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Lição 1 – Levítico, adoração e serviço ao Senhor

ESBOÇO Nº 1

  1. A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Neste trimestre, teremos mais um trimestre bíblico, desta feira estudando o livro de Levítico.

A escolha do Setor de Educação Cristã da Casa Publicadora das Assembleias de Deus é, uma vez mais, oportuna, pois estaremos a estudar o “livro da santidade”, o “livro do culto”, pois Levítico é, dos livros da lei, o que mais se ocupa dos rituais e cerimoniais do culto da dispensação da lei.

Por isso mesmo, é, sem dúvida, o livro de menor índice de leitura e o de mais difícil compreensão do Pentateuco, havendo, mesmo, quem, diante do seu conteúdo altamente cerimonial, entenda que nada se teria de aprender com a sua leitura, já que estamos na dispensação da graça.

      Nada mais equivocado, porém. Como disse o escritor aos hebreus, a lei é a sombra dos bens futuros (Hb.10:1) e todos os rituais e regras constantes do livro de Levítico são mandamentos que indicam os princípios divinos para a santidade, princípios estes que, por serem provenientes do Senhor, são imutáveis e válidos em todos os tempos e em todas as dispensações.

       Quando estudamos o livro de Levítico, portanto, estamos a aprender o que é a santidade, o que significa ser santo e isto é essencial para os servos do Senhor, uma vez que, sem a santificação, ninguém verá o Senhor (Hb.12:14), tanto assim que o próprio Senhor Jesus, ao interceder por nós em Sua oração sacerdotal, pediu pela nossa santificação (Jo.17:17).

        A capa da revista do trimestre mostra alguém lavando as mãos, a nos remeter, precisamente, à santidade, pois o lavar mãos é uma atitude de purificação, precisamente o que buscava fazer todo o conjunto de mandamentos constantes do livro de Levítico, pois não se poderia adorar ao Senhor nem tampouco Lhe prestar culto se não se estivesse em santidade, se não se estivesse puro.

        Daí porque se dizer que todo o livro de Levítico se resume numa expressão que é repetida por três vezes no terceiro livro da Bíblia Sagrada (Lv.11:44,45; 20:7): “Sede santos, porque Eu, o Senhor vosso Deus, sou santo”.

E esta santidade não está adstrita à dispensação da lei, pois é repetida pelo apóstolo Pedro para a Igreja em I Pe.1:15,16.

         Esta “lavagem da água”, que era indispensável para que o sacerdote pudesse ministrar (Ex.30:17-21) simboliza a “lavagem da água” produzida pela salvação em Cristo Jesus, o “nascimento da água” (Jo.3:5), a santificação pela Palavra de Deus (Ef.5:26), a regeneração e a renovação do Espírito Santo (Tt.3:5).

         O papel da água como purificação e santificação cerimonial e ritual foi extremamente exacerbado ao longo da história de Israel, atingindo seu clímax no farisaísmo, onde havia uma verdadeira obsessão pela purificação por meio da água (Jo.2:6), que foi combatida pelo Senhor Jesus, uma vez que o que se tinha de buscar não era uma purificação meramente exterior, mas, sim, uma purificação interior, a purificação do coração (Mt.15:1-20).

Por isso mesmo, o apóstolo Paulo afirma que a santificação tem seu nascedouro no espírito, passando pela alma e, só então, atingindo o corpo (I Ts.5:23), como também Tiago diz que a “limpeza de mãos” é resultado de uma anterior  aproximação a Deus e fruto de uma purificação do coração (Tg.4:8).                 

Após uma lição introdutória, em que teremos uma visão geral sobre o livro de Levítico (lição 1), temos um primeiro bloco, em que estudaremos os principais parâmetros do culto levítico (lições 2 a 6) e, depois, teremos a aplicação propriamente dita deste culto à vida cristã (lições 7 a 14).

O comentarista do trimestre é o pastor Claudionor Pereira de Andrade, consultor teológico da Casa Publicadora das Assembleias de Deus.

  1. B) LIÇÃO Nº 1 – LEVÍTICO, ADORAÇÃO E SERVIÇO AO SENHOR

    Levítico é o livro da santidade no Antigo Testamento.

INTRODUÇÃO

– Teremos um trimestre bíblico, em que estudaremos o livro de Levítico.

