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LIÇÃO Nº 5 – O CASAMENTO É PARA SEMPRE

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do sermão do monte, veremos hoje o ensino do Senhor Jesus a respeito do adultério.

– Jesus trouxe o casamento ao princípio divino.

I – A FAMÍLIA, CRIAÇÃO DIVINA

– Na continuidade da comparação entre a Sua doutrina e a lei de Moisés, o Senhor Jesus trata do tema do adultério, que é o sétimo mandamento, ou seja, o segundo mandamento da segunda tábua, o mandamento que vem em seguida ao “não matarás”, que foi o primeiro tratado pelo Senhor no sermão.

– Bem se vê que os chamados “valores morais judaico-cristãos” tratam da vida e da família como basilares e prioritários no relacionamento entre os homens.

Não é, portanto, surpresa alguma que sejam estes dois temas os que mais tenham sido atacados pelo “espírito do Anticristo” nestes dias de princípio de dores que estamos a viver (cf. Mt.24:7,8), a ponto de estarmos a viver numa verdadeira “cultura da morte”, como bem definiu o ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II (1920-2005), sem se falar na investida que se faz, na atualidade, contra o modelo familiar bíblico.

– A defesa da vida, como vimos na lição anterior, é a defesa da própria dignidade da pessoa humana, é o reconhecimento da condição de imagem e semelhança de Deus que ostenta cada criatura humana, que deve ser amada e considerada como tal, de modo que não pode haver mágoas, ressentimentos ou desconsiderações, que acabam por levar ao derramamento de sangue.

– A defesa da família, a obra-prima da criação, por sua vez, é a criação do ambiente propício em que o homem pode desenvolver a sua sociabilidade inata e, deste modo, realizar cabalmente o amor a Deus e o amor ao próximo.

– O mandamento de “não adulterarás” proíbe que alguém tenha relacionamento íntimo com quem não é seu cônjuge.

É um mandamento que impõe a exclusividade do relacionamento sexual entre os cônjuges, a fim de que, dentro desta união entre um homem e uma mulher, se tenha o pleno desenvolvimento da personalidade de cada um, mediante o companheirismo que torna ambos uma só carne, como também se criem condições para que se tenha a procriação e a perpetuação da espécie humana.

– A proibição do adultério, em primeiro lugar, valoriza o casamento. Quem criou o casamento foi o próprio Deus.

Foi o Senhor quem disse que não era bom que o varão vivesse só (Gn.2:18) e fez para ela a varoa, tirada do seu lado, para que com ele estabelecesse uma vida em comum (Gn.2:21-24), cumprindo assim o mandado dado à humanidade pelo seu Criador, qual seja, o de frutificação, multiplicação, enchimento da terra, com a sujeição e dominação desta (Gn.1:28).

– Vê-se, desta forma, claramente que tanto a família quanto o casamento como seu elemento fundante foram criados por Deus, sendo, pois, o modo regular pelo qual o homem pode cumprir os propósitos divinos sobre a face da Terra.

– A família, criada pelo próprio Deus (Gn.2:23,24), procura suprir as necessidades sentimentais, afetivas e emocionais básicas do ser humano. A função da família é, precisamente, impedir que haja o sentimento de solidão, que caracterizava Adão antes da formação da mulher (Gn.2:20).

– Os homens, mesmo, sem conhecer a Palavra de Deus, reconhecem o papel fundamental que a família exerce na vida de um homem.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem afirma que “…a família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.” (artigo XVI, nº 3), preceito que é repetido pela Constituição brasileira, que afirma que “…a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado…” (art.226).

Entretanto, apesar dos preceitos normativos solenes, o adversário tem realizado um trabalho terrível de destruição contra a família, até porque seu trabalho é o de matar, roubar e destruir (Jo.10:10).

– Deus não só criou a família como estabeleceu quais as regras e as condutas que devem ser observadas pelos membros da família. As Escrituras trazem quais os parâmetros do relacionamento entre cônjuges, entre pais e filhos e entre irmãos. O segredo da felicidade no relacionamento familiar está em ter uma conduta conforme a Bíblia Sagrada.

– Como a família foi criada por Deus, é Ele quem deve estabelecer as regras, as normas ao homem, a quem cabe, simplesmente, obedecer.

