de aprender a se despojar das coisas do Egito, para poder, então, ser plenamente consagrado a Deus. Os quarenta anos vividos no deserto serviram para lapidar, formar Moisés para que ele pudesse ser um homem consagrado ao Senhor.

OBS: “…Deve ter sido uma grande mudança para Moisés, depois de 40 anos na corte de Faraó, passar outros 40 anos no deserto. Mas não foi um tempo perdido — eram necessários estes dois primeiros períodos para fazer Moisés pronto para a grande vida dos últimos quarenta anos. Ele tinha de ser um príncipe e tinha de ser um pastor, pois ele deveria ser tanto um legislador quanto um pastor para o povo de Deus. Era necessário que ficasse bem solitário. Ele tinha de ter muitas conversas solitárias com o seu próprio coração. Ele tinha de sentir a sua própria fraqueza. E isto não foi nenhuma perda de tempo para ele — ele fez mais nos últimos 40 anos porque gastou 80 anos em preparação! Não é tempo perdido o que um homem gasta em pôr sua armadura antes de ir para a batalha, ou o que um ceifeiro gasta em afiar sua foice antes de cortar o milho…” (SPURGEON, Charles. Exposição de Ex.3, p.6. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols61-63/chs3540.pdf Acesso em 03 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).

– Isto ainda ocorre em nossos dias. Deus quer que nos preparemos no mundo secular, que sejamos instruídos em toda a cultura do mundo, pois nele estamos e nele vivemos , não sendo sequer propósito de Cristo nos tirar daqui antes do arrebatamento da Igreja (Jo.17:15), mas também deseja que nos preparemos espiritualmente, pois precisamos ter comunhão com Ele para podermos, depois, realizar a Sua obra.

– Como ensinou o pastor Aldery Nelson Rocha, em reunião de obreiros na Assembleia de Deus – Ministério do Belém – sede – São Paulo/SP, em 2 de dezembro de 2013, Moisés teve, primeiro, uma “carreira vocacional”, durante 40 anos no Egito, carreira esta que terminou com morte e fuga, mas, depois, teve quarenta anos de “carreira espiritual”, que terminou com fogo e com a aparição do Senhor.

– Moisés precisava passar quarenta anos no deserto aprendendo das coisas de Deus, para, então, depois, poder ensiná-las a Israel durante outros quarenta anos no deserto. Não há meio de ensinarmos sem antes aprendermos e este aprendizado é absolutamente necessário e indispensável. Os apóstolos foram, antes, discípulos (Mt.10:1-4), e deveriam antes ensinar antes de enviar os que dariam sequência à obra do Senhor (Mt.28:19,20). Temos consciência disto?

– Moisés fugiu do Egito e foi morar em Mídia. Enquanto isso, no Egito, Faraó morreu e foi sucedido por outro e, nessa ocasião, o povo de Israel começou a clamar a Deus, suspirando por causa da servidão (Ex.2:23). O povo israelita, aproveitando-se da morte de Faraó, buscou a Deus, encontrava-se completamente desiludido com o Egito e ansiava o cumprimento das promessas dadas a Abraão.

– Notamos que não se tratava apenas de preparar Moisés, mas o povo também precisava ser preparado para poder, então, ser liberto. Diante da opressão que passavam, estavam como que anestesiados, como que conformados com aquela situação. Ao longo da narrativa dos dois primeiros capítulos de Êxodo, apesar de todo o sofrimento causado aos hebreus, vemo-los silentes, calados, sem qualquer reação.

– Quando Moisés sentiu em seu coração necessidade de ter contato com os seus irmãos (At.7:23), sentindo, então, já a chamada para a missão de libertação, ao ver as cargas sofridas pelos hebreus, indignou-se, não pôde suportar aquela situação, a ponto de matar o egípcio que matratara um hebreu.

– Embora Moisés tivesse agido mal, como já vimos, o fato é que isto mostra qual era o nível de entorpecimento em que se encontrava o povo de Israel, que aceitava passivamente tudo quanto ocorria, como que envolvidos pela mentalidade egípcia de que Faraó tinha poderes divinos e não poderia ser, de modo algum contestado.

– Os israelitas estavam tão entorpecidos que, mesmo diante da reação de Moisés, não tomaram consciência de sua situação, tanto que Moisés não foi compreendido por eles (At.7:25), que o rejeitaram, o que muito contribuiu para a fuga de Moisés, visto que, incompreendido pelo povo israelita e perseguido por Faraó, não tinha como levar avante a libertação.

– A morte do Faraó foi o episódio que fez com que começasse a despertar a consciência dos filhos de Israel. Morto Faraó, certamente os israelitas achavam que a situação mudaria, mas ela não mudou. O novo Faraó manteve a mesma política de seu antecessor e, diante disto, os israelitas vieram a se lembrar das promessas de Deus a Abraão, Isaque e Jacó e despertaram que, acima de Faraó, existia um Deus que tinha o controle de todas as coisas. Começaram, então, a clamar ao Senhor, pedindo-Lhe a libertação. Israel, e não somente Moisés, começava também a ser a sua “carreira espiritual”.

– Estava-se na quarta geração de Israel, a geração em que se daria o cumprimento da promessa feita a Abraão (Gn.15:16). Sem ter a quem recorrer, os israelitas clamaram a Deus e o texto sagrado nos diz que o Senhor ouviu o seu gemido, atentando para os filhos de Israel e lembrando-Se do Seu concerto com Abraão, Isaque e Jacó (Ex.2:23-25).

– Este episódio traz-nos lições muito preciosas. A primeira é que tudo começa com oração. Toda a história da libertação de Israel inicia-se com o clamor do povo que, diante da morte de Faraó, resolveu clamar ao Senhor. Não há como termos vitória sem a oração. Como dizem os cristãos chineses: “muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder”.

– O povo de Israel desiludira-se com o Egito, a ponto de, mesmo diante da perspectiva de mudança de governo, ter preferido clamar a Deus a pedir uma nova postura do novo monarca. Temos aqui outra lição: temos de recorrer a Deus, não confiar no mundo nem no que o mundo pode oferecer. Lamentavelmente, há muitos que estão confiando em mudanças de governo, de situação econômico-financeira…

OBS: “Do meio duma sarça que arde sem se consumir, Deus chama por Moisés. E diz-lhe: «Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó» (Ex.3:6). Deus é o Deus dos antepassados, Aquele que tinha chamado e guiado os patriarcas nas suas peregrinações. É o Deus fiel e compassivo, que se lembra deles e das promessas que lhes fez. Ele vem para libertar da escravidão os seus descendentes. É o Deus que, para além do espaço e do tempo, pode e quer fazê-lo, e empenhará a Sua onipotência na concretização deste desígnio.” (§ 205 CIC).

– Como ensinou o pastor Aldery Nelson Rocha na já mencionada reunião de obreiros, jamais faremos a obra do Senhor se não passarmos firmes pelo “período da rejeição”. Este período é absolutamente necessário para que tenhamos as condições necessárias de realizar a obra de Deus, de cumprirmos o Seu propósito. Moisés foi rejeitado por Israel e o próprio Israel foi rejeitado pelo Egito. Quando somos rejeitados, aprendemos que temos de depender única e exclusivamente de Deus e este é o primeiro passo para que oi Senhor possa cumprir em nós o Seu propósito. Não nos esqueçamos que desfrutamos da salvação em Cristo Jesus de forma plena porque o Senhor foi, também, rejeitado pelos Seus (Jo.1:11).

