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LIÇÃO Nº 8 – SOBRIEDADE NA OBRA DE DEUS  

                       

A sobriedade e o equilíbrio são indispensáveis na vida cristã.

 INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do livro de Levítico, estudaremos a respeito da sobriedade na obra de Deus.

 – A sobriedade e o equilíbrio são indispensáveis na vida cristã.

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 I – O USO DA BEBIDA FORTE NA BÍBLIA SAGRADA

 – Na sequência do estudo do livro de Levítico, estudaremos a respeito da sobriedade na obra de Deus.

 – No livro de Levítico, vemos, logo após o episódio do fogo estranho diante do altar, uma determinação do Senhor a Arão no sentido de que os sacerdotes não poderiam beber nem vinho nem bebida forte quando entrassem na tenda da congregação (Lv.10:9), ou seja, jamais poderiam ingerir bebida alcoólica quando estivessem a oficiar.

 – A primeira menção que a Bíblia Sagrada faz a respeito da ingestão de álcool é em Gn.9:20,21, quando dá notícia de que Noé plantou uma vinha e, ao produzir o vinho, acabou por se embebedar, tendo-o feito por acidente, certamente, já que, diante das novas condições climáticas advindas após o dilúvio (Gn.8:22), não tinha tido conhecimento a respeito da fermentação do suco da uva.

 – Mesmo se tendo uma embriaguez acidental, o texto sagrado é claríssimo ao apontar que esta circunstância é extremamente danosa para a vida humana, pois, em virtude da embriaguez,

Noé acabou expondo a sua nudez no meio da sua casa, tendo seu filho Cão o visto nu, ocasião em que, então, avisou seus dois irmãos, tendo Sem e Jafé, sem contemplar a nudez do pai, coberto a nudez de seu pai (Gn.9:22,23).

Quando Noé despertou do seu vinho e soube o que acontecera, amaldiçoou seu neto Canaã, o primogênito de Cão (Gn.9:24,25).

– A narrativa deste episódio mostra-nos, de pronto, que o consumo de bebidas alcoólicas traz um sério prejuízo à vida familiar, visto que, em virtude da embriaguez de Noé, ocorreram diversos males.

 – O primeiro deles foi a insensatez de Noé. Noé, um homem que achara graça diante de Deus, o patriarca de toda a humanidade, em virtude da embriaguez, simplesmente ficou nu no meio de sua tenda, passou a agir sem qualquer razão, de forma desatinada e enlouquecida.

Ora, sabemos todos que a razão é um dos atributos essenciais do ser humano, a própria diferenciação dele em relação às demais criaturas terrenas.

 – O álcool faz com que o homem perca este norte que lhe foi concedido por Deus e, portanto, seja capaz de realizar atos impensados e totalmente inconsequentes, cujos efeitos são, muitas das vezes, irreversíveis.

 – O fato de Noé ter ficado nu demonstra que ele perdeu a razão, tendo, certamente, passado a ter uma conduta inconveniente.

A nudez, não nos esqueçamos, é símbolo da falta de Deus na vida, pois foi a primeira coisa percebida pelo primeiro casal após o pecado. A embriaguez, como se vê, é um fator que pode produzir um afastamento da presença de Deus.

 – O segundo mal provocado pela embriaguez de Noé foi a sua desonra. Noé foi visto nu pelo seu filho Cão que, de imediato, perdeu todo o respeito que tinha por seu pai, tendo ido contar o fato a seus dois irmãos.

Noé perdeu, assim, toda a sua dignidade, toda a sua autoridade perante o seu clã.

 – O uso do álcool faz com que as pessoas percam completamente a sua dignidade, o respeito perante os seus convivas.

Esta perda da dignidade leva o embriagado a um progressivo e irreversível desgaste, que o transforma em um elemento excluído do convívio social, num verdadeiro “trapo humano”.

 – O terceiro mal provocado pela embriaguez de Noé foi o dissenso familiar. Ao contar o episódio para seus irmãos, Cão foi desautorizado por eles que, sem a companhia dele, foram até onde estava Noé e sem vê-lo nu, cobriram a sua nudez.

Em seguida, com o despertamento do pai, acabaram, certamente, delatando o gesto desonroso de Cão e o resultado foi que Noé acabou por amaldiçoar o seu neto, o primogênito de Cão.

 – Por causa do álcool, uma família que havia sido abençoada por Deus, salva do dilúvio por servir ao Senhor, agora era local de dissensões, desacertos e maldições.

