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LIÇÃO Nº 5 – OS INIMIGOS DO CRISTÃO

INTRODUÇÃO

-Na continuidade do estudo da vida cristã como “o Caminho”, veremos hoje quais são os inimigos do cristão.

-O cristão tem três inimigos: o diabo, o mundo e a carne.

I– OS INIMIGOS DO CRISTÃO

-Continuando a estudar a respeito da vida cristã como “o Caminho”, hoje refletiremos sobre os inimigos do cristão.

-O caminho da salvação exige emprego de força (Lc.16:16), pois se trata de uma caminhada que contraria o curso deste mundo (Ef.2:2).

-Quando o pecado entrou no mundo, iniciou-se uma inimizade entre o homem e Deus, como atesta o próprio Senhor no dia mesmo da queda (Gn.3:15).

-Quando cremos em Jesus, portanto, mudamos o “estado natural das coisas” e isto logicamente faz com que se tenha de empreender uma luta contra a nossa natureza pecaminosa, que é a carne; contra o sistema maligno ao qual pertencíamos antes de tomarmos nossa decisão de servir a Deus, que é o mundo; contra o príncipe deste mundo, aquele a quem satisfazíamos seus desejos, ou seja, o diabo, que é auxiliado pelos demônios.

-Mesmo não tendo pecado, o Senhor Jesus enfrentou, enquanto esteve na Terra, todos estes inimigos. Se não tinha a natureza pecaminosa e, portanto, inexistia, em Seu interior o combate entre a carne e o espírito, que é uma constante em todos nós (Gl.5:16,17), Jesus foi, a todo instante e em todos os assuntos, tentado pelo diabo (Hb.4:15; Lc.4:13; Mt.16:23), como também enfrentado incessantemente pelo mundo (Hb.12:2,3).

-Não se deve olvidar, ainda, que, como segundo Adão, sofreu também uma tentação sem precedentes no deserto, tendo, ao contrário do primeiro casal, resistido às investidas satânicas.

-Uma outra forma de vermos a vida cristã é como uma constante luta contra o maligno. Estamos num sistema dominado pelo mal, o “império da morte” (Hb.2:14), e não é da vontade de Cristo que sejamos tirados dele, mas, sim, que sejamos libertos do mal (Jo.17:15).

-Não foi por outro motivo que Cristo Jesus, ao revelar o mistério da Igreja, já afirmou que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela (Mt.16:18), a nos mostrar, de pronto, que a luta contra o maligno é uma constante na vida de quem quiser fazer esta peregrinação terrena na companhia do Senhor.

-A caminhada para a Jerusalém celestial é repleta de percalços, oposições e contradições, como nos mostram duas figuras do Antigo Testamento que têm esta aplicação espiritual: a jornada da geração do êxodo no deserto rumo a Canaã como também a jornada dos que voltaram do exílio sob o comando de Esdras.

-Os israelitas, no deserto, enfrentaram inimigos externos, como os amalequitas (Ex.17:8-16), a quem venceram, e os amalequitas e cananeus, onde sofreram derrota (Nm.14:44,45).

-Mas, também, enfrentaram inimigos internos, seja o vulgo que se misturou com o povo de Israel na saída do Egito e que levou o povo a cometer pecados (Ex.12:38; Nm.11:4-10); sejam os israelitas que se rebelaram contra o Senhor, como os dez espias (Nm.14:36,37); Datã, Corá e Abirão (Nm.16).

-Nos dias de Esdras, tiveram os israelitas também de enfrentar inimigos externos (Ed.8:31).

-Mas, em ambos os casos, vemos que o Senhor não cessou de acompanhar o Seu povo, seja na coluna de fogo e na nuvem, durante o êxodo (Ex.13:21,22; Ne.9:12,19); seja com Sua mão a proteger os exilados que retornaram (Ed.8:23,31).

-Como o Senhor não muda (Ml.;3:6), podemos estar certos de que também estará conosco nesta peregrinação terrena e que, a exemplo da geração do êxodo e dos exilados dos dias de Esdras, também chegaremos à cidade celestial. Aliás, é esta a promessa do Senhor Jesus (Mt.28:20; Jo.17:19,24).

