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LIÇÃO Nº 1 – O LIVRO DE ÊXODO E O CATIVEIRO DE ISRAEL NO EGITO

lição 01 aula

ESBOÇO Nº 1 A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

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Estamos dando início a mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical pela graça e misericórdia de Deus. Que neste ano, decisivo para a liberdade do Evangelho em nosso país, possamos desfrutar da liberdade de culto e de crença que ainda temos para estudar a Palavra do Senhor e, assim, cumprirmos a missão que o Senhor Jesus deixou à Sua Igreja de ensinar e de evangelizar, atividades que são realizadas, de uma só vez, pela Escola Bíblica Dominical.

A Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) resolveu iniciar o ano com um trimestre que denominamos “bíblico”, ou seja, com o estudo de um livro das Escrituras Sagradas, desta feita, o livro de Êxodo, o segundo livro da Bíblia, um dos chamados livros da lei, do Pentateuco, escrito por Moisés. De muita valia, estudarmos o livro de Êxodo, quando Moisés descreve fatos que vivenciou e que levaram à libertação de Israel do cativeiro em que estava no Egito, completando, assim, a formação daquele povo que o Senhor havia dito a Abraão que formaria na terra.

Por isso mesmo, aliás, o subtítulo do trimestre é “a formação do povo de Israel e sua herança espiritual”, visto que é no livro do Êxodo que vemos o término da obra divina para a formação de um povo separado dos demais, que lhe fosse reino sacerdotal no meio de todas as nações da Terra (Ec.19:5,6). Para que haja uma nação, tornam-se necessários alguns elementos, a saber: população, cultura, governo e território.

Ora, é no livro de Êxodo, que vemos como Deus completa a formação do Seu povo, da Sua nação peculiar dentre os demais povos da Terra. O livro de Êxodo mostra que, no Egito, o Senhor providenciou, por primeiro, a multiplicação daquelas setenta pessoas que foram para o Egito nos dias de José (Ex.1:7), fazendo com que, na hora da saída do Egito, fosse um povo com seiscentos mil homens fora as mulheres e crianças (Ex.12:37).

O livro de Êxodo, também, mostra-nos que se formou uma cultura, um modo peculiar de vida, pois é neste livro que o Senhor sela um pacto com Israel e lhe transmite a lei, por intermédio de Moisés, para que fossem uma propriedade peculiar de Deus entre as gentes (Ex.19:5,6). Ao transmitir a lei, sejam os dez mandamentos (Ex.20), seja o primeiro código de leis civis (Ex.21-23), o Senhor também providenciou a Israel um governo, visto que se instituiu uma teocracia, em que o próprio Deus passou a reinar sobre o povo, devendo os anciãos aplicar a lei que o Senhor havia dado por intermédio do libertador, ou seja, de Moisés.

Além das regras básicas de convivência entre os israelitas, o Senhor também determinou, neste livro, a construção do tabernáculo, com todas as suas especificações (Ex.25-31,35-40), para que o próprio Deus viesse habitar no meio do povo (aliás, “tabernáculo” significa “habitação”).

Por fim, é no livro de Êxodo que o Senhor liberta o povo do Egito e o põe na jornada rumo a Canaã (Ex.3:8;13:17-22), que seria o território onde o povo haveria de morar, em cumprimento à promessa dada por Deus a Abraão (Gn.12:5,6). Por isso até o nome que este livro recebeu na versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, ou seja, “Êxodo”, que significa “saída”, pois o livro se dedica a mostrar como Israel saiu do Egito e foi até o monte Sinai receber a lei. Esta circunstância explica a aplicação que se faz deste período histórico de Israel com a própria vida espiritual dos servos de Deus nesta dispensação, pois, também, a Igreja, os “reunidos para fora” (“ekklesia”), também foram libertos da escravidão do pecado e iniciaram sua jornada para a Canaã celestial.

Eis porque o título do trimestre é “uma jornada de fé”, mostrando-nos que a caminhada de Israel do Egito para Canaã somente foi possível por causa da confiança que o povo de Israel teve em Deus, a começar de Moisés que atendeu ao chamado divino no monte Horebe (Ex.4:18), que, depois, foi seguido por todo o povo (Ex.4:31; 12:37).

Foi, aliás, a falta de perseverança nesta fé que impediu que aquela geração que saíra do Egito entrasse em Canaã (Hb.3:19). A capa da revista do trimestre mostra-nos a travessia do Mar Vermelho, um dos grandes sinais descritos no livro de Êxodo (Ex.14:15-31), travessia esta que sela a libertação de Israel do Egito, pois foi ali que o Senhor destruiu o exército de Faraó e tornou totalmente impossível que os israelitas retornassem para o Egito. Este papel da travessia do Mar Vermelho torna-o figura da própria conversão a Cristo Jesus, da salvação, que é testemunhada pelo batismo nas águas, como nos mostra o apóstolo Paulo em I Co.10:1,2.

A travessia do Mar Vermelho simboliza a irreversibilidade da decisão de viver pela fé, de confiar em Deus, mas também nos mostra que é ela apenas o início de uma longa jornada, onde a fé é indispensável para o prosseguimento, pois nem sempre quem atravessa o mar chega à Terra Prometida.

O trimestre pode ser dividido em três blocos.

O primeiro contém as lições que falam da libertação de Israel, que abrangem a lição 1, uma lição introdutória, bem como as lições 2(Um libertador para Israel), 3 (as pragas divinas e as propostas ardilosas de Faraó), 4 (a celebração da primeira Páscoa) e 5 (a travessia do Mar Vermelho).

O segundo bloco fala-nos da ida de Israel até o monte Sinai e a entrega da lei a Israel, que abrangem as lições 6 (as peregrinações de Israel no deserto até o Sinai), 7 (os dez mandamentos do Senhor), 8 (Moisés – sua liderança e seus auxiliares), 9 (um lugar de adoração a Deus no deserto) e 10 (as leis civis entregues por Moisés por israelitas) e 10(as leis civis entregues por Moisés aos israelitas).

Por fim, no último bloco, em conclusão ao livro do Êxodo, veremos as regras atinentes ao sacerdócio (lições 11 e 12) bem como o legado de Moisés (lição 13).

O comentarista deste trimestre é o pastor Antonio Gilberto, o mais antigo dos consultores teológicos da CPAD e que dispensa apresentação, pois se trata de um grandes baluartes da Escola Bíblica Dominical na história das Assembleias de Deus no Brasil. Que, ao término deste trimestre, possamos todos ter aumentada a nossa fé e, vendo o exemplo do povo de Israel no livro de Êxodo, mantermo-nos firmes no propósito de sair do mundo e chegar até Canaã celestial.

B) LIÇÃO Nº 1 – O LIVRO DE ÊXODO E O CATIVEIRO DE ISRAEL NO EGITO

O livro de Êxodo fala da saída de Israel do Egito e da sua transformação em propriedade peculiar de Deus dentre os povos.

INTRODUÇÃO

– Neste primeiro trimestre de 2014, estudaremos o livro de Êxodo, o segundo livro da Bíblia Sagrada. – O livro de Êxodo fala-nos da saída de Israel do Egito e da sua transformação em propriedade peculiar de Deus dentre os povos.

I – O LIVRO DE ÊXODO

– Estamos a iniciar mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical e, neste primeiro trimestre de 2014, teremos um “trimestre bíblico”, como temos denominado o trimestre dedicado ao estudo de um livro da Bíblia Sagrada. – Desta feita, estudaremos o livro de Êxodo, o segundo livro da Bíblia Sagrada, escrito por Moisés e que faz parte do Pentateuco, ou seja, dos “livros da lei”, que os judeus chamam de “Torá”.

– Embora os cinco livros de Moisés sejam chamados de “livros da lei”, não são eles livros que se limitem a registrar regras, como verdadeiros códigos legais. Na verdade, apresentam eles muito conteúdo histórico, dando a ideia do início de todas as coisas e, em especial, da própria formação do povo de Israel até a sua chegada à Terra Prometida.

