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Lição 3 – A natureza do ser humano

INTRODUÇÃO

– O ser humano é tricotômico.  

– A tricotomia mostra a natureza do homem como imagem e semelhança de Deus, elo entre o mundo material e o mundo espiritual.  

I – A ESTRUTURA TRICOTÔMICA DO SER HUMANO  

– Na sequência do estudo sobre a doutrina do homem, veremos hoje a sua natureza, ou seja, qual a estrutura criada por Deus para o ser humano.  

– Já vimos na primeira lição que um dos fatores que faz do homem imagem e semelhança de Deus é a “tricotomia”.

O pastor Elienai Cabral, consultor teológico da CPAD, assim afirma: “O homem é um ser tricótomo” (1Ts 5.23; Hb 4.12).

O termo tricotomia significa aquilo que é dividido em três ou ‘que se divide em três tomos’.

Em relação ao homem, o termo tricotomia refere-se às três partes do seu ser: corpo, alma e espírito. Há divergência neste ponto entre alguns teólogos.

Há aqueles que entendem o homem como apenas um ser dicótomo, ou seja, que se divide em duas partes: corpo e alma (ou espírito).

Os defensores da dicotomia do homem unem alma e espírito como sendo uma e a mesma coisa.

Entretanto, parece-nos  mais aceitável o ponto de vista da tricotomia. Esse conceito da tricotomia crê que o homem é uma triunidade composta e inseparável.

Só a morte física é capaz de separar as partes: o corpo de sua parte imaterial.…” (A tricotomia do homem. Disponível em: http://www.cpadnews.com.br/blog/elienaicabral/fe-e-razao/22/atricotomia-do-homem.html Acesso em 12 nov. 2019).

– Esta tricotomia reflete, assim, no ser humano, a triunidade divina. Deus é três em um, ou seja, um único Deus em três Pessoas distintas (I Jo.5:7). O ser humano, também, é apenas um ser, um indivíduo, mas cada indivíduo é dotado de três partes: o corpo, a alma e o espírito.  

– Evidentemente que temos aqui uma semelhança. Cada Pessoa divina não é uma parte, é uma Pessoa completa, embora as três Pessoas não sejam três deuses, mas o único Senhor e Deus (Dt.6:4),

enquanto que corpo, alma e espírito são, sim, partes de um mesmo indivíduo, tanto que há a separação entre a parte material, o corpo, e a parte imaterial, alma e espírito, quando da morte física, separação que findará por ocasião da ressurreição.

De qualquer modo, lembremos sempre, o homem é “semelhante” a Deus, jamais igual a seu Criador.

– Esta tricotomia fica evidenciada no relato da criação do homem. Ali é dito que o Senhor formou o homem do pó da terra (Gn.2:7), mostrando, assim, que o homem é composto de uma parte material,

retirada do universo físico que o próprio Deus havia criado. Com efeito, a ciência no-lo tem mostrado, o homem possui, em seu corpo, todos os elementos químicos naturais da Terra,

 elementos estes que são em número de 92, a mostrar que o homem é a síntese da própria natureza. Esta parte material é chamada de “corpo” ou “homem exterior” (II Co.4:16).

– Este é o motivo pelo qual se costuma afirmar que toda a criação do universo físico foi feita em função do homem, tendo o homem como objetivo final, até porque seria o homem o administrador de toda a criação terrena.  

– Esta realidade é chamada de “princípio antrópico”, que foi explicitado pelo astrofísico e cosmólogo australiano Brandon Carter (1942- ), segundo o qual

“…um sem número de leis físicas foram orquestradas ordenadamente desde o início propriamente dito do universo até a criação do homem  – o universo que habitamos aparenta ser explicitamente planejado para o surgimento da vida e dos seres humanos.…” (apud AQUINO, Felipe. Princípio antrópico. 07 dez. 2011. Disponível em: https://cleofas.com.br/o-principioantropico/ Acesso em 12 nov. 2019).  

– O homem é o único ser que possui uma parte material e outras duas, imateriais.

Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus: “…Entendemos que o ser humano é constituído de três substâncias, uma física, corpo. E duas imateriais, alma e espírito…” (Cap.VII.1, p.78).   

– Deus é Espírito (Jo.4:24), os anjos, também (Hb.1:14); os minerais, vegetais e animais são pura matéria, não têm qualquer elemento imaterial.

Somente o ser humano é, simultaneamente, material e imaterial, precisamente porque deve ser o elo entre o mundo espiritual e o mundo material.

Feliz, aliás, a expressão do teólogo católico Felipe Aquino, que afirmou:

“…De maneira geral, pode-se dizer, então, que toda a tendência da narração da criação é apresentar o homem como mediador entre o mundo inferior e Deus;

esse mediador exerce, por sua posição e sua atividade na terra, um sacerdócio ou a missão de fazer que todas as criaturas irracionais, devidamente utilizadas pelo trabalho do homem, deem glória ao Criador.…” (O que o livro do Gênesis quer ensinar? 12 set. 2019.  Disponível em: https://cleofas.com.br/o-que-o-livro-dogenesis-quer-ensinar/ Acesso em 12 nov. 2019).  

– Ao lado desta parte material, o homem também possui duas partes imateriais, que, quando tomadas em conjunto, são denominadas, nas Escrituras, de “homem interior” (Rm.7:22; II Co.4:16; Ef.3:16).

São elas a alma e o espírito, que, sendo distintas, jamais se separam entre si e que também são encontradas no relato da criação do homem.

– Ao “boneco de barro” formado cuidadosamente por Deus, e que, portanto, já nos permite mostrar que não se trata do fruto de uma evolução, mas, sim, de uma criação distinta de Deus em relação aos demais seres,

onde há a participação direta do Senhor e não apenas de Sua Palavra, como fizera em relação a todos os demais seres terrenos (e muito provavelmente também em relação aos anjos, o que é mera especulação vez que a Bíblia silencia a respeito),

o Senhor efetua o sopro nas narinas cuidadosamente plasmadas pelo Criador e, assim, se tem o “fôlego de vida” (Gn.2:7).  

– Este “fôlego de vida” nada mais é que o espírito humano. Como afirma o pastor Elienai Cabral, “… O espírito do homem não é simples sopro ou fôlego, é vida imortal (Ec 12.7; Lc 20.37; 1Co 15.53; Dn 12.2).…” (ibid.).