II– O DIABO E SEUS ANJOS

– Iniciemos pelo inimigo externo, ou seja, o diabo, que é auxiliado pelos seus anjos, os demônios, que são a terça parte dos seres angelicais criados por Deus e que seguiram Satanás em sua rebelião (Ap.12:3,4).

-Quando cremos no Senhor Jesus, nascemos de novo (Jo.3:3) e, neste novo nascimento, somos gerados pela semente incorruptível, que é a Palavra de Deus (I Pe.1:23) e passamos, então, a ter vida, ou seja, comunhão com o Senhor (Jo.5:24).

-Ora, estando unidos a Cristo, nada mais temos com o diabo, pois nada do diabo está em Jesus (Jo.14:30) e, desta maneira, surge, então, uma insuperável separação entre nós e o diabo, que se torna, assim, o nosso adversário (é este o significado, aliás, da palavra “Satanás”) (I Pe.5:8), o nosso acusador (que é o significado da palavra “diabo”) (Ap.12:10).

-Daí porque o diabo ser apresentado em Ap.12:7 como sendo “o grande dragão, a antiga serpente, chamada o diabo e Satanás, que engana todo o mundo”.

-Ao falar que se trata de um “grande dragão”, o texto bíblico já mostra que se trata de uma fera, ou seja, um ser que não poupa qualquer outro ser, que tem um instinto destruidor, daí porque o Senhor Jesus o denominá- lo de “homicida desde o princípio” (Jo.8:44).

-Trata-se de um ser que tem por objetivo a morte do ser humano, ser com cuja criação ele nunca se conformou, já que se tratar de uma criatura que ocupará o lugar que ele tanto almejou, que é o de “subir acima das mais altas nuvens” e ter “um trono” (Cf., Is.14:13,14), algo, porém, que está reservado à humanidade remida por Cristo (Ap.3:21).

-Já vemos, por isso, que não há como trafegarmos no caminho da salvação sem ter a fúria do diabo contra nós.

-Mas, além de ser chamado de “dragão”, ele também é dito ser “o grande dragão”. Esta expressão mostra que é ele “o príncipe deste mundo” (Jo.12:31; 14:30; 16:11), o chefe de todos os anjos que pecaram, um ser poderoso e que, por ser anjo, é superior aos homens (Sl.8:5).

Lembremos que nem mesmo o arcanjo Miguel, que vencerá Satanás em uma batalha no céu (Ap.12:7,8), atreveu-se a repreender tal criatura (Jd.9).

-A cor do dragão é “vermelha” e isto nos fala a respeito da sua “sede de sangue”, ou seja, ele é homicida, quer a morte dos seres humanos, e o homicídio está relacionado, no texto bíblico, ao “derramamento de sangue”, à “perda da vida”.

-Mas o diabo também é chamado de “a antiga serpente”. “… É a serpente sedutora, mãe das trevas, que é um cão de fogo horroroso. Foi esse terrível ser que personificado numa serpente enganou a pobre mulher (Gn.3:1- 13; II Co.11:3) …” (SILVA, Severino Pedro da. Apocalipse versículo por versículo. 3. ed., p.166).

-O diabo é denominado “antiga serpente”, porque, embora possa alterar sua roupagem, possa até se transfigurar em “anjo de luz” (II Co.11:14), ele é uma criatura, não o Criador, e, portanto, por mais astuto que seja (aliás é a mais astuta criatura – Gn.3:1), sempre faz uso das mesmas armadilhas, dos mesmos ardis para enganar as pessoas.

-Por isso mesmo, o apóstolo João afirmou que o mundo, sistema dominado por Satanás, somente tem três elementos: a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida (I Jo.2:16), Vemos isto claramente ao notarmos a forma como tentou a mulher e a Jesus.

-Ele é “a antiga serpente”, ou seja, nada de novo advém dele, é “velho” e, como tal, está perto de acabar (Cf. Hb.8:13). Sabe ele que tem pouco tempo (Ap.12:12) e, por isso, tem aumentado em fúria e atividade ao longo da história da humanidade, particularmente neste período que estamos a atravessar, o “princípio das dores” (Mt.24:8).

-Tal intensificação, permitida por Deus, para que haja cumprimento da Palavra (Mt.24:12), aumenta a necessidade de estarmos prontos a resisti-lo para que ele fuja de nós, o que se dá mediante a nossa cada vez maior sujeição ao Senhor (Tg.4:7).