A família não é nossa criação, nem pode ser estruturada segundo os nossos conceitos ou a nossa vontade. Existem princípios que devem ser seguidos.

Muito se fala, hoje, a respeito da diversidade de culturas, dos diferentes modos de vida das várias raças, tribos e nações em volta do mundo, mas isto não é suficiente para que consideremos que os princípios estabelecidos por Deus não devam ser observados por todos os homens.

– Os homens, envolvidos em seus delitos e pecados, acabam distorcendo os princípios estabelecidos por Deus e cabe à igreja, como defensora destes princípios, imergir nas culturas dos povos de modo a que tais culturas sejam transformadas e voltem aos princípios estatuídos pelo Senhor.

– Observemos que, entre os próprios judeus, a dureza de coração foi responsável pela existência de normas jurídicas sobre a família que estavam em desacordo com os princípios estabelecidos por Deus, como denunciou o próprio Senhor Jesus ao ser indagado sobre a norma do repúdio que vigorava, na época, em Israel (Mt.19:3-8).

– As Escrituras indicam que o homem não foi feito para viver solitariamente. Muito pelo contrário, a Bíblia é explícita ao dizer que, ao contemplar o homem, Deus afirmou que ” não é bom que o homem esteja só” (Gn.1:18), tendo, então, estabelecido a necessidade de criar a mulher, que serviria como uma adjutora, ou seja, como uma ajudadora, que estivesse diante do homem.

– Esta explicitação do texto bíblico, em que se dá a narrativa da criação da mulher, especifica algo que o próprio Deus já havia delineado no instante em que decidiu criar o ser humano, porquanto, ao nos ser informada a intenção divina, é-nos dito que, no plano divino, estava o de dotar o homem não só de domínio sobre a criação na terra, mas também, de capacidade de reprodução (Gn.1:28), o que exigia a formação da família, único ambiente em que se poderia concretizar o desejo de Deus para o homem.

– É, precisamente, dentro deste escopo que devemos observar a família. Ela é uma instituição que foi criada por Deus para que o homem pudesse cumprir tudo aquilo que Deus havia planejado para que o homem fizesse.

Sem a família, seria impossível que o homem frutificasse e se multiplicasse sobre a face da Terra e, por conseguinte, que o homem pudesse dominar sobre a criação que estava na Terra.

– É interessante notar que, ao exercer a sua primeira função de dominador sobre o restante da natureza terrena, o homem percebeu que estava só, sentimento este que foi observado por Deus.

Sem a providência divina de criação da mulher e, por conseguinte, da família, o homem não teria condições sequer de dominar o restante da natureza, pois, acometido que estava de um sentimento de solidão, de falta, não teria condições psicológicas e para se impor frente aos demais seres.

– Alguns estudiosos costumam dizer que a mulher é uma criatura mais excelente que o homem, porque é o resultado do suprimento de uma carência do homem, sendo, portanto, por assim dizer, um aperfeiçoamento da criação divina.

No entanto, se bem observarmos a narrativa bíblica, chegaremos à conclusão de que não é a mulher a criação mais excelente na humanidade, mas, sim, a criação da família, pois foi a criação desta instituição que significou a supressão da carência tanto do homem (que havia motivado a criação da mulher), como da própria mulher.

– O texto bíblico é claro ao indicar que a tão-só criação da mulher era uma condição necessária, porém não suficiente para que se tivesse a solução da questão da solidão.

Esta solução, diz-nos o texto sagrado, somente se deu a partir do instante que Deus estabeleceu que homem e mulher, doravante, se uniriam, formando famílias, de modo a permitir que o propósito divino de domínio e frutificação fosse realizado e concretizado pela humanidade. Assim, é a família a mais excelente criação divina para a humanidade, a “obra-prima de Deus”.

II – O ENSINO DE JESUS SOBRE O ADULTÉRIO

– Ainda falando sobre o propósito divino sobre a família, tem-se que Deus estabeleceu que a família deveria se formar por meio do casamento.

– O casamento é a união entre um homem e uma mulher, que estabelece uma comunidade de vida, material e espiritual.