Canaã acabou amaldiçoado e isto gerou um distanciamento progressivo que fez com que os próprios cananeus, no futuro, fossem arqui-inimigos dos semitas, como se viu, por exemplo, na conquista de sua terra por Israel.

 – Na primeira menção a respeito do uso de bebidas alcoólicas, portanto, a Bíblia Sagrada já demonstra como é destruidora a embriaguez, algo que, portanto, deve ser evitado por aqueles que servem ao Senhor.

 – A segunda menção ao uso do álcool nas Escrituras é igualmente demonstradora de que isto não convém. As filhas de Ló embebedaram seu pai para que com ele pudessem manter relações sexuais a fim de garantir descendência à família (Gn.19:33-35).

 – Este caso de incesto só foi possível porque Ló, um homem justo (II Pe.2:7), embriagou-se e, assim, não pôde perceber o que fizera tanto numa noite quanto na seguinte.

– A embriaguez levou-o a ato inconsequente, à insensatez, à perda do pouco de virtude que ainda havia em sua família depois da destruição das cidades da planície.

Deste ato não se fala mais da vida de Ló nas Escrituras, um silêncio eloquente, que mostra que, a partir de então, esta descendência se perdeu em termos espirituais, dando nascimento a dois povos que seriam conhecidos por sua idolatria e antagonismo ao Senhor. Mais uma família que se destruía por conta do uso do álcool.

 – Quando da entrega da lei para o povo de Israel, o Senhor determinou expressamente a Arão e a seus filhos que eles deveriam se absterem de beberem vinho ou bebida forte quando entrassem na tenda da congregação, para que não viessem a morrer (Lv.10:9).

Os sacerdotes, no serviço ao Senhor, não poderiam fazer uso do vinho, para que não correm o risco de se embriagarem e, embriagados, participarem do serviço religioso.

 – Como se isto fosse pouco, quando foi estatuída a lei do nazireado, foi determinado que o nazireu deveria se apartar do vinho e da bebida forte e de qualquer bebida advinda da uva, inclusive o vinagre (Nm.6:3,4), em mais uma indicação que a separação ao Senhor exigia a abstenção do uso do álcool.

 – A mesma lei de Moisés, ao caracterizar o “filho contumaz e rebelde”, que deveria ser morto pelos israelitas por sua rebeldia contra seus pais, é chamado de “um comilão e beberrão” (Dt.21:20), sendo, pois, a alcoolatria uma das principais características daquele que, por sua extrema desonra, merece ser extirpado do convívio do povo de Deus.

– Como se pode perceber, portanto, a Bíblia Sagrada vê como comportamento reprovável e que somente causa prejuízos ao homem o uso de bebidas alcoólicas, dizendo ser absolutamente prejudicial a embriaguez e recomendando, vivamente, que haja a completa abstenção para que se agrade ao Senhor.

 – A primeira palavra hebraica traduzida por “vinho” é “yayin”( )ייו , “…um termo genérico usado 141 vezes no AT para indicar vários tipos de vinho fermentado ou não-fermentado (ver Ne.5:18, que fala de ‘todo o vinho [yayin]’ = todos os tipos)…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. O vinho nos tempos do Antigo Testamento, p.241).

 – A segunda palavra hebraica traduzida por “vinho” é “tirosh” ( )תרש , “…que significa ‘vinho novo’ ou ‘vinho da vindima’. Tirosh ocorre 38 vezes no AT; nunca se refere à bebida fermentada, mas sempre ao produto não-fermentado da videira, tal como o usco ainda no cacho de uvas (Is.65:8), ou o suco doce de uvas recém-colhidas 9Dt.11:14; Pv.3:10; Jl.2:24)…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. ibd.).

 – A terceira palavra hebraica traduzida por “vinho” é “shekar” ( )שכר , geralmente traduzida por “bebida forte” (I Sm.1:15; Nm.6:3). “…Certos estudiosos dizem que shekar, mais comumente, refere-se a bebida fermentada, talvez feita do suco de fruto de palmeira, de romã, de maçã, ou de tâmara(…).

Shekar relacionae com shakar, um verbo hebraico que pode significar ‘beber à vontade’, além de ‘embriagar’. Na maioria dos casos, saiba-se que quando yayin e shekar aparecem juntos, formam uma única figura de linguagem que se refere às bebidas embriagantes.…” (BIBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, ibid.).

 – Notamos, portanto, que o texto sagrado faz uma diferenciação entre o vinho fermentado e aquele que não o foi ainda, visto que se costumava chamar de “vinho” ao suco de uva. No Talmude, o segundo livro sagrado do judaísmo, o suco da uva antes da fermentação é chamado de “vinho de tonel”.

