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LIÇÃO Nº 4 – A ILUMINAÇÃO ESPIRITUAL DO CRENTE  

   

O salvo é luzeiro de Cristo.  

INTRODUÇÃO

– Em prosseguimento ao estudo da carta de Paulo aos efésios, estudaremos o trecho de Ef.1:15-23.  

– O salvo é luzeiro de Cristo.  

I – O TESTEMUNHO DOS EFÉSIOS  

– Em continuidade ao estudo da carta de Paulo aos efésios, estudaremos o trecho de Ef.1:15-23.  

– Depois de ter mostrado aos crentes de Éfeso quais as bênçãos espirituais que eles estavam a receber da Santíssima Trindade, qual a sua condição espiritual, o que significava “estar nos lugares celestiais em Cristo”, o apóstolo passa a dizer o que estava a ouvir a respeito daqueles salvos enquanto estava preso em Roma.  

– O apóstolo Paulo encontrava-se preso em Roma. Verdade é que tudo indica que esta primeira prisão do apóstolo não foi muito rigorosa, tanto que, pelo menos num primeiro momento, teve ele o direito a se manter em prisão domiciliar (At.28:30).  

– No entanto, estava preso e, portanto, não tinha condição de se locomover para onde quisesse e, assim, ter pleno conhecimento das coisas que ocorriam. De qualquer maneira, Paulo diz aos efésios que havia ouvido falar da fé no Senhor Jesus e do amor para com todos os santos que tinham aqueles irmãos (Ef.1:15).  

– Temos, desde logo, uma importante lição, qual seja, a de que nosso comportamento, nossa conduta é vista e apreciada por todos os que nos cercam e que as pessoas vão falar de nós, queiramos ou não.  

– Éfeso era bem distante de Roma. Paulo encontrava-se preso, naquele tempo os meios de comunicação e de transporte eram precários, mas, mesmo assim, Paulo ficou sabendo o que os efésios faziam, como eles estavam se comportando.  

– E, em nossos dias, em que o mundo se tornou uma “aldeia global”, ou seja, em que todos têm acesso aos que todos fazem, em que não existem distâncias intransponíveis, há ainda alguém que ache que seu comportamento ficará desconhecido dos demais, que as pessoas não vão falar a seu respeito?

Quem ainda acha que pode escapar destes comentários é um ingênuo, alguém que está completamente fora da realidade.  

– Diante desta realidade, é extremamente importante que pensemos o que estão a falar de nós, qual é a imagem que temos diante das pessoas. Como diz a poetisa sacra Lydia Baxter (1809-1874),

na primeira estrofe do hino 531 da Harpa Cristã, levamos conosco o nome de Jesus e, deste modo, o que falam de nós repercute em Nosso Senhor e Salvador e, como o Senhor deixou claro no monte Sinai, não podemos tomar o nome do Senhor em vão (Ex.20:7; Dt.5:11).

– Nosso comportamento, tendo em vista o fato de vivermos em sociedade, será observado por todos os que nos cercam e temos a responsabilidade de termos uma conduta que glorifique a Deus e que, quando falarem de nós, estejam a glorificar a Deus.  

– Isto não significa que devamos ficar preocupados em agradar às pessoas. Não estamos aqui neste mundo para agradar os homens, mas, sim, a Deus.

O apóstolo Paulo foi enfático ao dizer que, se quisermos agradar aos homens, não poderemos ser servos de Cristo (Gl.1:10).  

– O que precisamos ter preocupação é que nossa conduta tem de glorificar a Deus, ainda quando formos criticados, a crítica tem de ser por causa de nossa fidelidade ao Senhor.

É o que nos diz o apóstolo Pedro, que afirma que, quando falarem mal de nós, devem dar notícia de que somos fiéis ao Senhor (I Pe.2:12).  

– Devemos ter consciência que se tivermos u’a má conduta perante os homens, isto certamente irá escandalizar os irmãos, ou seja, causar dificuldades para a vida espiritual de outras pessoas que servem a Cristo Jesus e o escândalo que causarmos será severamente punido pelo Senhor, que diz textualmente:

“Mas qualquer que escandalizar um destes pequeninos que creem em Mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos.

Porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mt.18:6,7).  

– Qual era o testemunho dos efésios? Era o melhor possível. Paulo diz que ouviu falar da fé no Senhor Jesus que havia entre eles e do amor deles para com todos os santos (Ef.1:15).  

