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LIÇÃO Nº 9 – CONTRASTES NA ADORAÇÃO DA ANTIGA E NOVA ALIANÇA

Os rituais da lei mostram a insuficiência da antiga aliança.

 INTRODUÇÃO

 – Na sequência do estudo da Carta aos Hebreus, analisaremos o capítulo 9.

 – Os rituais da lei mostram a insuficiência da antiga aliança.

 I – A TIPOLOGIA DOS RITUAIS DA LEI MOSAICA

  – Na sequência do estudo da Carta aos Hebreus, analisaremos o capítulo 9 da epístola.

 – Depois de trazer o argumento de que o Senhor prometera, por meio do profeta Jeremias, um novo concerto, a indicar, portanto, que o pacto firmado no monte Sinai era transitório e teria de ser substituído por outro,

o escritor aos hebreus inicia uma análise a respeito da própria ritualística da lei mosaica para, através dela, também demonstrar aos destinatários da carta que a aliança firmada por Cristo é superior à lei.

– A análise de como se dava o culto segundo a lei e uma comparação com a adoração que se faz agora na nova aliança é mais um fator que o autor escolhe para conscientizar os crentes judeus da loucura que seria abandonar a fé em Cristo Jesus e retornar às práticas judaicas, uma vez mais se utilizando das Escrituras hebraicas para tanto.

– “…Tendo falado em termos gerais sobre a supressão do antigo pacto, o autor agora direciona sua consideração particularmente para as cerimônias. Seu propósito é de monstrar que tudo o que outrora se praticava chegou ao fim com a vinda de Cristo…”(CALVINO, João. Comentário de Hebreus. Trad. de Válter Graciano Martins, pp.201-2).

– O autor começa dizendo que havia ordenanças de culto divino na lei de Moisés, ou seja, a lei determinava como se devia dar o culto a Deus, a indicar, portanto, que as prescrições e os rituais haviam sido ordenados pelo Senhor e, portanto, seu conteúdo e forma resultavam da vontade divina.

– Em sendo assim, tais determinações tinham origem em Deus e seus significados tinham sido, assim, adredemente indicados pelo Senhor, de modo que não se poderia questionar o seu sentido.

– O culto a Deus é um dever de todo homem, pois, afinal de contas, fomos criados para adorar ao Senhor, para ter comunhão com Ele.

No culto divino, porém, devemos estar cientes de que Deus é o Senhor e que nós somos os servos, de forma que não somos nós quem dizemos como deve ser o culto, mas, sim, é o próprio Deus quem diz como se dá o culto.

Esta verdade bíblica encontra-se presente desde os primórdios da história da humanidade, porquanto, por ter querido adorar a Deus do seu jeito, sem qualquer observância da majestade e senhorio divinos, é que Caim teve o seu sacrifício rejeitado pelo Senhor.

– É elucidativo que o autor aos hebreus fale, portanto, em “ordenanças do culto divino”, algo que não era próprio apenas da lei, mas que decorre da própria natureza divina, da soberania de Deus, do Seu senhorio.

Lamentavelmente, nos dias hodiernos, não são poucos os que se iludem como Caim e querem oferecer adoração a Deus do seu próprio modo, como se o homem pudesse fazê-lo.

Por isso, temos excrescências e desvios como a famigerada “adoração extravagante”, conduta que deve ser repelida por quem realmente quer servir ao Senhor e com ele viver eternamente. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– O autor aos hebreus lembra, ademais, que, além de ordenanças do culto divino, havia um santuário terrestre, lembrando, assim, os destinatários da carta de que não só existia uma determinação de como se devia cultuar ao Senhor, mas, também,

do local onde tal culto se deveria dar, a saber, o tabernáculo e, depois, o templo em Jerusalém, sendo vedado aos israelitas qualquer outro local de adoração, local igual escolhido por Deus (Dt.12:1-14; I Rs.8:29; II Cr.7:12; Sl.78:68,69). 

– Ao lembrar que se tratava de um santuário terrestre, o autor já está a indicar a inferioridade da lei em relação à aliança estabelecida por Jesus Cristo, já que, como dissera anteriormente, o santuário de Nosso Senhor é celeste (Hb.8:1).

– Passa, então, o escritor a descrever como se dava o culto segundo a lei de Moisés para, a partir desta descrição, mostrar, como diz o título da lição, os contrastes que há entre a aliança mosaica e a aliança estabelecida por Cristo, provando, assim, uma vez mais, que a aliança de Nosso Senhor é superior.

