LIÇÃO Nº 3 – E DEUS OS CRIOU HOMEM E MULHER
O homem é a coroa da criação terrena.
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INTRODUÇÃO
– Na sequência dos estudos sobre o livro de Gênesis, estudaremos hoje a criação do ser humano.
– O homem é a coroa da criação terrena.
I – HOMEM: CRIATURA À IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS
– Na sequência dos estudos sobre o livro de Gênesis, analisaremos hoje a criação do ser humano, que é mencionado no capítulo 1 e descrito pormenorizadamente no capítulo 2 do primeiro livro do Pentateuco.
– No relato da criação, no sexto dia, Moisés afirma que, depois da criação dos mamíferos, o Senhor faz como que uma pausa e, numa expressão totalmente distinta do que até então ocorrera, afirma:
“Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra” (Gn.1:26).
– Tem-se aqui uma clara demonstração de como o homem é distinto de todos os seres que existem sobre a face da Terra.
Em vez de simplesmente mandar que o homem fosse feito, como ocorrera até aqui no relato da criação, em relação ao ser humano, houve, antes, uma deliberação divina para que tal criação se fizesse, onde, aliás, mais uma vez se mostra a “realidade plural” do único Deus, pelo uso do verbo “façamos”.
– Tal distinção mostra que o ser humano, ao contrário do que se está hoje a afirmar entre alguns cientistas, não é um ser que possa ser equiparado aos demais seres vivos criados sobre a face da Terra. Muito pelo contrário, Deus não Se limitou a falar, como fez em relação aos demais seres, para que o homem fosse criado, mas tomou a iniciativa de formar o ser humano, como fica bem descrito no capítulo 2 do livro de Gênesis.
– A propósito, é oportuno aqui observar que, no capítulo 1, há a menção da criação do homem ao término do sexto dia da criação, criação esta que é pormenorizada no capítulo 2, que é, assim, uma descrição de como a criação mencionada no capítulo 1 se deu. Isto é importante observarmos para que se tenha uma correta interpretação do texto sagrado.
– Por isso, não faz sentido algum dizer que o homem atual seria fruto da evolução de outras espécies de hominídeos, denominados de “homo erectus”, “homo neandertalenses” ou outras espécies de “pré-homens”.
Já vimos, na lição anterior, que a ideia de evolução é totalmente alheia à verdade bíblica, quanto mais no que concerne à espécie humana. Os fósseis encontrados e que “hipoteticamente” seriam provas destas espécies nada provam por si sós:
ou são fósseis de seres humanos ou de outras espécies que, embora semelhantes ao homem, homens não eram, de sorte que não há qualquer evidência de que o homem atual tenha sido “evolução” de outras espécies.
A propósito, a ciência, recentemente, chegou à conclusão de que todos os homens descendem de um mesmo ancestral, que outro não é senão o primeiro casal descrito na Bíblia Sagrada.
OBS: Como afirma o pastor Ailton Muniz de Carvalho: “…Tudo isso é muito fácil de arquitetar, pois nomes são simplesmente nomes e fáceis de compor, o difícil é provar a existência dos seres aos quais os supostos grandes cientistas deram esses nomes.
Para explicar a suposta evolução do homem, os críticos materialistas usaram o mesmo processo que usaram para o cavalo. Uma longa lista de nomes que pode mais ser um malabarismo etimológico do que qualquer outra coisa analítica. Com a ciência em pleno desenvolvimento, podemos, com o tempo, confirmar que isso tudo não passa de idealismo filosófico.…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. Conheça-me: eu era como você, cheio de dúvidas!, p.154).
– Como afirma Júlio Minham:
“…Nisto de inventar nomes, os evolucionistas são verdadeiros peritos, métodos que aplicaram não só aos animais, mas também ao homem, o que, no fim, lhes resultou em grande confusão. Dizem que os seres evoluíram desde uma simples e microscópica ameba que depois de subir na escala geológica tornou-se um elegante símoio que poucos anos mais tarde se metamorfoseou em um homem inteligente.
‘Houve aproximadamente cento e vinte e cinco milhões de espécies sobre a superfície da terra durante o período que abrange a história da vida orgânica do planeta e, de acordo com Wassmann, a transmutação (evolucionista) de uma espécie intimamente relacionada com outra imediatamente superior ou subsequente, requereria pelo menos mil setecentos câmbios ou variações, comumente chamadas de elos, por conseguinte, temos cento e vinte e cinco milhões de espécies multiplicadas por mil e setecentas variedades, dando-nos o resultado aterrador de duzentos e doze bilhões e quinhentos milhões de formas definidas de vida que devem ter existido para transmutar a ameba em homem’ (Dr Rimmer, ‘The Theory of Evolution’, p.70).
Que essa transmutação não é científica o prova o fato que o embrião humano passa somente por catorze períodos de mudança!
Estas poucas mudanças do embrião nos deixam ver claro que a transmutação das espécies tem quatro abismos intransponíveis, porém, os evolucionistas não se detêm por tão pouca coisa.
Os críticos sabem muito bem, e sempre o souberam, que nenhum dos símios atuais pode ser pai de um ser tão perfeito e tão inteligente como é o homem, e vendo-se diante de uma derrota fragorosa, antes de dar-se por vencidos, saíram a remexer a Terra à cata de fósseis aos quais foram dando os mais pomposos nomes (…).
Não será significativo que, desde os alvores da história, ninguém tenha visto sair das selvas um animal híbrido, meio homem e meio macaco, ou macado-homem?
A coisa nos parece clara, se, desde tanto tempo que admitem a existência do homem a evolução não conseguiu transformar um símio em HOMO SAPIENS, é porque nunca o conseguiu!