– O livro de Êxodo é um livro que apresenta ambas as características. Além de narrar como se deu a saída de Israel do Egito, para onde Jacó e sua família haviam se mudado nos tempos de José, e, por isso mesmo, os gregos intitularam este livro de “Êxodo”, cujo significado é “saída”, também contém o primeiro código de leis que Moisés recebeu da parte de Deus, desde os famosos “Dez Mandamentos” até o primeiro conjunto de leis civis e religiosas. Trata-se, portanto, de um livro que é um misto de livro histórico e de livro normativo.

– O livro de Êxodo é chamado pelos hebreus de “Shemot”(שמות ), que é a palavra “nome”, com que se inicia a narrativa do livro (Ex.1:1: ” Estes são pois os nomes dos filhos de Israel, que entraram no Egito com Jacó; cada um entrou com sua casa). Alguns hebreus denominam o livro de “We’ele”(ואלה ), que significa “estes são”. A denominação “Êxodo” foi dada pelos tradutores das Escrituras para o grego (a Septuaginta), uma vez que a mensagem principal deste livro é precisamente a da história da libertação do povo de Israel do Egito, ou seja, a sua “saída” do Egito. A palavra grega “êxodo” quer dizer “saída”.

– O livro do Êxodo pode, mesmo, ser considerado “o livro da saída”, pois boa parte do livro é dedicado a narrar como Deus libertou o Seu povo da escravidão no Egito e, como depois de ter saído da escravidão, recebeu a lei no monte Sinai, lei que representa a saída do povo da dispensação patriarcal para a dispensação da lei, na qual o povo adquire liberdade diante de Deus. No livro do Êxodo, aparece a figura de Moisés, o grande libertador.

– Após um retrato da escravidão do povo de Israel, o livro narra o nascimento, crescimento e exílio de Moisés, bem como a sua chamada por Deus e seu retorno ao Egito, com a sequência de todos os fatos que levaram à libertação do povo (as dez pragas, a instituição da páscoa e a passagem milagrosa pelo Mar Vermelho).

– Em seguida, o povo inicia sua caminhada até o monte Sinai, onde Deus dá os “dez mandamentos” (em hebraico, as “dez palavras”) e inicia a revelação de várias leis para o povo, povo que, cedo, começa a murmurar e acaba caindo na idolatria, no episódio do bezerro de ouro.

– O livro do Êxodo termina com a determinação divina para a construção do tabernáculo e de suas peças. No livro do Êxodo, Deus revela a Sua vontade, o Seu poder e o Seu caráter para o povo que havia escolhido, Israel.

– O livro de Êxodo, que tem 40 capítulos, pode ser dividido em três partes, a saber:

a) 1ª parte – trata da opressão de Israel no Egito – nesta primeira parte, narra-se a situação de escravidão do povo de Israel no Egito, o nascimento e chamada de Moisés e o início do processo de libertação do povo, com as nove primeiras pragas. Esta primeira parte vai do capítulo 1 ao capítulo 12.

b) 2ª parte – trata da libertação de Israel – nesta segunda parte, Deus anuncia a décima e última praga, a morte dos primogênitos, institui a páscoa e concede a liberdade para o povo de Israel que acaba se salvando da fúria faraônica passando a seco o Mar Vermelho. Em seguida, inicia sua caminhada pelo deserto, rumo ao monte Sinai, onde Deus iria lhes falar. Neste período, Deus revela a Moisés quais são os Seus propósitos para com Israel.

c) 3ª parte – trata da entrega da lei ao povo – A começar pelos “dez mandamentos” (em hebraico, “dez palavras”), Deus revela Seu caráter e a Sua vontade a Israel, determinando qual deveria ser a conduta do povo que havia separado dos demais povos para servi-l’O. Além dos mandamentos e de algumas outras leis importantes, Deus dá a Moisés o modelo do tabernáculo, que foi prontamente construído pelo povo, povo que, entretanto, já demonstrara sua obstinação no episódio do bezerro de ouro. O livro termina com a inauguração do tabernáculo.

– Os hebreus costumam dividir o livro em apenas duas partes: uma que denominam de histórica, que vai do capítulo 1 ao capítulo 19, que conta a história da libertação de Israel e outra chamada de legislativa, que vai do capítulo 20 até o capítulo 40, onde se encontram as primeiras leis e regras determinadas por Deus ao povo de Israel por intermédio de Moisés.

– Entre os judeus, o livro de Êxodo é o segundo a ser lido durante o ano (segundo o calendário judaico) e a leitura se faz em onze semanas, pois o livro tem onze seções a saber: Shemot (Ex.1:1-6:1), Vaerá (Ex.6:2-9:35), Bo (Ex.10:1-13:16), Beshalách (Ex.13:17-17:16), Yitró (Ex.18:1-20:26), Mishpatim (Ex.21:1-24:18), Terumá (Ex.25:1-27:19), Tetsavê (Ex.27:20-30:10), Ki Tissá (Ex.30:11-34:35), Vaiac’hel (Ex.35:1-38:20) e Pecudê (Ex.38:21-40:38).

– Outra divisão que se faz do livro do Êxodo leva em conta a localização do povo de Israel durante a narrativa. Assim o livro é dividido em três partes: os hebreus no Egito (Ex.1:1-12:36), os hebreus no deserto (Ex.12:37-18:27) e os hebreus no monte Sinai (Ex.19:1-40:38).

– A autoria do livro é de Moisés, que vivenciou, como ninguém, os episódios narrados no livro do Êxodo (Cf.Ex.17:14; 34:27). O próprio Jesus confirma a autoria do livro como se vê em Mc.7:10). Como sempre, até por causa da relação de milagres que são contados neste livro da Bíblia, não faltaram aqueles que procuraram atacar o livro, sua genuinidade e sua própria unidade. Muitos “críticos” alegaram que o livro teria sido composto já no período dos reis, mas estudos criteriosos e profundos têm mostrado que o ambiente cultural e social mostrado no Êxodo é totalmente incompatível com o período histórico invocado pelos “críticos”, a revelar que o livro, realmente, foi escrito durante o período da peregrinação do povo de Israel pelo deserto. Não bastasse isso, evidências vindas da história e da arqueologia confirmam muitas das afirmações do livro do Êxodo, em especial, a extrema crueldade com que os escravos estrangeiros eram tratados pelos egípcios no período das 18ª e 19ª dinastias, precisamente a época da libertação de Israel do Egito.

OBS: “O Livro de Êxodo e seu cumprimento no Novo Testamento – A prefiguração da redenção que temos no novo pacto, é evidente em todo o livro de Êxodo. A primeira Páscoa, a travessia do Mar Vermelho e a outorga da lei no monte Sinai são, para o velho concerto, aquilo que a vida, morte e ressurreição de Jesus, e a outorga do Espírito Santo no Pentecoste, são para o novo concerto. Os tipos de Êxodo que prenunciam Cristo e a redenção no NT são: (1) Moisés, (2) a Páscoa, (3) a travessia do mar Vermelho, (4) o maná, (5) a rocha e a água, (6) o Tabernáculo, e (7) o sumo sacerdote. As exigências morais absolutas dos dez mandamentos são repetidas no NT, para os crentes do novo concerto.”( BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.116).

“Cristo Revelado – Moisés é um tipo de Cristo, pois ele liberta da escravidão. Arão funciona como um tipo de Jesus assim como o sumo sacerdote (28.1) faz intercessão junto ao altar do incenso (30.1). a Páscoa indica que Jesus é o Cordeiro de Deus que foi oferecido pela nossa redenção (12.1-22). (…). João afirma que Jesus é o Pão da Vida; Moisés fala de duas maneiras do pão de Deus: o maná (16.35) e os pães da proposição (25.30). João nos conta que Jesus é a Luz do Mundo; no tabernáculo, o candelabro serve como fonte de luz permanente (25.31-40).” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.64). – Segundo Finnis Jennings Dake (1902-1987), o livro de Êxodo, o segundo livro da Bíblia, tem 40 capítulos, 1.213 versículos, 1.089 versículos de história, 129 versículos de profecias cumpridas, 2 versículos de profecias não cumpridas, 58 questões, 73 mensagens distintas de Deus, 827 ordenanças, 240 predições, 28 promessas e 35 dos 42 milagres realizados por meio de Moisés. – Segundo alguns estudiosos da Bíblia, o livro de Êxodo corresponde à letra hebraica “bete” (ב), cujo significado é “casa”.

