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LIÇÃO Nº 10 – A SUTILEZA CONTRA A PRÁTICA DA MORDOMIA CRISTÃ

INTRODUÇÃO

– Satanás tenta impedir que sirvamos a Deus.

– Somos mordomos do Senhor em todos os aspectos de nossa vida.

I – A MORDOMIA CRISTÃ

– “Mordomia” é uma palavra de origem latina que significa “o ofício do mordomo”.

– “Mordomo”, por sua vez, vem do latim “majordomu”, que significa “o criado maior da casa”, o administrador dos bens de uma casa, de uma irmandade, de uma confraria, o serviçal encarregado da administração de uma casa, o administrador de uma casa ou de um estabelecimento por conta de outrem. O homem foi colocado por Deus, na Terra, como o responsável pela sua administração (Gn.1:27).

– A doutrina da mordomia cristã, portanto, nada mais é que o estudo desta posição do homem frente a Deus e ao mundo em que ele habita e como deve ser o comportamento humano diante disto.

– Como bem definiu o Pr. Eber S. Jamil, mordomia “é o reconhecimento da soberania de Deus, a aceitação do nosso cargo de depositários da vida e das possessões, e administração das mesmas de acordo com a vontade de Deus”(Mordomia cristã. Disponível em: https://www.estudosgospel.com.br/estudo-biblico-evangelico-diversos/mordomia-crista.html Acesso em 13 maio 2019).

Por isso mesmo, como bem afirmou o pastor Alexandre Coelho, atual diretor de Publicações da CPAD: ” …a doutrina da mordomia traz-nos a ideia de que há um Senhor, um servo desse Senhor e entre eles um relacionamento.…”(Subsídios para
Mordomia Cristã. Ensinador Cristão, ano 4, nº 16, p.36).

– Mordomo é um administrador de algo alheio, ou seja, é uma pessoa que foi posta para governar bens que não são seus e que, portanto, deverá prestar contas destes bens ao seu legítimo proprietário.

É alguém que está à frente de um patrimônio, de um conjunto de bens, que está encarregado de realizar tarefas para que este patrimônio seja conservado, seja mantido, seja melhorado, mas que, em virtude de ser um simples administrador, não tem domínio, senhorio sobre este mesmo patrimônio.

Temos um bom exemplo de mordomo na Bíblia quando verificamos José na casa de Potifar. Ali, José tinha à sua disposição todos os bens de seu senhor (Gn.39:3-6), mas nada daquilo era seu. Esta é a posição do mordomo.

– Quando falamos, portanto, de mordomia, estamos falando desta posição de administrador, de encarregado, de responsável pela gerência de bens alheios.

É preciso termos isto em mente pois, particularmente entre os brasileiros, a palavra “mordomia” acabou ganhando um outro significado.

Como o administrador, o mordomo tem uma posição de superioridade, tem uma posição de mando em relação a outros servos, naturalmente que, ao longo da história da humanidade, tivesse direito a certas vantagens e benefícios.

– Assim, por exemplo, é comum, na área rural, que o administrador de fazendas (que é um mordomo) tenha uma casa diferente e melhor da dos outros empregados.

Por isso, estas vantagens que se dão a tais administradores, por causa de sua posição, passaram a ser chamadas de “mordomias” e, por isso, a palavra passou a ter como significado “vantagens, benefícios”, mas não é este o significado próprio da palavra “mordomia”.

II – A BASE BÍBLICA DA DOUTRINA DA MORDOMIA

– A Bíblia Sagrada, ao narrar a própria criação do mundo, já nos dá os parâmetros a respeito da doutrina da mordomia cristã.

As Escrituras demonstram, em primeiro lugar, que o mundo foi criado pelo próprio Deus. Esta é a primeira afirmativa bíblica: “No princípio criou Deus os céus e a terra”(Gn.1:1).

Assim fazendo, as Escrituras deixam bem claro que todo o universo pertence a Deus, já que foi Deus quem o criou.

– Tendo criado o mundo, portanto, Deus tem, por direito de criação, o senhorio, o domínio sobre todo o universo (Sl.24:1).

Esta é a primeira ideia que temos de ter ao analisarmos a doutrina da mordomia cristã, a de que Deus é o Senhor de todas as coisas, inclusive dos seres criados, o que inclui o homem.

– A segunda ideia que temos é de que o homem é o ser superior entre todas as criaturas terrenas. A Bíblia é clara ao afirmar que Deus, ao criar o homem, fê-lo de modo especial.

Enquanto as demais criaturas foram feitas pelo poder da Sua Palavra (Gn.1:11,20-25), ao criar o homem, Deus fez de modo diverso, revelando um cuidado diferente em relação aos demais seres.

A Bíblia afirma-nos que Deus formou o homem do pó da terra e soprou em seus narizes (Gn.2:7), bem como que dotou o homem da imagem e semelhança de Deus (Gn.1:27,28), expressões bíblicas que devem ser compreendidas como reveladoras da diferença do homem com relação aos demais seres.

– Ao dizer que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, a Bíblia mostra-nos que o homem, ao contrário de todos os demais seres terrestres, seria o único que seria dotado de caráter, ou seja, capacidade de discernir o que é certo ou o que é errado, bem assim a estrutura tricotômica (corpo-alma-espírito), estrutura que é semelhante e nos faz lembrar da triunidade divina.

– Ao criar o homem, Deus disse que ele “dominaria sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre o gado, sobre toda a terra e sobre todo réptil que se move sobre a terra”(Gn.1:27), ou seja, seria o homem o ser superior entre as criaturas na Terra.

Dizemos na Terra, porque assim afirmou o Senhor, ao afirmar que o homem (homem e mulher) teria de sujeitar a terra (Gn.1:28).

Tal expressão bíblica mostra-nos que o homem é inferior aos seres celestiais, como nos dá conta o próprio salmista no Sl.8:5, que, neste ponto, foi confirmado pelo próprio Jesus que, ao falar sobre João Batista, ao considerá-lo o maior de todos os homens, fez questão de relembrar que o menor no reino dos céus, ou seja, a mais inferior das criaturas celestiais, era superior ao maior de todos os homens (Mt.11:11).

– Assim, ao lado da ideia de que Deus é o Senhor de todas as coisas, é o Criador e, como tal, o único que tem o domínio e a soberania sobre tudo, temos, também, a ideia escriturística de que o homem é a mais superior de todas as criaturas terrenas.

– Diante desta circunstância, vemos, portanto, que a posição que a Bíblia dá ao homem na ordem universal, mais precisamente na Terra, é a de mordomo, ou seja, daquele servo superior que está encarregado da administração, daquele que é responsável pela manutenção da casa e das regras estabelecidas pelo seu dono.

– Esta doutrina bíblica é, portanto, muito importante, porquanto nos permite observar que a Terra foi dotada de uma certa ordem, de uma certa organização, que foi estabelecida por Deus e que cumpre ao homem, como sua tarefa primordial, fazer com que esta norma, esta ordem seja preservada.

O homem só atinge o propósito divino para a sua existência quando vive para isto, ou seja, para que os mandamentos do Senhor sejam observados, para que o nome de Deus seja glorificado através da realização dos Seus propósitos neste mundo.

– Ora, é precisamente neste ponto que observamos como se faz necessário sabermos o devido lugar do homem na ordem criada por Deus, uma vez que é a partir da distorção deste princípio que vemos a atuação do adversário do homem e todas as nefastas consequências com o ingresso do pecado através do primeiro casal na humanidade.

Foi, precisamente, porque foi convencido pelo inimigo de que poderia assumir uma outra posição em relação ao “cosmos”(ou seja, a ordem do universo), que o primeiro casal desobedeceu a Deus e acabou por pecar.

