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LIÇÃO Nº 6 – CONSELHOS GERAIS

lição 06 - Conselhos Gerais

O ministro de Jesus Cristo deve estar atento aos vários segmentos da igreja local.

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INTRODUÇÃO 

– Na sequência do estudo da Primeira Epístola de Paulo a Timóteo, estudaremos partes dos capítulos cinco e seis daquela carta.

– O ministro de Jesus Cristo deve estar atento aos vários segmentos da igreja local.

I – O CUIDADO COM OS IDOSOS, JOVENS, HOMENS E MULHERES 

– Depois de ter mostrado a necessidade de ser diligente e fiel no ministério, o apóstolo Paulo, em suas orientações a seu filho na fé, Timóteo, mostra a extrema necessidade que o líder tem de lidar com os diversos segmentos da igreja local, a todos atendendo, de todos cuidando.

– Paulo mostra a Timóteo que a igreja local, conquanto seja um grupo social, é um grupo social heterogêneo que, em seu interior, abarca todo o tipo de pessoas e, por isso mesmo, aqueles incumbidos do ministério pastoral devem saber tratar a todos respeitando as suas individualidades, sem qualquer parcialidade.

– A igreja local não passa de uma porção da Igreja, este povo de Deus na dispensação da graça, que reúne todos os seres humanos, até porque o Evangelho deve ser pregado a toda criatura (Mc.16:15). A Igreja é formada por todo o tipo de pessoas, sem qualquer distinção de classe social, raça, escolaridade, sexo e tantos outros elementos que distinguem os homens na sociedade. Paulo bem demonstra isto ao dizer:

“Porque tantos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea, porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl.5:27,28).

– Vê-se, portanto, que, ao contrário de outros grupos sociais, que se caracterizam por uma certa uniformidade entre seus membros, a igreja local representa toda esta universalidade do Evangelho, possuindo, em seu interior, o mais diversificado conjunto de pessoas, que estão unidas por um aspecto espiritual, que é a salvação em Cristo Jesus, mas que permanecem, em termos seculares, ostentando uma diferença, uma diversidade, que deve ser levada em conta por aqueles que foram incumbidos pelo Senhor Jesus para cuidar do rebanho do Senhor.

– Sabedor desta realidade, o apóstolo Paulo fez questão de dar orientações a Timóteo de como ele deveria cuidar dos diversos segmentos na igreja de Éfeso, pois, sem dúvida, este é um dos maiores desafios de quem é chamado ao ministério pastoral. Como pastor, o ministro deve ser tão imparcial como o Senhor que o comissionou, algo que só é possível mediante a ação do Espírito Santo, pois os ministros são formados dentro de uma realidade social que nos faz tender a certas predileções e a certas atitudes que nem sempre representam esta imparcialidade exigível de quem está à frente do rebanho do Senhor.

– Na igreja de Jerusalém, a primeira igreja local, vemos como a influência cultural pode criar problemas que não podem existir entre os que cristãos dizem ser.

Em função dos valores existentes na própria sociedade judaica, as viúvas judias nascidas fora de Israel passaram a ser desprezadas em detrimento das viúvas judias  nascidas em Israel, o que gerou uma murmuração tal na igreja hierosalamita que foi preciso que os apóstolos criassem o diaconato para evitar que isto viesse a prejudicar a missão da Igreja (At.6:1-5).

– Outra grande demonstração a respeito de como a influência cultural pode perturbar as igrejas locais é a resistência que os apóstolos tiveram para pregar o Evangelho aos gentios.

Não fosse a perseguição dirigida por Saulo, Filipe não teria ido a Samaria pregar a Palavra de Deus (At.8) e, não fosse a forte visão que o Espírito Santo deu a Pedro, este não iria a casa de Cornélio para pregar o Evangelho (At.10).

Mesmo assim, a reação da igreja de Jerusalém e a ação dos judaizantes, que levaram à realização do concílio de Jerusalém (At.15), mostram como é extremamente difícil lidar com este componente cultural e como o ministro de Cristo Jesus deve sempre estar atento a este fator que pode inviabilizar a própria missão da Igreja.

– Paulo, como ninguém, conhecia a força deste elemento cultural e, por isso, em suas orientações a Timóteo, procura alertar o jovem pastor de que ele deveria estar atento a todos os segmentos da igreja local, a fim de que, sendo imparcial como exige Nosso Senhor e Salvador, pudesse não só cumprir o seu ministério como também permitir que a igreja local cumpra a sua tarefa de evangelizar os incrédulos e ensinar os crentes, sendo uma porção da Igreja no meio de uma determinada sociedade.

– O primeiro ponto tratado pelo apóstolo Paulo é o tratamento que deveria ter o jovem Timóteo com os anciãos, com os mais velhos, levando-se em conta o fato de que Timóteo era jovem.

– Se Paulo, antes, havia dito para Timóteo que o requisito para o exercício do ministério pastoral era a maturidade espiritual e não, a idade, de modo que não deveria levar em consideração quaisquer objeções que tivesse em Éfeso por causa da sua pouca idade (I Tm.4:12), o apóstolo manda que Timóteo, como pastor, levasse em conta a idade da membresia, não devendo, por isso mesmo, “repreender asperamente os anciãos, mas admoestá-los como a pais” (I Tm.5:1).

– Vemos aqui como se devem conjugar elementos culturais e espirituais na condução da igreja local. Timóteo, embora fosse uma autoridade como pastor, apesar de sua pouca idade, não deveria fazer com que sua posição prevalecesse a ponto de desconsiderar o respeito que devia ter com os mais velhos.

Assim, embora não pudesse se omitir, enquanto pastor, de repreender e aconselhar os mais velhos, deveria fazê-lo de modo diferenciado, com respeito, com o mesmo tratamento que desempenharia em relação a seu pai.

– Como é importante termos este equilíbrio na igreja local. Sem que se abra mão da legítima autoridade que o Senhor concede aos ministros, estes não podem agir da mesma maneira com toda a membresia, mas ser sensível a ponto de, dependendo do segmento com que está lidando, ter um comportamento apropriado e adequado.

– O Senhor Jesus nunca lidou com “a massa”, mas, sim, sempre tratou a todos individualmente, levando em conta o temperamento e a estrutura de cada um, até porque, sabemos todos, Deus não criou dois seres humanos idênticos, sendo que cada pessoa é diferente da outra.

