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LIÇÃO Nº 14 – ENTRE PÁSCOA E PENTECOSTES    

As festividades previstas na lei tipificam as verdades espirituais da vida cristã.

 INTRODUÇÃO

– Na conclusão do estudo do livro de Levítico, analisaremos a tipologia das festas da Páscoa e de Pentecostes.

 – As festividades previstas na lei tipificam as verdades espirituais da vida cristã.

 I – O ANO ACEITÁVEL DO SENHOR

 – Na conclusão do estudo do livro de Levítico, analisaremos duas das festividades previstas na lei, a saber, a Páscoa e o Pentecostes, que têm suas prescrições no capítulo 23 do livro de Levítico.

 – Israel estava prestes a ser liberto da escravidão no Egito. O Senhor havia, com mão forte, mostrado que era o único Deus verdadeiro e que as divindades egípcias nada mais eram que fruto da imaginação humana.

 – Para demonstrar que estava a surgir um tempo novo na história de Israel, determinou a Moisés que desse ciência aos israelitas que, doravante, eles estavam numa nova época, determina a instauração de um novo calendário, pois, a partir de então,

se passaria a contar o tempo a partir desta nova realidade espiritual, da consolidação da formação da nação que seria propriedade peculiar de Deus entre os povos.

 – Por isso, o mês de Abibe (também chamado de Nisã) (correspondente, em nosso calendário, aos meses de março e abril, início da primavera no hemisfério norte) passou a ser o primeiro dos meses (Ex.12:2), o dia em que se começou a contar o novo tempo para Israel, o tempo em que passou a ser um povo como tal.

 – A determinação divina para que se instaurasse um novo calendário era mais uma medida de formação deste novo povo, que se distinguiria das outras nações, que eram resultado da dissolução da comunidade única pós-diluviana que havia se rebelado contra Deus no episódio da torre de Babel.

Isto porque, naquele tempo, cada povo tinha o seu próprio calendário, a sua própria contagem dos tempos.

 – Ao estabelecer um calendário, o Senhor estava a dizer, portanto, a Israel que ele era uma nação distinta das demais, um povo à parte dos demais e, simultaneamente, que quem deveria determinar o tempo para aquele povo era o próprio Deus, pois era Ele quem estava a instituir o calendário.

Deus Se afirmava como o governante deste povo e que deveria este povo seguir o Seu tempo, a Sua contagem.

OBS: “…A Torá foi dada para trazer santidade ao mundo. Cada vez que uma mitsvá [mandamento, observação nossa] é observada, esta meta é trazida a um patamar mais próximo, quando mais outro lugar e mais outro momento ficam santos.

A mitsvá faz com que a santidade seja sentida em duas dimensões: espaço e tempo, mas a maioria das mitsvot é limitada a um lugar ou temo específicos.

Porém, a mitsvá de estabelecer um novo mês é a santificação do próprio tempo, pois todo o momento dentro de um determinado mês é dependente da hora exata em que aquele mês começa.

Tempo é até mais geral e abrangente que espaço, já que

a) Tempo foi criado antes de espaço e,

b) Nenhum lugar pode existir fora do tempo(…).

Então, a mais genérica de todas as mitsvot é o estabelecimento do novo mês, razão pela foi escrita primeiro…” (A primeira mitsvá – estabelecer o novo mês. In: CHUMASH: o livro de Êxodo, p.69).

 – Temos aqui uma preciosa lição, qual seja, a de que devemos Deus definir o tempo para as nossas vidas.

Como diz Salomão, há um tempo determinado para cada propósito debaixo do céu (Ec.3:1) e, como filhos de Deus, como integrantes do povo de Deus, que é a Igreja, devemos viver sob a tônica do tempo de Deus.

Por isso, o apóstolo Pedro diz que devemos nos humilhar debaixo da potente mão de Deus, que a Seu tempo, exaltar-nos-á (I Pe.5:6).

Jesus sempre foi submisso à vontade do Pai (Jo.4:34) e tinha plena consciência de que deveria sempre estar sob o tempo de Deus, aguardando a hora apropriada de cada coisa (Jo.2:4; 12:23; 13:1).

 – No começo do calendário estabelecido pelo Senhor, estava a primeira festividade, a Páscoa, que deveria ocorrer no dia quatorze do mês de Abibe (Ex.12:1-14; Lv.23:4).

Na verdade, a celebração começava no dia dez, quando os israelitas deveriam escolher um cordeiro ou um cabrito, sem mancha, pondo-o em observação até o dia quatorze, quando, então, ele deveria ser morto e consumido na festa da Páscoa.

 – A primeira festividade, então, era seguida de outra, que, por estar unida a ela, acabou por ser, até certo ponto, considerada uma continuação (cf.Lc.22:1), a saber, a festa dos pães asmos, onde, durante sete dias, os israelitas não poderiam ter fermento em suas casas, consumindo pães sem fermento (Ex.12:1520; Lv.23:6-8).

 – Em meio a estas duas festas, os israelitas deveriam apresentar, no dia seguinte ao sábado da Páscoa, um molho com os primeiros frutos da terra, os primeiros frutos da produção, iniciada após o inverno, uma oferta das primícias, que era indispensável para que se pudesse iniciar o consumo daquilo que havia sido colhido depois do retorno da produção (Lv.23:9-14).

– Em seguida a esta oferta, contar-se-iam sete semanas, ou seja, cinquenta dias depois da Páscoa, era celebrada a festa das semanas, assim denominada porque havia um espaço de sete semanas, ou seja, uma semana de semanas, entre as duas festividades,

oportunidade em que os israelitas agradeceriam a Deus pelas primícias das colheitas, ou seja, pelos primeiros frutos da produção agrícola, iniciada após o final do inverno, início da primavera, festa que também celebrava a entrega da lei a Israel (Lv.23:15-21).

 – Depois desta festa das semanas, somente no sétimo mês, o mês de Tishrei,  havia uma série de celebrações, começando pela festa das trombetas, no início do mês, que é o “ano novo judaico” (Lv.23:24,25), pois é o início do calendário civil, passando, posteriormente, no dia dez,

pelo dia da expiação, quando o sumo sacerdote entrava no lugar santíssimo (Lv.23:26-32) e, por fim, a partir do dia quinze, iniciavam-se os oito dias da festa dos tabernáculos, quando Israel celebrava a colheita ocorrida (estamos no outono) bem como relembrava que havia habitado em tendas no deserto (Lv.23:33-43).

 – Estas festividades eram chamadas de “santas convocações”, “solenidades do Senhor” (Lv.23:2,44), pois eram datas determinadas pelo próprio Deus para que Israel se lembrasse de tudo quanto o Senhor havia feito por eles e para que eles se conscientizassem que eram o povo de Deus na terra, a “propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos”.

 – A palavra “solenidade” é a palavra hebraica “moedh” (מוצד), “…substantivo masculino que significa tempo ou lugar designado.

Pode designar um tempo usual determinado para um encontro (Gn.18:14; Ex.13:10); um tempo indicado específico, normalmente para uma festa sagrada (Os.9:5; 12:9)…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 4150, p.1735).

 – Percebe-se, portanto, que se trata de um momento em que Deus queria Se encontrar com o Seu povo, para que Israel se lembrasse de sua condição e de seu relacionamento com o Senhor e de como chegara à posição de povo de Deus.

É, precisamente, aliás, isto que o Senhor Jesus quis fazer com a Igreja ao instituir a ceia do Senhor, que é a única solenidade periódica estatuída na nova aliança.

 – A outra expressão utilizada pelo Senhor para denominar as festividades instituídas, ou seja, “santa convocação”, é a palavra hebraica “miqra’” (מקרא), “…coisa convocada, i.e., uma reunião pública (…) substantivo masculino que significa convocação, leitura, reunião pública e assembleia.

Esta palavra normalmente se refere a uma assembleia para fins religiosos…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 4744, pp.1767-8).

 – Aqui se verifica que a festividade deveria ser celebrada por todo o povo, era uma ocasião para que o povo todo se reunisse e tivesse, não só individualmente, mas coletivamente, a convicção e a lembrança de que se tratava do povo de Deus, de alguém que tinha compromisso com o Senhor.