Ou será que terminou já o período da Evolução? De maneira alguma, porque se tudo terminasse já de evoluir, conforme a teoria, não somente não deviam existir mais símios nas matas, também não deviam existir as formas inferiores de vida, todas as forma deviam ter alcançado o grau mais elevado na escala geológica.…” (As maravilhas da ciência. 5. ed., pp.68-9) (destaques originais).
– A deliberação divina era de que o homem fosse criado à imagem e semelhança de Deus, ou seja, ao contrário dos demais seres, o homem seria um “reflexo” de Deus, um ser que remeteria ao Criador de todas as coisas, um ser que “representaria” o Senhor sobre a face da Terra.
O homem foi criado para ser um “mordomo”, ou seja, um servo que tivesse a supremacia sobre toda a criação terrena, um administrador de tudo quanto Deus criou sobre a face da Terra.
– É neste sentido, portanto, que se deve entender a expressão constante em Sl.115:16, quando o salmista afirma que o Senhor deu a terra aos filhos dos homens.
Esta “doação” não implica em propriedade, mas, sim, em “administração”, pois a terra nunca deixou de pertencer a Deus (Sl.24:1). Isto é importante observar porque a “teologia da confissão positiva” tem disseminado o falso ensino de que Deus deu a terra ao homem e o homem a entregou a Satanás que, assim, seria, atualmente, “por legalidade”, o possuidor do planeta, o que, à evidência, não corresponde à realidade bíblica.
– Esta posição singular que assumiria o ser humano na ordem da criação fá-lo distinto de todos os demais seres, não podendo, pois, ter guarida o pensamento de que o homem é apenas “mais um ser vivo” que existe sobre a Terra.
O homem foi criado para ser “imagem e semelhança de Deus” e nenhum outro ser tem esta prerrogativa, nem mesmo os anjos que, embora sejam superiores ao ser humano (Sl.8:5), não remetem ao Criador, não foram feitos à Sua imagem e semelhança.
– O homem foi feito à “imagem e semelhança de Deus” porque, em primeiro lugar, tem uma natureza tricotômica, pois é constituído de corpo, alma e espírito (Gn.2:7; I Ts.5:23).
Esta tricotomia do homem remete à Triunidade Divina, pois, assim como Deus é um só, embora seja, simultaneamente, três Pessoas, o homem também é um, embora tenha três elementos, o que nenhum outro ser vivo é.
Com efeito, os vegetais são apenas realidades físicas, enquanto os animais possuem corpo e alma (daí o nome “animal”, ou seja, aquele que é dotado de alma), alma esta, porém, que é perecível e se extingue com a vida física.
– O homem, no entanto, é tricotômico, como nos declara o texto sagrado, ao afirmar como Deus criou o ser humano. Em Gn.2:7, vemos que o homem foi formado por Deus do pó da terra e, neste pó da terra, vemos a criação do corpo humano. A ciência, aliás, tem demonstrado que o corpo humano é formado de todas as substâncias existentes na face da Terra.
Todos os elementos químicos naturais, que se encontram na famosa Tabela Periódica, estão presentes no organismo humano, a nos mostrar que, realmente, o corpo humano é a síntese de tudo quanto há de material sobre a face da Terra.
– A palavra hebraica utilizada aqui para “formar” é “yatsar” (יצר), cujo significado é o de “moldar”, “modelar”, “dar uma forma”.
Deus aqui, pessoalmente, encarrega-Se de dar um forma a este organismo material que seria parte deste ser singular que existiria sobre a face da Terra, um “modelo” que não era resultado de um simples pronunciar de Deus, mas de uma atividade Sua toda especial e até então não verificada na criação de todas as coisas.
– Como se não bastasse esta singularidade do homem em relação aos demais seres vivos terrenos, vemos, ainda, que Deus formou o homem do pó da terra, ou seja, não Se limitou a mandar que o homem fosse criado pelo poder da Sua Palavra, como fizera com tudo o que mais havia sido criado, a mostrar que o homem era distinto e um ser especial em relação aos demais, um ser que teria um propósito totalmente diferenciado.
– Deus não apenas formou o corpo humano do pó da terra, mas, diz-nos o texto bíblico, que também soprou em suas narinas, dando-lhe o fôlego de vida.
Este “sopro” é o espírito do homem, aquele elemento que faria ligação entre Deus e o homem. O ser humano seria o único ser vivo terreno, o único ser dotado de matéria que teria um relacionamento com o seu Criador.
– É a presença deste espírito no ser humano que explica a presença, em todo ser humano, de uma ânsia pelo contato com o seu Criador, que dá ao homem uma dimensão que vai além da matéria, uma espiritualidade que está presente em todo e qualquer homem, como atestam os cientistas sociais, que, ao analisar todo e qualquer agrupamento social, toda e qualquer civilização, constata ali uma religiosidade, uma busca de sentido da vida que vai além da realidade material, que vai além da matéria.
– Verdade é que, no embrutecimento do homem em virtude do pecado, não faltaram aqueles que, ao longo da história da humanidade, tenham tentado reduzir a realidade ao material, tenham tentado negar a existência de uma dimensão espiritual.
No entanto, ao postularem a inexistência de Deus ou de uma realidade espiritual, estão apenas a confirmar que a dimensão espiritual é e sempre será fruto da especulação humana.
– Mas não houve apenas a criação do espírito no homem. Em Gn.2:7 é dito que o homem foi feito “alma vivente”, a nos mostrar que, além do espírito, o homem também foi dotado de uma alma vivente, ou seja, de uma personalidade própria, com intelecto, sensibilidade e vontade, que o distinguia de todos os demais seres sobre a face da Terra.