“…O espírito fez o homem diferente de todas as demais coisas criadas, é dotado de vida humana e inteligência, e isto distingue da vida dos irracionais, (Jó 32.8).

O espírito é a lâmpada de Deus dentro de nós.…” (RIBAS, Elias. O espírito humano. 27 fev. 2016. Disponível em: https://pastoreliasribas.blogspot.com/2016/02/o-espirito-humano.html Acesso em 12 nov. 2019).

– Como resultado deste sopro dado por Deus, que é o espírito humano, “o homem foi feito alma vivente” (Gn.2:7) e, então, surgiu o primeiro indivíduo humano, Adão, que era dotado de uma alma, a sede de sua personalidade, onde estavam seu intelecto, sua sensibilidade e sua vontade. Como afirma o pastor Elias Ribas,

 “…Somos uma alma que habita num corpo e possui um espírito (Gn 2.7 e Sl 51).…” (ibid.).

– “…Praticamente tudo o que a Bíblia diz a respeito da alma fala também do espírito, pois ambos deixam o corpo por ocasião da morte e sobrevivem a ela [Ec.12:7; Ap.6:9].

Às vezes, o ser humano é tido como ‘corpo e alma’ [Mt.10:28] e, outras vezes, ‘corpo e espírito’ [tg.2:26].

Deus é revelado como espírito [jo.4:24] e alma [Is.42:1]. Essa interligação, às vezes, confunde os termos alma e espírito [Lc.1:46,47].

Entretanto, eles são distintos entre si. O Espírito Santo opera por meio do espírito humano: ‘O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus’ (Rm.8:16); mas isso nunca se diz com respeito à alma humana.

A Bíblia fala sobre o homem perder a sua alma: ‘Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?’ (Mt.16:26); essa linguagem, todavia, nunca é usada a respeito do espírito.

A alma e o espírito são substâncias espirituais incorpóreas e invisíveis. Apesar dessas características comuns, são entidades distintas, porém inseparáveis; são os dois lados da substância não física do ser humano, o ‘homem interior’ (Ef.3:16).…” (Declaração de Fé das Assembleias de Deus, Cap.VII.3, p.79).  

II – O CORPO HUMANO  

–  Sobre o corpo, assim afirma o pastor Elienai Cabral:

 “É a parte inferior do homem que se constitui de elementos químicos da terra como oxigênio, carbono, hidrogênio, nitrogênio, cálcio, fósforo, potássio, enxofre, sódio, cloro, iodo, ferro, cobre, zinco e outros elementos em proporções menores.

Porém, o corpo com todos esses elementos da terra, sem os elementos divinos, são de ínfimo valor.

No hebraico, a palavra corpo é basar. No grego do Novo Testamento, a palavra corpo é somma.

Portanto, o corpo é apenas a parte tangível, visível e temporal do homem (Lv 4.11; 1Rs 21.27; Sl 38.4; Pv 4.22; Sl 119.120; Gn 2.24; 1Co 15.47-49; 2Co 4.7). O corpo é a parte que se separa na morte física.…” (ibid.)

– A constituição material do corpo humano faz com que ele esteja submetido às leis da natureza, às leis físicas (“physis”, em grego, quer dizer natureza), de forma que o corpo humano, enquanto tal,

é idêntico aos demais corpos existentes na natureza, tendo, assim, as mesmas qualidades e características das demais substâncias corporais, tais como, peso, massa, extensão, submissão a espaço e a tempo.   

– Vemos, portanto, que o fato de o corpo ser uma substância material não é um mal em si.

Muito pelo contrário, o corpo foi feito substância material por expressa vontade de Deus e tudo o que Deus fez foi muito bom (Gn.1:31).  

– É importante insistirmos neste ponto, porque, desde os mais remotos tempos antigos, notadamente entre os hindus, há uma crença de que o corpo, por ser material, é um mal em si, é algo que atrapalha a comunhão com Deus ou o progresso espiritual.

Este pensamento, inclusive, foi adotado na filosofia grega, notadamente por Pitágoras e por Platão, tendo, da filosofia grega, chegado a influenciar o pensamento de alguns teólogos e filósofos cristãos a partir do final da Antiguidade e que está por detrás de muitas práticas esotéricas e supostamente científicas que têm angariado muitos seguidores na atualidade (yoga, reiki, terapia holística etc.).

OBS: O pensamento de que o corpo é um mal em si é encontrado, com grande clareza, na filosofia de Platão (século III a.C.), o primeiro filósofo grego cuja obra praticamente toda chegou até nós. Vejamos, por exemplo, um trecho do seu diálogo Fédon: “… _ Que dizer da aquisição mesma da inteligência ?

O corpo é ou não um estorvo, quando se toma como colaborador na pesquisa ?

O que desejo significar é isto: os dados da visão e da audição trazem aos homens alguma verdade ?

ou se passa o que nos vivem repetindo os poetas, que nada ouvimos e nada vemos com exatidão ?

Sem embargo, se não são exatos nem seguros esses, muito menos os outros sentidos corporais, todos, sem dúvida, inferiores a esses.

Ou achas que não o são ? (…). _ Quando – tornou ele – a alma atinge a verdade ? pois toda a vez que procura examinar algo em colaboração com o corpo, é por ele manifestamente induzida em erro.

(…) Com efeito, o corpo nos causa milhões de ocupações, devido à precisão de alimentos e ainda, se nos sobrevêm doenças, elas nos embaraçam a caça da realidade.

Amores, desejos, temores, fantasias de toda a sorte e frioleiras sem conta é o de que ele nos atulha a ponto de, como se diz com razão, tolher-nos deveras a possibilidade de alguma vez sequer compreender alguma coisa.

De fato, guerras, querelas, combates, nada os provoca senão o corpo e seus apetites, pois as guerras todas se produzem por causa da posse dos bens, e somos obrigados a adquirir os bens por causa do corpo, como escravos a seu serviço.

Dele é a culpa, se todas essas necessidades nos privam de lazeres para a filosofia.…” (PLATÃO. Diálogos. Cultrix, p.146-7).  

– A matéria não é obstáculo a que se sirva a Deus. O homem foi criado num corpo material, do pó da terra e habitava em plena comunhão com Deus no jardim do Éden.