II – A CHAMADA DE MOISÉS

– Deus moveu-Se pela oração do povo (Ed.8:23) e dá continuidade a Seu plano, que já estava a executar há muito, mas passa a agir agora de forma a que o povo percebesse o Seu atuar. A oração tem este condão de nos trazer ao conhecimento as ações de Deus, daí porque ser fundamental que tenhamos sempre uma vida de oração.

– Moisés, como fazia há quarenta anos, estava a apascentar o rebanho de seu sogro Jetro, vindo, como costumava durante todos aqueles anos, até Horebe, que a Bíblia chama de “o monte de Deus” e que é identificado com o monte Sinai (Ex,3:1).

– Moisés é despertado, então, por uma visão, pois verificou que havia uma sarça que ardia, mas não se consumia, o que lhe chamou a atenção. Moisés, então, tomou a decisão de se virar para lá e ver aquela grande visão (Ex.2:2,3). Esta “virada” de Moisés foi o início da terceira e última fase de sua vida. Com 80 anos de idade, Moisés estava pronto para se tornar o grande libertador de seu povo.

OBS: “…O que podemos observar, de primeiro, é que se a chama está na sarça sem a reduzir em cinzas, não é em vão, não é algo inútil, mas é para indicar uma verdade oculta. A sarça é uma espécie de espinho, espinhos que foram criados para punir o homem de seu pecado e, portanto, não pode ser empregado como símbolo de felicidade, pois foi somente após o primeiro pecado que foi dito que a terra produziria espinhos e cardos (Gn.3:18). Esta sarça não queimava, isto é, a chama não conseguia penetrar, o que não é um feliz indício.

A chama sem dúvida é de bom augúrio, pois é um anjo ou o Senhor mesmo que nela Se mostra; desde que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos, eles viram línguas repartidas como que de fogo. É preciso, então, que este fogo nos penetre e que nossa dureza não o impeça de nos inflamar. Mas se esta sarça não queimar mais, ela indicará o povo que resiste a Deus e, por consequência, o povo que merecerá os juízos que Moisés lhe enviou. Se a sarça resiste ao fogo, é que este povo, como já dito, revoltou-se contra a lei divina e, se este povo não tivesse os espinhos como símbolo, não teriam feito deles uma coroa a Cristo…” (AGOSTINHO. Sermão 7. Moisés e a sarça ardente. Disponível em:
http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 24 nov. 2013, citações de Ex.3:1-6) (tradução nossa de texto em francês).

– De pronto, vemos que é necessário que o homem se vire para Deus para que possa iniciar uma vida de comunhão com Ele. “Agora me virarei para lá” foi a decisão de Moisés e deve ser a decisão de todo ser humano que quer servir a Deus. Não há como se tornar um líder no meio do povo de Deus sem que se vire para ver o que o Senhor está a mostrar. Necessário é que nos voltemos a Deus, que nos cheguemos a Ele, para que Ele possa Se chegar até nós (Tg.4:8).

– Muitos querem liderar, na atualidade, porque entendem ter capacidade ou porque são escravos do poder, do desejo de mando. Estes, por se acharem superiores, jamais serão líderes abençoados por Deus, porque não têm a humildade de se virarem para Deus, de se voltarem para Ele. Outros, embora tenham sido chamados pelo Senhor, infelizmente, ao longo de seu ministério, também se deixam envaidecer e não se voltam mais para o Senhor. Aprendamos esta lição com Moisés: a liderança começa quando nos viramos para onde está o Senhor.

– Mas, além desta importante lição, Moisés também nos mostra que um líder deve, antes de mais nada, ser um grande observador, estar sempre vigilante e, mais do que isto, perceber nas pequenas coisas as grandezas de Deus (Zc.4:10). Depois de quarenta anos no “curso do deserto”, Moisés pôde ter a sensibilidade para perceber uma sarça arder no monte Horebe e verificar que esta sarça ardia mas não se consumia.

OBS: “…Que quereis? É preciso ver e falar com Deus no meio dos trovões e dos relâmpagos (Ex.19:16); é preciso vê-l’O na sarça e no meio do fogo e dos espinhos,e, para isto fazer, é necessário se despojar e fazer grande abnegação de nossas vontades e afeições (Ex.3:2-5)…” (FRANCISCO DE SALES.Carta 57, à Madame De Chantai. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 24 nov. 2013, citações de Ex.3:1-6) (tradução nossa de texto em francês).

– Num deserto, ver uma planta tão insignificante como a sarça pegar fogo era uma visão corriqueira, sem qualquer importância, à primeira vista. Com efeito, a sarça é uma planta espinhosa da família das febáceas, do gênero acácia, aparentada com a roseira, de pequena estatura. No entanto, Moisés pôde perceber que o fogo fazia a sarça arder mas não a consumia e que isto, apesar da insignificância da planta, era uma “grande visão”. O líder deve ser alguém, portanto, que saiba ver, nas pequenas coisas, a grandeza da presença de Deus. Sem esta sensibilidade espiritual, não se pode liderar o povo de Deus!

– Mas há, ainda, um fator importante a se considerar. Como afirma Agostinho, “…o que se oferece primeiramente a nosso espírito é que Deus spareceu a Moisés. Quando Ele Se digna a aparecer em Sua substância e tal como Ele é, é somente aos corações puros. ‘Bem-aventurados os puros de coração, diz o Evangelho, porque eles verão a Deus’ (Mt.5:8).…” (Sermão VI. Moisés e a sarça ardente, citação de Ex.3:1-6.. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 03 dez. 2013) (tradução nossa de texto em francês). Moisés, depois do “curso do deserto”, tinha o coração puro e, por isso, podia ser chamado à atenção por esta “grande visão” e contemplar o Senhor, ainda que, como afirma Agostinho, “…não na Sua natureza mesma, mas numa forma visível, sensível, que pode realmente chegar ao nível de nossos sentidos…” (ibid.).
– Quando Moisés se dirigiu para ver a “grande visão”, o Senhor Se dirigiu a Moisés pelo seu nome e Moisés respondeu a este chamado. Mediatamente, Deus mandou que Moisés tirasse os seus sapatos porque o lugar onde estava era terra santa (Ex.3:4,5). Nesta simples passagem, vemos algumas lições importantíssimas a respeito da liderança no povo de Deus: o líder deve ser chamado por Deus. Na obra de Deus, não há lugar para oferecidos, mas somente para aqueles a quem Deus chama. Deus chamou a Moisés e pelo seu nome.

– A segunda lição que aprendemos nesta passagem é que Deus chama, mas deixa ao homem a liberdade de atender, ou não, ao seu chamado. Moisés teve de responder “Eis-me aqui” ao Senhor, para que o Senhor continuasse a dialogar com Ele. Deus fez o homem livre (Gn.2:16) e respeita esta liberdade de o homem atender, ou não, ao Seu chamado.

– A terceira importante lição que aprendemos nesta passagem é que não é possível a comunhão com Deus e o serviço sem a santidade. Moisés precisou tirar os seus sapatos dos pés porque o lugar onde estava era terra santa. A santidade do lugar não era inerente ao monte Horebe, mas, sim, resultado da presença de Deus naquele local. Onde Deus está, há santidade e para nós nos aproximarmos de Deus faz-se necessário que nos santifiquemos, que nos tornemos santos, o que somente é possível se tivermos nossos pecados perdoados, o que ocorre quando aceitamos a Jesus como nosso único e suficiente Salvador.