– O estudo do livro de Levítico faz-nos entender o que é santidade.

I – POR QUE ESTUDAR O LIVRO DE LEVÍTICO?

– Neste trimestre, estudaremos o livro de Levítico, o terceiro livro do Pentateuco, escrito por Moisés e que é um verdadeiro “código de santidade”, “código de culto”, visto que o livro é, essencialmente, o conjunto de regras para cerimônias e rituais do culto divino na dispensação da lei.

– Exatamente por ser um livro que contém, com todas as suas minúcias, todos os rituais das cerimônias de culto da lei, tais como os tipos de sacrifícios e as normas relacionadas com a santidade e com as coisas sagradas, é, via de regra, o livro que é menos lido e compreendido de todos os livros da lei, havendo, mesmo, quem entenda que sua leitura seria inócua ou dispensável, já que diz respeito à chamada “lei cerimonial”, que não está mais em vigor desde a morte e ressurreição de Cristo Jesus.

– No entanto, tal pensamento não tem qualquer base bíblica, pois, como dizem as próprias Escrituras, “tudo que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança” (Rm.15:4) e, quando diz “tudo”, é “tudo mesmo”, ou seja, abrange, também, os mandamentos concernentes ao culto da antiga aliança que estão no livro de Levítico.

– Mas, como entender isto, já que a “lei cerimonial” não deve mais ser seguida na dispensação da graça? Simples. Como afirma o escritor aos hebreus, tem “a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas” (Hb.10:1), de modo que, embora não seja mais o caso de observar os rituais e cerimônias constantes do livro de Levítico, sua leitura é indispensável para que possamos entender os princípios divinos que estão por detrás destes rituais e cerimônias, que saibamos o que significa ser santo, pois a santidade não é algo que se requeria apenas na dispensação da lei, mas algo que devemos perseguir incansavelmente, porquanto Deus é santo e somente os que forem santos poderão com Ele conviver para sempre.

– Talvez como em nenhum outro livro das Escrituras Sagradas, a leitura de Levítico deve ser feita sob o aspecto da tipologia bíblica. Mas o que é tipologia bíblica? É o estudo do tipo bíblico. Mas, o que vem a ser tipo?

– Tipo vem da palavra grega “typos” (τύπος), cujo significado é  marca de um golpe; impressão, a marca feita com um cunho (daí o sentido de figura, imagem); modelo ou padrão. Na Bíblia,  tem-se a correspondência entre duas situações históricas (Adão e Cristo, por exemplo, como em Rm.5:12-21) ou a correspondência entre o padrão celestial e seu equivalente terrestre (v.g., o original divino por trás do tabernáculo celeste – At.7:44; Hb.8:5; 9:24).

– Podem ser tipos pessoas (Adão, Melquisedeque), eventos (dilúvio, serpente de bronze, libertação de Israel no Egito), instituições (festas), objetos (altar de holocaustos, arca) e  ofícios (rei, profeta, sacerdote).

 “A tipologia bíblica, portanto, envolve uma correspondência análoga em que eventos, pessoas e lugares anteriores na história da salvação tornam-se padrões por meio dos quais eventos posteriores, pessoas, etc. são interpretados” (G. R. Osborne).

“…os tipos são um conjunto de quadros, diretamente da mão de Deus pelo qual Ele ensinaria para o Seu povo coisas incompreensíveis.” (O que é um tipo? Disponível em: http://www.jesusnet.org.br/tabernaculo/tipologia.htm Acesso em 19 jun. 2009).

– Pois bem, quando adotamos este viés na leitura de Levítico, podemos, então, entender a riqueza do seu estudo, ainda mais quando sabemos que a santificação é um elemento indispensável para a vida cristã, visto que devemos manter o estado de santidade em que fomos postos pelo Senhor quando de nossa salvação, pois para isto fomos salvos (Ef.1:4; Cl.1:21,22; I Ts.3:13; I Pe.1:15,16).

– Temos de ser santos, porque Deus é santo (Lv.11:44,45; 19:2; 20:7; I Pe.1:15,16). A santidade é a qualidade divina que é incessantemente proclamada diante de Seu trono (Is.6:3) e, sem ela, jamais poderemos contemplar o Senhor (Hb.12:14).