 – Bem se vê, por tudo isto, que as festividades, ao falarem do relacionamento de Deus com o Seu povo, também apontavam para Cristo, Aquele que é o mediador entre Deus e os homens (I Tm.2:5) e para a Sua Igreja, que é o Seu corpo (I Co.12:27), até porque são disposições constantes da lei, que é a sombra dos bens futuros (Hb.10:1).

 – Cada festividade, portanto, aponta-nos para o “ano aceitável do Senhor” (Is.61:2; Lc.4:19), tempo em que Deus, por meio da Sua graça, ofereceria a toda a humanidade, a salvação na pessoa de Cristo Jesus, salvação prometida desde o Éden e cumprida com a encarnação do Senhor, quando se deu “a plenitude dos tempos” (Gl.4:4).

 – A tipologia das festividades, pois, fala-nos, precisamente, desde “ano aceitável do Senhor”, deste período de concretização da promessa da salvação, deste tempo da graça em que o Senhor convida à salvação todos os povos (Is.55).

 – A lição debruça-se em duas destas festividades, a Páscoa e o Pentecostes, ou seja, o primeiro grupo de solenidades do ano, nos primeiros meses. Analisemos, pois, tais celebrações.

 II – A PÁSCOA, A FESTA DOS PÃES ASMOS E A OFERTA DAS PRIMÍCIAS

 –  Ao instituir a Páscoa, ainda antes da última praga sobre o Egito, que seria a praga dos primogênitos,  o Senhor mandou que, neste novo mês, aos dez dias do mês, cada família tomasse para si um cordeiro, mas, se a família fosse pequena, que se tomasse um cordeiro ou cabrito juntamente com o seu vizinho perto de sua casa, conforme ao comer de cada um.

Este cordeiro ou cabrito deveria ser sem mácula, macho de um ano, que deveria ser guardado até o décimo quarto dia do mês. Todo o povo, então, deveria sacrificá-lo à tarde e tomar do seu sangue e o pôr em ambas as umbreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem.

À noite, então, deveriam comer a carne assada no fogo, com pães asmos e ervas amargas, sendo que o animal deveria ser assado ao fogo, a cabeça com os pés e com a fressura.

O animal deveria ser todo consumido e, se houvesse alguma sobra, deveria ser queimada no fogo pela manhã seguinte (Ex.12:3-11).

 – Nestas instruções, vemos, por primeiro, que o Senhor ensina Israel a esperar no “tempo de Deus”. Embora tivesse Deus instituído um novo calendário, uma nova forma de contagem do tempo, não permitiu que, de imediato, os israelitas já iniciassem uma atividade.

Fê-los esperar ainda dez dias para que iniciassem a preparação para a tão almejada libertação.

 – Segundo os estudiosos, “…as Dez Pragas castigaram o Egito durante praticamente um ano, iniciando-se no fim do mês de Iyar [oitavo mês do calendário judaico, observação nossa] e terminando apenas no dia 15 de Nissan.…” (As dez pragas do Egito. Revista Morashá, edição 56, abr. 2007. Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=656&p=1 Acesso em 29 nov. 2013). Mesmo assim, os israelitas tinham de aprender a esperar em Deus, saber o tempo certo de agir, pois eram o “povo de Deus”, um povo que deveria agir somente segundo a vontade do Senhor, Aquele que tudo faz mais formoso em seu tempo (Ec.3:11).

– Com a Igreja, Cristo não agiu diferente. Também, mesmo depois de ressurreto e vencedor sobre o pecado e a morte, ainda deu orientações a Seus discípulos por quarenta dias, tendo-os mandado esperar, ainda, por mais sete dias, após a Sua ascensão aos céus, para que, então, iniciassem a evangelização, devidamente revestidos de poder (At.1:1-4).

Devemos aprender esta lição, pois o “imediatismo” que toma conta do mundo não corresponde ao que Deus quer em relação ao Seu povo. Lembremos disto!

 – Por segundo, Deus dá a Israel uma consciência nítida a respeito do que é ser uma nação. É ela, antes de tudo, uma reunião de famílias.

A família é a base da sociedade e cada família deveria ter o seu cordeiro ou cabrito a ser sacrificado e consumido.

Não se pode construir uma sociedade sem famílias, algo que, infelizmente, a mentalidade anticristã predominante em nossos dias tem desprezado e gerado a calamidade social que temos visto e vivenciado.

Aliás, tal mentalidade não é exclusividade das organizações dos grupos sociais de incrédulos, mas tem, infelizmente, predominado até mesmo nas igrejas locais…

 – Por terceiro, vemos que o Senhor mostra, com nitidez, que não se pode formar uma nação sem que haja a consciência da solidariedade.

Quando o animal fosse muito para uma família, por ser ela pequena, deveriam se reunir os vizinhos para a consumirem o animal, dando-se, pois, a ideia de que a família não deve fechar-se em si mesma, mas pensar no vizinho, unindo-se a fraqueza de cada qual e a tornando uma fortaleza. Temos feito isto?

É assim que Deus quer que viva o Seu povo!

OBS: Por sua biblicidade, transcrevemos o que disse a respeito o atual chefe da Igreja Romana, em sua exortação apostólica Evangelii Gaudium:

“…A presença de Deus acompanha a busca sincera que indivíduos e grupos efetuam para encontrar apoio e sentido para a sua vida. Ele vive entre os citadinos promovendo a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça.

Esta presença não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada. Deus não Se esconde de quantos O buscam com coração sincero, ainda que o façam tateando, de maneira imprecisa e incerta.…” (FRANCISCO. Exortação apostólica Evangelii Gaudium, n.71. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/francesco/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20131124_Evangeliiigaudium_po.html  Acesso em 29 nov 2013).

 – Esta noção de solidariedade e de fraternidade ficou tão arraigado entre os judeus que, na tradição dos anciãos, que, depois, foi reduzida a escrito na Mishná, está prescrito que “ninguém pode matar o cordeiro pascal para uma só pessoa, nem mesmo para um grupo de cem pessoas, que não possam comer pelo menos um pedaço do tamanho de uma azeitona” (Pessach 8:7).

Segundo Flávio Josefo, o grande historiador judeu, a Páscoa não podia ser celebrada por menos de dez pessoas, sendo que, em média, o número era de vinte (Sobre a guerra dos judeus contra os romanos, I.6.c.9.sec.3 apud GILL, John. Exposição da Bíblia. Ex.12:4. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-bible/exodus-124.html Acesso em 30 nov. 2013). Tem-se, então, que havia a necessidade de uma efetiva participação comunitária na celebração da Páscoa.

 – John Gill, ainda, vê nesta determinação divina sobre a necessidade de se partilhar com o vizinho o cordeiro pascal uma tipologia da chamada dos gentios para compor a Igreja, consoante se vê em Ef.3:5,6.

 – Por quarto, é interessante notar que o cordeiro deveria ser macho de um ano, como que a lembrar que Deus estava a atuar a praticamente um ano em prol da libertação do Seu povo.

O cordeiro representava, assim, toda a ação de Deus em prol de Israel, todo o cuidado de Deus, todo o trabalho que o Senhor havia feito em favor do Seu povo, em cumprimento às Suas promessas.

 – Este cordeiro, que é símbolo de Cristo Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29), vinha, então, na “plenitude dos tempos”, ou seja, no momento oportuno, do final do processo de libertação, que havia sido prometido lá trás, quando Deus assumira um compromisso com Abrão (Gn.5:921; Hb.6:13-20). Do mesmo modo, Jesus Cristo veio na “plenitude dos tempos”, para remir os que estavam debaixo da lei (Gl.4:4,5).

 – Tem-se entendido também, como diz John Gill, que a idade do cordeiro “…denota a força e o vigor de Cristo, na flor da idade, Sua curta presença entre os homens…” (Exposição da Bíblia. Ex.12:5. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-bible/exodus-12-5.html Acesso em 30 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).

 – Além do cordeiro, poderia, também, ser sacrificado um cabrito, também macho de um ano, embora fosse preferível que se sacrificasse um cordeiro.

O cabrito também tipifica Cristo, pois “…o cabrito, sendo animal mal cheiroso, denota Cristo Se fazendo pecado e Se oferecendo pelo Seu povo…” (GILL, John. ibid.).

