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LIÇÃO Nº 8 – A IMPORTÂNCIA DA PATERNIDADE NA VIDA DOS FILHOS

INTRODUÇÃO

– Na continuidade do estudo dos relacionamentos familiares, abordaremos a questão da importância da autoridade paterna na vida dos filhos.

– Os pais são a nossa primeira autoridade terrena.

I – O PAPEL DOS PAIS

– Um dos objetivos principais da instituição familiar, instituição esta criada por Deus, é a da reprodução. A primeira palavra de Deus dirigida ao homem registrada na Bíblia Sagrada continha, precisamente, este objetivo: ” Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra…” (Gn.1:28).

A capacidade de reprodução do homem era o grande diferencial entre esta criatura e os seres celestiais. Natural que, então, seja um dos principais alvos do nosso adversário.

OBS: “…A procriação foi a mais importante dádiva do Criador para a natureza. Todos os seres vivos formados da matéria receberam este favor.

É importante maravilhoso sabermos que Deus concedeu ao homem, o poder de procriar um ser que traz consigo a imagem e a semelhança Sua.

A procriação é o dom de Deus à natureza, para que ela exista e permaneça existindo. Este dom foi dado a todos os seres materiais vivos, mas apenas o homem tem poder de transmitir à sua prole a imagem e semelhança do Criador. Os anjos e todos os seres espirituais não têm este dom de procriar.

No caso dos humanos, os filhos trazem consigo a imagem e semelhança do Criador, mesmo sendo eles pecadores.

Esta é uma das razões pelas quais Satanás tenta destruir o homem, pois no homem a imagem de Deus é perpetuada na Terra.…” (silva, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.2, p.138)

– Na possibilidade de procriação, Deus nos dá mais um aspecto de nossa qualidade de imagem e semelhança de Deus, pois, com a reprodução, temos uma participação na própria obra criativa do Senhor, pois, no instante em que geramos filhos, trazemos nossa marca no processo de criação do universo. Deus, pela Sua infinita misericórdia, faz-nos participantes de Sua obra de criação.

– Não é por outro motivo que a Bíblia nos diz que os filhos são herança do Senhor e o fruto do ventre, o Seu galardão (Sl.127:3).

Ao nos tornarmos pais, recebemos um prêmio, uma recompensa do Senhor, pois passamos a ser participantes da criação, ou seja, apesar de nossas faltas, de nossas fraquezas, Deus nos dá o privilégio de podermos ser atores no processo da criação.

– Os filhos, portanto, são uma bênção que Deus nos dá. Como consequência disto, devemos desejar ser pais e, muito mais do que ser pais, ser bons pais, pois ser pai não se limita a gerar um novo ser humano, mas inclui todo um processo de educação e de cuidado que possa tornar este novo ser biológico não apenas mais um ser vivo na face da Terra, mas um novo servo do Senhor, que seja motivo para glória do Senhor.

OBS: “…No testamento ‘ético’ dirigido ao próprio filho, Rabi Eleazar, o ‘ Grande” de Worms (c.1050) resumiu o objetivo principal dos pais

judeus: ‘ Meu filho ! É teu dever ter filhos e criá-los para o estudo da Torah. Por eles serás considerado digno da vida eterna.’

Esse relacionamento entre a educação de filhos dignos, o estudo da Torah (no entender dos devotos, essa era a estrada principal para a virtude), e a recompensa final da vida eterna, formaram uma venerada tradição da religião judaica.…” (AUSUBEL, Nathan. Relações familiares, esquemas tradicionais de. In: A Judaica, v.6, p.708)

– Se os filhos são uma bênção do Senhor, devemos desejar ter filhos. Caso tenhamos uma vocação para uma vida conjugal (que é o natural e normal entre os seres humanos, embora possa haver aqueles que Deus tenha chamado para uma vida celibatária, ou seja, para que não forme família), devemos ter o profundo desejo de cumprir todos os propósitos divinos para a família, o que inclui a procriação.

Isto não quer, em absoluto, reduzir o objetivo da vida conjugal a ter filhos, pois este é um dos muitos fins divinos para o casamento, mas reconhecer que a vinda de filhos é o coroamento desta vida a dois.

– Desejar ter filhos, também, não significa deixar de planejar a vinda dos filhos. O planejamento familiar, mormente nos dias difíceis em que vivemos, é uma necessidade na vida de qualquer casal.

Devemos, como servos de Deus, buscar a orientação do Senhor e, dentro da Sua vontade, bem planejarmos a vinda dos nossos filhos, a fim de que possamos dar-lhe uma vida digna e com condições de criá-los na doutrina e admoestação do Senhor.

– Os filhos devem ser, portanto, em primeiro lugar, desejados. Este desejo sincero e puro, concorde com o plano de Deus para o homem, é o primeiro e indispensável passo para que os filhos sejam sempre uma bênção.

Muitos estudos têm demonstrado que a rejeição do filho é um fator que tem causado enormes perturbações psicossomáticas em muitas pessoas, desde o ventre de suas mães.

Um filho rejeitado, mesmo durante a gravidez de sua mãe, será, certamente, um filho desajustado e que trará enormes problemas para os pais ao longo da vida.

– Uma das características dos povos antigos, inclusive o judeu era, exatamente, o de haver um desejo ardente dos casais em terem um filho, pois o fato de haver uma determinação divina para a procriação levava os hebreus a uma verdadeira obsessão pela procriação, a ponto de a mulher estéril ser considerada uma amaldiçoada.

A Bíblia registra esta circunstância e o desespero de Raquel bem ilustra a situação a que era remetida uma mulher que não tinha condições de gerar (Gn.30:1). Embora não seja elogiável esta discriminação social, o fato é que ela reflete a grande consideração que se dava, naquela época, à procriação.

OBS: “…A missão universal dos judeus, como instrumento da vontade de Deus, no sentido de conduzir todas as nações irmanadas ao Monte Sion através da Torah, exigia a preservação da continuidade biológica deles.

Além do mais, ela exigia dos pais judeus, geração após geração, que preparassem seus filhos para tão elevada incumbência. Para aumentar a força moral desse dever supremo, os Sábios ensinaram ao povo que na ‘criação’ de cada criança, havia três sócios: seu pai, a sua mãe e Deus.

De fato, Deus era considerado o sócio principal, embora ‘silencioso’, na criação de todas as crianças, tendo os pais como seus associados ativos.

No entanto, eram eles, e não Deus, inteiramente responsáveis pelo produto ‘final’ – um produto que desejavam fosse digno do Criador a cuja divina imagem se acreditava que houvesse sido feito.…” (AUSUBEL, Nathan. Relações familiares, esquemas tradicionais de. In: A Judaica, v.6, p.708).

– Atualmente, porém, tem sido considerado que ter filhos é um estorvo, é um obstáculo ao progresso material e à inserção da mulher no mercado de trabalho, sendo cada vez mais frequente que as mulheres busquem ter filhos somente quando já estabilizadas financeiramente ou, então, o que é mais corriqueiro nas camadas mais carentes da população,

os filhos têm sido considerados apenas como uma fonte de sobrevivência para quem não consegue (ou não quer) trabalhar, pensamento que tem gerado a conhecida “indústria da pensão alimentícia”. Ambas as concepções são ditadas por um materialismo excessivo e estão completamente alheias ao princípio bíblico da procriação.

– O desejo de filhos, nas páginas da Bíblia, era tanto que mesmo intervenções divinas para mulheres estéreis eram solicitadas e, numa comprovação de que o desejo de filhos é algo que se encontra dentro da vontade do Senhor, Deus ouviu estas orações e abriu a madre de muitas mulheres, como Sara, Rebeca, Raquel e Ana.

– Não basta que os filhos sejam desejados. Eles precisam ser bem cuidados, pois, além de ser uma bênção do Senhor (e toda bênção do Senhor deve ser preservada e zelosamente tratada pelo abençoado), são uma responsabilidade que Deus põe em nossas mãos e da qual deveremos prestar contas.

– O cuidado com os filhos deve anteceder à própria concepção. O planejamento familiar não envolve apenas a quantidade de filhos, mas também a qualidade de sua educação. Devemos estar preparados para, na vontade de Deus, criarmos nossos filhos na doutrina e admoestação do Senhor (Ef.6:4).