– Começa dizendo que um tabernáculo estava preparado, fazendo a distinção entre o lugar santo, onde podiam entrar somente os sacerdotes, e o lugar santíssimo, onde o sumo sacerdote somente podia entrar uma vez ao ano, por ocasião do dia da expiação.

– Lembra que, no primeiro tabernáculo, ou seja, no lugar santo, havia as seguintes peças: o candeeiro, a mesa e os pães da proposição. Já no lugar santíssimo, põe ele o incensário de ouro e a arca do concerto, arca esta toda coberta de ouro e em cujo interior havia o maná,

a vara de Arão que havia florescido e as tábuas do concerto, estando sobre a arca os querubins da glória que faziam sombra ao propiciatório (Hb.9:2-5).

– Causa espécie a afirmação do autor no sentido de incluir o incensário de ouro no lugar santíssimo, quando se sabe que o altar de incenso ficava no lugar santo e não no lugar santíssimo, diante do véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo (Ex.30:6).

– Segundo Russell Norman Champlin: “…Quanto à dificuldade do texto, pois esse item do tabernáculo parece que estava no lado interior do Santo dos Santos, alguns estudiosos têm pensado que a palavra ‘…tinha…’ não significa, necessariamente,

que o altar estava do lado de dentro do ambiente fechado do Santo dos Santos, mas tão somente “pertencia” ao mesmo, simbolizando a intercessão efetuada no Santo dos Santos e estando ritualmente ‘associado’ ao mesmo.

Nas páginas do A.T., há uma menção sobre a função especial desse altar em conexão com o dia da expiação, quando o Santo dos Santos entrava em uso.(…).

Tal associação do altar do incenso com o Santo dos Santos, no parecer de alguns intérpretes, é justificação suficiente para explicar a expressão que o Santo dos Santos tinha o item…” (CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v.5, com. Hb.9:4, p.578).

Ao contrário do próprio Champlin, que acha ter sido um “descuido” do escritor da carta, concordamos com a linha de interpretação que entende haver aqui uma associação do altar de incenso com a cerimônia do dia da expiação que, afinal de contas, é o propósito da argumentação do escritor.

OBS: Tomás de Aquino parece ter este mesmo entendimento, “in verbis”: “…Aqui, o Apóstolo acrescenta uma quarta coisa, ou seja, “o incensário de ouro”, dos quais alguns dizem que era o altar no meio do Santuário; em que, é certo, no Santuário externo, os sacerdotes entraram todos os dias para realizar o seu ministério;

mas no Santo dos Santos apenas o Sumo Sacerdote uma vez por ano para oferecer sangue, que era quando ele enchia as mãos com o incensário, de modo que com a fumaça formada era envolvido o Santo dos Santos, para que aqueles que estavam lá fora não pudessem vê-lo…” (AQUINO, Tomás. Comentário da Epístola aos Hebreus. Trad. de J.L.M. n.31. Cit. Hb.9:1-10. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 29 nov. 2017) (tradutor Google adaptada por nós de texto em espanhol).

– “…O povo eleito de Deus tinha como uma de suas instituições a queima contínua de ofertas. Pela manhã, era feito o sacrifício de um cordeiro, com certa quantidade de cereais. A noite, o mesmo sacrifício se repetia.

Nessas oportunidades também havia uma oferta sob a forma de libação de pequena quantidade de vinho (Ex. 29:38-42; Nm. 28:3-8).

Em 2 Crônicas 13:11 se observa que alguns outros elementos sacrificiais foram acrescentados ao serviço do templo. Porém, todas estas ofertas com suas apresentações formais eram realizadas pelos sacerdotes ordinários, da linhagem de Arão.

Estes tinham permissão para adentrar apenas no primeiro santuário, não podendo, portanto, ministrar no Santo dos Santos, pois neste lugar somente era permitida a entrada do sumo sacerdote escolhido por Deus e reconhecido pelo povo (cf. Hb 5.4). …” (SILVA, Severino Pedro da. Hebreus: as coisas grandes e novas que Deus preparou para você, p.157).

– Após descrever os utensílios que havia tanto no lugar santo quanto no lugar santíssimo, o autor lembra que os sacerdotes, a todo o tempo, entravam no lugar santo, chamado de “primeiro tabernáculo”, cumprindo os serviços, mas que, no segundo, ou seja,

no lugar santíssimo, somente o sumo sacerdote podia entrar, uma vez ao ano, por ocasião do dia da expiação, não sem sangue, que oferecia por si mesmo e pelas culpas do povo (Hb.9:6,7).