Esta alma, ademais, ao contrário dos outros animais, seria “vivente”, ou seja, teria vida para sempre, seria imortal.
– Mas a imagem e semelhança de Deus não se limita à estrutura tricotômica do homem. O homem, por ser dotado de intelecto, sentimento e vontade, seria, também, a exemplo de Deus, um ser moral.
– Ao vermos o Senhor pôr o ser humano no jardim que havia formado no Éden, vemos que o homem foi dotado de capacidade de discernir entre o certo e o errado, pois lhe foi dito que não deveria comer da árvore da ciência do bem e do mal (Gn.2:16,17), a demonstrar, portanto, que tinha vontade própria, o chamado livre-arbítrio.
– Por ser dotado de vontade, de livre-arbítrio, o homem se constitui no único ser moral da face da Terra, pois, além dele, somente Deus e os anjos são seres morais, capazes de discernir entre o certo e o errado, entre o bem e o mal.
– Não é à toa, aliás, como veremos infra, que o Senhor não só criou o mundo físico como também, por causa do homem, criou também um mundo moral, um mundo ético, tendo em vista a moralidade que faz do homem, também por este aspecto, imagem e semelhança de Deus.
– Um terceiro aspecto da imagem e semelhança de Deus diz respeito ao papel de administrador que teria o homem em relação à criação terrena. O homem foi criado para “dominar” sobre a criação terrena e, neste domínio, seria semelhante a Deus, que é o Senhor de todas as coisas.
– Um quarto aspecto da imagem e semelhança de Deus diz respeito ao fato de que o homem foi criado para trabalhar. Quando o Senhor pôs o homem no jardim do Éden, disse que ele deveria lavrá-lo e guardá-lo (Gn.2:15), ou seja, deveria ser um ser trabalhador, a exemplo do próprio Deus, que exsurge no texto bíblico trabalhando, criando os céus e a Terra. Cristo Jesus diria, ao revelar completamente a divindade, que Deus é um ser trabalhador (Jo.5:17).
– Vemos, pois, que, logo na deliberação divina para a criação do ser humano, temos aqui um ser distinto, totalmente diferente dos demais que haviam sido criados sobre a face da Terra.
II – A DESCRIÇÃO DA CRIAÇÃO DO HOMEM
– Em Gn.1:26, temos a deliberação divina para a criação do ser humano. No versículo seguinte, é dito que, conforme havia deliberado, Deus criou efetivamente o homem, à Sua imagem e semelhança.
No entanto, traz o texto sagrado uma nova informação, quando afirma que aquilo que Deus havia deliberado se cumpriu. Afirma que o homem foi criado sexuado, pois é dito que “macho e fêmea os criou”.
– Temos aqui mais um fator distintivo da criação do homem em relação aos demais seres. Além de ser o único ser criado com um componente material e outro espiritual, a mostrar que seria o elo entre os céus e a terra, o ser que fazia o “link” entre o mundo material e o mundo espiritual, o ser humano, também, foi o único ser moral sexuado criado.
– Até o surgimento do homem, Deus havia criado os anjos como seres morais, mas os anjos, como nos ensina o Senhor Jesus, são seres assexuados (Mt.22:30; Mc.12:25; Lc.20:35,36), como também havia criado seres sexuados entre os animais, mas seres que eram despidos de moralidade (Gn.2:19,20). Assim, o ser humano é o único ser moral sexuado.
– Quando dizemos que Deus criou o ser humano sexuado, queremos afirmar que homem e mulher são complementares, tanto assim que o texto sagrado aponta que ambos formam “uma só carne” (Gn.2:24), ou seja, homem e mulher precisam um do outro, para que possam ser uma “unidade”.
Na sexualidade, Deus quis trazer mais uma projeção de Sua imagem no ser humano, quis estabelecer mais uma semelhança, qual seja, a comunhão, a unidade.
Assim como Deus é único, um só (Dt.6:4), embora seja uma “realidade plural” de três Pessoas, o ser humano também seria único, quando houvesse a união de um homem e de uma mulher, embora houvesse, também, a distinção das “partes”, dos “sexos” masculino e feminino.
– A palavra “sexo”, aliás, nada mais quer dizer senão “parte”. Homem e mulher são “partes” da humanidade, que, ao se unirem, formam “uma só carne”. Não é, portanto, surpresa que o casamento seja a principal figura utilizada nas Escrituras para descrever a comunhão, a união que deve haver entre Deus e o homem (o livro de Cantares de Salomão; Os.2:16; Ef.5:22-33).
– Também não é surpresa que, diante desta realidade bíblica, o “espírito do anticristo” esteja, em nossos dias, a fomentar a terrível “ideologia de gênero”, ideia segundo a qual a sexualidade é apenas uma “construção cultural” e que os seres humanos é que decidem se serão “masculinos” ou “femininos”.
Tais pensamentos de nítida origem satânica evitam, inclusive, o uso da palavra “sexo”, pois tal vocábulo mostra que homem e mulher são “partes” de uma unidade que somente exsurgirá quando da união de ambos. Deus fez o homem um ser sexuado, criou duas “partes distintas” na humanidade: o homem e a mulher.
– A forma como Deus criou macho e fêmea, porém, não é descrita na sequência do capítulo 1 do livro de Gênesis.