Devemos ter o mesmo sentimento de Manoá, o pai de Sansão, que orou ao Senhor pedindo orientação divina para a educação de seu filho (Jz.13:8), antes mesmo de seu nascimento.

É mister que tenhamos a orientação do Senhor para a educação dos nossos filhos, assim como busquemos todas as informações que a ciência e o conhecimento humano possam nos fornecer para que demos uma vida de qualidade para nossos filhos.

Qualidade não significa opulência material, mas é muito mais do que isto: é uma educação com amor, com valores bíblicos, uma educação que faça de nossos filhos verdadeiros servos do Senhor.

– Outra importante lição que extraímos da Palavra de Deus sobre os filhos é de que, ao nascerem, serão eles inocentes e, por conseguinte, pessoas sem qualquer pecado ou culpa. Jesus ensinou que as crianças são isentas de pecado, pois das tais é o reino dos céus (Mt.18:1-5; Lc.18:15-17).

Assim, embora sejam dotadas de uma natureza pecaminosa, de modo que, assim que adquirirem a consciência, inevitavelmente irão pecar, as crianças vêm ao mundo sem pecado, de modo que a educação é um poderoso instrumento de evangelização e de criação de valores conformes à vontade de Deus.

Assim, é dever indeclinável dos pais instruir a criança no caminho em que deve andar, pois, como afirmou o sábio Salomão, mesmo na velhice ela não se esquecerá do que lhe foi ensinado (Pv.22:6).

– Deus faz os nossos filhos inocentes e puros, ou seja, na Sua parte, prepara-nos para que possamos fazer com que estes filhos possam crescer e amadurecer dentro de uma educação que prime pelos valores divinos.

Há até mesmo uma consideração de que os filhos dos crentes são considerados santos, ainda que um dos cônjuges não sirva a Deus (I Co.7:14).

Diante deste quadro, percebemos que Deus, quando geramos filhos ou quando, já tendo família formada, aceitamos a Cristo, dá-nos condições favoráveis para que levemos a cabo nossa responsabilidade de educar.

Estamos, sim, num mundo mal e que jaz no maligno, mas o Senhor garante, em Sua Palavra, que o ambiente por Ele criado para que iniciemos nosso trabalho nos é favorável.

Assim, se perseverarmos em nosso trabalho educacional, se não descuidarmos, Ele, que sempre promete estar conosco, trar-nos-á, certamente, a vitória e o gozo de vermos não só nossos filhos, mas os filhos de nossos filhos e a paz sobre Israel, ou seja, a bênção de Deus sobre a nossa família (Sl.128:6).

– Diz o salmista que os filhos da mocidade são flechas na mão do valente (Sl.16:4). A flecha é uma das armas cuja utilização exige grande destreza (tanto que o arco e flecha acabou se tornando um esporte olímpico).

Ao comparar os filhos como flechas, o salmista mostra-nos a necessidade de termos muita sabedoria na educação de nossos filhos, pois, assim como eles podem representar a nossa alegria, o cumprimento de nossos objetivos e fins para eles (como a flecha atinge o alvo, tornando o esportista um vencedor), do mesmo modo, esta mesma flecha poderá ser fatal e acabar tirando-nos até mesmo a vida ou a alegria de viver, ferindo mortalmente o nosso coração.

Recentemente, a mídia noticiou a tragédia familiar de um filho drogado, que acabou sendo morto por seu pai, pai este que, alguns dias depois, acabou morrendo de desgosto pelo infortúnio.

Cenas assim têm se repetido cada vez mais nos nossos dias e, pasmem todos, inclusive com pessoas da igreja. Por quê? Porque não temos sido cuidadosos nem sábios para criar os filhos, estas flechas que Deus nos dá.

– Vista a importância que devemos dar ao relacionamento entre pais e filhos, vejamos agora, então, quais são as regras bíblicas estabelecidas para esta relação.

A Bíblia preocupa-se muito com este relacionamento, que é fundamental para que se cumpra o objetivo divino da procriação, além do que é um relacionamento que figura a própria relação entre Deus e o homem.

– A primeira regra sobre o relacionamento entre pais e filhos diz respeito à honra que os filhos devem devotar a seus pais.

Um dos dez mandamentos, o único mandamento com promessa, afirma que os filhos devem honrar pai e mãe para que os seus dias fossem prolongados na terra (Ex.20:12; Dt.5:16; Ef.6:2,3).

Os filhos devem, portanto, respeitar seus pais, ser-lhes obedientes e dar-lhes a devida dignidade. A honra envolve o reconhecimento dos filhos de que seus pais são um dos fatores primordiais da sua existência e não se resume apenas na obediência, que é um fator importante, mas não exclusivo.

Honrar pai e mãe envolve, também, zelar pela imagem social dos genitores, evitando que os pais sejam alvo de calúnias, injúrias e difamações na sociedade onde vivemos.

Lamentavelmente, vemos que, nos nossos dias, há um grande incentivo para que os filhos critiquem e denigram a imagem de seus pais na sociedade.

Aliás, dentro da filosofia mundana hoje reinante, é imperioso que o jovem ou o adolescente xinguem, difamem e desprezem seus pais perante os seus amigos e companheiros de grupo. Isto tudo contraria o que ensina a Palavra do Senhor.

– A obediência aos pais é condicionada. Como bem explana o apóstolo Paulo, a obediência aos pais somente tem sentido enquanto estiver em consonância com a obediência ao Senhor (Ef.6:1). É a isto que a Bíblia denomina de obediência justa.

Devemos obedecer a Deus, em primeiro lugar, depois aos homens (At.5:29). Assim sendo, os filhos não devem obedecer a seus pais quando esta obediência significar pecado, ofensa a Deus.

Dizemos isto, pois, há alguns anos atrás, tivemos a surpresa em saber que um crente chegou a se queixar dos professores da Escola Dominical de seu filho, porque, ao mandar seu filho mentir para um cobrador que lhe batia a porta, dizendo que não estava, o filho falou a verdade, “desobedecendo” ao Pai. A que ponto chegamos!

OBS: “…Há uma diferença entre obedecer e honrar. Obedecer significa agir de acordo com as instruções recebidas. Honrar significa respeitar e amar.

Os filhos não devem desobedecer a Deus aos obedecerem aos seus pais. Não se requer que os filhos adultos obedeçam a pais tiranos. Os filhos são obrigados a obedecer enquanto estiverem sob os cuidados dos pais, mas a responsabilidade de honrá-los é vitalícia.” (BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, com. Ef.6.1,2, p.1654).

– Dar a devida honra aos pais significa, também, amparar-lhes na dificuldade e, primordialmente, quando em idade avançada.

Este princípio, aliás, além de ser bíblico, é até, no Brasil, um dever constitucional, como se observa no artigo 229 da Constituição da República, que afirma que “… os filhos maiores têm o dever de ajudar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.

É triste vermos que, hoje em dia, muitas pessoas que se dizem servas de Deus abandonam seus pais idosos à própria mercê, delas não cuidando, nem com elas se importando, numa atitude de ingratidão que põe em dúvida a sua suposta conversão ao Senhor.

OBS: O Corão, livro sagrado dos islâmicos, em diversas passagens, afirma este dever dos filhos para com os pais. Assim, por exemplo: “…Dize

(ainda mais): Vinde, para que eu vos prescreva o que vosso Senhor vos vedou: Não Lhe atribuais parceiros; tratai com benevolência vossos pais; não sejais filicidas, por temor à miséria- Nós vos sustentaremos, tão bem quanto aos vossos filhos…” (6:151).

Os judeus, também, tinham este pensamento: “…Quando atingiam a maturidade, os filhos e as filhas tinham a obrigação de sustentar os pais, da melhor maneira que pudessem, quando isto tornasse necessário. Deveriam tomar conta deles com devoção na doença e na velhice.

‘Meu filho,’ escreveu Jesus Ben-Sira, o grande mestre de sabedoria de Jerusalém (c. do início do século II a.E.C.), ‘ajuda a teu pai na velhice, e não o aborreças enquanto ele for vivo, e tem paciência com ele se a mente dele fraquejar.

No entanto, nem todos os filhos e filhas judeus comportavam-se como modelos de devoção a seus pais nas horas das adversidades.

Esses réprobos aparecem ilustrados no dito popular judaico, cheio de amargura:’ um pai pode sustentar dez filhos, e no entanto dez filhos não podem sustentar um pai.’…” (AUSUBEL, Nathan. Relações familiares, esquemas tradicionais de. In: JUDAICA, v.6, p.712).