É uma qualidade tão necessária e cara ao servo de Deus, que o próprio Senhor Jesus, intercedendo por nós em Sua oração, pediu ao Pai que fôssemos santificados (Jo.17:17) e, por isso mesmo, trata-se de tema que tem de ter prioridade em nossa meditação nas Escrituras e, para tanto, o livro de Levítico se apresenta como uma porção particularmente importante.

– Vivemos dias difíceis e um dos temas que mais tem desaparecido dos púlpitos é a santificação, a necessidade de mantermos uma vida santa, até porque, nestes dias trabalhosos, muitos estarão a procurar doutores conforme as suas próprias concupiscências, tendo comichão nos ouvidos, não suportando a sã doutrina (II Tm.4:3).

Daí porque o estudo do livro de Levítico se afigura como oportuno e necessário, para que, através dele, aprendamos o que é a santidade e como podemos obtê-la, já que as marcas do culto levítico indicam como deve ser o culto da nova aliança, como devemos adorar e servir ao Senhor.

II – O LIVRO DE LEVÍTICO

– O livro de Levítico é o terceiro livro do Pentateuco. Seu nome em hebraico é “Vayicrá” (ויקךא), que significa “e chamou”, que são as primeiras palavras do livro (Lv.1:1).

Na Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento, a primeira tradução do texto bíblico, feito, segundo a tradição, por setenta escribas, daí o nome “septuaginta”, que vem de “setenta”), recebeu o título de “Levítico”, precisamente porque trata dos rituais e das cerimônias que deveriam ser realizados pelos sacerdotes no culto a Deus, sacerdotes estes que eram todos descendentes de Arão, da tribo de Levi, que foi escolhida para ser a tribo sacerdotal após o episódio do bezerro de ouro, por terem “ficado do lado do Senhor” (Ex.32:25-29; Dt.10:8,9).

– Os doutores da lei denominaram o livro de “Sefer Torat Cohanim”, ou seja, o “Livro da Lei dos Sacerdotes”, exatamente para demonstrar uma inexatidão com relação ao título dado pela Septuaginta, visto que o livro trata mais pormenorizadamente da ação dos sacerdotes, só esporadicamente falando dos levitas, vez que nem todo levita é sacerdote, embora todo sacerdote seja levita.

– O livro de Levítico é um livro essencialmente legislativo, por isso terem os doutores da lei dito que ele era “repleto de leis”, em virtude de ele conter mais informações de caráter legal e menos narrativa do que qualquer outro dos livros do Pentateuco, motivo por que, desde os tempos dos israelitas, ter sido considerado o “mais difícil dos livros de Moisés”.

– O fato de ter sido posto logo após o livro de Êxodo e antes do livro de Números, ou seja, após a inauguração do tabernáculo e antes do início da saída do povo do sopé do monte Sinai, para dar início à jornada em direção à Terra Prometida, é um fator que indica ter tido Moisés recebido toda a revelação do código da santidade depois que havia descido do monte com as segundas tábuas da lei, antes da inauguração do tabernáculo pelo povo. 

– Entendem alguns, entretanto, que a revelação se deu quando Moisés estava no monte, para onde subiu após o episódio do bezerro de ouro, que é a posição que parece ser seguida pelos cronologistas bíblicos Frank Klassen e Edward Reese em sua Bíblia em ordem cronológica.

– No entanto, o texto bíblico diz que Deus chamou Moisés e falou com ele da tenda da congregação (Lv.1:1), tenda esta que foi erguida por Moisés ao descer do monte com as segundas tábuas (Ex.33:710), razão pela qual entendemos que tenha sido nesta oportunidade que se deu a revelação do livro de Levítico, que foi reduzido a escrito pelo próprio Moisés, isto por volta do ano 1.462 a.C.

Além do mais, ilógico imaginar que o tabernáculo fosse inaugurado antes que o Senhor determinasse, minudentemente, como se daria o culto.

– Tal circunstância, ainda, é reforçada pelo fato de, com o episódio do bezerro de ouro, ter se tornado impossível que Israel exercesse o papel de reino sacerdotal que assumira no pacto firmado no Sinai (Ex.19:5-8), de sorte que deveriam ser, então, devidamente regulamentados os rituais e cerimônias que serviriam apenas de sombra para a realidade espiritual que fora postergada para a “posteridade de Abraão” (Gl.3:16-19).