O livro tem, dentro desta perspectiva, uma estrutura em que apresenta os “filhos de Israel”, que, pelo pacto do Sinai, tornam-se “filhos de Deus” e, por isso mesmo, constroem uma “casa” para o Senhor. Os “filhos de Israel”, que haviam entrado cada um com “sua casa” no Egito (Exx.1:1), de lá saem para construir uma casa para Deus, o que somente será possível após a libertação da escravidão e a adoção do pacto no monte Sinai.

II – O CATIVEIRO DE ISRAEL NO EGITO

– A narrativa do livro do Êxodo segue a sequência dos fatos do livro de Gênesis, sendo, pois, sua continuação lógica e histórica. O livro de Gênesis termina com a morte de José e a renovação da esperança na promessa que o Senhor dera a Abraão a respeito da posse da terra de Canaã, pois José fez com que os israelitas jurassem que não deixariam seus ossos no Egito mas o levariam para a Canaã quando a promessa se cumprisse (Gn.50:25,26).

– Esta atitude de José mostra bem qual era a postura que os descendentes de Jacó deveriam ter com relação à sua permanência no Egito, ou seja, deveriam entender que aquela estada ali era passageira, um propósito divino para a preservação do povo e consequente cumprimento da promessa feita a Abraão (Gn.50:20). Era este, aliás, o sentimento que havia em todos os patriarcas em sua peregrinação terrena (Hb.11:8-16).

– Este deve ser, também, o mesmo sentimento que deve habitar entre o povo de Deus desta dispensação, ou seja, a Igreja, que deve andar por este mundo sabendo que tem sido conservado por Deus com o nítido propósito de alcançar a realização da promessa que nos fez o Senhor Jesus, de nos fazer habitar com ele nas mansões celestiais (Jo.14:1-3). Por isso, assim como José, não podemos ter outro propósito senão o de podermos ter nossos “ossos” levados para a Canaã celestial no instante do cumprimento da promessa, ou seja, devemos viver de tal modo que, se viermos a morrer fisicamente, estejamos preparados para ressuscitar ao soar da trombeta (I Ts.4:13-18).

– Após esta demonstração do verdadeiro propósito que deveria haver entre os israelitas no Egito, Moisés inicia a narrativa do Êxodo, dizendo os “nomes” dos filhos de Israel que entraram no Egito com Jacó, num total de setenta pessoas (Ex.1:1-5).

– Esta menção honrosa aos “patriarcas”, os quais tinham o propósito de manter viva a esperança da promessa feita a Abraão, a um só tempo mostra a estrutura tribal do povo de Israel como também o objetivo divino para a formação desta nação.

– Moisés deixa bem claro que os patriarcas morreram no Egito, mas, como nos mostra o escritor aos hebreus, na esperança do cumprimento da promessa divina, esperança esta que lhes mantinha separados do povo egípcio, que lhes permitia formar uma identidade própria e que servia de fator que torna possível o nascimento de um povo distinto das demais nações.

– Esta menção aos patriarcas, também, faz-nos lembrar do que Salomão escreveu em Pv.22:28 e 23:10, onde é dito para que nós não removamos os limites antigos que fizeram os pais. O povo de Israel deveria seguir o exemplo dos patriarcas, mantendo-se no Egito mas com o propósito de voltar para Canaã, sabendo que a estada no Egito era tão somente para “conservar em vida um povo grande”, mas que a finalidade, o objetivo a
ser perseguido era usufruir da promessa feita pelo Senhor de que teriam como sua porção neste mundo a terra de Canaã.

OBS: “O segundo livro da Torá começa citando os nomes dos filhos de Jacob. O Midrash (Shemot Rabá 1) atribui esta repetição (Vide Gênesis 46:8) ao fato de eles se conservarem fiéis aos ensinamentos dos Patriarcas no meio do Egito idólatra.…” (MELAMED, Meir Matzviah. Torá: a lei de Israel, nota a Ex.1:1, p. 153).

– Dentro deste propósito, o livro de Êxodo, então, diz que o Senhor fez a Sua parte, permitindo a frutificação e o aumento e multiplicação intensa do povo de Israel, de tal sorte que o texto sagrado diz que “a terra se encheu deles” (Ex.1:7).

– Israel, desta maneira, mesmo sem os seus patriarcas, estava se desincumbindo daquilo que Deus queria, ou seja, a formação de um povo e, para tanto, era necessária tanto a frutificação quanto o aumento e multiplicação. Cumpria-se em Israel, deste modo, o mesmo propósito que Deus havia estabelecido para toda a humanidade quando de sua criação (Gn.1:28).

– O povo de Deus existe na Terra para realizar a vontade de Deus, para tornar concreto o propósito de Deus para toda a humanidade. Deus não muda (Ml.3:6) e, portanto, todos os Seus propósitos não se alteram, ainda que o modo como Ele Se revela ao homem se modifique ao longo da história (as chamadas “dispensações”). Por isso, Israel começa cumprindo o propósito estabelecido por Deus aos homens, ou seja, a frutificação, multiplicação e enchimento da terra.

– Tem a Igreja cumprido este propósito em nossos dias? Deus forma o Seu povo a partir da frutificação, da multiplicação e do enchimento da Terra. Este mesmo propósito o Senhor Jesus estabeleceu para a Sua Igreja quando mandou que ela pregasse o Evangelho por todo o mundo (Mt.28:19,20; Mc.16:15; At.1:8). Como a Igreja é uma nação espiritual, esta frutificação, multiplicação e enchimento da terra não devem ser interpretados apenas sob o aspecto biológico, mas, sobretudo, sob o aspecto espiritual. Os apóstolos, em seus dias, cumpriram este desiderato divino (At.5:14; 6:7; 8:12; 9:31; 11:20,21; 14:27; 18:9,10; 19:20). Temos sido seus imitadores?

– O povo multiplicou-se, encheu a terra, mas não se misturou com os egípcios, manteve a sua identidade, identidade esta, certamente, movida pela esperança dos patriarcas de sair do Egito e ir para Canaã. A multiplicação do povo, por si só, seria insuficiente para se formar um povo. Era necessário que este povo se mantivesse com seus costumes diferentes dos dos egípcios, diferença esta, aliás, que já havia sido apontada por José quando da chegada de sua família ao Egito (Gn.46:31-34).

– A multiplicação do povo só tem sentido e produz os devidos resultados quando se mantém a separação do povo em relação aos outros, quando não há assimilação cultural. Nos dias em que vivemos, muito se fala sobre um “crescimento evangélico” no Brasil, mas tal crescimento, se é que é existente (o que temos nossas dúvidas, visto que crescimento não se avalia apenas em números, em quantidade mas também em qualidade), corre o risco de ser totalmente inócuo e ineficaz do ponto-de-vista espiritual, uma vez que não é seguido de uma separação do mundo, do estabelecimento de um “modus vivendi” distinto. Se Israel tivesse se multiplicado e se misturado com os egípcios, adotado seus costumes, de nada teria valido a multiplicação, pois não surgiria como uma nação, mas seria apenas um acréscimo populacional ao Egito. A Igreja não deve apenas se tornar um “segmento de mercado”, mas ser uma nação santa, geração eleita, sacerdócio real, pronta a anunciar as virtudes d’Aquele que a chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz (I Pe.2:9).

– Parece, no entanto, que esta multiplicação e este crescimento do povo, ainda que, acompanhado da preservação da identidade, produziram uma acomodação. Não há relato aqui de que a esperança dos patriarcas tivesse se mantido entre os seus descendentes e, ante esta inércia, quem sabe Deus não tenha permitido a mudança da ordem política. O povo mantinha-se separado dos egípcios, mas não demonstrava interesse em voltar para Canaã.

OBS: “…Escutai como Deus trata o povo judeu. Ele deseja produzir entre os hebreus o desejo de retornar ao seu país e lhes inspira ódio pelo Egito (Ex.1:14). Ele permite que eles sejam obrigados a fazer tijolos e que eles fossem submetidos a este trabalho com tanto rigor, que eles se enfadaram e, acometidos deste infortúnio, clamaram com grandes vozes ao Senhor para que os levasse para a sua pátria. Eles saíram, com efeito, do Egito, e, apesar dos sofrimentos passados, lembravam-se daquele país e de sua escravidão (Ex.16:3). Desejaram ardentemente retomar aquele jugo tirânico.

