LIÇÃO Nº 4 – A CELEBRAÇÃO DA PRIMEIRA PÁSCOA
A Páscoa era o sinal eloquente de que o resgate do ser humano vem através do sangue do Cordeiro.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo do livro de Êxodo, analisaremos os capítulos 11 a 13, que nos falam da instituição e da celebração da Páscoa, como também da décima praga, a morte dos primogênitos.
– A instituição da Páscoa é o início da formação de uma cultura própria em Israel e o sinal eloquente de que o resgate do ser humano vem através do sangue do Cordeiro.
I – DEUS ANUNCIA A MOISÉS A MORTE DE TODOS OS PRIMOGÊNITOS
– Em prosseguimento ao estudo do livro de Êxodo, estudaremos hoje os capítulos 11 a 13, que nos trazem a décima e última praga sobre o Egito, a morte dos primogênitos, bem como a instituição e celebração da primeira Páscoa.
– Faraó estava endurecendo cada vez mais o seu coração, a ponto de, mesmo estando o Egito em ruína, ter ameaçado Moisés de morte caso fosse ter com ele uma vez mais (Ex.10:28).
– Após ter saído da presença de Faraó, Moisés recebe uma nova palavra da parte do Senhor. Como é bom servirmos a Deus! Ele nunca nos deixa desorientados. Moisés, ao sair da presença de Faraó, deve ter imaginado que haveria de fazer, agora que o relacionamento com Faraó havia se deteriorado por completo, mas o Senhor não deixou Seu servo sem qualquer orientação.
– O Senhor, então, anuncia a Moisés que ainda ocorreria mais uma praga, que seria a última, quando, então, o povo seria libertado. Além de anunciar que ainda haveria uma praga, o Senhor fez questão de deixar claro a Moisés que o povo deveria sair com toda pressa do Egito, pois sabia Deus, em Sua onisciência e presciência, que Faraó se arrependeria rapidamente de permitir a partida dos hebreus (Ex.11:1).
– Neste conselho que o Senhor dá a Moisés, aprendemos, também, que devemos sempre aproveitar o “tempo de Deus”, ou seja, o momento oportuno. Quando temos a possibilidade de fazer algo para Deus, quando nos vem uma oportunidade, não devemos desperdiçá-la, não deixando para amanhã o que podemos fazer hoje, até porque o tempo não está sob nosso controle e é sempre dotado de um propósito (Ec.3:1).
– O Senhor, então, mandou que Moisés fosse ao encontro do povo de Israel e falasse com ele para que pedisse cada varão a seu vizinho e cada mulher a sua vizinha vasos de prata e vasos de ouro (Ex.11:2).
– O efeito das nove pragas é, então, demonstrado. Os israelitas haviam adquirido confiança novamente em Deus e em Moisés. Durante as nove pragas, não vemos Moisés se dirigindo ao povo, mas, agora, após a demonstração do poder de Deus, via que, realmente, Deus estava a pelejar em favor deles. De igual modo, as pragas haviam causado efeito no meio dos egípcios, consoante se vê ao longo do desenrolar de cada praga, a ponto que os egípcios, de boa vontade, acabaram entregando os vasos de ouro e de prata solicitados pelos hebreus. Deus começava a agir, fazendo com que o povo de Israel fosse devidamente indenizado pelo tempo em que fora escravizado e oprimido no Egito (Ex.11:3).
– Alguns comentaristas judeus entendem que a praga das trevas serviu para que os israelitas pudessem, ante a escuridão criada pelo Senhor, entrar nas casas dos egípcios e, assim, verem tudo quanto eles tinham, de modo que, quando o Senhor ordenou que eles pedissem vasos de ouro e de prata, eles tenham podido apontar, escolhendo exatamente o que queriam. Ter-se-ia, então, dado uma justa e correta indenização, com a plena e completa satisfação do credor.
OBS: “…Era o último dia de sua servidão, quando eles estavam para sair, e seus senhores, que tinham abusado deles no seu trabalho, os tinham defraudado em seus salários e os mandariam embora vazios, e os pobres israelitas estavam tão desejos de liberdade que se satisfariam em ir embora sem qualquer pagamento: mas Aquele que executa a justiça e o juízo para os oprimidos, proveu que os trabalhadores não perdessem seu pagamento. Deus ordenou-lhes que o pedissem neste instante de sua partida em joias de ouro e joias de prata; para prepará-los para isto, Deus fizera com os egípcios tivessem boa vontade de partilhar com eles todos estes itens…” (WESLEY, John. Notas explicativas. Ex.11:2. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/wesleys-explanatory-notes/exodus/exodus-11.html Acesso em 29 nov. 2013). (tradução nossa de texto em inglês).
– O Senhor mostra-nos que é um Deus de justiça, que jamais permite que haja qualquer violação de direito. Por isso, tudo é submetido a Ele, que julga com retidão e justiça. Não precisamos querer fazer justiça com as nossas próprias mãos, nem desanimarmos diante da tosca justiça humana, que o profeta Isaías afirma ser tão somente “trapos da imundícia” (Is.64:6). Confiemos no Senhor que sempre faz com que a justiça prevaleça, mesmo que seja no mundo vindouro.
OBS: “…tomar a coisa alheia, oculta ou manifestamente, por autoridade do juiz que assim decreta, não eé furto, pois que já dita cosa é devida a um porque lhe foi adjudicada por sentença. Por conseguinte, muito menos foi furto o que os filhos de Israel despojaram os egípcios por mandado do Senhor, que o decretava em reparação das penas com que antes lhes haviam afligido sem causa…” (TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica II-II, 66, 5. citação de Ex.12:28-36. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 29 nov, 2013).
– Em seguida a este gesto, Moisés, então, chamou o povo e lhe deu orientação a respeito da última praga que sobreviria ao Egito. Moisés foi bem claro ao dizer que o Senhor, à meia-noite, sairia pelo meio do Egito e mataria a todo primogênito, desde o primogênito de Faraó até o primogênito do mais humilde servo, como também os primogênitos dos animais. Entretanto, a praga não afetaria os filhos de Israel, e, então, viria a libertação (Ex.11:4-10).
– Vemos aqui como Deus não quis deixar desorientado o Seu povo e como revela os Seus segredos àqueles com quem está intimamente ligado (Am.3:7). Basta que confiemos n’Ele e entreguemos a Ele a condução de nossa vida (Sl.37:5). Muitos, em nossos dias, estão passando por diversas dificuldades porque ainda não acordaram e não viram a necessidade de buscarem ao Senhor e seguir-Lhe a orientação.
II – A INSTITUIÇÃO DA PÁSCOA
– O Senhor haveria de fazer, uma vez mais, diferença entre os egípcios e os israelitas (Ex.11:7), mas esta diferenciação seria mais profunda. A partir de agora, Israel não seria mais tratado como um povo escravo vivendo em terra estrangeira, mas tinha de começar a ser um povo livre, um povo que fosse a “propriedade peculiar de Deus entre os povos”, a grande nação que viria de Abraão (Gn.12:2).
– Por isso, agora que este povo já era numeroso, tendo, pois, o primeiro elemento que caracteriza uma nação, que é a população, teria de começar a ter uma cultura própria, ou seja, um modo próprio de viver. A cultura é o modo de viver que o homem, dentro da inteligência que Deus lhe deu, estabelece entre os seus semelhantes. Israel, como povo de Deus, haveria de estabelecer, doravante, uma maneira de viver diferente da dos demais povos, segundo a orientação divina.
