LIÇÃO Nº 3 – AS PRAGAS DIVINAS E AS PROPOSTAS ARDILOSAS DE FARAÓ
Com as pragas, Deus mostrou que é o único Deus para egípcios e hebreus
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo do livro de Êxodo, estudaremos hoje os capítulos 6 a 10, quando veremos o processo de libertação de Israel com os juízos divinos sobre o Egito.
– Através das pragas, o Senhor mostrou a Israel e ao Egito que Ele é o único Deus.
I – DEUS ANIMA MOISÉS
– Na sequência do livro de Êxodo, estudaremos hoje os capítulos 6 a 10, quando tem início o processo de libertação de Israel do Egito. Este processo far-se-ia com o lançamento de juízos divinos sobre o Egito, a fim de que o Senhor mostrasse não só aos egípcios, mas aos próprios hebreus, que Ele é o único Deus.
– Na lição anterior, vimos que, após Moisés e Arão terem pedido a Faraó que ele deixasse o povo de Israel ir, Faraó endureceu o seu coração e aumento a opressão sobre os israelitas, retirando-lhes a palha mas deles exigindo a mesma quantidade de tijolos (Ex.5:6-19).
– O povo de Israel, então, que havia adorado ao Senhor e crido que Moisés havia sido mandado para libertá-lo, ante esta nova aflição, voltou-se contra Moisés e Arão, culpando-lhes pela situação (Ex.5:20,21).
– Tal circunstância abalou a fé de Moisés que, diante desta reação adversa do povo e do próprio sofrimento por ele experimentado, orou ao Senhor, questionando a Deus, dizendo qual o motivo pelo qual havia sido chamado e por que estava o povo a sofrer mais ainda, em vez do livramento prometido (Ex.5:22,23).
– Esta atitude de Moisés mostra, por primeiro, que este grande servo do Senhor havia se esquecido daquilo que o próprio Deus lhe havia dito, ou seja, que Faraó se recusaria a deixar o povo e que seriam feitas maravilhas para que Faraó, por fim, permitisse a partida de Israel (Ex.4:21,22).
– Moisés mostra aqui toda a fragilidade do homem, a sua inferioridade em relação ao seu Criador. Isto não só aconteceu com Moisés, mas também com os discípulos de Jesus que, também, se esqueceram das falas do Senhor de que Ele haveria de ressuscitar, estando, assim, em total desânimo, como nos atestam aqueles dois que caminhavam para Emaús no domingo da ressurreição, mesmo depois de as mulheres terem dito que haviam visto Cristo ressuscitado (Lc.24:19-24).
– Mas isto ainda acontece em nossos dias. Todos nós, sem exceção, diante das vicissitudes da vida terrena, vez por outra, também, mostramo-nos céticos diante de promessas feitas a nós pelo Senhor e, não poucas vezes, também desanimamos, esquecendo-nos daquilo que Deus nos disse. Estes questionamentos são próprios da natureza humana, mas, quando assim agimos, devemos tomar a mesma atitude de Moisés, qual seja, irmos ao encontro do Senhor, clamarmos a Ele, abrirmos nosso coração para quem pode nos fortalecer.
– Somos humanos, frágeis e não podemos fugir do questionamento, do esquecimento. O que não podemos é caminhar do questionamento e do esquecimento para a incredulidade. Devemos agir como fez Moisés. Em meio àquela situação extremamente delicada, Moisés não foi a Faraó, como fizeram equivocadamente os israelitas, nem foi ao encontro do povo, mas, sentindo que ele mesmo estava enfraquecido, foi ao Senhor, para a oração. É o que nos ensina o apóstolo Paulo, quando, escrevendo aos efésios, recomendou que eles se fortalecessem no Senhor e na força do Seu poder (Ef.6:10).
– Moisés foi à presença de Deus e o Senhor, que o havia chamado, respondeu-lhe, reafirmando o que havia dito anteriormente. O Senhor foi claro ao dizer que Faraó somente deixaria o povo de Israel partir por “mão poderosa”, ou seja, somente após a manifestação do poder de Deus é que Faraó, portador de um coração duro, permitiria a saída do Egito (Ex.6:1).
– O Senhor, então, revelou a Moisés que toda esta situação seria necessária, porque Ele precisava se fazer conhecido não só dos israelitas, mas dos próprios egípcios. Ele havia Se revelado a Moisés como “EU SOU” e isto deveria ficar bem demonstrado para todos. O Senhor também fez ver a Moisés que havia feito um concerto com Abraão, Isaque e Jacó e que haveria de cumpri-lo, concerto este, aliás, que havia sido o objeto das súplicas dos hebreus ao Senhor em meio à opressão (Ex.6:2-8).
– O Senhor reafirmou as Suas promessas não só de livrar o povo da escravidão do Egito mas, também, de lhes entregar a terra de Canaã, dizendo que o faria mediante braço estendido e juízos grandes (Ex.6:6).
– Notamos, portanto, que o endurecimento do coração de Faraó tinha um propósito sublime, qual seja, o de fazer mostrar tanto a Israel quanto ao Egito quem era Deus, que Ele era o único Senhor, o “EU SOU”, o único que existe desde sempre e para sempre. Como afirmam alguns estudiosos da Bíblia, as pragas lançadas sobre o Egito era uma confissão pública a respeito da necessidade de se crer em apenas um Deus, o único que realmente existe, uma manifestação divina para que a humanidade observasse que deveria abandonar o politeísmo e idolatria que haviam abraçado após a formação da comunidade única pós-diluviana e que os tinha levado à rejeição com o juízo de Babel.
– Esta mensagem renovadora animou Moisés que, incontinenti, foi ao encontro do povo para também reanimá-lo. No entanto, o povo, extremamente afligido por Faraó, não lhe deu ouvidos (Ex.6:9).
– Muitas vezes, também somos reanimados pelo Senhor, que nos chamou para um determinado serviço, e, após termos sido renovados por Deus, vamos ao encontro do povo de Deus, procurando transmitir este renovo para eles, mas isto nem sempre acontece. Neste instante, devemos fazer o que está ao nosso alcance, pois este é o nosso dever (Ec.9:10), não retrocedendo nem querendo incutir nos demais aquela experiência particular que tivemos.
– Ante o desprezo do povo, o Senhor, de imediato, antes que Moisés pudesse esmorecer novamente, fala ao Seu servo e o mandou que fosse até a presença de Faraó para que ele deixasse os filhos de Israel sair da terra. Moisés, então, disse que se os israelitas não lhe davam ouvidos, como o daria Faraó? Todavia, o Senhor deu mandamentos a Moisés e a Arão para os filhos de Israel e para Faraó, para que tirassem os filhos de Israel da terra do Egito (Ex.6:13).
– “…Não nos é dito qual foi a ordem divina [que Moisés e Arão receberam da parte de Deus, como nos diz Ex.6:13 – observação nossa], mas o Midrash [comentários dos doutores da lei, dos rabinos judeus – nova observação nossa] revela-nos a resposta de Deus à decepção de Moisés e a espantosa lição de liderança que lhe transmitiu: ‘Assim é teu povo, Moisés! Um povo amargo, resmungão, teimoso, pessimista e de pouca fé.
Pois deves aceitá-lo com todos os seus defeitos, amá-lo e libertá-lo do jeito que ele é. É este o povo que deves liderar por momentos grandiosos, dando-lhe respeito e honra, lei e terra, embora ciente de que a única recompensa que dele receberás serão ofensas e pedradas. Aprende que a liderança, Moisés, é servidão, e não poder’.” (MELAMED, Meir Matzliah. Torá: a lei de Moisés, nota dos editores a Ex.6:13, pp.168-9).
– Deus deu mandamentos a Moisés e a Arão com relação tanto ao povo de Israel quanto a Faraó para nos mostrar que o que se desencadearia era para mostrar tanto aos hebreus quanto aos egípcios quem era Deus. Era este o objetivo de toda a manifestação do poder de Deus a partir de então. Deus manifesta o Seu poder para Se fazer conhecido dos homens e para que os homens fiquem inescusáveis diante d’Ele.
– Em seguida, o texto sagrado como que faz um “corte” narrativo, para trazer a genealogia de Moisés e de Arão, para mostrar que eles tinham origem e legitimidade para receber a incumbência da liderança de todo o processo de libertação. Deus manifesta o Seu poder, mas usa como instrumentos homens legitimamente chamados para esta tarefa.
OBS: “…O capítulo 6 apresenta a genealogia de Moisés, réplica típica dos registros do Gênesis. O nome de seu filho Gérson contém um trocadilho que antecipa a partida de Israel do Egito: o Faraó ‘até mesmo vos expulsará daqui’ [garesh yegaresh] (11:1). Uma antítese da expulsão é anunciada mais tarde, em 34:24a: ‘Porque expulsarei as nações de diante de ti e alargarei o teu território’ (ver também: 6:1; 12:39; 23:28-31 e 33:2)…” (FOKKELMAN, J.P. Êxodo. In: ALTER, Robert e KERMODE, Frank (org.). O guia literário da Bíblia, p.73).