Sem estes tratamentos cruéis, teriam eles consentido em deixar aquela terra estrangeira? É, portanto, para nos impedir de sermos como que presos à terra, de buscar com muita avidez os bens deste mundo, de nos amolecer esquecendo os bens futuros, que o Pai tem preenchido nossa existência de males tão numerosos. Não nos prendamos, pois, à vida presente.

Que ela pode nos dar? Qual benefício que teremos neste prender excessivo? Quereis saber em que a vida presente é um bem? Naquilo em que ela é fundamento da vida futura, uma ocasião para merecermos, pelos esforços generosos, as coroas que nos estão reservadas. Melhor é morrer que viver sem agradar a Deus. Que temos de esperar? Que nos resta desejar aqui? Não reparamos que vemos, todos os dias, o mesmo sol e a mesma lua? Não vemos nós o mesmo inverno e o mesmo verão, os mesmos negócios se reproduzirem?

Aqui que já foi será ainda, aquilo que se fez, far-se-á novamente (Ec.1:9). Então, não vejamos como felizes aqueles que vivem, nem choremos aqueles que morrem. Mas deploremos a sorte daqueles que pecaram, estejam vivos ou mortos; porque os justos,, em qualquer lugar que se achem, proclamemo-lhes bem-aventurados.…” (JOÃO CRISÓSTOMO. Sexta homilia, n.4. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 24 nov. 2013, citações de Ex.1:-8-14) (tradução nossa de texto em francês).

– Por causa disto, após algum tempo, levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José e que, ao contemplar a existência de um povo numeroso e que não se misturava com os egípcios, viu o grande poder que Israel já detinha e, como não estava comprometido com os valores e costumes do Egito, elaborou uma estratégia a fim de eliminá-lo, para que não houvesse um “potencial inimigo” e, numa eventual guerra, não se aliassem ao inimigo.

– Muito se discute quando isto teria ocorrido, havendo muitas controvérsias. A maior parte dos estudiosos entende que este “levantamento de um novo rei no Egito” corresponderia ao período em que os hicsos, um povo asiático e que se dedicaria à pecuária, invadiram o Egito dando início ao que os historiadores denominam de “Segundo Período Intermediário do Antigo Egito”, isto por volta de 1780 a.C. Teria sido esta mudança de situação política que tenha mudado o tratamento dos israelitas no Egito.

– Outros entendem que este período teria ocorrido no século XV a.C., como bem explana a respeito o teólogo Josué Berlesi em sua dissertação de mestrado na Escola Superior de Teologia do Instituto Ecumênico de Pós-Graduação de Teologia em São Leopoldo/RS, o que faria com que o faraó do êxodo fosse Amenotepe II e o faraó da opressão,Tutmés III.

OBS: “…Com base nesses elementos, Eugene Merrill sugere o nome de Amenotepe II e para isso afirma:

Nossa identificação de Amenotepe II como o faraó do êxodo está baseada em duas […] considerações. Em primeiro lugar, embora a maioria dos reis da 18ª Dinastia tenha estabelecido sua principal residência em Tebas, bem ao sul dos israelitas no Delta, Amenotepe morava em Mênfis e, aparentemente, reinou daquele local por um bom tempo. Isto o colocava em grande proximidade com a terra de Gósen, fazendo-o bastante acessível a Moisés e Arão. Em segundo lugar, evidências sugerem que o governo de Amenotepe não passou para seu filho mais velho, mas para o caçula Tutmose IV.

Esta é uma informação subentendida na c hamada “estela do sonho” […] que registra um sonho no qual Tutmose IV […] viria a ser rei […] mediante […] a morte prematura do irmão mais velho. […] não há como deixar de especular se tal morte prematura não tenha ocorrido por intermédio do juízo de Jeová que, na décima praga, matou todos os primogênitos do Egito que estavam sem a proteção do sangue da Páscoa […].

As principais evidências em defesa de uma data mais antiga para o êxodo se baseiam na cronologia interna do Antigo Testamento. Tendo por fundamento o versículo de 1 Reis 6.1, estipulou-se o ano de 1446 a.C. para a saída dos hebreus do Egito. No citado versículo de 1 Reis consta que o êxodo ocorreu 480 anos antes da fundação do Templo de Salomão, logo, tendo em vista que o referido monarca deu início à construção do templo em 966 a.C., torna-se possível apontar o ano de 1446 a.C. para o evento em questão…” (BERLESI, Josué. História, arqueologia e cronologia do êxodo: historiografia e problematizações, pp.73-4. Disponível em: http://tede.est.edu.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=82 Acesso em 18 nov. 2013).

– Outros estudiosos, por sua vez, acham que os israelitas chegaram no tempo dos hicsos e que a situação política teria se alterado precisamente quando os hicsos foram expulsos, o que teria se dado por volta de 1.250 a.C.

OBS: Boa parte dos estudiosos, como John Bright, entende que o Faraó que iniciou a opressão sobre Israel tenha sido Setos I, que reinou entre 1305 e 1290 a.C., que teria sido sucedido por Ramsés II, que reinou entre 1290 e 1224 a.c. e que teria sido o Faraó do êxodo, o que põe a saída de Israel no Egito no século XIII a.C. Maiores informações podem ser obtidas em Escravidão edo Egito e Êxodo à luz da evidência, disponível em http://antigotestamento-shemaisrael.blogspot.com.br/2012/08/john-bright-escravidao-do-egito-e-exodo.html#.UoIrric_Dkg Acesso em 12 nov, 2013).

– Há, ainda, outros, como o jornalista investigativo judeu-canadense Simcha Jacobivici, autor do documentário “O Êxodo decodificado”, entendem que a saída dos hicsos corresponde à saída dos israelitas e isto se teria dado por volta de 1.500 a.C., no reinado de Amósis I, o primeiro faraó da XVIII dinastia, o que faz com que o faraó da opressão seja ou seu pai Taá II, ou seu irmão Kamés.

– O fato é que devemos observar que o período em que Israel ficou no Egito não foi todo ele um período de escravidão, de cativeiro. Até a subida ao poder deste Faraó provavelmente de ascendência hicsa, Israel vivia regaladamente no Egito, tendo grande progresso tanto quantitativo quanto qualitativo. É comum associar-se a estada de Israel no Egito como um período de sofrimento, mas isto não é correto. O cativeiro no Egito começou posteriormente, não tendo nós como precisar quanto tempo Israel viveu bem no Egito, sem ser perturbado.

– Esta mudança foi necessária para que os israelitas desejassem, novamente, retornar para Canaã. A estada no Egito era muito boa, havia grande prosperidade e, se as coisas continuassem daquele jeito, jamais Israel quereria ver o cumprimento da promessa de Abraão. Isto ainda acontece em nossos dias, temos aflições neste mundo (Jo.16:33), precisamente para que desejemos morar na pátria celestial e não aqui, onde estamos apenas de passagem.

OBS: “…Não há meios para se acabar com o povo de Deus. Tiramos outra interpretação dessa perseguição: que era chegado o tempo para o povo de Deus sair da terra da escravidão…” (KASTBERG, Nils. Lição 1 – A infância e educação de Moisés. 2 jan. 1938. In: Coleções Lições Bíblicas, v.1, p.630).

– Esta mudança de situação política no Egito também nos ensina que, por melhor circunstância que gozemos neste mundo, jamais seremos considerados como “amigos” pelos mundanos, ainda que nada façamos de concreto contra eles. Não há comunhão entre a luz e as trevas (I Co.6:14) e, mais cedo ou mais tarde, se nos mantivermos separados do mundo, mantendo nossa identidade de “povo de Deus”, certamente seremos tomados como “inimigos potenciais” dos mundanos e seremos afligidos por causa disto. Não nos iludamos, amados irmãos, pois há uma distinção absoluta entre os que servem a Deus e os que não O servem.

– Este novo Faraó, cuja identidade é desconhecida e sobre a qual muito se especula (muitos entendem ter sido Setos I ou Seti I – Veja, por exemplo, “Quem foi o Faraó do Êxodo” – disponível em http://www.cacp.org.br/quem-foi-o-farao-de-exodo/ Acesso em 17 nov. 2013), alterou a situação do povo de Israel, passando a afligi-los, determinando que edificassem as cidades de Pitom e Ramessés, tornando-os escravos (Ex.1:9,10).