Casamento é o ato de se deixar pai e mãe e se unir a uma pessoa do sexo oposto com o objetivo de estabelecer, com esta pessoa, uma vida em comum. Esta definição de casamento está em Gn.2:24 e é a que deve ser seguida por todos os servos de Deus.

– Uma família, para se constituir legitimamente, diz-nos as Escrituras Sagradas, exige que haja casamento como seu ato de fundação.

É preciso que as pessoas que pretendem formar uma vida em comum demonstrem, de forma pública e notória, que estão assumindo um compromisso sério, diante de Deus, dos homens e do cônjuge. Só assim se estará constituindo uma família legítima, uma família dentro dos padrões estabelecidos pela Palavra de Deus.

– Sabemos que, nos dias em que vivemos, este conceito de família legítima não mais vigora nas leis dos homens.

No Brasil, por exemplo, desde a Constituição de 1988, o casamento deixou de ser a única forma legítima de se constituir família.

A partir de então, para fins de proteção do Estado, as leis brasileiras têm admitido que a comunidade formada por uma pessoa e seus descendentes ou a união estável entre homem e mulher, mesmo sem casamento, devem ser consideradas como famílias (artigo 226 da Constituição da República) e até mesmo uniões entre pessoas do mesmo sexo, por força de decisão neste sentido tomada pelo Supremo Tribunal Federal.

– Entretanto, o fato de o direito brasileiro assim determinar, não muda em coisa alguma o conceito que os cristãos devem ter a respeito do que é a família, porquanto devemos nos prender ao que estabelece a Bíblia Sagrada, ao princípio, não nos prendendo a leis que surgem por causa da dureza dos corações dos homens (Mt.19:7,8).

Como servos de Deus, importa obedecermos mais a Deus do que aos homens (At.5:29). Deste modo, não há como um servo do Senhor, um verdadeiro salvo se recusar a estabelecer uma família a não ser por meio do casamento, entendido como casamento aquilo que a nossa lei assim denomina.

– Dizem alguns, de forma inadvertida, que o casamento é apenas um pedaço de papel, que, no jardim do Éden, não havia cartório de registro civil, nem a burocracia dos nossos dias e que, mesmo assim, Adão e Eva foram considerados casados diante de Deus, de forma que não se pode exigir “casamento de papel passado” para os crentes, que isto não passaria de um preconceito cultural, de uma doutrina meramente humana, que o que importaria é que tenha havido o compromisso sério entre as duas pessoas, já que “amigado com fé, casado é”.

Chegam, mesmo, a dizer que se está dando mais valor a uma lei feita por homens ímpios do que à Palavra de Deus.

– Efetivamente, o casamento civil é uma instituição humana, relativa à lei dos homens e que o casamento feito no Éden não teve quaisquer das formalidades que são exigidas, e de forma diferente, em cada um dos mais de 180 países do mundo.

Não obstante, e isto também é fato, em todos os estes países, existe o casamento, ou seja, não é qualquer união entre um homem e uma mulher que se considera legítima, mas sempre se exige que se tomem algumas providências para que um homem e uma mulher demonstrem a seus semelhantes que estão deixando seu pai e mãe e estão se unindo para formar uma família.

– Paul B. Horton e Chester L. Hunt, grandes sociólogos americanos, afirmam que “…casamento é o padrão social aprovado para que duas ou mais pessoas estabeleçam uma família…” (Sociologia, p.167-8).

Assim sendo, para que uma sociedade considere que um homem e uma mulher estão formando um novo grupo familiar, faz-se preciso a tomada de algumas iniciativas, que demonstrem, de forma inequívoca, esta intenção, e esta forma é o casamento.

– Ora, se o casamento é este modelo pelo qual as pessoas reconhecem que há um compromisso sério assumido entre homem e mulher, o que a Bíblia manda em Gn.2:24 é que haja este compromisso, que haja esta observância deste padrão, não importando como isto se dá em cada cultura, em cada sociedade.

Seja onde for, o servo de Deus, que deve cumprir o que manda a Bíblia, deve se submeter às exigências da sociedade para deixar bem claro que está assumindo um compromisso sério de ter uma vida em comum com aquele com que está se casando.