– A segunda regra constante da Bíblia Sagrada com respeito à relação entre pais e filhos é de que os pais devem ensinar a Palavra do Senhor a seus filhos (Dt.6:6-9). Moisés é bem incisivo ao afirmar que os pais deveriam intimar a Palavra do Senhor a seus filhos.

Intimar é mais do que ensinar, é mais do que orientar. Intimar é determinar, é falar com autoridade a doutrina.

Tanto assim é que, hoje em dia, usamos a expressão “intimar” sempre que uma autoridade chama alguém para que compareça em algum lugar.

É um chamado de quem tem autoridade. Dentro desta perspectiva, vemos que os pais somente se incumbirão deste dever se forem verdadeiros imitadores de Jesus.

O Senhor, ao proferir o sermão do monte, fê-lo com autoridade (Mt.7:29). Assim, os pais, ao ministrarem a Palavra do Senhor, devem não apenas demonstrar conhecimento racional, mas, sobretudo, devem, com sua vida, mostrar aos filhos um verdadeiro testemunho cristão.

A multidão ficou admirada com Jesus não pelo que Ele dissera, pois muito do que disse já tinha sido dito pelos escribas e pelos fariseus. Entretanto, os escribas e fariseus ensinavam uma coisa mas viviam outra totalmente diversa. Como será que nossos filhos têm nos visto ? Como escribas ou fariseus ou como Jesus ?

OBS: ” …Se a felicidade da família judaica girava em torno de uma relação harmoniosa entre marido e mulher, o objetivo principal era o de educar filhos retos e devotos(…).

Esse relacionamento entre a educação de filhos dignos, o estudo da Torah (no entender dos devotos, essa era a estrada principal para a virtude) e a recompensa final da vida eterna, formaram uma venerada tradição da religião judaica.(…).

Constitui um fato singular o de que em nenhuma outra religião se considera obrigação categórica dos pais assumir a responsabilidade primeira, como educadores, dos próprios filhos.

Entre os judeus, em tempos antigos, essa tarefa era considerada uma missão precípua e sagrada. ‘Abençoado é o filho que estudou Torah com o pai, e abençoado o pai que instruiu o filho !’, regozijava-se um antigo Sábio…” (AUSUBEL, Nathan. Relações familiares, esquemas tradicionais de. In: JUDAICA,v.6, p.708-9).

– Está aqui um dos maiores problemas que temos enfrentado nas famílias de crentes nos nossos dias. Os pais não têm um bom testemunho.

Assim, não se sentem à vontade para ensinarem seus filhos a Palavra do Senhor ou, quando o fazem, criam um ambiente de total falta de autoridade, já que não podem ensinar com autoridade.

Como dizer aos filhos que se deve orar e ler a Bíblia diariamente, se os pais não o fazem? Como ensinar seus filhos que devem ir à igreja assiduamente, se não o fazem? Como querer que os filhos tenham intimidade com o Senhor, se não lhes ensinam as passagens bíblicas? Instruir o menino no caminho em que deve andar, eis o que manda dizer a Bíblia Sagrada.

– Devemos dedicar parte de nosso dia à devoção individual, mas também devemos dedicar parte de nosso dia para a devoção familiar.

Como poderemos ser responsáveis diante de Deus com os nossos filhos, se não nos preocupamos em seu crescimento espiritual?

Há muitos crentes que, numa forma absurda, defendem que os filhos devem, primeiro, atingir a maturidade para que decidam se servirão a Deus, ou não. Este pensamento é um conceito antibíblico e que não pode ser compartilhado por um verdadeiro crente.

O crente ama o próximo como a si mesmo e como poderá deixar ao léu o seu próprio filho? Como considerar como possível que um filho seu, que nasceu num lar de um crente, possa ser mantido à margem da Palavra de Deus, à margem de um contacto mais íntimo com o Senhor? Evidentemente trata-se de uma astuta mentira satânica, a que muitos crentes têm dado crédito.

– Se quisermos ser valorosos instrumentos na mão do Senhor, temos de começar em nossas próprias famílias, junto a nossos filhos.

Não é por acaso que Deus inicia o ministério de muitos escolhidos Seus, na Bíblia Sagrada, com determinação para que este ou aquele nome fosse dado a um filho do vaso escolhido.

O gesto de dar nome a um filho é a primeira relação que se estabelece entre pai e filho e é neste primeiro ato da relação entre pai e filho que começa o ministério do homem de Deus (cfr. Gn.5:21; Is.8:3,4; Os.1:4-11).

No Novo Testamento, um dos requisitos para que sejam escolhidos ministros na casa de Deus é o seu comportamento junto aos filhos (I Tm.3:4,5), pois, como diz o texto sagrado, como alguém que não cuida bem de seus filhos, poderá cuidar bem da igreja de Deus?

– Mas, para que haja a instrução na Palavra do Senhor, é mister que se tenha comunicação entre pais e filhos.

Um dos grandes problemas que temos, nos nossos dias, é a falta de diálogo entre pais e filhos. Pais não se comunicam com os filhos, não há sequer uma conversa um pouco mais longa entre pais e filhos durante vários dias na semana.

O corre-corre do cotidiano agitado de nossas cidades, não raras vezes, faz com que pais e filhos não estejam em casa na maior parte dos dias e até não se vejam durante dias.

Entretanto, este estado de coisas deve ser driblado pelos pais, pois a falta de comunicação entre pais e filhos é uma brecha que impedirá que se erga um muro contra o pecado e o mal em volta de nossos filhos.

Devemos cuidar para que, pelo menos durante um período, a família possa conversar diariamente e dialogar, momento em que, senão diariamente, com uma frequência no mínimo semanal, seja realizado também um culto doméstico.

É preciso que cuidemos da estrutura espiritual de nossos filhos, mas devemos dialogar e ficar sabendo dos sentimentos, das preocupações, das lutas de cada um.

Esta falta de convívio no lar é uma necessidade indispensável para os filhos e, se em casa eles não conseguirem ter esta atenção e cuidado, começarão a procurá-lo fora de casa e, sem dúvida, encontrarão quem se disponha a dar-lhes afeto entre os agentes de Belial (más companhias, narcotraficantes, pessoas prostituídas e prostituidoras etc.).

– Mesmo dentro de casa, temos a possibilidade de vermos ser erodido o pouco tempo que teríamos para desfrutar de um convívio familiar.

Os meios de comunicação têm sido responsáveis diretos pela ausência de diálogo e comunicação entre pais e filhos.

Em vez de conversarem, de ensinarem a Palavra de Deus, muitos pais preferem dar atenção a programas de televisão ou a navegações na internet, de modo que a orientação bíblica e afetiva acaba sendo substituída pelas mensagens explícitas ou subliminares das programações destes meios de comunicação, mensagens estas que, via de regra, divulgam e estimulam condutas totalmente contrárias à Palavra do Senhor.

Sobre os meios de comunicação, falaremos em outra lição deste trimestre, mas devemos aqui enfocar que este tempo não pode ser desperdiçado.

Que os pais possam seguir os conselhos de Paulo e remir o tempo, porque os dias são maus (se já o eram no tempo de Paulo, que dirá hoje, em que sentimos que a vinda do Senhor se aproxima) (Ef.5:15,16; Cl.4:5).

– O culto doméstico deve ser uma reunião simples, com reverência, em que, numa mensagem que possa ser compreendida por todos, a família louve ao Senhor, ore e compartilhe de suas ansiedades e expectativas, agradecendo a Deus pela salvação e livramentos e pedindo a intervenção divina para a supressão das necessidades existentes.

Com a participação de todos, ouça uma mensagem do Senhor através de algum de seus membros e, depois, seja o culto encerrado. Parece algo muito simples, mas sua freqüência trará resultados que só no futuro os pais saberão.

Temos a certeza de que o adversário procurará sempre impedir a realização deste culto, mas, com fé no Senhor e discernimento, poderemos restaurar esta grande arma que temos à nossa disposição para a boa educação e formação de nossos filhos.

– A terceira regra que vemos no relacionamento dos pais com os filhos é a que os pais não devem provocar a ira a seus filhos (Ef.6:4).

Aqui temos um mandamento que inclui a questão da correção dos filhos pelos pais, questão importante e que deve ser analisada dentro de seus parâmetros bíblicos.