-O Senhor, ainda, mandou que Moisés dissesse a Faraó tudo quanto Ele estava mandando e, ante a relutância de Moisés quanto à sua falta de eloquência, o Senhor renova Sua determinação para que Arão fosse o porta-voz de Moisés, uma vez mais dizendo que endureceria o coração de Faraó e, deste modo, fosse possível a manifestação do poder, tendo, inclusive, orientado como deveriam eles fazer milagres (Ex.6:28-7:9).
– Nestas instruções divinas a Moisés vemos, claramente, que a legitimidade do servo do Senhor está não só condicionada à chamada, mas, também, à obediência e à estrita transmissão da Palavra de Deus. Moisés deveria falar tão somente aquilo que fosse dito pelo Senhor para que ele falasse, pois somente a Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17). O apóstolo Paulo também mostra esta mesma atitude, ao dizer que não ia além do que estava escrito e que, da mesma maneira, deveriam aprender os coríntios (I Co.4:6). Lamentavelmente, em nossos dias, muitos não têm observado esta instrução do Senhor…
OBS: “…Moshé [Moisés, observação nossa] era não mais que um mensageiro de D’us, do qual era exigido somente entregar a mensagem de seu Mestre. Isto explica por que lhe foi exigido falar somente uma vez, pois sua única tarefa era entregar a mensagem para o Faraó, exatamente como ele tinha tido ouvido de D’us, sem nenhuma elaboração.…” (CHUMASH: o livro de Êxodo, p.39).
– Mas, além de ser necessária fidelidade do servo de Deus ao que Deus efetivamente fala, também se faz necessário que o servo de Deus esteja pronto para manifestar sinais e maravilhas da parte do Senhor, mas segundo a orientação que receber de Deus. Os milagres, sinais e maravilhas não substituem nem vêm primeiro que a Palavra, mas existem tão somente para confirmá-la (Mc.16:20), confirmação esta que, às vezes, é necessária, a fim de que os homens saibam quem é o Senhor (Ex.7:4,5).
– Assim, o Senhor orientou Arão para que, em havendo desafio de Faraó para que eles fizessem algum milagre, lançasse ele a vara de Moisés para que ela se tornasse em serpente, precisamente o primeiro sinal que Deus fizera a Moisés para mostrar que Ele era Deus (Ex.4:1-4). O milagre serve para confirmação, como se pode, pois, verificar.
II – O ENDURECIMENTO DO CORAÇÃO DE FARAÓ E AS TRÊS PRIMEIRAS PRAGAS
– Após esta palavra animadora da parte do Senhor, Moisés e Arão, então, foram novamente à presença de Faraó, renovando o pedido para que o povo de Israel fosse liberto, mas Faraó, então, como o Senhor havia dito, pediu que eles fizessem algum milagre, ocasião em que Arão lançou a vara e a mesma se tornou em serpente.
– Faraó, porém, não se intimidou com aquele sinal, mandou chamar os sábios e encantadores do Egito e os magos do Egito fizeram também o mesmo com seus encantamentos, embora a serpente em que havia se tornado a vara de Moisés tenha tragado as demais serpentes (Ex.7:10-12).
– O sinal realizado por Arão foi repetido pelos magos do Egito, numa clara demonstração que os poderes espirituais da maldade podem imitar, até um certo ponto, aquilo que é feito de forma sobrenatural pelo nosso Deus. Isto não acontecia apenas com os magos do Egito naquele tempo, mas ainda hoje acontece, notadamente nos dias em que vivemos, em que há, por causa da multiplicação da iniquidade e da preparação do cenário para a manifestação do Anticristo, um visível e perceptível aumento da atividade demoníaca.
– Precisamos, portanto, ter muita cautela ao vermos sinais e maravilhas, pois o maligno também pode realizar “milagres”. Por isso, jamais podemos dar prioridade a sinais e maravilhas, devendo, antes, pregar a Palavra de Deus, pregar o Evangelho, que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16). O evangelho completo exige que preguemos a respeito de sinais e maravilhas, mas isto é consequência da pregação da salvação em Cristo Jesus, é confirmação das boas novas de salvação. Jamais mudemos a ordem das coisas, amados irmãos!
– A prioridade da Palavra justifica-se, entre outras coisas, exatamente para evitemos o engano a partir de sinais e maravilhas realizados pelo maligno. Faraó não se deixou impressionar pelo sinal realizado por Arão, mas, chamando os seus magos, ao ver que eles reproduziram o mesmo sinal, manteve-se irredutível, endurecendo o seu coração, apesar de a vara de Arão tornada serpente ter tragado as demais serpentes produzidas pelos magos.
– A vara de Arão tornada serpente tragou as demais precisamente para mostrar que o poder de Deus é superior ao das trevas, para mostrar que Deus é único, é a fonte de todo o poder e que tudo quanto for produzido pelas hostes espirituais da maldade é tão somente algo permitido por Deus, resultante da própria criação dos seres angelicais que, mesmo caídos, ainda não foram devidamente encarcerados no lago de fogo e enxofre, para onde irão no tempo determinado pelo Senhor (Mt.25:41).
OBS: “…A meta era provar ao Faraó que seu poder de soberania era nulo comparado com o de D’us. E este fato foi indicado a ele uma vez que o símbolo da liderança de Aharon – o seu cajado – foi vitorioso. A necessidade de uma intervenção miraculosa era assim secundária diante do conteúdo da mensagem principal.…” (CHUMASH: o livro de Êxodo, p.41).
– Deus não é Deus de confusão (I Co.14:33), de modo que ninguém poderá se dizer enganado ou ludibriado pelo inimigo de nossas almas, diante de manifestações sobrenaturais. Deus deixou bem claro a Faraó que o poder proveniente de seus magos era inferior ao que produzira por intermédio da vara que estava com Arão (que cremos seja a vara com que Moisés tinha ido para o Egito e que entregara a Arão naquela ocasião) através da circunstância que as varas tornadas serpentes pelos magos tenham sido tragadas pela vara tornada serpente por Arão, mas Faraó não quis reconhecer a soberania divina, não quis se render ao “Deus dos hebreus”.
– Muito se discute a respeito do endurecimento do coração de Faraó. A Bíblia diz que o próprio Deus disse que haveria de endurecer o coração de Faraó (Ex.4:21 e 7:3). Seria, então, Faraó um mero “boneco” nas mãos de Deus? Teria Deus retirado o livre-arbítrio de Faraó? E, se assim é, não seria este ato uma injustiça da parte de Deus, que estaria a punir alguém que não teria oportunidade de arrependimento?
– Em Ex.7:13, entretanto, vemos que não é isto que ocorreu. Verdade é que Deus havia dito que endureceria o coração de Faraó, mas tal expressão deve ser entendida como o exercício da presciência divina, ou seja, o Senhor sabia que Faraó endureceria o seu coração. O Senhor não retirou o livre-arbítrio de Faraó, mas revelou a Moisés o que iria ocorrer.
OBS: É o que ensina Ramban, nome pelo qual é conhecido o rabino catalão Nachmânides (1194-1270), cujo comentário reproduzimos aqui: “…O fato de D’us ter endurecido o coração do Faraó era claramente um castigo por pecados anteriores. Porém, o endurecimento do coração do Faraó pode ter acontecido em duas diferentes ocasiões: a) Antes das pragas começarem (i.e., neste momento – ou seja, no instante em que houve o milagre da transformação da vara em serpente – observação nossa). Isto teria sido um castigo pela escravização injustificada dos judeus.
Ou, b) D’us só endureceu o coração de Faraó depois das cinco primeiras pragas, como um castigo por ignorar Seus avisos. Assim, neste momento quando D’us diz: ‘Eu endurecerei o coração de Faraó’ (7:2 e assim em 4:21). Ele apenas estava informando a Moshé sobre um evento que só ocorrerá no futuro.” (CHUMASH: Livro de Êxodo, pp.38-9).
– Tanto assim é que, ao fazer com que a serpente que era a vara nas mãos de Arão tragasse as demais, deu um sinal claro a Faraó de que Ele era Deus, mas, e aí o texto de Ex.7:13 é claro, o coração de Faraó se endureceu, recusou aceitar a soberania divina, não ouvindo Moisés e Arão, “como o Senhor tinha dito”.
– O que ocorreu com Faraó, ocorre com todos aqueles que se recusam a aceitar o senhorio de Cristo em suas vidas. Assim como Faraó se considerava divino (ele próprio era um dos principais deuses do Egito), não admitindo que “o Deus dos hebreus” lhe determinasse o que fazer, de igual modo, os homens se recusam a reconhecer que devem obedecer a Deus, preferindo crer na mentira satânica de que podem ser “iguais a Deus” (Gn.3:5). Estes, apesar de todas as demonstrações divinas, endurecem seus corações e o resultado disto é que, assim como Faraó, terminarão por se perderem, por serem destruídos. Como disse o missionário Nils Kastberg (1896-1988):
“…A desobediência e rebelião de Faraó foram a sua própria ruína…” (Lição 3 – A instituição da páscoa. 16 jan. 1938. In: Coleção Lições Bíblicas, v.1, pp.635-6). Que Deus nos guarde!