– Quando o homem perde a noção de que é um mero administrador das dádivas divinas resultantes da sua criação, torna-se um rebelde e desobediente e busca os seus próprios interesses, desviando-se do propósito divino e este desvio, esta distorção, esta tortuosidade nada mais é do que o pecado (palavra que, em grego, é “hamarthia”, que indica exatamente isto, tortuosidade, desvio de alvo, desvio de rota).

– Estudar a mordomia, portanto, é ter consciência de qual é o lugar que Deus planejou para o homem e, por conseguinte, termos a certeza do que devemos, ou não, fazer para agradar a Deus e, assim, podermos fazer de nossa vida um fator para a glorificação de Deus (Mt.5:16).

– A vida cristã tem, sim, algumas responsabilidades que devem ser assumidas por quem aceita a salvação em Cristo Jesus. Devemos nos lembrar, em primeiro lugar, que quando aceitamos a Cristo, aceitamo-l’O como Senhor e Salvador.

Falamos muito em salvação, mas devemos observar que, nas Escrituras, Jesus é chamado de Salvador apenas 13 vezes, mas é chamado de Senhor, 120 vezes.

Percebe-se, pois, que ênfase bíblica é muito mais pelo senhorio de Cristo do que pelo Seu caráter salvador, a mostrar, com clareza, que a principal tarefa do evangelho é fazer com que Deus volte a ser Aquele que nos domina, que faz a Sua vontade em nós.

– Apesar de sermos Seus servos por livre e espontânea vontade, trata-se de uma servidão, trata-se de uma atitude de submissão.

Por isso o salmista faz questão de dizer que teve as suas orelhas furadas pelo Senhor (Sl.40:6), lembrando, em seu poema, o ritual pelo qual um escravo alforriado, por livre e espontânea vontade, ao término dos seis anos de trabalho, decidia ficar para sempre com aquele senhor e, como sinal desta sua decisão, permitia que suas orelhas fossem furadas (Ex.21:8; Dt.15:17).

– Quando decidimos servir a Deus, adotamo-n’O como nosso Senhor e, portanto, temos de fazer, doravante, a Sua vontade. Admitimos que passamos, simplesmente, a ser administradores de nossas vidas, de nossas habilidades, de nossos bens, de nosso corpo, enfim, passamos a ser mordomos de Deus.

– A doutrina da mordomia cristã, portanto, está no cerne, ou seja, na própria essência de nossa vida com Deus.

Quem não tem consciência de que é um mordomo ao decidir servir a Cristo, efetivamente ainda não O está seguindo, pois é este o sentido das palavras do Mestre ao dizer quem quiser segui-l’O deve renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz para só então segui-l’O (Mt.16:24).

– É preocupante verificarmos que muitos crentes, hoje em dia, não têm esta consciência de que Jesus deve ser o Senhor e Salvador de nossas vidas e não apenas Salvador.

Aliás, nas poucas vezes em que a Bíblia menciona ambos os títulos do Senhor, sempre vem, em primeiro lugar, o de Senhor, como a demonstrar que o senhorio precede sobre o caráter salvador (At.5:31; II Pe.1:11; 2:20 e 3:2).

– A falta desta consciência é trágica para a vida espiritual, pois não conseguimos ter a visão que o Senhor quer que tenhamos, qual seja, a de que estamos aqui para servi-l’O e não para sermos servidos por Ele (Mt.20:28; Jo.13:12-17).

É por isso que muitos têm se embaraçado com doutrinas sem qualquer respaldo bíblico, nos dias de hoje, doutrinas que têm dado ao homem um papel que não é, absolutamente, o que lhe foi confiado por Deus, um papel de “pequenos deuses”, diante dos quais Deus teria obrigações e compromissos inadiáveis, numa pregação de poder e de autossuficiência que nada diferencia do esoterismo e da ideologia propugnada pelo movimento Nova Era.

– É momento de meditarmos na Palavra do Senhor e vermos qual é o justo lugar do homem na ordem estabelecida por Deus e isto faremos ao estudarmos a doutrina da mordomia cristã.

– Isto também retira a ideia de que, ao falarmos sobre mordomia cristã, estaremos falando de finanças e, mais propriamente, da questão do dízimo. Muitos têm confundido a discussão a respeito da mordomia cristã com estes aspectos.

Não resta dúvida de que a questão da administração financeira de nossa vida e, dentro dela, o papel do dízimo, é matéria que está incluída na doutrina da mordomia cristã, mas é apenas um dos muitos aspectos desta doutrina, que é muito mais ampla e mais profunda, como temos visto neste estudo.

III- A RELAÇÃO ENTRE O CRIADOR E O HOMEM

– A doutrina da mordomia cristã parte de duas ideias bíblicas centrais: a de que Deus é o Criador e Senhor de todas as coisas e a de que o homem é, na Terra, a criatura superior, aquele que foi incumbido por Deus de administrar todas as coisas que foram criadas aqui. Vemos, pois, que um ponto primeiro fundamental desta doutrina é, precisamente, discutir qual é a relação que existe entre Deus e o homem.

– Em primeiro lugar, como já vimos supra, Deus é o Criador do homem. Ora, como é bem sabido, o criador de algo é seu legítimo proprietário, é o seu dono.

Trata-se de um princípio básico e que consta de todas as legislações da humanidade desde as mais priscas eras.

Até mesmo pensadores e filósofos contrários ao direito de propriedade, como Karl Marx, Friedrich Engels e Pierre Joseph Proudhon admitem que o criador de algo é seu legítimo proprietário.

Por isso, Proudhon, por exemplo, dizia que “a propriedade era um roubo”, exatamente porque achava que, quando as pessoas se apropriam das coisas da natureza, que não haviam feito, estariam se tornando indevidamente proprietárias daquilo, porque não a tinham feito, ou seja, quem faz algo, até mesmo para os inimigos da propriedade, é seu legítimo dono.

– Pois bem, se quem faz algo, é seu legítimo dono, temos que, como Deus criou o homem e a mulher (Gn.1:28), é seu legítimo dono, é o seu legítimo proprietário, é o seu legítimo senhor. Portanto, por direito de criação, Deus é o Senhor de todos os homens, como, aliás, reconhece em seu poema o salmista no Sl.24:1.

Se Deus é o proprietário e senhor dos homens, nós, como simples criaturas, não somos donos de nós mesmos, pois o direito de propriedade é um direito exclusivo, um direito que não comporta divisão, até porque Deus foi o único a nos criar, como fica bem claro em Gn.1:27, quando há uma determinação exclusiva da Trindade para que houvesse a criação do homem. Sendo assim, se Deus é o único dono dos homens, nós, homens, somos tão somente administradores do que pertence a Deus, somos, portanto, mordomos.

– Neste aspecto da criação, pois, Deus é Senhor de todos os homens, estejam eles servindo, ou não, a Deus, tenham eles aceitado a Cristo, ou não, sejam justos ou ímpios, santos ou pecadores.

Trata-se de um direito divino por força da criação e, desta forma, quando é concebido um ser humano, já é ele legítima propriedade de nosso Deus.

– Eis a razão pela qual devem responder, perante Deus, após o término da existência física nesta Terra, todos os homens, que, por isso, são levados a um primeiro juízo de definição do seu estado intermediário (Hb.9:27) e porque todos serão levados a julgamento, independentemente de sua condição espiritual (Rm.14:10-igreja; Rm.11:9,10-judeus; Ap.20:11-15-gentios).

– Deus, ademais, não deixa o homem na ignorância, mas a ele Se revela através das coisas criadas, para mostrar-lhe que é o Senhor de todas as coisas criadas, de modo que homem algum poderá desculpar-se, alegando não ter tido esta conscientização de que deveria se comportar como verdadeiro mordomo do Senhor Criador (Rm.1:19,20).