-Ele é o “diabo”, ou seja, o acusador, aquele que não cessa de levantar acusações contra os servos de Deus dia e noite (Ap.12:10). No livro de Jó, vemos como o diabo age neste quesito com relação aos servos do Senhor.

-Seu papel é acusar todos aqueles que se encontram trafegando pelo caminho da salvação, buscando, com isso, minar a comunhão que existe entre Deus e os Seus servos.

-É bom aqui que se afaste um falso ensino de que o diabo, por ser acusador, “tem legalidade”, ou seja, age legitimamente quando acusa os servos do Senhor que, se estiverem realmente em pecado, acabam por “cair nas mãos do diabo”.

-Sem respaldo bíblico tal pensamento. O diabo é uma criatura condenada por Deus e que aguarda a execução de sua pena, já estando preparado para si o lago de fogo e enxofre (Mt.25:41). Evidentemente, um condenado não tem qualquer “legalidade”, é um marginal, um “fora da lei”.

-Sua acusação dia e noite diante de Deus contra os servos do Senhor é tão somente demonstração de seu caráter e de seu ódio ao homem, além do que atitude completamente dispensável, porquanto o Senhor, onisciente que é, não precisa de qualquer acusação para agir.

-Deste modo, a acusação satânica apenas reforça a nossa posição de servos do Senhor e odiados, por causa disto, pelo inimigo de nossas almas. Se a acusação for verdadeira, é inócua, porquanto Deus já sabe da real

situação de cada ser humano; se a acusação é falsa, como costuma ocorrer quando se está diante do “pai da mentira” (Jo.87:44), trará ela apenas bem-aventurança para os servos do Senhor (Cf. Mt.5:11,12).

-Nos casos em que se tem verdadeira acusação, como já dissemos, Deus já tem pleno conhecimento e age no sentido de chamar o Seu servo ao arrependimento que, se ocorrer, trará imediatamente o perdão. É esta confiança que devemos ter: o Senhor quer que todos os homens se salvem e, se pecarmos, Ele é fiel é justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça (I Jo.1:9), Ele é a propiciação pelos pecados de todo o mundo (I Jo.2:2).

-Não nos esqueçamos do que foi mandado fazer ao sumo sacerdote Josué, quando o diabo mostrou as suas vestes sujas. O Senhor repreendeu a Satanás, mandou mudar as vestes do sumo sacerdote, exortou-o e lhe fez promessas (Zc.3:1-10).

-A condição de acusador por parte do diabo é mais um indicativo de que não é possível a trégua com o diabo, como alguns são iludidos a pensar.

Aquele pensamento de “não mexa com o diabo que ele não mexe com você” não passa de um engano, de mais uma astuta cilada do adversário, pois, como dizem as Escrituras, ele não cessa de acusar os servos do Senhor de dia e de noite.

-Mas ele é também chamado de “Satanás”, ou seja, “adversário”. Ele sempre se opõe aos servos do Senhor, pois ele se levanta contra tudo que diz respeito a Deus. Ele se opõe ao Senhor e, portanto, opor-se-á a todos os que forem feitos filhos de Deus por terem crido em o nome de Jesus (Jo.1:12).

-Não é à toa que o Anticristo, a criatura humana que mais terá comunhão com Satanás, terá precisamente esta característica de se levantar contra tudo o que diga respeito a Deus (II Ts.2:4).

Em nossos dias tão difíceis, temos visto claramente o ódio diabólico contra tudo o que se refira a Deus, como, por exemplo, os movimentos contra a família, a sexualidade e a moral bíblica em geral.

-Ao crermos em Cristo, deixamos de ser filhos do diabo para passarmos a ser filhos de Deus e, desta maneira, não mais satisfazemos os desejos de Satanás (Jo.8:44). Sempre estamos a desagradar-lhe e há uma constante e total oposição entre nós e ele. Jesus veio estabelecer a inimizade entre o homem e o diabo (Gn.3:15).

-Tudo o que se disse com relação ao diabo, também se aplica aos seus anjos, que são os demônios, compondo este grupo o que o apóstolo Paulo denominou de “principados, potestades, príncipes das trevas deste século, hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais” (Ef.6:12).