– Esta determinação do sumo sacerdote entrar uma só vez ao ano no lugar santíssimo e não sem sangue, vertido por causa dos seus pecados e dos pecados do povo, é mostrada pelo autor aos hebreus como uma prova de que o caminho do santuário não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo (Hb.9:8), dizendo, inclusive, que tal ordenança era algo proveniente do Espírito Santo.

– A manutenção em pé do primeiro tabernáculo deve ser compreendida aqui como uma expressão que indica a provisoriedade da lei.

O caminho do santuário não estava descoberto, e isto somente ocorreu com a morte de Cristo no Calvário, quando o véu do templo de rasgou de alto a baixo, a mostrar, pois, a total insuficiência da lei em relação à problemática do pecado.

OBS: “…Ele afirma que os sacerdotes que ofereciam os sacrifícios costumavam entrar, todos os dias, no primeiro tabernáculo, mas que o sumo sacerdote entrava no santo dos santos apenas uma vez ao ano com sacrifícios solenes.

À luz de tal evento, ele deduz que, enquanto o tabernáculo segundo a lei estivesse em vigor, o santuário estaria fechado, e que não se nos poderia abrir nenhum caminho de acesso no reino de Deus, a menos que aquele fosse destruído.

Percebemos que a própria forma do antigo tabernáculo abria os olhos dos judeus para o fato de que teriam que elevar suas aspirações em outra direção. Aqueles que retêm as sombras da lei e desse modo obstruem sua própria via de acesso, voluntariamente revelam sua insensatez.…” (CALVINO, João. op.cit., pp.215-6)

– Se o caminho até Deus não estava descoberto, pois a arca simbolizava a presença de Deus no meio do povo, o autor aos hebreus mostra que os sacrifícios que eram efetuados do lado de fora do lugar santo não eram capazes de trazer a perfeição, de produzir o perdão dos pecados.

Ele mesmo diz isto, ao dizer que esta circunstância, que se dá a entender pelo Espírito Santo, “é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço, consistindo somente em manjares e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até o tempo da correção” (Hb.9:9,10).

OBS: “…- “que não foram estabelecidos até o momento em que a Lei seria corrigida ou reformada”; como se dissesse: a verdade é que era inútil, se ao mesmo tempo de sua instituição, o uso e a sua imperfeição sempre tivessem que durar.

Mas, assim como à criança, primeiro devemos dar-lhe um tutor, mas, ao alcançar a idade perfeita, trilhará seu próprio caminho, pois passa a se governar sozinho; do mesmo modo, na lei antiga, foram instituídas prescrições que  são imperfeitas, mas quando chegou o tempo, teve de instituir-se o que conduz à perfeição.

É por isso que diz: até o momento da correção, isto é, que seria corrigido, não certamente porque é ruim, mas porque é imperfeito, uma vez que a lei é santa (Rm.7:12; Sl.90).…” (AQUINO, Tomás de. op.cit. n.32. end. cit.).

– “…Isto significa que com a morte de Cristo o véu foi rasgado, e doravante o homem, por meio d’Ele, pode chegar à imediata presença de Deus.

Não no antigo santuário terrestre, mas no verdadeiro santuário celestial, que é o céu. O ‘caminho do santuário’, que aqui está em foco, aponta para o santuário celeste e não meramente para o terrestre.…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.158).

– Temos aqui duas observações a fazer que são de grande importância. Primeiro, que é o Espírito Santo quem nos dá a entender, nesta ritualística, a tipologia da insuficiência da lei.

Assim, o autor aos hebreus mostra que, na nova aliança, as coisas são entendidas espiritualmente, porque temos condição de ter comunhão com Deus e, portanto, o Espírito Santo pode nos fazer compreender as coisas divinas, pois só o Espírito de Deus é quem pode penetrar as coisas de Deus (I Co.2:9-11).

– Ao dizer que o Espírito Santo os fazia entender que o caminho do santuário ainda não estava descoberto, o autor aos hebreus está a mostrar aos crentes judeus que somente em Cristo podemos ter o discernimento espiritual necessário para compreender as coisas divinas e que retornar à lei seria um grande retrocesso, pois, como diz o apóstolo Paulo, somente o homem espiritual pode discernir as coisas espirituais e de ninguém ser discernido (I Co.2:14-16).