A Bíblia mostra-nos que Deus fez o homem reto (Ec.7:29) e, portanto, como o homem já era dotado de matéria quando foi criado, isto indica que a matéria não é um mal em si, nem empecilho para que se sirva a Deus.

Tanto assim é que, até a queda, o primeiro casal serviu a Deus sem qualquer dificuldade, embora fossem dotados de um corpo material. Jesus, também, é um exemplo de quem possuía um corpo material igual ao nosso (Hb.10:5) e que, nem por isso, pecou (Hb.4:15).

– As pessoas não podem confundir entre o corpo e a natureza pecaminosa do homem, que as Escrituras denominam de “carne”.

O corpo (em grego, “soma”-σῶμα) é a parte material do homem, o homem exterior, a parte do homem que faz contacto com o mundo físico e que pertence ao mundo físico, o ” pó da terra”.

Já a carne (em grego, “sarx”-σάρχ) é a natureza pecaminosa do homem, é a tendência rebelde, egoísta e que leva o homem ao pecado, a parte do homem que não quer se submeter ao senhorio de Deus, presente não no corpo, mas no homem interior (alma e espírito).

A carne, deste modo, não são os tecidos, os músculos nem os órgãos do nosso corpo (não estamos aqui falando de carne como quando nos referimos à carne que compramos no açougue), mas os sentimentos, desejos e paixões da alma contrários à vontade de Deus, algo que será objeto de nosso estudo mais adiante neste trimestre.

É por causa desta confusão entre corpo e carne que se chegam a algumas conclusões que aproximam o pensamento de alguns estudiosos da Bíblia aos dos filósofos já mencionados, algo que deve ser evitado, pois sem qualquer respaldo bíblico e que tanta confusão e margem ao ingresso de falsas doutrinas têm ocasionado em nosso meio.

OBS: ” …Em o Novo Testamento uma distinção marcante deve ser feita entre σῶμα e σάρχ (transliteração nossa).

A primeira palavra é geralmente usada para indicar a carne física, enquanto que a última é mais ampla em sua importância, e refere-se algumas vezes ao corpo físico (cf. Hb.5.7) e em outras vezes incorpora aquilo que é imaterial e ético em seu significado, com referência específica à natureza caída do homem.(…).

Estas declarações (Rm.7.15-25, observação nossa) demonstram que a verdade de que o apóstolo (Paulo, observação nossa) incluiu na palavra carne tudo o que constitui o homem não-regenerado.…” (CHAFER, Lewis Sperry. Teologia sistemática, t.4, v.7, p.71).

– A Bíblia deixa-nos isto bem claro ao apresentar algumas figuras a respeito do corpo, figuras estas que nos dão a exata posição do corpo no ser humano, qual o seu papel e o que ele deve representar na nossa vida.  

– Por primeiro, a Bíblia refere-se ao corpo como sendo um tabernáculo ou uma tenda.

Paulo diz que o nosso corpo é a ” nossa casa terrestre deste tabernáculo” e, mais, que se trata de uma casa que irá se desfazer (II Co.5:1).

Pedro, também, utiliza-se da mesma figura, ao afirmar que ” brevemente hei de deixar este meu tabernáculo” ( II Pe.1:14).  

– Esta figura do corpo como sendo o tabernáculo é muito profunda e significativa.

Trata-se de uma expressão utilizada por quem tinha pleno conhecimento do significado do tabernáculo para o povo de Israel.

A palavra “tabernáculo”  quer dizer habitação, morada e diz respeito à construção móvel que Deus determinou que Moisés fizesse e que acompanhou o povo na sua peregrinação no deserto e que existiu até a construção do templo no reinado de Salomão. O que o tabernáculo pode nos ensinar a respeito do nosso corpo?  

– Primeiramente, o tabernáculo era uma construção móvel (Nm.10:21), ou seja, era uma edificação que não foi feita para ficar no mesmo lugar durante todos os tempos, mas algo que ia de um lugar para outro, embora estivesse seguindo um caminho pré-determinado por Deus (qual seja, a Terra Prometida).

O nosso corpo, também, não é algo que foi feito para perdurar para sempre.

O corpo é algo passageiro, algo que tem um tempo determinado, algo que está submetido ao espaço e ao tempo, algo que envelhece, algo que se modifica, mas algo que deve ser conduzido com um objetivo previamente determinado pelo Senhor, assim como o tabernáculo era levado pelo povo para um lugar já mostrado a Israel por Deus.  

– Quando temos consciência de que o nosso corpo é uma construção móvel, é algo que serve para nossa peregrinação no caminho traçado pelo Senhor para cada um de nós, temos uma conduta totalmente diferente com relação a nosso corpo do que o temos feito ou que as pessoas sem esta consciência fazem.

Não podemos tratar o corpo como algo irrelevante para Deus quando tomamos consciência de que ele é algo que devemos conduzir na nossa caminhada para o céu.  

– Em segundo lugar, o tabernáculo era uma construção que foi feita para um determinado período da história de Israel(I Rs.8:4), ou seja, não foi algo que perdurou para sempre. Nosso corpo, de igual forma, não foi feito para durar para sempre.

Nosso corpo é do pó da terra e a ele tornará (Gn.3:19) ou, se estivermos entre aqueles que serão arrebatados ainda vivos, teremos nossos corpos transformados num corpo glorioso(I Co.15:52).

O corpo é uma casa terrestre que se desfará, como diz o apóstolo Paulo.

Quando sabemos que o nosso corpo irá se desfazer, que ele não herdará a vida eterna, não damos vazão a pensamentos e a desejos instigados pela natureza pecaminosa que têm por finalidade e objetivo a satisfação de necessidades criadas unicamente para o corpo, pois, então,

teremos noção de que o corpo é algo passageiro, algo feito apenas para esta dimensão terrestre e que não pode comprometer a nossa eternidade.

– Em terceiro lugar, o tabernáculo foi construído segundo um modelo dado por Deus a Moisés(Ex.25:40).

Nosso corpo foi feito segundo a vontade de Deus, pois foi o próprio Deus que o formou e, portanto, deve ser utilizado segundo o modelo estabelecido pelo Senhor, ou seja,

deve ser usado e administrado de acordo com a forma determinada por Deus e que se encontra nas Escrituras Sagradas.

Qualquer uso do corpo fora destes parâmetros, portanto, é algo que não deve ser admitido nem adotado por um mordomo do Senhor.  