– O primeiro passo para a formação desta cultura seria a criação de um calendário próprio, de uma forma própria de contar o tempo. Por isso, Moisés e Arão falaram ao povo de Israel que aquele mês seria o princípio dos meses, como também o primeiro dos meses do ano (Ex.12:1,2). Estava-se na primavera e, a partir de então, ter-se-ia uma nova contagem do tempo para os israelitas, que teriam o princípio de seu ano. Os judeus consideram que este foi o primeiro mandamento a ser dado por Deus a Israel.
OBS: “…A Torá foi dada para trazer santidade ao mundo. Cada vez que uma mitsvá [mandamento, observação nossa] é observada, esta meta é trazida a um patamar mais próximo, quando mais outro lugar e mais outro momento ficam santos. A mitsvá faz com que a santidade seja sentida em duas dimensões: espaço e tempo, mas a maioria das mitsvot é limitada a um lugar ou temo específicos. Porém, a mitsvá de estabelecer um novo mês é a santificação do próprio tempo, pois todo o momento dentro de um determinado mês é dependente da hora exata em que aquele mês começa. Tempo é até mais geral e abrangente que espaço, já que a) Tempo foi cirado antes de espaço e, b) Nenhum lugar pode existir fora do tempo(…). Então, a mais genérica de todas as mitsvot é o estabelecimento do novo mês, razão pela foi escrita primeiro…” (A primeira mitsvá – estabelecer o novo mês. In: CHUMASH: o livro de Êxodo, p.69).
– Vemos, com absoluta clareza, que não pode se servir a Deus sem que se tenha uma cultura própria, uma cultura assinalada pelo Senhor. Por isso, o servo do Senhor, mesmo vivendo entre os homens, tem um modo de vida diferente dos demais. Não só deve viver diferentemente, ser diferente, como também deve ser um porta-voz deste novo modo de vida. É por isso que o apóstolo Paulo diz que recebemos, da parte do Senhor, o ministério da reconciliação, pelo qual “a ninguém conhecemos segundo a carne” (II Co.5:16), sendo novas criaturas, tendo uma vida nova e fazendo de nós embaixadores, ou seja, devemos divulgar este novo modo de viver que temos, a fim de que o mundo também se reconcilie com Deus e passe a viver de forma agradável ao Senhor, não vivendo mais para si, mas para o Senhor (II Co.5:14-21).
– Israel deveria assumir a sua posição de povo livre, de povo diferente, de povo especial de Deus (Tt.2:14), pois já havia sido indenizado pelos egípcios, já havia recebido o seu devido salário pelos trabalhos forçados de séculos e agora iniciava uma nova fase em sua vida.
– Por isso, o Senhor mandou que, neste novo mês, aos dez dias do mês, cada família tomasse para si um cordeiro, mas, se a família fosse pequena, que se tomasse um cordeiro ou cabrito juntamente com o seu vizinho perto de sua casa, conforme ao comer de cada um. Este cordeiro ou cabrito deveria ser sem mácula, macho de um ano, que deveria ser guardado até o décimo quarto dia do mês. Todo o povo, então, deveria sacrificá-lo à tarde e tomar do seu sangue e o pôr em ambas as umbreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem. À noite, então, deveriam comer a carne assada no fogo, com pães asmos e ervas amargas, sendo que o animal deveria ser assado ao fogo, a cabeça com os pés e com a fressura. O animal deveria ser todo consumido e, se houvesse alguma sobra, deveria ser queimada no fogo pela manhã seguinte (Ex.12:3-11).
– Nestas instruções, vemos, por primeiro, que o Senhor ensina Israel a esperar no “tempo de Deus”. Embora tivesse Deus instituído um novo calendário, uma nova forma de contagem do tempo, não permitiu que, de imediato, os israelitas já iniciassem uma atividade. Fê-los esperar ainda dez dias para que iniciassem a preparação para a tão almejada libertação.
– Segundo os estudiosos, “…as Dez Pragas castigaram o Egito durante praticamente um ano, iniciando-se no fim do mês de Iyar [oitavo mês do calendário judaico, observação nossa] e terminando apenas no dia 15 de Nissan.…” (As dez pragas do Egito. Revista Morashá, edição 56, abr. 2007. Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=656&p=1 Acesso em 29 nov. 2013).Mesmo assim, os israelitas tinham de aprender a esperar em Deus, saber o tempo certo de agir, pois eram o “povo de Deus”, um povo que deveria agir somente segundo a vontade do Senhor, Aquele que tudo faz mais formoso em seu tempo (Ec.3:11).
– Com a Igreja, Cristo não agiu diferente. Também, mesmo depois de ressurreto e vencedor sobre o pecado e a morte, ainda deu orientações a Seus discípulos por quarenta dias, tendo-os mandado esperar, ainda, por mais sete dias, após a Sua ascensão aos céus, para que, então, iniciassem a evangelização, devidamente revestidos de poder (At.1:1-4). Devemos aprender esta lição, pois o “imediatismo” que toma conta do mundo não corresponde ao que Deus quer em relação ao Seu povo. Lembremos disto!
– Por segundo, Deus dá a Israel uma consciência nítida a respeito do que é ser uma nação. É ela, antes de tudo, uma reunião de famílias. A família é a base da sociedade e cada família deveria ter o seu cordeiro ou cabrito a ser sacrificado e consumido. Não se pode construir uma sociedade sem famílias, algo que, infelizmente, a mentalidade anticristã predominante em nossos dias tem desprezado e gerado a calamidade social que temos visto e vivenciado. Aliás, tal mentalidade não é exclusividade das organizações dos grupos sociais de incrédulos, mas tem, infelizmente, predominado até mesmo nas igrejas locais…
– Por terceiro, vemos que o Senhor mostra, com nitidez, que não se pode formar uma nação sem que haja a consciência da solidariedade. Quando o animal fosse muito para uma família, por ser ela pequena, deveriam se reunir os vizinhos para a consumirem o animal, dando-se, pois, a ideia de que a família não deve fechar-se em si mesma, mas pensar no vizinho, unindo-se a fraqueza de cada qual e a tornando uma fortaleza. Temos feito isto? É assim que Deus quer que viva o Seu povo!
OBS: Por sua biblicidade, transcrevemos o que disse a respeito o atual chefe da Igreja Romana, em sua exortação apostólica Evangelii Gaudium: “…A presença de Deus acompanha a busca sincera que indivíduos e grupos efetuam para encontrar apoio e sentido para a sua vida. Ele vive entre os citadinos promovendo a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça. Esta presença não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada. Deus não Se esconde de quantos O buscam com coração sincero, ainda que o façam tateando, de maneira imprecisa e incerta.…” (FRANCISCO. Exortação apostólica Evangelii Gaudium, n.71. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/francesco/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20131124_Evangeliii-gaudium_po.html Acesso em 29 nov 2013).