O ministro, no desempenho do ministério pastoral, sabendo que está a cuidar do que não é seu, mas, sim, do Senhor, deve ter esta mesma habilidade, tratando a cada um segundo a sua individualidade, segundo a sua estrutura. Como afirma Hans Bürki: “…A exortação precisa ser detalhada, atingir a cada pessoa individualmente, no coração, no âmago do ser.…” (Cartas a Timóteo – I Timóteo Comentário Esperança. Trad. de Werner Fuchs, p.65).

– É evidente, aliás, que tal tratamento exige o conhecimento de cada um, motivo por que o pastor deve ser alguém que conhece as suas ovelhas, o que, de pronto, afasta a malfadada “cultura de gabinete” que tanto mal tem gerado nas igrejas locais na atualidade. O pastor precisa conhecer seus liderados, precisa ter contato com eles, a fim de que possa desempenhar a contento esta função de tratamento individualizado que Paulo recomenda a Timóteo.

– Aliás, não é por acaso que os ministros são chamados de pastores. O pastor é alguém que tem conhecimento de cada uma de suas ovelhas, tanto que elas o identificam pela voz, exatamente como o  Senhor Jesus disse ocorrer com relação aos Seus seguidores (Jo.10:14,27). Exige-se daquele que o Senhor constituiu como pastores, como apascentadores do Seu rebanho (I Pe.5:2), este mesmo nível de intimidade, de relacionamento com os crentes.

– Nos dias difíceis em que vivemos, no entanto, muitos que se dizem pastores são tão somente administradores, burocratas, que estão interessados apenas num desempenho empresarial da igreja local, pouco se importando com o relacionamento interpessoal, sendo meros gerentes, não, pastores.

Não é isto que ensina Paulo a Timóteo. Diz o apóstolo que Timóteo deveria repreender e admoestar os mais velhos como a pais, ou seja, Timóteo deveria ter um relacionamento com os mais velhos como o relacionamento entre pais e filhos.

– É interessante salientar que a expressão “repreender asperamente” também tem a ideia de “ataque”, ou seja, jamais o pastor deve atacar, tomar a iniciativa de causar animosidade contra alguém, especialmente os mais velhos. Como é triste vermos os púlpitos serem utilizados como locais de ataques a certos membros que não são participantes da mesma visão ou dos mesmos projetos do líder. Pelo contrário, o pastor deve chama-los à parte (é este o sentido de admoestar), refletindo, neste comportamento, todo o reconhecimento da dignidade da pessoa humana, em particular dos mais velhos.

– Com relação aos jovens, Timóteo deveria repreendê-los como a irmãos (I Tm.5:1), a indicar que poderia ser mais duro com relação a estes, já que, neste caso, a idade não era um fator de “desvantagem” em relação ao pastor.

– Entretanto, como se repreender um “irmão”? Não é com estupidez nem tampouco com desrespeito, mas com amor e desejo de melhora do repreendido. A repreensão só pode ter como objetivo o bem-estar do repreendido, jamais a sua humilhação, jamais a sua destruição.

– Temos observado dois extremos que, infelizmente, têm prevalecido em muitas igrejas locais em detrimento do modelo bíblico aqui explicitado pelo apóstolo Paulo. De um lado, aqueles que acham que repreensão e admoestação é humilhação, é sinônimo de exclusão, de declaração de morte espiritual, algo que, entretanto, não corresponde à realidade, já que a disciplina tem como finalidade a restauração espiritual, o arrependimento daquele que caiu em pecado para que possa alcançar a sua salvação.

“…Toda exortação que busca atingir o coração errará o alvo se não partir de um grande respeito, de uma profunda consideração perante o caráter único da condição do outro como criatura. Antes violentará, esmagará o outro, constrangendo-o ou escravizando-o em vez de libertá-lo. Todo ser humano é digno do amor, e é somente a partir dessa dignidade e por causa desse amor que ele pode ser corretamente exortado.…” (BÜRKI, Hans. op.cit., p.65).

– De outro lado, temos aqueles que simplesmente entendem que é papel do Espírito Santo a repreensão.

Nada falam, nada advertem, esperando que a pessoa, por si só, se arrependa. Permitem todo o tipo de atitude na igreja local, compactuam com o pecado e com os maus costumes, assumindo um papel de “pessoa simpática e compreensiva”, o que, entretanto, não é, em absoluto, o que ensina a Bíblia Sagrada. Como ensina João Calvino: “…é preciso notar que o apóstolo não tencionava dizer que Timóteo poupasse os idosos e fosse indulgente para com eles, de tal sorte que pudessem pecar impunemente sem receber qualquer gênero de correção…” (Pastorais. Trad. de Válter Graciano Martins, p.125).

– Como afirma o comentarista bíblico Matthew Henry: “…Os ministros são repreendedores por ofício. Isso faz parte, embora seja a parte menos prazerosa, do seu ofício.

Eles devem pregar, repreender e corrigir (II Tm 4.2).…” (Comentário Novo Testamento Atos a Apocalipse obra completa. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p.697). Paulo diz que Timóteo deveria repreender tanto idosos quanto jovens, levando em conta a idade de cada qual, mas deveria ele próprio efetuar a repreensão. É para isto, entre outras coisas, que o Senhor dá pastores às igrejas, de modo que não é tarefa do Espírito Santo a repreensão. Isto é tarefa do pastor.

Caberá, sim, ao Espírito Santo o convencimento do pecado (Jo.16:8). Não foi, aliás, por outro motivo que o escritor aos hebreus foi enfático ao dizer que é ao pastor que incumbe prestar contas das almas que lhe foram confiadas (Hb.13:17).

– Da mesma forma, Timóteo deveria tratar as mulheres idosas como mães (I Tm.5:2). Vemos aqui como não há qualquer discriminação de sexo na doutrina cristã, ao contrário daqueles que, equivocadamente, entendem ser a Bíblia Sagrada um “livro machista” ou um “livro patriarcal”.

Num mundo onde as mulheres eram completamente desprezadas, o apóstolo manda Timóteo tratar os idosos como “pais” e as idosas como “mães”, a revelar a imparcialidade que deve existir na igreja local entre homens e mulheres.

– Este tratamento respeitoso para com os mais idosos tem rareado em muitas igrejas locais. Não são poucos os casos em que jovens pastores, que assumem posições de liderança, têm, como primeira providência, “aposentar” irmãos mais velhos, desconsiderando os anos de serviço que têm na obra do Senhor, desprezando-os a tal ponto que muitos deles acabam sendo obrigados a mudar de igreja local, ministério e, por vezes, até de denominação, ante o tratamento recebido, sendo isto, pasmem os irmãos, visto como “sinal de modernidade”, como “progresso”, como “avanço”.