OBS: “…Fique em pé como um servo fica em pé na presença de seu senhor no Oriente. Não se esperam usar, na corte de seu senhor, os calçados que seguido as pegadas do mundo. Então, despoje-se de seus cuidados, de seus pensamentos carnais, de você mesmo, de seus pecados. Quando Deus está perto, solenidade e reverência profunda vêm até nós. ‘O lugar onde você fica em pé é terra santa’.…” (SPURGEON, Charles. Exposição de Ex.3, p.6. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols58-60/chs3340.pdf Acesso em 03 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).

– Quando Moisés chegou a Midiã, portava-se como um verdadeiro egípcio, tinha todos os costumes daquele país, tanto que assim foi identificado pelas filhas de Reuel (Ex.2:19). Segundo o pastor Aldery Nelson Rocha, no ensinamento já mencionado, a esta altura de sua vida, só as alparcas ainda eram egípcias, mas foi necessário tirá-las para que pudesse se apresentar convenientemente diante de Deus. Não podemos ter coisa alguma do mundo para entrarmos em comunhão com o Senhor.

– Muitos têm se esquecido que a santificação é uma necessidade para que venhamos a ter comunhão com Deus e para que possamos ser utilizados na Sua obra. Não nos iludamos: sem a santificação, ninguém verá o Senhor (Hb.12:14). A recomendação bíblica é que os santos se santifiquem ainda (Ap.22:11). Lamentavelmente, muitos são os que, na atualidade, têm se descuidado deste requisito indispensável para a salvação e têm participado da “abominação da desolação no lugar santo” (cfr. Mt.24:15), uma das características do nosso tempo.

– Deus, então, Se identifica para Moisés, dizendo ser o Deus das promessas feitas a Abraão, Isaque, Jacó e que tinham sido compartilhadas a Moisés, na sua tenra infância, pelos seus pais. Vemos a importância da educação doutrinário-bíblica no lar, pois foi através dela que Deus Se começou a manifestar a Moisés. Deus, então, mostra-Se como sendo o Deus que ouve o clamor do Seu povo, não um Deus ausente, que não se importa com a sua criação, como pintam os deístas, tão abundantes na atualidade, mas um Deus presente, que Se compadece do homem e quer ajudá-lo e salvá-lo. Deus, então, fala a Moisés que ele fora escolhido para livrar o povo de Israel do Egito.

– A objetividade divina revela-se aqui de forma bem clarividente. Deus foi direto ao assunto, sem rodeios. Moisés havia sido escolhido para livrar os filhos de Israel do Egito. Era esta a missão de Moisés: livrar o povo do Egito e levá-lo para uma terra que manava leite e mel, terra então ocupada pelo cananeu, heteu, amorreu, perizeu, heveu e jebuseu (Ex.3:8). Deus continua o mesmo, não muda e, por isso, ao chamar alguém, diz-lhe exatamente o que deseja que ele faça no meio do Seu povo. Nosso Deus não é Deus de confusão (I Co.14:33)! Por isso, não podemos admitir os “chamados” que não sabem o que querem nem o que devem fazer na igreja.

– Ao receber esta incumbência, Moisés sentiu-se impotente. Deu início a uma série de obstáculos para a tarefa. Muitos veem nestes argumentos de Moisés uma tentativa de escape, uma recusa ao chamado divino. Embora respeitemos este entendimento, dele não compartilhamos. Parece-nos que, antes de uma recusa ou de uma tentativa de esquivar-se, Moisés denuncia um novo sentimento, resultado do seu “curso do deserto”. Em vez do homem violento, cheio de si, prepotente de quarenta anos atrás, que achava que suas habilidades e posição eram suficientes para libertar o seu povo, vemos um homem que se sente impotente, fraco e sem quaisquer condições de empreender esta tarefa. Moisés estava, definitivamente, no ponto de ser usado por Deus: considerava-se ninguém, um fraco e é este tipo de pessoa que está em condições de se tornar integralmente dependente do Senhor e, em virtude disto, poder se tornar um forte nas mãos de Deus (II Co.12:10).

Como diz Tomás de Aquino: “…Moisés e Jeremias eram dignos da missão a que Deus os destinava pela graça divina. Mas eles, ao considerar a insuficiência da própria debilidade, rechaçaram a missão, ainda que não de modo pertinaz, o qual os teria levado a incorrer em soberba…” (Suma Teológica II-II,5. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 24 nov. 2013, citações de Ex.3:1-6) (tradução nossa de texto em espanhol).
OBS: “Perante a presença atraente e misteriosa de Deus, o homem descobre a sua pequenez. Diante da sarça ardente, Moisés descalça as sandálias e cobre o rosto face à santidade divina (Ex.3:5,6). Ante a glória do Deus três vezes santo, Isaías exclama: «Ai de mim, que estou perdido, pois sou um homem de lábios impuros» (Is.6:5). Perante os sinais divinos realizados por Jesus. Pedro exclama: «Afasta-Te de mim, Senhor, porque eu sou um pecador» (Lc.5:8). Mas porque Deus é santo, pode perdoar ao homem que se descobre pecador diante d’Ele: «Não deixarei arder a minha indignação […]. É que Eu sou Deus, e não homem, o Santo que está no meio de vós» (Os.11:9). E o apóstolo João dirá também: «Tranquilizaremos diante d’Ele, o nosso coração, se o nosso coração vier a acusar-nos. Pois Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as coisas» (I Jo.3:19,20).” (§ 208 CIC).

– Moisés reconhece diante do Senhor a sua nulidade: “Quem sou eu que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de Israel? “(Ex.3:11). Moisés dá um passo importante para se tornar líder: elimina o seu “eu”. Ah, se muitos líderes no meio do povo de Deus tomassem esta decisão de anular o seu “eu” e compreender que sem Jesus nada pode ser feito (Jo.15:5 “in fine”). Se dissessem “quem sou eu”, teriam boa parte dos problemas que hoje enfrentam resolvidos. Foi por ter achado que era ninguém que Moisés, antes de criar um obstáculo, credenciou-se para ser o libertador do povo de Israel.

OBS: “…O que Moisés não aprendeu, na casa de Faraó, aprendeu no deserto, isto é, ser humilde. Quando ele saiu da casa de Faraó, pensou libertar o seu povo e governar com a própria força; mas, quando já havia passado 40 anos, com Deus, no deserto, ele se sentiu fraco e disse: Quem sou eu, que possa ir?… Então, era tempo para Deus dizer: ‘Certamente, Eu serei contigo’. Quando as nossas possibilidades acabam, então, é tempo para Deus fazer milagres, em nossa vida…” (KASTBERG, Nils. Lição 2 – A chamada de Moisés. 9 jan. 1938. In: Coleção Lições Bíblicas, v.1, p.633).
– Moisés havia aprendido bem a lição que recebera de seu sogro a respeito de Jó, alguém que também fora “vacinado” contra a tentação do “eu” com aquela tremenda prova que o impediu de cair na soberba, que lhe teria sido fatal.

OBS: Como afirma o príncipe dos pregadores britânicos, Charles Spurgeon, “…Jó foi um homem muito melhor no fim da história do que em seu início. Ele era “um homem perfeito e justo” a princípio, mas havia um pequeno orgulho a seu respeito. Somos pobres criaturas para criticar alguém como Jó — mas, ainda, entendo que havia nele uma pequena quantidade de autojustificação. Seus amigos a fizeram brotar. Elifaz e Zofar disseram coisas tão irritantes que o pobre Jó não poderia senão responder em palavras fortes a respeito de si mesmo, pois era preferível usar palavras fortes, alguém pensa; havia um pouco de demasiada autojustificação. Ele não era orgulhoso como alguns de nós, mas um pouquinho —ele tinha muito do que se orgulhar, como o mundo permitiria — mas havia uma tendência para que ele se exaltasse e, embora o diabo não o soubesse, talvez se ele tivesse deixado Jó sozinho, aquele orgulho poderia ter espaço para semear e Jó poderia ter pecado…” (Satanás considerando os santos. Sermão ministrado na manhã de 19 abr. 1895, p.7. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols10-12/chs623.pdf Acesso em 03 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).

