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Jovens – lição 13 – E Agora, Como Viveremos na Sociedade de Consumo?

Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivo central expor os perigos da mentalidade de consumo na Igreja.

“A ânsia pelo consumo é uma das marcas da sociedade contemporânea. O aumento da capacidade de produção aliada ao fortalecimento do capitalismo, criaram as condições adequadas de uma época em que os hábitos de consumo moldaram a cultura materialista do tempo presente.

Para acessar os slides referente a esta aula click aqui

https://youtu.be/qm42HX2BMyI

 

Não sendo estranho à vivência cristã, devemos refletir sobre este tema e as suas repercussões na vida da igreja. 

Aquilo que se convencionou chamar de sociedade de consumo é resultante de um longo processo histórico, aludindo à industrialização e ao consequente aumento da produção dos bens de consumo.

Estudiosos costumam traçar o aumento desse fenômeno a partir do século XVI, com o aparecimento de todo um conjunto de novas mercadorias no cotidiano dos diversos segmentos sociais, fruto da expansão ocidental para o oriente 1.

Todavia, nos moldes atualmente compreendidos, é no século XIX que a sociedade de consumo vai realmente se estabelecer, com o surgimento de consumidores claramente diferenciados e novas modalidades de comercialização e técnicas de marketing 2

Esse contexto é marcado pela moda (em verdade pelas modas) e pela veloz substituição dos produtos de consumo. Roupas, acessórios e demais itens pessoais são trocados e colocados em desuso com rapidez estonteante, ainda que em bom estado de conservação.

Não se trata tão somente de uma regra de mercado. É um estilo de vida, impregnado em nossa cultura, que sinaliza, segundo Livia Barbosa, “para individualidade, autoexpressão, estilo pessoal e autoconsciente.

A roupa, o corpo, o discurso, o lazer, a comida, a bebida, o carro, a casa, entre outros, devem ser vistos como indicadores de uma individualidade, propriedade de um sujeito específico, ao invés de uma determinação de um grupo de status 3” . 

Em tal contexto, o consumo é elevado a outro patamar. Não é somente o meio pelo qual adquirimos os produtos necessários para a nossa sobrevivência.

Na sociedade do consumo, os indivíduos projetam suas identidades e sonhos em produtos, objetos e outros itens da cultura material.

Daí em diante, o consumo passa a ocupar lugar de centralidade no tecido social e no cotidiano das pessoas, de tal modo que esse sujeito, o consumidor, adquire posição privilegiada.

Ele é o foco das atenções e tudo é feito para atender suas necessidades insaciáveis e desejos ilimitados, criando com isso com uma sociedade de consumidores, identificada pelo consumismo inconsciente, materialismo desenfreado e capitalismo selvagem.

Por outro lado, o consumidor também se encontra em situação de risco. Em sua obra Vida para Consumo, o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman observou que este ser vive entre os extremos de “patetas e idiotas culturais” e “heróis da modernidade”.

Se como heróis, os consumidores encarnam o ideal contemporâneo de liberdade, autonomia e racionalidade, enquanto idiotas culturais são retratados como “ludibriados por promessas fraudulentas, atraídos, seduzidos, impelidos e manobrados de outras maneiras por pressões flagrantes ou sub-reptícias, embora invariavelmente poderosas”4.

Isso ocorre porque, como explicou Bauman, “na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável”5.

O que Bauman está afirmando aqui é que o consumidor também é uma espécie de mercadoria, pois pode ser manipulado e usado para diversos interesses. Mas, não somente isso.

Parece existir em cada consumidor — que assim se assume — um desejo no mínimo oculto de ser desejado e distinguido em meio à multidão de pessoas.

Isso porque, ao valer-se de seu poder de compras para adquirir determinado bem, o consumidor assume a mesma característica da sua mercadoria: o desejo de ser notado e cobiçado pelos outros. Conforme Bauman:

“Numa sociedade de consumidores, tornar-se uma mercadoria desejável e desejada é a matéria de que são feitos os sonhos e os contos de fadas” 6.