– Paulo manda a Timóteo que procedesse de outro modo. Muito provavelmente, muitos dos idosos que deveriam ser repreendidos fossem parte daqueles que estavam a ensinar “outra doutrina” (I Tm.1:3), mas, nem por isso, Timóteo deveria ser desrespeitoso com eles. Pelo contrário, ainda que devendo exercer o seu grave dever de manter a igreja local saudável do ponto-de-vista doutrinário, nem por isso poderia tratar com desrespeito os mais idosos ou as mais idosas.

– Não se está aqui a defender que não se possa substituir irmãos e irmãs que, pela sua idade, já não têm condições de levar adiante um determinado trabalho na igreja local, pois não se pode gerar uma paralisia na obra do Senhor, mas isto deve ser feito com respeito e consideração.

É bem verdade que a idade avançada impede um vigor que, por vezes, é necessário no trabalho, mas isto não significa que se deva desprezar a experiência daqueles que, por tantos anos, labutaram na seara do Mestre. A substituição jamais deve representar o menosprezo ou o desprezo, mas, sim, uma mudança de função, fazendo daquele que não tem mais forças físicas para estar à frente de certas atividades um conselheiro, um ensinador.

– Prosseguindo suas orientações, o apóstolo manda que Timóteo tratasse as irmãs com toda a pureza. Tem-se aqui um outro segmento com que o obreiro deve ter muito cuidado: as mulheres.

– A própria menção das mulheres pelo apóstolo Paulo mostra como a igreja local cristã era bem diferente do restante da sociedade. Tanto entre os judeus quanto entre os gentios, a mulher era completamente desconsiderada, não tinha qualquer valor ou dignidade, ainda que, entre os judeus, por força da lei de Moisés, sua condição fosse um pouco melhor que a existente entre as demais nações.

– Aqui, Paulo enfatiza que, na igreja local, a mulher tinha, sim, um lugar; eram, sim, consideradas, ainda que, pela própria diferença que existe entre homem e mulher, não lhes estivesse reservado o ministério pastoral. Ao dizer que Timóteo deveria tratar as mulheres como irmãs, em toda a pureza, mais uma vez se ressalta que o ministério pastoral é privativo dos homens.

– Por isso mesmo, este relacionamento entre ministros e mulheres deve ser guiado pela pureza.

Recentemente, em uma reunião convencional, muito se discutiu a respeito do comportamento que deve haver entre o ministro e as mulheres, numa discussão infindável que acabou resultando na própria retirada de um dispositivo a respeito que se pretendia estabelecer no código de ética. Conhecido é o dito segundo o qual os três grandes perigos de um ministério são os “três F” (Fama, Fortuna e Fêmea), o que é uma grande realidade. O relacionamento com as mulheres tem sido um dos grandes fatores de fracassos no ministério.

– Paulo, porém, bem definiu qual deve ser o relacionamento entre o ministro e as mulheres: deve o ministro tratar a mulher como irmã em toda a pureza. Como afirma William Hendriksen: “…Quando alguém tenta ajudar sua irmã a vencer certas falhas em seu caráter, a impureza está totalmente ausente (pelo menos no sentido mais popular). Timóteo deve tratar da mesma maneira as jovens solteiras que porventura estejam sob sua orientação espiritual, ou seja, como se fossem suas irmãs, porque realmente o são…no Senhor!…” (Comentários I Timóteo, II Timóteo e Tito. Trad. de Válter Graciano Martins, p. 208).

– A respeito, assim diz João Calvino: “…A frase com toda a pureza se refere às mulheres jovens pois, em sua idade, deve-se temer toda e qualquer insinuação suspeita. Todavia, Paulo não proíbe a Timóteo de agir maliciosa ou desrespeitosamente em relação em relação às mulheres jovens, visto que tal proibição seria de todo supérflua; mas ele apenas lhe diz que se revestisse de prudência para não dar às pessoas ocasião de criticá-lo. Com essa finalidade, o apóstolo exige aquela casta seriedade em todo o seu trato e conversação com outrem, e pudesse, assim, conversar com os jovens de forma muito espontânea sem alguma necessidade de observação desfavorável…” (op.cit., p.126).

– Esta prudência tem faltado a muitos em nossos dias, seja no tratamento com os jovens, seja no tratamento com as mulheres. Temos notado uma falta de equilíbrio que reproduz a falta de intimidade de alguns obreiros com o Senhor, pois a sabedoria é dom que vem do alto e que exige uma vida de proximidade com Deus, o que falta a muitos hodiernamente.

– O ministro não pode ser completamente alheio aos segmentos jovens da igreja local, distanciando-se deles e da realidade social que os abrange, o que, aliás, tem sido um dos fatores do preocupante êxodo de jovens em muitas igrejas, mas, também, não pode o ministro, ainda que seja jovem em idade, como era o caso de Timóteo, querer tornar-se um “jovem”, passando a ter um comportamento que é totalmente inadmissível para quem exerce a liderança.

– O segmento jovem da igreja local precisa ter um cuidado especial. O pastor, ainda que não o lidere pessoalmente, deve ser próximo à juventude, sabendo que tem um importante papel no amadurecimento não só psicológico ou social desta porção da igreja, mas, sobretudo, ser alguém que contribua decisivamente para o amadurecimento espiritual dos mancebos.

– O que temos verificado, porém, é que o segmento jovem da igreja local é desconsiderado pelas lideranças, que incumbem o coordenador dos jovens desta tarefa pastoral, sem que o mesmo, por vezes, tenha qualquer condição de fazê-lo e, o pior de tudo, num ambiente em que as famílias hoje quase nenhuma ou nenhuma educação doutrinária dão a adolescentes e jovens, fazem com que este segmento não tenha qualquer amadurecimento espiritual, sendo, por isso mesmo, presas fáceis do inimigo de nossas almas. O resultado não pode ser senão o do grande número de jovens que abandonam a fé e que vão para o mundo.

– Com relação às mulheres, não é diferente. Os ministros ou se comportam como alheios a este segmento, que é deixado, também, nas mãos das irmãs mais idosas, que assumem uma inadmissível tarefa pastoral, ou, então, tem-se um comportamento inadequado que, não raro, leva a escândalos e a fracassos na vida dos ministros, máxime diante da adoção de uma mentalidade mundana impregnada de imoralidade e de abandono dos bons costumes constantes das Escrituras Sagradas.

– Há quase dois mil anos, o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, dava conselhos a Timóteo para que, no exercício do ministério pastoral, não descuidasse ele destes segmentos e os tratasse com sabedoria e adequação. Que o Senhor ensine nossos pastores a agirem da mesma maneira!