-Vivemos numa verdadeira batalha espiritual, pois estes seres sempre estão a nos atacar, a nos perturbar, estando em ação contínua e cada vez mais crescente, já que sabem que está muito próxima a execução de suas sentenças condenatórias.

-A atuação demoníaca teve grande incremento desde que Jesus iniciou Seu ministério, como vemos no relato dos Evangelhos, não tendo havido qualquer diminuição quando a Igreja iniciou a sua missão sobre a face da Terra e, neste “princípio das dores”, é inegável a multiplicação da ação demoníaca, até porque tem sido dado cada vez mais lugar às hostes espirituais da maldade nestes dias trabalhosos de multiplicação da iniquidade e de apostasia e frieza espirituais.

-Mais do que nunca, portanto, precisamos estar devidamente preparados para este embate, revestindo-nos da armadura de Deus (Ef.6:11-18), dotando-nos de armas poderosas em Deus para destruição das fortalezas (II Co.10:4).

-Nesta luta contra o diabo e seus anjos devemos ser revestidos de poder, para que, cheios do Espírito Santo, sejam usados na expulsão de demônios e na cura de enfermidades (parte delas provocadas por demônios),

como também vivermos e pregarmos uma vida de santidade e de luta contra a idolatria, que nada mais é que culto a demônios (I Co.10:14-21).

-Para, mais uma vez, lembrarmo-nos da feliz alegoria de Bunyan, temos que um dos instantes mais dramáticos de sua narrativa foi a luta terrível entre Cristão e o demônio Apoliom no Vale da Humilhação. Impossível querer ir ao céu sem que se lute contra as hostes espirituais da maldade.

III– O MUNDO

-Depois de termos visto o inimigo externo, que é o diabo e seus anjos, vamos tratar, ainda, de um inimigo externo, mas um inimigo externo “próximo”, pois o diabo anda ao nosso derredor (Tg.5:7), mas tem seu assento nos “lugares celestiais”, é um espírito e não pertence propriamente a esta dimensão terrena, embora esteja sempre a aqui vaguear.

-O mundo, porém, está sobre a face da Terra. Embora seja um sistema espiritual, é algo com quem convivemos, é algo em que estamos fisicamente envolvidos, tanto que o Senhor Jesus diz que “estamos no mundo”. Daí porque ser um inimigo externo mas “próximo”.

-Quando nos utilizamos da expressão “mundo”, devemos, antes de mais nada, não confundirmos os dois principais significados desta palavra. “Mundo”, por primeiro, significa o universo físico, todas as coisas que foram criadas por Deus. Neste sentido, aliás, o escritor aos hebreus fala em “mundos” (Hb.11:3). Este mundo é a criação de Deus (Sl.24:1).

-O outro significado de “mundo” tem a ver com o sistema contrário a Deus, liderado por Satanás, uma organização rebelde contra o Senhor, que busca ter uma vida independente do senhorio divino, em que prevalece a maldade e o pecado.

-Este sistema é liderado pelo diabo, que, por isso mesmo, é chamado pelo Senhor Jesus de “princípio deste mundo” (Jo.12:31; 14:30; 16:11), formado por todos os seres, demônios e homens, que rejeitam obedecer a Deus e que pretendem ter uma vida independente, querendo dizer a si mesmos o que é o bem e o que é o mal.

-Este “mundo” está no maligno (I Jo.5:19), precisamente porque os seus componentes estão escravizados pelo pecado (Jo.8:34), fazendo a vontade do seu pai, que é o diabo (Jo.8:44), razão pela qual se trata de um “império da morte” (Hb.2:14) e um ambiente dominado pelo engano e pela mentira.

-Neste “mundo”, todo ser humano ingressa quando adquire a consciência, pois é portador de uma natureza pecaminosa, nasce à imagem e semelhança de Adão (Gn.5:3), é formado em iniquidade (Sl.51:5), de forma que, quando é apto para escolher entre o bem e o mal, inevitavelmente escolhe o mal, pecando e se tornando, com isso, escravo do pecado (Jo.8:34).

-É preciso, pois, que creiamos em Jesus Cristo e, assim o fazendo, Ele nos livra do pecado (Jo.8:36), libertação esta que é tríplice: somos libertos do poder do pecado (At.26:16,17), do corpo do pecado (Rm.7:24,25) e da natureza do pecado (II Co.5:17).