– Os gentios possuíam regras extremamente duras no que respeita à correção dos pais pelos filhos. Até mesmo os romanos, que foram o povo que mais avançou na Antiguidade em termos de direito, reconheciam ao pai o direito de vida e de morte sobre os filhos, ou seja, o pai era o senhor absoluto do filho.

A própria palavra “família” contém a idéia de posse e de propriedade, pois “famulus” era o escravo, o servo.

Assim, o filho não tinha melhor condição, em certo aspecto, do que o próprio escravo. Esta ideia acabou sendo herdada pela cultura originária de Roma, onde se incluem os povos latinos, como o nosso.

– Entretanto, a Bíblia Sagrada trazia um outro conceito quanto a este assunto. Os pais foram considerados, como já vimos supra, como pessoas que tinham deveres em relação aos filhos, algo que era impensável no ambiente gentílico.

Assim, embora tivessem autoridade sobre os filhos, os pais são concebidos, na Palavra de Deus, como alguém que age com autorização divina, a Quem incumbe, com exclusividade, todo o senhorio.

Em sendo assim, os pais devem atuar com respeito a Deus e debaixo dos princípios divinos. Não podem os pais decidir sobre a vida e a morte de seus filhos, portanto, nem tampouco atingir-lhes a integridade física, moral e psíquica.

Falamos isto, pois, há uns três anos atrás, ficamos constrangidos ao sermos interpelados por uma assistente social forense que nos pediu esclarecimentos sobre os ensinamentos das Assembleias de Deus com relação à educação de filhos, pois os últimos três casos graves de maus-tratos naquela cidade tinham sido praticados por pais que se diziam membros assíduos e participantes de nossa denominação.

OBS: “…O controle e a disciplina das crianças eram cuidadosamente moderados pelos suaves preceitos que os Sábios Rabínicos haviam ensinado.

Eles fornecem um estudo curioso em contraste com os regulamentos legais e os costumes dos pais em voga entre os romanos e seus contemporâneos.

Segundo a lei romana, o pai, enquanto estivesse vivo, continuava sendo o senhor absoluto das ações e dos destinos dos filhos. Entre os judeus, entretanto, o filho, depois de casado, ficava livre para levar uma vida independente, e, contanto que se conduzisse honestamente e não fosse culpado de desrespeito filial, não era responsável por seus atos perante o pai.

Desde os primeiros anos da Era Rabínica, os pais eram advertidos para que não fossem desmedidamente rigorosos com os filhos, especialmente ao impor disciplina aos filhos e às filhas mais velhos.

Era-lhes apontado que o castigo muitas vezes faz com que a criança fique amargurada e ressentida, e poderia provocar nela um comportamento agressivo, prejudicando assim a sua atitude e afetando-a para toda a vida.

Ao contrário, os pais eram aconselhados a demonstrar tolerância e a agir suave e pacientemente com uma criança rebelde ou desobediente, usando com ela da razão ao invés da força (…).

Tornou-se uma prática tradicional e bastante generalizada entre os judeus o corrigir os filhos não violentamente, com a vara, mas suavemente, com amor, e com a argumentação.

Duas máximas do Talmud tornaram-se linhas mestras para os pais: ‘ Não ameaces a uma criança; castiga-a ou perdoa-lhe… Se tens que bater em teu filho, faze-o com um cordão de sapatos’…” (AUSUBEL, Nathan. Relações familiares, esquemas tradicionais de.In: JUDAICA, v.6, p.710)

– Não ter o direito de ofender a integridade física, moral e psíquica dos filhos não significa, em absoluto, que o pai não tenha o direito de corrigir seu filho, direito, aliás, que é, antes de tudo, um dever.

A correção do filho é uma demonstração de amor do pai pelo filho (Hb.12:9). Não corrigir o filho, deixá-lo à própria sorte, como têm defendido muitos psicólogos e apologistas da libertinagem nos nossos dias, é algo impensável para quem tem responsabilidade com os filhos que trouxe ao mundo, como também compromisso com Deus.

– É preciso corrigir o filho, inclusive com uso moderado da força física, se necessário for, pois, como diz Salomão, ” não retires a disciplina da criança; porque, fustigando-a com a vara, nem por isso morrerá” (Pv.23:13).

Observe bem o que diz o texto sagrado: devemos fustigar a criança com a vara, ou seja, podemos corrigir a criança com uso de força física, mas desde que o façamos com moderação, com equilíbrio.

Fustigar significa bater com alguma coisa flexível, levemente, sem causar traumas, hematomas ou ferimentos.

A nossa lei civil, inclusive, diz que somente perde o poder familiar (ou seja, a autoridade sobre os filhos), o pai (ou mãe) que castigar imoderadamente o filho (artigo 1638, I do Código Civil), numa prova de que a idéia que tem sido divulgada (em especial pela mídia) de que não se pode sequer encostar num filho para fins de correção é uma mentira e mais um movimento em prol da desordem e da destruição da família.

O castigo equilibrado é possível e não constitui em qualquer ilegalidade perante os homens, bem como diante de Deus.

– Agora, para que um pai possa corrigir, é preciso que, antes, ele tenha ensinado seu filho. O que temos visto é que muitos pais têm corrigido seus filhos, têm castigado sem que, antes, tivessem ensinado seus filhos.

Os pais devem agir conforme os ensinamentos da Bíblia Sagrada e as próprias Escrituras indicam quais são os níveis que devem ser seguidos pelos pais, os mesmos níveis com os quais Deus nos ensina a seguir Sua vontade (cfr. II Tm.3:16).

Em primeiro lugar, os pais devem ensinar seus filhos. Ninguém nasce sabendo e precisamos ensinar nossos filhos o certo e o errado, o que agrada a Deus e o que não Lhe agrada.

Em segundo lugar, devemos redarguir nossos filhos, ou seja, caso não tenham compreendido o ensinamento dado, devemos repeti-lo, mormente nos dias em que vivemos em que o bem virou mal e o mal, bem (Is.5:20).

Embora ensinemos nossos filhos a Palavra de Deus, é certo que sofrerão eles a influência dos ambientes que estão a frequentar, o que os levará a tomar atitudes contrárias aos nossos ensinos. Devemos, então, redargui-los, ou seja, repetir os ensinamentos.

O terceiro nível é o da correção. Se houver, após a repetição dos ensinos, a repetição da atitude errônea, chega o momento do castigo, o momento da correção, com a utilização de medida que seja suficiente para a correção.

OBS: “…é responsabilidade dos pais dar aos filhos criação que os prepare para uma vida do agrado do Senhor. É a família, e não a igreja ou a Escola Dominical, que tem a principal responsabilidade do ensino bíblico e espiritual dos filhos. A igreja e a Escola Dominical apenas ajudam os pais no ensino dos filhos.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Pais e filhos.p.1839).

– Quando corrigirmos nossos filhos, não podemos, em hipótese alguma, demonstrar revolta, ódio, raiva ou ira. Se o pai estiver com este sentimento, não deve disciplinar seu filho naquele instante.

Deixe para um instante em que estes sentimentos e emoções deploráveis tenham passado, pois o objetivo da correção não é a vingança contra o filho, nem criar revolta, ódio ou amargura entre pai e filho.

É preciso que tudo seja feito com a finalidade de ensinar a virtude e o valor para o filho. Verdade é que a correção gera uma tristeza momentânea no filho(Hb.12:11), mas jamais podemos permitir que esta tristeza se torne em amargura e, muito menos, em raiz de amargura (Hb.12:15).

Tudo deve ser feito debaixo da orientação divina e com temperança, ou seja, domínio próprio, que é uma das qualidades do fruto do Espírito Santo (Gl.5:22).

OBS: ” …Na criação dos filhos, os pais não devem ter favoritismo; devem ajudar, como também corrigir e castigar somente faltas intencionais, e dedicar sua vida aos filhos, com amor compassivo, bondade, humildade, mansidão e paciência (Cl.3.12-41,21).…” (BÍBLIA DE ESTUDO
PENTECOSTAL.Pais e filhos.p.1839).

– É este o sentido da expressão bíblica “não provocar a ira aos filhos” que se encontra em Ef.6:4. Devemos agir de tal maneira que o nosso amor seja sentido pelo filho, ainda que inconscientemente.