– Esta noção de solidariedade e de fraternidade ficou tão arraigada entre os judeus que, na tradição dos anciãos, que, depois, foi reduzida a escrito na Mishná, está prescrito que “ninguém pode matar o cordeiro pascal para uma só pessoa, nem mesmo para um grupo de cem pessoas, que não possam comer pelo menos um pedaço do tamanho de uma azeitona” (Pessach 8:7). Segundo Flávio Josefo, o grande historiador judeu, a Páscoa não podia ser celebrada por menos de dez pessoas, sendo que, em média, o número era de vinte (Sobre a guerra dos judeus contra os romanos, I.6.c.9.sec.3 apud GILL, John. Exposição da Bíblia. Ex.12:4. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-bible/exodus-12-4.html Acesso em 30 nov. 2013). Tem-se, então, que havia a necessidade de uma efetiva participação comunitária na celebração da Páscoa.
– John Gill (1697-1771), ainda, vê nesta determinação divina sobre a necessidade de se partilhar com o vizinho o cordeiro pascal uma tipologia da chamada dos gentios para compor a Igreja, consoante se vê em Ef.3:5,6.
– Por quarto, é interessante notar que o cordeiro deveria ser macho de um ano, como que a lembrar que Deus estava a atuar a praticamente um ano em prol da libertação do Seu povo. O cordeiro representava, assim, toda a ação de Deus em prol de Israel, todo o cuidado de Deus, todo o trabalho que o Senhor havia feito em favor do Seu povo, em cumprimento às Suas promessas.
– Este cordeiro, que é símbolo de Cristo Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29), vinha, então, na “plenitude dos tempos”, ou seja, no momento oportuno, do final do processo de libertação, que havia sido prometido lá trás, quando Deus assumira um compromisso com Abrão (Gn.5:9-21; Hb.6:13-20). Do mesmo modo, Jesus Cristo veio na “plenitude dos tempos”, para remir os que estavam debaixo da lei (Gl.4:4,5).
– Tem-se entendido também, como diz John Gill, que a idade do cordeiro “…denota a força e o vigor de Cristo, na flor da idade, Sua curta presença entre os homens…” (Exposição da Bíblia. Ex.12:5. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-bible/exodus-12-5.html Acesso em 30 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
– Além do cordeiro, poderia, também, ser sacrificado um cabrito, também macho de um ano. O cabrito também tipifica Cristo, pois “…o cabrito, sendo animal mal cheiroso, denota Cristo Se fazendo pecado e Se oferecendo pelo Seu povo…” (GILL, John. ibid.).
– Por quinto, o cordeiro deveria ser sem mácula, ou seja, sem qualquer defeito, perfeito, para que pudesse ser sacrificado. Uma vez escolhido, deveria ser observado por três dias e meio, pois, embora escolhido no dia dez, somente seria sacrificado no dia quatorze, à tarde, ou seja, no meio do dia. Durante todos estes três dias e meio, deveria ser observado se não tinha qualquer defeito, qualquer mancha, a fim de ser considerado idôneo para o sacrifício.
OBS: Diz o Sábio Talmúdico Guraryê: “Por que houve a necessidade de quatro dias para a preparação do cordeiro de Pessah [Páscoa, observação nossa]? Durante estes quatro dias, o animal foi inspecionado de qualquer marca que o tornasse impróprio para um sacrifício. Vários dias eram necessários, pois, às vezes, a pessoa não vê marca nenhuma um dia e a vê no próximo dia. Foi pelo mérito de se ocupar com a mitsvá durante quatro dias que os judeus foram merecedores da redenção” (CHUMASH: o livro de Êxodo, p.71).
– De igual modo, uma vez tornada pública e conhecida a Sua escolha pelo Pai, quando foi o Senhor batizado no rio Jordão (Jo.1:29-34), o Senhor Jesus passou durante três anos e meio sendo observado pelos israelitas, para quem havia vindo (Mt.15:24; Jo.1:11), tendo provado a Sua inocência e santidade a eles durante este tempo (Mt.27:23,24; Mc.15:14; Lc.23:22; Jo.8:46; Hb.4:15; 9:28), para, então, ser submetido ao sacrifício na cruz do Calvário.
OBS: Por sua biblicidade, transcrevemos aqui o § 608 do Catecismo da Igreja Romana: “Depois de ter aceitado dar-Lhe o batismo como aos pecadores (Lc.3:21; Mt.3:14,15), João Batista viu e mostrou em Jesus o «Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» (Jo.1:29,36). Manifestou deste modo que Jesus é, ao mesmo tempo, o Servo sofredor, que Se deixa levar ao matadouro sem abrir a boca (Is.53:7; Jr.11:19), carregando os pecados das multidões (Is.53:12), e o cordeiro pascal, símbolo da redenção de Israel na primeira Páscoa (Ex.12:3-14; Jo.19:36; I Co.5:7), Toda a vida de Cristo manifesta a sua missão: «servir e dar a vida como resgate pela multidão»(Mc.10:45).”
– De igual modo, Cristo, após ter entrado triunfantemente em Jerusalém, foi observado por quatro dias pelos israelitas, que depois O mandaram para o sacrifício na cruz do Calvário.
– Nós, como membros em particular do corpo de Cristo (I Co.12:27), uma vez tornada pública a nossa confissão em Cristo Jesus, também passamos a ser observados por todos e temos de mostrar toda a nossa santidade, toda a nossa comunhão com o Senhor, para que não sejamos reprovados e, perseverantes até o fim, também alcancemos a glorificação, que se segue ao nosso sacrifício, sacrifício que já foi realizado quando de nosso batismo nas águas, quando morremos para o mundo e passamos a viver para Deus (Rm.6:1-11).
– Por sexto, o cordeiro tinha de ser sacrificado à tarde e seu sangue posto em ambas as umbreiras e na verga da porta, nas casas em que ele seria consumido. O sangue do cordeiro deveria ser derramado nas umbreiras e na verga da porta, para que o anjo da morte, quando passasse, não ferisse ali o primogênito. Sem derramamento de sangue, não há remissão (Hb.9:22), porque o sangue representa a vida (Gn.9:4) e é necessário que a vida fosse dada em resgate da vida. Como ensina Tomás de Aquino: “…O sangue do cordeiro, que livra do exterminador, posto nas umbreiras das casas, figura a fé na paixão de Cristo no coração e na boca dos fiéis, pois somos livres do pecado e da morte, segundo I Pe.1:19: fostes resgatados com o sangue precioso do Cordeiro imaculado.…” (Suma Teológica I-II, 102, 5. citação de Ex.12:28-36. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 29 nov. 2013) (tradução nossa de texto em espanhol). Por isso, aliás, Paulo diz que somos salvos confessando com a boca e crendo com o coração (Rm.10:9).
– Jesus Cristo deu a Sua vida, derramou o Seu sangue para que nós tivéssemos vida e vida em abundância (Jo.10:10). Ele, que é a vida (Jo.1:4; 14:6), entregou a Sua vida para que nós pudéssemos viver (Jo.10:18).
– É interessante notar que somente nesta primeira Páscoa foi determinado que o sangue fosse posto nas umbreiras e na verga da porta. Nas demais celebrações da Páscoa, não havia mais esta exigência. Isto nos mostra que as demais páscoas eram apenas uma comemoração, uma lembrança daquela libertação ocorrida uma só vez no Egito. Da mesma maneira, a ceia do Senhor é tão somente uma comemoração, uma celebração do sacrifício único de Cristo na cruz do Calvário, não tendo, pois, qualquer cabimento dizer-se que, na ceia, há a “transubstanciação”, ou seja, o pão e o vinho se tornam o corpo de Cristo e há um “sacrifício incruento”, como ensina, equivocadamente, a Igreja Romana.