OBS: Agostinho bem explica esta situação na seguinte passagem em que comenta o livro de Êxodo: “… Vemos aqui que se Faraó caiu no endurecimento, não foi apenas porque os encantadores fizeram o mesmo que Moisés e Arão, mas foi ainda por causa da paciência e longanimidade de Deus. A paciência divina em consideração ao coração do homem é útil para alguns, que a aproveitam para se arrepender; inútil, para outros, que dela abusam para se obstinar contra Deus e perseverar no mal: portanto, sua inutlidade não vem de sua natureza, mas, assim como temos dito, da depravação do coração. É o que diz o apóstolo: ‘Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência, e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus, o qual recompensará cada um segundo as suas obras’. E, em outro lugar, depois de ter dito, ‘somos o bom cheiro de Cristo’, acrescenta: ‘nos que se salvam e nos que se perdem’.
Ele não diz que é o bom cheiro de Cristo para aqueles que se salvam, e o mau para aqueles que se perdem, mas ele diz que é unicamente o bom cheiro. Ora, aqueles que se salvam, ganhos pelo bom cheiro de Cristo, morrem, assim como nós temos dito supra, a esta disposição da alma que deve ter prazer neles a uma vontade boa inspirada pela graça divina; eles começam a aproveitar os julgamentos de Deus, que fazem a infelicidade dos corações depravados. De um coração felizmente transformado sai este hino: ‘Viva a minha alma para louvar-te; ajudem-me os teus juízos’ (Sl.119:175). Ela não diz: teus benefícios ou tuas recompensas, mas teus juízos. Ora, é muito poder dizer com uma confiança sincera: ‘Examina-me, SENHOR, e prova-me; sonda-me o coração e os pensamentos.’(Sl.26:2). E na crença de parecer atribuir às suas forças sejam quais forem, ela acrescenta: ‘Pois a tua benignidade, tenho-a perante os olhos e tenho andado na tua verdade’ (Sl.26:3). Ela clama por misericórdia de onde ela se fez o objeto, e de quem a ajudou a se conduzir conforme a verdade: é que ‘todas as veredas do Senhor são misericórdia e verdade’ (Sl.25:10a).…” (Sobre o Heptateuco. Livro II. Questões sobre o êxodo: questão primeira. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 28 nov. 2013, citações de Ex.8:1-15).
– Assim que Moisés e Arão deixaram a audiência com o Faraó, o Senhor deu a Moisés o diagnóstico da situação. Disse que o coração de Faraó era “pesado”, “obstinado” e, por isso, recusaria deixar ir o povo de Israel. Vemos aqui que somente Deus conhece o interior do homem e, deste modo, foi necessário o Senhor revelar a Moisés o que se passava no interior de Faraó para que o líder não ficasse abalado, ao ver que, apesar de tamanha e inequívoca demonstração de poder, mesmo assim Faraó não aceitou libertar o povo de Israel.
– Hoje não é diferente. Muitas vezes ficamos perplexos com a dureza dos corações dos homens que, mesmo diante de inequívocas demonstrações do poder de Deus, mantêm-se irredutíveis em sua incredulidade e em seu modo de viver contrário à Palavra do Senhor. Peçamos a Deus que nos dê o necessário discernimento espiritual, pois ainda hoje há muitos Faraós que, mesmo diante da manifestação do poder de Deus, continuam impermeáveis ao Seu amor.
– O endurecimento do coração de Faraó trouxe uma reação da parte de Deus. O Senhor mandou, então, que Moisés fosse ao encontro de Faraó, que sairia às águas e, na frente dele, na praia do rio, tomasse a vara e mandasse que as águas do rio Nilo se tornassem em sangue, o que faria com que todos os peixes do rio morressem (Ex.7:14-18).
OBS: “…Deus depois castigou o Egito e Faraó com as dez prodigiosas pragas por não terem querido crer em Moisés e nas ordens divinas…” (nota 15 do Catecismo Romano, 2ª parte, introdução, item V. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 28 nov. 2013, citação de Ex.7:14-25) (tradução nossa de texto em espanhol).
– O endurecimento do coração de Faraó trazia, então, como consequência o início das pragas, que eram juízos divinos sobre o Egito, castigos não só para punição da injusta escravidão a que os israelitas haviam sido reduzidos, mas, também, para que o Senhor mostrasse ao Egito, a maior potência da época, que Ele era o único Deus. Com efeito, as pragas tinham por objetivo mostrar que o único Deus era “o Deus dos hebreus” e que os deuses cultuados no Egito nada eram. É o que vemos nítida e explicitamente em Nm.33:4. Segue um quadro que nos mostra como cada praga tinha em vista a “humilhação” de um deus egípcio:
Praga | Humilhação contra | Associação | Consequência |
Rio Nilo em | deuses Khnum; Hapi; | O Grande Rio Nilo | Desestruturação |
Sangue | Osíris; Neith e Hathor. | e sua prosperidade | econômica, ambiental e religiosa | |
Das Rãs | deusa Heqt | Prosperidade | Aversão ao que antes era considerado sagrado | |
Dos Piolhos | Sacerdotes | Purificação | Noção de que os sacerdotes não eram puros | |
Das Moscas | Deuses Hathor; Mnevis; Rá | Beleza e proteção | Irritação e Incômodo, pois somente os egípcios sofreram. A terra do Gosen não foi abalada. | |
Dos Animais | deuses Ptah; Apis; Hathor; Mnevis; Rá. | Propriedades Pessoais | Doença e morte dos Animais | |
Das Úlceras | Deuses Sekhmet; Imhotep | Deuses de curas | Doenças nos Homens e nos Animais | |
Da Saraiva | Deuses Nut; Ísis; Seth. | Prosperidade na Agricultura | Prejuízo na Agricultura, aos Animais e Homens | |
Dos Gafanhotos | deus gafanhoto | Proteção à Agricultura | Desordem Social (fome, inquietação, roubos) | |
Das Trevas | deuses Rá; Amon-Rá e outros. | Deus do sol, estrelas e lua | Medo, Confusão e Descrença nos Deuses | |
Dos Primogênitos | Faraó | Herança do Trono e a crença do deus-rei. | Mortandade e humilhação final |
Fonte: CORREIA, Lídia Pereira Gonçalves e CORREIA, Marcellus Gonçalves. As dez pragas do Egito.
– “…No decorrer das Dez Pragas, o Eterno revelou Seu controle absoluto sobre a natureza. Utilizando-se de pragas naturais, manifestas, no entanto, de forma sobrenatural, demonstrou, que está simultaneamente na natureza e acima desta, pois Ele não é limitado por qualquer elemento de Sua criação. E, não foi simples coincidência o fato de ter optado por castigar o Egito com pragas relacionadas à natureza, pois, para os egípcios, o rio Nilo, os animais e o próprio Faraó eram considerados divindades.
O Eterno quis demonstrar que nenhuma suposta divindade poderia deter Sua vontade, pois que cada elemento da natureza era Seu servo. D’us queria tirar dos judeus qualquer vestígio de paganismo porventura assimilado em sua longa permanência naquela terra. Além do mais, no Egito, idolatrava-se a matéria – a abundância e a fartura – e, ao transformar o Nilo em sangue, ao destruir as colheitas e os bens egípcios, D’us provou que a Terra inteira Lhe pertence e que tudo que o homem possui advém d’ Aquele que a tudo criou.…” (AS dez pragas do Egito. Revista Morashá, edição 56, abr. 2007. Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=656&p=1 Acesso em 26 nov. 2013).
– Moisés foi até onde estava Faraó, levantou a sua vara e todas as águas do rio Nilo se tornaram em sangue. Muitos discutem se houve a transformação da água em sangue mesmo ou se a água tomou uma forma avermelhada, em virtude de uma transformação química, que tornou a água sem oxigênio, havendo aqueles, como o jornalista investigativo judeu-canadense Simcha Jacobivici (documentário O Êxodo decodificado. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=jcPAJUIeZJk Acesso em 26 nov. 2013) ou o teólogo católico Estêvão Bittencourt (As dez pragas do Egito. Disponível em: http://cursodeteologiasaojorge.wordpress.com/about/as-dez-pragas-do-egito/ Acesso em 26 nov. 2013), que tenham trazido evidências de que esta transformação da água em sangue seja, evidentemente, uma contaminação da água. Seja uma coisa, ou outra, o fato é que Deus começava a agir e principiava naquele que era a pedra de toque de toda a vida egípcia, o rio Nilo, fonte de toda a vida naquele país.
