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LIÇÃO Nº 7 – A RESPONSABILIDADE DA IGREJA COM OS MISSIONÁRIOS

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo das missões transculturais, veremos a responsabilidade da Igreja com os missionários.

-Toda a Igreja deve se responsabilidade pelos seus missionários.

I – O MINISTÉRIO DE APÓSTOLO

-A palavra “apóstolo” significa “enviado”.

A primeira vez que ela aparece na Versão Almeida Revista e Corrigida é em Mt.10:2, quando o evangelista aponta o nome dos doze apóstolos: Simão, chamado Pedro; André; Tiago, filho de Zebedeu; João; Felipe; Bartolomeu; Tomé; Mateus; Tiago, filho de Alfeu; Lebeu, apelidado Tadeu; Simão Cananita e Judas Iscariotes (Mt.10:2-4).

-Neste texto, Mateus narra que Jesus chamou os Seus doze discípulos e lhes deu poder sobre os espíritos imundos para os expulsarem e para curarem toda a enfermidade e todo o mal (Mt.10:1).

Estes doze são chamados de “apóstolos”, portanto, porque foram enviados pelo Senhor Jesus para que fossem às ovelhas perdidas da casa de Israel, a fim de pregar o Evangelho.

-A palavra “apóstolo” é a mesma palavra “missionário”, esta de origem latina, de modo que, quando estamos a falar de “apóstolos”, também estamos a falar de missionários.

-Aqueles doze discípulos do Senhor Jesus foram escolhidos por Ele para serem “enviados” para as ovelhas perdidas da casa de Israel, para as aldeias e cidades que o Senhor Jesus não teria tempo de visitar durante o Seu ministério terreno, para que toda a nação de Israel pudesse ser alcançada pela mensagem do Evangelho do reino de Deus, que era pregado pelo Senhor (Mc.1:14,15).

-Não é diferente o relato de Marcos a respeito, que nos informa que, depois que Jesus foi a Nazaré, chamou a Si os doze e começou a enviá-los a dois e dois, dando-lhes poder sobre os espíritos imundos (Mc.6:7), tendo eles saído a pregar o arrependimento, tendo expulsado demônios e curado enfermos (Mc.6:12,13), tendo, depois, feito um relato ao Senhor de tudo quanto haviam feito, ocasião em que são chamados por Marcos de “apóstolos” (Mc.6:30).

-Lucas também registra este episódio, dizendo que o Senhor convocou os Seus doze discípulos, dando-lhes virtude e poder sobre todos os demônios e para curarem enfermidades, tendo-os enviado a pregar o reino de Deus e a curar os enfermos (Lc.9:1,2). Quando eles regressaram para dar o relato ao Senhor do que haviam feito, Lucas os chama de “apóstolos” (Lc.9:10).

-A noção que se tem de “apóstolo”, portanto, é daquele que é enviado diretamente pelo Senhor Jesus para realizar a obra da pregação do Evangelho a plagas que ainda não haviam ouvido a mensagem da salvação.

-É, aliás, neste sentido que o próprio Senhor Jesus é chamado de apóstolo, como se vê de Hb.3:1, quando Cristo é chamado de “apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão”.

Ninguém teve maior condição de apóstolo que o próprio Jesus que, por diversas vezes, enfatizou que havia sido enviado pelo Pai (Mt.10:40; Mc.9:37; Lc.4:18; 9:48; 10:16; Jo.3:17; 4:34; 5:23,24,30,36-38; 6:29,38-40,44,57; 7:16,18,28,29,33;8:16,18,26,29,42; 9:4; 10:36; 12:44,45,49; 13:16,20; 14:24; 15:21; 16:5; 20:21).

II– O APÓSTOLO COMO DESBRAVADOR, COMO MISSIONÁRIO

-Mas, como já dissemos supra, “apóstolo” quer dizer “enviado” e, neste sentido, como diz o Catecismo da Igreja Romana, “…Toda a Igreja é apostólica na medida em que é “enviada” ao mundo inteiro; todos os membros da Igreja, ainda que de formas diversas, participam deste envio.