OBS: Eis o trecho do Tratado Sanhedrin, 70a, do Talmude que chama o suco de uva de vinho: “Rabbah e R. José disseram:

Se ele come carne em conserva ou bebe ‘vinho do tonel’ [i.e.,vinho novo antes da fermentação], então ele não se torna um filho contumaz e rebelde…” (tradução nossa de texto original em inglês disponível em: http://www.come-and-hear.com/sanhedrin/sanhedrin_70.html Acesso em 16 out. 2013).

 – Tanto assim é que, na discussão a respeito da caracterização de alguém como “filho contumaz e rebelde” e, portanto passível de morte, os doutores da lei não consideravam que assim fosse considerado quem tomasse “vinho de tonel” e, mesmo, o “vinho novo”, aquele que estivesse no “primeiro estágio da fermentação”, ou seja, três dias depois de ter sido colhido.

OBS: Reproduzimos aqui o texto do Talmude a respeito, ainda Sanhedrin 70a: “ Aprendemos em outro lugar que: Na véspera do dia nove de Abib, não podemos participar de duas maldições, nem comer carne nem beber vinho.

E um mestre ensinou: Mas se pode comer carne em conserva e beber vinho novo.(…) E durante quanto tempo é o vinho chamado de ‘vinho novo’?

– Enquanto ele estiver em seu primeiro estágio de fermentação; e tem sido ensinado: vinho no primeiro estágio de fermentação não entra na proibição contra o líquido descoberto e quanto dura este primeiro estágio? Três dias(…) o vinho não tem atração alguma até a idade de quarenta dias…” (tradução nossa de texto original em inglês já citado supra).

 – Por tudo isso, devemos verificar que, diante desta diferenciação, não se pode confundir o fato de vermos pessoas tementes a Deus bebendo vinho ao longo da narrativa bíblica e daí deduzirmos que o beber vinho é lícito e que o que se deve evitar apenas é a embriaguez, ou seja, o uso excessivo da bebida alcoólica, como entendem muitos estudiosos das Escrituras.

OBS: Esta divisão dos estudiosos entre os que recomendam a total abstenção do álcool e os que defendem apenas a moderação já era presente entre os próprios judeus, como nos dá conta Nathan Ausubel:

“…A história dos judeus revela que eles nunca foram abstêmios; numa foram também bêbedos contumazes.

No judaísmo rabino, o Preceito Áureo era sempre observado como ideal para a orientação dos apetites sensoriais.

É verdade que sempre houve ascetas entre os judeus — os antigos naziritas por exemplo — que encaravam o prazer, e em especial a bebida, como uma tentação de Satã.

Na literatura rabínica, encontram-se muito frequentemente ditos populares que depreciam a bebida: ‘O vinho traz a lamentação para o mundo’. ‘O vinho termina em sangue’. ‘A árvore proibida de que Adão comeu o fruto era uma videira, pois nada faz tanto mal ao homem quanto o vinho’.

Contudo, a bebida com moderação era mais recomendada do que a abstenção pelos Sábios Talmúdicos.

Não só toleravam um pouco de bebida; eles, na verdade, encorajavam-na. ‘Não há alegria sem vinho’. “o principal remédio sou eu, o Vinho’.

Os mestres rabínicos reprovavam, porém, o beberrão. ‘A oração do bêbedo é uma abominação’, era uma opinião rabínica.…” (Embriaguez. In: A JUDAICA, v.5, p.258).

 – Na verdade, há uma distinção entre o vinho fermentado e o vinho não-fermentado, que costumamos chamar, atualmente, de “suco de uva”.

Embora ambos tenham sido traduzidos por “vinho” em nosso vernáculo, havia, sim, uma diferenciação entre ambos os tipos de bebida, bem como é presente, nitidamente, no texto bíblico, uma aversão pelo consumo do vinho fermentado, um dos tipos de “bebida forte”, precisamente porque ele torna possível a embriaguez, o que não ocorre com o suco de uva ou o chamado “vinho novo”.

 – No livro de Provérbios, que muito trata deste tema, existe uma verdadeira “reflexão sobre o vinho”, em Pv.23:29-35.

 – Este texto pertence aos “ensinos dos sábios”, ou seja, são textos alheios recolhidos por Salomão e que foram por ele reunidos e juntados, como complemento, no que foi a parte original do livro de Provérbios, a forma que obteve no reinado do último soberano do período da monarquia unida.