II – O CUIDADO COM A ASSISTÊNCIA SOCIAL

– Depois de ter falado do tratamento diferenciado que devem ter alguns segmentos da igreja local com relação a faixa etária e ao sexo, Paulo, então, passa a dar orientações ao seu filho na fé a respeito de como se deveria cuidar da assistência social.

– Por primeiro, vemos que, nestas orientações, o apóstolo Paulo mostra que, na igreja local, a assistência social deve ser um “importante negócio” (Cf. At.6:3), uma demonstração da verdadeira fé que temos em Cristo Jesus, pois, a exemplo de Nosso Senhor e Salvador, temos de andar fazendo bem enquanto estivermos aqui nesta peregrinação terrena (At.10:38).

– Lamentavelmente, esta consideração da assistência social como um “importante negócio” tem sido inobservada por muitas igrejas locais, que pouco, quase nada ou absolutamente nada têm feito nesta área, nem aos domésticos da fé e muito menos com relação à sociedade que existe em redor da igreja local.

– O apóstolo Paulo mostra que, embora a questão da distribuição dos recursos materiais deva estar a cargo dos diáconos, que foram constituídos para esta finalidade (At.6:1-6), trata-se de um assunto que deve ficar sob a supervisão do ministério pastoral, pois a liderança deve estar ciente de tudo o que ocorre na igreja local, ainda que não esteja diretamente relacionada com a distribuição dos recursos.

– A primeira orientação que o apóstolo Paulo dá a Timóteo é que se deveria “honrar as viúvas que verdadeiramente são viúvas” (I Tm.5:3). “Honrar” significa dar assistência material e espiritual à viúva. Embora o apóstolo estivesse a falar das viúvas, não podemos nos esquecer de que a viúva, no tempo antigo, era a figura das pessoas necessitadas, pois a mulher viúva era o símbolo daquela pessoa que estava totalmente desamparada, que não tinha meios de sobrevivência e que dependia da caridade pública para subsistir. A viúva e órfão sempre foram, nas Escrituras, as figuras, os protótipos das pessoas necessitadas.

OBS: “…A expressão refere-se intencionalmente ao mandamento ‘Honra teu pai e tua mãe’. O judaísmo na época de Jesus interpretava esse mandamento no sentido do dever do filho adulto de acolher pais idosos e assumir o sustento deles. ‘Honra as viúvas’, portanto, insere-se inteiramente no contexto dos v. 1s, que têm as relações familiares como matriz básica para toda exortação pastoral.

A palavra ‘honrar’ também pode ter o sentido de soldo de honra (ainda hoje em uso no termo latino “honorários”). É questão de honra encarregar-se da remuneração e do alimento. A demonstração prática da honra por amor sustentará de tal modo as verdadeiras viúvas como membros da família que elas possam se sentir não meramente alimentadas, mas honradas. Toda a beneficência corre o permanente perigo de humilhar e ferir quem a recebe, quando não parte do amor e quando não se alicerça sobre a valorização da pessoa.… (BÜRKI, Hans. op.cit., p.68)

– Segundo esta primeira orientação, vemos que a igreja local tem o grave dever de ajudar os necessitados, mas, única e exclusivamente, aqueles que realmente necessitam, ou seja, pessoas que, por circunstâncias várias, estão impedidos de ganhar o seu próprio sustento com o seu trabalho.

– Temos aqui, de pronto, um fator que, por vezes, tem sido negligenciado nas igrejas locais, ou seja, de que não se deve permitir que o trabalho de assistência social seja usufruído por pessoas que, tendo plenas condições de trabalhar, não o queiram fazer, vivendo como parasitas, como pessoas que passam a sugar os recursos generosa e voluntariamente fornecidos pela membresia, para ter uma vida de ociosidade, completamente contrária aos ditames estabelecidos por Deus ao homem, segundo os quais é necessário que o homem sobreviva mediante o suor do seu rosto, mediante o seu trabalho (Gn.3:17-19), lembrando que o

trabalho é uma característica que faz o homem semelhante ao Senhor (Jo.5:17), uma ordem dada ao homem antes mesmo do pecado (Gn.2:16).

– Esta realidade já existia desde os tempos apostólicos. Na sua primeira carta, que foi a carta aos tessalonicenses, o apóstolo já tratava da presença de pessoas inescrupulosas que queriam viver às custas dos irmãos, que são chamados de “desordeiros” (I Ts.5:13) e que, na segunda carta aos crentes de Tessalônica, são descritos precisamente como aqueles que não querem trabalhar e que, por isso mesmo, não deveriam também ter o direito de comer (II Ts.3:10).

– Outra orientação que o apóstolo Paulo dá a Timóteo é que deveria ser ajudada a viúva que não tivesse familiares que pudessem ampará-la (I Tm.5:4). A igreja local deveria atuar, portanto, numa atitude subsidiária, devendo agir somente quando a família não puder cumprir o seu dever.

– A família é o grupo social básico de toda sociedade, foi criada por Deus precisamente para suprir a necessidade que o homem tem de ter companhia (Gn.2:18), visto que foi criado como um ser social, companhia esta que tem como um de suas consequência a ajuda mútua, tanto que, no monte Sinai, mandou o Senhor que, em Israel, se honrassem pai e mãe (Ex.20:12), a mostrar que a ajuda nas necessidades é uma das tarefas primordiais do grupo familiar.

– Por isso, não deve a igreja local compactuar com a negligência da família em ajudar os seus entes queridos. Paulo foi muito enfático ao mostrar a Timóteo que o que se diz cristão e nega ajuda aos seus familiares é pior do que o infiel (I Tm.5:8). Deste modo, não só a igreja não deve compactuar com a negligência familiar como também deve excluir de seu rol de membros todos quantos agirem desta maneira, pois serão pessoas que estão a negar a sua fé e a reproduzir uma conduta que é totalmente contrária à sã doutrina.

OBS: “…o apóstolo tem uma palavra de censura contra a pessoa que negligencia o dever para com ‘os seus’ e especialmente contra quem não sustenta os membros de sua família direta. Esse indivíduo negligente ‘tem negado a fé’ (…). A negação não consistia necessariamente em palavras, mas (o que amiúde é pior) em sua negligência pecaminosa. A falta de ação positiva, o pecado de omissão, desmente sua profissão de  (sentido subjetivo).