– Os crentes de Éfeso eram portadores da fé no Senhor Jesus, ou seja, criam em Jesus, confiavam n’Ele.

Éfeso era um centro de idolatria e de magia negra (At.19:18,19,27), uma cidade onde as condições espirituais eram extremamente difíceis, mas, diante de tudo,

os crentes de Éfeso mantinham fé no Senhor Jesus, fé que haviam recebido quando ouviram a palavra da verdade, o evangelho da salvação (Ef.1:13).  

– As pessoas precisam ter consciência de que temos fé no Senhor Jesus. Nosso testemunho tem de ser tal que as pessoas digam claramente que nós cremos, que nós confiamos no Senhor Jesus.

Aliás, sermos chamados de “crentes” é um sinal de que nos apresentamos demonstrando a nossa crença, o nosso crédito a Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.  

– Nossa conduta demonstra que cremos em Jesus Cristo? Nosso comportamento reflete que confiamos em Jesus? Quem crê em Jesus, quem confia em Jesus faz o que Ele manda, independentemente das circunstâncias e dos parâmetros existentes na sociedade.  

– Mas, além da fé no Senhor Jesus Cristo, Paulo ficou sabendo que os efésios demonstravam amor para com os santos, ou seja, praticavam o amor fraternal, revelavam que estavam a cumprir o mandamento do Senhor,

que é nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou (Jo.15:12,17), o mandamento que é novo e antigo, que é o mesmo desde o princípio de nossa jornada espiritual (I Jo.3:11,23; 4:11; II Jo.5).  

– Os salvos em Cristo Jesus precisam amar-se cordialmente uns aos outros (Rm.12:10) e somente estará cumprindo a lei se amar reciprocamente (Rm.13:8).

É esta a instrução de Deus para nós (I Ts.4:9) e o resultado da purificação da nossa alma na obediência à verdade (I Pe.1:22), a prova do nosso novo nascimento, do nosso nascimento de Deus (I Jo.4:7) e a garantia de que Deus está em nós (I Jo.4:12).  

– Temos amado os santos? Desenvolvemos o amor fraternal (Rm.12:10; I Ts.4:9; Hb.13:1; I Pe.1:22; II Pe.2:7)?

Diz o apostolo Pedro que este amor é resultado de um processo de crescimento espiritual, o último estágio antes da obtenção do amor divino, da plenitude da espiritualidade.

– Ao saber deste testemunho, o apóstolo dos gentios agradeceu a Deus, pois via o resultado positivo de seu trabalho de evangelização em Éfeso. Devemos ser gratos a Deus quando vemos nossos irmãos dando bom testemunho, demonstrando a sua fé no Senhor Jesus e o amor aos santos.   

– Mas Paulo não somente agradecia a Deus pelo bom testemunho dos efésios, mas também se lembrava dele nas suas orações e aqui temos a primeira oração do apóstolo nesta carta aos efésios, uma oração intercessória, uma oração em que o apóstolo pedia bênçãos espirituais para aqueles crentes (Ef.1:16).  

– Paulo revela-se aqui um homem de oração e esta é outra característica que deve ter o salvo na pessoa de Jesus Cristo.

Sua conduta de fé no Senhor Jesus e de amor aos santos somente se sustentará se ele tiver uma comunicação incessante com o seu Mestre e isto se dá por meio da oração e da meditação nas Escrituras principalmente.  

– Paulo estava preso, corria risco de vida, mas não pedia somente por ele, mas, bem ao contrário, lembravase de seus irmãos e queria o seu bem-estar espiritual. Ele mesmo demonstrava fé no Senhor Jesus e amor para com o santos.

Pouco podia fazer o apóstolo pelos crentes, já que se encontrava aprisionado, mas o que ele podia fazer, ele fazia, que era orar.   

– Como está a nossa vida de oração? A oração é algo que podemos fazer por todos os necessitados, é algo que está ao nosso alcance, porque o Senhor Jesus nos abriu o acesso ao trono da graça (Hb.4:16), ao vivo e novo caminho aberto por Jesus (Hb.10:19-24).

Temos intercedido pelos nossos irmãos? Lembremos que, como bem ensina Samuel, quem deixa de fazê-lo está a pecar (I Sm.12:23) e quem vive pecando não pode ser tido por filho de Deus (I Jo.3:8,9).   