– Notamos aqui que não há como estarmos em Cristo Jesus e não sermos guiados e dirigidos pelo Espírito Santo. A nossa comunhão com o Espírito é fundamental para que tenhamos uma verdadeira vida cristã.

O Senhor Jesus mostrou esta necessidade nas últimas instruções aos discípulos e não podemos, de modo algum, negligenciarmos isto.

Daí o risco da apostasia espiritual, pois estaremos aviltando o Espírito Santo, que, como o próprio autor aos hebreus já havia dito aos crentes judeus, leva à irreversibilidade do novo estado de condenação (Hb.6:4-8).

– A segunda observação é de que a manutenção da ritualística da lei de Moisés mesmo depois da morte, ressurreição e ascensão de Cristo não deveria impressionar os crentes judeus, pois, ainda que, no tempo em que era redigida a carta, ainda houvesse os sacrifícios,

o fato é que, tanto antes, quanto naquele momento, eles eram incapazes de aperfeiçoar nem mesmo os sacerdotes, que dirá o restante do povo, de modo que eram completamente inúteis para resolver a problemática do pecado.

– Esta observação leva-nos, também, a refletir sobre a falácia da antiguidade, também chamada de “argumentum ad antiquitatem” ou, ainda, “apelo à tradição”, que consiste em dizer que algo é verdadeiro ou bom porque é antigo ou “sempre foi assim”.

A manutenção dos sacrifícios após a morte de Jesus na cruz do Calvário em absoluto significava que eles continuavam válidos, como poderiam querer fazer crer os crentes judeus que estavam tentados a voltar às práticas da lei.

– Na verdade, desde o momento em que o Senhor Jesus havia morrido na cruz do Calvário, com o rasgo do véu do templo de alto a baixo, tais ofertas não tinham mais qualquer valor, até porque o seu valor, e o autor aos hebreus faz questão de mencionar,

não estava na possibilidade de remoção dos pecados, mas, tão somente, de servir de alegoria, de figura para o sacrifício real e verdadeiro, que tinha sido o de Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29). 

– Havia chegado, com Cristo, o “tempo da correção”. A palavra grega do texto é “diorthosis” (διόρθωσις), cujo significado é de “fortalecimento por completo”, “retificação”, “reforma”, ou seja, com o Messias se cumpriu o que antes era apenas previsto, completou-se a obra divina, anteriormente meramente indicada, figurada, tipificada.

OBS: “…o primeiro tabernáculo era somente uma figura do tempo então presente (v. 9). Era uma dispensação obscura, e de pouca duração, somente para um curto período para tipificar as grandes coisas de Cristo e do evangelho, que no devido tempo brilhariam em sua própria luz, e assim fariam com que todas as sombras fugissem e desaparecessem, como as estrelas diante do sol nascente.…” (HENRY, Matthew. Comentário bíblico – Noto Testamento: Atos a Apocalipse. Trad. de Luís Aron et alii, p. 789).

– Isto deve nos servir de aviso, pois há muitos lugares que, embora hoje ainda estejam a funcionar como igrejas, denominações e reuniões de culto, na verdade não têm mais este valor, na medida em que já se distanciaram da Palavra de Deus, da comunhão com o Senhor, havendo cultos que nada mais são que abominações diante do Senhor, como, aliás, ocorria nos tempos do profeta Isaías (Is.1:10-18).

II – A SUPERIORIDADE DO SACRIFÍCIO E DO SACERDÓCIO DE CRISTO

– O autor diz que com a vinda de Cristo, que denomina de “sumo sacerdote dos bens futuros”, tal tipificação perdeu a razão de ser, pois o Senhor Jesus, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção (Hb.9:11,12).

OBS: “…A redenção efetuada por Cristo tem uma dimensão eterna e um infinito alcance; assim, tudo que se relaciona com a nossa redenção, que se iniciou no dia em que todos nós nos tornamos participantes da nova natureza de Cristo, tem também duração eterna.

Por esta razão, diz Paulo:

“… nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23).

A redenção, assim, tem um aspecto escatológico, referindo-se àquela redenção plena que ocorrerá por ocasião do arrebatamento da Igreja, a saber, “… a redenção do nosso corpo”.

Portanto, no momento da salvação, recebemos a “redenção de nossas almas” (G1 3.13); no arrebatamento, porém, receberemos a “redenção do nosso corpo” (Lc 21.28; Rm 8.23).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.164).

– O autor mostra, por primeiro, que Cristo é superior aos sumo sacerdotes da linhagem de Arão, porque Ele é o “sumo sacerdotes dos bens futuros”.