– Quando percebemos que o corpo foi feito por Deus e segue um modelo Seu, imediatamente abandonamos o falso pensamento de que ” Deus só quer o coração” e de que as coisas relativas ao corpo são irrelevantes do ponto-de-vista de nossa vida espiritual ou que sejam até assunto que prejudique a nossa comunhão com o Senhor.

Passamos a ter consciência de que o corpo não é primordial no nosso contacto com Deus mas tem um papel a cumprir, de tal maneira que temos de levá-lo em conta e com ele também nos ocuparmos para que sejamos achados servos fiéis e prudentes por nosso Senhor.  

– Em quarto lugar, o tabernáculo não se confundia com a glória de Deus (Ex.40:34-38), mas era através dele que o povo de Israel notava a presença e a direção de Deus na caminhada para Canaã. Nosso corpo, de igual maneira, não se confunde com a glória de Deus.

Nosso corpo é matéria, enquanto que Deus é espírito (Jo.4:24), mas é o nosso corpo que serve de receptáculo para a glória do Senhor, para o Seu Espírito.

É neste corpo que habita a Divindade (Jo.14:23), de tal maneira que o corpo é também figurado como sendo o templo do Espírito Santo (I Co.6:19).

Por causa disto, tudo o que fazemos neste mundo é conhecido dos demais homens através deste corpo e, por meio dele, as pessoas darão, ou não, glória a Deus pelos nossos atos (Mt.5:16) e é pela forma de que dele nos utilizamos que seremos julgados pelo Senhor no tribunal de Cristo (II Co.5:10).  

– Quando temos consciência de que o nosso corpo é o instrumento que Deus nos dá para que, neste mundo, o Seu nome seja glorificado pelas obras que façamos, quando percebemos que ele é o veículo pelo qual os demais homens notarão a presença e a direção de Deus em nós e para eles, passamos a ter um comportamento totalmente diverso da conduta negligente e displicente que muitos têm levado em relação aos seus corpos.

Os homens não têm condições de ver o nosso interior, de compreender-nos pelo que há dentro de nós, mas somente perceberão o que há em nós, a nossa eterna salvação, a nossa pureza,

a nossa felicidade através de nosso corpo, pois é ele que, a exemplo do tabernáculo, fará o homem natural notar que, dentro de nós, dentro daquele invólucro, está a presença e a direção do Senhor.  

– Em quinto lugar, o tabernáculo era uma edificação que, exteriormente, não causava esplendor, admiração ou atenção.

Com efeito, revela-nos a Bíblia que a parte externa do tabernáculo era composta de uma cobertura de peles de texugo em cima(Ex.25:14),

última cobertura de uma série de camadas de outras peles, cobertura que não causava nenhuma admiração a quem a visse, ao contrário, por exemplo, do templo (seja o primeiro, seja o segundo, como vemos, v.g., em Mt.24:1).

De igual modo, o nosso corpo não deve ser o alvo de nossas atenções. A satisfação de suas necessidades não deve ser o centro de nossas vidas (Mt.6:31-33), mas devemos procurar aparecer menos na aparência e na fisionomia e nos conscientizarmos de que, sobre nós, sobre o nosso corpo, deve reluzir a glória de Deus (Jo.3:30).  

– Quando nos conscientizamos de que o nosso corpo não deve ser um fim em si mesmo, nossa conduta passa a ser diferente do comportamento que tanto tem caracterizado os nossos dias de culto ao corpo e a tudo o que lhe diz respeito, culto este que tem, inclusive, já invadido os que cristãos se dizem ser.

Vivemos, hoje, a época do domínio da moda, da aparência, da beleza estética, com um sem-número de distúrbios e desequilíbrios de toda a sorte.

Teremos a devida conduta e nos aproximaremos da modéstia que tanto caracterizou o nosso Senhor em sua vida terrena se nos lembrarmos de que o corpo não deve ter parecer nem formosura, mas deve ser capaz de tornar visível a glória de Deus para os que conosco convivem.  

– Em sexto lugar, o tabernáculo era uma edificação que foi feita com a vinda de materiais de todo o povo de Israel, de tudo quanto Deus tinha dado ao Seu povo quando ele saiu do Egito, uma contribuição coletiva e voluntária de todos os israelitas (Ex.35:20-29).

De igual modo, Deus, ao fazer o corpo do homem, teve a contribuição de todos os elementos da terra, pois, como vimos, a composição química do organismo humano possui todos os elementos, ainda que em pequenas quantidades, como a demonstrar que o nosso corpo é o resultado de uma cooperação coletiva de toda a natureza.  

– Quando observamos que o nosso corpo é resultado de uma combinação de todos os elementos da terra, percebemos, como nunca, que o homem deve respeitar a natureza e dela cuidar com extremo zelo, pois somos, por assim dizer, uma síntese da natureza.

Deus fez-nos desta natureza, dotou-nos de um corpo que é a combinação de toda a natureza, para que nos sentíssemos integrados nela, como elemento-chave para a manutenção do seu equilíbrio.

Quando não exercemos bem esta mordomia, sofremos juntamente com a natureza e, tal como ela, nosso corpo aguarda uma redenção (Rm.8:22,23).  

– Em sétimo lugar, o tabernáculo foi substituído pelo templo de Salomão, mais majestoso e cuja glória ficou indelevelmente marcada na mente dos israelitas, mesmo após décadas de cativeiro (Ed.3:12).

De igual modo, o nosso corpo, tal qual o tabernáculo, tem a glória de Deus sobre nós, quando a Ele nos consagramos e, através de nosso corpo, esta glória é demonstrada aos demais seres humanos, mas não se trata de um corpo glorioso, de um corpo que tenha a glória como sua característica. E

ste corpo terreno jamais será caracterizado pela glória, pois é um corpo terreno, corpo este que será substituído por um corpo espiritual, um corpo glorioso (I Co.15:40-49).  

– Quando temos consciência de que o corpo que agora temos será substituído por um corpo espiritual, por um corpo glorioso, passamos a viver diferentemente, na perspectiva da vinda de Jesus e da eternidade, perspectivas estas indispensáveis para que tenhamos uma vida santa e consagrada a Deus.  

– Além de ser comparado a um tabernáculo, o corpo é também chamado de ” templo do Espírito Santo” (I Co.6:19), numa perspectiva que já vimos, em parte, ao tratarmos da consideração do corpo como tabernáculo, pois tanto o templo, quanto o tabernáculo nos dão de ideia de morada, de habitação.