– Mas não é apenas pela criação que Deus manifesta o Seu senhorio sobre todas as coisas, inclusive sobre o homem.

Deus também manifesta Seu senhorio através da preservação do homem, através da sustentação de toda a ordem que permite a vida humana.

É outra regra encontrada nas legislações humanas, desde as mais antigas eras, que o abandono da coisa por parte do seu dono motiva a perda do domínio, da propriedade sobre esta coisa.

O abandono, assim, dá causa para que a pessoa não mais seja considerada proprietária de um bem. Assim, por exemplo, o Código Civil brasileiro, em seu artigo 1276, determina que o imóvel abandonado por seu dono seja arrecadado, ao final de três anos, pelo Município, para que seja incorporado ao patrimônio público.

– Pois bem, se Deus fosse o Criador de todas as coisas, entre as quais o homem e tivesse, após o ato da criação, abandonado o homem à sua própria sorte, à mercê de leis naturais que tivessem sido estabelecidas pelo próprio Deus, como defendem os chamados “deístas”, que, embora creiam em Deus, acham que Ele abandonou o universo,

que funciona como uma máquina, sem qualquer intervenção divina, poderíamos dar razão àqueles que defendem que o homem seja um “pequeno deus”, uma criatura que tem de obter a sua “evolução espiritual” ou ” iluminação” por conta própria, pois Deus não teria como reivindicar o Seu direito de domínio, de soberania, pois, embora tivesse criado o homem, tê-lo-ia abandonado logo após a criação.

– Entretanto, não é isto que a Bíblia nos mostra. Muito pelo contrário, a Bíblia diz que, após ter Deus criado o homem, providenciou para ele um lugar de delícias, onde pudesse satisfazer todas as suas necessidades, sem sofrimento ou qualquer dificuldade.

As Escrituras informam-nos que Deus, após ter criado o homem, pô-lo no jardim do Éden (Gn.2:8), dotando-o de todo o necessário para a sobrevivência e prazer do homem que havia criado (Gn.2:9).

Como se não bastasse, também providenciou uma atividade e uma tarefa para o homem, qual seja, o de lavrar e guardar o jardim (Gn.2:15), o que, aliás, mostra que, ao contrário do que muita gente diz, o trabalho não é consequência do pecado, mas algo que é inerente à própria natureza humana.

– Mas o cuidado de Deus não se limitou a isto. Percebendo que Adão estava só, Deus providenciou-lhe uma companheira (Gn.2:18,21,22), bem como deu plena consciência da posição superior do homem em relação aos demais seres, ao permitir-lhe que desse nome a todos os outros seres criados (Gn.2:19,20).

Como se isso ainda fosse pouco, pela própria narrativa bíblica, chegamos à conclusão de que, diariamente, Deus vinha ao encontro do primeiro casal, numa demonstração de que jamais o deixava (Gn.3:8).

– Notamos, assim, que, desde a criação do homem, Deus jamais o deixou, sempre estava suprindo suas necessidades e tinha prazer em fazer-lhe companhia. Com a queda, apesar da separação proporcionada pelo pecado, isto não se alterou.

Mesmo tendo lançado sobre o casal pecador juízos, Deus providenciou-lhes vestes adequadas (Gn.3:21), bem como tratou de impedir que a desgraça proveniente do pecado se perpetuasse, seja vedando o acesso do primeiro casal à árvore da vida (Gn.3:22-24), seja anunciando a boa nova de que providenciaria a salvação do homem através da semente da mulher (Gn.3:15).

– Desde então, Deus sempre tem sustentado a ordem cósmica, isto é, o universo e tudo o que criou (Hb.1:3), para que o homem possa viver, ainda que com dificuldades, sobre a face da Terra, permitindo-lhe, assim, que, pela revelação de Deus através da natureza, das Escrituras e de Jesus Cristo,

o homem possa se arrepender de seus pecados e, aceitando a Jesus, obter a salvação e a vida eterna. Deus tem sustentado todas as coisas, desde as estações do ano (Gn.8:21,22) até o plano da salvação da humanidade (Jo.3:16; Tt.2:11,12), nas mínimas coisas, desde os mais importantes aos mais insignificantes seres (Jó 38-40; Mt.6:25-30).

– Como Deus não tem abandonado o homem, mas, pelo contrário, o tem sustentado a todo instante, não só a ele mas a tudo o que criou, vemos que, por direito de preservação, é o legítimo dono, o legítimo proprietário de todas as coisas e, também por este aspecto, é o legítimo Senhor de todas as coisas e, nós, como alvo de Seu cuidado, de Seu sustento, nada mais somos senão administradores, mordomos, servos deste atuante Senhor.

– Enquanto preservador e sustentador, Deus é legítimo Senhor de todas as criaturas, sejam elas quais forem, inclusive os homens, sejam estes homens fiéis ou não, justos ou ímpios, santos ou pecadores.

Este direito divino estende-se a todos, pois é a todos que Ele sustenta e preserva. Vemos, portanto, que, também sob este aspecto, não há quem possa dizer-se independente de Deus, não há quem possa dizer-se capaz de obter uma evolução espiritual ou uma iluminação ao largo deste Senhor.

– Deus não é apenas o Grande Arquiteto do Universo, impassível e que deixou o homem à própria sorte, mas o Arquiteto que permanece sendo o Atuante, Incansável e Sempre Presente Construtor e Sustentador do Universo, Aquele em quem, com exclusividade, podemos crescer espiritualmente.

– Mas, poderá alguém dizer, quando o homem pecou, distanciou-se deste Deus, utilizando mal da liberdade, do livre-arbítrio que Deus lhe havia conferido, deixou-se dominar pelo pecado e, numa distorção de sua primitiva natureza, passou o homem a ser dominado pelo mal e a satisfazer-lhe o desejo (Gn.4:7).

Em sendo assim, o homem, escravizado pelo pecado, passou a obedecer ao maligno e ao sistema contrário à vontade de Deus (Ef.2:1-3).

Em sendo assim, não teria Deus perdido o seu direito de propriedade por força da apropriação indevida por parte de outrem? Não estaria, assim, reduzida a soberania divina apenas àqueles que O aceitarem como Senhor e Salvador?

– Como já falamos supra, numa demonstração de que Deus não abandonou o homem, o Senhor, no mesmo ato do juízo ao primeiro casal em virtude de seu pecado, prometeu que Se encarregaria de executar um plano para que o homem pudesse retornar à comunhão com Deus (Gn.3:15).

Em Seu papel de preservador e sustentador de todas as coisas, Deus avisou o homem de que providenciaria uma forma de o pecado ser extirpado da humanidade e de a comunhão entre Deus e o homem ser restabelecida.

Desde então, Deus mostrou ao homem o Seu amor e a Sua fidelidade, construindo, passo a passo, a restauração espiritual do homem, o que se fez, de forma plena e completa, através da pessoa do Filho, Jesus Cristo (Hb.1:1; I Jo.2:2), a semente da mulher prometida desde o Éden, que salvou o homem, morrendo por nós (Rm.5:8) e, através do Seu sangue, alcançando o perdão dos nossos pecados (I Jo.1:7-10).

– A realização do plano de Deus para a salvação do homem, usando da própria humanidade, mediante a fidelidade dos patriarcas, da formação e preservação do povo de Israel, da encarnação e vitória de Cristo sobre o mal e da formação da Igreja para a divulgação da mensagem de Jesus, é a maior comprovação de que, apesar do pecado e do mundo, Deus está no controle de todas as coisas e que nada pode impedi-l’O de operar (Is.43:13), ou seja,

de que Deus é o Senhor de todas as coisas, Soberano e que não pode ser, em absoluto, atingido pelo mal e pelo pecado, que, para Ele, nada representam.