– O livro de Levítico foi escrito por Moisés, como deixa claríssimo o livro, que, logo em seu início, afirma que toda a regulamentação do culto divino foi ditada por Deus a Moisés que, assim, apenas reduziu a escrito o quanto determinado, a nos mostrar que quem determina como deve ser o culto é o próprio Deus, pois é Ele o Senhor e nós, apenas, Seus servos.

Isto é muito importante porque, em nossos dias, há aqueles que, a exemplo de Caim, querem cultuar a Deus da sua maneira, do seu jeito, como se isto fosse possível, inclusive criando uma tal de “adoração extravagante”.

– Neste particular, aliás, é providencial lermos o capítulo 10 de Levítico, que, inclusive será objeto de uma lição própria (lição 7), em que os sacerdotes Nadabe e Abiú são mortos pelo Senhor precisamente porque ousaram trazer fogo estranho à presença de Deus, sendo fulminados por isso (Lv.10:1,2). 

– Como dizem os doutores da lei, o livro de Levítico é “repleto de leis”, ou seja, são mandamentos, ordens dadas pelo Senhor ao Seu povo, que devem ser observadas sem questionamento, pois não compete ao homem dizer como e o que deve fazer para adorar a Deus.

– O livro de Levítico pode ser dividido em cinco partes basicamente, a saber:

a) a descrição do sistema de sacrifícios ou as normas referentes aos sistemas dos sacrifícios, que vai de Lv.1:1 até 7:38;

b) o serviço dos sacerdotes no santuário, inclusive a narrativa da consagração dos primeiros sacerdotes, que vai de Lv.8:1 até 10:20;

c) as leis das impurezas ou os rituais relativos às impurezas, que vai de Lv.11:1 até 16:34;

d) o código da santidade ou o “livro da santidade”, que vai de Lv.17:1 até 26:46;

e) ofertas para o santuário, que abrange Lv.27:1-34.

– Segundo Finis Jennings Dake (1902-1987), o livro de Levítico tem 27 capítulos, 859 versículos, 24.541 palavras, 3 questões, 58 versículos com profecias cumpridas, seis versículos de profecias não cumpridas, 799 versículos de história, 795 mandamentos, 26 promessas, 125 predições e 35 mensagens de Deus.

– O livro de Levítico é o terceiro livro das Escrituras, correspondente à terceira letra do alfabeto hebraico “guimel”, que está relacionada à ideia de “oferta”, de “dádiva”, de “recompensa”, sendo o livro que diz como deve ser feita a adoração ao Senhor, como deveria Israel cultuar a Deus, quais as ofertas que Lhe deveriam ser dadas.

III – ADORAÇÃO E SERVIÇO AO SENHOR

– O livro de Levítico cuida dos rituais e das cerimônias que deveriam ser observados no culto a Deus. Por isso, é um livro que nos fala tanto de adoração quanto de serviço ao Senhor, até porque adoração é serviço, tanto que, em inglês, a palavra “culto” é “service”.

– Como já dito supra, o livro de Levítico já começa com um chamado de Deus a Moisés para que o líder israelita transmitisse ao povo quais seriam os sacrifícios e o modo como deveriam ser realizados.

“Em Levítico, ‘o Senhor falou’ 36 vezes:

  1. A Moisés para falar a Israel – 15 vezes (Lv.1:1; 4:1; 7:22,28; 12:1; 18:1; 20:1; 23:1,9,23,33,; 24:1,13; 25:1; 27:1);
  1. A Moisés, sozinho – 7 vezes (Lv.5:14; 6:1,19; 8:1; 14:1; 22:26; 23:26);
  1. A Moisés, para falar a Arão e os filhos – 5 vezes (Lv.6:8,24; 17:1; 22:1,17); 
  1. A Arão sozinho – 1 vez (Lv.10:8);
  1. A Moisés e a Arão para falarem a Israel – 2 vezes (Lv.11:1; 15:1);
  1. A Moisés e Arão juntos – 2 vezes (Lv.13:1; 14:33);
  1. A Moisés para falar a toda a congregação de Israel – 1 vez (Lv.19:1);
  1. A Moisés para falar a Arão – 2 vezes (Lv.16:1; 21:16);
  1. A Moisés para falar aos sacerdotes, os filhos de Arão – 1 vez (Lv.21:1)” (Bíblia de Estudo Dake, CPAD/Atos, nota 1.1d, p.189).