O texto apenas afirma que “macho e fêmea” foram abençoados por Deus e que lhes foi dada a incumbência de frutificar, multiplicar-se e encher a terra, bem como dominar sobre toda a criação, tendo, para tanto, o Senhor dito que toda a erva da terra lhes era dada por alimento, assim como ocorria com os demais animais, encerrando-se, então, a narrativa da criação, que era muito boa aos olhos do Senhor, terminando, assim, o dia sexto da criação.
– O capítulo 2, porém, depois de dizer que, no dia sétimo, Deus acabou toda a criação e descansou, tendo, então, abençoado este sétimo dia e o santificado, passa a descrever como se deu a criação do homem, a nos mostrar, pois, que o capítulo 2 se encontra cronologicamente no sexto dia da criação, entre Gn.1:27 e Gn.1:28.
– O texto sagrado diz-nos que, por primeiro, Deus criou o macho, Adão, nome que, em hebraico (“ ’adamah ” – אדם), significa “terra” ou “homem de terra vermelha”, a indicar que, como já vimos, foi feito do “pó da terra”.
Alguns estudiosos, de forma convincente, acham até que este foi o nome dado tanto ao homem quanto à mulher antes da queda, já que, somente após a queda, é que é dito que a mulher recebeu o nome de “Eva” (Gn.3:20), o que seria uma demonstração de que, com o pecado, a unidade perfeita original havia sido quebrada.
– Deus, como já vimos supra, tomou o pó da terra, que é a síntese de todos os elementos químicos existentes no Universo, formou o corpo do homem e, depois, soprou em suas narinas o fôlego de vida, gerando, assim, tanto o espírito quanto a alma do homem.
– Em seguida, o Senhor plantou um jardim no Éden, a fim de ali pôr o homem que havia criado (Gn.2:8-14), a indicar que a natureza foi criada para o homem e não o contrário, como está a defender o movimento ecológico, notadamente os segmentos mais radicais.
O homem foi criado para dominar sobre a criação terrena e o fato de o Senhor ter formado um jardim no Éden para ali pôr o homem é a demonstração da prioridade que o homem tem em relação ao meio-ambiente.
– Este jardim formado por Deus para o homem possuía todos os elementos necessários para o cumprimento do propósito divino para o ser humano. Havia ali, por primeiro, toda a árvore agradável à vista, pois o ambiente em que viveria o homem deveria contribuir para a sua saúde mental, para a existência de um ambiente favorável à psique do ser humano.
– Por segundo, Deus fez brotar neste jardim toda árvore boa para comida, pois, como já dito, Deus estabeleceu que os vegetais seriam o mantimento tanto para o homem como para os animais (Gn.1:29,30), a mostrar que, até o dilúvio, todos os animais eram herbívoros, inclusive o homem. A natureza foi criada para poder dar o devido sustento ao homem, que, tendo um componente material, dependia de alimentação para a sua sobrevivência.
– Por terceiro, Deus fez brotar neste jardim a árvore da vida, que ficava no meio do jardim, árvore que representava a comunhão que deveria haver entre Deus e o homem.
Através desta árvore, o homem tinha a noção de que não era apenas um ser vivente sobre a face da Terra, mas, sim, um ser escolhido pelo Senhor para dominar sobre toda a criação terrena, dominação esta que dependia da comunhão que teria com o seu Criador.
– Por quarto, Deus fez brotar neste jardim a árvore da ciência do bem e do mal, que era uma árvore que denunciava a soberania de Deus sobre todas as coisas e a necessidade de o homem se submeter ao senhorio de seu Criador.
Esta árvore era interdita ao homem, era o sinal da necessidade da obediência e da harmonia que deveria haver entre a vontade de Deus e a vontade do homem que havia sido criado para dominar sobre toda a criação terrena.
– Por quinto, neste jardim, o Senhor também criou um rio, que tinha quatro braços, que davam os limites do jardim. Mais uma vez, vemos que a água é elemento essencial para que haja vida sobre a face da Terra, ou, ainda, em todo o Universo.
Estes quatro braços do rio foram chamados de Pisom, Giom, Tigre e Eufrates, o que nos permite verificar que o Éden se situava na Mesopotâmia, que é reconhecidamente o berço da civilização humana, pois somente o Tigre e o Eufrates continuaram a existir, pelo menos após o dilúvio.
– “Pisom” significa “canal”, “correnteza cheia”, “grande difusão de águas”. Tratava-se, pois, de um rio que tinha águas imensas. Este “rio de Deus”, portanto, era “imenso”, que dava condições mais do que suficientes para que houvesse vida no jardim e que houve condições de vida para o ser humano.
– “Giom” significa “irrompimento”, “rio corrente”, “fonte”, a indicar que o “rio de Deus” era a “fonte de água viva”, era a fonte da própria vida, não só a humana, mas de todos os seres que habitavam o jardim.
– “Tigre”, também chamado de “Hidequel” (Gn.2:14; Dn.10:4), significa “o rápido”, a indicar que o “rio de Deus” estava sempre presente, não se atrasava nem se adiantava em trazer vida para todo o jardim, para toda a criação terrena, ou seja, que o tempo criado por Deus para nele circunscrever a criação, estava sob Seu absoluto controle.
– “Eufrates” significa “irromper”, “o grande”, “o largo”, “o fértil”, a indicar que “o rio de Deus” remetia à grandiosidade do Criador e à certeza de que o jardim sempre seria fértil, sempre teria condições de manter e sustentar a vida que havia sido criada pelo Senhor.
– Depois de ter criado o jardim e nele posto o homem, Deus lhe deu instruções, regras que deveriam ser observadas pelo Seu mordomo.