 – Por quinto, o cordeiro deveria ser sem mácula, ou seja, sem qualquer defeito, perfeito, para que pudesse ser sacrificado. Uma vez escolhido, deveria ser observado por três dias e meio, pois, embora escolhido no dia dez, somente seria sacrificado no dia quatorze, à tarde, ou seja, no meio do dia.

Durante todos estes três dias e meio, deveria ser observado se não tinha qualquer defeito, qualquer mancha, a fim de ser considerado idôneo para o sacrifício.

OBS: Diz o Sábio Talmúdico Guraryê: “Por que houve a necessidade de quatro dias para a preparação do cordeiro de Pessah [Páscoa, observação nossa]? Durante estes quatro dias, o animal foi inspecionado de qualquer marca que o tornasse impróprio para um sacrifício.

Vários dias eram necessários, pois, às vezes, a pessoa não vê marca nenhuma um dia e a vê no próximo dia.

Foi pelo mérito de se ocupar com a mitsvá durante quatro dias que os judeus foram merecedores da redenção” (CHUMASH: o livro de Êxodo, p.71).

 – De igual modo, uma vez tornada pública e conhecida a Sua escolha pelo Pai, quando foi o Senhor batizado no rio Jordão (Jo.1:29-34), o Senhor Jesus passou durante três anos e meio sendo observado pelos israelitas, para quem havia vindo (Mt.15:24; Jo.1:11), tendo provado a Sua inocência e santidade a eles durante este tempo (Mt.27:23,24; Mc.15:14; Lc.23:22; Jo.8:46; Hb.4:15; 9:28), para, então, ser submetido ao sacrifício na cruz do Calvário.

OBS: Por sua biblicidade, transcrevemos aqui o § 608 do Catecismo da Igreja Romana: “Depois de ter aceitado dar-Lhe o batismo como aos pecadores (Lc.3:21; Mt.3:14,15), João Batista viu e mostrou em Jesus o «Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» (Jo.1:29,36).

Manifestou deste modo que Jesus é, ao mesmo tempo, o Servo sofredor, que Se deixa levar ao matadouro sem abrir a boca (Is.53:7; Jr.11:19), carregando os pecados das multidões (Is.53:12), e o cordeiro pascal, símbolo da redenção de Israel na primeira Páscoa (Ex.12:3-14; Jo.19:36; I Co.5:7), Toda a vida de Cristo manifesta a sua missão: «servir e dar a vida como resgate pela multidão»(Mc.10:45).”

 – De igual modo, Cristo, após ter entrado triunfantemente em Jerusalém, foi observado por quatro dias pelos israelitas, que depois O mandaram para o sacrifício na cruz do Calvário.

 – Nós, como membros em particular do corpo de Cristo (I Co.12:27), uma vez tornada pública a nossa confissão em Cristo Jesus, também passamos a ser observados por todos e temos de mostrar toda a nossa santidade,

toda a nossa comunhão com o Senhor, para que não sejamos reprovados e, perseverantes até o fim, também alcancemos a glorificação, que se segue ao nosso sacrifício, sacrifício que já foi realizado quando de nosso batismo nas águas, quando morremos para o mundo e passamos a viver para Deus (Rm.6:1-11).

 – Por sexto, o cordeiro tinha de ser sacrificado à tarde e seu sangue posto em ambas as umbreiras e na verga da porta, nas casas em que ele seria consumido.

O sangue do cordeiro deveria ser derramado nas umbreiras e na verga da porta, para que o anjo da morte, quando passasse, não ferisse ali o primogênito. Sem derramamento de sangue, não há remissão (Hb.9:22), porque o sangue representa a vida (Gn.9:4) e é necessário que a vida fosse dada em resgate da vida.

Como ensina Tomás de Aquino:

“…O sangue do cordeiro, que livra do exterminador, posto nas umbreiras das casas, figura a fé na paixão de Cristo no coração e na boca dos fiéis, pois somos livres do pecado e da morte, segundo I Pe.1:19: fostes resgatados com o sangue precioso do Cordeiro imaculado.…” (Suma Teológica I-II, 102, 5. citação de Ex.12:28-36. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 29 nov. 2013) (tradução nossa de texto em espanhol). Por isso, aliás, Paulo diz que somos salvos confessando com a boca e crendo com o coração (Rm.10:9).

 – Jesus Cristo deu a Sua vida, derramou o Seu sangue para que nós tivéssemos vida e vida em abundância (Jo.10:10). Ele, que é a vida (Jo.1:4; 14:6), entregou a Sua vida para que nós pudéssemos viver (Jo.10:18).

 – É interessante notar que somente nesta primeira Páscoa foi determinado que o sangue fosse posto nas umbreiras e na verga da porta. Nas demais celebrações da Páscoa, não havia mais esta exigência.

Isto nos mostra que as demais páscoas eram apenas uma comemoração, uma lembrança daquela libertação ocorrida uma só vez no Egito.

Da mesma maneira, a ceia do Senhor é tão somente uma comemoração, uma celebração do sacrifício único de Cristo na cruz do Calvário, não tendo, pois, qualquer cabimento dizer-se que, na ceia, há a “transubstanciação”, ou seja, o pão e o vinho se tornam o corpo de Cristo e há um “sacrifício incruento”, como ensina, equivocadamente, a Igreja Romana.

OBS: “…Aben Ezra (comentarista bíblico judeu, observação nossa) menciona como opinião de alguns, que a colocação do sangue naqueles lugares era para mostrar que eles haviam matado a abominação dos egípcios abertamente, mas ele mesmo dá uma razão bem melhor para este rito, a saber, que era para ser uma propiciação para todos que comiam na casa, e um sinal para o destruidor, que poderia examiná-la desta maneira, como é dito em Ez.9:4, foi “posta uma marca” que parece ser peculiar à páscoa no Egito e não foi mais usada em épocas posteriores.…” (GILL, John. Exposição da Bíblia. Ex.12:7. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-ofthe-bible/exodus-12-7.html Acesso em 30 nov. 2013). (tradução nossa de texto em inglês).

 – Por sétimo, o cordeiro tinha de ser assado ao fogo, não poderia ser comido cru nem cozido em água. Era necessário que fosse levado ao forno, ou seja, que, após ter tido seu sangue derramado, fosse mantido longe do convívio dos moradores até que ficasse pronto.

 – John Gill observa que a maneira que os judeus assam o cordeiro também mostra como isto tem a ver com a morte de Cristo na cruz do Calvário.

Diz o comentarista bíblico:

“…a maneira de assá-lo, segundo as regras judaicas (Mishná Pessach 7:1,2) era esta: eles trazem um espeto feito de madeira de romeira e o enfiam pela boca do animal até atravessá-lo e põem as coxas e vísceras dentro dele; eles não assam o cordeiro pascal num espeto de metal nem uma grelha.

 Maimônides (Hilchot Korban Pessach 8:10) é um pouco mais minucioso e exato neste ponto, pois, ao responder à questão ‘como se deve assar o cordeiro?’, responde: ‘vocês devem transfixá-lo do meio da sua boca até seu traseiro, com um espeto de madeira e pendurá-lo no meio da fumaça, com o fogo embaixo’.

Então, ele não é assado mediante o girar do espeto, de acordo com nossa maneira de assar, mas ele fica suspenso em um gancho, e assado com o fogo embaixo dele, e isto é uma exata figura de Cristo suspenso na cruz, e suportando o fogo da ira divina.

E Justino Mártir [pai da Igreja, que viveu entre 100 e 165, observação nossa] (Diálogo com Trifo, p.259) é ainda mais minucioso, ele que era samaritano de nascimento e muito versado em assuntos judaicos, em debate com Trifo, um judeu, que o poderia ter desmentido se ele tivesse dito algo de errado, disse que o cordeiro era assado em forma de cruz:

um espeto, disse ele, era posto desde as partes mais baixas até a cabeça e, novamente, um outro, através dos ombros, pelos quais as mãos (ou melhor, as pernas) eram fixadas e penduradas, e, assim, era um emblema muito vivo do Cristo crucificado…” (Exposição da Bíblia. Ex.12:9. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-bible/exodus-12-9.html Acesso em 30 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).

OBS: Eis os textos mencionados da Mishná Pessach 7:1,2a: “Como deve ser o cordeiro pascal assado? Deve ser tomado um espeto  feito de madeira de uma romeira, colocado dentro da boca (do cordeiro ou cabrito) até que saia no orifício inferior.