OBS: “…Aben Ezra (comentarista bíblico judeu, observação nossa) menciona como opinião de alguns, que a colocação do sangue naqueles lugares era para mostrar que eles haviam matado a abominação dos egípcios abertamente, mas ele mesmo dá uma razão bem melhor para este rito, a saber, que era para ser uma propiciação para todos que comiam na casa, e um sinal para o destruidor, que poderia examiná-la desta maneira, como é dito em Ez.9:4, foi “posta uma marca” que parece ser peculiar à páscoa no Egito e não foi mais usada em épocas posteriores.…” (GILL, John. Exposição da Bíblia. Ex.12:7. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-bible/exodus-12-7.html Acesso em 30 nov. 2013). (tradução nossa de texto em inglês).
– Por sétimo, o cordeiro tinha de ser assado ao fogo, não poderia ser comido cru nem cozido em água. Era necessário que fosse levado ao forno, ou seja, que, após ter tido seu sangue derramado, fosse mantido longe do convívio dos moradores até que ficasse pronto.
– John Gill observa que a maneira que os judeus assam o cordeiro também mostra como isto tem a ver com a morte de Cristo na cruz do Calvário. Diz o comentarista bíblico: “…a maneira de assá-lo, segundo as regras judaicas (Mishná Pessach 7:1,2) era esta: eles trazem um espeto feito de madeira de romeira e o enfiam pela boca do animal até atravessá-lo e põem as coxas e vísceras dentro dele; eles não assam o cordeiro pascal num espeto de metal nem uma grelha. Maimônides (Hilchot Korban Pessach 8:10) é um pouco mais minucioso e exato neste ponto, pois, ao responder à questão ‘como se deve assar o cordeiro?’, responde: ‘vocês devem transfixá-lo do meio da sua boca até seu traseiro, com um espeto de madeira e pendurá-lo no meio da fumaça, com o fogo embaixo’.
Então, ele não é assado mediante o girar do espeto, de acordo com nossa maneira de assar, mas ele fica suspenso em um gancho, e assado com o fogo embaixo dele, e isto é uma exata figura de Cristo suspenso na cruz, e suportando o fogo da ira divina. E Justino Mártir [pai da Igreja, que viveu entre 100 e 165, observação nossa] (Diálogo com Trifo, p.259) é ainda mais minucioso, ele que era samaritano de nascimento e muito versado em assuntos judaicos, em debate com Trifo, um judeu, que o poderia ter desmentido se ele tivesse dito algo de errado, disse que o cordeiro era assado em forma de cruz: um espeto, disse ele, era posto desde as partes mais baixas até a cabeça e, novamente, um outro, através dos ombros, pelos quais as mãos (ou melhor, as pernas) eram fixadas e penduradas, e, assim, era um emblema muito vivo do Cristo crucificado…” (Exposição da Bíblia. Ex.12:9. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-bible/exodus-12-9.html Acesso em 30 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
OBS: Eis os textos mencionados da Mishná Pessach 7:1,2a: “Como deve ser o cordeiro pascal assado? Deve ser tomado um espeto feito de madeira de uma romeira, colocado dentro da boca (do cordeiro ou cabrito) até que saia no orifício inferior.Suas pernas e vísceras devem ser colocados dentro, de acordo com Rabi José, o Galileu; mas Rabi Akiva disse: deve haver uma espécie de fervura e, por esta razão, vocês devem suspender o lado de fora do cordeiro. O sacrifício pascal não pode ser assado com um espeto de metal nem com uma grelha. Zadoque relatou que o Rabbon Gamaliel uma vez disse a seu escravo Tabbi: ‘Vá e asse o cordeiro pascal numa grelha’. Se alguma parte do cordeiro assado tocar a cerâmica do forno no qual ele está sendo assado, esta parte deve ser tirada fora. Se a gordura que cair do cordeiro no forno voltar a cair no cordeiro, esta parte tocada pela gordura deve ser cortada…”. O cordeiro ficava, portanto, realmente suspenso.
– Aqui, também, vemos o sinal da morte de Cristo Jesus que, após ter todo o Seu sangue derramado, foi levado para o sepulcro novo de José de Arimateia, onde foi sepultado (Mt.27:57-66; Mc.15:42-47; Lc.23:49-56; Jo.19:38-42). Somente, depois, ao terceiro dia, é que haveria de ressurgir e comprovar que o Seu sacrifício havia sido aceito pelo Pai. O sepultamento de Cristo foi absolutamente necessário para que não houvesse qualquer dúvida a respeito da Sua morte. De igual modo, o sepultamento daquele que crê em Jesus Cristo é absolutamente necessário para que ninguém tenha dúvida de que ele morreu para o mundo e agora vive apenas para Deus. Daí porque dizerem as Escrituras que é necessário crer e ser batizado para ser salvo (Mc.16:16).
– Por oitavo, vemos que o cordeiro, depois de assado, tinha de ser todo consumido à noite e, se dele sobrasse algo, deveria ser queimado até a manhã. Aqueles que estavam protegidos pelo sangue do cordeiro, deveriam consumi-lo, todos juntos, a ele todo e o que não fosse consumido, não poderia ficar para o dia seguinte, tinha de ser queimado, ou seja, não se permitia qualquer resto naquela refeição e, naquela refeição, todos deveriam comer o cordeiro, dele tomar parte.
– Vemos, claramente, que se forma aqui uma comunhão no povo de Israel. Todo o povo deveria estar ao redor do cordeiro, para que todos o comessem todo, sem sobras, sem que admitisse qualquer parte. O Senhor mostrava, assim, que o povo todo deveria estar unido, em comunhão, em torno do cordeiro.
– A Igreja não é diferente. Todos devem estar unidos, ao redor do Cordeiro, consumindo-O todo, por intermédio da participação na ceia do Senhor, onde, simbolicamente, se come o corpo e se bebe o sangue de Cristo (Jo.6:51-57). Somente quem toma parte no corpo de Cristo, tem parte com Ele. Não se admitem divisões, partidarismos ou coisas semelhantes. Todos temos de estar em comunhão. É por isso que a igreja primitiva era descrita como um povo que vivia em absoluta comunhão (At.2:42-47).
– Esta comunhão, simbolizada pela refeição onde se consome todo o cordeiro, tinha de ser mostrada durante a noite, antes do momento do juízo que viria sobre o Egito, sob a proteção do sangue posto nas umbreiras e na verga da porta. Temos de mostrar a comunhão que há entre nós, sob a proteção do sangue de Cristo, que nos purifica de todo o pecado (I Jo.1:7), vivendo na luz, apesar das trevas deste mundo, mostrando-nos como verdadeiras luzes do mundo (Mt.5:16).
– Quem está em comunhão com os irmãos, porque anda na luz como Cristo na luz está, não sai de debaixo da proteção do sangue do Cordeiro, não sai de dentro da casa para espiar o que está acontecendo “lá fora”, nas trevas. Muitos, lamentavelmente, não estão mais assentados ao redor do Cordeiro, mas se encontram especulando, passeando, andando do lado de fora da Igreja, esquecendo-se que o povo de Deus foi tirado das trevas para a maravilhosa luz do Senhor (I Pe.2:9). Não podemos, de forma alguma, estar presente tanto na mesa do Senhor quanto na mesa dos demônios (I Co.10:21).