Embora professe ser um cristão, ele carece do mais precioso dos frutos que são produzidos na árvore de uma vida e conduta verdadeiramente cristãs. Carece de amor. Onde o bom fruto está ausente, não pode haver uma árvore boa.…” (HENDRIKSEN, William. op.cit., p.214) (destaques originais).

– É inadmissível que a igreja seja sobrecarregada, desvie recursos que poderiam bem ser utilizados para quem precisa em detrimento de pessoas que não precisam desta ajuda e que, simplesmente, querem viver sem trabalhar, em flagrante desobediência aos preceitos divinos estabelecidos ao ser humano. Não sejamos partícipes desta conduta que tantos males têm gerado para a obra de Deus (I Tm.5:16).

OBS: “…Uma caridade mal aplicada é um grande impedimento para a verdadeira caridade. Deveria haver prudência na escolha dos desígnios de caridade, para que não fosse desperdiçada com aqueles que não precisam tanto dela; assim haverá mais para aqueles que são os verdadeiros objetos da caridade.… (HENRY Matthew, op.cit., p.697).

– Terceira orientação que o apóstolo Paulo dá a Timóteo é que somente devam ser ajudadas as viúvas que dê um bom testemunho para que possa ser ajudada. A viúva a ser ajudada, diz o apóstolo, deveria ser aquela que, apesar de desamparada, fosse uma pessoa que esperasse em Deus e perseverasse de dia e de noite em rogos e orações, ou seja, uma pessoa que tivesse um verdadeiro testemunho cristão, que buscasse primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, uma pessoa que realmente fosse convertida e se mostrasse como autêntica e genuína serva do Senhor.

– Isto significa que a igreja não deva ajudar os incrédulos, deva se fechar única e exclusivamente em ajudar os crentes? Não, não e não! O apóstolo sabia que a igreja local, como parte do corpo de Cristo, deveria mostrar a sua fé sem acepção de pessoas (Tg.2:1), não podendo, pois, negar a ajuda a quem não pertence à membresia.

– No entanto, assim como dito pelo apóstolo, temos de dar prioridade, neste ajuda, aos domésticos da fé (Gl.6:10), aos membros da igreja, até porque são eles integrantes da família de Deus (Ef.2:19) e, como tais, devemos cuidar primeiramente deles, para que não neguemos a nossa fé.

– Desta maneira, para gozar desta prioridade, a pessoa precisa mostrar que é um verdadeiro e genuíno servo de Deus, que se encontra numa situação de necessidade, mas que, apesar disto, continua a dar prioridade ao reino de Deus e à sua justiça, pessoa que não é presa às coisas materiais.

– Com relação especificamente às viúvas, o apóstolo Paulo diz que não deveriam ser inscritas viúvas que tivessem menos de sessenta anos, que tivessem sido mulheres de um só marido e que tivessem prestado bons serviços na obra de Deus. Tais requisitos revelam, claramente, que somente deveriam ser ajudadas viúvas que não tivessem condição mesmo de sobreviver, que não tivessem condições de constituir nova família e que, por terem sido bondosas e caridosas ao longo de sua vida, mereciam, em retribuição, agora receber a ajuda da igreja local.

OBS: “…Ao menos sessenta anos. Calvino apresenta duas razões por que Paulo não quer que se admita alguma abaixo dos sessenta anos de idade. Primeiro, “ao ser sustentada às expensas públicas, seria próprio que já tivesse alcançado idade avançada”. Segundo, havia uma obrigação mútua entre a igreja e essas viúvas: a igreja aliviaria sua pobreza e elas se consagrariam ao ministério da igreja, “que se tornaria intolerável, se ainda houvesse probabilidade de se casarem”.

Tenha sido esposa de um só marido. “Pode ser considerado como uma espécie de prova de continência ou castidade, se uma mulher chega a essa idade, satisfeita por ter tido apenas um marido. Não que (Paulo) desaprove um segundo casamento, ou que afixe um sinal de ignomínia sobre aquelas que se casaram duas vezes; (pois, pelo contrário, ele aconselha as viúvas mais jovens a se casarem); mas porque ele queria ter o cuidado de evitar que qualquer mulher ficasse obrigada a não se casar novamente, sentindo necessidade de ter marido” (Calvino).…( HARRISON, Everett F. I Timóteo – Comentário Moody, p.26).

– As viúvas mais novas eram recomendadas a se casar novamente, para que não adquirissem uma maneira de viver baseada na ociosidade, já que, sendo novas e não precisando trabalhar, poderiam iniciar uma vida que as levaria necessariamente ao pecado e a uma conduta inadequada para um servo de Deus (I Tm.5:11-15).

– Tais recomendações, aliás, mostram como é deletéria e altamente contrária aos princípios bíblicos a adoção de políticas assistencialistas por parte de governos, que incentivam e estimulam as pessoas a viverem às custas do governo, sem necessidade de trabalho, políticas estas que tem atingido muitos que cristãos se dizem ser e que tem gerado, precisamente, este comportamento que o apóstolo diz ser inadequado e que faz com que muitos vão após Satanás, inclusive, em contrapartida a esta vida de ociosidade, contribuindo para que tais projetos de poder continuem se consolidando, fortificando regimes políticos totalmente contrários à sã doutrina.

Que Deus nos guarde, irmãos, de deixarmos de lado o modelo bíblico de sobrevivência nesta peregrinação terrena!

III – O CUIDADO COM OS MINISTROS 

– Depois de tratar da assistência social, o apóstolo Paulo começa a cuidar do tratamento que Timóteo teria de ter com os presbíteros, ou seja, com os ministros na igreja de Éfeso. Timóteo estava a assumir a liderança da igreja de Éfeso, como uma espécie de “delegado apostólico”, pois assumira o pastorado daquela igreja por ordem do apóstolo Paulo, diante da perturbação doutrinária que estava ocorrendo naquela igreja local.

– De pronto, vemos que não se tratava de uma tarefa fácil para Timóteo, que agira como um “interventor”, como alguém que, não pertencendo à igreja local, vinha “de fora” para “pôr ordem na casa”, missão que, naturalmente, iria ter grande resistência, máxime por parte daqueles que estavam causando tais perturbações.

– O apóstolo, entretanto, mesmo diante da autoridade que delegara para Timóteo, fez questão de dar orientações a seu filho na fé com respeito à relação que deveria ter com os ministros daquela igreja, conselhos que são aplicáveis a todos os tempos, já que se trata de um texto inspirado pelo Espírito Santo e que compõe a Bíblia Sagrada, nossa única regra de fé e prática.