Suas pernas  e vísceras devem ser colocados dentro, de acordo com Rabi José, o Galileu; mas Rabi Akiva disse: deve haver uma espécie de fervura e, por esta razão, vocês devem suspender o lado de fora do cordeiro.

O sacrifício pascal não pode ser assado com um espeto de metal nem com uma grelha. Zadoque relatou que o Rabbon Gamaliel uma vez disse a seu escravo Tabbi: ‘Vá e asse o cordeiro pascal numa grelha’.

Se alguma parte do cordeiro assado tocar a cerâmica do forno no qual ele está sendo assado, esta parte deve ser tirada fora.

Se a gordura que cair do cordeiro no forno voltar a cair no cordeiro, esta parte tocada pela gordura deve ser cortada…”. O cordeiro ficava, portanto, realmente suspenso.

 – Aqui, também, vemos o sinal da morte de Cristo Jesus que, após ter todo o Seu sangue derramado, foi levado para o sepulcro novo de José de Arimateia, onde foi sepultado (Mt.27:57-66; Mc.15:42-47; Lc.23:4956; Jo.19:38-42).

Somente, depois, ao terceiro dia, é que haveria de ressurgir e comprovar que o Seu sacrifício havia sido aceito pelo Pai. O sepultamento de Cristo foi absolutamente necessário para que não houvesse qualquer dúvida a respeito da Sua morte.

De igual modo, o sepultamento daquele que crê em Jesus Cristo é absolutamente necessário para que ninguém tenha dúvida de que ele morreu para o mundo e agora vive apenas para Deus. Daí porque dizerem as Escrituras que é necessário crer e ser batizado para ser salvo (Mc.16:16).

– Por oitavo, vemos que o cordeiro, depois de assado, tinha de ser todo consumido à noite e, se dele sobrasse algo, deveria ser queimado até a manhã.

Aqueles que estavam protegidos pelo sangue do cordeiro, deveriam consumi-lo, todos juntos, a ele todo e o que não fosse consumido, não poderia ficar para o dia seguinte, tinha de ser queimado, ou seja, não se permitia qualquer resto naquela refeição e, naquela refeição, todos deveriam comer o cordeiro, dele tomar parte.

– Vemos, claramente, que se forma aqui uma comunhão no povo de Israel. Todo o povo deveria estar ao redor do cordeiro, para que todos o comessem todo, sem sobras, sem que admitisse qualquer parte.

O Senhor mostrava, assim, que o povo todo deveria estar unido, em comunhão, em torno do cordeiro.

 – A Igreja não é diferente. Todos devem estar unidos, ao redor do Cordeiro, consumindo-O todo, por intermédio da participação na ceia do Senhor, onde, simbolicamente, se come o corpo e se bebe o sangue de Cristo (Jo.6:51-57).

Somente quem toma parte no corpo de Cristo, tem parte com Ele. Não se admitem divisões, partidarismos ou coisas semelhantes. Todos temos de estar em comunhão. É por isso que a igreja primitiva era descrita como um povo que vivia em absoluta comunhão (At.2:42-47).

 – Esta comunhão, simbolizada pela refeição onde se consome todo o cordeiro, tinha de ser mostrada durante a noite, antes do momento do juízo que viria sobre o Egito, sob a proteção do sangue posto nas umbreiras e na verga da porta.

Temos de mostrar a comunhão que há entre nós, sob a proteção do sangue de Cristo, que nos purifica de todo o pecado (I Jo.1:7), vivendo na luz, apesar das trevas deste mundo, mostrando-nos como verdadeiras luzes do mundo (Mt.5:16).

 – Quem está em comunhão com os irmãos, porque anda na luz como Cristo na luz está, não sai de debaixo da proteção do sangue do Cordeiro, não sai de dentro da casa para espiar o que está acontecendo “lá fora”, nas trevas.

Muitos, lamentavelmente, não estão mais assentados ao redor do Cordeiro, mas se encontram especulando, passeando, andando do lado de fora da Igreja, esquecendo-se que o povo de Deus foi tirado das trevas para a maravilhosa luz do Senhor (I Pe.2:9).

Não podemos, de forma alguma, estar presente tanto na mesa do Senhor quanto na mesa dos demônios (I Co.10:21).

 – Além da comunhão, o consumo de todo o cordeiro lembra-nos que devemos aceitar a Cristo inteiro.

“…Notem, em seguida, os israelitas tinham de comer o cordeiro todo e vocês que querem ter Cristo devem tê-lo todo ou nada d’Ele! Há alguns que querem tomar o Seu exemplo, mas não a Sua doutrina — eles não podem tê-l’O.

Outros desejam tomar a Sua doutrina, mas não os Seus preceitos — eles não podem tê-l’O. Nada d’Ele pode ser deixado, pois não há coisa alguma em Cristo de que os pecadores não necessitem.

Vocês não podem satisfazer o suspiro de suas almas com a metade de Cristo — nem Deus permitirá que vocês insinuem que haja alguma supérflua em Seu Filho.

Os judeus tinham de comer todo o cordeiro e vocês que querem ter Cristo precisam tê-l’O por inteiro — não apenas Cristo como seu Substituto, mas Cristo como seu Rei!

Não somente Cristo para confiar, mas Cristo para obedecer! Ele deve ser para vocês tudo aquilo que Deus estabeleceu que Ele fosse, senão Ele nada será.

Queridos, vocês querem, então, aceitar Cristo como o Cordeiro de Deus? Vocês querem tê-l’O todo , não deixar coisa alguma d’Ele nem deixar de lado coisa alguma que pertence a Ele? Então vocês poderão tomá-lo como seu!…” (SPURGEON, Charles. Ervas amargas, p.2. Sermão pregado na noite de 25 jul. 1880. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols46-48/chs2727.pdf Acesso em 30 nov. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).

 – Por nono, os israelitas deveriam comer o cordeiro com pães asmos, ou seja, pães sem fermento. “…Este uso dos pães asmos retratava a pressa com que Israel saiu do Egito. Eles não tiveram tempo para fazer pão levedado.

Levava muito tempo para o fermento subir e eles estavam partindo às pressas.…” (COSTA, Airton Evangelista da. Pães asmos – significado. Disponível em: http://www.palavradaverdade.com/print2.php?codigo=3518 Acesso em 29 nov. 2013). Os pães asmos indicavam, deste modo, a pressa com que Israel deveria sair do Egito, a prontidão que deveria haver para sair da terra da escravidão.

 – Mas, além disso, os pães asmos também simbolizam a santidade. O apóstolo Paulo diz que os asmos são o sinal da sinceridade e da verdade (I Co.5:8), de tal sorte que o uso dos pães asmos pelos israelitas simbolizava uma nova vida, uma vida em que não prevaleceria mais a malícia e a maldade,

que haviam sido os critérios norteadores da aflitiva convivência de Israel no Egito. Israel deixava o período em que tinha havido opressão e injustiça, para passar a viver não só em liberdade, mas, também, em verdade e sinceridade.

– “…À pergunta “por que em Pessach [Páscoa, observação nossa] é proibido comer ou mesmo estar de posse do chamets” [fermento, observação nossa], o Talmude [o segundo livro sagrado do judaísmo, observação nossa] responde com outra pergunta, que, à primeira vista, nada tem com o assunto: por que as pessoas pecam? E responde que o homem vive em constante luta com sua natural inclinação ao mal e, se perde esta batalha, ele peca.

O Talmude então sugere que quem cometer um pecado, faça a seguinte declaração: “D’us do Universo.

Tu, Onisciente, que tudo conheces, sabes que é nosso desejo fazer Tua Vontade. Mas o que nos impede de fazê-lo? É justamente o fermento da massa”.

O chamets representa o impulso negativo, a inclinação ao mal que leva os homens a se afastar de D’us e de Seus mandamentos.

Para nossos Sábios, a matsá [o pão asmo, observação nossa] representa a humildade enquanto a levedura o orgulho e a arrogância, que, se não forem controlados e direcionados para algo positivo, podem levar uma pessoa a inflar seu próprio ego de tal forma a não mais reconhecer a Mão de D’us em sua vida.…” (Matsá, o pão da fé e da liberdade. Revista Morashá, edição 52, abr. 2006. Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=582&p=0 Acesso em 29 nov. 2013).