– Além da comunhão, o consumo de todo o cordeiro lembra-nos que devemos aceitar a Cristo inteiro. “…Notem, em seguida, os israelitas tinham de comer o cordeiro todo e vocês que querem ter Cristo devem tê-lo todo ou nada d’Ele! Há alguns que querem tomar o Seu exemplo, mas não a Sua doutrina — eles não podem tê-l’O. Outros desejam tomar a Sua doutrina, mas não os Seus preceitos — eles não podem tê-l’O. Nada d’Ele pode ser deixado, pois não há coisa alguma em Cristo de que os pecadores não necessitem. Vocês não podem satisfazer o suspiro de suas almas com a metade de Cristo — nem Deus permitirá que vocês insinuem que haja alguma supérflua em Seu Filho.
Os judeus tinham de comer todo o cordeiro e vocês que querem ter Cristo precisam tê-l’O por inteiro — não apenas Cristo como seu Substituto, mas Cristo como seu Rei! Não somente Cristo para confiar, mas Cristo para obedecer! Ele deve ser para vocês tudo aquilo que Deus estabeleceu que Ele fosse, senão Ele nada será. Queridos, vocês querem, então, aceitar Cristo como o Cordeiro de Deus? Vocês querem tê-l’O todo , não deixar coisa alguma d’Ele nem deixar de lado coisa alguma que pertence a Ele? Então vocês poderão tomá-lo como seu!…” (SPURGEON, Charles. Ervas amargas, p.2. Sermão pregado na noite de 25 jul. 1880. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols46-48/chs2727.pdf Acesso em 30 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
– Por nono, os israelitas deveriam comer o cordeiro com pães asmos, ou seja, pães sem fermento. “…Este uso dos pães asmos retratava a pressa com que Israel saiu do Egito. Eles não tiveram tempo para fazer pão levedado. Levava muito tempo para o fermento subir e eles estavam partindo às pressas.…” (COSTA, Airton Evangelista da. Pães asmos – significado. Disponível em: http://www.palavradaverdade.com/print2.php?codigo=3518 Acesso em 29 nov. 2013). Os pães asmos indicavam, deste modo, a pressa com que Israel deveria sair do Egito, a prontidão que deveria haver para sair da terra da escravidão.
– Mas, além disso, os pães asmos também simbolizam a santidade. O apóstolo Paulo diz que os asmos são o sinal da sinceridade e da verdade (I Co.5:8), de tal sorte que o uso dos pães asmos pelos israelitas simbolizava uma nova vida, uma vida em que não prevaleceria mais a malícia e a maldade, que haviam sido os critérios norteadores da aflitiva convivência de Israel no Egito. Israel deixava o período em que tinha havido opressão e injustiça, para passar a viver não só em liberdade, mas, também, em verdade e sinceridade.
– “…À pergunta “por que em Pessach [Páscoa, observação nossa] é proibido comer ou mesmo estar de posse do chamets” [fermento, observação nossa], o Talmude [o segundo livro sagrado do judaísmo, observação nossa] responde com outra pergunta, que, à primeira vista, nada tem com o assunto: por que as pessoas pecam? E responde que o homem vive em constante luta com sua natural inclinação ao mal e, se perde esta batalha, ele peca. O Talmude então sugere que quem cometer um pecado, faça a seguinte declaração: “D’us do Universo.
Tu, Onisciente, que tudo conheces, sabes que é nosso desejo fazer Tua Vontade. Mas o que nos impede de fazê-lo? É justamente o fermento da massa”. O chamets representa o impulso negativo, a inclinação ao mal que leva os homens a se afastar de D’us e de Seus mandamentos. Para nossos Sábios, a matsá [o pão asmo, observação nossa] representa a humildade enquanto a levedura o orgulho e a arrogância, que, se não forem controlados e direcionados para algo positivo, podem levar uma pessoa a inflar seu próprio ego de tal forma a não mais reconhecer a Mão de D’us em sua vida.…” (Matsá, o pão da fé e da liberdade. Revista Morashá, edição 52, abr. 2006. Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=582&p=0 Acesso em 29 nov. 2013).
– Quando a Igreja senta ao redor da mesa do Senhor, ela precisa, também, estar vivendo uma vida de verdade e de sinceridade, não pode participar legitimamente do corpo e do sangue do Senhor se estiver envolvida pela hipocrisia religiosa, pela corrupção. É o que, muito propriamente, o atual chefe da Igreja Romana denominou de “mundanismo espiritual”, que definiu como sendo “…buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal.…”, atitude muitas vezes escondida “…por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja…”, “…uma maneira sutil de procurar «os próprios interesses, não os interesses de Jesus Cristo» (Fl 2, 21).…” (FRANCISCO. Exortação apostólica Evangelii Gaudium, n. 93. end. cit.). Que o Senhor nos guarde deste fermento, que era tão característico nos fariseus, saduceus e herodianos (Mt.16:6,11,12; Mc.8:15; Lc.12:1).
– Por décimo, os israelitas deviam comer o cordeiro, além dos pães asmos, com as ervas amargas, que simbolizavam a amargura da escravidão, o sofrimento que haviam sofrido no Egito. Os israelitas não deviam ter senão esta imagem do Egito: era um lugar de amargura, de sofrimento. Os israelitas não deveriam jamais querer voltar ao Egito, deveriam ter sempre em mente que os tempos passados no Egito haviam sido de aflição e sofrimento. O Egito deveria ser deixado sem qualquer saudade, sem qualquer atração.
– De acordo com a tradição dos anciãos, que foi reduzida a escrito na Mishná e com o filósofo e comentarista judeu Maimônides (1117-1204), as ervas amargas eram de cinco espécies, chamadas de “…Chazoreth, Ulshin , Thamcah, Charcabinah and Maror; as quatro primeiras podem ser o alface selvagem, a endívia, o marroio branco ou talvez a atanásia e a chicória, por fim…” (GILL, John. op.cit. Ex.12:8. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-bible/exodus-12-8.html Acesso em 30 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
– “…Estas ervas amargas eram uma espécie de salada ou condimento para serem comidos com o cordeiro e é geralmente pensado que eram alface, endívia, chicória e outras verduras da mesma espécie, como nós as chamamos — não tão amargas que gerassem repulsa, mas que tivessem um grau suficiente de amargura para acrescentar ao sabor do cordeiro. Agora, quando as almas vêm a Cristo, elas carregam espiritualmente o que aqui é dito em metáfora — ‘com ervas amargas, devem comê-lo’.
Ou seja, qualquer um que realmente crer em Jesus Cristo, terá sempre a sua alegria de crer misturada com uma medida de tristeza causada pelo arrependimento. ‘Sim’, diz o coração verdadeiro, ‘Jesus Cristo morreu por mim, mas quanto ofendi a Deus, que vida eu vivi para que Ele tivesse de morrer por mim!Leio a respeito de Suas agonias e percebo que fui a causa delas. Foi por amor que Ele da glória para a terra porque Ele sabia como eu era culpado e, consequentemente, foi pendurado na cruz e entregue à morte’. Então, a alma penitente não sabe se regozija ou se lamenta. Há uma mistura de emoções — é uma amargo doce e um doce amargo. Alegro-me que Cristo tenha retirado meu pecado mas lamento que Ele tenha tido de fazer o que fez para retirá-lo…” (SPURGEON, Charles.op.cit., p.3. end.cit.).