-Bem se vê, portanto, que, quando alguém é salvo na pessoa de Jesus e passa a pertencer à Igreja, já que é inserida no corpo de Cristo (I Co.12:13), é liberto do mundo, é retirado dele, sai do mundo, e, por isso mesmo, o Senhor Jesus diz que está no mundo, mas não é mais do mundo (Jo.17:11,14,16).

-Aliás, a própria expressão “igreja”, em grego “ekklesia”, significa “chamados para fora”. Se alguém crê em Jesus, simplesmente deixa de pertencer ao mundo, sai dele, embora permaneça fisicamente no ambiente dominado pelo mundo.

-Percebe-se, portanto, que, por definição, há uma oposição entre o mundo e a Igreja. Quem passa a pertencer a Igreja deixa de pertencer ao mundo e quem não pertence à Igreja, pertence ao mundo.

-Quem crê em Cristo como Senhor e Salvador, como diz o próprio Jesus, passou da morte para a vida (Jo.5:24) e, como o mundo é o “império da morte”, há evidente contradição entre o mundo e a Igreja.

-Jesus disse que foi odiado pelo mundo e o que mesmo aconteceria com Seus discípulos (Jo.15:18,19). Por isso, o verdadeiro cristão não ama o mundo, pois amar o mundo é testemunhar que não temos o amor de Deus em nós (I Jo.2:15).

-Nem poderia ser diferente, porque a Igreja é o corpo de Cristo (I Co.12:27) e o mundo é dirigido pelo diabo, que não tem ponto algum em comum com o Senhor Jesus (Jo.14:30), havendo, assim, uma total incompatibilidade entre a Igreja e o mundo.

-A Igreja é a “luz do mundo” (Mt.5:14), porque tem comunhão com Jesus Cristo, Ele próprio a luz do mundo (Jo.1:4; 8:12; 9:5), enquanto o mundo é treva e as trevas não compreendem a luz (Jo.1:5). Não há comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14) e quem anda em trevas não pode estar em comunhão com o Senhor (I Jo.1:6).

-Deus é luz e não há n’Ele trevas nenhumas (I Jo.1:5), de sorte que quem tem comunhão com o Senhor vem para a luz (Jo.3:20,21).

-A Igreja é a “coluna e firmeza da verdade” (I Tm.3:15), enquanto o mundo é dominado pelo pai da mentira (Jo.8:44), de modo que é o ambiente onde impera o engano e a ilusão (Ef.4:22; II Tm.3:13; Tg.1:22; Ap.12:9).

-A Igreja é “o sal da terra” (Mt.5:13) e, como tal, dá sabor ao mundo, ou seja, traz ao mundo o que agrada a Deus, traz ao mundo sabedoria, os valores determinados pelo Senhor, o que é bom, o que é verdadeiro, o que tem virtude (Cf. Fp.4:8), enquanto que, no mundo, só há corrupção (Gn.6:11.12; Mq.2:10; Rm.8:21; Gl.6:8; Fp.2:15; Tg.1:27; II Pe.1:4), ou seja, a degeneração e a deterioração do que é bom, verdadeiro e belo, com a prevalência da maldade e de tudo o que não convém (Os.4:1,2).

-Assim, não há mesmo como deixar de haver ferrenha oposição entre a Igreja de Cristo e o mundo e o resultado disto é uma luta incessante que faz com que, neste mundo, os servos de Jesus tenham sempre aflições (Jo.16:33).

-“Aflição” é a palavra grega “thlipsis” (θλίψις), cujo significado é o de “pressão, aflição, angústia, perseguição, problema, dificuldade” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 2347, p.2234). O que Jesus nos fala é que, dia e noite, noite e dia, o servo do Senhor estará sob constante pressão, sendo atacado pelo mundo, por ser um “corpo estranho” neste “império do mal”.

-Por isso mesmo, não podemos, de forma alguma, admitir qualquer pensamento ou ideia que venha a defender uma amizade com o mundo, uma “trégua”, um acordo. São dois corpos completamente incompatíveis, que não podem se interpenetrar, assim como a água nunca se mistura com o óleo ou a luz com as trevas.