– Quando a Igreja senta ao redor da mesa do Senhor, ela precisa, também, estar vivendo uma vida de verdade e de sinceridade, não pode participar legitimamente do corpo e do sangue do Senhor se estiver envolvida pela hipocrisia religiosa, pela corrupção.

É o que, muito propriamente, o atual chefe da Igreja Romana denominou de “mundanismo espiritual”, que definiu como sendo “…buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal.

…”, atitude muitas vezes escondida “…por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja…”, “…uma maneira sutil de procurar «os próprios interesses, não os interesses de Jesus Cristo» (Fl 2, 21).…” (FRANCISCO. Exortação apostólica Evangelii Gaudium, n. 93. end. cit.). Que o Senhor nos guarde deste fermento, que era tão característico nos fariseus, saduceus e herodianos (Mt.16:6,11,12; Mc.8:15; Lc.12:1).

 – Por décimo, os israelitas deviam comer o cordeiro, além dos pães asmos, com as ervas amargas, que simbolizavam a amargura da escravidão, o sofrimento que haviam sofrido no Egito.

Os israelitas não deviam ter senão esta imagem do Egito: era um lugar de amargura, de sofrimento.

Os israelitas não deveriam jamais querer voltar ao Egito, deveriam ter sempre em mente que os tempos passados no Egito haviam sido de aflição e sofrimento. O Egito deveria ser deixado sem qualquer saudade, sem qualquer atração.

 – “…Estas ervas amargas eram uma espécie de salada ou condimento para serem comidos com o cordeiro e é geralmente pensado que eram alface, endívia, chicória e outras verduras da mesma espécie, como nós as chamamos — não tão amargas que gerassem repulsa, mas que tivessem um grau suficiente  de amargura para acrescentar ao sabor do cordeiro.

Agora, quando as almas vêm a Cristo, elas carregam espiritualmente  o que aqui é dito em metáfora — ‘com ervas amargas, devem comê-lo’.

Ou seja, qualquer um que realmente crer em Jesus Cristo, terá sempre a sua alegria de crer misturada com uma medida de tristeza causada pelo arrependimento. ‘Sim’, diz o coração verdadeiro, ‘Jesus Cristo morreu por mim, mas quanto ofendi a Deus, que vida eu vivi para que

Ele tivesse de morrer por mim! Leio a respeito de Suas agonias e percebo que fui a causa delas. Foi por amor que Ele da glória para a terra porque Ele sabia como eu era culpado e, consequentemente, foi pendurado na cruz e entregue à morte’. Então, a alma penitente não sabe se regozija ou se lamenta. Há uma mistura de emoções — é uma amargo doce e um doce amargo.

Alegro-me que Cristo tenha retirado meu pecado mas lamento que Ele tenha tido de fazer o que fez para retirá-lo…” (SPURGEON, Charles.op.cit., p.3. end.cit.).

 – De igual modo, a Igreja deve sempre avançar em direção à Canaã celestial, não pode olhar para trás, não pode pensar naquilo que passou. Deve se esquecer das coisas que para trás ficam e caminhar decidida para a glória celeste (Fp.3:13,14).

Assim como o cordeiro não era para ser deixado para o outro dia, sendo queimado, para que nada passado ficasse na memória dos israelitas, nós também devemos viver sempre em novidade de vida, jamais querendo viver do que já se passou.

OBS: “…Há um outro aspecto das ervas amargas que comemos no tempo da nossa conversão, quando vem um desgosto das coisas nas quais nós uma vez sentimos prazer. Assim que o homem sabe que está salvo pelo derramamento do sangue de Cristo, ele começa a desgostar das coisas que antes o agradavam.

Prazeres e diversões de uma caráter contaminado, não, mesmos aqueles de um tipo duvidoso, perdem totalmente sua atração anterior. Naturalmente que os mundanos dizem: ‘Este homem é um louco1 Ele se tornou um puritano. Ele enlouqueceu.’

São algumas das ervas amargas que temos de comer — coisas que pareciam tão doces parecerão terminantemente repugnantes e vocês as deixarão com desgosto.

Nosso paladar mudará completamente. Nossos desejos alterar-se-ão. Vocês não serão capazes de entender a vocês mesmos e, frequentemente, sua boca estará cheia com ervas amargas neste assunto.…” (SPURGEON, Charles. Op.cit., p.3. end. cit.).

 – Por décimo primeiro, os israelitas deveriam comer o cordeiro com os lombos cingidos, com os sapatos nos pés e o cajado na mão, devendo comer apressadamente (Ex.12:11). Ou seja: os israelitas deveriam comer o cordeiro prontos para sair do Egito, totalmente preparados para sair da terra onde estavam escravizados há séculos.

 – A refeição deveria, então, ser tomada em inteira certeza de fé, em plena confiança de que havia chegado o dia da libertação, o dia do fim da escravidão. Esta confiança deveria ser demonstrada pela prontidão determinada.

 Somente por fé em Deus, os israelitas haveriam de cumprir esta determinação divina, pois já haviam ocorrido nove pragas, durante praticamente um ano, e nada havia sido alterado até então na opressão. Como, agora, se dizia que tudo iria terminar?

Como se aprontar para sair se nada havia acontecido até então? Não é por outro motivo que o escritor aos hebreus diz que não só Moisés, mas todo Israel celebrou a Páscoa pela fé, para que o destruidor dos primogênitos não os tocasse (Hb.11:28).

 OBS: “…Uma das características fundamentais, que é a mensagem de Yetsiat Mitsraim [o Êxodo do Egito, observação nossa], é o Bitachon ilimitado — a confiança absoluta na Providência Divina —que encontrou tal expressão pungente dentro do evento histórico do Êxodo do Egito.

Uma nação inteira, homens, mulheres e crianças, contando milhões de pessoas, deixam de boa vontade um país próspero e bem estabelecido, com toda sua fartura e bênçãos materiais, e sai em uma viagem longa e perigosa, sem provisões, mas com confiança absoluta na palavra de D’us, transmitida por Moshé Rabenu [Moisés, nosso Mestre – observação nossa]…” (REBE. Excerto de carta de 11 Nissan 5721. In: CHMUASH: o livro de Êxodo, p.77).

 – De igual modo, a Igreja deve participar da comunhão com Cristo Jesus pronta e preparada para sair deste mundo, pois o Senhor prometeu nos buscar e, a qualquer momento, Ele há de cumprir a Sua promessa. Aliás, quando celebramos a ceia do Senhor, estamos anunciando que Ele vai voltar (I Co.11:26).

 – Mas, será que temos vivido neste mundo com os lombos cingidos? Cingir os lombos é estar vigilante, estar aguardando o Senhor, como nos ensina o próprio Cristo em Lc.12:35.

Cingir os lombos é estar sóbrios, ou seja, atentos, percebendo bem o que está ocorrendo a fim de que não venhamos a ser enganados pelo maligno, como nos ensina o apóstolo Pedro em I Pe.1:13. 

 – Os israelitas tinham de estar prontos para sair do Egito, para iniciar sua caminhada para a terra de Canaã.

Assim que fosse dada a ordem de Faraó para a sua saída, eles deveriam sair apressadamente, tinha sido esta a ordem do Senhor e, por isso, já deveriam tomar a sua refeição completamente preparados para sair daquela terra.

 – Estamos prontos para sair deste mundo? Ou temos nos embaraçado com as coisas desta vida? O apóstolo Paulo diz-nos que somente militaremos legitimamente se não nos prendermos com as coisas deste mundo, se estivermos prontos para deixá-lo assim que o Senhor nos ordenar (II Tm.2:4). Qual é a nossa situação?

 – Por décimo segundo, o Senhor, então, explica ao povo que, à meia-noite, Seu anjo passaria pela terra do Egito e mataria a todo primogênito, mas, na casa onde houvesse o sangue do cordeiro, o anjo passaria por cima dos moradores, não atingindo os que ali estivessem reunidos (Ex.12:12,13).

OBS:  “…A comida solene do cordeiro era tipo do novo dever evangélico para Cristo.