– Este início do livro já estabelece que é Deus quem determina as regras do culto, as normas de adoração, sendo algo que não se encontra na disposição ou no arbítrio do ser humano.

– A adoração é o reconhecimento da soberania, do senhorio de Deus. Adoramos a Deus porque reconhecemos que Ele é o Senhor e que nós devemos servi-l’O.

Ora, se Ele é o Senhor, é Ele quem manda e nós devemos tão somente obedecer-Lhe. Se assim é, não há sentido algum em querermos adorar a Deus segundo os nossos ditames, as nossas regras e a nossa vontade.

– O livro de Levítico já se inicia, portanto, indicando que é o Senhor quem diz como deve ser adorado e, por isso, chama Moisés para que ele falasse aos filhos de Israel como deveria agir quem quisesse oferecer oferta ao Senhor.

– Outro ponto importante que vemos aqui no limiar do livro de Levítico é que a adoração, embora tenha suas regras e normas fixadas pelo Senhor, deve ser sempre um ato voluntário, ou seja, o homem tem de querer adorar a Deus, não pode fazer algo por obrigação, necessidade ou constrangimento.

O Senhor foi bem claro azo afirmar que “quando algum de vós oferecer oferta ao Senhor” (Lv.1:2), ou seja, trata-se de algo que decorre da vontade do adorador.

 OBS: “Todo culto a Deus e meios de buscar a reconciliação com Ele são e sempre foram de acordo com o livre-arbítrio.

Mesmo onde certas coisas foram ordenadas, o indivíduo não era forçado a obedecer (v.3) [Lv.1:3 – observação nossa]” (Bíblia de Estudo Dake, CPAD/Atos, nota 1.3a, p.189)

– A palavra “adoração” vem do latim “ad oratio”, que remete, assim como as palavras grega e hebraica utilizadas nas Escrituras, ao ato de beijar a mão de uma determinada autoridade.

O beijo é um ato que simboliza o reconhecimento da autoridade de alguém. A pessoa serva se prostrava diante da autoridade e beijava a sua mão, querendo, com isto, dizer que estava “sob a mão” daquela outra pessoa, debaixo de seu poder, de seu senhorio.

É exatamente isto que significam as palavras “hishtahªwâ”, em hebraico e “proskyneo”, em grego, que é “…manifestarem temor reverente e admiração e respeito próprios da atitude de adoração…” (THOMSON, J.G.S.S. Adoração. In: DOUGLAS, J.D. (org.). O novo dicionário da Bíblia, p.35).

– A palavra ” adoração” vem do latim “ad orare”, que significa “para ser feito com a boca”, ou seja, “beijar”. Esta expressão deve ser entendida na cultura da Antigüidade, ainda hoje seguida em alguns segmentos sociais (como a Igreja Romana, por exemplo), em que o beijo é um gesto de reconhecimento da autoridade de alguém.

Assim, “adorar” é reconhecer a autoridade de uma pessoa e se inclinar diante dela, curvar-se a seu senhorio e a sua superioridade. Adoraremos a Deus, portanto, quando reconhecermos a Sua autoridade, a Sua supremacia, quando agirmos de forma a mostrarmos às pessoas que é Deus quem manda em nossas vidas.

Quando o diabo pediu a Jesus para ser adorado (Mt.4:9), estava, precisamente, pedindo que Jesus reconhecesse uma superioridade do diabo sobre Sua vida, o que, como bem mostrou nosso Senhor, era um rotundo absurdo (Mt.4:10).

– Esta ideia contida na palavra latina, que deu origem a nossa palavra na língua portuguesa, é, precisamente, o mesmo sentido que possui os termos originais hebraico e grego nas Escrituras. Sempre há a ideia de homenagem, de reconhecimento de soberania e supremacia de Deus sobre a vida daquele que está a adorar a Deus. É este, aliás, o sentido que vemos no Sl.2:12, quando o salmista fala “beijai o Filho”.

– O homem deve adorar a Deus, porque Deus o fez e Ele tudo deve a este Deus. A adoração estabelece os parâmetros corretos do relacionamento entre Deus e o homem, exatamente porque é através da adoração que Deus é reconhecido como Senhor e o homem, como Seu servo.