Um dos grandes erros da educação dos antigos, movidos ainda pelo traço cultural remanescente da ideia de senhorio absoluto sobre o filho, era o de desconsiderar totalmente o filho, quase que desumanizá-lo, considerando-o como um saco de pancadas, como um local de descarga de frustrações. Isto somente gera ódio e revolta e, com tristeza, vemos que o comportamento de muitos crentes tem sido este, a afastar seus filhos da igreja.

Sem dúvida, este tem sido um dos principais fatores para explicar porque, sendo apenas 20%(vinte por cento) da população brasileira formada de evangélicos, os filhos de evangélicos representem praticamente 40% (quarenta por cento) da população carcerária ou de unidades de adolescentes infratores, uma triste estatística a demonstrar quanto temos de nos movimentar para cuidar de nossas famílias.

OBS: ” Os pais são responsáveis pela educação dos filhos. Deus tem os pais como responsáveis por educar os filhos – não os avós, nem escolas, nem o Estado, nem grupos para jovens, nem colegas ou amigos.

Embora cada um desses grupos possa influenciar as crianças, o dever final continua com os pais, e especialmente com o pai, a quem Deus nomeou como ‘chefe’ para comandar e servir a família. São necessárias duas coisas para se ensinar: uma atitude correta e uma base sólida.

Uma atmosfera permeada de críticas destrutivas, condenação, expectativas irreais, sarcasmo, intimidação e medo ‘provocarão a ira de uma criança’.

Em tal atmosfera, não pode ocorrer um ensinamento profundo. A alternativa positiva seria uma atmosfera cheia de estímulo, ternura, paciência, escuta, afeição e amor.

Em tal atmosfera, os pais podem construir nas vidas dos filhos a preciosa base do conhecimento de Deus.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. Dinâmica do Reino. Ordem familiar. Ef.6.4, p.1331). Este

mesmo princípio encontra-se reproduzido na Constituição brasileira, no artigo 229, que diz que “Os pais têm o dever de assistir, criar, educar os filhos menores…”, como também no Código Civil, que coloca como primeiro dever dos pais ” dirigir-lhes a criação e educação” (artigo 1634, inciso I).

– Outra regra do relacionamento entre pais e filhos é a que determina que os pais criem seus filhos na doutrina e admoestação do Senhor (Ef.6:4b).

Já falamos supra sobre a necessidade de os pais ensinarem a seus filhos os valores e os princípios estabelecidos por Deus nas Escrituras.

Mas, além de ensiná-los a Palavra de Deus (e só pode ensinar quem já aprendeu), é necessário que estejamos sempre prontos a guiar nossa conduta educativa na Palavra do Senhor. Devemos ensinar e corrigir conforme a Bíblia nos ensina.

Todas as nossas decisões em relação aos nossos filhos deve levar em conta, em primeiro lugar, o efeito que terá sobre a vida espiritual de nossos filhos aquela decisão.

Lamentavelmente, muitos têm feito enormes planos e se sacrificado sobremodo para dar a seus filhos o melhor que puderem em várias áreas de sua vida, mas estão totalmente despreocupados com a vida espiritual de seus filhos.

Sacrificam-se para saciar desejos consumistas de seus filhos, para deixá-los “na moda”, com os brinquedos de última geração, atualizados com os diversos modismos que surgem a cada instante, de estudarem nas melhores escolas, de terem os principais modos de lazer, mas não se preocupam com a vida espiritual de seus filhos.

Não buscam o reino de Deus e a sua justiça para seus filhos, em primeiro lugar (Mt.6:33), e o resultado é um grande fracasso espiritual que atrairá outros fracassos nos outros campos da vida.

É preciso que ponhamos Deus em primeiro lugar nas vidas de nossos filhos, para que eles possam optar por mantê-l’O nesta posição quando alcançarem a maturidade.

OBS: ” É obrigação solene dos pais (gr. pateres) dar aos filhos a instrução e a disciplina condizente com a formação cristã.

Os pais devem ser exemplos de vida e conduta cristãs, e se importar mais com a salvação dos filhos do que com seu emprego, profissão, trabalho na igreja ou posição social (cf. Sl.127.3).…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Pais e filhos. P.1839)

“…A importância primordial que o judaísmo rabínico deu à missão de educar filhos e filhas no caminho da virtude era exemplificada na seguinte parábola talmúdica.

Quando os israelitas estavam reunidos no Monte Sinai para receber a Torah das mãos de Moisés, Deus exigiu deles:

‘ Primeiro deveis oferecer-me uma garantia de que observareis os mandamentos da Torah’. Os israelitas responderam: ‘ Nossos pais garantirão isto por nós’. ‘Não!’, protestou Deus, ‘ vossos pais foram pecadores’.

‘Então os Profetas darão garantia por nós’, continuaram os israelitas. ‘Não!’, disse Deus, ‘eles, também, pecaram contra mim.’

Os israelitas ficaram desanimados. Timidamente sugeriram: ‘ Talvez os nossos filhos pudessem ser nossa garantia?’

“Vossos filhos!’, exclamou o Criador alegremente, ‘ a eles Eu aceitarei’. E então Ele deu a Torah para os israelitas…”
(AUSUBEL, Nathan. Relações familiares, esquemas tradicionais de. In: A Judaica, v.6, p.708-9)

– Todas estas regras que foram enunciadas, na verdade, podem ser resumidas em uma simples, mas profunda frase:

os pais devem amar seus filhos. Somente amando os filhos, os pais se disporão a cumprir as regras apresentadas pela Palavra de Deus no relacionamento entre pais e filhos.

Aqui não pode, em absoluto, ser adotada a regra do cientista político Nicolau Maquiavel, segundo a qual, o governante deve preferir ser temido a ser amado. Na família, o pai, para ser temido, deve, antes de tudo, amar e ser amado.

OBS: “A essência da educação cristã dos filhos consiste nisto: o pai voltar-se para o coração dos filhos, a fim de levar o coração dos filhos ao coração do Salvador .” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Pais e filhos. p.1839).

– Quando Deus Se apresenta como nosso Pai, sendo, como o é, amor (I Jo.4:8), está nos indicando que a relação entre pais e filhos deve ser, sobretudo, um relacionamento de amor. É preciso que os pais amem seus filhos e que os filhos amem seus pais. Sem amor, não é possível estabelecer-se uma relação de paternidade sadia e bem sucedida.

– Amar significa estar disposto a se privar do que for mais precioso em favor do filho. Assim como Deus demonstrou Seu grande amor enviando o que tinha de mais precioso (Jo.3:16), os pais devem estar dispostos a dar o melhor de si em favor de seus filhos.

Esta consideração é importante, pois, depois de Deus, devemos devotar nossa atenção e amor para a nossa família. Sim, a família tem prioridade na escala de valores de um servo de Deus, mesmo se ele for ministro ou obreiro.

Muitos homens de Deus têm maculado ou até perdido seus ministérios exatamente por não se conformarem a esta verdade bíblica.

Em prol da obra do Senhor, descuidaram de seus filhos e, hoje, toda sua prole está distanciada dos caminhos do Senhor e o obreiro com sua credibilidade e autoridade fortemente abaladas perante a igreja, pois, se não se governa bem a sua casa, como se governará bem a casa de Deus ? (II Tm.3:5).

OBS: ” Tenham tanto amor e desvelo pelos filhos, que estejam dispostos a consumir suas vidas como sacrifício ao Senhor, para que se aprofundem na fé e se cumpra nas suas vidas a vontade do Senhor.” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Pais e filhos. p.1840).

– Amar significa cuidar, acompanhar, consolar. Só quem ama é capaz de compartilhar, de cuidar, de acompanhar.

Por ser amor, Jesus prometeu estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos. Por ser amor, Deus é o nosso socorro bem presente na angústia.

Muitos pais, atualmente, são egoístas, individualistas, pensam só em si e, portanto, não estão dispostos a “perder seu tempo” com seus filhos. Deixam-nos ao léu, à sorte e aos cuidados de quem se compadecer dos pequenos.

Não gastam seu tempo para saber o que seus filhos estão aprendendo, com quem estão andando, o que estão fazendo, como está sendo seu desempenho escolar.

Como consequência disto, seus filhos são adotados pelas mensagens subliminares satanistas, pelos narcotraficantes, pelas gangues juvenis, pelas redes de prostituição.

Nem se pense que estejamos falando de pais mundanos, mas muitos crentes agem assim também. As lágrimas que vertem no futuro são o resultado desta falta de amor.