Evidentemente, devemos fazer uma clara distinção entre consumo e consumismo. Enquanto o consumo é uma atividade básica da vida humana, para adquirir os itens necessários de sobrevivência, o consumismo consiste em um hábito desvirtuado que transforma o supérfluo em necessário, e o necessário em supérfluo.

Contudo, o consumismo é antes de tudo uma patologia social ou se se preferir, um atributo da sociedade, como sustenta Bauman. Para que uma sociedade adquira esse atributo, declara Bauman:

A capacidade profundamente individual de querer, desejar e almejar deve ser, tal como a capacidade de trabalho na sociedade de produtores, destacada (“alienada”) dos indivíduos e reciclada/reificada numa força externa que coloca a “sociedade de consumidores” em movimento e a mantém em curso como uma forma específica de convívio humano, enquanto ao mesmo tempo estabelece parâmetros específicos para as estratégias individuais de vida que são eficazes e manipula as probabilidades de escolha e conduta individuais 7.

A sociedade do consumo é marcada pelo efêmero e transitório. As pessoas vivem como se não houvesse o amanhã, o porvir. Tudo se resume ao aqui e agora. Essa sociedade é caracterizada também pela ostentação.

Roberto Shinyashiki foi preciso ao dizer que nunca se viu, em toda a história da humanidade, um culto ao ego tão exacerbado como o de hoje.

De acordo com Shinyashiki, “as pessoas desenvolvem a necessidade de fingir que sabem tudo, ganham todas e acertam sempre.

Cada vez mais, exige-se que a pessoa mostre o que não é, fale o que não sabe e exiba o que não tem”. Agur parece ter antevisto esse cenário ao escrever o Provérbio 30, verso 13:

“Há uma geração cujos olhos são altivos, e as suas pálpebras são sempre levantadas”. Do mesmo modo, o apóstolo Paulo apresentou as nuanças dos tempos trabalhosos, em que haveriam homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos (2 Tm 3.2). 

Na sociedade de consumo, as pessoas nunca estão satisfeitas com o que possuem e gastam o que têm e até o mesmo que não têm, endividando-se, para comprar algo novo.

Embora alguns consigam satisfazer o desejo material, suas almas no fundo ainda permanecem vazias e sedentas por algo mais.

E assim nunca se sentem completamente satisfeitas. J. P. Moreland chama isso de “eu vazio”. Segundo ele, o “eu vazio” está tão difundido na cultura atual que, às vezes, chega a ser tratado como praga cultural.

Ele cita o psicólogo Philip Cushman que afirma: o eu vazio está repleto de bens de consumo, calorias, experiências, políticos, parceiros românticos e terapeutas empáticos. […] o eu vazio experimenta uma ausência significativa de comunidade, tradição e sentido compartilhado, […] uma falta de convicção e mérito pessoal, e incorpora essas carências como uma fome emocional crônica e indiferenciada” 8.

Nesse ambiente social onde a vida é desprovida de finalidade última, as pessoas tentam atribuir sentido a outras coisas, como o consumismo, o sucesso e o hedonismo, gerando com isso uma cultura dessensibilizada, ultrassexualizada, viciada em promiscuidade e pornografia, que falha em satisfazer o anseio pelo drama que nos foi dado por Deus.

O PERIGO DA MENTALIDADE DO CONSUMO NA IGREJA

Gostaria de afirmar que a cultura do consumo é um fenômeno que ocorre tão somente no “mundo secular”. Mas não posso. As marcas da lógica do mercado e do consumismo também estão presentes em setores do protestantismo, trazendo sérios danos à espiritualidade e ao testemunho público da igreja. Refiro-me aqui ao protestantismo em especial porque este é o enfoque da presente obra.

Não é necessário muito esforço investigativo para comprovar a presença da cultura de consumo no mundo da religião. Tempos atrás a BBC Brasil publicava matéria que tinha por título: “Crescimento evangélico estimula mercado que une consumo e religião”.