Ele já havia demonstrado que Cristo era superior a Arão, uma vez que é sumo sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque, mas agora aponta outra circunstância que realça tal superioridade. Ele é “sumo sacerdote dos bens futuros”.

– Matthew Henry (1662-1714), o grande comentarista bíblico, assim explica esta expressão: “…Cristo é ‘…o sumo sacerdote dos bens futuros’, e por isso podemos entender:

(1) Todas as coisas boas que estavam por vir sob o Antigo Testamento, e agora vieram sob o Novo.

Todas as bênçãos espirituais e eternas que os santos do Antigo Testamento tiveram nos seus dias e sob a sua dispensação eram devidas ao Messias por vir, em quem eles criam.

O Antigo Testamento colocou em sombras o que estava por vir; o Novo Testamento é o cumprimento do Antigo.

(2) Todas as coisas boas ainda por vir e a serem desfrutadas na dispensação do evangelho, quando as promessas e profecias feitas à igreja cristã nos últimos dias forem cumpridas; todas essas dependem de Cristo e de Seu sacerdócio, e serão cumpridas.

(3) Todas as coisas por vir no estado celestial, que vai aperfeiçoar ambos os Testamentos; assim como o estado da glória vai aperfeiçoar o estado da graça, esse estado vai em sentido muito mais elevado ser o aperfeiçoamento do Novo Testamento do que o Novo Testamento foi o aperfeiçoamento do Antigo.

Observe: Todas as coisas passadas, presentes e futuras eram e estão fundamentadas sobre o estado sacerdotal de Cristo e fluem dele.…” (op.cit., p.790).

– Isto nos faz lembrar do que disse o apóstolo Paulo, no introito da Epístola aos Efésios, quando louvou ao Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, por ter nos abençoado com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef.1:3).

Jesus pôde nos trazer a graça de Deus (Jo.1:17) e, pela graça, pudemos ser salvos, obtendo o perdão e remoção dos nossos pecados e podendo, assim, restaurar a amizade com Deus e a comunhão com Ele, o que nos permitiu ficar participantes da natureza divina (II Pe.1:4), sermos morada de Deus em Espírito (Ef.2:22).

– Assim, aquilo que os sacerdotes não podiam obter, nem para si mesmos, ao oferecer sacrifícios, nós podemos ter por Cristo Jesus, a nos mostrar, portanto, a superioridade de Cristo.

Como, então, poderiam os crentes judeus pensar em retroceder, em perder a presença de Deus por uma aliança em que nem sequer os sacerdotes, que tinham acesso ao lugar santo, podiam ter tamanho privilégio?

– Por segundo, o escritor nos diz que Cristo atuou num maior e mais perfeito tabernáculo, ou seja, Ele atuou no santuário celestial, e não num santuário terrestre, como fazia o sumo sacerdote e, mesmo assim, uma vez ao ano, e não sem sangue por si e pelas culpas do povo.

– Jesus adentrou ao santuário celestial, um santuário que não foi feito por mãos, que não era algo pertencente ao Universo físico, mas, sim, algo da dimensão celeste, da dimensão divina.

Não se está, pois, diante de uma cópia conforme o modelo que fora apresentado a Moisés, mas no verdadeiro tabernáculo, no santuário original, resultando daí mais um elemento de superioridade em relação à lei.

Disto podemos ter certeza, pois é o próprio Senhor Jesus que diz que Ele, que descera do céu, iria subir novamente para lá (Jo.3:13), o que foi confirmado pelos anjos que vieram dar esta notícia aos discípulos após a ascensão (At.1:11),

discípulos que eram judeus e dos quais, muito provavelmente, alguns ainda viviam, já que a afirmação de Paulo em I Co.15:6 foi dada por volta de 57 d.C., ou seja, cerca de 8 anos antes da escrita desta carta.

– Por terceiro, o escritor nos diz que Cristo, como sumo sacerdote, adentrou ao santuário celestial por meio de Seu próprio sangue, ou seja, não houve derramamento de sangue de animais, que apenas podiam cobrir o pecado, mas, sim, o derramamento do sangue de Cristo, que tem poder efetivo para perdoar os pecados, para nos purificar (I Jo.1:7).

– Por quarto, entrou Ele uma única vez, pois não se fazia mais necessário que adentrasse no santuário depois disto, já que, com Seu sangue, alcançou a purificação dos pecados de toda a humanidade, não restando mais sacrifício para tal mister, tanto que, assim que derramado Seu sangue, o véu do templo se rasgou de alto a baixo, sendo que a ressurreição é a prova de que o sacrifício foi aceito e eficaz. 