 – Temos aqui o que o comentarista da Bíblia de Estudo Pentecostal denominou de “… o primeiro mandamento claro e preciso, na revelação progressiva de Deus, que proíbe o Seu povo de beber vinho fermentado. Deus nos instrui aqui concernente às bebidas alcoólicas e da sua influência degradante…” (com. Pv.23:29-25, p.954).

 – No início de sua reflexão, este sábio diz que a recompensa, o galardão daquele que faz uso do álcool outro não é senão “ais, pesares, pelejas, queixas, feridas sem causa e olhos vermelhos” (Pv.23:29).

 – Aquele que “se mora perto do vinho”, que “anda buscando bebida misturada” está somente à procura destes elementos, que não trazem qualquer vantagem a quem quer que seja.

Quem é que quer ter na vida ais, pesares, pelejas, queixas, feridas sem causa e olhos vermelhos? À evidência que ninguém! Entretanto, é somente isto que se conseguirá quando se correr atrás da bebida forte.

 – Fomos chamados para ser bem-aventurados, para alcançarmos a felicidade, a satisfação, não só neste mundo como no mundo vindouro, mas o uso da bebida forte nos privará de tudo isto. Teremos apenas ais, ou seja, situações aflitivas, julgamentos, punições.

Teremos apenas pesares, ou seja, lamentos, remorsos por situações que poderíamos ter evitado mas que o uso do álcool provocou e circunstâncias que, na imensa maioria das vezes, são irreversíveis.

 – Quem faz uso da bebida forte somente amealhará queixas, murmurações, atitude que, sabemos todos, é abominável ao Senhor e que é característica de quem não tem fé e que leva à perda da vida eterna, como é exemplo a geração israelita do êxodo, que não entrou na Terra Prometida.

 – Mas, quem faz uso da bebida forte também acaba adquirindo feridas sem causa. Assim como o espinho na mão, a inconsciência, a falta de discernimento e de razão trazidos pelo uso do álcool faz com que sejam geradas feridas, traumas, tanto físicos e psíquicos, que não foram causados diretamente pela vontade do ébrio, mas que resultaram de sua embriaguez, de sua dependência.

Feridas que deverão ser levadas pelo resto da vida, produzindo dores, frustrações e imenso sofrimento.

OBS: A propósito, o Código Penal considera absolutamente irrelevante a embriaguez do agente para a responsabilização criminal de alguém, como se verifica do artigo 28, inciso II daquele diploma legal.

 – Por fim, o que faz uso da bebida forte terá “olhos vermelhos”, ou seja, não terá como esconder dos demais homens a sua condição, o que resultará em contínuo e progressivo isolamento, desrespeito e desconsideração por parte do próximo, o que, para um ser social como o homem é praticamente uma sentença de morte.

 – Neste ponto, temos aqui a aplicação de uma interpretação do sábio talmúdico Rabbah (270-330), que, ao analisar Pv.31:6, afirmou que a Bíblia escreve “ e bebida forte” e “yeshammah” [coração do homem], mas é lido “yesammah”, ou seja, “um lugar desolador”.

Aqui, também, temos as diferentes consequências da opção que se fizer pelo uso, ou não, da bebida forte.

Se se atender à sabedoria, abstendo-se da bebida forte, isto trará à pessoa alegria; caso contrário, a decisão tomada somente lhe trará tristezas, que são todos os efeitos mencionados pelo sábio como “galardão do vinho”.

OBS: Eis o trecho mencionado do Talmude (Sanhedrin 70a): “…Raba levantou uma dificuldade: A Bíblia escreve “e bebida forte”  “yeshammah” [o coração do homem], mas é lido ‘yesammah’ — Se alguém tem mérito, isto o alegra; se não, isto o entristece. E então Raba disse: o vinho e os temperos têm me feito sábio”.

 – Em virtude destas consequências tão funestas para o homem, o proverbista dá o conselho para que não se olhe o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente (Pv.23:31).

Está-se a falar do vinho fermentado, pois  “…a frase ‘ quando resplandece no copo’, diz literalmente ‘ quando  [o vinho] dá olho no copo’.

Trata-se de bolhas de dióxido de carbono produzidas pela fermentação, ou à aparência borbulhante do vinho fermentado.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, com. Pv.23:31, p.954). 

 – Aqui, como afirma o comentarista da Bíblia de Estudo Pentecostal, “…este versículo adverte sobre o perigo do vinho uma vez fermentado.(…).

 Fermentação é o processo pelo qual o açúcar do suco de uva converte-se em álcool e em dióxido de carbono (…) ra’ah [olhar, observação nossa] é também empregado no sentido de ‘escolher’, o que sugere que não devemos olhar com desejo para o vinho fermentado.