– Amar significa corrigir, como vimos supra. Como Deus nos corrige porque nos ama (Hb.12:6), assim também devemos corrigir nossos filhos se, realmente, temos amor por eles.

Aliás, a psicologia ensina-nos que, algumas vezes, o filho desobedece exatamente para que seja corrigido e, assim, sinta o amor dos pais.

– Amar significa demonstrar afeto. Deus, mesmo sendo Espírito, sempre procura demonstrar Seu amor para com o homem através de sensações e de experiências pelas quais o homem entenda o afeto que Deus tem para conosco.

Assim, quando Se apresentou ao profeta Elias, Deus manifestou-Se como uma voz mansa e delicada (I Rs.19:12), tendo o salmista utilizado a expressão “beijai o Filho” (Sl.2:12), numa clara atitude de demonstração de afetividade, que deve prevalecer nas relações entre Deus e o homem.

Pois bem, se há afeto numa relação espiritual, que não se dirá de uma relação humana entre pais e filhos? O afeto é uma característica que deve estar presente nas relações entre pais e filhos.

Não devemos ter receio em beijar, abraçar, dar colo ou ter outras demonstrações de afeto para com nossos filhos. A emoção e o sentimento devem sempre ser presentes e constantes no ambiente familiar.

– Amar significa buscar sempre o melhor para o filho. Só quem ama se esforça para trazer o melhor para seu filho. Lembremo-nos de que Jesus considerou que, mesmo sendo maus, os pais jamais iriam buscar o mal para seus filhos (Mt.7:9,11).

Pensemos, pois, se para Jesus assim deve se portar um pai ímpio, o que o Senhor não estará a esperar de um pai crente?

– A presença de amor no relacionamento com os filhos leva-nos, mais uma vez, à questão do desejo de ter filhos e das circunstâncias pelas quais forma estes filhos gerados.

É preciso conscientizarmos os jovens e adolescentes a respeito do que significa ter filhos, das consequências que os filhos trarão para a vida dos pais e de como nossas vidas devem ser pautados com compromissos e responsabilidades diante de Deus e dos homens.

O Brasil é o país em que se tem a maior média mundial de aumento de gravidezes precoces, segundo os dados das Nações Unidas.

A prostituição e a promiscuidade sexuais têm sido fatores decisivos para que atinjamos estes índices alarmantes e que trazem prejuízos enormes para toda a sociedade.

É uma realidade que tem avançado, inclusive, em lares de servos do Senhor. Que possamos aproveitar a ocasião desta lição para mobilizarmos nossas igrejas locais para esta grande ameaça que cerca a igreja e a nossa juventude.

– Amar significa interceder. Devemos interceder diante de Deus por nossos filhos em todos os momentos e instantes.

Devemos ensinar-lhes o valor da oração e da busca incessante da presença do Senhor. Se realmente amamos os nossos filhos, estaremos sempre por eles suplicando a Deus, a exemplo do que fazia o patriarca Jó (Jó 1:5).

II – CASUÍSTICA BÍBLICA: OS FILHOS DE ELI E OS FILHOS DE SAMUEL

– O comentarista traz dois casos bíblicos, muito próximos, tanto em características como no tempo, para ilustrar a importância da paternidade na vida dos filhos, que envolvem os filhos dois últimos juízes de Israel, Eli e Samuel.

– Não se explica como Eli se tornou sumo sacerdote, porquanto ele era descendente de Itamar, filho de Arão (Lv.10:12; I Cr.24:2; I Rs.2:27), e não de Eleazar, a quem havia sido cometido o sumo sacerdócio, inclusive reforçado por Deus de que desta linhagem se daria a perpetuidade do sumo sacerdócio (Nm.25:13). De qualquer modo, o fato é que esta assunção ao sumo sacerdócio era de aprovação divina (I Sm.2:30).

– Tem-se, pois, que Eli, numa época de grande fracasso espiritual, teve uma vida tão agradável ao Senhor que o próprio Deus lhe concedeu o sumo sacerdócio.

Para tanto, deveria ter sido um sacerdote exemplar e, pelo menos até o início do sumo sacerdócio, uma vida familiar exemplar, pois, como já temos visto ao longo do trimestre, uma vida familiar conforme a vontade de Deus é essencial para se agradar ao Senhor, como se verifica nas vidas de Noé e de Abraão, por exemplo.

– A excelência da vida de Eli realça-se, ainda mais, quando se verifica que, além de ser o sumo sacerdote, passou, também, a ser juiz de Israel, a julgar as causas do povo, ainda que vivesse o povo sob o jugo dos filisteus, que, após a morte de Sansão, haviam eliminado o único obstáculo que se fizera para continuidade do seu domínio sobre Israel.

– Entretanto, de pronto, já vemos que, apesar de toda esta bênção recebida da parte do Senhor, Eli demonstra ser uma pessoa que é, sobretudo, acomodada, tanto que, certa feita, com razão, alguém disse ser ele o típico obreiro do “ministério da cadeira”, pois sempre vemos Eli sentado em uma cadeira (I Sm.1:9; 4:13,18).

– Esta menção de três oportunidades em que Eli está sentado numa cadeira é a indicação de que se tratava de pessoa acomodada, sem iniciativa, o que, evidentemente, não pode ser uma característica de quem é guindado à liderança, pois o líder é “aquele que leva”, aquele que deve tomar a iniciativa e indicar a direção, o rumo àqueles que estão sob sua responsabilidade.

– Eli mostrou-se ser uma pessoa acomodada, sem iniciativa e, como tal, permitiu que o pecado e a abominação tomassem conta de sua família, do tabernáculo e, por fim, de todo o Israel.

– Eli preparou seus filhos para o sacerdócio por força da própria determinação divina e, como afirma Matthew Henry, “…Eli parece ter sido um homem muito bom.

Nada parece sugerir o contrário. Sem dúvida, ele havia dado uma boa educação aos filhos, dando- lhes boas instruções, servindo de exemplo e levantando muitas orações em favor deles.

E, mesmo assim, quando adultos, eles se tornaram filhos de Belial, homens maus e profanos e completos libertinos: Eles não conheciam o SENHOR.

Eles somente tinham um conhecimento teórico de Deus e de sua lei, uma forma da ciência (Rm 2.20); no entanto, visto que sua prática não condizia com a teoria, eles são conhecidos como totalmente ignorantes de Deus.

Eles viviam como se não tivessem conhecimento algum de Deus.…” (Comentários bíblicos completos – Antigo Testamento:- Livros Históricos Josué a Ester. Trad. de Valdemar Kroker, Haroldo Janzen e Degmar Ribas Júnior, p.224).

– Entretanto, a grande falha de Eli estava, precisamente, no comodismo. Apesar de ter ensinado os filhos a serem sacerdotes, não os repreendeu quando eles começaram a agir mal no exercício do sacerdócio.

– Os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias (não confundir com o filho de Eleazar), eram filhos de Belial e não conheciam o Senhor (I Sm.2:12).

– A expressão “filhos de Belial” é muito forte, que aparece poucas vezes no texto sagrado, sempre se referindo a pessoas cruéis e más, pessoas malignas, que se opõem a Deus e à Sua obra.

Em Na.1:11, por exemplo, alguém que pensa mal contra o Senhor é chamado de “conselheiro de Belial”, tendo o apóstolo Paulo dito que não há concórdia entre Cristo e Belial, entre o fiel e o infiel (II Co.6:15).

– “Belial”, em hebraico, “blîyaʿal” (לעילב֑), “…sem proveito, inutilidade; (por extensão) destruição, iniquidade (…) mal, perverso, (homens) ímpios, malvados. Susbstantivo masculino de origem desconhecida que significa inutilidade.

Muitas vezes, um forte componente moral no contexto sugere a condição de não servir para nada e, por essa razão, expressa o conceito de iniquidade…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 1100, p.1557).

– O que se nota é que os filhos de Eli levaram ao limite a irrelevância que a liderança sacerdotal foi adquirindo pouco a pouco, na medida em que deixou de ensinar ao povo a lei do Senhor e a construir uma religiosidade automática em torno do serviço realizado no tabernáculo em Siló, enquanto o povo, geração após geração, ia se aprofundando no pecado e praticando a idolatria e tudo quanto se lhe seguia (como a imoralidade sexual).