-O único ponto de contato entre Igreja e império do mal é a convivência física no planeta, enquanto estamos nesta peregrinação, pois a Igreja precisa pregar o Evangelho, ganhar almas para Jesus e esta tarefa é feita no mundo, entre as nações (Mc.16:15; Lc.24:47; At.1:8), daí porque o Senhor interceder por nós não para que sejamos tirados do mundo, mas, sim, libertos do mal (Jo.17:15).

-Devemos, então, seguir o exemplo de Abrão, o amigo de Deus (Is.41:8) e, portanto, inimigo do mundo (Cf. Tg.4:4), que, habitando na terra de Canaã, convivia bem com os seus vizinhos, mas com eles não comungava, mantendo uma vida independente e diferente, tanto que era conhecido como “o hebreu” (Gn.14:13), ou seja, “aquele que tinha vindo dalém do rio” e que não havia se misturado com os moradores de Canaã.

-Abrão tinha convivência com os vizinhos, tanto que Aner, Escol e Manre foram com ele lutar para libertar Ló (Gn.14:24), mas havia entre eles uma “confederação” (Gn.14:13), ou seja, uma aliança em que cada um mantinha a sua independência, a sua liberdade de atuação.

-Assim deve ser a Igreja de Cristo. Por estar no mundo e ser, neste mundo, a luz, o sal e a coluna e firmeza da verdade, a Igreja deve conviver com os homens, não pode se furtar a este convívio (I Co.5:9,10), mas não pode se comprometer com o mundo, misturar-se com a corrupção que há no mundo, mas dela se guardar (Tg.1:27), depois de ter escapado dela (II Pe.1:4).

IV– A CARNE

-O terceiro inimigo do cristão é o inimigo interno, a saber, a carne, a natureza pecaminosa que existe em cada um de nós e que não é destruída de imediato quando cremos no Senhor Jesus.

Com efeito, as Escrituras nos ensinam que a salvação crucifica a carne com suas paixões e concupiscências (Gl.5:24), mas crucificar não é matar, não é aniquilar, como bem demonstrou o Senhor Jesus que, crucificado, durante seis horas se manteve vivo, como o demonstram as conhecidas “sete palavras da cruz”.

-A nossa natureza pecaminosa somente desaparecerá quando houver a nossa glorificação, por ocasião do arrebatamento da Igreja, quando, então, sim, estaremos para sempre livres deste “corpo do pecado”, que não é o nosso corpo físico, mas, sim, a nossa natureza pecaminosa herdada de nossos primeiros pais (Cf. Gn.5:3).

-A “carne” é esta natureza pecaminosa que impede o homem de escolher o bem e rejeitar o mal, tornando-o escravo do pecado assim que adquire a consciência.

-Entende Jacó Armínio (1560-1609) que o homem, ao ser criado, teve qualidades naturais e sobrenaturais que o faziam imagem e semelhança de Deus.

Diz o grande teólogo: “…chamo de naturais as qualidades que dizem respeito à natureza do homem, sem as quais o homem não pode ser homem, e que têm sua origem nos princípios da natureza, e são preparadas, pela sua própria natureza, para a felicidade natural, como seu objetivo e limite; elas são o corpo, a alma e a união de ambos (…).

Chamo de sobrenaturais as qualidades que não fazem parte do homem, e não se originam de princípios naturais, mas são adicionados aos princípios naturais, para aperfeiçoamento da natureza, destinados à felicidade sobrenatural, e para uma comunhão sobrenatural com Deus, o nosso Criador, de que consiste a felicidade.

(…) Afirmo que a imagem de Deus no homem abrange todas aquelas coisas que representam, no homem, algo da natureza divina, que é parcialmente essencial (…)1.

Chamo essencial a alma, e nela, o intelecto, e a vontade, e a liberdade de vontade, e outros sentimentos, ações e paixões, que, necessariamente, resultam deles. 1.

Chamo acidentais tanto as virtudes morais como o conhecimento de Deus, a justiça e a verdadeira santidade, e quaisquer outros atributos da Divindade que existam, a serem considerados n’Ele, como essenciais à sua própria natureza, mas no homem, como uma imagem expressa…” (A Um debate amistoso entre Jacó Armínio e Francis Junis a respeito da predestinação, realizado por meio de cartas. Réplica de Armínio à resposta à décima proposição. In: ARMÍNIO, Jacó. Obras de Armínio. Trad. de Degmar Ribas Júnior, v.3, pp.117-9).