– De igual modo, a Igreja deve sempre avançar em direção à Canaã celestial, não pode olhar para trás, não pode pensar naquilo que passou. Deve se esquecer das coisas que para trás ficam e caminhar decidida para a glória celeste (Fp.3:13,14). Assim como o cordeiro não era para ser deixado para o outro dia, sendo queimado, para que nada passado ficasse na memória dos israelitas, nós também devemos viver sempre em novidade de vida, jamais querendo viver do que já se passou.
OBS: “…Há um outro aspecto das ervas amargas que comemos no tempo da nossa conversão, quando vem um desgosto das coisas nas quais nós uma vez sentimos prazer. Assim que o homem sabe que está salvo pelo derramamento do sangue de Cristo, ele começa a desgostar das coisas que antes o agradavam. Prazeres e diversões de uma caráter contaminado, não, mesmos aqueles de um tipo duvidoso, perdem totalmente sua atração anterior. Naturalmente que os mundanos dizem: ‘Este homem é um louco1 Ele se tornou um puritano. Ele enlouqueceu.’ São algumas das ervas amargas que temos de comer — coisas que pareciam tão doces parecerão terminantemente repugnantes e vocês as deixarão com desgosto. Nosso paladar mudará completamente. Nossos desejos alterar-se-ão. Vocês não serão capazes de entender a vocês mesmos e, frequentemente, sua boca estará cheia com ervas amargas neste assunto.…” (SPURGEON, Charles. Op.cit., p.3. end. cit.).
– Por décimo primeiro, os israelitas deveriam comer o cordeiro com os lombos cingidos, com os sapatos nos pés e o cajado na mão, devendo comer apressadamente (Ex.12:11). Ou seja: os israelitas deveriam comer o cordeiro prontos para sair do Egito, totalmente preparados para sair da terra onde estavam escravizados há séculos.
– A refeição deveria, então, ser tomada em inteira certeza de fé, em plena confiança de que havia chegado o dia da libertação, o dia do fim da escravidão. Esta confiança deveria ser demonstrada pela prontidão determinada. Somente por fé em Deus, os israelitas haveriam de cumprir esta determinação divina, pois já haviam ocorrido nove pragas, durante praticamente um ano, e nada havia sido alterado até então na opressão. Como, agora, se dizia que tudo iria terminar? Como se aprontar para sair se nada havia acontecido até então? Não é por outro motivo que o escritor aos hebreus diz que não só Moisés, mas todo Israel celebrou a Páscoa pela fé, para que o destruidor dos primogênitos não os tocasse (Hb.11:28).
OBS: “…Uma das características fundamentais, que é a mensagem de Yetsiat Mitsraim [o Êxodo do Egito, observação nossa], é o Bitachon ilimitado — a confiança absoluta na Providência Divina —que encontrou tal expressão pungente dentro do evento histórico do Êxodo do Egito. Uma nação inteira, homens, mulheres e crianças, contando milhões de pessoas, deixam de boa vontade um país próspero e bem estabelecido, com toda sua fartura e bênçãos materiais, e sai em uma viagem longa e perigosa, sem provisões, mas com confiança absoluta na palavra de D’us, transmitida por Moshé Rabenu [Moisés, nosso Mestre – observação nossa]…” (REBE. Excerto de carta de 11 Nissan 5721. In: CHMUASH: o livro de Êxodo, p.77).
– De igual modo, a Igreja deve participar da comunhão com Cristo Jesus pronta e preparada para sair deste mundo, pois o Senhor prometeu nos buscar e, a qualquer momento, Ele há de cumprir a Sua promessa. Aliás, quando celebramos a ceia do Senhor, estamos anunciando que Ele vai voltar (I Co.11:26).
– Mas, será que temos vivido neste mundo com os lombos cingidos? Cingir os lombos é estar vigilante, estar aguardando o Senhor, como nos ensina o próprio Cristo em Lc.12:35. Cingir os lombos é estar sóbrios, ou seja, atentos, percebendo bem o que está ocorrendo a fim de que não venhamos a ser enganados pelo maligno, como nos ensina o apóstolo Pedro em I Pe.1:13.
– Os israelitas tinham de estar prontos para sair do Egito, para iniciar sua caminhada para a terra de Canaã. Assim que fosse dada a ordem de Faraó para a sua saída, eles deveriam sair apressadamente, tinha sido esta a ordem do Senhor e, por isso, já deveriam tomar a sua refeição completamente preparados para sair daquela terra.
– Estamos prontos para sair deste mundo? Ou temos nos embaraçado com as coisas desta vida? O apóstolo Paulo diz-nos que somente militaremos legitimamente se não nos prendermos com as coisas deste mundo, se estivermos prontos para deixá-lo assim que o Senhor nos ordenar (II Tm.2:4). Qual é a nossa situação?
– Por décimo segundo, o Senhor, então, explica ao povo que, à meia-noite, Seu anjo passaria pela terra do Egito e mataria a todo primogênito, mas, na casa onde houvesse o sangue do cordeiro, o anjo passaria por cima dos moradores, não atingindo os que ali estivessem reunidos (Ex.12:12,13).
OBS: “…A comida solene do cordeiro era tipo do novo dever evangélico para Cristo. Primeiro, o Cordeiro Pascal foi morto não para ser apenas observado, mas para ser consumido, de modo que devemos pela fé fazer Cristo nosso, como nós fazemos com aquilo que comemos, e nós devemos receber força espiritual e alimento d Ele, assim como de nosso alimento físico, e nos deleitar n’Ele, assim como nós o temos no beber e comer quando estamos com sede ou com fome.
Segundo, o cordeiro era para ser todo consumido: aqueles que, pela fé, alimentam-se de Cristo, devem se alimentar do Cristo todo. Devem tomar Cristo e Seu jugo, Cristo e Sua cruz, assim como Cristo e a Sua coroa. Terceiro, o cordeiro era para ser comido com ervas amargas, em lembrança da amargura da escravidão no Egito; nós devemos nos alimentar de Cristo com quebrantamento de coração, em lembrança do pecado. Quarto, o cordeiro era para comido em uma postura de partida Ex.12:11; quando nos alimentamos de Cristo pela fé, nós precisamos deixar o mundo e tudo o que nele há…” (WESLEY, John. Notas explicativas. Ex.12:3. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/wesleys-explanatory-notes/exodus/exodus-12.html Acesso em 30 nov. 2013).
– Daí o nome “Páscoa”, que significa “passagem”. O anjo da morte “passaria” por cima dos israelitas, ao ver o sangue nas umbreiras e na verga da porta, não matando o povo de Israel, mas ferindo a todo o Egito, fazendo, assim, completo, o Seu juízo sobre os deuses do Egito, atingindo, inclusive, a Faraó, agora diretamente, com a morte de seu primogênito e herdeiro do trono.
– A Páscoa, era, então, a passagem da morte para a vida, a passagem da escravidão para a liberdade. Cristo Jesus é a nossa Páscoa (I Co.5:7), pois, ao crermos n’Ele, passamos da morte para a vida (Jo.5:24). Ele verteu o Seu sangue e, pela Sua morte, nós obtivemos vida. Aleluia!