– Agora, perguntamos, alguém que, tendo pleno conhecimento do que é se casar, do que a sociedade considera casamento, por que se recusará a se submeter às providências que são consideradas como indispensáveis para que haja este casamento?

Só uma resposta é possível: porque não quer assumir os compromissos que a legislação e a sociedade impõem para o casamento e para os casados, porque não quer dar a esta união a seriedade que a lei dos homens dá a este tipo de união (exigências, via de regra, menores do que as constantes das Escrituras).

Então, se não há disposição de se assumir um compromisso sério e inequívoco diante dos homens, haverá disposição de fazê-lo diante de Deus? É este o comportamento de um verdadeiro cristão, cujo falar deve ser sim, sim, não, não?

Não seria este comportamento, como ensina Jesus, de procedência maligna? (Mt.5:37). Por isso, não podemos aceitar que salvos se submetam a este tipo de união e se recusem a se casar conforme a lei civil.

– O casamento, neste contexto, como podemos perceber, é uma instituição divina, foi criado por Deus, mas Deus deixa ao arbítrio do homem a “forma” como ele se estabelece em cada sociedade.

– Deus disse que o homem e a mulher devem deixar pai e mãe e se unir em uma nova família, dando a isto o nome de casamento, casamento este, aliás, que mandou que a Igreja, como Corpo de Cristo, venerasse, isto é, respeitasse, bem como cuidasse para que se estabelecesse dentro de uma pureza sexual (Hb.13:4).

– O casamento, portanto, é uma instituição divina, mas que está circunscrita a este mundo, a esta vida, de modo que não é algo eterno, que transcenda esta nossa dimensão, como defendem erroneamente os mórmons, como também não se trata de algo intocável e que seja a própria ministração da graça divina, um “sacramento”, como defende, também, sem respaldo bíblico, a Igreja Católica Apostólica Romana.

– Por isso, quando o título de nossa lição fala de “casamento é para sempre”, devemos entender que se trata de uma instituição terrena, que finda quando há a passagem para a dimensão da eternidade, como se costuma dizer, “até que a morte os separe” (Rm.7:2).

– Não há um rito pré-estabelecido para o casamento, nem é a Igreja quem o faz, mas, sim, os noivos que, com seu consentimento e observância das formalidades estabelecidas pelas mais diferentes sociedades, demonstram ter assumido o compromisso de formar uma família. Voltaremos a este assunto e às suas consequências quando estudarmos a lição a respeito do divórcio.

– O casamento, uma vez efetuado, permite que marido e mulher mantenham, entre si, um relacionamento íntimo, um relacionamento sexual, até porque dois dos três objetivos da instituição familiar estão diretamente relacionados à atividade sexual: a procriação e a satisfação dos cônjuges.

– Sem sexo, não há a possibilidade de perpetuação da espécie, nem que os cônjuges alcancem a complementaridade, o término da solidão, algo que é, em parte, suprido pela sexualidade. O sexo não é algo mau, não é algo proibido por Deus, longe disso, já que Deus fez o homem macho e fêmea, ou seja, sexuado.

Entretanto, é no casamento e entre os cônjuges que o sexo pode e deve ser praticado. Sexo antes ou fora do casamento é pecado, pois haverá aí a impureza sexual, a “porneia”, que a Versão Almeida Revista e Corrigida traduz por “prostituição”.

– A Bíblia Sagrada é bem clara no sentido de que os servos de Deus devem dar a devida honra ao casamento e que esta honra envolve a abstinência sexual fora do casamento. O escritor aos Hebreus diz que devemos respeitar o casamento e que este deve ser constituído “sem mácula”, ou seja, sem mancha

(Hb.13:4). Qual seria a mancha deste casamento? O mesmo texto que nos manda respeitar o casamento responde: a prostituição, ou seja, a impureza sexual (que envolve toda e qualquer prática sexual antes do casamento) e o adultério (que é a prática sexual de um casado com quem não é seu cônjuge).

– Este princípio divino é restaurado na ética do reino de Deus, no patamar espiritual estabelecido por Cristo para os Seus discípulos.

– Ao tratar do adultério, o Senhor Jesus parte, mais uma vez, da interpretação que se dava ao sétimo mandamento pelos doutores da lei e que, de resto, aliás, é a interpretação até hoje seguida pelos juristas em todos os países do mundo.