Deus instrui Seu povo a nem sequer pensar em beber vinho fermentado; nada se diz nesta passagem sobre beber vinho com moderação…” (com. Pv.23:31, p.954).

 – O vinho fermentado, embora seja agradável à vista e se apresente como apetitoso, “no seu fim morderá como a cobra e, como o basilisco, picará” (Pv.23:32).

Impossível aqui deixar de fazer a comparação com que o proverbista fala a respeito da “mulher estranha”, que, também, é de aparência agradável, mas que, também, a exemplo do vinho fermentado, produz morte e miséria a quem dela se aproxima (Pv.5:3,4).

OBS: “…Deus proíbe Seu povo de contemplar o vinho quando vermelho, pois o vinho fermentado destrói a pessoa, qual serpente e, como víbora, ele a envenena.

Os efeitos do álcool são demoníacos e destruidores, incluem olhos avermelhados, visão turva, mente confusa e palavras perversas e enganosas…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, com. Pv.23:32, p.954).

 – O vinho fermentado, inclusive, é um fator que incentiva a busca da mulher estranha e que estimula a prática de perversidades (Pv.23:33), sendo, pois, um catalisador que nos encaminha para a perdição.

 – Esta aparência do “vinho vermelho” é absolutamente enganosa, pois, como diz Rabi Isaac, outro sábio talmúdico, ao comentar Pv.23:31, “o vinho avermelha a face do ímpio neste mundo, mas o deixa pálido de vergonha na eternidade”. Raba também disse que o vinho conduz para o derramamento de sangue, sendo este o verdadeiro sentido da vermelhidão do vinho.

OBS: Eis o trecho do Talmude (Sanhedrin 70a): “…Rabi Isaac disse: qual o significado de ‘Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho’?

— Não olhes para o vinho, que ruboriza a face dos ímpios neste mundo e os faz pálidos (com vergonha] no mundo vindouro. Raba disse: Não olhes para o vinho ‘ki yith’addam’: não olhes para ele, pois ele conduz ao derramamento de sangue [dam]…” (tradução nossa de texto original em inglês já mencionado supra).

 – Ingressando na carnalidade e na prática de pecados, aquele que faz uso da bebida forte será “como o que dorme no meio do mar, e como o que dorme no topo do mastro” (Pv.23:34), ou seja, viverá “perigosamente”, em constante risco de perdição eterna, à mercê da morte a cada momento, a cada instante, sem ter sequer consciência do grande risco que estará a correr na sua peregrinação terrena.

 – O uso da bebida forte faz com que o seu usuário se torne absolutamente negligente com relação à sua própria existência, tenha reduzida tanta a sua autoestima, que não terá como reagir às trágicas situações em que se envolverá a cada momento, a cada instante.

Não passará de um “trapo humano”, que dependerá de muito esforço e força de vontade para superação.

 – A embriaguez não gera apenas delírios e alucinações psíquicas, mas um torpor que se espraia para o lado espiritual, criando uma grandíssima dificuldade de restauração por parte daquele que sofre a dependência. É, como se vê, uma potentíssima arma maligna para levar os homens a uma quase que irreversível ida para a perdição eterna.

– Tanto assim é que o proverbista termina esta sua reflexão demonstrando toda esta impotência causada pela dependência, pelo vício, pois o ébrio apenas diz: “espancaram-me, e não me doeu; bateramme, e não o senti; quando virei a despertar? Ainda tornarei a buscá-la outra vez” (Pv.23:35).

 – Num gesto da mais absoluta insensatez, o ébrio admite que está a sofrer, que não tem sequer consciência deste sofrimento, que se encontra já sem sentimentos, sem autoestima, sem o mínimo de dignidade, mas, ainda assim, não vê a hora de beber novamente. Não é, porventura, a situação em que se encontram milhões e milhões de quimiodependentes em nosso mundo atualmente?

 – Como afirma o comentarista da Bíblia de Estudo Pentecostal, “…este trecho descreve os efeitos da dependência do vinho fermentado.

Frequentemente, aquele que bebe, quer beber sempre mais, até perder seu autocontrole. É por isso que a Palavra de Deus diz: ‘Não olhes para o vinho’.

O crente não deve beber nenhum bebida embriagante. Esta ordem é atual e válida para o povo de Deus hoje” (com. Pv.23:35, p.955).

 II – A TIPOLOGIA DA SOBRIEDADE

 – Diante de tudo o que analisamos a respeito do tratamento que as Escrituras dão ao vinho e à bebida forte, podemos bem entender porque era de todo desarrazoada a simples ingestão deste tipo de bebida por parte dos sacerdotes durante o seu ofício sacerdotal.