De acordo com a publicação: “É um grupo cada vez mais numeroso e com sede de prosperar e consumir. O crescimento dos evangélicos no Brasil, em especial no ramo pentecostal, provocou mais do que mudanças religiosas: fortaleceu um mercado econômico, que chama a atenção tanto de igrejas como da iniciativa privada.

De seu lado, as igrejas criaram estratégias de negócios. E diversas montaram grupos e reuniões em que estimulam os fiéis a abrir negócios próprios e sanar suas finanças, com base na Teologia da Prosperidade — movimento que prega o bem-estar material do homem” 9.

COMO VIVEREMOS EM TEMPOS DE CONSUMISMO?

A Bíblia fala abertamente sobre a importância da santificação (1 Ts 4.7; Hb 12.14), mas muitos de nós temos dificuldade de aplicá-la às coisas mais básicas da vida.

Pensamos nela como alguma coisa distante da realidade; ou conforme escreveu John Eldredge, como algo “espiritualmente elitista e, francamente bastante severo.

Abrir mão de prazeres mundanos, coisas inocentes como açúcar, música ou pesca; viver uma vida inteiramente ‘espiritual’; orar muito, ser uma pessoa muito boa. Algo que apenas os santos muito antigos conseguiram” 10.

Contudo, vale recordar que a santificação é algo que abrange toda a maneira de viver de quem se entregou uma vez a Cristo (1 Pe 1.15).

Aplicada ao consumo, a santificação promove na vida do crente uma postura contracultural (Rm 12.2), no sentido de rejeitar e se afastar da cultura dominante que valoriza a moda e tudo aquilo que supérfluo

A santificação produzida pelo Espírito Santo faz o ser humano redimido reconhecer a sua real identidade, olhando para si mesmo como filho de Deus e não como um produto.

Enquanto o consumismo reduz o homem à condição de mercadoria, fazendo acreditar que o sentido e o valor da vida encontram-se no ato da compra, a santificação faz aclarar no coração do homem a graça e o amor de Deus.

Eldredge explica que “o amor de Deus procura nos tornar íntegros e santos, a fim de que os seres humanos se tornem o que eles devem ser”. 

A santificação nos afasta da avareza. Jesus disse aos seus discípulos para tomarem cuidado com a avareza, porque a vida de qualquer pessoa não consiste na abundância do que possui (Lc 12.15). Avareza (gr. pleonexia) significa sede de possuir mais; apego e desejo exagerado pelos bens materiais.

O Mestre não está censurando o trabalho para a manutenção das necessidades básicas da pessoa e de sua família, e nem mesmo o anseio natural por melhores condições de vida.

Sua advertência se dirige à ganância, isto é, a atitude cobiçosa de nunca estar satisfeito com aquilo que se possui. Tais pessoas, impulsionadas pelo desejo insaciável da carne, sempre procuram adquirir algo novo, “edificar novos celeiros” e formar um “depósito com muitos bens” (v.18, 19). 

Jesus alertou contra a ganância e a avareza, pois sabia que o amor ao dinheiro é a origem de todos os males (1Tm 6.10). Eis o motivo pelo qual Ele afirmou:

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom” (Mt 6.24).

Desse modo, não é possível servir a Deus plenamente ao mesmo tempo em que se ama ao dinheiro, afinal onde está o tesouro de uma pessoa, aí também estará o seu coração (v. 21). 

Ao nos fazer aproximar mais de Deus, a santificação realça o verdadeiro sentido da felicidade, algo que o consumista não consegue compreender.

O desejo desenfreado de adquirir bens supérfluos condiciona a felicidade das pessoas à compra de coisas novas. O consumista nunca se sente satisfeito, e por isso é levado a exagerar no uso do cartão de crédito e do cheque especial, tudo para atender aos apelos da mídia e a ilusão do consumo.