-Com o pecado, as “qualidades sobrenaturais” foram perdidas, de sorte que o homem se viu sem as suas virtudes morais, o conhecimento de Deus, a justiça e a santidade, de sorte que, embora tendo o intelecto, que lhe permitia saber o que Deus queria, não pôde mais realizá-lo.

Esta natureza sem as qualidades naturais é o que se denomina de “carne” ou “natureza pecaminosa” do homem, que faz com que o homem, despido destas qualidades, venha inevitavelmente a pecar, ainda que saiba que o que está a fazer é errado.

-É esta a terrível situação descrita pelo apóstolo Paulo. O pecado opera no homem a morte (Rm.7:13), de tal maneira que aquilo que o homem faz, ele não aprova, mas aquilo que ele sabe que é errado e que aborrece, é precisamente o que ele faz, já que não pode impedir, com suas próprias forças, que o pecado seja praticado (Rm.7:15).

-O mesmo Jacó Armínio, discutindo este capítulo 7 de Romanos, afirma que estamos diante de um homem não regenerado, de alguém que está escravizado pelo pecado e que não tem condição alguma de impedir o pecado em seu ser, ainda que tenha conhecimento de que o que faz é errado.

-Quando o homem entende que o que é errado, consente com a lei, pois admite que a lei é boa, mas, mesmo assim, a transgride, de sorte que se torna culpado, pois, conscientemente, desobedece à lei, lei que simplesmente lhe aponta o pecado e, portanto, o torna inescusável diante de Deus.

-Por isso, a lei serve como instrumento de condenação, porquanto, quando o homem que peca admite que está transgredindo a lei, que está a fazer algo que sabe que é errado, está se condenando a si próprio, vez que admite estar transgredindo a lei.

-Como afirma Armínio: “…Aqui o apóstolo apresenta dois senhores, que são completamente contrários entre si e diretamente opostos: Deus e o pecado — o primeiro deles, o legítimo Senhor; o segundo, um tirano que, por meios violentos, usurpa o domínio sobre o homem, por falha, na realidade, do próprio homem, e pelo justo juízo de Deus. Ambos impõem ao homem uma lei.

Deus impõe a Sua, de modo que o homem possa obedecer a Ele naquelas coisas que a lei prescreve; e o pecado impõe a sua lei, de modo que o homem pode obedecer a ela, nas ‘suas paixões’, que são propostas por uma lei própria.

A primeira é chamada “a Lei de Deus”, e a segunda, “a lei do pecado”. Com a primeira, Deus Se esforça para guiar o homem, que está debaixo da lei, fazendo com que ele seja obediente ao Senhor.

Com a segunda, o pecado procura e tenta, com todos os tipos de violência, impelir os homens a obedecer a ele. Com a Sua lei, Deus prescreve aquelas coisas que são ‘santas, justas e boas’; com a sua lei, o pecado propõe aquelas coisas que são úteis, prazerosas e agradáveis à carne.

No entanto, ambos, Deus e o pecado, têm, neste homem, que está debaixo da lei, algo que favorece suas várias causas e propósitos, e que concorda com cada uma das leis. Deus tem o entendimento, ou a ‘lei do entendimento’; o pecado tem a carne, ou a lei da carne, ou ‘dos membros’.

O entendimento, que consente com a Lei de Deus, que é ‘santa, justa e boa’; a carne, que concorda com a lei do pecado, que é útil, prazerosa e agradável; a ‘lei do entendimento, que é o conhecimento da lei divina, e um consentimento com ela; a ‘lei dos membros, que é uma inclinação e propensão àquelas coisas que são úteis, prazerosas e agradáveis à carne, isto é, a esses objetos mundanos, terrenos e visíveis…” (Uma dissertação sobre o verdadeiro e genuíno sentido do sétimo capítulo da Epístola de Paulo aos Romanos, por aquele famoso religioso, o reverendo Jacó Armínio, D.D., nativo de Oudewater, Holanda. In: ARMÍNIO, Jacó. Obras de Armínio. Trad de Degmar Ribas Júnior, v.2, p.285).

-Por isso, não pode a lei ser considerada um critério para a salvação, como faziam os judaizantes na igreja primitiva (como deveria ser o caso dos crentes judeus de Roma), e continuam a fazer alguns segmentos religiosos da atualidade, com destaque para os sabatistas.