– Tendo obtido a redenção do homem, através da humanização de Seu Filho e da vitória sobre o pecado e o mal, na cruz do Calvário, Deus deu ao Filho todo o poder no céu e na terra (Mt.28:18: Ap.1:18), de modo que, também por causa da redenção do homem, o Senhor reafirmou Seu domínio sobre toda a humanidade, pois, como sabemos, quem paga o preço da dívida de resgate de alguém, torna-se seu legítimo dono e proprietário.

– Com efeito, nas legislações antigas, onde o devedor respondia com a sua própria pessoa, caso alguém não tivesse dinheiro ou patrimônio para pagar as suas dívidas, era escravizado, perdia a sua liberdade.

Se alguém, entretanto, pagasse as dívidas do devedor, o devedor, automaticamente, passava a servir a este alguém, que o tinha redimido, que o tinha resgatado, pois o pagamento do preço conferia ao pagador o direito de se tornar senhor do devedor escravizado.

– Atualmente, o devedor não responde mais com sua liberdade por dívidas que tenha (salvo no caso de pensão alimentícia), mas, sim, com o seu patrimônio.

No entanto, a lei ainda prevê que parentes do devedor ou qualquer interessado, logo após ter sido vendido em leilão bens do devedor para que um credor seu seja satisfeito, façam o que se denomina de “remição da dívida”, que nada mais é do que a possibilidade de esta pessoa pagar a dívida e, com este pagamento, impedir que o bem vendido seja entregue a quem comprou, passando a pertencer à pessoa que pagou, que, pelo ato do pagamento, passa a ser seu legítimo proprietário.

Como se percebe, até hoje, quem resgata a dívida de alguém, pela lei dos homens, é considerado como seu proprietário.

– Pois bem, é exatamente o que ocorreu conosco. No momento em que Jesus morreu por nós, quando nós ainda éramos pecadores, foi pago o preço da nossa dívida para com Deus, pois somente a morte de um justo, de alguém que jamais tinha pecado, poderia satisfazer a justiça divina.

Mediante este alto preço (I Pe.1:18,19), nossas almas foram redimidas (Sl.49:6-8) e, assim, pertencem ao remidor, ou seja, ao próprio Deus, que, na pessoa de Seu Filho, operou a redenção (I Co.1:30; 6:20).

Então, o pecado, ao em vez de ser um fator que pudesse ter obscurecido, diminuído ou reduzido a soberania de Deus sobre a humanidade, foi um elemento que, mais uma vez, reafirmou o Seu domínio sobre todas as coisas!

– Enquanto no aspecto da redenção, Deus confirma o Seu senhorio sobre todos os homens, tenham eles aceitado, ou não, a obra de Seu Filho na cruz do Calvário, há quem ache que somente passa a ser do Senhor, pelo menos por direito de redenção, a pessoa que tenha aceitado a Jesus como Senhor e Salvador.

O pecador resistente, que rejeitar a salvação, não estaria sob o senhorio de Cristo, pois não teria sido alvo da redenção. Tal pensamento, entretanto, não tem respaldo bíblico e deve ser afastado.

– Diz a Bíblia que Cristo morreu por todos os homens (Rm.5:8), que o Seu sangue nos purifica de todo o pecado (I Jo.1:7), que Deus quer que todos os homens se salvem (I Tm.2:4), que Jesus é a propiciação dos pecados de todo o mundo (I Jo.2:2).

Ora, não vemos, diante de tais afirmativas bíblicas, como dizer que Cristo é Redentor apenas daqueles que O aceitarem, que resolverem a Ele se submeter. Cristo é Redentor de todos os homens, tem poder para salvar a todos, mas nem por isso todos serão salvos, pois, para que a salvação opere é necessário que o homem creia no sacrifício de Cristo e na Sua Palavra.

Aliás, exatamente porque Deus é o Redentor de todos os homens, poderá, legitimamente, condenar aqueles que rejeitarem a redenção, que não se arrependerem de seus pecados e os lançar no inferno.

Caso não fosse, pela redenção, legítimo Senhor dos pecadores que não se converterem, não poderia dar-lhes qualquer destino, pois estaria cuidando do que não é Seu, do que não Lhe pertenceria, o que é absolutamente impossível ocorrer com Deus, cujo caráter moral o impede de cuidar do alheio, algo que é próprio e adequado de um ladrão.

– Para bem entendermos a situação, observemos que, quando alguém resgata um bem que foi leiloado e vendido, ao pagar o preço, impede que a coisa seja entregue ao estranho e, ao mesmo tempo, torna-se seu legítimo proprietário.

Como legítimo dono, tem todo o direito de tomar posse daquele bem. Entretanto, ao tomar posse do bem, observa que ele não tem condições de uso, que não servirá para coisa alguma e, diante disto, certamente, jogará este bem fora, pois para nada mais presta.

É exatamente o que ocorrerá com os pecadores que não se arrependerem. Resgatados que foram pelo Senhor na cruz, estamos sob Seu domínio, são Seus. Deus deles já tomou posse ao vencer o mal e o mundo na cruz do Calvário.

Entretanto, quando o pecador parte para a eternidade rejeitando a Cristo, é como o objeto que não tem condições de uso, estará morto em seus delito e pecados, para nada mais prestando a não ser para ser lançado, após o julgamento, no lago de fogo e enxofre, que é a segunda morte.

Esta é a triste e lamentável situação daqueles que, enganados pelo diabo e resistentes à verdade do Evangelho, achando-se “donos de seus narizes”, perceberem, na eternidade, que o único Senhor é Deus e que o resultado de não se Lhe ter submetido é a eterna separação, numa existência mórbida e cruel para todo o sempre, pois “Só o Senhor é Deus!” (I Rs.18:39).

– Vemos, portanto, que o estudo da doutrina da mordomia é de fundamental importância para quem quer servir a Deus, pois nos permitirá saber qual é o nosso lugar no plano de Deus e como podemos, como verdadeiros servos, agradar ao único Senhor, a quem devemos dar glória para todo o sempre. Temos sido mordomos fiéis?

IV – MORDOMIA DO PONTO-DE-VISTA CRISTÃO

– A primeira certeza, portanto, que advém da doutrina da mordomia é que, embora seja dominador sobre os demais seres da Terra, o homem é servo de Deus, ou seja, está sujeito a Deus, que é seu Senhor.

Esta é uma das principais verdades bíblicas e que tem sido negligenciada por muitos, inclusive supostos pregadores evangélicos, nos nossos dias.

A doutrina da mordomia traz-se a certeza de que existe um Senhor e que este Senhor é Deus e não o homem, mesmo o salvo, mesmo aquele que aceita a Cristo como seu Senhor e Salvador.

– As primeiras palavras de Deus dirigidas ao homem registradas nas Escrituras encontram-se em Gn.2:15,16 e são qualificadas de ordem pelo escritor sagrado.

Isto nos mostra, claramente, que o homem deve estar sujeito ao comando do Senhor, que o homem é um servo e que o relacionamento entre Deus e o homem deve ser pautado pela obediência.

Esta realidade não se alterou durante a história da humanidade, encontrando em Jesus o supremo exemplo.

Como disse o apóstolo Paulo, Cristo, ao assumir a forma de servo, fez-se semelhante aos homens e, como servo, caracterizou-se por uma obediência até a morte (Fp.2:5-8), obediência, aliás, que foi uma característica na vida de Cristo desde a própria encarnação, como nos dá conta o escritor da epístola aos hebreus (Hb.10:7).

– Esta exigência de submissão, de obediência é uma nota característica de quem serve a Deus, tanto que foi, com base nela, que o próprio Jesus identificou a presença, ou não, do amor do Pai em nós. “Vós sereis Meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando” (Jo.15:14).