– Deus, então, prometeu que estaria com Moisés e que a prova disto é que o povo serviria a Deus no monte Horebe, também chamado Sinai (nome que vem “seneh”, que, em hebraico, significa “sarça”). Como podemos verificar, portanto, a maior prova de que Deus está com um líder é o fato de o povo servir a Deus. No Sinai, Israel fez um pacto com Deus, aceitou receber a lei (Ex.19:3-8) e esta foi a confirmação de que Moisés era um líder chamado por Deus e que havia libertado o povo do Egito. Um líder é eficaz, ou seja, “que tem a virtude ou o poder de produzir, em condições normais e sem carecer de outro auxílio, determinado efeito”, “que executa, obra, que leva a cabo, poderoso”, na obra de Deus, quando o povo serve a Deus, quando aceita receber o Seu senhorio.

– Infelizmente, na atualidade, muitos têm se preocupado em se mostrar como líderes através de números, da quantidade de pessoas que frequentam as reuniões no templo ou nas casas, de pessoas batizadas nas águas, de contribuintes e outros índices, esquecendo-se, porém, que o sinal da liderança está no serviço do povo, ou seja, na adoração do povo a Deus, na vida de santidade que tenham os liderados. Foi este o sinal que Deus, que não muda (Ml.3:6), deu a Moisés como prova do seu chamado.

– O Senhor, também, disse que estaria com Moisés, o que é suficiente para que alguém possa realizar algo. Sem o Senhor, nada podemos fazer (Jo.15:5 “in fine”). Com o Senhor, com a Sua graça, temos o suficiente, como Cristo deixou bem claro ao apóstolo Paulo (II Co.12:9), pois, com o Senhor estando conosco, o Seu poder se aperfeiçoa na nossa fraqueza.

– Temos de ter esta convicção. Somos menos do que nada (Is.40:17; 41:24), mas o Senhor prometeu estar conosco todos os dias (Mt.28:20) e isto é bastante para termos condições de cumprir a Sua vontade. Como afirmou o poeta sacro José Teixeira de Lima: “Lá da cruz corre sem cessar, insondável como é o mar. Esta graça, que brota assim, basta para mim!” (estrofe do hino 417 da Harpa Cristã).

OBS: “…Do que mais Moisés necessita? Ele diz: ‘Quem sou eu’? Isto mostrava a sua fraqueza. Deus disse: ‘Não importa quem você é. Certamente Eu serei com você’. Aqui estava a suficiente força para ele!…” (SPURGEON, Charles. Exposição de Ex.3, p.7. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols58-60/chs3340.pdf Acesso em 03 dez. 2103).

– Mas, além de se considerar ninguém, Moisés quis saber quem era Deus. Como se apresentar diante do povo sem, ao menos, dizer quem o estava enviando? Moisés, ao querer saber o nome de Deus, demonstrou querer ter maior intimidade com o Senhor, conhecer-Lhe o caráter. O Senhor identificou-Se para Moisés, dizendo ser “Yahweh”( יהוה ) – EU SOU O QUE SOU. Para ser líder, Moisés percebeu que não só era necessário reconhecer que nada era, mas também era necessário saber quem Deus era. O conhecimento do nome de Deus, saber quem Deus era, constituía-se no primeiro passo para que pudesse ser um instrumento nasmãos do Senhor.
– Deus prontamente deu a conhecer a Moisés o Seu nome, numa prova de que tinha Moisés razão. Muitos, porém, na atualidade, querem liderar o povo de Deus, querem servir ao Senhor sem conhecê-l’O, sem sequer saber quem Ele é. Necessitamos conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor (Os.6:3). Conhecer a Deus não é apenas ter domínio intelectual de Sua Palavra, mas, sobretudo, ter com Ele intimidade, deixar-se dominar pelo Senhor, estar envolvido como a erva é envolvida pela chuva abundante. Muitos, porém, ouvirão aquela dura palavra do Senhor no dia do juízo, quando, apesar de tantas “atividades”, serão tratados como pessoas que jamais foram conhecidas por Deus (Mt.7:23). Para servir a Deus, é preciso conhecer ao Senhor e ser d’Ele conhecido (Jo.10:14).

OBS: “Ao revelar o seu nome, Deus revela ao mesmo tempo a sua fidelidade, que é de sempre e para sempre, válida tanto para o passado («Eu sou o Deus de teu pai» –Ex.3:6), como para o futuro («Eu estarei contigo» –Ex.3:12). Deus, que revela o seu nome como sendo «Eu sou», revela-Se como o Deus que está sempre presente junto do seu povo para o salvar.” (§ 207 CIC)

– Mas, após ter Se identificado, Deus mandou que Moisés fosse até o povo de Israel e se apresentasse a eles, bem como divulgasse a mesma mensagem que acabara de receber (Ex.3:15-22). O líder não é alguém que deva guardar para si a mensagem divina e a reter, divulgando-a conforme as suas conveniências. Mesmo na época de Moisés, em que ainda Deus não Se revelara completamente na pessoa de Jesus Cristo e quando ainda não estava derramado o Espírito Santo no povo, Deus não permitiu que o líder fosse um guardador de segredos. Deus queria ser conhecido de todo o povo e, embora Moisés tivesse sido escolhido para liderar o povo e houvesse os anciãos, também dotados de alguma parcela de autoridade, todo o povo deveria saber quem era Deus e qual o Seu propósito.

– Nos dias difíceis em que vivemos, muitos se dizem “líderes” no meio do povo de Deus e “portadores de segredos”, que só são revelados em reuniões fechadas, apenas a alguns, como se Deus não desejasse ser conhecido de todo o Seu povo. Tais “encontros”, “pré-encontros” e tantas invencionices são completamente sem qualquer respaldo bíblico e estão totalmente fora do propósito de Deus, que é o de que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4). Moisés nada deveria omitir aos anciãos e ao povo do que lhe estava sendo revelado, e isto no tempo antigo. Como, pois, admitir “portadores de segredo” e “reuniões secretas” em plena dispensação da graça? Fujamos destas heresias!

– A primeira tarefa do líder é o de divulgar a Palavra de Deus. Foi a primeira coisa que o Senhor mandou que Moisés fizesse. Sem o ministério da palavra, não há possibilidade de se exercer qualquer ministério no meio do povo de Deus. O líder comprometido com o Senhor, chamado por Deus e que se dispõe a obedecer-Lhe é, antes de mais nada, alguém que dá prioridade à Palavra do Senhor. Disto, aliás, nos dão exemplo os apóstolos logo no limiar da história da Igreja (At.6:2,4). Uma das formas de discernimos quem são os verdadeiros homens enviados por Deus (“enviado” em grego é “apostolos”) e os que são oferecidos na igreja, qualidade que o Senhor espera que tenhamos (Ap.2:2), é o comportamento que têm em relação à Palavra. Se dão prioridade à pregação e ao ensino da Palavra, são homens enviados por Deus. Se, porém, fogem da Palavra, escondem-se atrás de técnicas de pregação, de emocionalismos, de louvorzões, tenhamos a certeza de que estamos diante de charlatães, de falsos ministros, de lobos cruéis que não perdoam o rebanho (At.20:29). Afastemo-nos deles!