Primeiro, o Cordeiro Pascal foi morto não para ser apenas observado, mas para ser consumido, de modo que devemos pela fé fazer Cristo nosso, como nós fazemos com aquilo que comemos, e nós devemos receber força espiritual e alimento d Ele, assim como de nosso alimento físico, e nos deleitar n’Ele, assim como nós o temos no beber e comer quando estamos com sede ou com fome.

Segundo, o cordeiro era para ser todo consumido: aqueles que, pela fé, alimentam-se de Cristo, devem se alimentar do Cristo todo. Devem tomar Cristo e Seu jugo, Cristo e Sua cruz, assim como Cristo e a Sua coroa.

Terceiro, o cordeiro era para ser comido com ervas amargas, em lembrança da amargura da escravidão no Egito; nós devemos nos alimentar de Cristo com quebrantamento de coração, em lembrança do pecado.

Quarto, o cordeiro era para comido em uma postura de partida Ex.12:11; quando nos alimentamos de Cristo pela fé, nós precisamos deixar o mundo e tudo o que nele há…” (WESLEY, John. Notas explicativas. Ex.12:3. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/wesleys-explanatory-notes/exodus/exodus-12.html Acesso em 30 nov. 2013).

 – Daí o nome “Páscoa”, que significa “passagem”. O anjo da morte “passaria” por cima dos israelitas, ao ver o sangue nas umbreiras e na verga da porta, não matando o povo de Israel, mas ferindo a todo o Egito, fazendo, assim, completo, o Seu juízo sobre os deuses do Egito, atingindo, inclusive, a Faraó, agora diretamente, com a morte de seu primogênito e herdeiro do trono.

 – A Páscoa, era, então, a passagem da morte para a vida, a passagem da escravidão para a liberdade. Cristo Jesus é a nossa Páscoa (I Co.5:7), pois, ao crermos n’Ele, passamos da morte para a vida (Jo.5:24). Ele verteu o Seu sangue e, pela Sua morte, nós obtivemos vida. Aleluia!

 – Aquele episódio, entretanto, não seria único. O Senhor disse que deveria ser ele anualmente comemorado, como uma festa ao Senhor, para que os israelitas jamais se esquecessem de que haviam sido libertos do Egito e constituídos como povo do Senhor.

Era a primeira festa que se instituía neste novo calendário, era uma data que Israel jamais deveria se esquecer e, de fato, os israelitas comemoram até a presente data esta festa, que lhes relembra a libertação do Egito.

 – A instituição desta festa, ainda, serviu de estatuto perpétuo para que, ao longo dos séculos, Israel e todos os demais povos não só se lembrassem que Deus havia libertado Israel com mão forte do Egito, mas, principalmente, para que tivessem bem claro que o resgate da humanidade se daria pelo sangue do Cordeiro.

A Páscoa serviu de sinal para a humanidade da salvação que haveria de vir ao mundo. Por isso, a Páscoa somente deixou de ser celebrada quando o próprio Cristo, quando estava prestes a cumprir em Si mesmo tudo quanto era apontado pela Páscoa, instituiu, ao Ele mesmo celebrar a Páscoa com Seus discípulos, a ceia do Senhor, que veio, então substituir a celebração da Páscoa.

OBS: “…Esta ceia ritual, associada com a imolação dos cordeiros (Ex 12,1-28 Ex 12,43-51), era memória do passado, mas ao mesmo tempo também memória profética, ou seja, anúncio duma libertação futura; de fato, o povo experimentara que aquela libertação não tinha sido definitiva, pois a sua história ainda estava demasiadamente marcada pela escravidão e pelo pecado.

O memorial da antiga libertação abria-se, assim, à súplica e ao anseio por uma salvação mais profunda, radical, universal e definitiva. É neste contexto que Jesus introduz a novidade do seu dom; na oração de louvor — a Berakah —, Ele dá graças ao Pai não só pelos grandes acontecimentos da história passada, mas também pela sua própria « exaltação ».

Ao instituir o sacramento da Eucaristia, Jesus antecipa e implica o sacrifício da cruz e a vitória da ressurreição; ao mesmo tempo, revela-Se como o verdadeiro cordeiro imolado, previsto no desígnio do Pai desde a fundação do mundo, como se lê na I Carta de Pedro (1Pe 1,18-20).

Ao colocar o dom de Si mesmo neste contexto, Jesus manifesta o sentido salvífico da sua morte e ressurreição, mistério este que se torna uma realidade renovadora da história e do mundo inteiro.

Com efeito, a instituição da Eucaristia mostra como aquela morte, de per si violenta e absurda, se tenha tornado, em Jesus, ato supremo de amor e libertação definitiva da humanidade do mal.…” (BENTO XVI. Exortação apostólica Sacramentum caritatis, n.10, citação Ex.12:1-8. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 29 nov. 2013).

Evidentemente que não aceitamos que a ceia do Senhor seja um sacramento, como o faz a Igreja Romana, mas, tirando este aspecto, o pensamento apresentado tem respaldo bíblico no que nos importa, ou seja, em mostrar que a Páscoa prefigura a ceia do Senhor.

 – Eis o motivo pelo qual não devemos mais celebrar a Páscoa judaica. A Páscoa, hoje em dia, foi substituída pela ceia do Senhor, que o próprio Jesus instituiu para memória de Seu sacrifício vicário na cruz do Calvário. 

 – Também não há motivo algum para celebrarmos uma “Páscoa cristã”, numa data diversa da data do calendário judaico, como acabaram por fazer os cristãos nos primórdios da história da Igreja, definindo que seria ela celebrada no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre depois do equinócio da primavera no hemisfério norte. 

 – Com efeito, os cristãos, desde os primórdios, aproveitaram a celebração da Páscoa judaica para celebrar a ressurreição do Senhor, aproveitando a ocasião para efetuar o batismo dos novos convertidos e, em seguida, com eles, celebrarem a ceia do Senhor, não antes de um período de jejum.

Houve discussão a respeito da data desta Páscoa, se seria a própria data judaica ou, então, no domingo subsequente, dia em que efetivamente ressuscitou o Senhor, o que gerou alguma dissensão entre os cristãos, que acabaram, por fim, adotando a data que até hoje é celebrada a “Páscoa cristã”.

 – No entanto, a verdade é que a ceia do Senhor substituiu a Páscoa e, portanto, a criação de uma “Páscoa cristã” acabou sendo algo que não estava previsto nas Escrituras e que acabou gerando as celebrações da “Semana Santa”, que caracteriza alguns segmentos ditos cristãos.

 – A nossa Páscoa é Cristo e comemoramos a Sua morte e ressurreição por meio da Ceia do Senhor. A criação de uma “festa de Páscoa” é algo que não encontra respaldo nas Escrituras, conquanto devamos aproveitar a data para anunciar ao mundo a ressurreição de Cristo, que é a garantia da nossa fé (I Co.15:13,14).

Por isso mesmo, esta festividade, criada sem respaldo bíblico, acabou por propiciar um sincretismo com outras festividades pagãs que ocorriam por ocasião da primavera e que trouxe elementos totalmente despidos de elementos cristãos, como, por exemplo, as ideias de fertilidade, como se vê nas figuras do coelho e do ovo.

 – Além da Páscoa, o Senhor também instituiu a festa dos pães asmos, que deveria se seguir à Páscoa, em que os israelitas deveriam se abster de fermento por sete dias, fermento que não poderia sequer penetrar nas casas dos israelitas.

Como dissemos, esta festividade tinha por finalidade mostrar aos israelitas que, a partir de sua libertação, eles deveriam viver em sinceridade e verdade, ou seja, em plena comunhão com o Senhor, tendo um viver completamente diferente do das demais nações.

 – Esta celebração deveria ser ensinada às novas gerações, deveria ser um culto que sempre seria comemorado, para que todos soubessem que o Senhor havia libertado o povo do Egito, poupando os seus primogênitos da morte.

De igual modo, a ceia do Senhor deve ser celebrada periodicamente, anunciando a morte do Senhor até que Ele venha (I Co.11:26), para que todos nos lembremos de que o Senhor morreu por nós para nos salvar, que devemos perseverar santos e irrepreensíveis até o fim e que Ele virá brevemente nos buscar.