“A vocação cristã é também por natureza vocação ao apostolado.” Denomina-se “apostolado” “toda a atividade do Corpo Místico” que tende a “estender o reino de Cristo a toda a terra”…” (§ 863 CIC).

-Por isso, no próprio Novo Testamento, Barnabé é chamado de apóstolo juntamente com Paulo em At.14:14, numa expressão que indica que se tratava aqui de reconhecer que ambos estavam desbravando o Evangelho em terras até então totalmente alheias à mensagem da salvação, como era o caso daquelas cidades da Ásia, para onde haviam sido enviados pela igreja de Antioquia, após expressa determinação do Espírito Santo (At.13:2).

-Em Rm.16:7, Paulo também se refere a Andrônico e a Junia, seus parentes e que haviam sido companheiros seus de prisão, como alguns dentre os “apóstolos”, e que, inclusive, haviam se convertido antes dele.

-Percebe-se, pois, que, desde os primeiros dias da Igreja, as pessoas que haviam sido “enviadas” para desbravar terras que ainda não tinham sido evangelizadas, que tinham sido enviadas como missionários, eram também chamadas de “apóstolos”, até porque o nome “apóstolo”, como dissemos, significa “enviado” em grego.

-Este costume perpetuou-se na Igreja, de modo que também são chamados de “apóstolos”, ao longo da história da Igreja, aquelas pessoas que abriram frentes de trabalho, que estabeleceram igrejas em locais até então não evangelizados, como é o caso de Bonifácio (672-754/755), que é chamado de “apóstolo dos germanos”, por ter feito a evangelização entre os povos bárbaros da Alemanha; de Cirilo (827-869), o criador do alfabeto cirílico, e seu irmão Metódio (826-885), que são chamados de “os apóstolos dos eslavos”, por terem sido os responsáveis pela evangelização dos povos eslavos.

É este sentido, também, que os católicos romanos dão a José de Anchieta (1539-1597), chamado de “o Apóstolo do Brasil”, por ter sido o pioneiro da catequese dos indígenas em nosso país.

-Assim, toda pessoa que é enviada para missão, abrindo trabalhos onde não os havia antes, sendo um desbravador da mensagem do Evangelho, é chamada de “apóstolo”, sendo aquele que firma as primeiras bases da Igreja naquela determinada região, sendo, assim, de certa forma, um “fundamento” da edificação da Igreja naquele lugar.

-Existe, sim, uma semelhança entre esta figura desbravadora e o que fizeram os doze apóstolos do Cordeiro, mas, à evidência, na estrutura espiritual da Igreja, são atuações absolutamente distintas. Estes “apóstolos” são, na verdade, evangelistas pioneiros, que lançam as bases da evangelização numa determinada região, mas que não têm o mesmo papel dos doze apóstolos do Cordeiro.

-Serem chamados de “apóstolos” não é, porém, nenhum equívoco ou erro, já que a própria Bíblia Sagrada assim denomina tais pessoas.

III– A RESPONSABILIDADE DA IGREJA COM OS MISSIONÁRIOS

-Pelo que estamos, pois, a observar, os “missionários” nada mais são que “apóstolos”, na feliz expressão do pastor Antonio Sebastião da Silva, grande ensinador da Palavra de Deus e diretor da Faculdade Teológica de Santo André (FATESA), “apóstolos do Espírito Santo”, ou seja, pessoas que são escolhidas pelo Senhor para dar início a igrejas locais em lugares ainda não alcançados pela mensagem do Evangelho.

-É neste sentido, aliás, que o apóstolo Paulo diz que o Senhor, na igreja, primeiramente chama “apóstolos” (I Co.12:28), pois são eles os iniciadores da obra do Senhor num determinado local, os primeiros a levar a mensagem da salvação e que implantam a Igreja lá.

-Também, por isso, costuma-se ilustrar o dom ministerial de apóstolo com o “dedo polegar” (cada dom ministerial é representado por um dedo da mão), pois é este o único dedo que tem contato com os demais, exatamente porque o apóstolo, tendo implantado a igreja local, é aquele que coordena e até “escala” (na devida orientação de Cristo) os demais “homens-dons” postos pelo Senhor Jesus, cabeça da Igreja, para promover o aperfeiçoamento dos santos para a edificação do corpo em amor (Ef.4:11-16).