-Adotar a lei como critério de salvação é verdadeiro suicídio espiritual, pois a lei apenas consegue apontar o pecado, dar consciência ao homem do que é pecado, mas não tem condição alguma de impedir a prática do pecado, porquanto a lei não consegue tirar o pecado, mas tão somente mostrá-lo, torná-lo claro e indesculpável.

-Por isso, o apóstolo considera que o homem “debaixo da lei” é, precisamente, o homem que, sem a graça de Deus, é impotente diante da carne, pecando inevitavelmente. A lei, portanto, traz ao homem somente uma maldição, a certeza da condenação, a consciência de que se é um condenado, nada contribuindo para a salvação.

-É o que Paulo diz na carta aos gálatas, quando afirma: “Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição, porque escrito está: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las. E é evidente que, pela lei, ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé” (Gl.3:10,11).

-Qualquer doutrina, portanto, que defenda a observância da lei, a utilização da lei como critério da salvação, não passa de um ardil de Satanás, que quer manter o homem no pecado e condenado à perdição eterna.

-O fato é que, o homem, separado de Deus por causa do pecado, sucumbe ao pecado em virtude da sua “carne”, que reina soberana em sua vida, apesar de ele ter consciência de que está a pecar, a transgredir a vontade divina.

Sua natureza é totalmente depravada, nela não habita bem algum (Rm.7:18), o mal está com ele e, portanto, ele não tem condição alguma de se libertar desta natureza pecaminosa, desta carne, que o apóstolo chama de “corpo desta morte” (Rm.7:24).

-Daí porque o homem carnal, sem condições de se libertar deste tenebroso poder que existe em seus membros, exclama: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm.7:24).

-O que a lei faz, portanto, é apenas dar consciência ao homem do que é certo ou errado, sem que o homem possa, diante deste entendimento, praticar o bem, pois sua natureza pecaminosa não o permite.

-Torna-se, portanto, indispensável que venha a graça de Deus para que o homem, pela fé em Cristo, fé esta que lhe advém pela Palavra (Rm.10:17), possa se arrepender de seus pecados, tê-los retirados e, diante da justificação, nascer de novo, surgindo uma “nova criatura”, que não detém a natureza pecaminosa, mas, sim, que passa a ter tanto as qualidades naturais quanto as sobrenaturais, que o faça imagem e semelhança de Deus.

-A justificação implica na regeneração e, portanto, esta “nova criatura” não tem a natureza pecaminosa, não é guiada pela carne, e, sim, pelo Espírito Santo.

-Com a justificação e regeneração, porém, a carne não desaparece, mas está “crucificada com Cristo”. Deste modo, precisamos continuamente alimentar o nosso espírito para que a carne não mais prevaleça em nosso interior.

-A carne é insubmissa a Deus e, portanto, sempre quererá desvencilhar-se dos cravos que a prendem à cruz de Cristo, para que possa novamente atuar e dominar. Quando pecamos, isto ocorre precisamente porque permitimos que a carne se solte e o que o diabo e o mundo fazem é sempre atiçar e provocar a carne para que ela “desça da cruz”.

-A carne cobiça contra o espírito e o espírito, contra a carne (Gl.5:17). Assim, temos de fortificar nosso espírito e isto se dá quando desfrutamos, intensificamos nossa comunhão com o Espírito Santo. Isto sempre se dá quando nos santificamos, quando nos utilizamos dos meios de santificação e nos aproximamos do Senhor.

-Orando, jejuando, meditando nas Escrituras, adorando ao Senhor, temendo a Deus, pensando nas coisas que são de cima, buscando o batismo com o Espírito Santo e os dons espirituais, realizando as tarefas que nos são cometidas pelo Senhor na Sua Igreja, sempre estaremos a alimentar o nosso espírito e, deste modo, não cumpriremos a concupiscência da carne.

– Lamentavelmente, muitos, em nossos dias, andam relaxadamente, não se dedicam à santificação e o resultado disto é a frieza e apostasia espirituais, o reinício na vida de prática do pecado. Que Deus nos livre disto, pois, assim agindo, ficaremos à margem do caminho da salvação e não chegaremos aos céus.

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10459-licao-5-os-inimigos-do-cristao-i

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