OBS: “…O “novo rei” provavelmente seja uma alusão à revolução que expulsou os hicsos semíticos do Egito e restaurou os governantes nativos. Presume-se que os faraós da escravidão e do êxodo tenham sido Seti I, Ramessés II e Merneptá, todos eles reis da décima nona dinastia. Alarmado com o rápido crescimento dos hebreus, e recordando a invasão e duradoura usurpação dos hicsos, Seti teria decidido subjugar os hebreus, reduzindo-os ao trabalho forçado na confecção de tijolos; mas, mesmo assim, os hebreus continuaram se multiplicando. Por fim ele teria ordenado que cada recém-nascido do sexo masculino fosse lançado no rio Nilo. …” (DEAN, B.S. O período da escravidão, 1706-1491 a.C : da migração do Egito até o Êxodo, Êxodo 1-14. Disponível em: http://www.cbpoc.net/admin/upload/pdf3693.pdf Acesso em 12 nov. 2013).

– A primeira arma utilizada pelo mundo contra o povo de Deus é a aflição, a opressão. Ao longo de toda a história da humanidade, temos visto que os servos de Deus têm aflições neste mundo, são oprimidos, perseguidos, vilipendiados. Não há, em nossos dias, povo mais oprimido, perseguido e afligido que os cristãos. Temos visto o que tem ocorrido em muitos países, a demonstrar que, em relação a isto, nada mudou, nem mudará. A verdadeira intolerância religiosa não é a dos supostos “fundamentalistas cristãos”, mas, sim, dos inimigos da cruz de Cristo contra os servos do Senhor.

– Entretanto, o uso dos israelitas como mão-de-obra escrava para edificação de cidades não trouxe a mortandade pretendida por Faraó. O objetivo de Faraó, com o uso dos israelitas nas construções das cidades, era causar uma grande mortandade de israelitas, pelas penosas condições de trabalho, provocando, deste modo, a diminuição daquele povo, quiçá sua extinção. Mas, pelo contrário, Deus fez com que a multiplicação prosseguisse e o povo, apesar de afligido, cresceu ainda mais (Ex.1:12).

– O Senhor continua atuando da mesma forma. Quanto mais se persegue e se oprime o povo de Deus, mais ele cresce. Tertuliano (160-220), chegou a escrever ao governo romano, que perseguia impiedosamente os cristãos, afirmando que o sangue derramado dos mártires constituía em semente de novos cristãos. E isto realmente ocorreu, a ponto de o próprio Império Romano acabar cedendo e reconhecendo o Cristianismo. De igual modo, temos visto relatos do crescimento da Igreja em lugares onde parecia que os governos anticristãos haviam triunfado por causa da intensa perseguição. Deus continua cuidando do Seu povo. Aleluia!

– O povo de Israel crescia apesar de estarem a sofrer muito, tendo uma vida amarga com dura servidão, em barro e tijolos, com todo o trabalho no campo, com todo o serviço (Ex.1:14). A vida no Egito tornou-se amarga e penosa. Quem sabe assim os israelitas não desejassem sair de lá?

– Esta amargura da vida no Egito ficou guardada para sempre na memória dos israelitas quando da instituição da Páscoa, como veremos em lição posterior. Um dos elementos indispensáveis para a celebração da Páscoa passou a ser as ervas amargas (Ex.12:8), que serviriam de memória de todo o sofrimento que eles tiveram no Egito, para que jamais quisessem voltar de novo para lá, para que jamais desejassem viver como as demais nações.

– Hoje, na celebração da ceia do Senhor, que substituiu a Páscoa, não mais temos ervas amargosas, porquanto a salvação em Cristo Jesus tirou o pecado do mundo, retirou-nos definitivamente do mundo e, por isso mesmo, não há mais necessidade de sentirmos o amargor ao lembrarmos a morte de Cristo, Seu sacrifício vicário. No entanto, também não podemos nos esquecer que este mundo só traz aflições, algo que Jesus deixou como última instrução aos discípulos. O mundo não nos traz coisa alguma de bom e aos israelitas, para que não se deixassem iludir no Egito, foi permitido que sofressem a amargura da servidão.

– Hoje em dia, muitos que cristãos se dizem ser, ao terem progresso material, também correm o risco de se verem iludidos com este mundo e, para que não venham a se perder, a perder a sua identidade enquanto “filhos de Deus”, também lhes é permitido sentirem a “dureza da servidão”, a “amargura da servidão”, para que alcancem a salvação. Precisamos entender, como diz João da Cruz (1542-1591), que este mundo é “…jugo e servidão deste cativeiro do Egito que é a fraca operação de sua própria capacidade, onde tudo consiste pouco mais do que em juntar palhas para cozinhar barro…” (Chama viva de amor B, canção III, n.38. In: São João da Cruz: obras completas, p.893).

– Vendo Faraó que, apesar de toda a opressão, o crescimento do povo permanecia, resolveu elaborar um novo plano para ocasionar a diminuição do povo e, assim, mandou que as parteiras das hebreias, Sifrá e Puá, matassem todos os filhos homens dos israelitas, deixando viver somente as mulheres, como uma forma de “controle da natalidade” do povo de Israel (Ex.1:16).

– Este episódio mostra-nos que a tática do inimigo do povo de Deus, que outro não é senão o diabo (que era quem estava por detrás das atitudes de Faraó, pois o inimigo não queria a formação de Israel, que redundaria na vinda do Messias), é sempre a mesma: matar, roubar e destruir (Jo.10:10).

OBS: “…A moral inteira, perfeita, consiste principalmente em duas coisas: fugir do vício e buscar a virtude, entendido que não basta evitar o mal senão se faz o bem(…). A fome constrangeu Israel a ir para o Egito e lá, ele encontra um novo senhor, perde sua liberdade e se torna escravo (Gn.13:2). Por ter fixado sua estada naquele país, ele se submeteu ao poder de Faraó que fez matar todos seus filhos homens e só conservou a vida das filhas. Israel foi condenado a trabalhos duros de argamassa e tijolos.

Faraó não lhes dava senão palha para seu trabalho e a fome os constrangeu a servir (Ex.1:14).(…). Aqueles que sofrem a carência desta palavra divina são forçados a entrar no Egito, quero dizer, nas trevas. Eles se acham, com efeito, totalmente envolvido em trevas de ignorância e submetidos à dominação de Faraó, quero dizer, do diabo, que é o príncipe do Egito, isto é, das trevas. (…) Sob o jugo de Faraó, fazem-se as obras da terra, quero dizer sem consistência e propriamente más. Ele dá a palha, isto é, os pensamentos levianos; ora, a palha faz um fogo ligeiro e se consome em um momento; assim também os pensamentos maus que o demônio nos envia; eles inflamam prontamente em nosso espírito o consentimento com indolência da carne. Mas se nós nos examinarmos e resistir aos homens, com a ajuda de Deus, eles não tardarão a se extinguir.

Era com a queima da palha que os israelitas cozinhavam a argila e endureciam os tijolos. Ora, os pensamentos maus, que são de lama, são submetidos ao fogo da palha do deleite e, quando eles se traduzem em atos, então estes são cozidos, e quando eles passam a ser hábitos, eles se endurecem como o tijolo.…” (BERNARDO DE CLARAVAL. Septuagésimo primeiro sermão. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm , Acesso em 24 nov. 2013, citações de Ex.1:8-14) (tradução nossa de texto em francês).
– Enquanto Deus fazia o povo de Israel crescer, acrescentando mais e mais israelitas, dando prevalência à vida, a estratégia de Faraó era a morte, a matança de crianças inocentes, assim que viessem à luz. Seu objetivo era matar o povo de Israel, era exterminá-lo.

– A tática continua a mesma em nossos dias. O inimigo tem trazido para a humanidade a nefanda ideia do “controle da natalidade”, tendo, inclusive, alcançado extremo êxito em diversos países do mundo, onde o número de nascimentos já é inferior à chamada “taxa de reposição”, que é por volta de 2,1, abaixo da qual se compromete a própria existência de uma nação, sendo esta a atual situação da maior parte dos chamados “países desenvolvidos”.