– Por primeiro, Deus estabeleceu que o homem deveria lavrar e guardar aquele jardim (Gn.2:15). Ao assim determinar, Deus mostrou ao homem que ele, como administrador, como único ser moral a habitar aquele jardim, tinha condições de modificá-lo, de adaptá-lo às suas necessidades, enfim, de ser o criador da “cultura”, que nada mais é que o conjunto de elementos criados pelo homem para a sua vida terrena.
“Lavrar” significa “modificar”, “amoldar” o ambiente segundo a sua vontade, segundo os intentos que exsurgem no interior do homem, de modo a que ele possa sobreviver sobre a face da Terra. Este é o chamado “mandato cultural” dado ao ser humano por Deus.
– Mas, além de “lavrar” o jardim, o homem também teria de “guardá-lo”, ou seja, o homem tinha o dever de preservar tudo quanto fora criado por Deus.
Embora pudesse modificar o ambiente, o homem não tinha qualquer autorização para destruí-lo, para eliminar qualquer coisa que havia sido criada pelo Senhor. Resulta daí o dever de todo ser humano de preservar o meio-ambiente, algo que está tão em voga em nossos dias.
A modificação possível do ambiente, como também o domínio do homem sobre a natureza, que foi criada em função do próprio homem, em absoluto significa o poder de o homem destruir o que Deus criou.
– Por segundo, Deus estabeleceu que o homem poderia comer de toda a árvore do jardim, com exceção da árvore da ciência do bem e do mal, que lhe foi interditada, pois, no dia em que isto fizesse, certamente morreria, ou seja, perderia a comunhão que tinha com o seu Criador (Gn.2:16,17).
– Ora, esta ordem dada por Deus ao homem mostra não só a moralidade do ser humano, como já dissemos supra, um dos aspectos da imagem e semelhança de Deus, como também mostra que o homem era uma criatura e, como tal, devia obediência e submissão ao seu Criador, apesar da posição singular que possuía na ordem cósmica.
– Nesta ordem, também, vemos que, ao mesmo tempo em que Deus criava o homem, criava um outro mundo ao lado do mundo físico, qual seja, o mundo ético, o mundo moral, como haveremos de ver amiúde infra, onde se determinou quais os princípios que deveriam reger a moralidade humana.
– Deus estabeleceu um limite para o ser humano, para as ações do homem que havia criado, a indicar que o homem, embora fosse imagem e semelhança de Deus, embora fosse o único ser moral sexuado, embora fosse um ser singular na criação terrena, estava abaixo do Senhor e Lhe devia obediência. Deus é o Senhor e o homem deveria ser Seu servo.
– Esta realidade tem sido objeto de “esquecimento” entre muitos falsos mestres, que estão a defender um homem que pode se relacionar de igual para igual com o seu Criador, como se fosse um “deus”, como é o caso da teologia da confissão positiva, que chega ao absurdo de dizer que temos “direitos” em relação a Deus e que Deus é “obrigado” a satisfazer as nossas vontades.
Não é isto que depreendemos do texto bíblico, que mostra que o homem foi posto como uma criatura que, como toda criatura, deve obediência ao seu Criador, encontra-se num patamar inferior ao da Divindade (a propósito, inferior até mesmo aos anjos – Sl.8:5).
III – A DESCRIÇÃO DA CRIAÇÃO DA MULHER
– Mas, depois de ter criado o homem, posto o mesmo no jardim e lhe dado instruções, o Senhor verificou que o homem não podia viver solitário, era um ser social. Por isso, afirmou para Si mesmo: “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele” (Gn.2:18).
– É evidente que esta consideração divina não decorreu de um “erro de cálculo”. Trata-se tão somente de uma forma de expressão que permita a nós entendermos o que foi a deliberação divina.
Em Gn.1:26, já vimos que o Senhor quis criar o homem sexuado, macho e fêmea, e aqui, em em Gn.2:18, há apenas uma expressão que nos permita vislumbrar este projeto divino.
– Deus já sabia que o homem que criara era um ser social, que dependia de companhia para poder não só sobreviver como cumprir o propósito que Deus dele queria, mas, como havia feito o homem como um ser racional, capaz de pensar e de se relacionar com seu Criador, o Senhor, de modo pedagógico, quis que o homem tivesse consciência de sua potencialidade e, por isso mesmo, antes de criar a mulher, quis que o homem sentisse a necessidade que tinha de companhia, tivesse consciência de sua natureza social.
– Assim, o Senhor leva todos os animais criados à presença de Adão e lhe manda que desse nome a todos eles 9Gn.2:19). Ao fazê-lo, o Senhor quis mostrar ao homem que ele era o dominador de toda a criação terrena, pois o gesto de dar nome a alguém é uma demonstração de autoridade sobre aquele ser que é nomeado.
Nossos pais revelam o domínio que tem sobre nós precisamente porque são eles que nos dão o nome que temos, lembrando que, na cultura oriental, o nome não é apenas uma designação, como é na cultura ocidental, mas um sinal de identidade, uma demonstração do caráter do ser.
– Além de mostrar que o homem era superior aos demais seres vivos terrenos, tanto que lhes poderia nomear, o Senhor, também, com esta atitude, quis mostrar ao homem que ele era dotado de razão, dotado de intelecto, de capacidade de pensar e que, portanto, era criativo, podendo se constituir numa espécie de parceiro do próprio Deus, tendo condições de modificar a natureza que fora criada pelo Senhor e, mais do que isto até, comunicar-se de forma inteligível e articulada, tanto que era capaz de criar palavras.
A linguagem humana, ao contrário do que dizem alguns cientistas, é totalmente distinta da eventual linguagem que possam ter os outros seres vivos, pois é a expressão da sua razão, é a própria expressão do homem interior, deste componente imaterial que só o homem possui na criação terrena.