Esta morada e esta habitação, entretanto, representam algo mais do que o que já temos falado, ou seja, de que seja uma morada de Deus.

Quando dizemos que o corpo é o templo do Espírito Santo, devemos ter a exata noção desta afirmação diante do que se entendia por templo na época em que foi escrito o texto pelo apóstolo Paulo.  

– Quando Paulo fala em templo, está se referindo a um lugar de adoração, a um lugar onde a divindade era cultuada.

Como judeu que era, Paulo, ao se utilizar da expressão “templo” bem sabia que estava se referindo a um lugar de adoração, pois o templo era a casa santificada pelo próprio Deus,

onde Deus prometera estar presente e atento a todas as súplicas do Seu povo (I Rs.9:3; II Cr.7:16) bem como casa de sacrifício, onde Deus prometer estar pronto a perdoar e purificar o Seu povo (II Cr.7:12-14).

Ao mesmo tempo, enquanto apóstolo dos gentios, escrevendo para gentios (“in casu”, os coríntios), Paulo sabia que o templo era um local onde se praticava o culto às divindades, onde os gentios sacrificavam e praticavam atos que agradavam aos deuses, tanto assim que, por exemplo, os deuses de fertilidade tinham seus templos como verdadeiros prostíbulos e locais de obscenidades.   

– Assim, quando Paulo nos afirma que o nosso corpo é templo do Espírito Santo, está nos dizendo que o corpo deve ser uma parte do homem que deve ser destinada a agradar ao Senhor.

O corpo é um local onde devemos adorar a Deus, um lugar onde devemos demonstrar a pureza de nosso interior, um lugar que deve demonstrar o perdão dos nossos pecados, um lugar onde tudo o que façamos tenha por objetivo agradar a Deus.

Muito ao contrário dos que defendem a falsa doutrina de que “Deus só quer o coração”, o que a Bíblia nos ensina, através desta figura, é que o corpo é o lugar em que devemos adorar a Deus, ou seja, servi-l’O.

É através do corpo que estaremos comprovando se, realmente, fomos santificados, fomos perdoados, fomos purificados e se, realmente, estamos agradando a Deus.  

– Outra expressão bíblica utilizada para o nosso corpo é a que compara o corpo humano a um vaso de barro. Jeremias, no capítulo 18 de seu livro, relata-nos a experiência que Deus lhe fez passar na casa do oleiro,

em que diz que o homem nada mais é do que um vaso de barro nas Suas mãos (Jr.18:6) e, no livro de Lamentações, afirma que os filhos de Sião “são reputados por vasos de barro” (Lm.4:22).

Paulo, quando escreve aos coríntios, também afirma que temos o conhecimento de Jesus Cristo, um verdadeiro tesouro, “em vasos de barro” (II Co.4:2) e torna a fazer a comparação do homem como um vaso de barro quando escreve a Timóteo, dizendo que

“…há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém para desonra” e que “… se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor…” ( II Tm.2:20,21).  

– A imagem do oleiro e do vaso é uma figura bíblica que nos fala do homem exterior, do corpo humano e que demonstra que seu criador é o Senhor, tanto quanto das demais partes do ser humano (alma e espírito). Também nos dá conta de que o corpo é um elemento material e que é feito do pó da terra.

Mas o prisma que queremos aqui ressaltar desta figura bíblica é a que diz respeito ao corpo como um veículo para a comunicação da glória de Deus.

O vaso tem de ter um conteúdo. Não basta que tenha um material, mas que seja usado para guardar um conteúdo.

Paulo afirma-nos que este conteúdo tem de ser um tesouro, ou seja, que o vaso esteja próprio para “a iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” ( II Co.4:6b).

Nosso corpo deve servir para que Jesus seja glorificado entre os homens, deve refletir “como um espelho a glória do Senhor” (II Co.3:18).  

– Quando falamos que nosso corpo é um vaso de barro, ressaltamos a fraqueza de nosso corpo, a sua debilidade, a sua fragilidade, a sua dependência extrema da parte do oleiro, que é o Senhor.

Quando nos conscientizamos de que nosso corpo é débil, é frágil, é apenas um vaso de barro, não damos importância à aparência, passamos a ser vigilantes quanto à manutenção do conteúdo, pois o vaso, em si mesmo, valor algum tem, pois é apenas um vaso de barro, mas o que está dentro de si, o tesouro, este, sim, é dotado de valor e nos faz valer algo.

Devemos valorizar o que está dentro de nós, jamais nos deixando iludir pelo astucioso comprador, o adversário de nossas almas (Pv.20:14).  

III – A ALMA HUMANA  

– Sobre a alma, assim diz o pastor Elienai Cabral: “…É preciso saber que o corpo sem a alma é inerte.

A alma precisa do corpo para expressar sua vida funcional e racional. A alma é identificada no hebraico do Velho Testamento por nephesh e no grego do Novo Testamento por psiquê.

Esses termos indicam a vida física e racional do homem. Os vários sentidos da palavra alma na Bíblia, como sangue, coração, vida animal, pessoa física; devem ser interpretados segundo o contexto da escritura em que está contida a palavra “alma”.

De modo geral, em relação ao homem, a alma é aquele princípio inteligente que anima o corpo e usa os órgãos e seus sentidos físicos  como agentes na exploração das coisas materiais, para expressar-se e comunicar-se com o mundo exterior.

Nephesh dá o sentido literal de “respiração da vida” (Sl 107.5,9; Gn 35.18; 1Rs 17.21; Dt 12.23; Lv 17.14; Pv 14.10; Jó 16.13; Ap 2.23; Ecl 11.5; Sl 139.13-16).…” ibid.).  

– A palavra ” alma”, como a maioria das palavras, é ” plurívoca”, ou seja, tem muitos significados.

Assim, não podemos deixar de observar que nem sempre a palavra “alma”, quando se encontra na Bíblia Sagrada, quer dizer a mesma coisa, variando de passagem para passagem,

até porque sabemos que o texto bíblico foi escrito, primeiramente, em três línguas (hebraico e alguns trechos em aramaico – Antigo Testamento e grego – Novo Testamento),

por pessoas de diferentes classes sociais e em diversas circunstâncias e épocas, o que faz com que o significado de alguns termos tenham se alterado ao longo dos anos e tempos. Isto ainda acontece nos nossos dias, tanto que, naturalmente, quando falamos 

“A propaganda é a alma do negócio”,  ” não acredito em almas penadas”  ou ” a minha alma tem sede de Deus”, evidentemente não estamos dando à palavra “alma” o mesmo significado.  