– Agora, com os filhos de Eli, não havia apenas a indiferença e a irrelevância, mas a própria prática do mal.

Como afirma o comentarista bíblico Matthew Henry (1662-1714):

“…Eles não foram servir a outros deuses, como faziam aqueles que moravam longe do altar, porque receberam sua prosperidade e dignidade da casa de Deus; mas, o que era pior, eles conduziam o serviço de Deus como se Ele fosse um dos deuses miseráveis dos pagãos.

E difícil afirmar o que causa maior desonra para Deus: a idolatria ou a profanação, especialmente, a profanação dos sacerdotes. Vemos a maldade dos filhos de Eli com muita tristeza.…”(Comentário bíblico – Antigo Testamento: Josué a Ester edição completa. Trad de Waldemar Kroker et alii, p.224).

– Eles não tinham qualquer valor espiritual, eram inúteis, tornaram-se oponentes da obra da Deus, embora fossem sacerdotes e tivessem sido instruídos em toda a lei.

Não fizeram como o levita Jônatas, que se tornou o sacerdote idólatra dos danitas (Jz.18:30), que abertamente adotou a idolatria para ter vantagens pecuniárias e sociais, mas desvirtuaram o culto a Deus, para atingir o mesmo objetivo.

– Consideramos que os que se apresentam como servos do Senhor única e exclusivamente para se oporem a Deus são agentes malignos duplamente mais perigosos que os que abertamente combatem o Senhor e Sua obra, porque, a uma, desempenham as duas características do diabo, que é a de homicida e mentiroso (Jo.8:44). Quem combate abertamente, revela-se apenas homicida, mas quem se faz de servo do Senhor e combate o bem é mentiroso e homicida.

– Os filhos de Eli, embora tivessem sido formados na lei do Senhor, em razão de sua linhagem sacerdotal, em momento algum demonstraram ser tementes a Deus, tanto que o texto sagrado diz que “não conheciam ao Senhor”.

Tinham tão somente conhecimento teórico, haviam apenas assimilado no intelecto todas as disposições concernentes aos ritos e estatutos, mas não tinham qualquer experiência com Deus. Lembremos que “conhecer” para os israelitas é “ter intimidade”, “ter experiência”, algo que eles não possuíam, apesar da posição que ocupavam.

– E, em seu comodismo, Eli nada fez para mudar esta situação, não repreendendo os seus filhos (I Sm.2:22-25), limitando-se a, depois de notar um mal-estar entre o povo por causa de tal comportamento, fazer uma tímida observação, que em nada alterou o comportamento de seus filhos.

– Esta leniência com erro, esta tolerância com o pecado tem sido a tônica de muitos pais na atualidade, que, inclusive, estão completamente moldados aos princípios mundanos que são contrários à autoridade e que incentivam e estimulam a rebelião dos filhos contra os pais.

– Muitos se limitam, a exemplo de Eli, a fazer ponderações aos filhos, procurando dissuadi-los, de modo tímido, de suas práticas pecaminosas, mas nada fazem de efetivo para tanto.

Eli, na condição de sumo sacerdote e de juiz, poderia, muito bem, tomar atitudes contra seus filhos pelos pecados cometidos, mas se acomodou, nada fez.

– Esta conduta foi severamente repreendida pelo Senhor que, em meio a um tempo em que praticamente inexistiam profetas, levantou um profeta precisamente para, publicamente, mostrar o Seu desagrado para com Eli (I Sm.2:27-36).

– A mensagem profética entregada a Eli mostra bem o que representa para Deus a falta de disciplina, a falta de efetivo exercício da autoridade dos pais sobre os filhos.

O Senhor disse que Eli dava coices contra o sacrifício e contra a oferta de manjares. Embora fossem os seus filhos que vilipendiavam os sacrifícios e ofertas, locupletando-se com elas (Cf. I Sm.2:12-17), o Senhor imputava a culpa a Eli que, sabendo de tudo aquilo, nada fazia e aqui nos lembramos do que diz o apóstolo Paulo que são culpados tanto os que pecam quanto os que consentem com o pecado (Rm.1:32).

– Em continuidade, o profeta levantado pelo Senhor disse a Eli que ele honrava mais os filhos do que a Deus.

Eis aqui o cerne de todo o mal cometido por Eli. Na condição de sumo sacerdote e juiz, Eli deveria fazer valer a vontade divina, fazer cumprir a lei e libertar o povo do pecado. Entretanto, preferiu deixar os seus filhos impunes, permitir que seus filhos fizessem o que quisessem.

– Temos aqui o chamado “pecado do respeito humano” em que tememos mais ao homem do que a Deus. Eli não queria “magoar”, “fazer mal” aos filhos, mas, para fazer isso, não teve qualquer receio de “magoar” e “desagradar” a Deus.

– Quando alguém age desta maneira, está simplesmente se pondo no lugar de Deus, rebelando-se contra o Senhor, porquanto não se tem qualquer temor ao Criador, modificando, a seu bel prazer, os mandamentos divinos para favorecer alguém que lhe é querido. Esquece-se que, na família, a cabeça é o próprio Deus (I Co.11:3).

– Eli, em primeiro lugar, como pai, deveria corrigir seus filhos. Não poderia permitir que agissem mal, contrariando a lei do Senhor. A lei impunha que o filho desobediente fosse castigado pelos pais (Dt.21:18) e o proverbista diz que o castigo deveria ser mediante o fustigar da vara (Pv.23:13,14), gesto que faria com que o filho tivesse a sua alma livre do inferno.

– Não é por outro motivo, aliás, que o escritor aos hebreus diz que o castigo é uma prova de amor (Hb.12:5-11), pois, com ele, os pais demonstram querer que o filho não sofra a perdição eterna.

– Os pais israelitas, quando contrariados por seus filhos, que não dessem ouvidos às suas repreensões, mesmo depois do castigo, deveriam levar o caso aos anciãos da cidade (Dt.21:19-21) e, verificando-se ser este mesmo o caso, deveriam ser apedrejados pelos habitantes da cidade.

– Ora, se este era o poder de um pai, que não poderia fazer Eli, que era o sumo sacerdote e juiz de Israel? Ainda mais que os pecados cometidos pelos filhos atentavam contra o próprio culto a Deus, causando escândalo entre o povo (Cf. I Sm.2:23,24), tanto que havia nítido mal-estar entre os israelitas que “obrigaram” Eli a pelo menos comentar a situação com os filhos?

– Eli tinha plena consciência da gravidade dos atos praticados pelos seus filhos (I Sm.2:25), mas não tomou qualquer atitude, consentindo assim com o que era feito. Por isso, foi duramente repreendido pelo Senhor (I Sm.2:27-30), porque, a exemplo de seus filhos, foi considerado como alguém que havia desprezado o Senhor.

– Por não ter cumprido o seu papel de pai, Eli acabou fazendo com que ele e seus filhos fossem condenados à morte pelo próprio Deus, bem como que sua família fosse destituída do sumo sacerdócio, passando a depender da caridade pública para sobreviver (I Sm.2:31-36).

– Eli, diante de tal mensagem, não mudou. Mesmo após esta dura mensagem profética, manteve-se inerte e isto fez com que o Senhor trouxesse nova mensagem, desta feita, por intermédio do jovem Samuel, que estava ali a servir já há algum tempo, dedicado que fora ao Senhor por sua mãe Ana.

– O Senhor repete a dura mensagem, censurando a inação de Eli mesmo depois da palavra profética (I Sm.3:11-15). Samuel recebe sua primeira mensagem a respeito da necessidade de se repreender e castigar os filhos, de se exercer a autoridade paterna para evitar a perdição dos filhos.

– Eli usa de sua autoridade para que Samuel lhe conte a mensagem que recebera da parte do Senhor, que o jovem, evidentemente, tinha receio de falar-lhe (I Sm.3:17) e Eli, após ouvir a nova mensagem, mantém-se irredutível, não toma qualquer providência, resignadamente aceitando a punição (I Sm.3:18).

– O resultado é que tudo o que foi predito se cumpriu. Eli, Hofni e Fineias morreram na mesma data (I Sm.4:11,17,18) e, cerca de 120 anos depois, a sua descendência foi extirpada do sumo sacerdócio, com a deposição e exílio de Abiatar, que era trineto de Eli (I Sm.4:21; 14:3; 21:9; 22:20), por ordem do rei Salomão (I Rs.2:25-27).