OBS: “…O início do Êxodo significa diretamente a disjunção definitiva entre Israel e o Egito, na medida em que a água do Nilo, que, para os egípcios é, sob todos os aspectos, a água da vida, é escolhida como local e meio de morte para os bebês israelitas do sexo masculino.(…). Não é, pois, de surpreender que a fonte da vida do Egito, o Nilo, logo na primeira das dez pragas transforme-se em uma torrente de sangue – uma insinuação inequívoca de Deus ao Egito de que a morte atacará sob muitas formas.…” (FOKKELMAN, J.P. op.cit., p.73).
– Esta praga atingiu somente as águas do rio Nilo, pois o Nilo era uma divindade e era este o objetivo divino, mostrar que Ele era o único e verdadeiro Deus e que os deuses egípcios nada eram, sendo esta a razão pela qual os egípcios puderam beber de águas cavadas de poços, ou seja, águas que não pertenciam ao rio (Ex.7:24).
– Diante deste sinal, Faraó convocou os magos do Egito, que também puderam realizar o mesmo sinal, o que fez com que Faraó, mesmo diante da catástrofe, se mantivesse irredutível. A praga durou sete dias (Ex.7:25).
– Após esta praga, Moisés, por ordem de Deus, foi novamente à presença de Faraó, a fim de pedir-lhe que deixasse Israel ir para que servisse ao Senhor, sob pena de a terra ser infestada com rãs, rãs que eram também adoradas no Egito, a deusa Heqet, que era considerada a deusa da fertilidade. Faraó não se deixou intimidar pela mensagem de Moisés e, diante disso, Moisés mandou que Arão estendesse sua mão sobre o rio e de lá vieram milhares e milhares de rãs que infestaram o Egito, invadindo as casas, dormitórios, camas, fornos e as casas dos egípcios (Ex.8:1-6).
– Faraó, então, uma vez mais chamou os magos, que também fizeram o mesmo sinal (Ex.8:7), fazendo também fazer subir rãs do rio, para infestar todo o Egito. No entanto, parece que falharam em tentar desfazer o que fora feito, de modo que Faraó teve de chamar Moisés e Arão, para lhes pedir que a praga cessasse (talvez, ao contrário do que ocorrera com a primeira praga, tivessem se passado sete dias sem que a praga cessasse).
– Moisés, então, atendeu ao pedido de Faraó, pedindo que o rei egípcio dissesse quando ele deveria orar, tendo Faraó dito que fosse no dia seguinte. E, com este tempo predeterminado, Moisés orou ao Senhor e a praga cessou, tudo para mostrar, como disse Moisés, que era Deus quem tinha o absoluto controle sobre os eventos que estavam a ocorrer. As rãs morreram repentinamente, de uma só vez, prova de que Deus estava naquele assunto, mesmo sendo a rã a “deusa da fertilidade” (Ex.8:7-14).
– Entretanto, quando cessou a praga, Faraó agravou seu coração e não deixou o povo de Israel ir. Aqui vemos, aliás, que o medo e o pavor não convertem pessoa alguma, pois onde há medo não há amor (I Jo.4:18). Faraó, a partir de então, demonstrará sempre medo em virtude da manifestação do poder divino, mas, cessada a praga, endurecerá seu coração, mantendo-se insensível, resistindo ao Senhor.
OBS: “Não o amor mas o medo é que fazem os infiéis buscar a Deus” (nota da Bíblia de Genebra a Ex.8:8) (Disponível em: http://www.reformedreader.org/gbn/gbnexodus.htm Acesso em 28 nov, 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
– Faraó pediu que Moisés orasse para que a praga cessasse e Moisés atendeu ao pedido de Faraó e a praga cessou. Há muitos que fazem como Faraó em nossos dias: pedem oração, os servos de Deus intercedem pela pessoa, ela é atendida em seu desejo, mas, infelizmente, estas pessoas beneficiadas pelo poder de Deus mantêm seus corações duros para o Senhor, continuando a viver em pecado. Tomemos cuidado, amados irmãos, para que não sejamos novos Faraós.
– Diante da obstinação de Faraó, Deus, então, mandou que Moisés mandasse Arão estender uma vez mais a vara e ferisse o pó da terra para que ele se tornasse em piolhos por toda a terra do Egito. Era a terceira praga, praga que atingiu a todos os egípcios e a seus animais, inclusive os sacerdotes, que, ao serem atingidos pelos piolhos, mostram toda a sua fragilidade, a sua humanidade, desvendando-se, então, a crença de que, por serem intermediários entre o povo e os deuses, eram dotados de uma qualidade superior.
– Faraó, então, chamou novamente os magos e, desta vez, eles não puderam imitar o sinal produzido por Moisés e Arão. E por que não o puderam? Porque não é possível que o inimigo produza vida. A vida é uma exclusividade divina e, portanto, havia se imposto um limite à atuação maligna. Era mais uma evidência a Faraó de que Deus era o único e verdadeiro Deus. Aliás, são os próprios magos quem dão este diagnóstico a Faraó, ao dizer que as pragas eram “o dedo de Deus” (Ex.8:19). Mas, nem assim, Faraó se demoveu.
OBS: Agostinho ensina que a expressão “dedo de Deus” representa a ação do Espírito Santo nos milagres produzidos por Moisés. Para isto ele se vale do fato que, nos Evangelhos, é dito que Jesus expulsa os demônios pelo “dedo de Deus” em Lc.11:20 e, no texto paralelo, em Mt.12:28, é dito que Jesus expulsa os demônios pelo “Espírito de Deus”, fazendo-nos entender que “dedo de Deus” significa “Espírito de Deus”.
– É por isso que Deus age, com relação ao Egito, por etapas, pois jamais o juízo divino vem de uma só vez, porque o Senhor é longânimo, tardio em irar-Se (Ex.34:6; Nm.14:3; Ne.9:17; Jl.2:13; Na.1:3; II Pe.3:9).
OBS: “…A pergunta, porém, permanece: Por que, ao invés de atingir os egípcios com um único golpe, D’us optou por um processo gradual e crescente? Por que foram necessárias Dez Pragas? Segundo nossos Sábios, são inúmeros os motivos. O Midrash revela que cada praga foi consequência direta de uma ação específica e equivalente mau-trato, tortura ou crueldade perpetrados pelos egípcios contra os Filhos de Israel. A Justiça Divina determinara que os egípcios deveriam ser punidos “medida por medida” pelas crueldades cometidas contra Seu Povo.
Além do mais, a sucessão de pragas e os avisos que as precederam eram necessários para dar ao Faraó a oportunidade e o tempo de reconsiderar suas ações, arrependendo-se da crueldade perpetrada contra os judeus. Somente após o rei do Egito ter “endurecido seu coração” e, repetidamente, se recusado a libertar o povo judeu, as portas do arrependimento finalmente se fecharam. Maimônides explica que, às vezes, o castigo que D’us impõe a quem cometeu um grave pecado é privá-lo da possibilidade de se arrepender. Este é o significado da expressão usada na Torá, “Endurecerei o coração do Faraó”.…” (AS dez pragas do Egito. Revista Morashá. end. cit.).
– Nesta terceira praga, temos o encerramento de uma primeira série, ou seja, o primeiro dos três objetivos traçados por Deus com as pragas, que era o de fazer os egípcios saberem que Deus era o Senhor (Ex.7:5,17). “…A afirmação indica que o objetivo da primeira série é estabelecer a inegável existência de um D’us Único, Criador Absoluto e Senhor do Universo.…” (AS dez pragas do Egito. Revista Morashá, end.cit.).
III – A SEGUNDA SÉRIE DE TRÊS PRAGAS E AS PROPOSTAS ARDILOSAS DE FARAÓ
– Faraó fora advertido pelos próprios magos a respeito da manifestação do poder do Deus dos hebreus sobre o Egito, mas o rei egípcio se mantinha irredutível. “…As Dez Pragas formam um sistema coerente, de intensidade crescente. A cada recusa do Faraó em atender a ordem divina de deixar Israel partir, uma nova calamidade se abate sobre o Egito.…” (AS dez pragas do Egito.end.cit.).
– Ante a recusa de Faraó, o Senhor ordena que Moisés, uma vez mais, se apresentasse a Faraó, quando este estava a sair das águas, exatamente quando ocorrera na primeira praga, pedindo ao soberano do Egito que atendesse ao pedido para que Israel fosse liberto, sob pena de que haveria infestação de moscas, o que, entretanto, não ocorreria na terra de Gósen, onde habitavam os hebreus, para que houvesse ciência de que Deus fazia separação entre egípcios e hebreus (Ex.8:20-23).
– Havia, até então, dúvida por parte de egípcios e de hebreus se os acontecimentos eram realmente da parte do Senhor Deus de Israel ou se eram coincidências ou fenômenos naturais. Há estudiosos, inclusive, que defendem que aqueles acontecimentos, apesar de terem sido mais drásticos, eram conhecidos dos egípcios.