Adultério é a prática de relações sexuais entre uma pessoa casada e quem não é seu cônjuge. Assim, para que se tenha o adultério é preciso que fique demonstrado que houve a relação sexual apta a procriação entre um homem e uma mulher, sendo um deles casado e o outro uma pessoa que não é seu cônjuge.

– Foi, por isso, aliás, que no famoso episódio em que levaram uma mulher adúltera à presença de Jesus, os acusadores dela foram incisivos ao dizer que a mulher fora “apanhada, no próprio ato, adulterando” (Jo.8:4).

– Tecnicamente, o adultério é a manutenção de conjunção carnal, o coito vagínico, entre uma pessoa casada e outrem que não seja seu cônjuge.

Este era o entendimento dos doutores da lei na época do Senhor Jesus, entendimento que se manteve ao longo do tempo, tanto que era a linha predominante adotada pela jurisprudência brasileira enquanto o adultério foi considerado crime entre nós, o que deixou de ocorrer a partir de 2005, quando a lei 11.106 revogou o artigo 240 do Código Penal.

– Aliás, entre os rabinos judeus, tecnicamente só poderia haver adultério entre alguém e uma mulher casada, diante do que constava de Lv.18:20, que fala tão somente em “não se deitar com mulher do teu próximo para cópula”, a exigir, portanto, que se tivesse uma mulher casada e o coito vagínico, pois é isto que significa cópula, no original hebraico, “shakhabh” (בכש), cujo significado é “ deixar cair, emitir de sêmen” (Bíblia de Estudo Palavra Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 7903, p.1964).

Não foi, portanto, à toa, que levaram os fariseus à presença de Jesus uma mulher casada apanhada em adultério (Jo.8:3). Tal interpretação, porém, não tinha o respaldo divino, como se vê claramente na condenação divina ao adultério praticado por Davi (II Sm.12:1-10).

– O Senhor Jesus, seguindo a própria ordem constante da segunda tábua da lei, no sermão do monte, depois de ter tratado do sexto mandamento, dando início à parte do sermão em que apresentou a “Torá do Messias”, ou, como muitos chamam, a “lei do reino”, passou a tratar do sétimo mandamento.

– Assim se pronunciou Nosso Senhor: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela.

Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno.

E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno” (Mt.5:27-30).

– Mais uma vez aprofundando a lei, o Senhor Jesus, abandonando a interpretação dada pelos doutores da lei, que exigiam um ato físico de conjunção carnal para que se caracterizasse o adultério, afirmou que o simples cobiçar da mulher alheia, o chamado “adultério em pensamento”, já caracterizava a violação do mandamento.

– O Senhor Jesus, portanto, repetindo o que já havia feito com relação ao sexto mandamento, mostra que o pecado já se consuma quando, no coração, no homem interior, já se manifesta o desejo pecaminoso.

Quando alguém deseja e imagina estar mantendo relações sexuais com alguém que não é seu cônjuge, já revela estar envolvido pela impureza sexual, já revela não estar sob o domínio do Espírito Santo. Afinal de contas, o próprio Senhor afirma que os adultérios nascem do coração e não na prática do ato sexual (Mt.15:19).

– A pureza sexual não se encontra na genitália, nem no próprio corpo, mas no homem interior, na alma e no espírito que, se estiverem unidas com Deus, se estiverem em santidade, jamais promoverão o desejo libidinoso descontrolado, jamais abrirão mão da fidelidade que se deve ter, primeiramente a Deus e, depois, ao cônjuge, aquele com quem formamos uma só carne, com quem temos a mais estreita comunhão depois do Senhor sobre a face da Terra.

– A santidade no corpo somente será possível se ela se iniciar em nosso espírito e, depois, passar para a alma e, assim, atingir o corpo.

A santificação é um processo de dentro para fora, não apenas uma mera demonstração de aparência, uma santarronice que jamais conseguirá extirpar a tendência da natureza pecaminosa do homem de violar o sétimo mandamento.

– Para que se possa cumprir este mandamento, pois, defende o Senhor Jesus que tenhamos grande vigilância sobre os olhos e os demais sentidos, de modo a que não haja a mínima transigência para com a nossa integridade moral sexual.