Não é por outro motivo que, após serem revestidos do poder, os apóstolos, mesmo diante do Sinédrio que havia mandado matar Cristo, não têm mais dúvida do que devem realizar na terra, dizendo que mais importava obedecer a Deus do que aos homens (At.5:29).

A noção de que é necessário obedecermos a Deus, portanto, é a primeira demonstração da importância da doutrina da mordomia para o cristão.

OBS: Neste aspecto é importante salientar a visão muçulmana, segundo a qual, a nota marcante do relacionamento entre o homem e Deus está, precisamente, na submissão.

A importância dada à submissão é tão grande entre os maometanos que a própria religião deles é denominada de “Islam”, que, em árabe, significa, precisamente, “submissão”. Aliás, para eles, o primeiro islâmico foi Abraão, exatamente porque teria sido o primeiro homem a, deliberadamente, dizer-se sujeito e submisso a Deus, como consta no Corão:

“E quando o seu Senhor lhe disse: Submete-te a Mim!, respondeu: Eis que me submeto ao Senhor do Universo! Abraão legou esta crença aos seus filhos, e Jacó aos seus, dizendo-lhes: Ó filhos meus, Deus vos legou esta religião; apegai-nos a ela, e não morrais sem serdes submissos (a Deus)”. (2:130,131).

– A noção de que é necessário obedecermos a Deus não é, entretanto, o único fator que denota a importância de o crente ser consciente da doutrina da mordomia.

Quando temos consciência de que devemos obedecer a Deus, também nos conscientizamos de que a vida com Deus é algo distinto de uma religião, é algo muito mais intenso e amplo do que ter uma vida religiosa.

Servir a Deus, ter de obedecer-Lhe é viver com Ele, é estar Lhe agradando a cada momento, a cada instante, é ter a consciência de que, como diz a poetisa Mary Whittle Moody (1870- ?), “cada momento sou Teu, ó Senhor” (verso final do refrão do hino 354, “Cada momento”, do Cantor Cristão).

– Mas, por que a doutrina da mordomia nos dá esta noção de que o serviço a Deus é algo diferente da religião? Simplesmente porque, quando tomamos consciência de que devemos servir a Deus, de que devemos obedecer-Lhe,

passamos a perceber que obedecer a um Ser onipresente implica em obedecer-Lhe em todo lugar; obedecer a um Ser onisciente implica em obedecer-Lhe em todo o tempo, pois Ele sabe de todas as coisas; obedecer a um Ser onipotente implica em obedecer-Lhe de todo o nosso ser, pois não podemos resistir-Lhe.

Ora, a partir do instante em que tomamos consciência de que temos de ter uma integra submissão, nossa vida não passa mais a ser nossa, mas do Senhor, pois não haverá instante, aspecto ou prisma de nossas vidas em que poderemos dispensar a necessidade de agradar e de obedecer a Deus.

Foi esta situação que o apóstolo Paulo percebeu ao afirmar que não mais vivia, mas, sim, Cristo vivia nele (Gl.2:20).

– Bem diferente desta realidade é termos uma religião. Religião, como diz o termo, é uma religação, ou seja, o retorno de um contacto entre o homem e uma divindade ou uma entidade superior.

Quando se tem uma religião, tem-se o direcionamento de uma vida para amoldá-la a certos princípios, a certas regras, a certas ideias preconcebidas e que explicam o mundo de acordo com o ponto-de-vista do fundador da religião e de seus seguidores.

Embora a religião seja a mais totalizante de todas as formas de manifestação do intelecto humano, porquanto atinge a maior gama de atividades do ser humano, como têm demonstrado os sociólogos e antropólogos, o fato é que amoldar a vida a certos princípios e regras não significa, em absoluto, assumir um compromisso integral, profundo e diuturno como o serviço a Deus.

Alguém pode ser religioso, extremamente religioso, fiel a princípios e regras, sem que tenha qualquer compromisso com Deus e com os Seus mandamentos.

– Um exemplo claro de que a religiosidade não significa compromisso em obedecer a Deus vemos no farisaísmo dos tempos de Jesus.

Os fariseus eram extremamente religiosos, obedeciam a todos os preceitos da lei mosaica, aos quais, ainda, acrescentaram muitos outros mandamentos (cfr. Mt.23:4), mas todo este conjunto de regras e de práticas não se traduziam em compromisso com Deus.

Era apenas uma aparência exterior de piedade, de santidade, pois o interior estava totalmente corrompido e distante de Deus.

A religião caracteriza-se por um formalismo, por uma aparência exterior, por um ritualismo, pela observância de regras e de cerimônias que, entretanto, buscam esconder um comprometimento da pessoa com Deus.

Embora religiosa, a pessoa não está comprometida com a obediência a Deus, com o serviço a Deus, pensa que, com sua religiosidade, poderá conquistar, por seus méritos, a salvação e a vida eterna, ou seja, de que, do seu modo, da sua maneira, angariará recompensas na eternidade.

Nada mais contrário, portanto, ao serviço a Deus, nada mais adverso a uma submissão ao Senhor. Jesus atacou durante este tipo pensamento, como vemos em Mt.23.

– É com preocupação que temos percebido que, cada vez mais intensamente, estão se criando entre nós evangélicos religiosos.

Crente passou a ser uma religião, não mais uma pessoa diferente, um modo de vida diferente na sociedade. Há algumas décadas atrás, era fácil identificarmos quem era crente, evangélico, protestante, “bíblia” ou “aleluia”, como éramos chamados pelas pessoas da sociedade.

Um crente era uma pessoa que vivia uma vida exclusivamente voltada a agradar a Deus, uma vida diferente, uma vida preenchida com a busca do reino de Deus e da sua justiça.

As demais pessoas eram apenas religiosas (quando o eram), tanto que era comum ouvirmos a expressão: “sou católico, mas não sou praticante”, a indicar que se tratava de pessoa que era apenas religiosa por tradição, sem qualquer vida religiosa ou comprometida com a igreja então (e ainda) predominante em nosso país.

Hoje em dia, entretanto, também temos os “evangélicos por tradição, não praticantes”, aqueles que se dizem crentes, mas que não frequentam regularmente uma igreja ou, ainda, frequentam-na uma vez por semana, mas restringem sua vida cristã a estas idas ao culto, vivendo, no restante de suas vidas, uma vida idêntica a qualquer outra pessoa, sem qualquer compromisso com Deus.

São apenas religiosos, que entendem estar num alto nível de vida, numa abundância espiritual, quando, na verdade, não passam de pessoas sem a graça de Deus, pessoas totalmente equivocadas quanto à própria razão de ser da vida com Cristo.

São os crentes representados, no Apocalipse, pelas igrejas de Sardo (Ap.3:1) e de Laodiceia (Ap.3:17). A religiosidade tem invadido as igrejas, mais um prenúncio da volta do Senhor.

– A doutrina da mordomia, portanto, impede que o crente seja envolvido por uma falsa religiosidade, vez que, ao ter consciência de que se deve servir a Deus a todo o tempo, o cristão não tem a ilusão de que uma vida de aparência exterior, de cerimônias, de rituais e de regras poderá fazer com que Deus Se agrade ou que se esteja servindo a Deus.

– Quando tomamos consciência de que o serviço a Deus envolve todo o nosso ser, a todo instante, não somos iludidos pela ideia de que podemos ter uma vida com vários departamentos, de que podemos ter áreas de nossa vida que não precisam estar submetidas ao senhorio de Cristo.

A vida material e espiritual são uma única realidade e, como tal, devemos servir a Deus a todo tempo, seja quando estamos adorando a Deus, em oração ou na meditação da Palavra de Deus, seja quando estamos efetuando alguma tarefa da vida secular.