– Agora, só pode entregar a mensagem de Deus quem a recebeu. Como bem ensinou o pastor José Wellington Bezerra da Costa Neto, em reunião de obreiros na Assembleia de Deus – Ministério do Belém – sede – São Paulo/SP, em 2 de dezembro de 2013, os ministros são chamados para serem “canais de distribuição do pão do céu”, como o Senhor Jesus deixou bem claro na primeira multiplicação dos pães. Após serem devidamente alimentados (Mc.6:31), os discípulos puderam ser mandados por Cristo para dar de comer ao povo (Mc.6:37).

– Mas, assim como o pão não foi preparado pelos discípulos, a mensagem a ser transmitida não pode ser algo que venha da mente dos ministros. Moisés recebeu a mensagem que deveria transmitir ao povo, assim como a Igreja recebeu a mensagem que deve transmitir ao mundo. Não podemos falsificar a Palavra de Deus (II Co.2:17). Como diz o escritor aos hebreus, uma das grandes virtudes de Moisés foi a sua fidelidade, o seu compromisso de apenas transmitir aos filhos de Israel aquilo que havia recebido da parte de Deus (Hb.3:5).

– A mensagem dada pelo Senhor a Moisés começava com a apresentação de Deus ao povo. O povo deveria conhecer quem era o Deus a quem eles serviam e a quem haviam clamado. O povo deveria saber qual era o nome do Senhor e que Ele havia enviado Moisés para libertá-lo (Ex.3:15).
– Em seguida, Moisés deveria relatar ao povo o encontro que havia tido com Deus e que o Senhor havia ouvido o clamor dos israelitas e decidido atendê-los. Deus não quer apenas que Seu povo saiba quem Ele é, mas que também tenha conhecimento de que é um Deus que está atento aos pedidos do povo, um Deus presente. Devemos mostrar ao povo de Deus que o Senhor não está distante de nós, mas, apesar de Sua grandeza e majestade, faz-Se presente entre nós. Ele está perto daqueles que O invocam (Sl.145:18).

– Em seguida, o Senhor disse a Moisés que fizesse conhecido dos anciãos o projeto divino, o propósito divino. Deus não ira apenas libertar os israelitas do Egito, mas os faria subir à terra de Canaã, cumprindo a promessa feita a Abraão, Isaque e Jacó. A mensagem divina para o Seu povo faz com que o povo saiba exatamente para onde o Senhor os quer enviar. Hoje não é diferente: temos de dizer ao povo que o Senhor nos está conduzindo para a cidade celestial (Fp.3:20,21).

– Mas, além disso, o Senhor também revelou a Moisés o que se sucederia. Como líder, que estava à frente do povo, Moisés deveria ter uma visão privilegiada, deveria enxergar além dos demais e, por isso, o Senhor lhe disse que, apesar de o povo de Israel receber a sua mensagem, Faraó não o deixaria ir e, por isso, seriam necessários sinais e maravilhas para demover a resistência do rei do Egito e para também fazer com que o povo de Israel não saísse vazio do Egito, recebendo a justa remuneração pelo tempo em que fora escravizado (Ex.3:18-22). O Senhor sempre revela os Seus segredos aos Seus servos, os profetas (Am.3:7).

– Mas, imediatamente após lhe ter sido ordenado que pregasse a Palavra, Moisés apresentou uma dificuldade ao Senhor: a incredulidade do povo. Sem dúvida, tinha razão Moisés ao levantar este problema, pois aquela geração, realmente, não entrou na Terra Prometida por causa da sua incredulidade (Hb.3:19).

– A pregação não resulta automaticamente em fé. Uma coisa é pregar; outra, crer. Devemos pregar a Palavra, mas devemos saber que muitos não darão ouvidos ao que for pregado (Is.53:1). A fé depende do livre-arbítrio de cada um e não será o pregador, mesmo enviado de Deus, que promoverá a salvação ou o nascimento da fé na vida de cada ouvinte. Por isso, façamos a nossa parte, pregando a Palavra, deixando o convencimento com o Espírito Santo de Deus.

– Mas, diante desta dificuldade apresentada, o Senhor diz a Moisés que ele faria sinais e maravilhas, a fim de que o povo pudesse ter motivos adicionais para crer. Os sinais serviriam, assim, de confirmação da Palavra de Deus, o que continua a ocorrer na atual dispensação (Mc.16:20). Não podemos inverter a ordem estabelecida por Deus: Palavra e, depois, sinais que confirmam a Palavra. Se corrermos atrás de sinais, correremos sério risco de ser enganados pelo adversário de nossas almas (Mt.24:24,25).

– Deus mandou que Moisés jogasse a vara que tinha em suas mãos e ela se tornou em cobra. Depois, mandou que Moisés pusesse a sua mão no peito e ela se tornou leprosa. Estes dois sinais seriam suficientes para superar a incredulidade do povo e, se mesmo assim, os israelitas não cressem, o Senhor prometera a Moisés que tornaria as águas do rio Nilo em sangue (Ex.4:1-9).

– É interessante observar que Deus prometeu fazer sinais com aquilo que Moisés tinha à sua disposição, ou seja, a vara que estava em suas mãos (e, por quarenta anos, aquela vara tinha estado à disposição de Moisés…) e as próprias mãos de Moisés. Deus faz coisas extraordinárias mas quer que nos utilizemos daquilo que já temos, que Ele nos concedeu para que as maravilhas se realizem. Deus não precisa mas faz questão de nossa participação e de nosso esforço na demonstração do Seu poder.

– Moisés, então, pôs uma nova dificuldade: a comunicação. Fazia quarenta anos que estava no deserto, já não sabia se expressar corretamente seja na língua egípcia, seja na língua hebraica. Era este o sentido da expressão de que não era eloquente, “pesado de boca” e “pesado de língua” ou, na tradução da Bíblia Hebraica, “fala lenta” e “língua trêmula”. Temos aqui mais uma importante lição dada por Moisés: o líder tem de ter a preocupação de se comunicar bem com o povo. É indispensável que haja uma sintonia entre o líder e os liderados. Sem comunicação, não pode haver comunhão e sem comunhão, não há como se construir uma união onde o Senhor possa Se manifestar e realizar a Sua obra (Sl.133).

– Se o papel do líder é, principalmente, o de falar a Palavra de Deus, divulgá-la e ensiná-la, como fazer isto sem que se tenha uma mesma língua que os liderados? Como realizar o ministério da Palavra sem uma comunicação eficaz? Muitos têm fracassado ou, pelo menos, prejudicado seu ministério porque não se importam em ser compreendidos pelos liderados, porque não têm qualquer preocupação em estabelecer um canal de comunicação.

– Deus, diante desta nova dificuldade apresentada por Moisés, em primeiro lugar, mostrou que Ele é suficiente. Disse que Ele fez a boca do homem, como também o mudo e o surdo. A obra é de Deus e o Senhor não precisa de técnicas humanas para poder fazer valer a Sua vontade e o Seu senhorio. Deus havia resolvido livrar o Seu povo no Egito e isto seria realizado. Esta observação do Senhor para Moisés é muito atual: quantos não têm tentado substituir o Espírito Santo na obra de Deus por “planos”, “visões”, “estratégias” e “técnicas”? Entretanto, nada disso pode substituir o próprio Deus, pois Ele, e Ele só, é o Senhor!