– Adão, então, obedientemente, deu nome a todos os seres e, usando de seu intelecto, pôde perceber, sem que Deus o falasse, que todos os animais tinham seu parceiro, que todos tinham a sua companhia, mas que ele estava só. Adão, então, sentiu a necessidade de uma companhia, notou que era um ser social, que não era bom que estivesse sozinho (Gn.2:20).
– Deus havia cumprido o Seu propósito de fazer Adão sentir a necessidade de uma companhia e, mais do que depressa, para que esta consciência não o fizesse sofrer, ter uma melancolia, fez cair sobre ele um profundo sono, a primeira “anestesia” da história e realizou, também, a primeira cirurgia, tomando uma das costelas de Adão e dela fazendo surgir a mulher (Gn.2:21).
– Esta narrativa bíblica apresenta importantíssimas lições. A primeira é a de que a sexualidade é despertada espontaneamente no ser humano, pois é algo da sua natureza.
Adão foi feito macho, assumiu esta consciência posteriormente, tendo havido um “pesado sono” entre o instante desta consciência e o momento em que se uniu com sua companheira.
– É assim que se desenvolve a sexualidade no ser humano. Após o período de formação, onde o ser humano é definido como homem ou mulher, há um intervalo em que ocorre um “profundo sono” do organismo com relação à sexualidade, “sono” este que cessa quando do início da adolescência, quando, então, se desenvolvem os caracteres sexuais secundários, que fazem com que o ser humano fique pronto para a procriação, para se unir a uma pessoa do sexo oposto e, assim, se completar e participar da reprodução da espécie humana.
– Vemos, assim, que, como já dito supra, é uma grande mentira a afirmação de que cabe ao ser humano escolher entre ser “homem” ou “mulher”, o que se daria mediante uma “construção social”, visto que o texto bíblico é bem claro ao mostrar que homem e mulher foram criados antes mesmo que existisse sociedade, apesar de o homem ter sido criado um ser social.
O sexo é determinado naturalmente ( e está aí a genética a demonstrar que os homens têm os cromossomos X e Y, enquanto as mulheres têm dois cromossomos X), pela vontade divina, sendo que há dois períodos bem determinados para a fixação de tal sexualidade: o inicial, ocorrido durante a formação do próprio corpo, na fase intra-uterina, e outro, que é a final, desenvolvida na adolescência, quando são desenvolvidos os caracteres sexuais secundários.
– Por isso, é completamente desordenadora e confrontadora da natureza a chamada “erotização infantil”, este movimento levado avante pelo inimigo de nossas almas em que se pretende “despertar precocemente” o ser humano do “pesado sono de Adão”, atiçando a sensualidade e a vida sexual ainda na infância, quando o ser humano ainda não está preparado para a sexualidade, quando ainda o corpo não está pronto para exercer toda a sexualidade.
– A cada dia que passa, seja pela própria alimentação, seja pelos estímulos provocados na sociedade, máxime pela mídia, nossas crianças têm sido levadas a assumir uma posição diante da sexualidade, a ter relacionamentos sexuais e o resultado disto outro não é senão uma série de distúrbios e de prejuízos para a formação física, moral e espiritual da pessoa, o que, aliás, tem levado muitos a adotar o homossexualismo, como se isto fosse “natural”, mas, simplesmente, a consequência de uma perversão da própria natureza humana, provocada por estímulos externos e que nada tem de naturais.
– A segunda lição que aprendemos desta narrativa bíblica é de que homem e mulher são iguais em essência e em natureza. Deus formou a mulher do homem, ou seja, não há qualquer diferença essencial entre homem e mulher.
A mulher foi tirada do homem, num verdadeiro caso de “clonagem”, que faz com que não haja diferença substancial entre homem e mulher: ambos são seres humanos.
– É importante vermos como, na revelação que Deus deu ao homem sobre a sua própria criação, tem-se um posicionamento totalmente distinto daquilo que foi veiculado durante muitos anos entre os pensadores humanos, inclusive os que eram considerados os mais racionais, como era o caso dos filósofos gregos, onde havia uma discussão sobre a própria humanidade da mulher, que era visto como um ser que, ou não era dotado de alma ou, então, possuía uma alma inferior.
Deus mostra que homem e mulher são ambos imagem e semelhança de Deus, ambos têm a mesma essência, não havendo um maior do que o outro, um superior ao outro, em termos de natureza.
– Esta igualdade é reafirmada quando se diz que a mulher foi tirada de uma das costelas de Adão, ou seja, do lado do homem, a demonstrar que homem e mulher deveriam viver lado a lado, eram complementares, não havendo uma superioridade ou inferioridade de um em relação ao outro.
No plano original de Deus, não havia qualquer preponderância entre homem e mulher, ainda que o homem tenha sido criado primeiro, em termos cronológicos. Esta diferença cronológica, no entanto, nada significava, senão a própria consciência que teve o homem da necessidade que tinha da mulher.
Aliás, é assim que o apóstolo Paulo bem sintetiza a situação, quando disse: “Todavia nem o varão é sem a mulher, nem a mulher sem o varão, no Senhor” (I Co.11:11).
– Terceira lição que nos dá o texto sagrado é de que a mulher, embora seja essencialmente igual ao homem, dele é diferente, já que sua estrutura teve como ponto inicial um osso, ao contrário do homem que teve como estrutura fundante o pó da terra.