-Talvez, por isso, aliás, muitos, na atualidade, sedentos de “poder eclesiástico”, queiram ser chamados “apóstolos”, pois identificam nesta coordenação uma “superioridade”, um “poder de mando”, quando, na verdade, na lógica do reino de Deus, os que são maiores devem, isto sim, servir os menores (Mt.20:25-28).

-Não é, aliás, por outro motivo, que Paulo tenha dito que os apóstolos são os “hyperetes”, que eram os escravos que, nos navios, situados no porão, faziam a movimentação da embarcação nas galés (I Co.4:1), ou seja, os que estão abaixo de todos, para servir a todos (I Co.4:9).

-Diante desta constatação, ou seja, de que o apóstolo, como todo “homem-dom” [pois é assim que o teólogo Russell Norman Champlin (1933-2018) denomina os portadores dos dons ministeriais], é alguém escolhido e posto na Igreja por Cristo (Ef.4:11), para uma tarefa específica, é evidente que a Igreja deve envidar esforços e se esforçar para que o ministério do apóstolo seja cumprido.

-A cabeça da Igreja é Cristo (Ef.5:23) e, portanto, se Ele dá para a Igreja um apóstolo, não pode a Igreja, que é submissa ao Senhor (Ef.5:24), ter outra conduta senão permitir que este apóstolo desempenhe o seu ministério.

-Ora, permitir o desempenho do ministério nada mais é que dar condições para que o missionário possa fazer “missões transculturais” e, portanto, é tarefa de toda a Igreja fazer com que o missionário possa realizar a obra de Deus.

-Bem diz a Declaração de Fé das Assembleias de Deus: “…O evangelho é proclamado a homens e mulheres, sem fazer distinção de raça, língua, cultura ou classe social, pois ‘o campo é o mundo’ (Mt.13:38).

Jesus disse: ‘Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações’ (Mt.28:19- ARA), e ‘ser-Me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em todo a Judeia e Samaria e até aos confins da terra’ (At.1:8). Portanto, entendemos que é responsabilidade da Igreja a obra missionária.…” (DFAD XI.6, p.123).

-Diante deste quadro, tem-se que a Igreja tem, como tarefa principal, a evangelização dos incrédulos, pregar- lhes o Evangelho e, neste passo, deve, como um todo, dirigir as ações e atividades da membresia com o objetivo de ganhar almas para o Senhor Jesus.

-Este ganhar almas deve ser entendido na perspectiva dada pelo Senhor, que é a cabeça da Igreja, ou seja, tanto em Jerusalém, quanto Judeia, Samaria e até os confins da Terra (At.1:8).

-Deste modo, mesmo no início de cada igreja local, não se deve deixar de estar no horizonte da evangelização o alcance dos povos longínquos, as missões transculturais.

-Tem-se, pois, que a responsabilidade da Igreja com os missionários é algo que tem de estar sempre presente, e não é uma preocupação que só deve surgir quando se envia um missionário.

-Mesmo que uma igreja local não tenha missionários para sustentar, tem de ter, sim, de se desincumbir da tarefa de missões transculturais, não só orando pelos missionários, como também contribuindo, inclusive financeiramente, com missionários enviados por outras igrejas locais.

-Esta ideia de se ir gradativamente fazendo missões, começando pelas redondezas (Jerusalém), depois indo a lugares próximos (Judeia) bem como a locais de difícil acesso por conta de elementos culturais (Samaria) para só então se chegar às missões transculturais (confins da terra), como tem sido a prática corrente nas igrejas locais, não tem respaldo bíblico.

-O Senhor Jesus foi bem claro ao afirmar que as missões devem ser feitas TANTO em Jerusalém, QUANTO na Judeia, Samaria e até os confins da terra, ou seja, devem ser atividades simultâneas, que se desenvolvam paralelamente.