– Ao mesmo tempo em que o Senhor mostra a Moisés que as técnicas humanas nada significam, nada representam ante o poder de Deus, não considerou que a preocupação de Moisés fosse de todo vã. Moisés não poderia confiar nas habilidades humanas, mas tanto era pertinente a sua preocupação que Deus disse que iria atendê-lo, fazendo com que Arão, irmão de Moisés, se tornasse o seu porta-voz, o seu canal de comunicação com o povo de Israel. No entanto, o Senhor deixou bem claro, o vaso que Ele havia escolhido para a libertação era Moisés e não algum outro.

– Deus irou-Se com Moisés diante de tantos questionamentos e Moisés, ante a manifestação da ira divina, rendeu-se ao chamado. Esta rendição foi tanta que nem questionou como Arão, que era seu irmão primogênito, iria ser seu serviçal, o que era contrário à natureza das coisas. Moisés entendeu a suficiência divina e resolveu obedecer ao Senhor. Por isso, tomou a vara na sua mão, como ordenara o Senhor e resolveu partir para o Egito (Ex.4:17).

III – MOISÉS VOLTA AO EGITO

– Moisés, então, diante de todas as soluções dadas por Deus às dificuldades por ele apresentadas, rendeu-se ao chamado divino e se apartou de seu sogro, voltando para o Egito, com a sua família (Ex.4:20).

– Notemos como Jetro era, realmente, um homem temente a Deus. Não fez qualquer questionamento a Moisés, apenas o abençoando, dizendo que ele fosse em paz, com a sua família, para o Egito. Quando aceitamos atender ao chamado do Senhor, Ele providencia circunstâncias favoráveis que nos desvencilha de todos os obstáculos para cumprirmos a Sua vontade.

– O Senhor, de imediato, assim que Moisés decide atender ao chamado, informa-lhe que não deveria temer voltar ao Egito, pois todos os que buscavam matá-lo, já haviam morrido (Ex.4:19). Quem procura matar o servo de Deus para impedir que ele cumpra a vontade do Senhor não subsiste. Creiamos nisto, amados irmãos!

– Moisés toma a sua família, sua mulher e seus dois filhos, põe-nos num jumento, pega a sua vara na mão e inicia sua jornada (Ex.4:20). Temos aqui duas lições preciosas, a saber: primeiro, Moisés utiliza-se de um jumento para levar sua família, jumento este que representa a obediência e a submissão ao Senhor, pois Abraão também tomou de um jumento para levar seu filho Isaque até o monte Moriá (Gn.22:3), como também o Senhor Jesus montou num jumento para entrar em Jerusalém e dar início a todo o processo de Sua paixão e morte (Mt.21:1-12; Mc.11:1-10; Lc.19:29-38).

OBS: “…D’us estava indicando a Moshé: ‘Você poderia não querer aceitar esta missão, já que você sente que seu irmão lhe excede em excelência. Mas por que você não aprende de Avraham [Abraão, observação nossa] que não Me questionou? Ele seguiu Minhas ordens imediatamente sem Me fazer qualquer pergunta, e seu espírito estava contente, já que ele sabia que estava cumprindo Minha ordem. E isso apesar do ato desumano que lhe pedi para fazer!’ (…) D’us estava indicando a Moshé: ‘Você pode pensar que você não está de maneira nenhuma conectado ao redentor final. Mas você está errado! Mashiach [o Messias, observação nossa] só virá porque você fez todo o conceito de redenção uma possibilidade. Mashiach terminará a tarefa que você está começando agora.…” (CHUMASH: livro de Êxodo, p.23).

– Por segundo, Moisés tomou a vara na sua mão, a indicar que assumira o papel que Deus lhe havia dado. Moisés partia para o Egito como o libertador, atendendo a responsabilidade que o Senhor lhe confiara. Moisés mostrava, assim, a sua confiança em Deus. Já era o líder do povo, embora estivesse tão somente, montado num jumento, indo com sua família para o Egito. Mas a fé é precisamente isto: ver o que é invisível. Foi isto, aliás, que o escritor aos hebreus relatou a respeito de Moisés em Hb.11:27.

– Por isso, por estar submisso e obediente, Moisés é devidamente orientado pelo Senhor, que lhe diz que ele teria necessidade de fazer sinais e maravilhas, pois Faraó endureceria o seu coração e não deixaria que o povo de Israel saísse do Egito (Ex.4:21).

– O Senhor, assim que atendemos ao Seu chamado, não nos deixa sós, não nos deixa desorientados, mas, antes, sempre nos dirige, a fim de que façamos a Sua vontade, mas sempre sabendo o que Deus quer e o que irá fazer. O servo de Deus sempre está na luz, sabe por onde e para onde está indo. Tem sido esta a nossa situação?

– Vemos, ainda, que Moisés recebeu precisamente a mensagem que deveria falar a Faraó: “Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito. E eu te tenho dito: Deixa ir o meu filho, para que me sirva; mas tu recusaste deixá-lo ir; eis que eu matarei a teu filho, o teu primogênito” (Ex.4:22,23). Deus envia os Seus servos, mas também lhes dá a mensagem que deve ser pregada. Moisés não poderia falar o que quisesse, mas apenas o que Deus havia mandado.

– Na verdade, temos aqui uma continuação da orientação divina, pois, ainda no monte Horebe, Deus já dissera a Moisés o que deveria falar aos anciãos de Israel, bem como o que deveria ser dito a Faraó (Ex.3:16-18), bem como já predissera tudo o que iria ocorrer (Ex.3:19-22). Deus sempre revela o Seu segredo aos Seus servos, que, por isso mesmo, são profetas (Am.3:7). Temos tido acesso aos segredos de Deus? Jesus disse que somos Seus amigos e, por isso, nada Ele nos ocultará (Jo.15:15)!

– Em nossos dias, não é diferente. Deus nos envia a evangelizar o mundo, a pregar o Evangelho, mas a mensagem é dada por Ele. Não podemos modificar aquilo que Deus nos manda falar. Devemos dizer tão somente aquilo que Deus nos ordenar. Quantos não têm fracassado precisamente porque abandonaram a mensagem de Deus e passaram a falar o que bem entendem. Lembremos que o apóstolo Paulo nos disse que somos “embaixadores da parte de Deus” (II Co.5:20), ou seja, somos tão somente seus porta-vozes, trazemos uma mensagem alheia, somos apenas os mensageiros. Lembremos disto, amados irmãos!

– No meio do caminho, porém, houve uma ocorrência que quase resultou em tragédia, ocasião em que um dos filhos de Moisés foi circuncidado (Ex.4:24,25). Moisés havia se rendido ao Senhor, assumido a sua identidade hebraica, mas não tinha, ainda, circuncidado seu filho. Não poderia, sem atentar para o pacto que Deus selara com Abraão, iniciar a libertação de seu povo. Primeiro, precisamos governar bem a nossa casa, pô-la de acordo com a vontade do Senhor, se temos um chamado para liderar o povo de Deus (I Tm.3:4,5). Quantos têm sido guindados ao ministério, na atualidade, de modo precipitado, visto que ainda não puseram as suas casas debaixo do senhorio de Cristo.

– Como ensinava o saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012), temos aqui uma demonstração de que o casamento de Moisés fora precipitado, feito num instante em que ele não se encontrava sob a direção de Deus. Tudo indica que, em tendo o seu primeiro filho, Gérson, Moisés procedeu como mandava o pacto estabelecido entre Deus e Abraão, circuncidando o menino. Tal atitude, certamente, causou a oposição de Zípora, que era midianita, motivo pelo qual Moisés não circuncidou o segundo filho, Eliézer (Ex.18:4; I Cr.23:15), cujo significado é “meu Deus é auxílio”, nome dado em gratidão a Deus por ter escapado da espada de Faraó.