– Os pais são postos para serem os representantes de Deus no lar, por isso são dotados de autoridade e esta autoridade deve ser, sim, exercida sempre com o propósito de trazer vida aos filhos, fazendo-os observar o princípio da autoridade e, por conseguinte, sempre ser tementes ao Senhor.

– Quando os pais não exercem sua autoridade e não levam, em consequência, os filhos a adorar a Deus, contribuem para que eles se percam e trazem, por isso, não só a perdição eterna de seus filhos, mas a própria destruição da descendência.

– A primeira profecia de Samuel foi, precisamente, a reafirmação divina a respeito da rejeição da casa de Eli e sua destituição do sumo sacerdócio e até mesmo do sacerdócio.

Portanto, este fato deve ter tido grande impacto na vida do jovem Samuel, notadamente quando viu ele se cumprir o vaticínio da morte, num mesmo dia, tanto de Hofini quanto de Fineias.

– Samuel, também, foi testemunha da destruição do tabernáculo em Siló, resultado da proliferação do pecado, especialmente intensificada pela omissão de Eli e pelos atos pecaminosos de Hofni e Fineias (Sl.78:56-64).

– Escolhido por Deus para ser o primeiro de uma série de profetas que, regularmente, estaria a conclamar Israel ao arrependimento (I Sm.3:202,21; At.3:24), o que durou até Malaquias, Samuel foi o protagonista de um avivamento espiritual (I Sm.7:3-14).

– Samuel tornou-se juiz de Israel (I Sm.7:15), mas, quando envelheceu, tendo percebido que Israel se mantivera de modo sofrível desde a morte de Josué (o que se mostra bem no livro de Juízes, cuja autoria a tradição judaica atribui ao próprio Samuel) por dois fatores:

a falta da educação doutrinária dos filhos pelos pais (Cf. Jz.2:10-13) e a falta de continuidade entre os períodos dos juízes, pois, quando morria um juiz, não se dava a imediata sucessão, pois Deus só levantava o juiz quando se instituía uma opressão de um povo estrangeiro, precisamente por causa do pecado do povo (Cf. Jz.2:18,19).

– Para cuidar do primeiro problema, Samuel criou as escolas de profetas, que passaram a ser, dali por diante, o principal meio de conhecimento da lei no meio do povo (I Sm.10:5; 19:20).

– Para cuidar do segundo, achando-se já velho, Samuel resolveu constituir a seus dois filhos, Joel e Abia como juízes sobre Israel (I Smn.8:1), entendendo que, quando falecesse, já havendo juízes sobre a terra não se teria o desvio espiritual que havia caracterizado Israel desde a morte de Josué.

– Entretanto, os dois filhos de Samuel não poderiam ser juízes, pelo simples fato de que quem levantava juízes era o Senhor (Jz.2:16). Samuel, assim, inadvertidamente, sem consultar a Deus, achou ter o direito de pôr os seus filhos como juízes sobre Israel.

– Temos aqui um verdadeiro “abuso de autoridade paterna”. Samuel, valendo-se da sua condição de juiz e de profeta, pôs seus filhos como juízes, o que, evidentemente, não poderia fazê-lo, por ser pai deles.

Entretanto, se a autoridade paterna deve ser observada, não pode ela transpor os limites da família e querer se estabelecer perante a sociedade ou o povo de Deus, a menos que assim se reconheça no ambiente social ou o próprio Deus o determine.

– Assim, o sacerdócio, por determinação divina, era da família de Arão, de modo que se fazia a sucessão geração após geração e, mesmo assim, como vemos no caso de Eli, o Senhor, quando o quis, alterou isto.

– De igual maneira, quando se instituiu a monarquia, foi ela hereditária, tanto que a casa de Davi foi posta sobre todo o Israel, depois o próprio Deus a diminuiu para o reino de Judá, e para sempre, ainda que tenha perdido a soberania, por conta dos pecados do povo, algo que somente se restabelecerá no reino milenial de Cristo.

– Se, porém, Deus não o estabelecer, não podem os pais querer que os filhos automaticamente os sucedam no comando do povo de Deus, como, lamentavelmente, temos visto ocorrer cada vez mais frequentemente nos meios eclesiásticos, o que costumamos denominar de “síndrome de Samuel”.

– Ao agir desta maneira, Samuel, que muito certamente educara seus filhos na doutrina e admoestação do Senhor, não só porque viu o exemplo de Eli, que lhe causou grande impacto, como dissemos, mas também porque, por inspiração do Espírito Santo, como vemos no livro dos Juízes, viu nesta falta de educação doutrinária no lar, de ensino da lei em casa, a causa das mazelas sofridas por Israel no tempo dos juízes, bem ensinou Joel e Abia.

– Entretanto, ao agir com “abuso de autoridade”, desfez a própria autoridade, pois os filhos sentiram-se poderosos, tiveram o despertamento de um sentimento de estarem acima de tudo e de todos, pois haviam sido postos pelo próprio pai, profeta e juiz, na condição de juízes sobre todo o Israel.

– Desta maneira, começaram a agir sem limites, sem freios, porque não tinham temor algum a Deus, pois haviam sido postos nesta posição independentemente da vontade divina.

Criaram uma falsa sensação de que haviam alcançado um “status” pela sua própria condição, por serem “filhos de Samuel” e que, desta maneira, nada poderia lhes prejudicar ou fazer mal.

– Esta “sensação de poder”, lamentavelmente, contamina a muitos, que esquecem que toda autoridade é constituída por Deus (Cf. Rm.13:1).

Lembramos bem do exemplo elucidativo de ]Nabucodonosor que, por se achar poderoso, acabou por comer capim por sete anos para que aprendesse que o Altíssimo tem domínio sobre os reinos dos homens e os dá a quem quer (Dn.4:32).

– Joel e Abia, então, “picados pela mosca azul”, também praticaram “abuso de autoridade” e se inclinaram à avareza e tomaram presentes, pervertendo o juízo (I Sm.8:3).

OBS: O poema Mosca Azul, de Machado de Assis, conta a história de um plebeu que, ao deparar-se com uma curiosa mosca azul, com “asas de ouro e granada”, deslumbra-se e passa a sonhar com poder e riquezas, ilusão que acaba comprometendo sua sanidade e seu senso de realidade.

– Samuel, que havia sido tão atrevido em constituir seus filhos como juízes, omitiu-se, a exemplo do que fizera Eli. Repetiu o erro daquele a quem havia antecedido e a quem havia transmitido mensagem de juízo da parte de Deus.

– Samuel também cometeu o pecado do “respeito humano”, não fazendo seus filhos cessar estes desmandos, não tomando atitude alguma para repreendê-los ou censurá-los.

O resultado foi a revolta generalizada do povo que, por meio dos anciãos, acabaram por exigir do velho profeta que lhes desse um rei (I Sm.8:4).

– Os anciãos de Israel fizeram o juiz e profeta, tão reconhecido no país, passar vergonha ao dizerem em alto e bom som que os seus filhos eram perversos e ele, sem qualquer autoridade, não pôde nada dizer, a não ir aos pés do Senhor, pois não pareceu bem que os israelitas quisessem ser como as outras nações tendo um rei.

– Realmente, não era algo bom, Deus bem o demonstrou quando Samuel trouxe o estatuto do reino (I Sm.12:17-22)., mas tudo tinha sido resultado do inadequado comportamento de Samuel como pai. Veja, amados irmãos, como uma má conduta de um pai de família pode comprometer todo o povo de Deus. Tomemos cuidado, amados irmãos.

– Samuel ainda lamentou a Deus, dizendo-se rejeitado, mas o Senhor respondeu a Samuel que quem estava sendo rejeitado não era Samuel, mas, sim, o próprio Deus (I Sm.8:7), mas o primeiro a rejeitar a Deus fora o próprio Samuel, que se pudera no lugar do Senhor a constituir seus filhos como juízes.

– Com Samuel, portanto, vemos que o “abuso de autoridade paterna” também causa grandes malefícios, não só a omissão.

Não podemos nos desviar nem para a direita, nem para esquerda, mas nos conduzirmos segundo a Palavra de Deus. Que os pais mostrem toda sua autoridade aos filhos, mas nunca se esqueçam de que a cabeça de todo lar é o próprio Deus. Amém!

 

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/9195-licao-8-a-importancia-da-paternidade-na-vida-dos-filhos-i

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