– Aquele episódio, entretanto, não seria único. O Senhor disse que deveria ser ele anualmente comemorado, como uma festa ao Senhor, para que os israelitas jamais se esquecessem de que haviam sido libertos do Egito e constituídos como povo do Senhor. Era a primeira festa que se instituía neste novo calendário, era uma data que Israel jamais deveria se esquecer e, de fato, os israelitas comemoram até a presente data esta festa, que lhes relembra a libertação do Egito.
– A instituição desta festa, ainda, serviu de estatuto perpétuo para que, ao longo dos séculos, Israel e todos os demais povos não só se lembrassem que Deus havia libertado Israel com mão forte do Egito, mas, principalmente, para que tivessem bem claro que o resgate da humanidade se daria pelo sangue do Cordeiro. A Páscoa serviu de sinal para a humanidade da salvação que haveria de vir ao mundo. Por isso, a Páscoa somente deixou de ser celebrada quando o próprio Cristo, quando estava prestes a cumprir em Si mesmo tudo quanto era apontado pela Páscoa, instituiu, ao Ele mesmo celebrar a Páscoa com Seus discípulos, a ceia do Senhor, que veio, então substituir a celebração da Páscoa.
OBS: “…Esta ceia ritual, associada com a imolação dos cordeiros (Ex 12,1-28 Ex 12,43-51), era memória do passado, mas ao mesmo tempo também memória profética, ou seja, anúncio duma libertação futura; de fato, o povo experimentara que aquela libertação não tinha sido definitiva, pois a sua história ainda estava demasiadamente marcada pela escravidão e pelo pecado. O memorial da antiga libertação abria-se, assim, à súplica e ao anseio por uma salvação mais profunda, radical, universal e definitiva.
É neste contexto que Jesus introduz a novidade do seu dom; na oração de louvor — a Berakah —, Ele dá graças ao Pai não só pelos grandes acontecimentos da história passada, mas também pela sua própria « exaltação ». Ao instituir o sacramento da Eucaristia, Jesus antecipa e implica o sacrifício da cruz e a vitória da ressurreição; ao mesmo tempo, revela-Se como o verdadeiro cordeiro imolado, previsto no desígnio do Pai desde a fundação do mundo, como se lê na I Carta de Pedro (1Pe 1,18-20).
Ao colocar o dom de Si mesmo neste contexto, Jesus manifesta o sentido salvífico da sua morte e ressurreição, mistério este que se torna uma realidade renovadora da história e do mundo inteiro. Com efeito, a instituição da Eucaristia mostra como aquela morte, de per si violenta e absurda, se tenha tornado, em Jesus, ato supremo de amor e libertação definitiva da humanidade do mal.…” (BENTO XVI. Exortação apostólica Sacramentum caritatis, n.10, citação Ex.12:1-8. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 29 nov. 2013). Evidentemente que não aceitamos que a ceia do Senhor seja um sacramento, como o faz a Igreja Romana, mas, tirando este aspecto, o pensamento apresentado tem respaldo bíblico no que nos importa, ou seja, em mostrar que a Páscoa prefigura a ceia do Senhor.
– Eis o motivo pelo qual não devemos mais celebrar a Páscoa judaica. A Páscoa, hoje em dia, foi substituída pela ceia do Senhor, que o próprio Jesus instituiu para memória de Seu sacrifício vicário na cruz do Calvário.
– Também não há motivo algum para celebrarmos uma “Páscoa cristã”, numa data diversa da data do calendário judaico, como acabaram por fazer os cristãos nos primórdios da história da Igreja, definindo que seria ela celebrada no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre depois do equinócio da primavera no hemisfério norte.
– Com efeito, os cristãos, desde os primórdios, aproveitaram a celebração da Páscoa judaica para celebrar a ressurreição do Senhor, aproveitando a ocasião para efetuar o batismo dos novos convertidos e, em seguida, com eles, celebrarem a ceia do Senhor, não antes de um período de jejum. Houve discussão a respeito da data desta Páscoa, se seria a própria data judaica ou, então, no domingo subsequente, dia em que efetivamente ressuscitou o Senhor, o que gerou alguma dissensão entre os cristãos, que acabaram, por fim, adotando a data que até hoje é celebrada a “Páscoa cristã”.
– No entanto, a verdade é que a ceia do Senhor substituiu a Páscoa e, portanto, a criação de uma “Páscoa cristã” acabou sendo algo que não estava previsto nas Escrituras e que acabou gerando as celebrações da “Semana Santa”, que caracteriza alguns segmentos ditos cristãos.
– A nossa Páscoa é Cristo e comemoramos a Sua morte e ressurreição por meio da Ceia do Senhor. A criação de uma “festa de Páscoa” é algo que não encontra respaldo nas Escrituras, conquanto devamos aproveitar a data para anunciar ao mundo a ressurreição de Cristo, que é a garantia da nossa fé (I Co.15:13,14). Por isso mesmo, esta festividade, criada sem respaldo bíblico, acabou por propiciar um sincretismo com outras festividades pagãs que ocorriam por ocasião da primavera e que trouxe elementos totalmente despidos de elementos cristãos, como, por exemplo, as ideias de fertilidade, como se vê nas figuras do coelho e do ovo.
– Além da Páscoa, o Senhor também instituiu a festa dos pães asmos, que deveria se seguir à Páscoa, em que os israelitas deveriam se abster de fermento por sete dias, fermento que não poderia sequer penetrar nas casas dos israelitas. Como dissemos, esta festividade tinha por finalidade mostrar aos israelitas que, a partir de sua libertação, eles deveriam viver em sinceridade e verdade, ou seja, em plena comunhão com o Senhor, tendo um viver completamente diferente do das demais nações.
– Esta celebração deveria ser ensinada às novas gerações, deveria ser um culto que sempre seria comemorado, para que todos soubessem que o Senhor havia libertado o povo do Egito, poupando os seus primogênitos da morte.
– Após ouvir estas orientações, o povo de Israel inclinou-se e adorou ao Senhor (Ex.12:27). As pragas haviam trazido novamente o temor que a opressão de Faraó havia feito desfalecer. Num gesto de confiança em Deus, os israelitas fizeram tudo quanto Moisés e Arão haviam determinado. Como afirma Matthew Henry: “…a perfeição das misericórdias de Deus para conosco devem ser aguardadas em uma observância humilde de Suas instituições” (Comentário sobre toda a Bíblia. Ex.12:21-28. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/exodus/12.html Acesso em 30 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
– Não há como celebrarmos dignamente a ceia do Senhor se não formos verdadeiros e genuínos adoradores. Quando nos sentamos à mesa do Senhor, devemos ter consciência de que nossas vidas estão a serviço de Cristo. Se isto não for uma realidade, não somos dignos de dizer que estamos em comunhão com Ele e com a Sua Igreja. Pensemos nisto!
OBS: Por sua biblicidade, reproduzimos aqui palavras do ex-chefe da Igreja Romana João Paulo II: “…E a condição para esta Comunhão é aquela humildade e disponibilidade a servir os outros, de que nos dá exemplo o próprio Senhor quando se inclina aos pés dos seus discípulos, para lhos levar como um servo. É necessário portanto que a Igreja onde quer que se reúna, em qualquer cenáculo do mundo — recorde e faça recordar constantemente que as condições para a Comunhão com o Senhor são as seguintes: a pureza interior e a humildade do coração, disponível a servir o próximo e, no próximo, a servir a Deus. Ninguém se aproxime desta Ceia com um coração falso, com a consciência pecaminosa, pensando em si mesmo com soberba, sem disponibilidade para servir.…” (Homilia da Missa “in coena Domini”. 3 abr. 1980, citação de Ex.12:21-27. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 29 nov. 2013).