OBS: “…O antigo Faraó, sentindo como um íncubo a presença e a multiplicação dos filhos de Israel, sujeitou-os a todo o tipo de opressão e ordenou que fossem mortas todas as crianças do sexo masculino (cf. Ex Ex 1,7-22). Do mesmo modo se comportam hoje bastantes poderosos da terra. Também estes veem como um íncubo o crescimento demográfico em ato, e temem que os povos mais prolíferos e mais pobres representem uma ameaça para o bem-estar e a tranquilidade dos seus países. Consequentemente, em vez de procurarem enfrentar e resolver estes graves problemas dentro do respeito da dignidade das pessoas e das famílias e do inviolável direito de cada homem à vida, preferem promover e impor,
por qualquer meio, um maciço planejamento da natalidade. As próprias ajudas econômicas, que se dizem dispostos a dar, ficam injustamente condicionadas à aceitação desta política antinatalista.…” (JOÃO PAULO II. Evangelium Vitae. n.16. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_25031995_evangelium-vitae_po.html Acesso em 24 nov. 2013).

– Há, na atualidade, uma política internacional, fomentada pela Organização das Nações Unidas, no sentido de se diminuir o crescimento populacional no mundo, pois se entende que a pobreza e a miséria somente terminarão quando diminuir o número de habitantes no planeta. É a velha tática de Faraó, a velha política do “controle de natalidade”, algo que vai na direção diametralmente oposta ao desígnio divino para a humanidade, que é o de multiplicação e enchimento da terra (Gn.1:28).

– Lamentavelmente, muitos que cristãos se dizem ser já estão a defender o “controle de natalidade”, a utilização de métodos contraceptivos e, mesmo, o aborto, medidas que estão dentro da “cultura de morte” que, como vemos aqui em Êxodo, não era a tática de Deus, mas, sim, de Faraó, do inimigo do povo de Deus.

– As parteiras das hebreias, Sifrá e Puá, porém, eram tementes a Deus e, por isso mesmo, não acataram as ordens de Faraó, que eram contrárias ao desígnio divino. Será que temos nos comportado como estas parteiras, ou temos nos curvado às orientações contrárias à concepção e à reprodução biológica emanadas dos “Faraós do século XXI”? Será que temos nos irmanado nos objetivos de morte do inimigo de nossas almas, contrariando a vontade de Deus? Pensemos nisto!

– Segundo o pastor Evandro de Souza Lopes, “Sifrá” significa “esplendor” e Puá, “luz”. Apesar de todo o risco que havia, notadamente de vida, no descumprimento da ordem de Faraó, elas se mostraram como “luz do mundo” e não obedeceram à determinação de assassínio das crianças do sexo masculino, não executando, assim, este verdadeiro genocídio determinado pelo rei do Egito, “conservando os meninos com vida” (Ex.1:17).
– Temos sido “luz do mundo”, como nos determinou o Senhor Jesus neste assunto? Ou temos contribuído para as políticas de controle de natalidade que “Faraó” tem imposto ao mundo em nossos dias?

– Ao saber do descumprimento da ordem, Faraó chamou as parteiras e lhes perguntou do porquê da desobediência e elas, então, responderam que as mulheres hebreias eram mais espertas que as egípcias e davam à luz antes que as parteiras chegassem e, deste modo, esta ordem, que era encoberta, não podia ser cumprida (Ex.1:19,20).

– A Bíblia diz que, diante desta resposta, Faraó nada fez contra as parteiras que, além de terem sido libertas da morte por Deus, ainda foram abençoadas com o “estabelecimento de casas”, o que significa que tiveram, também elas, uma descendência numerosa. Quando fazemos a vontade de Deus sempre somos abençoados, tanto nesta vida quanto na vindoura (Mt.19:29; Mc.10:30).

OBS: Agostinho de Hipona (354-430), em suas Locuções do Heptateuco, livro XII, entende que o estabelecimento de casas não teria sido uma descendência numerosa, mas, sim, a obtenção de uma independência econômica, pois, em Gn.30:30, Jacó, ao ser assalariado por Labão após quatorze anos de trabalho gratuito, teve esta dádiva de Labão precisamente porque queria “trabalhar também por sua casa”. Assim, as parteiras teriam deixado de ser servas, teriam obtido uma emancipação social (Cf. http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 24 nov. 2013).

– Alguns veem neste episódio um suposto caso de “mentira santa”. Dizem que as parteiras mentiram para Faraó e que, apesar disto e por causa da mentira, foram abençoadas, “prova” de que a mentira é tolerada e até mesmo querida por Deus quando há circunstâncias relevantes como a preservação da vida. Nada mais falso, porém, amados irmãos!

– Não existe “mentira santa”. A mentira é filha do diabo (Jo.8:44) e o príncipe deste mundo nada tem com Cristo Jesus (Jo.14:30), que é a verdade (Jo.14:6). Assim, como Jesus é o Santo (Lc.1:35), nada pode haver de “santo” em qualquer mentira. Como afirma o grande teólogo e filósofo Tomás de Aquino ((1225-1274): “O que é intrínseca e naturalmente mal não há modo possível de que seja nem bom nem lícito, porque para que uma coisa seja boa se requer que toda ela o seja; pois, como diz Dionísio, no capítulo 4 do ‘De Divinis Nominis’, o bem requer o concurso de todas as suas causas, mas, para o mal, basta um defeito qualquer. Ora bem: a mentira é má por natureza, por ser um ato que recai sobre matéria indevida, pois sendo as palavras signos naturais das ideias, é antinatural e indevido significar com palavras o que não se pensa. Por isso diz o Filósofo [Aristóteles, observação nossa] no livro IV de seu livro ‘Ética’, que a mentira é por si mesma má e abominável; a verdade, pelo contrário, é boa e louvável. Portanto, toda mentira é pecado, como afirma também Santo Agostinho em seu livro ‘Contra mendacium’…” (Suma Teológica, II-II,3. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 24 nov. 2013, citações de Ex.1:1-7) (tradução nossa de texto original em espanhol).

– Quem foi que disse que as parteiras mentiram? Pode muito bem ser que as hebreias realmente não esperassem as parteiras para ter seus filhos, inclusive porque tinham costumes diferentes dos egípcios. A circunstância de as parteiras serem vinculadas ao governo reforça esta ideia, já que o governo egípcio era teocrático e as parteiras, portanto, estavam vinculadas aos cultos dos deuses adorados pelo povo egípcio, a afugentar as mulheres israelitas da utilização de seus serviços.

– Pode haver, ainda, a possibilidade de, já sabedoras deste costume dos israelitas, as parteiras terem avisado, por temor a Deus, o povo de Israel a respeito desta determinação de Faraó, aconselhando-as a não chamarem os serviços das parteiras em hipótese alguma, de sorte que o que falaram a Faraó não é necessariamente mentira, e, não se tendo a premissa, todo este absurdo ensino da “mentira santa” cai por terra.
– E, ainda que se admita a hipótese de terem as parteiras mentido, bem assinalou o Tomás de Aquino ao comentar esta passagem bíblica: “…As parteiras não receberam recompensa por terem mentido, senão pelo seu temor a Deus e por sua benevolência, que é de onde proveio que mentissem. Por isso se nos diz expressamente em Ex.1:2: por terem temido a Deus, Ele lhes estabeleceu casas. A mentira, porém, que daí se seguiu, não foi meritória…” (ibid.).

– Faraó, porém, não desistiu. Fracassando esta segunda tentativa de destruição do povo, partiu para a terceira estratégia, que era a do genocídio explícito e não mais velado. Determinou a todo o povo egípcio que matasse os meninos que nascessem com vida, preservando, apenas, as meninas (Ex.1:22).

– Tinha-se a divulgação explícita do ódio de Faraó para com o povo de Israel. Os israelitas estavam agora claramente informados que os egípcios não queriam apenas fazer os hebreus sofrer mas, sim, queriam o seu fim. Não havia mais qualquer ilusão: a permanência no Egito significaria a morte, a eliminação deste povo. Era hora de o povo acordar: era preciso sair do Egito.