– Neste ponto, aliás, vemos o equívoco do ensino dos adventistas, que dizem que Cristo entrou no “lugar santo celestial” quando de Sua morte, tendo entrado no “lugar santíssimo celestial” somente em 1844.

O escritor aos hebreus é bem claro que o Senhor Jesus entrou uma só vez no santuário e, aqui, santuário significa “lugar santíssimo”, pois Cristo é chamado de “sumo sacerdote dos bens futuros”, a indicar, pois, que o escritor faz comparação entre a entrada de Cristo e a entrada do sumo sacerdote no dia da expiação e não, portanto, da entrada dos sacerdotes comuns no lugar santo, que mencionou em Hb.9:6, ocasião em que o escritor nada fala a respeito de sangue, mas, apenas, de cumprimento de serviços.

– Não é, pois, senão consequência lógica dizer o autor aos hebreus que, com o Seu sacrifício único, Cristo Jesus efetuou uma eterna redenção, pois, com isto, efetivamente pagou o preço dos pecados da humanidade, podendo, assim, resgatar o homem, libertá-lo do domínio do maligno, podendo, assim, aperfeiçoar as consciências de todos os homens, que estão debaixo da culpa do pecado.

– Por falar em purificação, o autor aos hebreus, ainda, faz alusão às prescrições da lei que definiam a purificação da carne, que era tanto o sangue dos touros e bodes, como a cinza da novilha ruiva, com a qual se fazia a água da separação, que tinham o poder de transformar as pessoas imundas em puras (Lv.16:14,16; Nm.19:2,17).

Todavia, verifica que esta purificação era tão somente da carne, ou seja, a fim de permitir a convivência da pessoa com os seus semelhantes, não tendo qualquer poder com relação ao relacionamento da pessoa com Deus, com respeito à problemática do pecado.

– Já o sangue de Cristo, ao revés, mostra o autor aos hebreus, purifica o ser humano das consciências das obras mortas, permitindo que o homem possa servir ao Deus vivo, já que entra em comunhão com Ele e o torna apto a pertencer ao corpo de Cristo e a realizar a obra do Senhor, assim como o Filho havia realizado a obra do Pai (Jo.20:21).

– Diante de todas estas diferenças, não resta dúvida de que o pacto estabelecido por Cristo é superior ao estabelecido no monte Sinai, pois, neste, não houve qualquer remoção ou retirada de pecados, mas naquele, os pecados são efetivamente retirados,

há remissão dos mesmos, inclusive dos cometidos sob a antiga aliança, visto que a cobertura operada pelos sacrifícios feitos segundo a lei também são retirados pelo sangue de Cristo, que vem realizar aquilo que outrora era tão somente tipificado.

– Neste instante, traz o autor aos hebreus um novo argumento, qual seja, o do testamento.

Ao dizer que Cristo é mediador de um novo testamento, o escritor traz a deia de testamento, que é uma declaração de última vontade, onde se nomeiam herdeiros e beneficiários de bens de quem está a declarar, mas que tem uma característica: a de ter efeitos somente com a morte do testador.

– Ora, diz o autor dos hebreus, não é possível que se tenha um testamento eficaz se não houver a morte do testador, pois a força do testamento decorre da morte do testador.

Neste ponto, ao chamar a lei de “testamento”, o autor aos hebreus justifica tal denominação ao lembrar que, quando da promulgação da lei, forçoso foi sacrificar animais e de derramar o sangue dos mesmos e até espargi-lo em direção ao povo, tendo sido com a morte destes animais e a aspersão deste sangue que entrou em vigor a lei.

– Tal afirmação do autor aos hebreus tem pleno respaldo bíblico, pois, efetivamente, lemos em Ex.24, que a lei somente entrou em vigor depois que houve sacrifícios de animais ao pé do monte Sinai, efetuados por mancebos de todas as tribos de Israel,

que sacrificaram ao Senhor sacrifícios pacíficos de bezerros, tendo Moisés tomado metade do sangue derramado e o posto em bacias, enquanto que a outra metade espargiu sobre o altar que havia edificado ao pé do monte.

– Em seguida, Moisés tomou o livro da lei, leu-o para o povo, que, então, prometeu cumprir tudo quanto ali estava escrito, tendo, então, Moisés pegado a outra metade do sangue e espargido sobre o povo, bem como sobre todos os utensílios do culto divino.