– Por isso, a sexualidade abrange muito mais do que a simples genitalidade, a simples diferença dos órgãos reprodutores de um e de outro. Bem ao contrário, a sexualidade abrange características distintas não só físicas mas também psicológicas que fazem com que a unidade, a completude somente se construa com a união entre um homem e uma mulher.
– É interessante observar que a palavra hebraica “formou”, em relação à mulher, é diversa da empregada para o homem. Trata-se da palavra “banah” (בוה), cujo significado principal é “edificar”, “construir”. Ao criar a mulher, Deus estava a construir algo maior do que a própria mulher, que era a própria unidade da humanidade, condição “sine qua non” para que o propósito divino fosse alcançado.
– Quando despertou, sem que Deus tivesse falado coisa alguma, Adão, ao ver a mulher, disse que ela havia sido tirada de seus ossos, era carne de sua carne, e, por isso, seria chamada “varoa”, porque do varão havia sido tirada. Assumiu, assim, de livre e espontânea vontade, az oferta que Deus lhe dera, aceitando recebê-la por companheira.
– Esta afirmação de Adão traz-nos uma quarta lição, qual seja, a de que homem e mulher se completam, formam uma unidade, mas que tal completude, tal unidade depende da presença de Deus. Adão estava em plena comunhão com Deus e percebeu que a mulher lhe fora dada como companheira.
É por isso que o apóstolo Paulo diz que homem e mulher precisam um do outro, mas “no Senhor” e, também, é a razão pela qual o sábio Salomão faz questão de descrever a união entre o homem e a mulher como um “cordão de três dobras” (Ec.4:12), a mostrar que esta união é mais uma demonstração da imagem e semelhança de Deus, já que temos aqui, mais uma vez, uma “triunidade”, a exemplo da Triunidade Divina.
IV – A CRIAÇÃO DO MUNDO ÉTICO E DA FAMÍLIA
– Ao deliberar criar o homem, um ser moral que habitaria a Terra, o Senhor, também, criou um “mundo ético”, ou seja, lançou as bases, os fundamentos em que se daria este comportamento moral do homem.
– Já os doutores da lei israelitas, ao se debruçarem sobre o texto bíblico, viram, na criação do homem, as chamadas “setes leis de Noé”, ou seja, os princípios básicos para a conduta do ser humano sobre a face da Terra, a base da ética, que nada mais é que a conduta ideal do indivíduo.
– No Talmude, o segundo livro sagrado do judaísmo, que é a compilação da chamada “tradição” a que alude Jesus em Mt.15:3, o conjunto das normas e regras deduzidas do texto bíblico, denominada de “lei oral” pelos já mencionados doutores da lei, vemos esta ideia a respeito das “setes leis dos descendentes de Noé”, a base de toda a ética, leis estas que são deduzidas de Gn.2:16,17, ou seja, da ordem dada por Deus a Adão quando o pôs no jardim.
– No Talmude Babilônico, no tratado Sanhedrin 56 a-b, encontramos a descrição destes princípios que estariam presentes na ordem dada por Deus ao homem, “in verbis”: “… Nossos Rabbis ensinaram: sete preceitos foram ordenados aos filhos de Noé: leis sociais para prevenir a blasfêmia, idolatria, adultério, derramamento de sangue, roubo e comer carne cortada de um animal vivo. (…).
Rabbi Johanan respondeu: O escrito diz: E o Senhor Deus ordenou o homem dizendo: de toda a árvore do jardim comerás livremente. E [Ele] ordenou refere-se [a observância] leis sociais, e, por isso, está escrito Porque eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do SENHOR, para agirem com justiça e juízo [Gn.18:19].
O Senhor — é [uma proibição contra] a blasfêmia, e, por isso, está escrito, Aquele que blasfemar o nome do SENHOR será morto [Lv.27:16]. Deus — é [uma injunção contra] a idolatria, pois está escrito, Não terás outros deuses diante de Mim [Ex.20:3].
O homem refere-se ao derramamento de sangue [assassinato], pois está escrito Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; [Gn.9:6] – Dizendo – refere-se ao adultério, pois está escrito Eles dizem: Se um homem despedir sua mulher, e ela se ausentar dele e se ajuntar a outro homem [Jr.3:1].
– De toda árvore do jardim — proibição do roubo [desde que era necessário autorizar Adão para comer das árvores do jardim, segue-se que, sem tal autorização, i.e., quando algo pertence a outrem — isto é proibido – nota do editor] – Comerás livremente – proibição de consumo carne cortada de um animal vivo [interpretando isso: comerás livremente daquilo que está pronto para comer, mas não de um animal enquanto está ainda vivo… – nota do editor].
Quando veio o Rabbi Isaac, ele ensinou uma interpretação diferente. E Ele ordenou — refere-se à idolatria; Deus [hebraico “ ‘Elohim’] para a lei social. Agora ‘Deus” se refere corretamente a leis sociais, pois está escrito, Se o ladrão não se achar, então, o dono da casa será levado diante dos ’elohim [juízes] [Ex.22:8].
Mas como “e Ele ordenou’ significa a proibição da idolatria? – Rabbi Hisda e Rabbi Isaac ben Abdimi- uns citaram o verso e depressa se tem desviado do caminho que eu lhes tinha ordenado; fizeram para si um bezerro de fundição etc.[Ex.32:8].
E outros citaram Efraim está oprimido e quebrantado no juízo, porque quis andar após a vaidade [Os.5:11] [Ex.32:8].…” (Disponível em: http://www.come-and-hear.com/sanhedrin/sanhedrin_56.html#56b_12 Acesso em 17 ago. 20150 (tradução nossa de texto original em inglês).