-Há um risco muito grande em se fazer esta gradação. Por primeiro, estaremos a descumprir a ordem do Senhor Jesus e isto é uma desobediência e a desobediência nunca faz bem ao servo de Deus.

-Por segundo, sem termos, desde o início, este norte, acabaremos nos envolvendo apenas com a evangelização local, nunca dando início às missões transculturais, repetindo, assim, o erro cometido pela igreja em Jerusalém, que precisou de uma perseguição com a dispersão de sua membresia, para cumprir a Grande Comissão nos moldes determinados pelo Senhor.

-A propósito, temos tido a impressão de que, além da proximidade do arrebatamento da Igreja, um fator que tem permitido o aumento da perseguição em nosso país (algo que irá somente aumentar e de forma assustadora daqui para a frente), é, precisamente, a falta de empenho missionário que se tem observado na esmagadora maioria das igrejas locais brasileiras, quando sabido que nosso país tem uma vocação missionária evidente neste tempo final de nossa dispensação.

-Em sendo assim, torna-se imperioso que cada igreja local se dedique a realizar missões transculturais desde os primórdios de sua existência.

A primeira forma de se desincumbir desta tarefa é por meio da oração e jejum pelos missionários, oração que não deve ser feita de modo abstrato, mecânico e ritual (como a “oração pelos missionários” que é comum nos “cultos de missões”), mas de modo concreto, com identificação dos missionários e de suas necessidades, o que exige uma comunicação com eles.

-Além da oração e jejum, que, saliente-se, deve ser feita sem que se tenha, necessariamente, algum missionário enviado pela igreja ou que esteja sendo por ele sustentado, tem-se de contribuir, inclusive e principalmente de modo financeiro, para o custeio de algum missionário, ainda que não tenha sido enviado pela igreja local, como sói ocorrer na maior parte das igrejas pequenas que, por si só, não tem condições de, sozinhas, realizar esta tarefa.

-Neste ponto, inclusive, é muito interessante que as igrejas maiores, as sedes de ministérios, de setores, de campos, bem como as convenções estaduais se organizem de tal maneira que se tenha uma secretaria de missões que coordene a ação de diversas igrejas em prol dos missionários, criando projetos e programas que permitam o sustento do maior número de missionários, com o maior número de contribuintes.

-Há, na atualidade, muita desarticulação destes organismos e das próprias igrejas locais em tal assistência e o resultado disto é a perda de recursos importantíssimos para a realização da obra missionária.

-As secretarias de missões não se comunicam, não há uma organização de assistência e amparo aos missionários que seja coordenada e que tenha condições suficientes para sua execução, gerando inúmeras dificuldades e sofrimentos no campo missionário.

-A igreja de Filipos é um exemplo neste sentido, pois sempre se organizava no sentido de enviar recursos para o apóstolo Paulo nas mais diferentes situações em que se encontrava o apóstolo, como em Tessalônica (Fp.4:15,16), onde, pregando em liberdade, teve, posteriormente, de fugir dos perseguidores às pressas, ou em Roma, onde já se encontrava preso (Fp.4:18).

-Além da ajuda cotidiana que se deve realizar, tem, também, a Igreja de ter a disposição e a capacidade de acudir os missionários em situações emergenciais, como em calamidades, e isto exige uma prévia estruturação de uma rede de comunicação, como vemos ter feito o apóstolo Paulo quando se dispôs a realizar uma coleta na Acaia e na Macedônia para levar aos crentes pobres da Judeia (Rm.15:25,26; II Co.8,9), inclusive escalando irmãos para irem às igrejas locais providenciar o necessário, o que não deve ocorrer apenas em termos de assistência social local, mas também em missões transculturais.

-Além desta contribuição, tem a igreja local, também, atenta à direção do Espírito Santo, enviar missionários. Esta etapa que, como vimos, alguns entendem ser a primeira a envolver as igrejas em missões transculturais, é, praticamente, a última, a derradeira.

-Por primeiro, precisa a igreja local estar bem consciente da chamada missionária da pessoa a ser enviada e que a mesma se encontra capacitada para exercer este ministério.