– O livro de Levítico exsurge como todo um código pelo qual o povo de Israel poderia se achegar ao seu Deus e, assim, ser realmente o Seu povo, a Sua propriedade peculiar dentre os povos.

Ainda que débil e frágil, ainda que tivesse falhado no pacto firmado com o Senhor, Deus tomava a iniciativa de estabelecer os parâmetros pelos quais o povo israelita poderia adorar ao Senhor e, com Ele, estabelecer um relacionamento.

Deus jamais abandona o homem, sempre está disposto a travar um relacionamento com sua criatura, apesar da pecaminosidade humana.

– O primeiro motivo para adorarmos a Deus está no fato de que Deus, o Senhor de todas as coisas, é o Criador de tudo, inclusive do próprio homem.

Quando adoramos a Deus, reconhecemos que Ele é o nosso Criador e manifestamos tal reconhecimento através da adoração.

Todo homem é apresentado a Deus como sendo Sua criatura (Rm.1:20,21) e, através desta apresentação, deve o ser humano adorar a seu Criador.

Quando não o faz, desprezando a Deus, a Bíblia ensina-nos que são tais pessoas abandonadas pelo Senhor à sua própria sorte, gerando um sem-número de males e problemas para a humanidade rebelde, que se recusa a adorar o seu Criador (Rm.1:24-32).

– Por isso, o livro de Levítico faz questão de sempre ressaltar que Deus era o Senhor de Israel e que, portanto, os israelitas deveriam adorá-l’O (Lv.11:44,45;18:2,4,6,21,30; 19:3,4,10,12,14,16,18,25,28,30,31,32,34,36,37;20:7,8,24;21:12,15,23;22:2,3,8,9,16,30-33; 23:22.43;24:22;25:17,38,55;26:1,2,13,44,45)..

– O segundo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos ama, de, apesar de ser o Criador, jamais desampara o homem, mas, muito pelo contrário, o ama e tem prazer em estar na companhia do ser humano.

Por amar o homem, Deus enviou Seu Filho para morrer por nós, quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8). Jesus é a prova suprema deste amor, pois morreu por nós na cruz do Calvário (Jo.15:13).

Deus nos amou primeiro (I Jo.4:19) e, em gratidão a este tão grande amor, reconhecemos Sua supremacia e procuramos render-Lhe culto, bem como fazemos o que Ele nos manda.

– No livro de Levítico, temos a demonstração do amor divino, porquanto, mesmo dizendo que o povo de Israel Lhe desobedeceria e, por conta de tal desobediência, sofreria as penalidades já previstas na própria lei, por amor o Senhor não haveria de rejeitar Israel e o restabeleceria apesar de seus pecados (Lv.26:45).

– Além do mais, é no livro de Levítico que encontramos aquele que o Senhor Jesus diria ser o segundo e grande mandamento, ou seja, o amor ao próximo (Mt.22:39), como podemos ler em Lv.19:18.

– O terceiro motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos salvou. Deus não somente amou o homem, mas providenciou a sua salvação através da pessoa de Jesus Cristo.

Em Cristo, temos novamente acesso a Deus, pois os nossos pecados são perdoados e não há mais separação entre nós e Deus (Rm.5:1; Ef.2:13,14).

Assim, tendo em vista a salvação de nossas almas, temos um caminho que nos introduz à presença de Deus, o que torna possível a adoração direta e individual, o que, antes, não era possível ao homem pecador (Hb.10:19-22).

Podemos adorar a Deus, sem obstáculo, tendo como único mediador a Cristo Jesus (I Tm.2:5). Graças a salvação, temos uma comunhão eterna com o Senhor, como antes do pecado dos nossos primeiros pais, comunhão esta que perdurará para sempre na nova Jerusalém (Ap.21:2-4).

– No livro de Levítico, a salvação é demonstrada pela expiação dos pecados quando oferecidos os sacrifícios. Logo no limiar do livro, vemos todo o cerimonial a respeito dos holocaustos, em que o ofertante colocava a mão sobre a cabeça da vítima do sacrifício para expiação (Lv.1:4).

Era a demonstração cabal de que Deus desejava salvar o homem, retirar-lhe o pecado e, para tanto, dispunha de um substituto para o pecador, substituto este tipificado nos animais indicados no cerimonial e que apenas eram sombra do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29).