III – A DÉCIMA PRAGA: A MORTE DOS PRIMOGÊNITOS
– No dia quatorze do primeiro mês, à meia-noite, o Senhor cumpriu aquilo que havia falado, primeiramente a Moisés, quando ainda estava a caminho do Egito (Ex.4:22,23) e, depois, a todo o povo, no início do primeiro mês (que é o mês de Nisã) (Ex.12:23). O Senhor feriu a todos os primogênitos do Egito, desde o primogênito de Faraó e até o primogênito dos animais.
– Esta décima praga “…Era o clímax de todas as anteriores. Seu aspecto de punição é imensamente mais severo do que o das outras, cujo principal objetivo era incutir nos egípcios a fé em D’us. Durante esta praga, D’us, Juiz Supremo, executou o castigo, “medida por medida”, pelo decreto de extermínio que o Egito lançara contra o Povo Judeu. O Faraó, que emitira a ordem de que todo menino judeu fosse afogado no Nilo, e os egípcios, que a haviam executado, presenciaram a morte de seus primogênitos na noite que antecedeu o Êxodo. À meia-noite, todos os primogênitos egípcios, inclusive o filho do Faraó, faleceram a um só tempo. A única exceção foi o Faraó, ele próprio um primogênito. D’us poupou-lhe a vida porque, às margens do Mar de Juncos, no episódio da abertura do mar, ele ainda iria testemunhar, uma vez mais, o ilimitado poder de D’us.(…). Naquela noite, os Filhos de Israel vivenciaram uma nova dimensão da Justiça Divina e tiveram a certeza que D’us Misericordioso os libertara da escravidão.…” (As dez pragas do Egito. Revista Morashá, edição 56, abr. 2007. Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=656&p=4 Acesso em 29 nov. 2013).
OBS: Os que consideram que o Faraó do Êxodo foi Amósis I veem no fato de Faraó não ter sido morto nesta praga uma prova de que era ele o Faraó do Êxodo, eis que ele não era o primogênito, tendo sucedido a seu irmão Kamés ou Kamósis. Assim, por não ter primogênito, não teria morrido por ocasião da praga. Por outro lado, está provado que o primogênito de Amósis I morreu ainda quando era jovem, ou seja, tem-se mais uma evidência que Amósis I foi o Faraó do êxodo, tanto que seu primogênito foi atingido pela praga.
– Algo inusitado aconteceu naquela noite. Apesar de todo o alvoroço ocasionado pela morte dos primogênitos e dos animais, os cães não latiram, pois o Senhor havia dito que “nem ainda um cão moverá a sua língua” (Ex.11:7). Os estudiosos das Escrituras perguntam porque Deus não permitiu que os cães latissem, o que seria mais do que normal, diante do alvoroço causado com as mortes dos primogênitos. Isto faz parte do milagre: Deus mostrou que tinha absoluto controle sobre a natureza e que os cães, que normalmente uivam durante a noite, notadamente em meio a tanto alvoroço, foram calados para que todos percebessem que algo sobrenatural havia ocorrido.
OBS: “… e, se for entendido literalmente, foi uma coisa muito extraordinária que um cão, que late pelo mínimo ruído que é feito, especialmente à noite, não tenha sequer movido sua língua ou latido, ou melhor “afiado” sua língua (segundo Noldius), rosnado ou uivado, quando 600.000 homens, fora mulheres e crianças, com seus rebanhos e manadas, iniciaram sua jornada, e, sem dúvida, marcharam através de muitos lugares onde havia cães, antes de chegarem ao Mar Vermelho; isto também pode ser interpretado figuradamente, que nem um egípcio, ainda que fosse muito malvado e malicioso e com má disposição em relação aos filhos de Israel, pôde fazer qualquer mal aos israelitas ou a seu gado, ou exclamar contra eles por causa da morte de seus primogênitos, ou dizer qualquer palavra contra sua partida, ou tentar pará-los, mas, pelo contrário, os apressou em sua ida, tornando-a urgente.” (GILL, John. Exposição da Bíblia. Ex.11:7. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-bible/exodus-11-7.html Acesso em 30 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).
– A passagem da morte por todas as casas dos egípcios fez com que eles não dormissem naquela noite. Havia um lamento único em todo o país. Ante aquela situação, que era desesperadora, Faraó não teve outra alternativa senão chamar Moisés e Arão e mandar-lhes ir embora, para que toso os israelitas servissem ao Senhor, com todos os seus animais, pedindo também, que fosse abençoado por eles (Ex.12:31,32).
– Alguns procuram ver aqui uma contradição, porquanto havia sido dito que nunca mais Faraó veria o rosto de Moisés. Todavia, não há qualquer contradição. O fato de Faraó ter chamado a Moisés e Arão e lhes dado a ordem de retirada não significa que tenham visto um o rosto do outro, até porque Faraó se encontrava em luto diante da morte de seu primogênito. Moisés e Arão receberam o comunicado de Faraó para que partissem do Egito, sem que houvesse necessidade de uma audiência, até porque as circunstâncias de clamor e desespero não recomendavam tais solenidades.
– No meio da madrugada, os israelitas, então, saíram do Egito, daí porque deviam estar preparados para esta saída. Aproveitaram incontinenti a oportunidade que lhes havia sido aberta pelo Senhor. O povo egípcio, por sua vez, apressava ainda mais o povo, com medo de que todos também fossem mortos (Ex.12:33).
– O povo, então, tomou as suas massas, antes que levedassem (eis porque haviam comido pães asmos…), bem como pediram os vasos de prata e de ouro junto aos egípcios, de modo que não saíram de mãos vazias, mas devidamente indenizados. O Senhor não só lhes dava a liberdade como ainda providenciava os despojos. Israel saía não só livre mas como vitorioso numa guerra que havia sido empreendida pelo Senhor em seu favor.
– De igual modo, o Senhor não só nos libertou da escravidão do pecado, como também nos dá vitória completa sobre o pecado e sobre o maligno. É por isso que o apóstolo Paulo nos diz que, em Cristo, somos mais do que vencedores (Rm.8:37) e triunfantes (II Co.2:14). O triunfo era “…uma cerimônia civil e rito religioso da antiga Roma, feito para homenagear publicamente o comandante militar (dux) de uma guerra ou campanha no estrangeiro notavelmente bem sucedida e para exibir as glórias da vitória romana.…” (Triunfo romano. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Triunfo_romano Acesso em 29 nov. 2013). Em Cristo, não apenas somos libertos, mas, também, desfrutamos desta homenagem pública, tornamo-nos participantes da glória da vitória de Cristo sobre o mal. Aleluia!
OBS: “…Assim Israel pode deixar o país da escravidão com o ouro dos seus opressores (cf. Ex 12,35-36), «de cabeça erguida» (Ex 14,8), no sinal exultante da vitória.…” (BENTO XVI. Audiência geral de 19 out 2011. citação de Ex.12:28-36. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 29 nov. 2013).
– Israel estava livre, enfim, mas Faraó ainda não havia se dobrado, como parecia, como veremos na próxima lição.
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/1T2014_L4_caramuru.pdf