-Em Antioquia, somente enviaram Barnabé e Saulo porque o Espírito Santo disse que os havia chamado para esta obra e devemos manter este mesmo padrão. Enviar alguém que não é chamado é simplesmente trazer transtornos e problemas sérios e graves não só para a Igreja mas também para o missionário e sua família.

-Havendo chamada confirmada, mister se faz verificar se o missionário está devidamente capacitado para exercer a função, dominando a língua e a cultura do lugar para onde será encaminhado, bem como conhecendo devidamente as Escrituras, pois como pode pregar o que não conhece?

-Neste ponto, caso não se tenha a devida capacitação, incumbe à Igreja providenciar tal capacitação, inclusive custeando ou ajudando a custear ao missionário a devida preparação, em escola de missões ou, até mesmo, em cursos seculares que estejam vinculados com a chamada missionária (centros culturais estrangeiros, escolas de idiomas etc.).

-Barnabé e Saulo já haviam sido devidamente preparados antes de suas chamadas, tanto cultura, quanto intelectual e espiritualmente, ao longo de suas vidas, pela Divina Providência, mas o fato de terem sido eles os escolhidos mostra-nos, claramente, que a preparação se faz necessária.

-O envio do missionário é como que a instauração de um posto avançado da igreja local naquelas plagas distantes. É interessante notar que há um tratamento diferenciado injustificável no que concerne à evangelização local e às missões transculturais.

-Na evangelização local, as atividades são sempre acompanhadas pela igreja local. As pessoas participam das atividades evangelísticas (cultos ao ar livre, cultos nos lares, visitas aos que se convertem ou dão seus endereços mesmo não se tendo convertido etc.), bem como há todo um cuidado quando, iniciada a evangelização, criam-se os chamados “pontos de pregação”.

-Nas missões transculturais, porém, após o missionário e sua família serem despedidos, algumas vezes até num culto especial ou num momento solene de um culto muito bem frequentado, o missionário é simplesmente esquecido, havendo tão somente o encaminhamento mensal da ajuda financeira.

-A distância física entre a igreja local e o missionário não pode, em absoluto, justificar um tratamento desta natureza.

Se a membresia não pode acompanhar o missionário no seu cotidiano, como se faz com os evangelistas locais, isto não significa deixar de ter qualquer comunicação com o missionário, ainda mais hoje em dia, onde os recursos da telemática permitem, inclusive, o contato audiovisual mesmo em se tendo lonjura.

-Deste modo, é importante que haja um acompanhamento frequente das atividades do missionário, que a igreja local que o enviou se faça presente, participando de uma forma ou outra do que está sendo realizado pelo missionário no campo e não perdendo oportunidade de se fazer presente fisicamente em determinadas ocasiões.

-Será sempre importante que a membresia, na medida do possível, se faça presente periodicamente, através de representantes, no campo missionário, bem como que o próprio missionário seja convidado para, vez por outra, poder participar de atividades na igreja local, quando, inclusive, poderá prestar contas à membresia de suas atividades.

Barnabé e Saulo, assim que retornaram da primeira viagem missionária, fizeram tal prestação de contas (At.14:27,28).

-Muitos acham que somente a secretaria ou departamento de missões é que têm de manter contato e comunicação com o missionário. Ledo engano.

O missionário foi enviado pela igreja e toda a membresia faz parte de seu ministério, até porque todos estão a orar e a contribuir com a obra que está sendo feita pelo missionário.

-Deve todo membro se preocupar com a atividade missionária e travar, por conta própria, meios de se comunicar e de se mostrar “presente em espírito” com o missionário e sua família, que, assim, sentirá que é, mesmo, esta “linha de frente” de toda uma comunidade que está servindo a Deus e querendo ganhar almas para o Senhor Jesus.

-Dependendo do local onde se estiver, inclusive, podem ser utilizados os recursos que hoje a internet oferece para que haja, inclusive, a participação “on line” em atividades tanto de irmãos que estejam na igreja implantanda, como dos irmãos da igreja que enviou o missionário, promovendo, assim, o amor fraternal e criando vínculos afetivos e emocionais entre os dois grupos.