– Vê-se, portanto, que, para que a lei tivesse força, necessário foi que houvesse a morte de animais e que seu sangue fosse derramado, até porque, como diz o escritor, não há remissão sem derramamento de sangue e quase todas as coisas se purificam com sangue.

– No entanto, o sangue dos animais usados para a remissão e a morte dos animais que deu força ao pacto da lei são infinitamente inferiores ao sangue de Cristo, até porque, no santuário celestial, não se poderia ter purificação com algo tão inferior.

No santuário celestial, necessário se fazia um sacrifício melhor, um derramamento de um sangue melhor e, por isso mesmo, é o sangue de Cristo que é usado em o novo concerto, pois só Cristo poderia adentrar em tal santuário, comparecer diante da presença de Deus, já que não possuía qualquer pecado.

– Cristo entra com Seu próprio sangue e em vez única, já que se tratava de um sangue superior, pois proveniente de um sumo sacerdote santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores (Hb.7:26), algo que os sumo sacerdotes da linhagem de Arão não poderiam fazer,

pois tinham de comparecer, uma vez ao ano, e com sangue alheio, sangue de animais, que apenas cobre os pecados, até porque este sangue cobriria os seus próprios pecados.

OBS: “…O que foi que deu tal eficácia ao sangue de Cristo.

Em primeiro lugar, foi o fato de Ele oferecer-se a si mesmo a Deus, a natureza humana sobre o altar da sua natureza divina, Ele sendo sacerdote, altar e sacrifício, sua natureza divina servindo como os primeiros dois, e sua natureza humana como o terceiro aspecto.

Agora, tal sacerdote, altar e sacrifício só podia ser propiciatório.

Em segundo lugar, foi o fato de Cristo oferecer-se a si mesmo a Deus por meio do Espírito eterno, não somente como a natureza divina sustentando a humana, mas o Espírito Santo, que Ele possuía sem medida, ajudando-o em tudo, e nesse grande ato de obediência oferecendo-se a si mesmo.

Em terceiro lugar, foi o fato de Cristo oferecer-se a si mesmo a Deus sem mancha, sem uma mácula pecaminosa, seja em sua natureza, seja em sua vida; isso era conforme à lei dos sacrifícios, que exigia que fossem sem defeito.

Agora observe ainda: [21 Que a eficácia do sangue de Cristo é muito grande.

Pois, em primeiro lugar, é suficiente para purificar a consciência das obras mortas, atinge até a alma e a consciência, a alma corrompida com o pecado, que é uma obra morta, e tende para a morte eterna.

Como o tocar um corpo morto tornava a pessoa impura legalmente, assim ocupar-se com o pecado resulta em corrupção moral e real, fixa-a no fundo da alma; mas o sangue de Cristo tem eficácia para purificá-la.

Em segundo lugar, é suficiente para nos capacitar a servir o Deus vivo, não somente ao purificar e eliminar aquela culpa que separa Deus e os pecadores, mas ao santificar e renovar a alma por meio das graciosas influências do Espírito Santo, obtidas por Cristo para esse propósito, que sejamos capacitados a servir o Deus vivo de forma ativa.…” (HENRY, Matthew. op.cit.,  p.790).

– Por isso, o autor afirma que o sacrifício de Cristo foi único, realizado na “consumação dos séculos”, tendo Se manifestado precisamente para aniquilar o pecado pelo sacrifício de Si mesmo (Hb.9:26).

– Neste ponto, vemos o equívoco da doutrina romanista da transubstanciação, que entende que, em toda celebração da ceia do Senhor, o pão e o vinho se tornam o corpo e o sangue de Cristo, visto que, na comemoração da morte de Cristo, se teria a “presentificação” do sacrifício de Cristo no Calvário, pois tal sacrifício seria atemporal e se tornaria presente em cada celebração.

– No entanto, o escritor aos hebreus mostra que o sacrifício de Cristo, embora tenha efeito desde a fundação do mundo, foi um sacrifício realizado sob o tempo, quando da manifestação do Senhor Jesus, de modo que a ideia romanista não faz sentido algum.

O sacrifício se deu num determinado tempo, na Terra, tendo o Senhor, então, comparecido ao céu, onde, uma única vez, efetuou a purificação dos pecados.

Os efeitos do sacrifício atingem todos os homens, mas o sacrifício foi temporalmente determinado, ocorreu num dia específico e, portanto, a sua comemoração não o “presentifica”, não havendo que se falar, portanto, em transubstanciação.