 – Como estavam diante do Senhor, os sacerdotes oficiantes não poderiam, de forma alguma, estarem sob o efeito do álcool, pois deveriam estar completamente centrados e focados no serviço do Senhor, apresentar-se sóbrios e equilibrados, a fim de estarem plenamente envolvidos neste tão importante ofício.

 – Isto nos faz, de pronto, lembrar que o culto a nós exigido é o “culto racional” (Rm.12:1), ou seja, um culto dotado de razão, de equilíbrio, de entendimento, o que exclui toda e qualquer influência alheia, como a provocada pelo álcool.

 – Lembremos que Noé, num instante de gratidão a Deus pela colheita, pelo reinício da vida sobre a face da Terra, por causa do álcool, transformou tudo em escândalo.

 – O sacerdote não poderia dar qualquer motivo para que houvesse escândalo, para que se prejudicasse de algum modo a vida espiritual dos israelitas e a sua própria e, como vimos, a ingestão do vinho e da bebida forte tem um forte potencial de gerar pesares, queixas e males, que devem ser de todo evitados.

 – Todos somos sacerdotes reais na Igreja do Senhor, e, portanto, é mister que nos apresentemos diante de Deus com sobriedade, equilíbrio, sem deixar que as “coisas desta vida terrena”, simbolizadas pelo vinho, que vem da terra e que é fruto de uma ação humana, venham a “subir a nossa cabeça”, venham a perturbar o nosso ofício sacerdotal.

 – Em vez de nos “embriagarmos com o vinho”, devemos nos encher do Espírito Santo (Ef.5:18) e a “embriaguez com o vinho” aqui significa tudo que é terreno, tudo que é passageiro, tudo que é temporário, tudo que é carnal e que pode nos prejudicar em nosso relacionamento com o Senhor, até porque, segundo o apóstolo, esta embriaguez se dá na  contenda e a contenda é uma obra da carne (Gl.5:20,21).

 – Em nosso ofício sacerdotal, temos de nos despir de tudo quanto está relacionado com a carne. Não podemos ser insensatos, mas temos de ter o entendimento da vontade do Senhor (Ef.5:17) e isto só se torna possível se tivermos comunhão com Deus, se nos separarmos do pecado e nos separarmos para o Senhor.

 – Veja-se que importante paralelo temos entre o culto levítico e o sacerdócio real da dispensação da graça.

Arão, ao ser consagrado, foi  ungido com azeite (Lv.8:12), assim como tudo o que foi separado para o culto divino (Lv.8:10).

Tendo o azeite, não poderia Arão ingerir vinho. Na atual dispensação, como vimos, devemos nos encher do Espírito Santo e não nos embriagar com o vinho (Ef.5:18), ou seja, temos de deixar as coisas terrenas e nos envolver com as coisas celestiais.

A abstinência do vinho só tem sentido se for acompanhada da unção do Espírito Santo.

 – A sobriedade, portanto, nada mais é que a plenitude do Espírito Santo, que o pleno domínio do Espírito de Deus sobre as nossas vidas.

A sobriedade é o entendimento das coisas espirituais, é passarmos a ser guiados e dirigidos pelo Espírito Santo, termos a compreensão da vontade do Senhor, experimentá-la (Rm.12:2,3), ter a devida “sensibilidade espiritual”.

 – O vinho representa, portanto, o modo de viver próprio do homem no estado de pecado, a maneira de viver que, por tradição, recebemos de nossos pais (I Pe.1:18), que são os  nos transmitem a natureza pecaminosa (Gn.5:3; Sl.51:5; Rm.5:18).. 

 – Se nos deixarmos envolver pelo vinho, certamente tomaremos a forma do mundo, seremos “conformados com o mundo”, não podendo nos apresentar diante do Senhor, já que nossos corpos passarão a ser instrumentos de iniquidade e não instrumentos de justiça.

 – No entanto, quando cremos em Jesus Cristo, quando nascemos de novo, como novas criaturas, geradas pela semente incorruptível da Palavra de Deus (I Pe.1:23), passamos a ser morada do Espírito Santo (Jo.14:17) e, em virtude disto, a ser guiados e dirigidos por Ele (Jo.16:13), passando a andar na verdade e, mortos para o mundo, a apresentar os nossos corpos como instrumento de justiça (Rm.6:4-23).