Aliás, disto nos dá conta a própria Bíblia Sagrada, que, por exemplo, recomenda-nos a ter esta consciência quando estamos trabalhando secularmente, pois devemos fazê-lo como a Deus e não como a nosso patrão (cfr. Ef.6:5-8), ou na nossa vida familiar (Ef.5:24,25).

– Não há, portanto, qualquer diferença entre a vida espiritual e a vida material. Somos um só ser e, como tal, devemos servir em toda a inteireza a Deus, procurando agradá-l’O e obedecer-Lhe a cada instante, a cada momento.

É um engano acharmos que devemos servir a Deus apenas quando estamos na igreja ou quando estamos efetuando uma tarefa dita religiosa ou sagrada. Devemos dar testemunho de que servimos a Deus em todas as nossas atitudes, em todas as nossas ações.

Jesus disse que as pessoas precisam ver as nossas boas obras para que glorifiquem ao nosso Deus (Mt.5:16), bem como que nossa justiça deve exceder a das pessoas religiosas (Mt.5:20), residindo aí a grande diferença entre o cristão e as demais pessoas.

O Cristianismo, disse, certa feita um pregador, não é uma religião, mas um modo de vida, uma forma de viver e isto faz toda a diferença.

– A doutrina da mordomia permite-nos compreender que a vida com Deus é um relacionamento com uma pessoa, com um ser, não uma forma de se acomodar o nosso ego, de trazer uma amenização para a nossa consciência, não uma forma de equilíbrio interior, de uma autojustificação, como vemos em outros movimentos religiosos.

Temos de manter um relacionamento contínuo com um Ser que nos é superior, que nos criou e a quem devemos obediência, bem como a quem devemos glorificar.

– A doutrina da mordomia cristã, além de nos dar uma nova visão sobre o significado da vida humana, bem como do verdadeiro papel e valor do ser humano (o que será desenvolvido no tópico seguinte deste estudo), também nos conscientiza de que somos responsáveis e que, portanto, deveremos responder a Deus por tudo aquilo que fazemos, seja bem, seja mal.

É esta conscientização que levou o sábio Salomão, no término de sua vida, a perceber a vaidade de toda a glória humana, ou seja, a falta de sentido de todos os benefícios que se possa amealhar durante a existência física, como se percebe das suas últimas palavras registradas nas Escrituras:

“Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau” ( Ec.12:14).

(aliás, segundo a tradição judaica, o livro de Eclesiastes teria sido lido publicamente a uma assembleia convocada por Salomão, no final de sua vida, numa espécie de confissão pública pelos desvios cometidos a partir de certa altura de sua vida).

Notamos como Deus é maravilhoso e como Seus caminhos são perfeitos. Ninguém mais do que Salomão seria o símbolo de uma pessoa que poderia afirmar que a vida sobre a Terra teria valido a pena, diante das grandes benesses que lhe foram dadas pelo próprio Deus, mas é precisamente este homem tão abençoado com tudo o que a vida física poderia oferecer de bom e de melhor (riqueza, fama, poder, prazer, erudição) que nos lembra de que tudo isto é sem sentido, é vazio de significação e que teremos de prestar contas diante de Deus de todas as nossas ações.

– A consciência de que iremos prestar contas diante de Deus de tudo o que fazemos é consequência imediata de sabermos que somos administradores de bens alheios.

Ora, se tudo o que “temos” não é nosso, mas de Deus, é natural que tenhamos de prestar contas a Deus da nossa administração, visto que tudo é do Senhor (Sl.24:1).

Jesus deixou-nos bem claro, em mais de uma passagem, que deveremos, na qualidade de seres humanos, prestar contas a Deus (Mt.25:19; Mc.12:2; Lc.12:42,43; 16:1,2; 19:15).

– Muitos crentes equivocam-se, quando falamos em prestação de contas, achando que este assunto é reservado apenas aos ímpios, aos pecadores, pois, quando aceitamos a Cristo, ganhamos a vida eterna e não temos mais qualquer condenação, como está escrito, por exemplo, em Rm.8:1.

Entretanto, embora seja verdade que o crente fiel não pode ser condenado por estar em Cristo Jesus, isto não quer dizer, em absoluto, que esteja isento de ser julgado pelo Senhor. A salvação do homem não retira a soberania de Deus, antes, como já vimos, é mais uma demonstração do poder supremo do Senhor.

– O homem, por ser homem, como também já vimos, ou seja, por ato de criação, é um mordomo, é um administrador de coisas que lhe foram confiadas por Deus.

Assim, por ser homem, seja salvo ou perdido, seja justo ou ímpio, seja fiel ou não, deverá prestar contas a Deus.

A prestação de contas não é consequência do pecado, mas consequência da mordomia. Por isso, o crente que tem consciência da doutrina da mordomia sabe que deverá prestar contas a Deus pelo que tiver feito.

– A Bíblia afirma que todos os homens são sujeitos a julgamento, a prestação de contas. Um primeiro julgamento, de natureza provisória, é descrito pelo Senhor na história do rico e de Lázaro (Lc.16:19-31).

Ali vemos que o homem, após sofrer a morte física, é encaminhado a um estado intermediário, onde aguardará ou o arrebatamento da Igreja (os que se encontram no seio de Abraão), ou o juízo do trono branco (os que se encontram no Hades). É este o juízo mencionado pelo escritor da epístola aos hebreus (Hb.9:27).

– Sobrevindo o arrebatamento da Igreja, os crentes que estiverem vivos naquela ocasião juntar-se-ão aos que já tiverem morrido, que serão ressuscitados (cfr. I Ts.4:16,17), encontrando-se com o Senhor nos ares e serão encaminhados para um julgamento, que é denominado de Tribunal de Cristo (Rm.14:10-12; II Co.5:10).

Este julgamento não será para salvação ou perdição, pois nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que andaram segundo o espírito e não segundo a carne (Rm.8:1),

mas será a oportunidade em que os crentes dedicados e frutíferos receberão seus galardões, enquanto que “os crentes de mãos vazias”, para se utilizar de expressão do autor do hino 16 da Harpa Cristã, serão como que salvos pelo fogo, visto que suas obras em nada contribuíram para o engrandecimento do reino de Deus (I Co.3:12-15).

Só depois deste julgamento é que virão as bodas do Cordeiro, que ocorrerão quando a Esposa estiver pronta, ou seja, devidamente adornada com os seus galardões (Ap.19:7).

– Sobrevindo o juízo do trono branco, serão ressuscitados todos aqueles que não estiverem na companhia do Senhor (estarão na companhia do Senhor, nesta altura da história, os arrebatados, os salvos durante a grande tribulação, o remanescente de Israel, os fiéis durante o milênio que não se rebelaram),

que serão submetidos a julgamento pelo Senhor, conforme a reação que tiveram pela revelação divina que receberam durante suas vidas físicas, julgamento este que é possível a condenação, que será a segunda morte, a morte eterna (Ap.20:11-15).

– Quando sabemos e não nos esquecemos de que devemos prestar contas ao Senhor de nossos atos, naturalmente que nossas atitudes passam a ser diferentes, temos uma verdadeira modificação em nossos gestos e intenções, pois, não por medo, pois não devemos ter medo de Deus, mas por amor e gratidão, sabemos que, um dia, deveremos nos encontrar com o Senhor e com ele acertamos nossas contas (Hb.4:13).

V – O SIGNIFICADO DO DÍZIMO NA BÍBLIA

– Por fim, falemos do dízimo, que é o tema que sempre vem à mente quando se fala em mordomia cristã e contra o qual Satanás tem procurado se levantar entre os que cristãos se dizem ser.