– Tanto assim é que o escritor nos fala que Cristo, tendo Se oferecido uma vez para tirar os pecados do mundo, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que O esperam para a salvação (Hb.9:28), a provar, pois, que o sacrifício foi temporalmente definido,

assim como será a Sua segunda vinda, que, aliás, é anunciada, como fato futuro na ceia do Senhor, que anuncia o sacrifício como fato passado (I Co.11:26), em demonstração clarividente de que tanto o sacrifício no Calvário quanto a vinda para o arrebatamento da Igreja são eventos que ocorreram sob o tempo.

– De igual modo, aqui se tem uma negação da doutrina do purgatório, doutrina que acabou por ser uma das combatidas no início da Reforma Protestante.

Assim diz a respeito o saudoso pastor Severino Pedro da Silva:

“…A ideia de um purgatório onde, através do sofrimento, as almas serão submetidas a uma purificação, não encontra ressonância nas Escrituras Sagradas. O termo “purgatório” vem do latim purgare, que significa “purificar”.

Para o catolicismo romano, o purgatório é um lugar ou condição da alma onde aqueles que morrem na graça de Deus podem expiar seus pecados veniais, que foram perdoados.

As orações oferecidas em favor dos mortos e as missas rezadas em benefício deles são consideradas meios importantes nessa expiação. Gregório, o Grande (540-606 d.C.), destacou-se como sistematizador desta doutrina, pois a ideia já existia no pensamento dos gregos e de uma ala judaica do período pós-exílio, talvez baseados em passagens de livros considerados apócrifos.

Além de oração em favor dos mortos, estes pensadores ensinavam uma restauração universal (apocatástasis), abrindo caminho para a purificação de todos os indivíduos como parte necessária do processo restaurador.

Aqui, porém, no texto em foco, ‘o sangue de Cristo’ é que tem o poder de purificar os nossos pecados.

Na Bíblia, a palavra ‘sangue’ aparece 449 vezes, 97 das quais no Novo Testamento, e destas 22 vezes na Epístola aos Hebreus. Em todas elas, mesmo quando se refere ao sangue dos animais, são tomadas para dignificar e exaltar o sangue de Jesus como garantia da redenção da pessoa humana.…” (op.cit., p.166).

– Outro ponto importante neste argumento apresentado pelo autor aos hebreus é o de que aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois o juízo, de sorte que Cristo somente poderia morrer uma vez em pagamento dos pecados de todos os homens, homens que, também, morrem uma vez só, devendo, então, na dimensão eterna, responder perante o Senhor, serem por Ele julgados.

– Foi, por isso mesmo, que o Senhor Jesus teve de adentrar na dimensão eterna, para, com a purificação dos pecados, retirar o juízo de condenação sobre a humanidade, pagando o preço dos pecados do mundo, tirando-os e deixando a oportunidade para que todos os que n’Ele cressem pudessem ser remidos e tivessem condição de entrar na cidade santa pelas portas (Ap.22:14).

– Neste ponto, vemos, pois, o equívoco dos que defendem a doutrina da reencarnação, que entendem ser possível uma nova vida sobre a face da Terra depois da morte física, inclusive com vistas à obtenção da salvação,

pois Cristo já efetuou o perdão dos pecados de toda a humanidade, em todas as épocas, sendo certo, ademais, que a oportunidade para a salvação se dá até a morte física, pois, depois da morte, advém o juízo e se não houve fé em Cristo, não há como se obter a salvação.

– A ideia da reencarnação era desconhecida dos judeus, até porque estranha às Escrituras Sagradas, mas a afirmação do autor aos Hebreus visava mostrar aos destinatários da carta de não haveria como se obter salvação se houvesse retrocesso à lei,

pois o sangue dos animais não era capaz de perdoar pecados e que, mesmo os que viveram sob o antigo pacto, antes da manifestação de Cristo, seriam salvos pela fé que tinham tido na promessa do Messias e não por conta do sangue que havia coberto os seus pecados.

Destarte, o retrocesso às práticas judaicas representaria tão somente a perdição eterna, pois, na dimensão celestial, o único sangue que pode ter algum valor é o sangue de Cristo que, no retorno ao judaísmo, estaria sendo completamente desprezado e, aqui,

lembramos do que foi dito pelo apóstolo Pedro:

porquanto, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro, porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz; o cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama” (II Pe.2:20-22).

  Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/1817-licao-9-contrastes-na-adoracao-da-antiga-e-nova-alianca-i

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