– Faraó, certamente, até a terceira praga, não se deixara impressionar pelos eventos, mas, agora, que os magos lhe haviam dito que aquilo era “o dedo de Deus”, talvez tivesse ficado em dúvida a respeito do que haviam afirmado os magos.
– Até então, o texto bíblico não faz qualquer menção se os hebreus sofreram, ou não, as três primeiras pragas. Muito se discute com relação a isto, havendo quem ache que as águas do Nilo tornadas sangue atingiram tanto a israelitas quanto a egípcios, já que, como vimos, as águas atacadas foram as do rio, enquanto que as dos poços foram mantidas potáveis. Também não há, no texto sagrado, qualquer exclusão de que rãs e piolhos tivessem atacado apenas egípcios.
OBS: “…A Torá diz que:’os piolhos atacaram homem e animal’ (v.14) sem fazer distinção alguma entre o judeu e o não-judeu. Então, nós podemos presumir que, ao nível geral, esta praga também afetou o povo judeu.…” (CHUMASH: o livro de Êxodo, p.49).
– Outros entendem que, apesar do silêncio do texto bíblico, não faz o menor sentido achar que os hebreus também tivessem sido atingidos, pois, neste caso, Deus não estaria dando prova de sua existência em detrimento dos falsos deuses egípcios e que as águas utilizadas pelos hebreus não se tornavam sangue ou voltavam a ser potáveis quando eram utilizadas pelos israelitas, como também suas casas não haviam sido atingidas pelas rãs nem tampouco haviam eles sido atingidos pelos piolhos, circunstâncias que não ficaram imperceptíveis aos egípcios.
OBS: “…Os castigos que se abateram sobre todo o Egito não atingiram os judeus que lá viviam ou a terra de Goshem onde habitavam. Ao fazer esta distinção entre o opressor e o oprimido, manifestou-se no mundo terreno a Justiça Divina. Foi revelado ao homem que todos seus atos têm
consequências, sejam bons ou ruins. As pragas revelaram, também, o poder e eficácia da oração e da ligação com D’us, pois foram as orações de Moshê que puseram fim a cada uma das pestilências.…” (AS dez pragas do Egito. end.cit.)
É também o entendimento de Agostinho: “…As pragas do Egito não se estenderam à terra de Gósen (…). O que a Escritura observa aqui [Ex.8:21,22, observação nossa], para não o repetir constantemente, é preciso compreender que ocorreu tanto nos milagres seguintes, quanto nos precedentes deste: o país habitado pelo povo de Deus não foi afligido por qualquer das pragas. Mas era conveniente colocar claramente neste ponto esta observação: aqui, com efeito, começam os prodígios que os magos não puderam imitar: e, com muita certeza, é porque as moscas encheram todo o reino de Faraó, com exceção da terra de Gósen, que os magos se esforçaram, mas sem sucesso, para também produzi-los. Tanto é que fracassaram em sua arte que o texto sagrado não diz que a terra de Gósen foi preservada, mas assinalou a separação dos dois países quando começam os prodígios que os magos não ousaram mais imitar.…” (Sobre o Heptateuco. Livro II. Questões sobre o Êxodo: questão primeira. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 28 nov. 2013, citações de Ex.8:20-32) (tradução nossa de texto em francês).
A Bíblia de Estudo de Genebra, em nota a Ex.8:6 é explícita ao afirmar que a terra de Gósen não foi afligida pela praga das rãs, indicando, portanto, que o entendimento é também de que nenhuma das pragas atingiu o povo hebreu.
– Agora, porém, o Senhor fez questão de dizer a Faraó, por intermédio de Moisés, que havia uma separação entre os israelitas e os egípcios e isto ficaria muito claro na praga que se seguiria. Não se tratava, portanto, de, a partir de então, os israelitas não sofrerem as pragas, mas ficava bem claro que o fato de Israel nada ter sofrido até ali era algo proposital, era a mão de Deus que estava a atuar.
– Mesmo diante destas evidências e da sanação da dúvida que, certamente, invadira o coração de Faraó, o rei egípcio manteve-se irredutível e, então, adveio a quarta praga, a primeira da segunda série, que tinha por objetivo mostrar aos egípcios que Deus era “o Senhor no meio da terra” (Ex.8:22), “estendendo a Sua mão sobre o Egito” (Ex.7:5). Era o momento de mostrar a Divina Providência, ou seja, “…que a Mão de D’us está presente em tudo o que acontece na vida dos homens e das nações…” (AS dez pragas do Egito. end.cit.).
– Faraó não se intimidou e a praga veio assim como Moisés dissera, vindo enxames de moscas que invadiram as casas dos egípcios, a começar do palácio de Faraó, de tal sorte que “a terra foi corrompida dos enxames” (Ex.8:20-24). De nada adiantaram a suposta proteção que os deuses egípcios davam às casas e às pessoas. Todas foram invadidas pelas moscas, que incomodavam a todo egípcio.
– Faraó sabia que não adiantava mais recorrer aos magos e, por isso, diante da consumação da praga, não teve outra alternativa senão chamar Moisés e Arão. Entra, aqui, então, uma nova tática por parte de Faraó. Antes, Faraó recorrera aos magos e, diante da imitação dos sinais, simplesmente ignorava Moisés e Arão. Depois, na terceira praga, veio com a tática do pedido de oração, diante da impotência dos magos, mas, cessada a praga, tornou a ignorar Moisés e Arão.
– Agora, ao chamar Moisés e Arão, apresentou uma nova estratégia: a tentativa da cooptação. Apresentou uma proposta de acordo, segundo a qual, o povo poderia, sim, sacrificar a Deus, mas desde que fizesse na própria terra do Egito (Ex.8:25).
– O pedido original de Moisés, feito sob ordem divina, era de que eles fossem sacrificar no deserto, caminho de três dias (Ex.3:18; 5:3). Como vimos na lição anterior, esta exigência mostra a necessidade de haver separação do pecado, santificação. O povo deveria adorar a Deus no Sinai, no monte onde Deus havia Se apresentado a Moisés, como era a vontade do próprio Deus (Ex.3:12).
– A adoração a Deus não se faz da maneira que queiramos ou que se torne possível, mas da maneira e do modo que Deus quer e exige. Quando adoramos a Deus, estamos reconhecendo o Seu senhorio e não há como fazermos isto sem que reconheçamos que Ele é, que Ele manda e que nada pode ficar à nossa vontade, à nossa mercê.
– Faraó queria determinar o lugar da adoração e, precisamente, que a adoração se fizesse na própria terra do Egito, apesar de Deus ter deliberadamente dito que estava a fazer distinção entre Egito e Israel, entre o Seu povo e o povo que estava a oprimir os hebreus.
– Quantos, infelizmente, nos dias em que vivemos, sucumbem diante desta proposta de Faraó e resolvem adorar a Deus no Egito, ou seja, fazer uso dos costumes, práticas e técnicas mundanos para oferecer sacrifícios a Deus. Isto não é possível, amados irmãos! Isto é abominação aos olhos do Senhor! Lamentavelmente, não são poucos, são mesmo a maioria que tem adorado a Deus no Egito, que não saem do Egito e querem, mesmo assim, ser agradáveis a Deus. Egito é lugar de morte, Egito é lugar de pecado, Egito é lugar de desagrado a Deus, como, então, podemos, no Egito, oferecer sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm.12:1,2)? Impossível!
OBS: “…Notem: aqueles que desejam oferecer um sacrifício aceitável a Deus devem: (1) Separar-se dos ímpios e profanos, pois não podemos seguir simultaneamente ao Pai das luzes com as obras das trevas, a Cristo e a Belial – II Co.6:14 etc. Sl.26:4,6. (2) Devem se retirar das distrações do mundo e ficar o mais longe que puderem do barulho delas. Israel não poderia fazer festa ao Senhor entre os fornos de tijolos ou entre os potes de carne do Egito.…” (HENRY, Matthew. Comentário sobre toda a Bíblia. com. Ex.8:20-32. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/exodus/8.html Acesso em 28 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
– Moisés, no entanto, não se deixou levar por esta proposta indecente de Faraó. Como bem afirma uma nota da Bíblia de Genebra a Ex.10:26: “os ministros de Deus não devem ceder nem um til para os ímpios, em consideração à sua missão” ( tradução nossa de texto em inglês disponível em http://www.reformedreader.org/gbn/gbnexodus.htm Acesso em 28 nov. 2013). Disse que não convinha que sacrificassem ao Senhor “a abominação dos egípcios” e isto, inclusive, causaria escândalo aos próprios egípcios, que, deste modo, quereriam até apedrejar os hebreus. Pediram, então, Moisés e Arão, que se permitisse que eles caminhassem três dias no deserto e que o sacrifício se desse segundo a vontade do Senhor (Ex.8:26,27).