– Como resistir à ordem de Faraó? O povo encontrava-se escravizado, oprimido, edificando cidades para o rei. Não havia condição alguma de resistir a esta ordem de matança. Estaria Israel fadado a ser destruído em uma geração? É neste instante em que não havia qualquer saída para o povo israelita que Deus volta a atuar e fazendo surgir precisamente desta geração que não teria mais homens aquele que libertaria Israel do cativeiro.

III – O NASCIMENTO DE MOISÉS E A SUA PREPARAÇÃO NO EGITO

– Israel encontrava-se numa situação extremamente delicada, pois Faraó (Setos I, também chamado Seti I para alguns; Sekenenré Taá ou Taá II para outros e, ainda, Tutmés III para ainda outros) havia determinado a morte de todos os meninos hebreus que nascessem a partir de então, situação que punha a própria sobrevivência da nação israelita em xeque (Ex.1:22).

– Esta ordem de Faraó era uma extensão da ordem que havia dado às parteiras Sifrá e Puá. Como estas não a tivessem cumprido, o rei egípcio entendeu de permitir que todo e qualquer egípcio matasse os meninos hebreus que nascessem, procurando, assim, exterminar o povo hebreu.
– Diz a tradição judaica, repetida pelo historiador judeu Flávio Josefo (37/38-100), que esta ordem de Faraó teria sido provocada por um vaticínio de um de seus “escribas das coisas santas” de que haveria de nascer um menino hebreu que provocaria a humilhação do Egito. Não se sabe se isto realmente ocorreu, dado o silêncio do texto bíblico, mas não é improvável que as hostes espirituais da maldade, sabendo que se estava na quarta geração que havia sido anunciada por Deus a Abraão (Gn.15:16), tudo fizesse para impedir o prosseguimento da existência de Israel, contra quem sempre o diabo lutou e lutará até o final dos tempos (cf. Ap.12:4).

OBS: “…Este mal foi seguido por um outro, que aumentou ainda mais o desejo que os egípcios tinham de nos perder. Um dos doutores da sua lei, ao qual eles dão o nome de escribas das coisas santas e que passam entre eles por grandes profetas, disse ao rei que, naquele mesmo tempo, deveria nascer um menino entre os hebreus, cuja virtude seria admirada por todo o mundo, o qual elevaria a glória da sua nação, humilharia o Egito e cuja reputação seria imortal. O rei, assustado com essa predição, publicou um edito, segundo o conselho daquele que lhe fazia essa advertência, pelo qual ordenava que se deveriam afogar todos os filhos dos hebreus do sexo masculino e ordenou às parteiras do Egito que observassem exatamente, quando as mulheres deveriam dar à luz, porque ele não confiava nas parteiras da sua nação. Esse edito ordenava também que aqueles que se atrevessem a salvar ou criar alguma dessas crianças seriam castigados com a pena de morte juntamente com toda a família” (JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas, II, 5,86. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso. v.1, p.55).

– O fato é que, pelo que parece, esta ordem de Faraó, a exemplo do que ocorrera com as parteiras, também não surtiu efeito, pois o fato é que não se produziu a eliminação, ainda que gradual, do povo de Israel neste período.

– Como demonstração disso, a narrativa do livro do Êxodo, em meio a esta verdadeira tragédia, noticia que houve um casamento entre um varão da tribo de Levi e uma mulher da mesma tribo (Ex.2:1). Este varão chamava-se Anrão (Ex.5:20), bisneto de Jacó, neto de Levi e filho de Coate (Ex.1:2; 5:16,18), ou seja, pertencente à terceira geração de Israel. Já a mulher mencionada era Joquebede (Ex.5:20), que era sua tia e, portanto, irmã de Coate, uma filha de Levi já nascida no Egito (Nm.26:59).

– Ora, este casal resolve se casar num momento muito difícil da história do povo de Israel, mostrando, deste modo, toda a sua fé em Deus. Afinal de contas, um dos objetivos primeiros do casamento é a procriação e, sabedores da ordem de Faraó, da grande dificuldade em se ter um filho, a decisão deste casal mostrava a sua confiança em Deus e as promessas de que Israel haveria, um dia, de conquistar e habitar na terra de Canaã.
– Este gesto deste casal, de viver confiando em Deus, foi um dado inicial que fez com que o Senhor escolhesse aquela família como sendo o local ideal para ser o berço daquele que haveria de libertar Israel da opressão do Egito e completar a obra de formação da nação que haveria de ser “propriedade peculiar de Deus dentre os povos” (Ex.19:5).

– A nação de Deus tem, sempre, de começar em uma família que se dispõe a fazer a vontade de Deus, mesmo diante das vicissitudes da vida terrena, mesmo diante dos projetos malignos em desenvolvimento, ainda que suportados pelo poder. Assim como Anrão e Joquebede, os pais cristãos, em nossos dias, mesmo diante de todo o projeto anticristão em curso, devem prosseguir confiando em Deus, edificando uma família onde ainda se preservem os valores e princípios estatuídos pela Palavra de Deus.

– O casal teve, por primeiro, um menino como filho, a quem deram o nome de “Arão”, nome cujo significado é muito discutido, entendendo alguns que é “monte de força” e, outros, “montanhista, brilhante, serrano”, como que a mostrar confiança em Deus e na força do Seu poder. Em seguida, tiveram uma menina como filha, esta que é identificada como sendo Miriã somente em Ex.15:20. O nome “Miriã” significa “exaltada, forte” e, para outros, “obstinação, rebeldia”, nome dado pelos seus pais a mostrar que havia, no casal, o desejo de que o povo israelita se libertasse da opressão que estava a sofrer no Egito.

– Depois, o casal teve outro filho, desta feita, mais um menino, exatamente no momento em que se mandavam matar as crianças hebreias do sexo masculino. Nem sequer o casal lhe deu um nome, embora o tenham achado “formoso”. Em sua confiança em Deus, o casal não cumpriu a ordem de Faraó e procurou esconder o menino, o que conseguiram fazê-lo por até três meses.

OBS: A tradição judaica, repetida por Flávio Josefo, em Antiguidades Judaicas II,5,87, diz que Anrão começou a orar a Deus quando Joquebede engravidou e o Senhor lhe teria aparecido em sonho e dito que a criança que estava no ventre de Joquebede era aquele que haveria de libertar Israel.

– Vendo que não poderiam mais esconder o menino, para tentar salvar a sua vida, puseram a criança numa arca de juncos, devidamente betumada para que não fosse possível a penetração da água, tendo posto a arca nos juncos à beira do rio (Ex.2:3).

– Notemos que, ao contrário do que se costuma dizer, o texto bíblico não diz que a criança foi jogada ao rio para que a correnteza o levasse, pois isto seria praticamente condenar à morte a criança, até porque o rio era infestado de feras (em especial, os crocodilos), mas foi posto à beira do rio, em local estratégico, onde se costuma banhar a filha de Faraó. Tanto isto era premeditado que Miriã ficou ao longe, observando o que poderia acontecer (Ex.2:4).

– Certamente, por meios que não podemos explicar, os pais de Moisés perceberam que aquele menino era especial. A sua formosura transmitiu-lhes esta certeza, afinal de contas se estava já na quarta geração de Israel e havia a confiança nas promessas de libertação do povo.

– A filha de Faraó desceu a lavar-se no rio e notou a presença daquela arca de juncos com o menino e logo percebeu que se tratava de um menino dos hebreus e, mesmo assim, resolveu tomá-lo como seu filho, tendo tido compaixão com a criança que chorava. O gesto da filha de Faraó mostra-nos bem como a ordem de Faraó não fora bem recebida pelo povo egípcio, a exemplo, aliás, do que ocorrera com as parteiras Sifrá e Puá (Ex.2:5,6).

– Neste instante, Miriã surge e, com muita perspicácia, convence a filha de Faraó a deixar que a criança fosse educada por uma ama das hebreias e, deste modo, Moisés foi levado de volta aos braços de sua mãe que não só criou o menino como também foi assalariada por isso (Ex.2:7-9).