II – O PEDIDO DE PAULO PELOS EFÉSIOS  

– Qual era o pedido que Paulo fazia aos efésios? Por primeiro, o apóstolo pedia que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, desse em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação (Ef.1:16).  

– A oração de Paulo era dirigida ao Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, ao Pai da glória. Mais uma vez, verificamos aqui a consciência trinitária de Paulo revelada nesta carta, que como tem por tema a própria Igreja, reforça-nos a necessidade de que se creia na Triunidade divina para que se possa dizer que se está pertencendo ao povo de Deus.  

– A negativa da Triunidade divina é um elemento que compromete a salvação como nos deixa claro o apóstolo João (I Jo.22-24).

Nestes dias difíceis em que vivemos, não são poucos os que se deixam levar por um discurso unicista, ou seja, o discurso que nega que Deus subsiste eternamente nas Pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mais um engano dos muitos que surgem nestes últimos dias da dispensação da graça. Tomemos cuidado!  

– Muitos são os que estão sendo levados a gravíssimos erros doutrinários no tocante a este tema, não só por meio de unicistas que se dizem cristãos, mas também por parte de influência que recebem tanto de judeus quanto de muçulmanos.

A carta aos efésios mostra como crença na Triunidade divina é essencial para a nossa salvação.  

– Paulo orou ao Pai. Jesus manda-nos orar ao Pai (Mt.6:9). Devemos orar ao Pai, em nome de Jesus Cristo (Jo.14:13,14; 15:16; 16:24), na companhia do Espírito Santo (Rm.8:26).

Temos observado muitos que, inadvertidamente hoje, nas suas orações têm orado “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, o que é incorreto e deve ser evitado.  

– A oração de Paulo era para que o Pai desse aos efésios o espírito de sabedoria e de revelação em seu conhecimento, ou, como diz a Versão Nova Almeida Atualizada, “no pleno conhecimento d’Ele”.

– Por primeiro, o apóstolo mostra-nos que é necessário termos conhecimento de Deus, pois está a pedir que o Pai conceda espírito de sabedoria e de revelação neste conhecimento, sinal de que não é possível que alguém sirva ao Senhor sem ter conhecimento d’Ele.  

– Conhecimento é palavra que temos de saber identificar no texto sagrado, isto porque temos uma distinção entre o sentido que a cultura hebraica e a cultura grega têm de conhecer.  

– Conhecer, para os judeus, é ter intimidade, formar uma unidade, envolver-se. Tanto assim é que o relacionamento íntimo de um marido e de uma mulher é denominado de “conhecer”, como vemos em Gn.4:1, entre outros textos bíblicos.

Quando um homem e uma mulher se conhecem, formam uma só carne e têm o potencial de gerar uma vida, como aconteceu com Adão e Eva que, ao se conhecerem, deram origem a Caim.  

– É precisamente isto que deve ocorrer entre o salvo na pessoa de Jesus Cristo e Deus. O Senhor Jesus disse que veio ao mundo para que Seus discípulos se tornassem um com Ele, assim como Ele é um com o Pai (Jo.17:20,21).

A unidade perdida com a entrada do pecado no mundo é restaurada pela obra salvífica de Jesus Cristo e, assim, quando nascemos de novo, por termos crido em Jesus, voltamos a ter comunhão com o Senhor.  

– É preciso que tenhamos intimidade com Deus, que formemos com Ele uma unidade, que nos envolvamos com Ele e, nesta união, geraremos vida e esta vida será vista por todos, de tal modo que, como disse Jesus na Sua oração sacerdotal, o mundo creia que Jesus realmente foi enviado pelo Pai, é o Salvador, Aquele que veio estabelecer a ligação entre Deus e a coroa de Sua criação terrena.  

– Já para os gregos, conhecimento significa domínio intelectual, noção a respeito de o que algo é, como age, de suas propriedades. Para o grego, não se faz necessário sequer o contato com o ser conhecido, basta ter informações sobre ele.   