– Por primeiro, observemos que a ênfase que se dá ao dízimo no assunto de mordomia cristã, que, como vimos, é algo muito mais amplo, já demonstra como o diabo tem conseguido, com suas sutilezas, desviar o foco de muitos discípulos de Jesus.

– Quando se dá muita importância à questão financeira, tem-se, por evidente, que existe uma deturpação dos valores espirituais, pois, como ensinou o Senhor Jesus, a vida não consiste na abundância dos bens que se possui (Lc.12:15).

Os bens materiais, necessários para a nossa sobrevivência, são tratados por Cristo como meros acréscimos (Mt.6:31-33; Lc.12:29-31).

– Embora o Senhor Jesus Se utilizasse de bens materiais e recebesse contribuições para a manutenção de Seu ministério (Lc.8:3), principalmente para poder atender aos pobres (Jo.12:6), não fez qualquer sermão específico sobre o tema, tratando-o com o aspecto secundário que lhe é peculiar dentro dos valores do reino de Deus.

– Então, quando vemos uma centralidade neste assunto, a ponto de se haver verdadeiros “campos de batalha” entre os defensores e os detratores do dízimo, como também o espaço cada vez maior que este tema tem tomado na vida eclesiástica (hoje em dia já há um momento na liturgia para cuidar do assunto – “a palavra de oferta”…), vemos como o inimigo tem conseguido fazer com que haja uma inversão de valores entre os que cristãos se dizem ser, intensificando o “amor do dinheiro”, que é a raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10) e a porta da entrada para que percamos o amor de Deus, pois quem serve às riquezas, não serve a Deus (Mt.6:24).

– Estamos neste mundo e, portanto, necessário se faz que haja o sustento daqueles que se dedicam integralmente à obra de Deus e que se custeie a própria obra de Deus, porquanto, para que haja o desempenho das missões atribuídas à Igreja por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, há necessidade de utilização do dinheiro, pois tudo tem um custo na vida em sociedade.

– Assim, de pronto, vemos que é completamente fantasioso o pensamento de que tudo que é feito para Deus deve ser gratuito e não custar absolutamente coisa alguma, pois coisa alguma neste mundo é feita desta maneira.

A vida em sociedade exige que se obtenham recursos mediante o trabalho para que haja a sobrevivência, como estabeleceu o próprio Deus após a queda do homem (Gn.3:19; I Ts.3:10,11).

– Tanto assim é que, ao estabelecer que a tribo de Levi seria separada para o serviço divino, o Senhor determinou que as demais tribos sustentassem os levitas, para que estes pudessem se dedicar exclusivamente à obra de Deus, bem como que o povo mantivesse toda a estrutura do culto, inclusive contribuindo para a construção e manutenção do templo.

– Com a Igreja não foi diferente. Desde os primórdios, vemos os discípulos contribuindo para a manutenção não só dos irmãos, como também da obra de Deus (At.2:45; 4:36,37; 5:1,2; II Co.9; Fp.4:10-16).

– Desde cedo, o adversário de nossas almas tem procurado desarticular a obra de Deus mediante a ganância, que é o “desejo exacerbado de ter ou de receber mais do que os outros”, “a ambição de ganhar e possuir”. “a cobiça”.

– Mais de uma vez, ao longo da história de Israel, o inimigo conseguiu convencer os israelitas a desassistirem os levitas e, assim, comprometer a própria continuidade do culto a Deus, como vemos, por exemplo, nos dias de Zorobabel, quando, após o embargo da construção do segundo templo, o povo simplesmente deixou de contribuir para a casa do Senhor, o que foi veementemente repreendido por Deus através do profeta Ageu (Ag.1:1-8), como também nos dias de Neemias, no período em que o governador teve de voltar para a Pérsia (Ne.13:10,11).

– De igual maneira, vemos que, em tempos de voluntariedade e disposição de contribuição por parte do povo, tivemos o estabelecimento de uma infraestrutura para que se pudesse adorar a Deus e Israel realizar o seu papel como propriedade peculiar de Deus dentre os povos, como, no deserto, para a construção do tabernáculo (Ex.35:20-29);

nos dias de Davi, para que se tivessem os recursos para a construção do templo, o que se faria por Salomão (I Cr.29:1-9);

nos dias de Joás e nos dias de Josias para a reparação do templo (II Cr.24:6-14; 34:8-14).

– Quando o inimigo consegue incutir a ganância no meio do povo de Deus, a obra de Deus sofre solução de continuidade, deixa de ser realizada a contento, e o resultado disto é o prejuízo na salvação das almas e na edificação dos salvos, o principal papel a ser feito pela Igreja sobre a face da Terra.

– Não devemos nos esquecer de a ganância é característica avessa aos servos do Senhor. Na Versão Almeida

Revista e Corrigida, a palavra “ganância” surge, em primeiro lugar, em Is.23:17 e 18, associando-a à prostituição, a Tiro, mostrando que, quem tem tal sentimento, está a se misturar com os valores mundanos, que são os valores que prestigiam o materialismo, a posse de coisas materiais, que despreza o aspecto espiritual.

– A ganância é também apontada como uma característica dos líderes desvirtuados de Israel pelo profeta Isaías, que os chama de “cães gulosos, que não se podem fartar” (Is.56:11) e temos aqui um outro fator que inibe a obra de Deus:

a ação dos líderes que desviam os recursos auferidos para seu próprio proveito e acabam por gerar escândalo no meio do povo que, por causa disso, deixa de contribuir.

A palavra hebraica utilizada por Isaías é “besa’” (עצב), cujo significado é “cobiça, ganho (desonesto), lucro, vantagem” (Bíblia de Estudo Palavras-Chaves. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 1215, p.1564).

– Esta circunstância não se restringiu a Israel. Estava presente na própria bolsa dos pobres durante o ministério de Jesus, pois ali Judas Iscariotes praticava desvio de recursos (Jo.12:6), sendo uma característica que deve ser verificada se existente entre os candidatos à liderança na Igreja, precisamente para que não sejam postos nesta posição (I Tm.3:3,8; Tt.1:7,11; I Pe.5:2).

– Hoje não é diferente, o inimigo tem se valido destas pessoas que, lamentavelmente, deixam-se seduzir pelas riquezas materiais, trazendo grande malefício à obra de Deus.

Não podemos, assim, mesmo tendo conhecimento destes gananciosos, deixar de contribuir para a obra do Senhor, pois, se assim o fizermos, estaremos contribuindo para o trabalho diabólico de desarticulação dos recursos para o cumprimento das tarefas da Igreja.

– Dízimo é palavra portuguesa que traduz palavras hebraicas e gregas das Escrituras cujo significado é o de “décima parte”, “um décimo”.

Dízimo, portanto, segundo a origem da palavra, quer dizer a décima parte, um décimo de algo. Assim, se dividirmos uma laranja em dez partes, cada uma delas será um dízimo da laranja.

– O dízimo é um ato pelo qual alguém entrega a melhor porção de seu patrimônio para Deus, a fim de ser destinado ao sustento daqueles que estão envolvidos no trabalho do Senhor, como reconhecimento de que Deus é o Senhor de todas as coisas, em agradecimento por Deus ter provido o sustento daquele que está a dizimar, bem como um ato de fidelidade e testemunho do compromisso que existe no relacionamento entre Deus e aquele que está a fazer a oferta.

– O dízimo, portanto, apresenta-se como um ato pelo qual o homem reconhece que não é dono de coisa alguma que amealhou com o seu trabalho.

É por isso que o dízimo é uma demonstração material, um ato efetivo e concreto de mordomia, pois, embora tenha angariado os recursos que chegam à sua mão com seu suor, o homem, ao entregar a décima parte na obra de Deus, diz, com este gesto, que está a reconhecer que do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam (Sl.24:1).