O quarto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele precisa ser conhecido dos homens que ainda não O conhecem como Senhor e Salvador de suas vidas.

A missão principal dos servos de Deus neste mundo é anunciar a toda criatura o evangelho (Mc.16:15), ou seja, a boa notícia de que o reino de Deus é chegado e que os homens devem nele entrar através do arrependimento de seus pecados (Mc.1:14,15).

Deus somente será conhecido dos homens se nós O revelarmos através de nossas vidas e isto só será possível mediante a visibilidade da adoração. Pela adoração, os homens poderão ver Deus em nós (Mt.5:16; At.6:15; II Co.3:18). Como diz conhecido cântico, devemos adorar o Senhor de modo que o “mundo possa ver a glória do Senhor em nossos rostos brilhar.”

– Todo o cerimonial e todos os rituais do culto levítico tinham por objetivo mostrar a todos os povos o único e verdadeiro Deus.

Muitas das disposições cerimoniais e ritualísticas eram, inclusive, extensivas ao estrangeiro que vivesse com os israelitas, como, por exemplo, a guarda do dia da expiação (Lv.16:29), a proibição de consumo de sangue (Lv.17:12), a pureza sexual (Lv.18:26), a pureza das vítimas de sacrifício (Lv.22:25), a punição pela blasfêmia (Lv.24:16).

– O estrangeiro, também, deveria ser objeto do amor, tanto que era beneficiado pela lei da respiga (Lv.19:10; 23:22), tinha direito à novidade da terra do ano sabático (Lv.25:6) como também não poderia sofrer opressão por parte dos israelitas (Lv.19:33), devendo ser tratado com amor e sem qualquer discriminação em relação aos  filhos de Israel (Lv.19:34).  Através do culto levítico, portanto, o nome do Senhor se fazia conhecido entre todas as nações.

– O quinto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que o necessário crescimento espiritual do crente depende da sua vida de adoração.

A vida espiritual é uma vida dinâmica, uma vida de contínuo desenvolvimento, pois não é possível haver uma vida estacionária, parada no campo espiritual. Se não avançamos espiritualmente, estaremos, necessariamente, regredindo.

Por isso, o escritor da epístola aos Hebreus diz que devemos correr com paciência a carreira que nos está proposta (Hb.12:1) e o apóstolo Paulo afirma, somente ao final de sua vida, que tinha encerrado a sua carreira (II Tm.4:7).

Sendo uma vida espiritual algo dinâmico, precisamos estar em contínuo relacionamento com Deus, precisamos orar em todo o tempo, mantermos uma vigilância sem qualquer trégua ou interrupção, o que somente é possível se adorarmos a Deus a todo instante, a todo momento. São estes os adoradores que Deus está buscando (Jo.4:23).

– A simples existência do livro de Levítico é a demonstração da necessidade que o povo tinha de adorar a Deus para poder ser verdadeiramente o povo do Senhor.

O desejo de Deus era de que, com a adoração, não só Ele fosse glorificado e santificado (Lv.10:3), como também o próprio povo obtivesse a santificação (Lv.22:32).

Disposições como as normas relacionadas à lepra (Lv.13-14) e aos fluxos corporais (Lv.15) reforçam a necessidade da contínua santificação do povo e a necessidade de se manter a pureza como a característica que distinguiria o povo de Deus das demais nações.

– O sexto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós temos fé em Deus, porque confiamos n’Ele. Fé é o elo que nos une a Deus, a um Deus que nós não vemos, é uma certeza sem provas, é uma convicção sem provas, sem garantias (Aprenda a ter uma grande fé – pregação radiofônica difundida em 25.11.2003).

Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6) e, portanto, para que possamos adorar a Deus, render-Lhe culto e louvor, é indispensável que creiamos que Ele existe e é galardoador dos que O buscam. Nunca nos esqueçamos que Jesus, em muitas oportunidades, ao se dirigir às pessoas que O ouviam, fazia alguma observação a respeito da fé que elas possuíam.

– Toda a ritualística e todos os cerimoniais instituídos no livro de Levítico somente seriam levados a cabo e cumpridos se o povo de Israel cresse em Deus e, por conseguinte, Lhe prestasse obediência, o que não ocorreria, como o próprio Senhor deixou consignado no chamado “pacto palestiniano”, que se encontra em Lv.26.