– Um primeiro significado da palavra “alma”  é o de ” essência da vida”,  ” base da vida”.

Neste significado, a palavra “alma”  sempre se refere à essência, à própria vida.

A alma, então, seria o próprio núcleo do ser humano, a sua individualidade, a sua própria existência enquanto ser vivente.

Este é o significado que adotaremos de alma em nosso estudo. A alma é a parte do homem que o torna diferente de todos os demais, que o torna distinto dos demais seres, humanos ou não.

Na alma, estão a nossa personalidade, os nossos sentimentos, a nossa vontade e o nosso entendimento.

Uma pessoa é diferente da outra por causa da sua alma, da sua “essência”, da sua “base” . É neste significado que podemos dizer, como o salmista, “A minha alma tem sede de Deus” .

– Eis o que diz a nossa Declaração de Fé a respeito: “…A palavra ‘alma’ tem vários significados na Bíblia, a saber, o próprio indivíduo: ‘a alma que pecar, essa morrerá’ (Ez.18:4), a pessoa [Ex.1:5; Rm.13:1] e a vida [Jó 12:10; Mt.10:39].

A alma é a sede do apetite físico [Nm.21:5; Dt.12:20], das emoções [Sl.86:4], dos desejos tanto bons como ruins [Ec.6:2; Pv.21:10], das paixões [Jó 30:25] e do intelecto [Sl.139:14].

É o centro afetivo [Ct.1:7], volitivo [Jó 7:15] e moral [Gn.49:6] da vida humana.

A alma comunica-se com o mundo exterior por meio do corpo. É a partir dela que o homem sente, alegra-se e sofre através dos órgãos sensoriais.

Como um dos elementos da natureza essencial do ser humano, a alma é uma substância incorpórea e invisível, inseparável do espírito, embora distinta dele, formada por Deus dentro do homem, sendo também consciente mesmo depois da morte física:

‘…vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram.

E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?’ (Ap.6:9,10)…” (Cap.VII, n.5, p.80).

– Um segundo significado da palavra “alma” é o de “vida”, de ” existência”, ” sobrevivência”, significado que surgiu em virtude do significado anterior.

Como a alma é a sede da individualidade de alguém, deu-se à palavra “alma”  a própria ideia de vida, de existência, de movimento.

É por isso que os seres que se movimentam de um lado para outro, que se locomovem foram chamados pelos antigos de ” animais”,  ou seja, ” seres dotados de vida”,  ” seres dotados de alma” ( pois se pensava que as plantas, por serem estáticas, ou seja, não se locomoverem, não teriam ” vida” neste sentido).

É neste significado que devemos compreender a expressão ” A propaganda é a alma do negócio” , ou seja, a vida de um negócio, a sua existência e sobrevivência depende da propaganda.   

– Também é neste significado que devemos compreender a tão polêmica expressão bíblica que se encontra em Gn.9:4, a saber, ” a carne, porém, com sua alma (a Versão Almeida Revista e Corrigida contém uma variante aqui, substituindo “alma” por “vida”), isto é, com seu sangue, não comereis”.

Esta expressão não quer significar, em absoluto, que a alma se confunda com o sangue, como defendem as Testemunhas de Jeová, mas apenas está afirmando que o sangue é necessário para a sobrevivência, para a existência física, pois é este o significado de ” alma”  na passagem bíblica mencionada.  

– A palavra ” alma”  também significa ” respiração da vida”, pois, como a vida física é indicada pela respiração, logo se criou a ideia de que a alma está relacionada com o ato de respirar.

Por isso, inclusive, a expressão “último suspiro”  para indicar a morte. A alma, que é a vida, foi associada ao ato de respirar, e a morte, à saída da alma. É o que vemos em passagens bíblicas como Gn.35:18 e I Rs.17:21,22.

– A palavra ” alma”, muitas vezes, significa ” pessoas”, ” indivíduos” no sentido de que a parte que distingue cada pessoa de outra é a alma. É assim que vemos a aplicação da palavra em Rm.13:1.  

– A alma é a parte do homem interior que nos distingue dos demais seres, onde ficam nossos sentimentos, nossa vontade, nosso entendimento e nossa personalidade.

É a alma que nos faz diferentes dos demais homens e onde é feita a escolha para servirmos a Deus ou não. Vemos, assim, que é na alma que se encontra uma parte relevante para cumprirmos a doutrina da mordomia cristã.    

III – O ESPÍRITO HUMANO  

– Sobre o espírito, assim afirma o pastor Elienai Cabral: “…No hebraico é ruach e no grego, pneuma.

O espírito do homem não é simples sopro ou fôlego, é vida imortal (Ec 12.7; Lc 20.37; 1Co 15.53; Dn 12.2).

O espírito é o princípio ativo de nossa vida espiritual, religiosa e imortal. É o elemento de comunicação entre Deus e o homem. …” (ibid.).  

– A palavra “espírito”, na Bíblia, tem vários significados, assim como “alma”.

A palavra hebraica para espírito (“ruach”- רוח) pode ser traduzido como “soprar, sopro”, como no Sl.18:15, parte final( “…pela Tua repreensão, Senhor, ao soprar das Tuas narinas”)  ou “vento”, como em Gn.8:1( “…e Deus fez passar um vento sobre a terra…”).

É, também, com estes significados que encontramos, às vezes, a palavra grega “pneuma” (πνευμα), como em II Ts. 2:8, (“…a quem o Senhor desfará pelo assopro da Sua boca…”) e em Jo.3:8 (” O vento assopra onde quer…”).  

– A palavra ” espírito”, a exemplo do que ocorre, também, com a palavra ” alma”, pode significar, em algumas passagens bíblicas, “vida”  ou ” respiração”, como, por exemplo, em Gn.6:17 (“…para desfazer toda carne em que há espírito de vida debaixo dos céus…”), no Sl.146:4 (” Sai-lhes o espírito, e eles tornamse em sua terra…”).  