É por não ser observada esta advertência de Nosso Senhor que, infelizmente, o número de adultérios e de casos de impureza sexual têm atingido números alarmantes entre os que cristãos se dizem ser. Vigiemos, amados irmãos!

– Já o patriarca Jó, um servo de Deus anterior à própria formação de Israel, ensinava que devemos ter um concerto com os nossos olhos para não os fixar em uma virgem (Jó 31:1).

Mesmo sendo homem abastado, o mais rico de todo o Oriente (Jó 1:3) e, dentro da cultura então vigente (lembremos que Jó era um gentio), onde prevalecia a poligamia, pudesse ter à sua disposição quantas mulheres bem quisesse, Jó, como era “sincero, reto, temente a Deus e se desviava do mal” (Jó 1:1), tinha feito um concerto com os seus olhos, de não os fixar em nenhum virgem, ou seja, tinha um compromisso de não permitir que houvesse qualquer ocasião para desejar uma mulher que não fosse a sua.

– Mas, como se isto fosse pouco, o Senhor Jesus continua a analisar o sétimo mandamento, dizendo: “Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, que lhe dê carta de desquite.

Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério; e qualquer que casar com a repudiada comete adultério” (Mt.5:31,32).

– Além de dizer que o adultério se opera no interior do homem, mesmo que não haja qualquer outro ato físico, igualmente o Senhor Jesus veio contrariar um dos entendimentos que os intérpretes da lei adotavam já em Seus dias, qual seja, o de procurar resolver as suspeitas de adultério com o divórcio, que, na lei de Moisés, era, na verdade, um repúdio, ou seja, uma dispensa unilateral, promovida tão só pelo marido.

– Com efeito, estimulava-se que, diante da suspeita de adultério por parte da mulher, o marido lhe desse carta de desquite, tornando, pois, a mulher livre de qualquer punição por conta do adultério e se evitando, inclusive, o recurso ao ritual da “água de separação” (Nm.19).

– Ao longo da história de Israel, diversas regras criadas pelos doutores da lei procuraram dificultar ao máximo a aplicação da pena de morte em caso de adultério e uma destas formas era o estímulo ao marido que, em vez de apurar se houve, ou não, adultério, que se valesse do divórcio para dirimir a questão.

OBS: “…Debaixo da lei talmúdica, a severidade da lei de Moisés foi, em muitos casos, modificada e as leis relativas ao adultério ficaram sob a influência de uma teoria mais branda da relação entre crime e punição.

De fato, os rabinos foram tão longe a ponto de dizer que uma mulher não poderia ser condenada por adultério a menos que se tivesse mostrado afirmativamente que ela tinha conhecimento da lei a respeito dele — uma teoria que resultava na impossibilidade prática de condenar qualquer adúltera.

Prejuízo algum foi causado por este novo ponto-de-vista, pois o direito ao divórcio que o marido possuía era suficiente para livrá-lo da mulher que, embora culpada do crime, não era punida pela lei.

Diante desta teoria branda, seguiu-se a inteira abolição da pena de morte, no ano 40, antes da destruição do Segundo Templo (Sanhedrin 41a),

quando as cortes judaicas, provavelmente sob pressão das autoridades de Roma, renunciaram ao seu direito de aplicar a pena capital. Desde então, o adúltero passou a ser açoitado e ao marido da adúltera não foi permitido perdoar seu crime (Sotah 6:1),

mas foi compelido a dar-lhe o divórcio, perdendo ela todos os direitos de propriedade que tinha em seu contrato de casamento (Maimônides, “Yad-Hsa-Hazakah”, Ishut, XXIV.6); nem foi permitido à adúltera que se casasse com seu amante (Sotah 5:1) e se ela tivesse se casado com ele, eram obrigados a se separar.…” (Adultério. In: BIBLIOTECA JUDAICA. Disponível em: http://www.jewishencyclopedia.com/articles/865-adultery Acesso em 18 dez. 2014) (tradução nossa de texto em inglês).

– O Senhor Jesus, porém, mostra que o casamento não é simplesmente uma instituição humana, ditada por regras jurídicas, mas, sim, uma instituição criada pelo próprio Deus e que deve subsistir, em sua dignidade, acima de toda e qualquer disposição legal advinda das conveniências humanas.