– Assim, enquanto caminhava para o Egito, Moisés não tinha condição alguma de iniciar a libertação de seu povo, uma vez que não cumprira a aliança que Deus estabelecera com Abraão, deixando de circuncidar o segundo filho, pois o texto sagrado diz apenas que um dos filhos não era circuncidado.

– Deus, então, quis matar Moisés, diante desta circunstância (Ex.4:24). Como explica Cyrus Ingerson Scofield (1843-1921), o grande divulgador do dispensacionalismo: “…Moisés esqueceu-se do sinal fundamental da aliança de Israel com Deus. Na véspera do livramento de Israel, ele foi lembrado de que, sem a circuncisão, um israelita ficava fora da aliança…” (BÍBLIA DE ESTUDO SCOFIELD, nota 5, Ex.4:24, p.67).

– Como Deus poderia querer matar o homem que acabou de chamar para libertar o povo? Vemos aqui que Deus é imutável e que zela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12). Quando instituiu o pacto da circuncisão, o Senhor disse a Abraão que o não circuncidado seria extirpado dos povos, porque quebrantaria o concerto (Gn.17:14). Como Eliézer era de tenra idade (alguns rabinos acham que se tratava de um bebê), não podia ser responsabilizado pela sua não circuncisão, obrigação que recaía, então, em Moisés, que se deixara levar pela oposição de sua mulher.

– Diante desta “tentativa de morte”, que a Bíblia não explica bem, mas que Zípora bem entendeu do que se tratava, Eliezer foi circuncidado pela própria mãe que, em sua impetuosidade tipicamente feminina, tomou uma pedra aguda, circuncidou Eliézer e chamou seu marido de “esposo sanguinário”, tendo, em seguida, abandonado Moisés e voltado para a casa de seu pai. Moisés se via, assim, privado de sua família, mas, mesmo assim, seguiu em direção ao Egito (Ex.4:25,26).

– Este era o resultado de um casamento feito fora da direção de Deus. Zípora abandonou Moisés e levou consigo seus dois filhos. Moisés não deixou a sua chamada, mas confiou em Deus, que, mais tarde, aliás, restauraria a sua família (Ex.18:2-4). Zípora seria um sério obstáculo para a realização da libertação de Israel e, por isso, Deus permitiu que Moisés ficasse sem a sua companhia e a de seus filhos neste empreendimento que estava a realizar.-

No caminho para o Egito, Moisés encontra-se com seu irmão Arão, cumprindo-se, assim, o que Deus lhe dissera no monte Horebe, ou seja, de que Arão, irmão mais velho de Moisés, seria seu auxiliar na luta pela libertação de Israel.

– Arão foi orientado por Deus para ir ao encontro de Moisés e é notável a fé deste homem, pois atendeu, prontamente (ao contrário do próprio Moisés…) à ordem divina, mesmo passados quarenta anos que não mais via seu irmão nem sabia de seu paradeiro. Ademais, sendo o filho primogênito, não teve qualquer escrúpulo em ir ao encontro do irmão caçula e servir-lhe de auxiliar. Quanta falta fazem Arões em nosso meio nestes dias…

OBS: “…Aharon, foi dentre todos o mais altruísta. Em nenhuma passagem o vimos pensando em si próprio. Viveu para os outros – para D’us, para sua família, para seu povo. Nunca nele detectamos qualquer traço de sentimentos negativos contra alguém – nem inveja, nem ressentimento, nem raiva. Ele jamais lutou contra alguém, nem contra aqueles que lhe causaram muito sofrimento. E nunca confrontou ou questionou D’us…”(DJMAL, Tev.Aharon e Moshé. Revista Morashá, edição 65, set. 2009. Disponível em:http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=799&p=1 Acesso em 03 dez. 2013).

– É interessante observarmos que Arão se encontrou com Moisés no monte Horebe, prova de que Moisés, após ter perdido a companhia da família, foi até onde Deus Se manifestara a ele a fim de ter uma orientação, um norte a seguir. Arão vai ao seu encontro e lhe dá o necessário conforto e consolo para prosseguir na sua jornada. Moisés se encontrava, assim, com a sua família primitiva, a família onde fora criado e educado, a nos mostrar que um homem chamado por Deus precisa, mesmo, estar com sua vida familiar em ordem para poder realizar a obra do Senhor.

– Arão vai ao encontro de Moisés e o consola, porque, antes, Deus foi ao seu encontro e o mandou ir até onde estava Moisés. Não podemos levar Cristo aos outros se antes nós mesmos não nos encontrarmos com Ele.

– Moisés, então, contou tudo que havia ocorrido a Arão, que, crendo naquilo que Moisés lhe falara, levou-o ao encontro dos anciãos de Israel, sendo, então, o porta-voz de Moisés para eles, o mensageiro, assim como Deus havia falado a Moisés (Ex.4:11-16). Vemos aqui outro ponto importante na vida de Arão: creu naquilo que Moisés lhe disse, não pediu sequer um sinal para dar crédito ao que ouvira de Moisés. Por isso, tinha Arão condição de ser o mensageiro, o porta-voz da boa nova ao povo de Israel, porque se mostrava como um homem de intimidade com Deus e de fé genuína e autêntica. Temos estas indispensáveis prerrogativas para pregar o Evangelho? Pensemos nisto!

– Arão reuniu os anciãos dos filhos de Israel, apresentou-lhes Moisés e transmitiu a sua mensagem, tendo, então, Moisés feito os sinais perante os olhos do povo, prova de que, ao contrário de Arão, houve certa resistência por parte dos israelitas, resistência, entretanto, que se dissipou com a realização dos sinais. Então, o povo creu e adorou ao Senhor, entendendo que Deus havia ouvido o clamor do povo (Ex.4:29-31).

– Vemos aqui a importância dos sinais e maravilhas para levar o povo à adoração e à realização da vontade de Deus. Os sinais não criam a fé, mas a estimulam. O povo de Israel já cria em Deus, tanto que havia clamado ao Senhor por libertação, prova de que confiava já em Deus, mas, agora, os sinais confirmavam que Deus os havia ouvido. É preocupante vermos a falta de sinais e maravilhas no meio do povo do Senhor nestes últimos dias, como também é extremamente angustiante vermos as pessoas atrás de sinais para só então crerem, a exemplo de Tomé (Jo.20:24-29). Tomemos cuidado, amados irmãos!

IV – O APARENTE FRACASSO INICIAL DE MOISÉS

– Como resultado desta fé estimulada pelos sinais, o povo não somente adorou como se deu início à obra que Deus determinou fosse feita por Moisés. A oração, a fé e a adoração não são atitudes passivas. Devem ser acompanhadas de ações. Oração é, sobretudo, ação. Adoração é, sobretudo, ação. Fé, confiança é sobretudo ação, fazer aquilo que Deus mandou.

– Moisés e Arão, então, foram até Faraó e disseram aquilo que Deus lhes havia mandado dizer: “Assim diz o Senhor Deus de Israel; deixa ir o Meu povo para que Me celebre uma festa no deserto” (Ex.5:1). Era isto que Deus havia mandado Moisés dizer a Faraó como se lê em Ex.3:18.