OBS: “Os egípcios tinham ídolos de touros e de carneiros, e não poderiam tolerar que tais animais fossem sacrificados a outro Deus. Não havia jeito de evitar a ordem original dada em Ex.5:3, que Moisés passa a repetir.” (BÍBLIA SHEDD, com, Ex8:26, p.84)
“…estes animais eram abomináveis para os egípcios, com quem tinham tido largo trato os hebreus, e não os ofereciam a seus deuses, segundo se diz em Ex.8:26: as abominações dos egípcios é o que devemos imolar ao Senhor, nosso Deus. Os egípcios, ao contrário, rendiam culto às ovelhas, veneravam os bodes, sob cuja figura se lhes apareciam os demônios; e os bois, a par de empregá-los na agricultura, eram contados entre os seres sagrados…” (TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica I-II, q.102, 3. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 28 nov. 2013 , citações de Ex.8:20-32) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Faraó, então, apresenta a segunda proposta. Disse que deixaria o povo sacrificar fora do Egito, mas desde que não fossem tão longe e que, obrigatoriamente, também orassem por ele (Ex.8:28).
– Diante desta proposta, Moisés se calou, não dizendo nem que sim, nem que não. O importante era poder sacrificar ao Senhor, fora da terra do Egito. A questão de “não ir tão longe”, o que pressupunha não caminhar os três dias determinados por Deus, foi desconsiderado por Moisés. Usando de prudência e sabedoria, Moisés disse que oraria para que as moscas fossem retiradas, mas advertiu Faraó que não mais enganasse o povo, mantendo a dureza de seu coração e, assim, no dia seguinte, quando orasse, as moscas seriam retiradas, o que realmente ocorreu (Ex.8:28-31).
– Cessada a praga, todavia, Faraó não deixou o povo de Israel ir, endurecendo ainda esta vez o seu coração (Ex.8:32).
– Embora tenha sido desconsiderada por Moisés, o fato é que esta proposta de Faraó também era inadmissível. Moisés tinha de atender rigorosamente à ordem do Senhor, que era o caminho de três dias no deserto, não podendo ficar “perto demais”. A ordem, também, era para que fossem feitos sacrifícios ao Senhor, que Ele fosse adorado, de modo que, também, incabível era uma “oração por Faraó”, como que se dividindo a atenção da adoração com Faraó.
– Nos dias em que vivemos, muitos, infelizmente, têm também caído na tentação de sucumbir a esta proposta ardilosa de nosso inimigo, que recomenda “não ficar longe do mundo” bem como “dividir suas atenções com o adversário”. Muitos não chegam a se envolver definitivamente com o mundanismo, mas não querem ser “radicais”, fazem concessões ao mundo, ficando “não muito longe” do pecado, o que os faz se embaraçar com as coisas desta vida.
– O apóstolo Paulo foi categórico ao dizer que quem deseja ser um soldado de Cristo Jesus neste mundo não pode se deixar embaraçar com as coisas desta vida, sob pena de desagradar a Deus (II Tm.2:4) e o escritor aos hebreus mostra que, em nossa vida espiritual, devemos deixar tanto o pecado quanto o embaraço, para que possamos ter o mesmo fim glorioso que teve Nosso Senhor e Salvador (Hb.12:1,2).
– “Não ir longe” e “orar também por Faraó” é uma terrível armadilha do inimigo de nossas almas que tem conseguido, com isso, derrubar muitos crentes que, iludidos por esta proposta, acabam por pecar, pois Deus não admite compartilhar a Sua glória com pessoa alguma, nem tampouco que o povo fique a coxear entre dois pensamentos (I Rs.18:21). Tomemos cuidado, amados irmãos!
– Deus manda que Moisés compareça novamente diante de Faraó, avisando-lhe da quinta praga, a praga da peste dos animais, apenas dos animais dos egípcios, visto que o Senhor anuncia, uma vez mais, que faria separação entre Egito e Israel, dizendo, inclusive, que a praga se daria no dia seguinte, no tempo determinado por Deus. O Senhor estava a mostrar a Faraó que era um Deus que se fazia presente no meio dos homens, que tinha absoluto controle sobre a natureza, de nada adiantando recorrer aos deuses egípcios de curas.
– No dia seguinte, todo o gado dos egípcios morreu e Faraó mandou conferir para saber se o gado dos hebreus havia sido atingido, mas, mesmo constatando que nada havia acontecido com os animais dos israelitas, não se deu por vencido, endurecendo o seu coração (Ex.9:1-7).
– Deus, então, mandou que Moisés e Arão tomassem seus punhos cheios de cinza do forno e Moisés a espalhasse para o céu diante dos olhos de Faraó e estas cinzas se tornariam pó miúdo sobre toda a terra do Egito e isto se tornaria em sarna, que arrebentasse úlceras nos homens e no gado, de toda a terra do Egito. Era a praga das úlceras, que, inclusive, atingiu os magos que nem diante de Moisés e Arão podiam ficar (Ex.9:8-11). Ainda assim, Faraó não se demoveu, recusando deixar ir o povo de Israel adorar o Senhor (Ex.9:12).
-Por que os magos também foram atingidos pelas úlceras? Além de ser pelo fato de também serem egípcios, o comentarista bíblico Matthew Henry (1662-1714) entende que isto se deveu, também, por outro fator, a saber: “…eles foram punidos: (1) por terem ajudado a endurecer o coração de Faraó, como Elimas por buscar perturbar os retos caminhos do Senhor [At.13:10, observação nossa]; Deus tomará contas severamente daqueles que fortalecem as mãos dos ímpios em sua impiedade. (2) por fingirem imitar as pragas anteriores, fazendo delas para si mesmos e para Faraó um esporte.
Aqueles que quiserem produzir piolhos, contra suas vontades, produzirão úlceras. Notem: é mal zombar dos juízos de Deus, mais perigoso do que brincar com fogo. Agora, pois, não mais escarneçais, para que vossa ligaduras se não façam mais fortes [Is.28:22, observação nossa]. 2. Consequentemente, eles foram envergonhados na presença de seus admiradores. Quão fracos eram os seus encantamentos que eles não podiam sequer se garantir a si mesmos! O diabo não pode dar proteção alguma para aqueles que estão em aliança com ele. 3.
Consequentemente eles foram lançados no campo. Seu poder estava restrito antes de Ex.8:18, mas eles continuaram a confrontar Moisés e confirmar Faraó em sua incredulidade, até então e, finalmente, eles foram forçados a se retirar, e não puderam mais se manter diante de Moisés, a que o apóstolo se refere em II Tm.3:9, quando diz que a todos será manifesto o seu desvario.…” (op.cit. com. Ex.9:8-12. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/exodus/9.html Acesso em 28 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
– Mas como havia úlceras no gado, se o gado havia morrido na praga anterior? Devemos observar que somente o gado que se encontrava no campo foi atingido pela quinta praga, pois assim o Senhor havia dito por meio de Moisés em Ex.9:3, de modo que o gado que não estava no campo quando da praga ainda se manteve vivo, mas, agora, sofria a praga das úlceras.
– “…Esta segunda série de pragas foi uma clara demonstração de que a Providência Divina, a Mão de D’us, está presente em tudo o que acontece. O fato de nenhum judeu ter sido atingido era mais uma prova de que D’us controla tudo que ocorre no mundo, inclusive o comportamento dos animais e as aflições físicas.…” (AS dez pragas do Egito. end.cit.).
III – A TERCEIRA SÉRIE DE PRAGAS E NOVAS PROPOSTAS ARDILOSAS DE FARAÓ
– Faraó não se demovera com as seis pragas que já haviam assolado o Egito. Assim, fazia-se necessário prosseguir com o flagelo, com a manifestação do poder por parte do “Deus dos hebreus”. Como afirma Russel Shedd: “…aqui podemos ver as punições se acumulando à medida que o ser humano resiste às mensagens de Deus.…” (BÍBLIA SHEDD, com. Ex.7:22, p.83). “…As Dez Pragas formam um sistema coerente, de intensidade crescente. A cada recusa do Faraó em atender a ordem divina de deixar Israel partir, uma nova calamidade se abate sobre o Egito. As primeiras nove são divididas em três séries, de três pragas cada, que se sucedem de acordo com um plano. Cada série aumenta em progressão em direção a um clímax, sendo que a última serve de prelúdio para a décima praga – a Morte dos Primogênitos. Em cada série D’us manifesta Seu poder, mudando o curso das leis da natureza em uma das três esferas da Criação – a terra, a atmosfera e os céus.…” (AS dez pragas do Egito. end.cit.).
– Deus manda, então, que Moisés vá uma vez mais à presença de Faraó, de manhã cedo, como fizera antes do início de cada série anterior de pragas, pedindo que o povo de Israel fosse liberto, sob pena de serem enviadas pragas que mostrassem que “não há outro como o Senhor em toda a Terra” (Ex.9:14). Tem-se, então, que a terceira série tinha por objetivo mostrar o infinito poder de Deus sobre a terra, a Sua Onipotência, que faria com que “Israel fosse tirado do meio do Egito” (Ex.7:5).