 – Por isso mesmo, libertos do poder do pecado, santificados, podemos, de forma sóbria, oferecer o nosso culto racional, o sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, podendo, então, reconhecer efetivamente e experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm.12:6), cumprindo-a e, assim, nos credenciando para a vida eterna (I Jo.2:17).

 – No entanto, não são poucos os que, nos dias hodiernos, estão se deixando embriagar pelo vinho e, com isto, não estamos a dizer de sedizentes cristãos que têm feito uso de bebida alcoólica, mas, sim, daqueles que têm recorrido à forma do mundo para servirem a Deus.

 – Não podemos nos esquecer que a palavra de Deus a Arão, que, aliás, é a única vez em que Deus Se dirige exclusivamente a Arão em todo o livro de Levítico, foi dada no contexto do episódio do fogo estranho, em que morreram Nadabe e Abiú.

Ora, se assim é, a ordem de sobriedade está essencialmente vinculada à obediência ao Senhor, como também à impossibilidade de nos valermos de coisas deste mundo para adorarmos e agradarmos a Deus.

 – A sobriedade significa a completa separação entre o profano, o secular e o que é sagrado, o que é santo. Não usar do vinho e da bebida forte significava não se utilizar de coisas humanas, de coisas terrenas para tentar agradar ao Senhor.

 – Tanto assim é que a palavra divina ao primeiro sumo sacerdote da ordem levítica termina precisamente com a imposição do dever aos sacerdotes de fazer distinção entre o sagrado e o profano.

 – Nos dias hodiernos, todavia, não são poucos os que procuram se valer do que é humano, do que é terreno para servir a Deus, o que é algo extremamente grave, visto que isto é desconsiderar o itinerário divino, que somente o Senhor pode determinar, nesta busca da própria divindade, que é a nossa vida de adoração, que é a nossa vida espiritual.

 – O apóstolo Paulo diz que o homem natural não pode discernir as coisas espirituais, pois só quem tem o Espírito de Deus pode conhecer o que nos é dado gratuitamente pelo Senhor (I Co.2:12-16).

 – A sabedoria humana é incapaz de nos levar até Deus, pois ela não vem do alto e é terrena, animal e diabólica, que está impregnada de inveja e espírito faccioso, onde há perturbação e toda obra perversa (Tg.3:15,16), residindo nisto, aliás, a tipologia do vinho e da bebida forte que, como já vimos supra, é um comportamento que gera sempre mazelas, que nada mais são que perturbações e obras perversas.

 – No entanto, para servirmos a Deus, temos de estar imbuídos da sabedoria divina, que vem do alto, que é primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia (Tg.3:17), sabedoria que, apesar de ter origem divina, está à nossa disposição, pois o Senhor promete dá-la liberalmente sem lançar em rosto a qualquer que pedi-la (Tg.1:5).

 – Para se obter a sabedoria divina, portanto, torna-se imperioso que se tenha comunhão com Deus, pois só que é temente ao Senhor pode pedir e ser ouvido por Ele (Jo.9:31), até porque o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Sl.111:10; Pv.9:10).

 – Não se pode servir sem que se tenha a mente de Cristo (I Co.2:16) e esta mente exige discernimento espiritual e somente o teremos se tivermos o novo nascimento e se passarmos a viver segundo a direção e orientação do Espírito Santo.

 – Lamentavelmente, muitos, na atualidade, estão recorrendo à sabedoria humana para servir a Deus, como, por exemplo, nas conhecidas “estratégias” ou “métodos de crescimento de igrejas”, onde se entendem que conceitos e caminhos gerados na mente humana são suficientes para que se tenha o crescimento quantitativo e qualitativo da Igreja,

como se isto fosse resultado da inteligência humana, quando, na verdade, se trata de algo sobrenatural, espiritual, que é ditado pelo Espírito Santo.

 – Quando vemos a história da igreja primitiva, em o Novo Testamento, fica cristalino que o estrondoso crescimento da Igreja não se deveu a qualquer estratégia humana ou a habilidades dos apóstolos, presbíteros ou quaisquer outros cristãos, mas, sim, pela ação do Espírito Santo, pelo fato de os crentes terem se deixado dirigir pelo Espírito Santo.

Como diz At.9:1, “as igrejas em toda a Judeia, e Galileia e Samaria tinham paz e eram edificadas, e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo”. 

 – O que promovia o crescimento da igreja entre os judeus era, portanto, o andar no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo, não qualquer técnica criada por alguém, não uma estratégia de comunicação ou, diríamos hoje em dia, de marketing.