– A primeira orientação que o apóstolo Paulo dá a este respeito a Timóteo é que cabe aos presbíteros o governo da igreja local: “aos presbíteros que governam bem” (I Tm.5:17). O governo da igreja está nas mãos dos presbíteros, lembrando que “presbíteros” aqui são os que exercem o ministério pastoral, independentemente do título que possuam (presbíteros, pastores, evangelistas, bispos, anciãos).

– A igreja local tem governo, não é um ambiente anárquico, onde todos fazem o que bem entendem, já que “todos somos sacerdotes de Jesus Cristo”. Se é verdade que não há mediadores entre nós e Cristo Jesus, também é verdade que Nosso Senhor e Salvador deu à igreja pessoas que deveriam governá-la, que deveriam ficar à frente do povo de Deus, a quem devemos obediência (Hb.13:17).

– Nos dias de individualismo e de intensificação da rebeldia, não são poucos os que cristãos se dizem ser que não dão qualquer consideração aos dirigentes das igrejas locais, que vivem como se a igreja local fosse uma anarquia, não dando qualquer satisfação aos pastores, indo para um lado e para outro sem pedir licença ou autorização a seus dirigentes. Trata-se de uma conduta totalmente contrária ao que ensinam as Escrituras.

– Os presbíteros que governam bem são dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina (I Tm.5:17). Aqueles que exercem o ministério pastoral, notadamente aqueles que vivem exclusivamente neste cuidado do rebanho do Senhor, devem ser honrados, ou seja, são dignos de respeito, de consideração e de sustento por parte da membresia.

– Não podemos esquecer de que os que estão exercendo o ministério pastoral são homens-dons dados pelo próprio Cristo à Igreja (Ef.4:11) e que, portanto, são autoridades constituídas por Deus, e, resistirmos a elas, estaremos resistindo ao Senhor e, nesta resistência, chamando para nós uma justa condenação (Rm.13:2).

– Além da obediência, do respeito e da reverência, devemos, também, dar aos pastores o sustento, pois, estando dedicados exclusivamente à obra do Senhor, há necessidade de que eles sejam sustentados, pois o seu trabalho, o suor do seu rosto é o próprio cuidado do rebanho do Senhor (I Tm.5:18).

– Vemos, portanto, que respaldo bíblico algum tem o pensamento de que não se deve pagar salário algum ao obreiro, que isto não seria lícito. Muito pelo contrário, quando o pastor se dedica total e exclusivamente ao ministério, cuida de uma igreja local, não tendo condições de trabalhar, faz jus, sim, a um salário, para que possa sustentar a si e a sua família.

– Aqui, no mesmo caso da assistência social, é importante verificar que o apóstolo Paulo exige, para tal sustento, que, por primeiro, o presbítero governe bem; por segundo, que o presbítero trabalhe na palavra e na doutrina, ou seja, esteja exclusivamente dedicado à obra de Deus e, por terceiro, que ele efetivamente trabalhe, pois tem de ser “obreiro”, isto é, alguém que esteja trabalhando.

OBS: “…O trabalho dos ministros. Ele consiste principalmente em duas coisas: governar bem e trabalhar na palavra e na doutrina. Essa era a tarefa principal dos anciãos ou presbíteros nos dias do apóstolo. 2. A devida honra àqueles que não eram ociosos, mas laboriosos nesse trabalho.

Eles eram dignos de duplicada honra, estima e sustento.…” (HENRY, Matthew. op.cit., p.698).

– Isto significa que o obreiro que tem apenas dedicação parcial ao trabalho do Senhor não deva receber qualquer ajuda da igreja local? Não, não e não! Aquele que tem sua atividade secular e, mesmo assim, dirige igrejas locais, deve, sim, ser ajudado pela membresia, logicamente não tendo propriamente um salário, mas, sim, uma ajuda de custo, que compense o seu esforço adicional, nesta “dupla jornada”. Ele efetua, sim, um trabalho, ele é obreiro e, por isso, é digno desta ajuda de custo.

– O presbítero é, assim, colocado numa posição similar aos dos pais no tocante ao quinto mandamento. Como devemos providenciar o sustento de nossos pais, por terem cuidado de nós, também devemos cuidar do sustento dos pastores e suas famílias, uma vez que exercem uma posição similar a dos pais no aspecto espiritual, apascentando o rebanho do Senhor.

– As orientações dadas por Paulo a Timóteo mostram, claramente, que não merecem qualquer sustento os presbíteros que governam mal, ou seja, que não cumprem a sua tarefa de apascentar o rebanho do Senhor, como, lamentavelmente, temos visto em muitos lugares em nossos dias, pessoas que, a pretexto de serem “obreiros”, querem tão somente viver às custas da igreja sem qualquer trabalho, sem qualquer esforço.

Querem “viver da obra”, mas tão somente para serem parasitas, sugando os recursos da igreja local sem exercer qualquer ministério pastoral, querendo simplesmente “sombra e água fresca”, uma vida ociosa.

– Além da honra, que envolve respeito, obediência e sustento, o presbítero deve ter um tratamento diferenciado no que toca à aplicação de disciplina em relação a ele. Por ser pessoa chamada por Deus e que está à frente do povo de Deus na igreja local, o presbítero não deve ser tratado como qualquer outro membro no que toca à aplicação de penalidade, à apuração de eventual falha ou deslize.

– Paulo diz a Timóteo que não se deve aceitar acusação contra presbítero senão por duas ou três testemunhas. Este cuidado não é um privilégio, mas uma consequência do fato de que, estando à frente da igreja local, toda e qualquer problemática que alcance o presbítero terá repercussão em toda a comunidade, de sorte que não se deve permitir que qualquer acusação isolada venha a trazer a disciplina de um ministro.

– Em compensação, diante da posição que exerce diante da igreja local, o ministro, se for considerado culpado, deverá ser repreendido publicamente, para que sirva de exemplo a todos de que a posição de

destaque na igreja local não é privilégio, nem posição de poder, mas, sim, uma posição de serviço em relação aos demais e que isto deve ser verdadeiramente valorizado entre todos os servos do Senhor Jesus (Lc.22:26,27). Aplica-se o princípio bíblico de que a quem mais é dado, mais é cobrado (Lc.12:48).

– Nos dias hodiernos, muitos têm tentado utilizar esta passagem como uma brecha para a impunidade dos ministros, procurando esconder as falhas descobertas para que “não haja escândalo”. Não é isto que Paulo diz aqui, tanto que o apóstolo é claríssimo ao dizer a Timóteo que ele não deveria jamais ser cúmplice ou partícipe dos pecados alheios (I Tm.5:22).