 – Mas, em meio à Páscoa e Festa dos Pães Asmos, deveria haver uma “oferta das primícias”, no dia seguinte ao sábado, ou seja, no primeiro dia da semana, em que os israelitas deveriam oferecer a Deus um molho das primícias da sega ao sacerdote, ou seja, os primeiros frutos que haviam sido colhidos da terra após a retomada da produção, ao final do inverno.

Este molho deveria ser movido perante o Senhor para que o povo pudesse ser aceito e, concomitantemente, o sacerdote deveria oferecer um cordeiro sem mancha, de um ano, em holocausto ao Senhor e uma oferta de manjares de duas dízimas de flor de farinha, amassada com azeite, para oferta queimada em cheiro suave ao Senhor, e a sua libação de vinho, o quarto de um him (Lv.23:10-13).

 – Esta oferta é chamada de “oferta do Ômer”, pois o que se oferecia, as duas dízimas de farinha, era equivalente a um “ômer”, medida de capacidade para secos que corresponde a cerca de 2,48 litros.

Normalmente, pela época do ano em que se dava a oferta, tratava-se de cevada, que, normalmente, era utilizada para a alimentação animal.

OBS: “…A conexão entre ambas as festas fica ainda mais evidenciada à luz do ano agrícola no antigo Israel – a primeira colheita de cevada, geralmente usada como ração animal, era colhida e entregue como oferenda de Omer em Pessach, ao passo que a colheita que é o alimento humano básico, o trigo, era ofertada no Templo Sagrado em Shavuot. …” (A CONTAGEM do Ômer. Morashá, edição 79, março 2013. Disponível em: http://www.morasha.com.br/omer/a-contagem-do-omer-1.html Acesso em 24 maio 2018).

 – Esta oferta era indispensável para que os israelitas pudessem comer da produção da nova safra (Lv.23:14), a mostrar, de pronto, que se deveria reconhecer a soberania divina sobre a terra de Israel e que tudo era dádiva divina antes que se usufruísse do que Deus havia dado.

A primeira porção era de Deus, pois Ele era o Senhor da terra, o Senhor devia ser buscado em primeiro lugar, a nos lembrar, de pronto, o ensino de Jesus de que devemos buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça e ter tudo o mais como acréscimo (Mt.6:33; Lc.12:31).

 – Esta oferta tipifica a ressurreição de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, as primícias dos que dormem (I Co.15:20,23), o primogênito dentre os mortos (Rm.8:29; Cl.1:18; Ap.1:5),

Aquele que deu início à “nova criação” depois de Sua vitória sobre o pecado e a morte na cruz do Calvário e que “inaugura um novo tempo”, “uma nova semana”, o “oitavo dia”, em que está restabelecida a amizade entre Deus e os homens.

 – Por isso, essa oferta é uma oferta pacífica, uma oferta de manjares, pois o pecado inexiste, já foi retirado pelo Senhor quando de Sua morte vicária.

No dia seguinte ao sábado, em que o cordeiro pascal era imolado, tinha-se uma oferta de paz, a mostrar que se estava diante de circunstância de liberdade frente ao pecado, a libertação promovida pelo Filho de Deus (Jo.8:36).

 – Havia um holocausto, tanto do cordeiro sem mancha de um ano, que tipifica o Senhor Jesus, pois se trata do mesmo animal que fora sacrificado na Páscoa.

As duas dízimas de farinha da oferta de manjares simbolizam a Palavra de Deus, denotando o cumprimento da promessa da redenção proferida pelo Senhor no Éden.  

 – O azeite representa o Espírito Santo, que se tornou disponível a habitar em todos os que cressem em Cristo, após a glorificação do Senhor, que Se deu com a ressurreição (Jo.7:38,39), tanto que, na tarde do domingo da ressurreição, o próprio Senhor Jesus soprou sobre os discípulos que, naquele ato, receberam o Espírito Santo (Jo.20:19,22).

 – A libação do vinho fala-nos de que tudo isto só se tornou possível em virtude do derramamento do sangue incontaminado de Jesus no Calvário, que fez com que pudéssemos nos aproximar de Deus (Ef.2:11-16).

 – A oferta era de movimento, ou seja, o sacerdote “…tomava em suas mãos a cesta que continha a farinha e a balançava diante de si, ‘acenando’ com ela para a frente e pra trás…’ (AUSUBEL, Nathan. Lag B’Omer. In: A JUDAICA, v.5, p.439). 

 – Este movimento tipifica o Espírito Santo, Aquele que traz o “poder”, ou seja, a “dinâmica” de Deus para a humanidade, a nos indicar que a ressurreição de Cristo se deu por ação do Espírito Santo (Rm.8:11), por uma ação divina (At.2:24,32; 3:15; 5:30; 10:40; 13:30; Rm.10:9; I Co.6:14; 15:15; II Co.4:14; Gl.1:1; Cl.2:12; I Ts.1:10; I Pe.1:21).

III – A FESTA DAS SEMANAS OU PENTECOSTES

 – A festa de Pentecostes era uma das três grandes festividades anuais do povo israelita, conforme determinado na lei de Moisés, as festas em que deveriam comparecer à presença de Deus todos os varões (Ex..23:14-19). 

 – Esta festa foi denominada de “festa da sega dos primeiros frutos” (Ex.23:16), “festa das semanas”  e “festa das primícias” (Ex.34:22), porque, nela, deveriam os israelitas trazer os primeiros frutos colhidos durante o ano (o ano religioso começava, precisamente, na Páscoa, como se vê em Ex.12:2). 

 – O nome hebraico da festa é, precisamente, “Shavuot”, que quer dizer “semanas”, precisamente porque era comemorada sete semanas depois da Páscoa (ou seja, 49 dias depois da Páscoa, ou seja, num intervalo de 50 dias entre a Páscoa e esta celebração).

 –  Em “Shavuot”, os israelitas deveriam apresentar os primeiros frutos da colheita para o Senhor, em gratidão a Deus pela fertilidade da terra. Tratava-se de uma festa em que se ofereciam estes primeiros frutos a Deus e o sacerdote deveria apresentar esta oferta como uma “oferta de movimento”, “dois pães de movimento”, além de animais para sacrifícios (Lv.23:15-25). 

 – Era uma festa em que se agradecia a Deus pelo fruto da terra, em que se apresentava ao Senhor uma “oferta de movimento”. Esta festividade foi relacionada, posteriormente, pelos Sábios Rabínicos, como sendo a celebração do “tempo em que nos foi dada a Torah”, passando a representar a recepção da Lei por parte do povo de Israel.

 – A festa de Pentecostes, na verdade, iniciava-se na contagem das sete semanas inteiras, contagem que  deveria começar logo após a oferta das primícias (Lv.23:15).

É a chamada “contagem do ômer”, que os rabinos judeus entendem ser uma obrigação dada ao povo de Israel para que ele reconheça que, entre a saída do Egito, como povo escravo em fuga, e a chegada ao monte Sinai, quando se constituiu no reino sacerdotal e povo santo do Senhor, foi necessário um “progresso espiritual”, um “crescimento espiritual”, um “momento de purificação”, sem o qual não se poderia receber a lei do Senhor.

Tem-se, portanto, um período de preparação entre a libertação da escravidão e a plenitude da “cidadania divina”.

 – Esta “contagem do ômer” tipifica o período que medeia entre a ressurreição de Cristo e a descida do Espírito Santo, período em que o Senhor Jesus, por primeiro, apresentou-Se vivo com muitas e infalíveis provas aos discípulos, falando o que respeita ao reino de Deus, deu mandamentos aos discípulos pelo Espírito Santo e, depois, foi recebido nos céus (At.1:1,2), tendo, então, obedientemente, os discípulos, em oração, aguardado o revestimento de poder (At.1:5,14), para que se tornassem testemunhas do Senhor Jesus (At.1:8).

 – Neste período, os discípulos tiveram de se tornar testemunhas da ressurreição do Senhor, cumpridores de Seus mandamentos, aprenderem a esperar o retorno do Cristo que viram subir aos céus e terem a devida eficácia para a transmissão do Evangelho para todas as nações, como determinado pelo Senhor Jesus.

 – A “contagem do ômer”, portanto, tipifica o discipulado, a preparação necessária para todo discípulo de Cristo que, de liberto do pecado, tem de se tornar testemunha de Jesus Cristo e divulgador do Evangelho para toda criatura.