 – Outro ponto em que vemos faltar a sobriedade na obra de Deus, na atualidade, diz respeito à busca de uma mensagem que seja agradável aos ouvidos do povo, a fim de impedir a evasão e fomentar o aumento da membresia.

Evita-se falar do pecado, procuram-se discursos de autoajuda e de criação de circunstâncias afetas ao emocionalismo e ao sentimentalismo, onde se diz o que se quer ouvir, não raras vezes com evidentes interesses econômico-financeiros.

 – É se utilizar do vinho e da bebida forte, de discursos humanos, da sabedoria humana, deixando-se de lado a direção do Espírito Santo, pois, quando somos guiados pelo Santo Espírito, estaremos sempre a falar a verdade, a Palavra de Deus (Jo.17:17), pois o Espírito Santo jamais Se desprende das Escrituras, pois tem como missão nos lembrar tudo quanto Jesus falou e o que Jesus falou está devidamente testificado na Bíblia Sagrada (Jo.5:39; 16:13-15). 

– Devemos agir como Paulo, que dizia pregar a Cristo, e Este crucificado (I Co.2:2) e, em tal pregação, não usou de palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder para que a fé dos salvos não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus (I Co.2:4,5). 

 – Para servirmos a Deus, temos de demonstrar o Espírito e o poder de Deus em nossas vidas, ou seja, temos de estar cheios do Espírito Santo e, para tanto, temos de ser sóbrios, pois só se enche do Espírito quem não se embriaga com vinho.

– Por fim, também há demonstração de falta de sobriedade na obra do Senhor quando se utiliza o serviço ao Senhor não como fim em si mesmo, mas, sim, como um meio a alcançar outros objetivos. 

 – O vinho, também, simboliza a alegria, e, por vezes, a alegria terrena, a alegria que depende das circunstâncias em que se encontram as pessoas e que, como tudo que existe neste mundo, é passageiro e temporário (I Jo.2:18), algo que é, espiritualmente, vazio (Ec.2:1-3).

 – O vinho, assim, representa a busca da satisfação em coisas deste mundo. Ora, para o servo de Deus, a alegria do Senhor é a nossa força (Ne.8:10), temos de estar satisfeitos com Cristo, única e exclusivamente com Ele, devendo ser ele o nosso alvo. Não se pode admitir que outra coisa seja buscada pelo adorador, pelo servo do Senhor que não o próprio Senhor.

 – No entanto, muitos têm se servido da obra de Deus, do serviço ao Senhor como meio para obterem outros fins, onde buscam a sua satisfação, como as riquezas, a fama e, até mesmo, poder político.

Têm a sua posição sacerdotal como simples instrumento para chegarem ao que realmente almejam, a querer embriagarse com o vinho.

 – Quando Senhor disse a Arão que os sacerdotes não podiam usar o vinho nem a bebida forte, estava a dizer que deveriam buscar a alegria no próprio, na adoração e isto tanto é evidente que os sacerdotes eram impedidos de obter seja a constituição de um patrimônio, seja o exercício do poder político.

 – Diante disto, quando muitos estão a buscar o Senhor Jesus para se enriquecer materialmente, como ensina a falsa teologia da prosperidade, ou a se utilizar do Evangelho para terem posição social, poder político, fama e influência na sociedade, estão, realmente, a se embriagar com o vinho e a se esvaziar de Deus, a deixar de lado o azeite da unção para se locupletarem com as coisas desta vida.

 – A busca de tesouros nesta terra é a constatação de que o coração da pessoa não se encontra nos céus e, sim, neste mundo (Mt.6:19-21). Quando o coração não está nos céus, quando se tem um coração terreno, temos um coração que é fonte de toda a sorte de pecados, um coração insensível espiritualmente falando (Mt.15:18-20; Ez.11:19; 36:36).

 – Muitos se estão servindo da sua condição de cristãos (notadamente, as lideranças) para, a partir de tal papel, amealharem vantagens materiais, enriquecerem, tornarem-se famosos e passarem a ter uma vida regalada na qualidade de celebridades, seja do mundo artístico, seja, mesmo, do mundo político, o que é, sem dúvida alguma, uma embriaguez que contraria totalmente o propósito divino para os Seus servos, que foi dito pessoalmente por Deus a Arão.

 – Que Deus nos guarde de assim procedermos, a fim de que mantenhamos a sobriedade, pois, como sacerdotes reais, devemos sempre estar em condição de oferecer ao Senhor o sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, o nosso culto racional, o culto sóbrio sem a embriaguez do vinho, sem qualquer comprometimento com as coisas desta vida.

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/2653-licao-8-sobriedade-na-obra-de-deus-i

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