– O Senhor, nesta mensagem, adverte Faraó que passaria a estender a mão para ferir ao próprio rei e ao povo egípcio com pestilência e para destruição se ele ainda se levantasse contra o povo de Israel, impedindo-os de ir. Diz, ainda, que somente havia mantido Faraó até então com o único fim de mostrar o Seu poder nele e para que o Seu nome fosse anunciado em toda a terra (Ex.9:13-17).
– Como Faraó, porém, se mostrasse duro de coração, insensível, o Senhor mandou que Moisés anunciasse que, no dia seguinte, haveria uma saraiva, ou seja, uma chuva de pedras, de granizo, extremamente grave, que nunca havia ocorrido igual no Egito, tendo, ainda, alertado o povo para que recolhesse o gado remanescente, para que não morressem. Diante deste aviso, alguns dos egípcios temeram ao Senhor e atenderam à recomendação. Era o poder de Deus que já se fazia sentir entre o povo do Egito (Ex.9:13-21).
– Este aviso divino mostra-nos, com absoluta clareza, que Deus não tem prazer na morte do ímpio (Ez.18:23; 33:11), tanto que deu oportunidade real para que os egípcios salvassem seus animais da praga que estava para vir. Como é bom dar ouvidos à Palavra de Deus!
– Moisés estendeu suas mãos aos céus e a saraiva começou, uma saraiva diferente, que era de gelo e de fogo (Ex.9:22-25), a sugerir, segundo alguns estudiosos, que se tratava de uma chuva de pedras vulcânicas e, por isso, fazem relação das pragas do Egito com a maior erupção vulcânica já conhecida da história da humanidade, ocorrido por volta do século XV a.C., na ilha de Thera ou Santorini, perto da ilha grega de Creta, no Mediterrâneo. Com exceção da terra de Gósen, onde moravam os hebreus, tudo o mais foi atingido, com perda total da erva do campo e das árvores, sem falar na morte dos animais daqueles que não haviam aplicado seu coração à Palavra do Senhor. Também haviam se perdido a cevada e o linho, escapando apenas o trigo e o linho (Ex.9:31,32). Totalmente impotentes eram os deuses egípcios que garantiam prosperidade nas colheitas e na criação de animais.
OBS: “…Santorini é o vulcão mais activo do denominado Arco Egeu, sendo constituída por uma grande caldeira submersa, rodeada pelos restos dos seus flancos. Esta forma actual da ilha deve-se, em grande parte, à erupção que há aproximadamente 3.500 anos (cerca de 1680 a.C) atrás destroçou o seu território. Aquela erupção, de grande explosividade, criou a actual caldeira e produziu depósitos piroclásticos com algumas centenas de metros de espessura que recobriram tudo o que restou da ilha e ainda atingiram grandes áreas do Egeu e dos territórios vizinhos. O impacto daquela erupção fez-se sentir em toda a Terra, mas com particular intensidade na bacia do Mediterrâneo. A erupção parece estar ligada ao colapso da Civilização Minoica na ilha de Creta, distante de Santorini 110 km ao sul.…” (Santorini. In: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Santorini Acesso em 26 nov. 2013).
– Diante de tal cataclismo inédito na terra do Egito (o que desmente a afirmação de que os fenômenos descritos eram cotidianos dos egípcios, apenas mais intensos), Faraó não teve outro recurso senão chamar Moisés e Arão, pedindo-lhes que fizessem cessar a saraiva, prometendo, então, que os israelitas sairiam do Egito, não ficariam mais ali (Ex.9:27,28).
– Moisés, então, diante desta proposta de Faraó, prometeu sair da cidade e orar ao Senhor e a praga cessaria, mas, desde logo, mostrou que não se deixava enganar por Faraó, dizendo que ele, mesmo assim, não temeria o Senhor e não cumpriria o seu trato. Mesmo assim, foi, orou ao Senhor e a saraiva cessou e, uma vez mais, Faraó agravou o seu coração, continuou a pecar, tanto ele quanto seus servos (Ex.9:29-35).
– Muitos não agem diferentemente em nossos dias. Também são apanhados por tragédias singulares em suas vidas, acontece algo que jamais seria previsto ou previsível e, diante desta situação, correm ao encontro do Senhor, pedindo a Sua misericórdia e, depois que são atendidos, continuam sua vida de pecado, como se nada tivesse acontecido. Que Deus nos guarde de agirmos como Faraó e seus servos!
– Aqui vemos, também, que se distinguiam, agora, nitidamente, no Egito, dois tipos de pessoas. Aquelas que começavam a dar crédito ao Senhor, tanto que haviam recolhido seus animais ante o aviso divino da praga da saraiva, e os que preferiam servir a Faraó, fazendo-lhe a vontade, alinhando-se plenamente com seu modo de pensar e de agir. Não era mais somente Faraó quem estava a endurecer seu coração, mas também seus servos (Ex.10:1).
– A manifestação crescente do poder de Deus tem este efeito de mostrar claramente quem serve a Deus e quem não O serve. Os milagres, os sinais e as maravilhas servem para confirmar a Palavra, mas também servem para deixar bem claro quem teme a Deus e quem não O teme. Daí porque ser extremamente importante que o poder de Deus se faça presente no meio do Seu povo.
– Deus, então, mostra a Moisés o que se passava no interior do coração de Faraó e dos seus servos e manda que ele vá outra vez à presença de Faraó e que trouxesse uma dura mensagem ao endurecido rei egípcio: “Até quando recusas humilhar-te diante de Mim? Deixa ir o Meu povo para que Me sirva” (Ex.10:1-3).
– Deus toca bem no cerne da questão. Faraó, com a sua soberba, não aceitava “humilhar-se” diante do Deus dos hebreus. Mas o Deus dos hebreus diz que esta humilhação era necessária, pois Ele era o único e verdadeiro Deus. Faraó deveria se despir da sua falsa divindade e assumir sua condição de mero homem, algo impensável naquele coração duro e no coração duro de milhões e milhões de pessoas que se recusam a servir ao Senhor. Será que não temos agido como Faraó? Pensemos nisto!
– O Senhor, então, anuncia que, no dia seguinte, ante nova recusa de libertação do povo, traria uma praga de gafanhotos, gafanhotos que liquidariam com aquilo que a saraiva não havia destruído. Era a ruína completa da agricultura egípcia, a perspectiva da fome que pairava sobre o país (Ex.10:1-6).
– Diante desta nova ameaça, os servos de Faraó passaram a fazer pressão sobre Faraó para que permitisse a saída dos israelitas do Egito. Faraó já não tinha mais a unanimidade e o fato de servos seus terem a ousadia de lhe dar “conselhos” era a prova evidente de que o poder de Deus já se fazia sentir entre os egípcios, que esta sendo feito o anúncio da única e verdadeira Divindade.
– Pressionado, sentindo que não gozava mais da disposição e boa vontade do povo, Faraó, então, acaba aceitando receber Moisés e Arão em nova audiência, e, usando de mais uma estratégia, promete mais uma vez que deixaria o povo ir adorar a Deus no deserto, mas, de forma ardilosa, pergunta aos líderes hebreus quem eles tencionavam levar para a adoração (Ex.10:8).
– Moisés, então, disse a Faraó que tencionava levar todo o povo, desde os velhos até os meninos, assim como todos os animais dos israelitas (Ex.10:9). Moisés mostra, com sua resposta, que, para fazer festa ao Senhor, não há qualquer distinção, todo o povo de Deus deve fazê-la, todos devemos cultuar ao Senhor. O povo deve ser um só nesta atividade de adoração.
– Moisés tinha esta consciência num tempo ainda patriarcal, anterior à própria lei. E nós, amados irmãos, que vivemos na dispensação da graça, será que temos esta mesma noção, e isto depois que nos foi revelado pela Palavra que somos o corpo de Cristo e seus membros em particular (I Co.12:12-27)?
– Lamentavelmente, vivemos, em nossos dias, uma indevida segmentação da igreja, com o surgimento de “panelinhas”, “grupelhos”, que quase não se comunicam e que não vivem em comunhão. Perde-se nitidamente a noção de que a igreja é o corpo de Cristo, uma unidade e que todos devem, juntos e unidos, adorar ao Senhor. Muitos “fazem a sua parte” nos cultos e reuniões e, depois, não mais cultuam, chegando mesmo até a se retirar da reunião ou a ficar totalmente alheio ao que se passa na reunião. Acordemos, amados irmãos, pois Moisés diz que, na festa ao Senhor, todos, sem exceção, devem participar!
– Faraó, entretanto, não gostou da proposta de Moisés. Entendeu que havia “mal diante da vossa face” e permitiu apenas que os varões fossem adorar ao Senhor, deixando, então, no Egito, as mulheres, crianças e animais. E, ante esta “ordem” dada por Faraó, retiraram Moisés e Arão da presença do rei (Ex.10:11).