– Algumas vezes, a palavra “espírito”  é utilizada com o significado de “homem interior”, ou seja, refere-se à parte imaterial do homem, o que inclui tanto a alma quanto o espírito.

É o que vemos em Nm.16:22 (“…Ó Deus, Deus dos espíritos de toda a carne…”), em Jó 14:10 (“…rendendo o homem o espírito, então onde está ?”), em Ec.12:7 (“…e o espírito volte a Deus, que o deu…”) e em Hb.12:23 (“…e aos espíritos dos justos aperfeiçoados…”).  

– A palavra “espírito”  também designa, em algumas passagens bíblicas, os outros “seres espirituais”, ou seja,

os seres que não têm corpos físicos, os seres primitivamente celestiais, cuja semelhança com o homem está, exatamente, em que, a exemplo do homem, também são dotados de espíritos, embora,

ao contrário dos homens, não tenham corpos físicos. É neste sentido que é dito que Deus é Espírito (Jo.4:24), que os anjos são espíritos ministradores (Hb.1:14) , bem como que o nosso adversário e seus anjos são espíritos (Jó 4:15, Lc.4:36).  

– Tendo visto que o espírito não se confunde com a alma, embora, muitas vezes, o texto bíblico a eles se refira em conjunto, por serem ambas a parte imaterial do homem, é preciso observar quais são as faculdades do espírito.

Segundo os estudiosos, podemos distinguir no espírito humano duas faculdades: a fé e a consciência. Alguns, como o teólogo e pastor Enilson Heiderick, preferem afirmar que o espírito possui funções e não faculdades.

Função é uma atividade natural ou característica de algo, enquanto que faculdade é capacidade, possibilidade, natural ou adquirida, de fazer algo.

Com efeito, o espírito está sempre agindo, o que nem sempre ocorre com a alma, daí porque tais caracteres do espírito seriam funções e não, faculdades.

– Com efeito, quando falamos do relacionamento entre Deus e o homem, ao analisarmos a Bíblia Sagrada, vemos que este relacionamento foi estabelecido dentro de duas atividades fundamentais para o homem, sem o que ele não poderia se relacionar com o seu Criador.

A primeira dessas atividades é a fé, pois ” sem fé é impossível agradar-Lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que é galardoador dos que O buscam” (Hb.11:6).  

– Não podemos pensar num relacionamento entre Deus e o homem se o homem não crer que Deus existe e que é o Senhor de todas as coisas.

Dotado por Deus do livre-arbítrio, o homem tem, como já vimos supra, o poder de escolher entre servir a Deus, ou não, entre fazer o que Deus manda, ou não.

Ora, para que faça o que Deus quer, para que escolha servir a Deus, precisa crer em Deus, ou seja, acreditar, confiar no Senhor, dar crédito às Suas Palavras.   

– Quando Deus disse ao homem que não deveria comer do fruto da árvore do bem e do mal, colocou em ação, precisamente, esta faculdade do espírito humano e o pecado só entrou no mundo porque o primeiro casal não creu em Deus, achando que, ao comer do fruto proibido, tornar-se-iam iguais a Deus, crendo, assim, na mentira da serpente.  

– Um relacionamento entre Deus e o homem só é possível porque o homem é capaz de perceber a existência de Deus, porque o homem é capaz de vislumbrar, pelas obras da criação e, diante de sua pequenez e limitações, de que há um ser supremo, que governa todas as coisas, ser este que outro não é senão Deus.

Esta crença em Deus é a fé natural, a fé que é uma faculdade do espírito humano e que está presente em todos os homens pelo simples fato de serem humanos.  

– Todos os homens, portanto, têm condições de crer na existência de Deus e Deus a eles Se revela, seja através da natureza (Rm.1:20-22), seja através da consciência (Rm.2:12-15), seja através de Israel (Ex.19:5,6), seja através de Jesus (Jo.1:14), seja através das Escrituras (Rm.15:4), seja através da Igreja (Rm.10:8; II Co.3:2,3).  

– Verdade é que, em virtude do pecado e dos seus efeitos, o espírito humano é tolhido e dominado pela natureza pecaminosa, que a Bíblia denomina de “carne”,

estabelecendo um conflito interno no ser humano, sobre o qual falaremos infra, impedindo, assim, que esta percepção da existência do Criador possa ditar regras de vida para o homem que, perdido e dominado pelo pecado, chega até o extremo de negar a própria existência divina, revelando toda a sua situação de desgraça e ignorância (Sl.14:1; 53:1).

OBS: “…O plano de Deus na criação foi o de dar ao homem a capacidade de conhecer o seu Criador, bem como o de ser capaz de conhecer as realidades espirituais em geral.

Deus criou [o homem, observação nossa] de tal modo(…) que(…) pode, por seus dotes naturais, entender tais coisas.(…).

A fé não pode ser destruída, tal como não poder destruída a alma. A fé, porém, pode ser ocultada pela mente consciente, devido à perversão do indivíduo, ou podemos negligenciar-lhe o desenvolvimento nas coisas espirituais.

Tão completo pode ser esse bloqueio da fé que nenhum único raio de luz venha a iluminar a mente física, a consciência.

Assim, um homem pode chegar a nem mesmo crer na existência de sua própria alma, ou na existência do seu Criador.

No entanto, [o homem, observação nossa] (…) sabe da verdade dessas coisas, a fé continua existindo – mas não pode esse conhecimento ser transmitido ao indivíduo consciente.…” (CHAMPLIN, Russell Norman. Fé. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.694).  

– É interessante notar que, na filosofia, na ciência e na teologia, os homens chegaram à constatação, ainda que por outras vias que não a Bíblia Sagrada, da realidade da existência desta fé natural.

Os filósofos e cientistas, de forma consensual, têm reconhecido que todo conhecimento, ainda que procure ser criterioso e fundado em provas e demonstrações, depende de alguns pontos de partida, de alguns princípios que devem ser adotados sem comprovação, que devem ser aceitos. I

nsistem eles que esta aceitação é resultado de uma “intuição”, de uma ” evidência”, de uma ” necessidade lógica”, mas, no fundo, o que se está a dizer é que, por mais que o homem exija provas e demonstrações para aceitar como verdadeiras algumas conclusões,

jamais poderá partir do nada, deve, pelo menos, aceitar como verdadeiros alguns postulados, alguns princípios que não são capazes de qualquer demonstração, ou seja, deve crer em alguma coisa, sem o que não é possível qualquer atividade racional.