 – Após a contagem das sete semanas inteiras, chegava-se ao dia de Pentecostes (palavra grega que significa “cinquenta”) ou “festa das semanas”, ou, ainda, “festa da sega dos primeiros frutos”, quando, então, era oferecida nova oferta de manjares ao Senhor.

Esta oferta seria de dois pães de movimento, trazidas das habitações dos israelitas, de duas dízimas de farinha, mas, desta feita, pães levedados, que serão primícias ao Senhor (Lv.23:16,17).

 – Vemos, por primeiro, que, ao contrário da oferta das primícias, quando se oferecia a flor de farinha amassada com azeite, tem-se a oferta de dois pães de movimento, e, no movimento, não há novidade, pois a oferta das primícias também era uma “oferta movida”.

A festa de Pentecostes tipifica o Espírito Santo e, portanto, não há como não estarmos diante de uma “oferta de movimento”.

 – Causa espécie, entretanto, que os pães que eram trazidos para a oferta fossem pães levedados, ou seja, pães de fermento, quando, precisamente, havia uma disposição de que nunca poderia ser apresentada oferta com fermento (Lv.2:11).

 – Tinha-se, aqui, uma exceção, porquanto se tratava de uma oferta de manjares de gratidão a Deus pelos primeiros frutos da colheita e o fermento fazia parte da alimentação dos israelitas, aliás, do principal elemento da alimentação, que era o pão.

Assim, como o fermento também era uma dádiva divina que se devia agradecer, nesta ocasião, também era ele ofertado, como “primícias ao Senhor”.

OBS: “Pão levedado (chamêts) que é inchado e cheio de ar representa a arrogância de um ego inflado. Ao contrário, o pão não fermentado (matsá) representa a humildade.

O ego não é necessariamente uma coisa ruim se representa uma autoestima saudável na observância do judaísmo — como declara o versiculo: ‘Seu coração foi elevado nos caminhos de D’us’ (II Cr.17:6). Porém, tal ego ‘saudável’ só é possível quando o judaísmo de uma pessoa se desenvolve.

No começo, porém, não há nada para ela se orgulhar e, assim, seu ego seria algo destrutivo. Desta forma, em Pêssach, o nascimento da nação judaica, o chamêts (ego) é proibido.

Mas em Shavuot, depois da contagem do ômer, que representa o refinamento da personalidade judaica, o chamêts torna-se uma obrigação: ‘eles devem ser assados como pães levedados’.” (Faíscas de Chassidut. In: MILLER, Chaim (compil. e adapt.). CHAMUSH: o livro de Levítico, p.195).

– Além desta oferta de manjares, também eram oferecidos sete cordeiros sem mancha de um ano, um novilho e dois carneiros, com as suas libações por oferta queimada ao Senhor, de cheiro suave ao Senhor (Lv.23:18).

O que chama atenção é a quantidade de animais, tudo a indicar que estamos diante de uma “completude” (sete cordeiros), sem falar que todo o tipo de animal mamífero que se aceita para sacrifício era objeto da referida oferta, também a indicar aqui uma “completude”, uma “plenitude”.

 – Além disso, também, para expiação do pecado, era oferecido um bode e dois cordeiros para sacrifício pacífico, em mais uma disposição que indica tratar-se de uma circunstância de “plenitude”, de “completude”.

  – Não é, portanto, coincidência que o batismo com o Espírito Santo tenha ocorrido no dia de Pentecostes. Em primeiro lugar, é importante salientar que estamos diante do “ano aceitável do Senhor” (Lc.4:19), ou seja, o tempo em que haveria a pregação do evangelho. 

 – Este ano se iniciou com a morte de Jesus Cristo no Calvário, que nos abriu um novo e vivo caminho para o Pai (Hb.10:20), episódio que, por inaugurar este ano do Senhor, nada mais é que a Páscoa (I Co.5:7).

Tanto assim é que, no dia seguinte ao sábado da páscoa, era oferecido um molho das primícias da colheita ao sacerdote (Lv.23:10), que seria movido perante o Senhor, primícia esta que outra não é senão o primogênito dentre os mortos, aquele que ressuscitou no primeiro dia da semana, Cristo Jesus (I Co.15:20,23; Cl.1:18). 

 – Em seguida, cinquenta dias depois, vinha o Pentecostes, a festa que indica o início da colheita no ano, ou seja, a ocasião que demonstra o início da salvação da humanidade através da Igreja, o início do movimento do Espírito Santo, baseado no sacrifício de Cristo, com poder e eficácia, em prol da colheita das almas para o reino celestial, algo que perdurará até a festa da colheita final, até o final deste ano, que se dará com a festa dos tabernáculos, que representa o reino milenial de Cristo.

 – Assim, a descida do Espírito Santo somente poderia ocorrer, mesmo, na festa das primícias, na festa das semanas, que indica o início da colheita, o início da manifestação plena do Espírito Santo no meio da humanidade com vistas à salvação das almas. 

 – Era o começo do movimento e o Espírito Santo sempre esteve relacionado com o mover, como vemos desde a Sua primeira aparição no texto sagrado (Gn.1:2). 

 – Mesmo o significado dado pelo judaísmo posterior a “Shavuot”, qual seja, a celebração da entrega da Lei ao povo de Israel, o que teria se dado cinquenta dias depois da libertação do Egito, no deserto, não foge a considerações por parte dos cristãos, porquanto, se, para tais rabinos,

“…a saída dos israelitas do cativeiro no Egito representara, na realidade, apenas um prelúdio para a sua libertação e não a libertação em si, pois os antigos escravos não podiam ser considerados realmente livres, diziam os Rabis num espantoso paradoxo, até que se tivessem resolvido a adotar voluntariamente ‘ o jugo da Torah’, que os conduziria à plena libertação.

Foi a aceitação jubilosa por Israel desses verdadeiros ‘ grilhões da liberdade’ em Shavuot, diziam eles, que transformou aquele dia santo em data comemorativa da libertação de Israel da escravidão da mente e do espírito.…” (AUSUBEL, Nathan. Shavuot. In:  A JUDAICA, v.6, p.776), torna-se evidente que, também, no dia de Pentecostes, terminou o “prelúdio”, ou seja,

a preparação dos discípulos para a tarefa que lhes fora confiada por Jesus e, a partir daí, totalmente libertos do medo, da apreensão, revestidos de poder, puderam iniciar a exitosa tarefa de demonstração do amor e do poder de Deus a toda a humanidade.

 – Também, no entendimento dos rabinos judeus, em Shavuot se tem a transformação do povo de Israel e efetivamente no povo de Deus, no reino sacerdotal e povo santo pretendido pelo Senhor, pois só então se teria entregado a lei a Israel.

Em Pentecostes, também, a Igreja passou a ser, efetivamente, a nação santa e o sacerdócio real, pois só nesta oportunidade é que se começou a anunciar as virtudes d’Aquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz (I Pe.2:9). Somente a partir daí, a Igreja passou a ser efetivamente a agência do reino de Deus.

 – A “completude”, a “plenitude” da vida cristã, portanto, exige que se tenha o batismo com o Espírito Santo, a eficácia exigida pelo Senhor para que possamos cumprir, em sua totalidade, a ordem divina da evangelização e da manifestação do poder de Deus por intermédio da Igreja.

 – O dia de Pentecostes, sendo a última festa do primeiro bloco de festividades do ano aceitável do Senhor, indica-nos que não há como a Igreja desempenhar, a contento, as suas tarefas durante a dispensação do Espírito Santo se não tiver a “plenitude do Espírito”, ou seja, se não houver o revestimento de poder e, depois, a manifestação dos dons espirituais, assim como ocorria na igreja primitiva, como narrado em o Novo Testamento.

 – Equivocados, portanto, estão os “cessacionistas”, aqueles que dizem que o revestimento de poder e os dons espirituais eram apenas para os tempos apostólicos.

Na tipologia das festividades judaicas, vemos, com absoluta clareza, que somente se poderá ultrapassar o “ano aceitável do Senhor” e se chegar às festas finais, se passarmos, antes, na “santa convocação”, na “solenidade do Senhor” do dia de Pentecostes. Pensemos nisto!

 Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/2847-licao-14-entre-pascoa-e-pentecostes-i

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