Resguardar a pessoa do ministro, exigindo provas robustas para que se possa acusar alguém, não isenta, em absoluto, o presbítero da disciplina, mas, bem ao contrário, em caso de condenação, exige que seja aplicado o mais duro rigor, exatamente para que haja temor na igreja local.

Lembremos do exemplo de Ananias e Safira (At.5:1-11), onde a aplicação da  disciplina gerou temor em todo o povo de Deus. Nos dias em que vivemos, esta licenciosidade, este acobertamento dos erros dos ministros tem um sido um poderoso fator que tem retirado o temor de Deus nas igrejas locais. Tomemos cuidado, amados irmãos! 

– O apóstolo Paulo, com sua larga experiência ministerial, também mostra a Timóteo que não se deveria criar uma “inquisição”, um organismo na igreja local em que se tivesse uma ampla investigação a respeito de determinado fato, um aparato que propiciasse a obtenção de provas, até porque, máxime em nossos dias, em que estamos num Estado Democrático de Direito, há uma clara limitação para que a igreja local, enquanto tal, obtenha dados e provas a respeito de acusações ou fatos que possam significar a quebra da obediência à Palavra de Deus.

– Paulo diz a Timóteo que há casos em que o pecado de alguns homens são manifestos precedendo o juízo, mas alguns somente se manifestarão depois.

O ministro deve ter a consciência que nem sempre a falta de provas de uma acusação ou a impossibilidade de obtê-las, mormente diante das normas legais, represente uma absolvição de quem é acusado. Devemos, antes de mais nada, lembrar-nos que a igreja local nada mais é que porção do corpo de Cristo e que o Senhor, mais do que ninguém, zela pela santidade de Sua casa.

Assim, há casos em que a revelação da verdade demorará, e isto deve ser bem administrado, inclusive junto à membresia, que deve ser ensinada que nada que está oculto deixará de ser, a seu devido tempo, que é o tempo de Deus, devidamente revelado (Mt.10:26; Mc.4:22; Lc.12:2). Lembremos da revelação pública, por meio do profeta Natã, dos pecados cometidos em oculto pelo rei Davi, algo que não foi imediato mas, como sempre ocorre em se tratando de revelações divinas, oportuno (II Sm.11,12).

– Ainda com relação aos ministros, Paulo recomenda que Timóteo fosse imparcial no seu relacionamento não só com o presbitério, mas também com todos os segmentos da igreja local (I Tm.5:21), como, aliás, já falamos supra. O pastor deve tratar a todos os membros sem qualquer privilégio, sem qualquer preferência, imitando a Cristo Jesus que, como Deus que é, a ninguém trata com acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34).

– Por isso mesmo, não poderia Timóteo impor precipitadamente as mãos ( I Tm.5:22), separando obreiros sem que houvesse o cumprimento dos requisitos exigíveis para o exercício seja do presbitério, seja do diaconato, não se deixando levar por laços de amizade, simpatia e, muito menos, por laços de sangue, como, infelizmente, tem ocorrido frequentemente em nossos dias, comportamento que tem resultado na descrença e desprestígio da atividade pastoral não só na igreja local, mas, também, em toda a sociedade.

IV – O CUIDADO COM A SAÚDE FÍSICA, COM O RESPEITO À SÃ DOUTRINA E COM AS RIQUEZAS 

– Paulo, então, faz uma recomendação a Timóteo para que cuidasse de sua saúde física, pois o mesmo estava a apresentar problemas estomacais, além de outras enfermidades (I Tm.5:23). Tal passagem, por primeiro, é mais uma demonstração de que a doença não é sinal de falta de comunhão com Deus.

Timóteo, um verdadeiro homem de Deus, vivia frequentemente doente, doenças, aliás, que estavam, de certa forma, relacionadas com a sua própria atividade pastoral, visto que problemas estomacais, via de regra, estão relacionadas a alterações emocionais. Já se disse, aliás, que o sistema digestório é a “pele sentimental” do ser humano, aquele que mais sente os problemas emocionais sofridos por um ser humano.

– Em tal recomendação, Paulo mostra como o exercício do ministério pastoral pode, sim, afetar a saúde física e psíquica do ministro, que, por isso mesmo, deve cuidar de sua saúde, a fim de que possa exercer efetiva e eficazmente o seu ministério. O apóstolo já havia dito a Timóteo que ele deveria cuidar dele mesmo e da doutrina (I Tm.4:16) e este cuidado fica aqui claro que não é apenas a sua vida espiritual, mas também a sua vida terrena.

– Muitos ministros dedicados e exemplares na devoção a Deus têm prejudicado seus ministérios porque não cuidam de sua saúde física. Paulo fala a Timóteo que deveria cuidar de sua saúde, até porque, sendo de pouca idade, estava sendo acometido de frequentes enfermidades, certamente oriundas de um descuido pessoal diante da hercúlea tarefa que estava a desempenhar na igreja de Éfeso.

– Obreiro que não cuida de sua saúde será um empecilho para a obra de Deus, pois, não sendo saudável, não poderá realizar a obra do Senhor e, ainda por cima, trará uma sobrecarga à igreja local, que terá de tanto de sustentar o doente como constituir outro obreiro para fazer o que deveria estar sendo feito por aquele que, por descuidar de sua saúde, não pode realizar. Com razão afirma Matthew Henry: “…A vontade de Deus é que as pessoas tomem todo cuidado em relação ao seu corpo. Não devemos torná-lo nosso senhor, nem nosso escravo; mas devemos usá-lo para que seja mais saudável e útil no serviço de Deus.…” (op.cit., p.700).

– Muitos procuram utilizar esta passagem, aliás, para justificar o consumo de vinho, já que foi este o remédio ministrado por Paulo a seu filho na fé para cuidar de seus problemas de estômago.

Tal justificativa não passa de desculpa de quem ainda não se libertou do vício do álcool, já que, em primeiro lugar, o vinho aqui não é uma bebida fermentada, uma bebida alcoólica; em segundo lugar, trata-se de um remédio, não de uma autorização para beber. Como afirma William Hendriksen: “…Paulo está aqui falando do vinho como medicina, não como bebida, como observa corretamente Wuest…” (op.cit., p.233) (destaques originais).

– Mas, além da saúde física, o obreiro deve também cuidar da saúde espiritual, sua e da igreja local, impedindo que aqueles que ensinem outra doutrina, entendida esta como sendo qualquer ensino que esteja de acordo com as palavras do Senhor Jesus Cristo, pois tais pessoas são soberbas, nada sabem e o que traz à igreja local é contendas de palavras de onde nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas (I Tm.6:3,4). Como alude Han Bürki: “…quem não se apega às sãs palavras e não se nutre delas torna-se doente de palavras.