-Aliás, todas estas atividades têm por objetivo mesmo a demonstração do amor fraternal, que deve ser sempre cultivado e estimulado na membresia, inclusive por exigência da própria Palavra de Deus (Rm.12:10; I Ts.4:9; Hb.13:1; I Pe.1:22).

-Temos aqui, aliás, um aspecto interessante quanto a missões transculturais: ela é uma oportunidade para o estímulo e o desenvolvimento do amor fraternal, que é um estágio que se deve alcançar no crescimento espiritual, resultado da purificação da alma e da obediência à verdade (I Pe.1:22), um passo a mais na busca da perfeição cristã, que se segue à piedade (II Pe.1:7).

-Este amor fraternal dirigido para o missionário e a membresia do campo onde o missionário está a pregar é um avançado nível de espiritualidade, porquanto movido única e exclusivamente pelo amor de Deus, sem qualquer elemento emocional ou sentimental, nascido do desejo ardente da salvação das almas.

-A igreja deve cuidar para que o missionário se dedique exclusivamente à salvação das almas, criando condições para que ele possa integralmente se dedicar a esta tarefa.

É muito triste vermos que, por falta de apoio, muitos que são encaminhados à missão, acabam se tornando tão somente imigrantes/migrantes no lugar onde estão, porque, desassistidos, acabam por ter de obter o seu sustento pelo trabalho secular, dedicando-se só nas horas vagas ao objetivo que o levou até aquela localidade.

-Deve-se avaliar, com muito cuidado, a circunstância de se aproveitar que alguém esteja a migrar ou imigrar para um determinado local ou país, por força de circunstâncias da sua vida, para iniciar “missões” naquele lugar ou país.

-Não se pode, “a priori”, descartar tal possibilidade, mas não se pode esquecer que esta “oportunidade” somente deve ser “aproveitada” se houver chamada missionária por parte da pessoa e que o Espírito Santo a esteja levando precisamente para aquele local para o qual ela está se transferindo. Não se tendo tais requisitos indispensáveis, certamente será um grande erro comissionar tal pessoa como missionária.

-Ademais, não é apropriado termos um missionário apenas nas horas vagas para implantar uma igreja, como seria o caso de que estamos a tratar.

A obra certamente muito sofrerá e se repetirá a situação extremamente difícil que estamos a viver nas igrejas locais brasileiras, onde boa parte dos obreiros o é apenas em tempo parcial, tendo de ter seu trabalho secular, um dos grandes fatores hodiernos para o visível declínio do genuíno e autêntico evangelho entre nós.

-Alguém poderá objetar esta afirmação dizendo que o apóstolo Paulo trabalhou secularmente em algumas ocasiões e que isto em nada abalou seu trabalho missionário.

É fato que o apóstolo assim fez, mas, mesmo quando menciona tê-lo feito, não deixa de afirmar que não é isto o ideal. Não nos delongaremos nesta questão porque haverá uma lição específica sobre isto.

-Ademais, o nosso exemplo é o Senhor Jesus que cessou Seu trabalho secular quando iniciou o Seu ministério terreno e não podemos nos esquecer de que Ele disse que envia Seus discípulos ASSIM como o Seu Pai o enviou (Jo.20:21).

-Uma outra forma de fazer missões transculturais é a do acompanhamento da dispersão de sua membresia, que foi o que ocorreu com a igreja de Jerusalém com a diáspora de seus membros por causa da perseguição liderada por Saulo (At.8:1-4).

-Os membros da igreja em Jerusalém, embora tivessem se descuidado do aspecto não local da evangelização, eram exímios evangelistas locais, tendo, segundo o próprio Sinédrio, “enchido Jerusalém da doutrina cristã” (At.5:28).

-Assim, movidos pelo amor às almas e conscientes da Grande Comissão, os crentes, uma vez dispersos, começaram a anunciar a Palavra por onde que passavam ou iam estabelecer residência (At.11:19).