– Sendo uma figura, um símbolo da própria união entre Deus e Seu povo, o casamento não poderia ser banalizado e desfeito por vontade das pessoas, tão somente para “legalizar” uma situação de infidelidade conjugal.

– O Senhor Jesus, então, mostra que, salvo nos casos de “porneia”, ou seja, quando o cônjuge está em situação de impureza sexual e não quer sair desta circunstância, gerando um impasse entre servir a Deus e se manter casado, jamais o casamento pode ser rompido, de modo que, ainda que se proceda ao divórcio, o novo casamento será adultério aos olhos do Senhor.

– Como bem afirma o Catecismo da Igreja Romana: “O divórcio é uma ofensa grave à lei natural. Pretende romper o contrato livremente consentido pelos esposos de viver um com o outro até a morte. O divórcio lesa a Aliança de salvação da qual o matrimônio sacramental é o sinal.

O fato de contrair nova união, mesmo que reconhecida pela lei civil, aumenta a gravidade da ruptura; o cônjuge recasado passa a encontrar-se em situação de adultério público e permanente:

Se o marido, depois de se separar de sua mulher, se aproximar de outra mulher, se torna adúltero, porque faz essa mulher cometer adultério; e a mulher que habita com ele é adúltera, porque atraiu a si o marido de outra” (§ 2384 CIC).

– A Declaração de Fé das Assembleias de Deus caminha no mesmo sentido: “…Reconhecemos o casamento civil e o religioso com efeitos civis desde que não afrontem os princípios bíblicos e, em especial, não seja realizado entre pessoas divorciadas, em desacordo com o preconizado pelo Senhor Jesus.

A dissolução do casamento é justificada nos seguintes casos: morte [Rm.7:2], infidelidade conjugal [Mt.5:32; 19:9] e deserção por parte do cônjuge descrente [I Co.7:15].…” (Cap.XXIV.1, pp.204/5).

– Lamentavelmente, esta circunstância tão abertamente condenada pelo Senhor Jesus tem se tornado, a cada dia, mais e mais comum e corriqueira entre muitos que cristãos se dizem ser, numa atitude de evidente descumprimento do sétimo mandamento, de desprezo pelo real alcance deste mandamento tal qual nos deu o Nosso Senhor e Salvador.

– O casamento somente pode ser rompido quando há uma situação de impasse entre servir a Deus, mantendo a castidade, bem como manter um relacionamento conjugal onde o cônjuge aberta e deliberadamente mantém uma vida sexual ilícita da qual não quer se separar.

Excetuada esta hipótese, em que está em jogo a própria salvação da pessoa, não há que se falar em possibilidade de novo casamento, de ruptura dos laços conjugais, de forma que uma nova união será uma situação de adultério público e permanente, que tanto prejuízo tem causado à vida espiritual de quem assim vive e de toda a igreja local.

– O divórcio e o casamento de pessoas divorciadas no seio da igreja causam uma situação de escândalo, fazendo com que muitos tropecem na fé e o Senhor Jesus é claríssimo ao dizer que aquele por quem vem o escândalo está em delicadíssima situação espiritual (Mt.18:6,7). Guardemo-nos de ser instrumentos de escândalo, amados irmãos!

– A questão da sexualidade é uma das mais tormentosas em nossos dias e não é para ser diferente, pois estamos a viver dias similares aos dias de Noé (Mt.24:37,38), onde o casamento foi alvo de enorme desprestígio, sendo um dos fatores primordiais para a derrocada da geração antediluviana, pois tudo começou com o desejo indevido por parte dos filhos de Deus frente às filhas dos homens (Gn.6:2), a confirmar o que nos ensina o Senhor Jesus no sermão do monte.

– Estamos vivendo dias de apostasia espiritual, dias de rebeldia contra Deus e este é um tema relevantíssimo da moral estatuída pelo Senhor.

Que Deus nos dê graça para que nos mantenhamos separados de toda esta circunstância contrária à vontade de Deus e que saibamos manter os nossos corpos em santificação, fugindo da imoralidade sexual (I Ts.4:3-5). Amém!

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7377-licao-5-o-casamento-e-para-sempre-i

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