– O Senhor, então, começava a trabalhar para mudar a situação aflitiva em que vivia o Seu povo no Egito, poupando a vida de Moisés, fazendo-o criar e educar, em sua primeira infância, entre os hebreus, mas, ao mesmo tempo, abrindo-lhe a porta da família real egípcia, para que fosse devidamente formado e preparado para a obra que Deus queria lhe dar, qual seja, a de libertar e liderar Israel na sua jornada para a terra de Canaã. Quem é como o nosso Deus? Aleluia!

– Deus fez com que Moisés fosse criado, na sua primeira infância, pela sua própria mãe, Joquebede, às expensas de Faraó, a fim de que, no período de formação do seu caráter, Moisés recebesse a educação hebreia, ou seja, aprendesse a respeito das promessas de Deus a Abraão, Isaque e Jacó. Este ensino primeiro foi fundamental para que Moisés fosse o líder do seu povo no futuro.

– Muitos não se dão conta da importância e do valor da educação doutrinário-bíblica em casa, na primeira infância. É ela fundamental para a formação do caráter das pessoas e este é um dos principais motivos por que o inimigo de nossas almas tem lutado tanto para eliminar a adoração a Deus nos lares das famílias dos servos de Deus, substituindo a educação doutrinário-bíblica pela doutrinação da “babá eletrônica” com seus “demônios animados” e “videodemônio games”, que tanto têm conquistado mentes de crianças e adolescentes, filhos de autênticos e genuínos servos de Deus. Moisés precisou ser educado por Joquebede, era uma necessidade, pois, diante de toda a ciência do Egito que viria a conhecer, não poderia permanecer identificando-se com o povo de Deus, não poderia ter escolhido o vitupério de Cristo (cfr. Hb.11:26), se assim não tivesse sido educado. Não nos esqueçamos do proverbista: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele” (Pv.22:6).

– Vencida esta etapa inicial de educação, Moisés foi levado para o palácio, onde teve a educação de um verdadeiro príncipe, pois era filho da filha de Faraó, já que a princesa o adotou e lhe deu o nome de “Moisés”, cujo significado é “retirado das águas”, um nome tipicamente egípcio (Ex.2:10).

– Segundo as Escrituras Sagradas, que são confirmadas pelo que se sabe da história do Egito, nesta ocasião, Moisés foi instruído em toda a ciência e sabedoria egípcias, então das mais evoluídas, senão a mais evoluída e desenvolvida daquela época (At.7:22). Moisés demonstrou toda a sua capacidade, pois a Bíblia nos diz que era poderoso em obras e palavras. Diz a tradição judaica que foi um grande líder militar, que teria se notabilizado na corte de Faraó. Encontramos Deus usando todo o conhecimento e sabedoria humanos à disposição naquele tempo para que servisse de esterco para o ministério de Moisés (Fp.3:8).

– Entretanto, toda esta ciência, todo este conhecimento, toda esta posição social, todo este poder político foram incapazes de retirar do coração de Moisés a sua identificação com o povo hebreu, o povo escravizado do Egito. A educação que recebera de sua mãe era mais forte do que tudo aquilo e, por isso, “já grande”, Moisés não conseguiu se desvincular das cargas que seus compatriotas carregavam (Ex.2:11). Ao ver que um varão egípcio feria um varão hebreu, bem como que ninguém o notava, resolveu matar o egípcio, escondendo-o na areia. Achou, certamente, que sua posição social, seu poderio, seu conhecimento seriam suficientes para dar um basta àquela situação (At.7:24,25).

OBS: “…Moisés parece ter matado o egípcio como investido de autoridade, por inspiração divina, segundo aparece no que se lê em At.7:25: matando o egípcio, pensava Moisés que entenderiam seus irmãos que o Senhor, por sua mão, havia de dar a salvação a Israel. Também pode dizer-se que Moisés matou o egípcio defendendo-se com moderada e legítima defesa ao que sofria uma injúria, e daí Ambrósio, em seu livro ‘De officis’, diga que quem não repele a injúria feita ao companheiro quando pode é tão culpável como o que a faz, e põe, como exemplo, o de Moisés.

Inclusive, pode dizer-se, como diz Agostinho, em ‘Questionibus Exodus’, que assim como se louva a fertilidade da terra que produz ervas inúteis, pensando nas boas sementes que virão, assim aquele ato de Moisés foi culpável em si, mas revelava indício de grande fecundidade, quer dizer, enquanto era sinal da energia com que haveria de livrar o povo.…” (TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica II-II, 6. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 24 nov. 2013, citações de Ex.2:1-15) (tradução nossa de texto em espanhol).
– No dia seguinte, animado com a perspectiva de dar uma solução às cargas de seu povo por meio de suas habilidades naturais e de sua posição social, Moisés buscou ser árbitro na contenda entre dois hebreus e aí foi desmascarado, pois não havia escondido bem o cadáver, tinha-o deixado na areia, sendo facilmente achado o corpo e identificado o autor do delito.

O fato chegou até Faraó que procurou matar Moisés e, então, Moisés, desmascarado, sem o apoio do povo escravizado, que apoio algum lhe poderia dar, perseguido por Faraó como traidor do Egito, perde tudo quanto tem e é obrigado a fugir, indo para Midiã, região desértica, onde se assentou junto a um poço (Ex.2:15) e, também com base na violência, livra as filhas de Jetro de pastores malignos que a haviam atacado (Ex.2:17,18).

– Moisés tinha quarenta anos de idade (At.7:23) e, então, começa a segunda fase de sua vida. Em vez da fama, do poder e da mordomia do palácio de Faraó, Moisés agora teria a aridez do deserto, a falta absoluta e completa de bens materiais, passando a ser tão somente o pastor das ovelhas do rebanho de Jetro (também chamado de Hobabe – Nm.10:29; Jz.4:11 e de Reuel – Ex.2:11), de quem se tornou genro, ao se casar com Zípora (Ex.2:21), com que teve um filho, a quem deu o nome de Gérson (em hebraico, “Guershom”), cujo significado é “estrangeiro”, “peregrino”, vez que Moisés se sentia, em Midiã, um “peregrino em terra estranha” (Ex.2:22).

– Estes fatos mostram como Moisés havia mudado o seu comportamento. Deixara de dar valor aos tesouros do Egito, entendera que era hebreu e que deveria ter o mesmo destino de seu povo. Compreendera que havia sido escolhido para o cumprimento das promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó, mas ainda não estava preparado para levar avante esta tarefa. Confiava, ainda, na sua posição, na sua força física, no seu conhecimento, nas suas habilidades naturais. Era um grande líder militar, um grande cientista, algo necessário mas insuficiente para se liderar o povo de Deus. Além da chamada, um líder no meio do povo de Deus precisa ter o devido preparo intelectual e o destemor, mas, além destes preparo e destemor, é mister que tenha humildade, que saiba depender única e exclusivamente de Deus.

– Moisés já era um grande general, um dedicado conhecedor de toda a ciência do Egito, tinha consciência de que pertencia ao povo de Deus e que lhe estava destinado um papel importante na história deste povo, mas não tinha tido ainda uma experiência no trato com as ovelhas, não tinha aprendido a mansidão, não sabia o que era ser dependente de outrem. Precisava passar pelo “curso do deserto” e seriam quarenta anos de lições, que o tornassem apto a libertar o povo (At.7:30).

– Muitos, na atualidade, pensam que podem liderar o povo de Deus única e exclusivamente com o “conhecimento do Egito”, com a força física ou o respeito adquirido ao longo de alguns poucos anos na igreja. Esquecem-se de que é necessário o “curso do deserto”, a provação, a experiência pessoal com Deus, o aprendizado da humildade e da completa dependência de Deus, o lidar com ovelhas, a fim de que adquira mansidão, sensibilidade e amor aos liderados. Muitos, a exemplo de Saul, têm sido guindados diretamente do trato de jumentas para o de ovelhas e o resultado continua sendo o mesmo do de Saul: um retumbante fracasso. Quem tem chamada para a liderança do povo de Deus, deixe de lado o preparo intelectual e o destemor, que são, sim, necessários, mas, uma vez obtidos, entre, conduzido pelo Espírito, no deserto, para ser provado e aprovado. Certamente, depois desta aprovação, poderá exercer o seu ministério com primor e excelência.

– Moisés foge, parece que tudo estava perdido. Será mesmo? É o que veremos na próxima lição.

 Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/files/1T2014_L1_caramuru.pdf

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