-Apesar das muitas dificuldades existentes, continuou a haver um intercâmbio de informações entre os apóstolos e esta membresia dispersa e, por meio dele, souberam os apóstolos que os primeiros gentios haviam se convertido em Antioquia e, imediatamente ao saber disto, mandaram para lá Barnabé.

-Notemos, portanto, que este envio de um missionário se deveu à evangelização empreendida pela própria membresia, tendo, então, a igreja em Jerusalém, sabedora de que não havia quem pudesse agregar e amparar estes neoconversos, enviado Barnabé para este trabalho.

-Esta atitude feita pela igreja em Jerusalém foi muito comum nos primórdios de nossa denominação, quando, em razão da dispersão da membresia, originariamente pelo término do chamado “ciclo da borracha” em Belém/PA, onde teve início a história das Assembleias de Deus no Brasil, os membros foram se mudando e, onde chegavam, passavam a evangelizar, comunicando o fato aos missionários pioneiros e aos primeiros obreiros nacionais.

-Surgiu, então, a figura do “evangelista autorizado”, que nada mais era que alguém que era formalmente autorizado pelas igrejas locais então existentes a ir até onde já havia novos convertidos decorrentes da ação evangelizadora, muitas vezes autônoma e individual ou familiar de membros dispersos, quando, então, não só

davam assistência e formavam estes novos crentes, como davam continuidade à obra iniciada pelos crentes dispersos.

-Esta atitude demonstrada pela igreja em Jerusalém mostra que houve um despertamento da “consciência missionária” e os apóstolos, que antes nem sequer iam às cidades e aldeias circunvizinhas para pregar o Evangelho, agora mandavam um obreiro para cuidar de gentios que haviam se convertido em Antioquia.

-Distingamos, porém, este comportamento de outro que tem surgido que é o de querer aproveitar a dispersão da membresia para estabelecer igrejas locais vinculadas a este ministério, denominação ou campo em outros lugares, numa expansão institucional e, não propriamente, no exercício de missões.

-A assistência dada pela igreja em Jerusalém a Antioquia não teve qualquer conotação de expansão de domínios, de aquisição de poder sobre a igreja que surgia na capital da província romana da Síria. Longe disso, vemos que, já em At.13, a igreja em Antioquia seguia seus próprios passos, apresentava-se diante de Deus com dons ministeriais e espirituais, a ponto de ela própria mandar o próprio Barnabé agora não mais como “evangelista autorizado”, mas como “missionário transcultural”, juntamente com Paulo.

-A história da Igreja, aliás, vai mostrar que, desde sempre, Jerusalém e Antioquia tiveram independência entre si, sendo ambas parte da chamada “Pentarquia”, como ficou conhecida a situação da Igreja que, no século IV, após o período da perseguição romana, tinha “cinco patriarcados”, a saber: Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Roma e Constantinopla.

-Querer aproveitar a mudança de residência da membresia para estabelecer uma filial, para tão somente expandir a instituição é algo que contraria as Escrituras.

Paulo assim nos ensina, quando, em Rm.15:20, disse ter tomado sempre o cuidado para “anunciar o Evangelho não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio, antes, como está escrito: aqueles a quem não foi anunciado o verão, e os que não ouviram o entenderão (Cf. Is.52:15)”.

-Este pensamento de Paulo não era apenas um comportamento do apóstolo ou um entendimento seu. Além de o apóstolo ter citado as próprias Escrituras para fundamentar esta sua conduta, não podemos deixar de observar que foi, precisamente, o que fez o Espírito Santo com o apóstolo, no limiar de sua segunda viagem missionária, não permitindo que fosse ele para a Frígia, Galácia ou Bitínia (At.16:6,7), lugares que foram evangelizados por Pedro (I Pe.1:1).

– Deste modo, querer abrir novas igrejas locais em lugares que já estão sendo evangelizados, aproveitando que a membresia para lá se dirige é um comportamento reprovável e que só promove divisões entre as igrejas, em mais uma comprovação de que não se trata de algo aprovado por Deus, pois os que causam divisões não têm o Espírito (Jd.19). Que Deus nos guarde!

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/9921-licao-7-a-responsabilidade-da-igreja-com-os-missionarios-i

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