– Faraó, contemporâneo de Moisés (uns entendem que seria Ramsés II; outros, Amósis I e, outros, ainda, Amenotepe II), deve ter ficado extremamente irado, pois era tido como filho dos deuses e sabia que Moisés deveria reconhecê-lo como tal. Como se isto fosse pouco, como atender à ordem do “deus” do povo que trabalhava como escravo para si? Faraó foi bem sucinto em suas palavras: “Não conheço o Senhor, nem tão pouco deixarei ir Israel” (Ex.5:3).

– Faraó dá aqui, desde o início, mostras do que havia em seu interior: uma egolatria profunda, a consideração de que ele era filho de um deus, de que ele era divino e, portanto, não tinha que dar satisfações a outro “deus” qualquer. Ele não conhecia o Deus de Israel e isto lhe bastava para dizer que Israel jamais deixaria o Egito. Assim têm agido muitos homens em nossos dias: não conhecem a Deus e para eles isto é bastante para dizer que Deus não existe e que nada acontecerá senão segundo a vontade deles próprios. Assim como Faraó, tais pessoas se decepcionarão quando for tarde demais. Fujamos deste tipo de atitude, amados irmãos!

– Moisés ainda tentou dialogar com Faraó. Apesar da resposta sucinta e absoluta, Moisés quis mostrar a Faraó que o Deus de Israel era um Deus vivo, que havia Se encontrado com ele no deserto e lhe mandado dar aquela mensagem (Ex.5:3). Moisés podia testificar deste Deus, porque tivera um encontro com Ele. Será que podemos ter esta mesma atitude diante dos incrédulos? Já se encontrou com Cristo para poder pregar-Lhe, amado irmão?

OBS: “…Nós cremos no amor de Deus — deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua vida. Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo.…” (BENTO XVI. Deus caritas est, n.1. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20051225_deus-caritas-est_po.html Acesso em 19 nov. 2013).
– Quem se encontra com o Senhor quer Lhe prestar culto. Moisés disse que Deus queria que o povo de Israel Lhe oferecesse sacrifícios no deserto, sob pena de ser o povo punido com a pestilência e a espada, linguagem que Faraó podia muito bem entender (Ex.5:3). Moisés, pelo que se verifica, não queria questionar as crenças de Faraó nem insultar-lhe, mas tão somente demonstrar ao rei egípcio que o povo hebreu tinha de servir ao seu Deus. No entanto, a egolatria de Faraó não o permitia crer que o Deus de Israel lhe dissesse o que devia fazer. Faraó haveria, entretanto, de reconhecer que não só havia o Deus de Israel como Ele era o único e verdadeiro Deus… Isto também ocorrerá com todos aqueles que se recusam a reconhecer o Senhor como Deus, como haveremos de testemunhar no juízo final. Que Deus nos guarde, amados irmãos!

– Faraó não se deixou convencer pelo pedido de Moisés e de Arão. Pelo contrário, querendo mostrar “quem mandava ali” (como existem hoje sedizentes cristãos que se portam da mesma maneira…), Faraó acusou Moisés e Arão de desviarem o povo de Israel dos seus trabalhos, mandando-os que também fossem trabalhar, ou seja, chamando-os de escravos, como que querendo “pôr as coisas nos seus devidos lugares”. Além de o povo de Israel ser muito, agora ainda não queria trabalhar, diagnosticou Faraó (Ex.5:4,5).

– Assim, em vez de atender ao pedido de Moisés e de Arão, Faraó resolveu aumentar a carga de trabalho dos israelitas, mandando-os produzir o mesmo tanto que eram obrigados, mas, agora, sem que recebessem a palha de Faraó para cozer os tijolos. Assim, o povo deveria trabalhar para colher a palha para, então, cumprir a meta estabelecida para a produção diária de tijolos (Ex.5:6-12).

– Faraó diagnosticara este desejo de servir a Deus como resultado do “tempo ocioso”, como uma “parcela de tempo livre” e, para tanto, determinou que este tempo fosse subtraído dos israelitas que, assim, não teriam tempo para pensar em adorar a Deus, em buscar a Sua presença. O inimigo tem atuado da mesma maneira, em nossos dias, e de forma muito eficaz tem “roubado o tempo” de adoração de muitos que cristãos se dizem ser.
– A primeira investida de Moisés e de Arão a Faraó havia resultado tão somente em aumento da opressão e do sofrimento do povo de Israel. Evidentemente que os israelitas não conseguiam mais cumprir a meta estabelecida para a produção diária de tijolos e a consequência disto é que muitos israelitas passaram a ser açoitados pelos oficiais de Faraó (Ex.5:13,14).

– Os israelitas, diante deste tamanho sofrimento, foram recorrer a Faraó e este apenas disse que eles estavam ociosos, por isso queriam sacrificar ao Senhor, nada alterando das novas ordens dadas depois da ida de Moisés e Arão à sua presença (Ex.5:15-19).

– O povo de Israel cometeu grande equívoco ao irem ao encontro de Faraó. Em vez de buscarem a Deus, a quem haviam suplicado a libertação, diante da dificuldade, tentaram ir ao encontro de Faraó. Ora, Faraó era o motivo do sofrimento, da opressão, por que buscar guarida junto a ele? Como ensinam os historiadores, Faraó somente dava audiências no final do período da manhã, de sorte que os israelitas, que já não tinham tempo
para produzir os tijolos diante das novas orientações, desperdiçaram quase toda u’a manhã para terem o beneplácito de Faraó, o que resultou em produção ainda mais diminuta de tijolos e mais sofrimento ainda.-

Muitos, em nossos dias, também, diante das dificuldades surgidas em virtude de uma vida voltada para servir a Deus, estão a clamar para Faraó em vez de clamar para Deus. Como efeito desta atitude insensata, chamam para si mais sofrimento e mais opressão. Faraó não pode nos ajudar, Faraó quer o nosso mal, amados irmãos, por isso, de forma alguma, deixemos de buscar a Deus para ir atrás de Faraó.

– Ante o fracasso da súplica a Faraó, o povo, então, volta-se contra Moisés e Arão, que estava defronte deles quando eles buscavam algo da parte do rei egípcio. Comete, então, o povo, o segundo erro, ao se voltar contra os dois homens que haviam sido chamados por Deus, culpando-os pelas dificuldades que haviam se adicionado à opressão.

– Esta atitude do povo abalou Moisés, que como que se esqueceu do que Deus lhe havia dito a respeito da resistência que Faraó faria para a saída do povo. Ao ver o maltrato do povo, o sofrimento da sua gente, Moisés não resistiu e passou a clamar ao Senhor, perguntando-lhe: “por que fizeste mal a este povo? Por que me enviaste?” (Ex.5:22).

– Este questionamento de Moisés, próprio de quem é homem, mostra-nos, entretanto, que Moisés tinha, mesmo, sido mudado por Deus. Quarenta anos antes, ao ver um israelita ser maltratado por um egípcio, Moisés não pensara duas vezes em matar o egípcio. Agora, diante do sofrimento do povo inteiro, Moisés não levantou seu braço, mas foi buscar ao Senhor, foi clamar a Ele. Realmente, Moisés era um outro homem, um servo que poderia ser usado por Deus para a obra para que havia sido chamado.

– Como temos agido diante das vicissitudes da vida? Temos procurado resolver os problemas com a nossa força, como fizera o quadragenário Moisés ou temos ido à presença do Senhor como o octogenário Moisés? Lembremos que a primeira atitude trouxe somente problemas e dificuldades para Moisés, enquanto que a segunda atitude foi o início da sua vitória.

– Deus ouviu Moisés e o consolou, dando-lhe as necessárias forças para que se desincumbisse de sua tarefa, mas isto veremos na próxima lição.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/files/1T2014_L2_caramuru.pdf

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