– O dízimo, também, é um ato de gratidão a Deus, de agradecimento pela concessão dos meios pelos quais se pode amealhar os recursos financeiros necessários à nossa sobrevivência.

Quando dizimamos, estamos agradecendo a Deus, porque Lhe devolvemos a décima parte do que Ele nos deu, para que a Sua obra, que, como uma atividade feita entre os homens, depende de recursos financeiros para a sua manutenção, possa ser realizada.

– Deus tem escolhido homens e mulheres para que se dediquem ao reino de Deus, para que se envolvam com as tarefas destinadas à salvação e aperfeiçoamento espiritual das vidas e, por causa deste envolvimento, tais pessoas não têm condições de obter, para si, um sustento, de efetuar um trabalho material que lhes possa proporcionar o pão de cada dia.

Quando dizimamos, estamos permitindo que estas pessoas possam continuar atendendo ao chamado do Senhor e supram as suas necessidades. Demonstramos estar agradecidos a Deus quando mantemos o sustento daqueles que por Ele foram chamados para dedicação integral à obra do Senhor.

– O dízimo também é um ato de fidelidade e de compromisso com Deus, pois, à medida que separamos parte do nosso patrimônio para o sustento da obra do Senhor, com certeza estamos demonstrando que não somos indiferentes à obra de Deus, damos uma prova concreta de que estamos comprometidos e envolvidos com os planos e propósitos de Deus para a humanidade.

A fé sem obras é morta (Tg.2:17) e, quando dizimamos, estamos praticando uma atitude que mostra que temos uma verdadeira fé, revelamos que amamos a Deus. Não somos indiferentes, como eram os homens dos dias do profeta Malaquias.

– O dízimo, também, é uma demonstração de honestidade, um indicador de moralidade. Com efeito, ao dizimarmos, reconhecemos, como dissemos, a soberania de Deus sobre todas as coisas, bem assim a propriedade divina sobre os bens materiais.

Quando dizimamos, estamos devolvendo a Deus o que Lhe pertence, não retendo aquilo que não é nosso, mas é devido ao Senhor.

– Por isso, Malaquias chama de ladrões àqueles que não dizimam, porque estão a reter em seu poder algo que não é seu.

O dízimo revela o alto grau de senso de moralidade do cristão que, reconhecendo que de Deus é tudo, não se atreve a reter para si aquilo que não lhe pertence.

– Visto o que o dízimo é, devemos, agora, observar o que o dízimo não é. O dízimo não é um investimento, como muitos têm pregado por aí. Verdade é que Deus tem prometido bênção de abastança para os dizimistas (Ml.3:10), mas isto não quer dizer que devemos dizimar visando obter maiores lucros, como se o dízimo fosse uma aplicação financeira ou um investimento de grande retorno.

– Os teólogos da prosperidade têm, muitas vezes, dito que o dízimo ou “o sacrifício” (nome como muitos têm denominado a contribuição bem superior à décima parte, envolvendo, não poucas vezes, todo o patrimônio de alguém, “o seu tudo” , como dizem) é o caminho mais rápido e eficaz para a riqueza e para a ampla prosperidade material.

Não devemos dizimar para nos tornarmos mais ricos, mais prósperos, mas devemos dizimar em gratidão a Deus, em reconhecimento à sua soberania. Dízimo não é investimento, nem um modo “santo” de se canalizar a ganância, algo que é próprio dos mais miseráveis de todos os homens (I Co.15:19).

– Dízimo não é uma fonte de obrigações para Deus. Muitos acham que, dizimando, criam para Deus obrigações.

Assim, entregam seus dízimos porque, assim, Deus estaria obrigado a lhes dar bênçãos de prosperidade material, de saúde ou, até mesmo, de salvação. Pensam que o dízimo vincula Deus a seus caprichos, desejos e aspirações. Pensam até que o dízimo é o caminho para sua salvação. Para estes que assim pensam, podemos fazer uma pequena ilustração.

Digamos que sejamos donos de dez bolas e que as confiemos a uma criança nossa conhecida, mandando que ela tome conta delas para nós. Pouco tempo depois, a criança vem e nos entrega uma das dez bolas, e nós a recebemos.

Por um acaso, surgiu, aqui, alguma obrigação de nossa parte em relação à criança por causa da nossa bola que ela nos devolveu? Logicamente que não! Assim ocorre com Deus. Deus recebe de volta algo que Lhe pertence.

Estaria Ele, então, obrigado a nos fazer algo que queiramos por causa desta devolução? Deus prometeu dar aos dizimistas a bênção da maior abastança e, com relação a isto, há um dever divino, não em relação a nós ou por causa da nossa vontade, mas em virtude de Seu próprio caráter moral.

– Maior abastança não significa outra coisa senão ter além do necessário, além do suprimento das necessidades.

Quando isto ocorre, passamos a ter uma obrigação a mais da parte de Deus, qual seja, a de socorrer os necessitados.

Assim, ter tantas bênçãos que não tenhamos onde guardá-las (como diz tanto o texto da NVI de Ml.3:8 quanto a própria tradução inglesa do rei Tiago), não é viver regaladamente e no luxo, como propalam os teólogos da prosperidade, mas assumir o encargo de auxiliar os menos afortunados.

– Dízimo, também, não é meio de salvação. Todo salvo é dizimista, mas nem todo dizimista é salvo.

Querer dizer que, com a entrega do dízimo, estaremos dando passos importante para a nossa salvação é o mesmo que dizer que, pelas obras, nós seremos salvos, é ressuscitar o odioso conceito da doutrina das indulgências que fez com que Deus levantasse homens como Martinho Lutero para recuperar a santidade e a biblicidade na Sua Igreja.

O dizimista é alguém que compreende que o Senhor é o dono de todas as coisas, mas não é, por isso, alguém que deixe Deus governar a sua própria vida.

– Dízimo não é um meio de enriquecimento de inescrupulosos e mercenários da fé. Muitos têm se aproveitado da doutrina do dízimo para amealharem riquezas e fazerem do evangelho um negócio rentável e cada vez mais crescente.

Esta possibilidade não passou despercebida do Senhor que, em Sua Palavra, já nos primórdios da fé cristã, já advertia os crentes que muitos seriam feitos negócio com palavras fingidas de pessoas inescrupulosas (II Pe.2:3).

Antes mesmo de nossa dispensação, o profeta Ezequiel já indicara a existência de pastores infiéis, que têm como objetivo tão somente explorar as ovelhas (Ez.34:4). Todavia, não é por causa destes que devemos de deixar o nosso compromisso diante de Deus.

Façamos a nossa parte, que é entrega os dízimos na casa do tesouro (Ml.3:10), ou seja, na nossa igreja local.

Este dízimo é santo (Lv.27:32) e pertence a Deus, Que, certamente, tratará com aqueles que tiverem a incumbência de administrá-lo, pois, além de perderem sua condição de pastores (Ez.34:9,10), melhor lhes fora, diz Jesus, que lhes pusessem ao pescoço uma mó de atafona e fosse lançado ao mar (Lc.17:1).

– O dízimo, pelo que verificamos, na Bíblia Sagrada, é muito mais do que uma despesa ou um tributo de dez por cento do que ganhamos, é muito mais do que uma simples cláusula contábil.

Deus não precisa do nosso dinheiro para sustentar a Sua obra, pois é o dono de todo ouro e de toda a prata (Ag.2:8), mas é através do dízimo que revelamos aquilo que está dentro de nosso homem interior, o conceito que temos de Deus e de nós mesmos, se nos consideramos mordomos do Senhor ou “donos dos nossos próprios narizes”.

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7876-licao-10-a-sutileza-contra-a-pratica-da-mordomia-crista-i

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