O sétimo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós amamos a Deus. Somente se amarmos a Deus poderemos adorá-l’O.

Quando amamos alguém, queremos estar sempre ao seu lado, queremos estar, constantemente, na sua companhia.

Ora, se amamos a Deus, desejamos estar sempre ao Seu lado, estar sempre em Sua companhia e não há outra forma de o fazermos senão através de uma contínua adoração a Ele. A igreja anseia pela contínua companhia de seu Noivo, de seu amado: ” o meu amado é meu e eu sou dele” (Ct.2:16a).

– Somente o amor a Deus poderia fazer com que se cumprissem todos os mandamentos constantes do livro de Levítico, porquanto só quando amamos ao Senhor fazemos o que Ele nos manda (Jo.15:14).

– Esta adoração a Deus, logo no limiar do livro de Levítico isto se vê, somente poderia ser feita se houvesse santidade, ou seja, Deus somente aceitaria a adoração que viesse de alguém que estivesse disposto a ser puro, a se separar do pecado, a ter uma vida irrepreensível diante do Senhor.

– As ofertas trazidas ao Senhor deveriam ser mancha ou defeito (Lv.1:3,10; 2:5; 3:1,6;4:3,23,28,32;5:15,18;6:6;9:2,3;14:10;22:19,21;23:12,18), a indicar, portanto, a necessidade de santidade, de uma separação do pecado por parte da vítima, o que se entende, ademais, pelo fato de as vítimas destes sacrifícios tipificarem a Cristo Jesus, o Santo (Lc.1:35).

– Mas, também, se exigia pureza por parte do ofertante, “in casu”, o sacerdote. Havia todo um regramento a respeito dos sacerdotes, para que eles também, ao apresentar a oferta, estivessem cerimonialmente puros. Aliás, não só deveria o sacerdote ser santo, puro, como também deveria fazer distinção entre o santo e o profano (Lv.10:8-11).

– Tal exigência não só aponta para Cristo, que é o sumo sacerdote eterno que oficia perante Deus em favor da humanidade (Sl.110:4; Hb.5:6; 6:20; 7:21), como também para os próprios integrantes do povo de Deus, uma vez que tanto Israel quanto a Igreja são povos sacerdotais (Ex.19:6; I Pe.2:9).

Assim como deveria haver cuidados especiais dos sacerdotes para poderem ministrar, de igual maneira, devemos nós, no serviço a Deus, também nos cercarmos da santificação, pois somente podemos nos apresentar diante do Senhor com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa (Hb.10:22).

– A adoração e o serviço ao Senhor, portanto, estão umbilicalmente relacionados com a santidade. Não se pode falar em adoração e serviço a Deus sem que se fale em santificação, pois a santidade é um pressuposto para que se possa relacionar com Deus, que é santo, qualidade esta que é a única que é proclamada incessantemente na glória celestial (Is.6:3).

O livro de Levítico é conhecido como “o livro da santidade” (ou, pelo menos, como vimos supra, uma de suas porções), precisamente por causa desta indissociável relação.

– A santidade é uma exigência, tanto que a expressão considerada chave do próprio livro de Levítico é a que se repete por quatro vezes no livro, em que se diz que o povo deveria ser santo porque Deus o é. Como afirma a Bíblia de Estudo Plenitude:

 “ O Livro de Levítico tem uma poderosa aplicação contemporânea e pessoal para a vida da Igreja atualmente. A santidade de Deus é Seu grande desejo de comunhão com Seu povo são claramente vistos nas descrições do sistema de sacrifícios.

A santidade, o ser separado para uma vida santa em comunhão com Deus, é o assunto primário para o povo de Israel, bem como o é para o povo de Deus hoje em dia.” (Aplicação pessoal, p.110).

– Tem-se, pois, aqui, um profundo ensinamento que o livro de Levítico nos traz e que devemos seguir com todo o rigor, já que, sem a santificação, ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).

Eis, portanto, a importância do estudo deste livro neste trimestre e que, ao término dele, estejamos mais próximos do Senhor, sabendo que quem é santo, deve se santificar ainda (Ap.22:11). 

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/2408-licao-1-levitico-adoracao-e-servico-ao-senhor-i

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