O consumismo, portanto, não é fruto da necessidade, mas do descontentamento. É uma forma de ingratidão. Contudo, o apóstolo Paulo deixou a receita para destruirmos esse vício pessoal ao dizer:

“Aprendi a contentar-me com o que tenho” (Fp. 4.11). Essa afirmação não é um atestado de passividade e comodismo. É uma declaração de gratidão a Deus!

Se você não está contente com o que já tem, certamente não estará quando adquirir o que pretende ter. Por isso, como cristãos, devemos agradecer a Deus por tudo o que possuímos, pois é dádiva divina!

Portanto, consumo santificado significa apartar-se do modelo consumista em curso na sociedade contemporânea, e desenvolver um estilo de vida frugal, com hábitos de consumo santos, disciplinados pelo fruto do Espírito (Gl 5.22), notadamente o domínio próprio.

Conclusão

É necessário reconhecer que o problema do consumismo de nossos dias, não reside no modelo de economia de mercado que proporciona mais autonomia e liberdade ao indivíduo.

A raiz do problema, crucial lembrar mais uma vez, é a pecaminosidade, o egoísmo e o hedonismo humano. O problema não é a oferta demasiada de produto, mas o desejo insaciável dentro do coração do homem caído.

Logo, como declara Amos Yong, se a economia de mercado deve ser redimida, a igreja tem de fornecer uma alternativa — outro conjunto de desejos — que podem contribuir para uma cura do mundo.

Em vez de uma egocêntrica teologia de autoajuda e empoderamento econômico, diz Yong, é preciso fazer emergir uma teologia trinitária de desejo, formado pelas práticas da igreja, sensível às particularidades e necessidades de cada pessoa como criada à imagem de Deus.

Ou seja, enquanto o mundo vê cada pessoa como consumidor anônimo, a igreja valoriza o ser humano como pessoa. Como filhos de Deus, somos convidados a rejeitar a lógica consumista do tempo presente e a nos afastar da cultura materialista e coisificada desta época. Para isso, é preciso pôr em prática a santificação, por meio daquilo que podemos chamar de consumo santificado”.

*Este subsídio foi adaptado de NASCIMENTO, Valmir. Seguidores de Cristo: Testemunhando numa Sociedade em Ruínas. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, pp. 138-147. 

Que Deus o(a) abençoe.

Telma Bueno

 

Dinâmica: Consumismo

Objetivo: Refletir sobre o consumismo exagerado e suas consequências.

Material: Tabloides de propaganda de grandes lojas de departamentos para os alunos.

Procedimento:

– Distribuam 01 tabloide para cada aluno.

– Falem: Olhem o tabloide, anotem os valores dos objetos que vocês desejam comprar e depois somem.

– Agora, perguntem: O que vocês fariam para adquirir estes objetos? Aguardem as respostas.

– Em seguida, realizem uma série de questionamentos, tais como:

Há necessidade de comprar todos os objetos?

Eles são prioritários? São realmente necessários?

Comprar os objetos porque estão em promoção, mesmo não tendo condições de comprar?

As condições de pagamento: comprar parcelado ou no cartão, vai comprometer o orçamento doméstico? Pagar com cheque especial, mesmo sabendo dos altos juros? Comprar uma parte a vista e o restante parcelado? As parcelas cabem no bolso?

– Escolham 02 alunos, um que teve cuidado com as compras e o outro que se excedeu, e questionem sobre a escolha dos produtos e condições de pagamento.

– Perguntem: vocês já compraram algo que não tinham necessidade? Já se endividaram por causa de compras exageradas? Que outras consequências surgiram?

– Para concluir, reflitam sobre o consumismo evidenciado pela mídia e o incentivo de alguns líderes quanto ao ensino do “ter” como sendo prosperidade.

– Leiam I Tm 6. 9 e 10.

Fonte Subsidio da lição: http://licoesbiblicas.com.br

Video 01: https://youtu.be/qm42HX2BMyI

Dinâmica: http://atitudedeaprendiz.blogspot.com.br

Slides: https://pt.slideshare.net/natalinoneves1/lbj-lio-13-e-agora-como-viveremos-na-sociedade-de-consumo?from_action=save

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