– O inimigo de nossas almas quer, sim, que haja divisão no meio do povo de Deus. Quer que façamos uma “seleção” entre os que devem servir a Deus, dedicar-se à Sua obra e aqueles que podem ficar ociosos, no mundo, dependendo da intercessão dos demais. Já não são poucos aqueles que estão a adotar o mesmo raciocínio “sacerdotalista” que predomina na Igreja Romana, segundo a qual existem aqueles que devem viver exclusivamente para Deus (sacerdotes e religiosos) e aqueles que devem viver “no mundo”, os chamados “leigos”, sem tantas responsabilidades assim.
– Não é esta a proposta divina. Ele quer que todos nós, sem exceção, nos dediquemos a Ele, adoremo-l’O, fazendo, todos, de velhos a meninos, inclusive com o nosso patrimônio, festa ao Senhor. O povo todo deve adorar a Deus, o povo todo deve servir a Deus, o povo todo deve fazer a obra do Senhor. Temos atendido a este anseio divino, ou temos aceitado a vil e ardilosa proposta do inimigo? Pensemos nisto!
– Diante desta nova recusa de Faraó, veio, então, a oitava praga e o Senhor trouxe um vento oriental que trouxe nuvens de gafanhoto que comeram toda a erva da terra e todo o fruto das árvores, tudo que havia sido deixado pela saraiva, arruinando toda a economia egípcia. A praga foi terrível, pois nunca mais se teve tal circunstância em todo o Egito (Ex.10:12-15). Demonstrava-se, portanto, a total impotência dos deuses egípcios que garantiam a prosperidade das colheitas e das criações de animais.
– Faraó, diante da evidente ruína de seu país, apressou-se a chamar Moisés e Arão e, assim, confessou o seu pecado e pediu, então, perdão por ele, pedindo, então, que a praga cessasse (Ex.10:17). Mas, como ensina Charles Spurgeon, o príncipe dos pregadores britânicos, “…a menos que haja uma confissão verdadeira e de coração dos pecados para Deus, não temos promessa alguma que encontraremos misericórdia através do sangue do Redentor. ‘Quem confessa seus pecados e os deixa alcança misericórdia (…). Enquanto um diz ‘Eu pequei’ e recebe perdão – um outro que encontramos dizendo ‘eu pequei’, vai num caminho que o faz andar em trevas com crimes piores que os anteriores e o faz mergulhar em profundezas de pecado que ele nunca tinha antes cometido…” (Confissão de pecados – um sermão com sete textos. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols1-3/chs113.pdf Acesso em 26 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
E entre estes casos, o famoso pregador elenca, precisamente, Faraó, a quem chama de “pecador endurecido”, que somente confessa o pecado quando está sob terror.
– Foi absolutamente infrutífera esta “confissão” de Faraó, pois, assim que os gafanhotos foram embora, o próprio Deus endureceu o coração de Faraó, que, deste modo, não deixou o povo ir (Ex.10:20). Nesta expressão do texto sagrado, vemos que Faraó ultrapassou todos os limites da redenção, pois, após ter confessado o seu pecado, admitido ter transgredido a soberania divina, quis deliberadamente não se submeter ao Senhor, situação que faz com que não seja mais possível perdão. Como afirma Matthew Henry: “…Pequeno crédito é dado às confissões sob angústia. Notem também: aqueles que não melhoram por juízos e misericórdias tornam-se comumente piores do que eram.…” (op.cit. com. Ex.9:22-35. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/exodus/9.html Acesso em 28 nov. 2013). (tradução nossa de texto em inglês).
OBS: “…A Mishná [redução a escrito das tradições orais dos judeus, observação nossa] afirma: ‘Se uma pessoa diz: ‘Eu pecarei, e depois eu farei teshuvá (arrependimento)’, não lhe é concedida a oportunidade para fazer teshuvá’ (Yoma 85a). Isso parece, à primeira vista, sugerir que é negado à pessoa o livre arbítrio de uma teshuvá posterior (…). O mesmo poderia ser dito sobre o Faraó. D’us não tirou o livre arbítrio dele; mas, através de seus atos malvados de perseguir os judeus, ele entorpeceu sua alma, tornando mais difícil para ele fazer teshuvá…” (CHUMASH: o livro de Êxodo, p.61).
– Adveio, então, a nona praga, a última que estudaremos nesta lição, em que o Senhor mandou que Moisés estendesse a sua mão para o céu a fim de que viessem trevas sobre o Egito, atingindo, assim, o próprio Sol, que era considerado uma das principais divindades egípcias, ligada ao próprio Faraó, pois dizia respeito ao deus Rá, considerado o pai de Faraó.
– E, assim que Moisés estendeu sua mão, houve trevas espessas em toda a terra do Egito por três dias, havendo quem associe este fenômeno à chegada da poeira advinda da erupção vulcânica de Santorini. Entretanto, na terra de Gósen, onde habitavam os filhos de Israel, havia iluminação como de costume (Ex.10:21-23).
– Faraó agora era quase que diretamente atingido, pois a falta de luz colocava em xeque o deus Rá, de quem o Faraó se dizia filho. Diante desta situação, Faraó, então, chamou a Moisés e usou, uma vez mais, de artimanha, sugerindo a Moisés que todo o povo fosse adorar ao Senhor, mas que deveriam os israelitas deixar os animais e as crianças (Ex.10:24).
– Faraó mitiga a sua proposta. Antes, não deixava ir senão os varões, mas agora permitia que as mulheres também fossem, mas que as crianças e os animais fossem mantidos no Egito. É uma proposta que não deixava de segmentar o povo, embora aparentemente deixasse de lado o que era mais insignificante, ou seja, bens e crianças.
– Quantos não têm aceitado esta ardilosa proposta do inimigo em nossos dias? Seu patrimônio e seus filhos não servem a Deus. Quantos não têm separado a sua vida patrimonial, econômico-financeira da sua adoração a Deus? Quantos não têm impedido que Deus tenha senhorio sobre o seu patrimônio?
– Quantos não têm, também, deixado que os filhos decidam servir a Deus quando estiverem na idade adulta, deixando-os ser doutrinados pelo maligno que, cada vez mais cedo, têm feito, através da mídia e do sistema educacional, pervertido as nossas crianças?
OBS: “…Satanás faz tudo que pode para impedir aqueles que servem a Deus de trazer seus filhos para servir o Senhor. Ele é um inimigo declarado da piedade precoce, sabendo quão destrutiva ela é para os interesses de seu reino; seja o que for que nos impedir de envolver nossos filhos ao máximo na obra do Senhor, temos razões para suspeitar que aí está a mão de Satanás…” (HENRY, Matthew. op.cit., com. Ex.10:1-11. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/exodus/10.html Acesso em 28 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
– Esta era a última proposta de Faraó, uma proposta terrível, pois, sem animais, como poderiam ser feitos sacrifícios ao Senhor? Por que, sem as crianças, como garantir que o futuro da nação de Israel seria garantido em termos de adoração a Deus?
– Lamentavelmente, muitos, atualmente, ao aceitar esta última proposta do inimigo nas suas vidas, têm sido responsáveis pela asfixia da obra de Deus que, carente de recursos econômico-financeiros, não pode se desenvolver a contento, como também, carente das novas gerações, está fadada a se extinguir. Foi assim que as igrejas na Europa e nos Estados Unidos perderam sua força e vigor e hoje estes países, que tantos missionários mandaram pelo mundo, estão a clamar por missionários de outros países para que possam re-evangelizar estas nações. E, infelizmente, o Brasil está indo para o mesmo caminho. Acordemos, amados irmãos! Não aceitemos esta ardilosa proposta de Faraó!
– Moisés, porém, não se deixou levar pela proposta de Faraó. Pelo contrário, demonstrando grande ousadia, disse que não só iriam os israelitas levar seus animais e crianças, como o próprio Faraó deveria dar animais
para que fossem sacrificados ao Senhor. “Nem uma unha ficará”! Tenhamos a mesma determinação de Moisés! (Ex.10:25,26).
– Faraó, então, indignou-se, tendo seu coração endurecido ainda mais, e, num gesto de evidente soberba, ainda disse que não queria mais ver o rosto de Moisés, pois, no dia em que o visse, o mataria. Moisés, então, sem se intimidar, disse que Faraó havia dito corretamente, pois nunca mais Faraó veria o rosto do líder hebreu (Ex.10:28,29). Como afirma Matthew Henry: “ Quando os homens lançam de si a Palavra de Deus, Ele justamente permite suas desilusões e responde a eles conforme a multidão de seus ídolos. Quando os gadarenos desejaram que Cristo partisse, Ele os deixou…” (op.cit., com. Ex.10:21-29. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/exodus/10.html Acesso em 28 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
– Faraó ainda achava que tinha o controle da situação, que poderia, inclusive, determinar a morte de Moisés. Recusava-se a entender que Deus, o “Deus dos hebreus” era o único Senhor da Terra. E, por causa desta recusa, já tendo arruinado seu país, agora iria arruinar a si próprio. É o que veremos na próxima lição.
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/1T2014_L3_caramuru.pdf