Esta crença, esta aceitação nada mais é do que o reconhecimento de que o homem precisa crer para desenvolver todas as suas potencialidades, de que o homem é dotado de uma fé que é indispensável para a sua própria existência.

Esta crença, fundamental e indispensável para todo o conhecimento, é o que caracteriza uma das faculdades do espírito humano.  

– Esta fé, que denominamos de fé natural, porque decorre da própria natureza do homem, é fruto da sua criação enquanto imagem e semelhança de Deus, não pode ser confundida com a fé salvadora, com a fé que é fruto do Espírito e com o dom espiritual da fé, que são conceitos distintos.  

– Alguns denominam esta fé natural de função de “função de intuição”, considerada como sendo “…a capacidade do espírito humano de conhecer e saber independentemente de qualquer influência exterior.

É o conhecimento que chega até nós, sem qualquer ajuda da mente ou da emoção, ele chega intuitivamente.

As revelações de Deus e todas as ações do Espírito Santo se tornam conhecidas por nós pela intuição do espírito.…” (Ministério Profético Maanaim, 14 set. 2015. Disponível em: https://www.facebook.com/EBDonline/posts/1046983952009112/ Acesso em 12 nov. 2019).  

– Para haver um relacionamento entre Deus e o homem, entretanto, embora seja necessário que o homem creia, confie em Deus, isto não é suficiente para que se estabeleça um relacionamento.

Deus é superior ao homem, Seus pensamentos e caminhos são muito superiores aos do homem e, desta forma, não haveria como o homem, por si só, chegar ao mesmo nível de Deus, a fim de se pudesse instituir uma relação entre eles.

Por causa disto, Deus dotou o homem de consciência, ou seja, da capacidade de saber o que é certo e o que é errado, quase que como uma voz do próprio Deus no interior do homem, a permitir-lhe saber o que deve e o que não deve ser feito.

Deste modo, através da consciência, o homem poderia saber qual é a vontade de Deus e, assim, poder estabelecer um relacionamento apesar da infinita distância entre o Senhor e Seu mordomo.  

– A consciência é, assim, a faculdade do espírito que nos permite saber o que é o certo e o que é errado, um verdadeiro tribunal que existe em nosso interior a nos dizer quando estamos acertando e quando estamos errando, algo que existe em todo ser humano, se bem que o pecado gere, como efeito, o embrutecimento do homem, a ponto de ele chegar a ter a própria consciência cauterizada (I Tm.4:2), ou seja, completamente

 – A consciência, desde a Antiguidade, já era considerada como esta voz de advertência, esta instância julgadora no interior do homem. O filósofo grego Sócrates a ela se refere e os filósofos estoicos (mencionados em At.17:18)

a consideravam uma ” fagulha do ser divino no homem”, figura que acabou sendo trazida para os discursos filosóficos e teológicos cristãos mas que deve ser acolhida com cuidado, pois, se é verdade que a consciência é algo que traz para o interior do homem a moralidade divina, é algo que vem da parte de Deus, mas que com Deus não se confunde.

Os estoicos eram panteístas e, portanto, consideravam que Deus e a Sua criação se confundiam, o que sabemos não ser o ensinamento da Bíblia Sagrada.  

– A consciência é a capacidade que temos de distinguir o certo do errado, mas, nem por isso, o homem está isento de errar.

Através da consciência, Deus permitiu ao homem discernir entre o que é correto, o que está de acordo com a vontade divina e o que não o é, mas, devemos lembrar, o homem é livre, ou seja,

pode escolher entre fazer o certo, ou não. Se fizer o errado, acabará dominado pelo pecado, sem condições de se libertar, a não ser por intermédio de Cristo Jesus, como podemos observar nas Escrituras em diversas passagens (v.g., Gn.2:16,17; 4:6,7; Jo.8:31-36).  

– Somente quando o espírito está em comunhão com Deus, somente quando há um verdadeiro relacionamento entre Deus e o homem, podemos ter uma consciência sensível e obediente à voz do Senhor. Esta é a consciência sem ofensa (At.24:16) e a consciência pura (I Tm.3:9) de que fala o apóstolo Paulo.  

– A consciência, embora seja a capacidade que Deus deu ao homem para que distinga o certo do errado, ou seja, embora seja a capacidade que Deus deu ao homem para entender a lei de Deus, é uma faculdade do espírito humano e, por isso, não é uma partícula de Deus no homem, mas uma forma de o homem poder entender e discernir a vontade de Deus em sua existência, em seu ser.

Daí porque haver diversas qualificações da consciência na Bíblia Sagrada, algo que somente é possível porque a consciência é do homem e não de Deus.

Em sendo a consciência humana, é por isso que podemos falar em consciência fraca (I Co.8:7,12), em consciência má ou contaminada (Hb.10:22; Tt.1:15).

Como diz Russell Norman Champlin, a consciência é qualificada “…dependendo de como o espírito humano reage ao Espírito de Deus…” (Consciência. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.1, p.870).  

– Alguns veem uma outra função para o espírito, a função da comunhão. “…Comunhão é adorar a Deus.

Toda comunhão genuína com Deus é feita no nível do nosso espírito. Deus não é percebido pelos nossos pensamentos, sentimentos e intenções, pois Ele só pode ser conhecido diretamente em nosso espírito.

Aqueles que não conseguem perceber o seu próprio espírito, não conseguem também adorar a Deus em espírito.

É no nosso espírito que nos unimos ao Senhor e mantemos comunhão com Ele. Tudo o que Deus faz, Ele faz a partir do nosso espírito, sempre de dentro para fora.

Esta é uma maneira bem prática de sabermos o que vem de Deus e o que vem do diabo. O diabo sempre começa a agir de fora, pelo corpo, tentando atingir nossa alma. Deus, por sua vez, age de dentro para fora.…” (Ministério Profético Maanaim. ibid.).  

– Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus,

“…É por meio dele [do espírito, observação nossa] que se adora a Deus e que ele se torna também o centro da devoção a Deus [I Co.14:15] quando passa a ser morada do Espírito Santo:

‘O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus’ (Rm.8:16). Do espírito humana, provém o desejo de buscar as coisas espirituais [Tt.2:11]…” (Cap. VII.4, p.79).  

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/4830-licao-3-a-natureza-do-ser-humano-i

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