– Estas “sete leis dos descendentes de Noé” são a base do chamado “mundo ético”, criado por Deus concomitantemente à criação do homem, princípios que deveriam nortear a conduta do ser humano sobre a face da Terra, os limites estatuídos pelo Senhor ao Seu mais proeminente servo sobre a face da Terra, princípios estes que seriam retomados, por orientação do Espírito Santo, à Igreja do Senhor no chamado “concílio de Jerusalém”, como verificamos de At.15:28,29, quando se observou o que deveriam observar os servos do Senhor Jesus em termos de moralidade e de conduta, uma vez salvos na pessoa de Cristo.
– Os princípios basilares da ética humana, nestas “sete leis dos descendentes de Noé” são tradicionalmente assim denominados:
Avodah zarah – Não cometer idolatria.
Shefichat damim – Não assassinar.
Gezel – Não roubar.
Gilui arayot – Não cometer imoralidades sexuais.
Birkat Hashem – Não blasfemar.
Ever min ha-chai – Não maltratar aos animais.
Dinim – Estabelecer sistemas e leis de honestidade e justiça.
– Outros estudiosos das Escrituras trazem uma diferente enumeração dos princípios éticos que Deus estabeleceu ao homem quando da sua criação, a saber:
Princípio da dignidade da pessoa humana ou da prevalência do homem sobre toda a criação terrena – Gn.1:26 – o homem é posto como aquele que domina sobre o restante da criação.
Princípio da sexualidade – Gn.1:27 – Deus criou o homem sexuado, macho e fêmea.
Princípio da igualdade – Gn.1:27 – homem e mulher são iguais em dignidade, embora sejam diferentes em estrutura física e psíquica, complementando-se.
Princípio do trabalho – Gn.2:15 – o homem foi feito para trabalhar, para lavrar e guardar a criação terrena.
Princípio da liberdade – Gn.2:16,17 – o homem tem o livre-arbítrio, devendo usar sua liberdade para obedecer e se submeter espontaneamente ao seu Criador.
Princípio da sociabilidade – Gn.2:18 – o homem é um ser social, não foi feito para viver solitariamente.
Princípio da família monogâmica – Gn.2:24 – homem e mulher devem viver unidos, pelos laços do casamento, para poder cumprir o propósito divino, um homem para cada mulher e uma mulher para cada marido.
– É nesta construção de um mundo moral, de um mundo ético, que vemos o surgimento daquela que é a obra-prima da criação, a saber, a família.
Assim que Deus trouxe Eva a Adão e este percebeu tratar-se a mulher daquilo que lhe completaria, temos o surgimento da família, a primeira instituição social surgida, criada pelo próprio Deus. A família é a obra-prima de Deus, pois é através da família que o ser humano poderia cumprir o propósito de Deus para a sua existência.
– Esta família seria formada pelo casamento de um homem e de uma mulher, como nos mostra claramente Gn.2:24, casamento que é o máximo compromisso entre um homem e uma mulher, pois não é possível a união de pessoas do mesmo sexo, pois, neste caso, não se terá a complementaridade exigida para se formar a unidade, pois um homem só pode ser completado por um homem e uma mulher só pode ser complementada por um homem.
– Foi somente após a criação da família que sobreveio a bênção de Deus para a humanidade, como vemos em Gn.1:28, quando é dito que Deus abençoou tanto o macho quanto a fêmea e que o Senhor explicitou qual era o propósito de Deus para o ser humano: frutificar, multiplicar-se e encher a terra, dominando, assim, sobre toda a criação terrena.
– Frutificar significa “dar fruto”. Esta “produção de fruto” mostra a dimensão espiritual do ser humano. O homem deveria produzir fruto, ou seja, deveria ter uma conduta tal que demonstrasse a presença de Deus na sua vida.
Este fruto outro não é senão o “fruto do Espírito”, que é caridade (amor), gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, mansidão, fé e temperança (Gl.5:22), fruto que, após o pecado, só pode ser produzido quando somos escolhidos e enviados por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Jo.15:16).
São os “frutos de justiça” por Jesus Cristo para glória e louvor a Deus (Fp.1:11). Homem e mulher deveriam ter um comportamento que glorificasse ao Criador enquanto administravam a criação terrena.
– Esta frutificação tornava-se possível pela comunhão que havia entre o primeiro casal e o próprio Deus, que, como se deduz de Gn.3:8, diariamente vinha ao encontro do homem para um instante especial de diálogo e de comunicação, momento em que, certamente, o ser humano era instruído e se edificava espiritualmente pela presença e companhia do Senhor com ele.
– Multiplicar significa reproduzir. Homem e mulher deveriam gerar outros seres humanos, a nos mostrar, de pronto, que a atividade sexual é boa, na verdade, muito boa (Cf. Gn.1:31), algo criado por Deus e que, portanto, só pode ser uma boa dádiva (Tg.1:17). Adão e Eva foram criados já com o propósito de se reproduzir e darem origem a outros seres humanos.
– Encher a terra significa que Adão e Eva deveriam procriar para que habitassem toda a Terra e não apenas o jardim onde haviam sido postos no Éden.
A terra fora criada e preparada para que o homem a habitasse. Mais uma vez vemos como é de origem satânica a ideia de alguns ambientalistas de que a preservação da natureza depende do desaparecimento ou, pelo menos, de uma drástica redução da população humana sobre a face do planeta.
– Era esta a harmoniosa, sublime e maravilhosa existência que tinha o homem e a mulher na presença do Senhor, situação que perdurou até que o homem pecasse, a tudo pondo fim, como haveremos de estudar na próxima lição.
Caramuru Afonso Francisco
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