Torna-se viciado em discussões, “doente em sua queda por investigações sofísticas e disputas verbais” (Jeremias). A heresia se alastra como uma enfermidade, uma infecção cancerosa…” (op.cit., p.78).

– Paulo, ainda, faz questão de mostrar a Timóteo que quem ensina outra doutrina são homens corruptos de entendimento e privados da verdade, achando que a piedade é causa de ganho (I Tm.6:5). Vemos aqui, claramente, que todos quantos veem a igreja local como uma oportunidade para ganhar dinheiro, para enriquecer, nada mais é que um homem corrupto, alguém que ensina outra doutrina e que contribuirá para que a igreja local fique doente. O obreiro deve impedir que isto aconteça, não dando lugar a tais pessoas, dar oportunidade a tais elementos, que somente produzirão doença espiritual na membresia.

– O exercício da piedade jamais pode ser visto como causa de ganho, como fonte de lucro, pois isto representa utilizar Deus como meio para um outro deus, que é o dinheiro, que são as riquezas (Mamom), sendo certo que o Senhor Jesus afirmou que quem serve a Mamom, jamais servirá ao Senhor (Mt.6:24).

É esta, aliás, a linha seguida pelas “teologias gêmeas” da prosperidade e da confissão positiva, que hoje infestam os púlpitos, precisamente porque usam Cristo como um simples caminho para se adorar o que verdadeiramente se pretende que são as riquezas ou as benesses materiais ou terrenas. Não é à toa que o apóstolo Paulo diz que quem espera em Cristo somente para esta vida constitui-se no mais miserável de todos os homens (I Co.15:19).

– Falando, ainda, sobre o real significado da piedade, Paulo lembra Timóteo que genuína e autêntica piedade é a “piedade com contentamento” (I Tm.6:6), ou seja, é o serviço a Deus sem qualquer interesse de vantagens terrenas, que está contente com o que se obtém em termos de sobrevivência em nossa peregrinação terrena, algo que tem de ser aprendido ao longo da vida (Fp.4:11), visto que a natureza pecaminosa do homem caminha em sentido diametralmente oposto, pois é voltada à concupiscência, ou seja, ao desejo desenfreado e incontido.

– A “piedade com contentamento” parte da realidade de que nada trouxemos deste mundo e dele nada levaremos, devendo estar satisfeitos com a obtenção do nosso sustento e do vestir. Quão diferente é esta  mentalidade da que vivemos em nossos dias, onde o consumismo, a insaciabilidade e o luxo invadem e ditam o comportamento das pessoas!

– O ministro de Jesus Cristo, sendo exemplo dos fiéis (I Tm.4:12; Hb.13:7; I Pe.5:3) devem agir de tal maneira que mostrem a toda a membresia que não compartilham desta mentalidade hedonista, consumista e materialista que tem dominado o mundo.

Entretanto, o que temos visto, em nossos dias, é exatamente o oposto: pessoas que têm se utilizado do ministério única e exclusivamente para alcançarem um enriquecimento ou condições para ostentação. É triste observarmos que, a cada dia, mais e mais empresas estão a investir no “mercado gospel”, exatamente porque os que cristãos se dizem ser são tratados como meros consumidores, como um “nicho” do mercado e passam a ter uma mentalidade completamente oposta à que se vê recomendada nas Escrituras. Que Deus nos guarde! 

– Os que assim procedem, deixando-se levar pelo materialismo, consumismo e hedonismo (que é a busca pelo prazer, a escolha do prazer e da satisfação terrena como valores últimos e supremos) distanciam-se da fé em Cristo Jesus. Paulo não escolhe meias palavras, diz que quem toma este caminho caem em tentação, em laço e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína (I Tm.6:9).

– O amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males e, nessa cobiça, diz o apóstolo, alguns se desviam da fé e se traspassam a si mesmos com muitas dores (I Tm.6:10). Temos aqui um fator, senão o preponderante um dos mais preponderantes, que levam à apostasia espiritual de que tratamos na lição anterior.

– O homem de Deus, entretanto, deve fugir destas coisas, seguindo a justiça, a piedade, a fé, a caridade (ou seja, o amor), a paciência e a mansidão. Paulo, assim, encerra seu conselho a Timóteo pedindo que ele não adotasse esta mentalidade e, deste modo, pudesse cumprir eficazmente o seu ministério. Será que estamos a seguir este conselho paulino? Pensemos nisto! 

OBS: “…Fugir contém o sentido: tomar distância, evitar, abster-se, retirar-se, recear. Idolatria,, avidez, dissolução, são poderes a cuja atração demoníaca somente se pode resistir através da decidida fuga sem olhar para trás. Somente fugindo para Deus e submetendo a impotência pessoal e todos os poderes à potente mão de Deus é possível resistir ao diabo pela fé. Fugir de uma casa em chamas não é covardia, mas ação imediata e corajosa.

Foge – corre atrás! Não é assim que escreve alguém que pensa em acomodar-se.(…) a carta nos diz que é necessária a fuga decidida da voragem destruidora e do fascínio de poderes demoniacamente intensificados, bem como a corrida igualmente decidida atrás do bem.

Ficam excluídas a vida e a acomodação neutras entre as duas alternativas. O discipulado não se transformou em um aprazível passeio, mas em uma corrida que requer empenho máximo (QI 15d). Atrás da justiça: na acepção mais ampla, o que é reto perante Deus e os humanos, porém não a virtude produzida pelo próprio ser humano, mas o fruto educativo da graça naqueles que foram redimidos para formar o povo da propriedade dele.

Posicionada no começo, a palavra justiça com certeza possui o sentido absoluto, usual em Paulo, da justiça concedida e efetuada por Deus mediante a fé.

Atrás de beatitude: A devoção não representa uma posse sólida, adquirida de uma vez por todas. Somente quem se exercita constantemente nela (1Tm 4.7), que corre atrás dela, é inserido por meio dela no mistério de Deus que abarca o tempo e a eternidade (1Tm 3.16), na verdadeira autarquia (1Tm 6.6), ou seja, na transbordante vida do amor (QI 15). Fé, amor, paciência: uma comparação com 1Ts 1.3 mostra que a “paciência”, mencionada junto com fé e amor, traz dentro de si a perspectiva e expectativa da esperança (QI 14).…” (BÚRKI, Hans. op.cit., p.81).

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: www.portalebd.org.br

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