– O apóstolo aqui, nitidamente, está a se utilizar do conceito hebraico de conhecimento, dizendo não que orasse para que os efésios tivessem conhecimento de Deus, pois este conhecimento era notório diante do que havia ouvido a respeito deles, pois,

se tinham fé no Senhor Jesus e amor para com os santos, era sinal de que, realmente, estavam em unidade com Deus, desfrutavam da Sua intimidade, tanto que estavam a desenvolver atitudes que mostravam não só que Jesus era o Cristo,

o Enviado do Pai, mas que, também, eram os efésios portadores desse nome, não dando margem a qualquer escândalo, mas única e exclusivamente à glória de Deus.  

– A espiritualidade dos efésios era tão admirável que não precisava o apóstolo de pedir ao Pai que eles tivessem conhecimento, porque eles já o tinham.

Que bom será se este for o nosso caso. Entretanto, muitos são os que, lamentavelmente, estão muito aquém desta circunstância em nossos dias. Não têm qualquer intimidade com o Senhor, estão longe de formar uma unidade com Ele.  

– Jesus disse que para sermos Seus discípulos, faz-se mister que neguemos a nós mesmos, tomemos a cruz e O sigamos (Mt.16:24; Mc.8:34: Lc.9:23).

Isto é ter conhecimento d’Ele, pois, quando negamos a nós mesmos, renunciamos ao nosso “eu”, fazemos com que não mais vivamos, mas Cristo viva em nós (Gl.2:20), pois, doravante, a nossa vontade não terá mais qualquer valor, mas, sim, a vontade de Cristo. Abrimos mão de nossa vontade para que a vontade d’Ele prevaleça.  

– Em seguida, como não temos mais vontade própria, tomamos a cruz, ou seja, assumimos a missão que o Senhor nos confere, passamos a servi-l’O, a realizar a obra que Ele nos dá, assim como Ele assumiu a obra que o Pai Lhe dera a fazer (Jo.17:4).

Quando assim agimos, passamos a glorificar o nome do Senhor, passamos a ser um espelho que reflete a glória de Deus (II Co.3:18).

– Ao tomar estas duas atitudes, passamos a seguir as pisadas do Senhor Jesus, porque foi isto que Ele fez quando veio ao mundo. Passamos a imitá-l’O (I Co.11:1) e a agir como Ele agiu, tendo-O por exemplo (I Pe.2:21).

Assim, passamos, realmente, a ser “cristãos” (At.11:26), ou seja, “pequenos Cristos”, “parecidos com Cristo”, irmãos de Jesus, conformes à Sua imagem (Rm.8:29).  

– Esta semelhança com Jesus, imperiosa por conta da unidade que temos de ter com Ele, é reforçada quando recebemos o espírito de sabedoria e de revelação, que é o pedido feito por Paulo em favor dos efésios.  

– Jesus é o Cristo, ou seja, o Ungido de Deus, Aquele que foi escolhido para salvar a humanidade, para nos trazer a graça e a vida eterna. Para tanto, Jesus, sendo Deus, fez-Se homem e, como homem,

precisava ter esta comunhão com o Senhor, formar com Ele esta unidade, motivo pelo qual teve de receber a unção do Espírito Santo, que veio sobre Ele quando de Seu batismo por João Batista (Mt.3:16; Mc.1:10; Lc.3:22; Jo.1:32-34).  

– O Espírito Santo desceu sobre Jesus em toda a Sua plenitude, já que o Senhor Jesus não tinha pecado, como, aliás, havia sido profetizado pelo profeta Isaías (Is.11:2).

O Espírito Santo, em Sua plenitude, também chamado de “Sete Espíritos de Deus” (Ap.1:4; 3:1; 4:5; 5:6), está à disposição de todos quantos se unem ao Messias, formam uma unidade com Ele.  

– Paulo, então, já sabendo que os crentes de Éfeso conheciam a Deus, pede ao Pai que lhes desse o “espírito de sabedoria”, que é um dos “sete espíritos”, ou seja, uma das capacidades trazidas pelo Espírito Santo ao salvo.  

– O princípio da sabedoria é o temor do Senhor (Sl.111:10; Pv.9:10) e a sabedoria é elencada, em Is.11:2 como a primeira qualidade advinda depois que vem o “Espírito do Senhor” ao Cristo.

Tiago também aponta a sabedoria como a qualidade a ser buscada para que possamos enfrentar as muitas tribulações que temos nesta nossa peregrinação terrena, inclusive garantindo que tal pedido jamais será negado a nós por Deus (Tg.1:2-5).

– A sabedoria é essencial, porque se trata de uma qualidade que nos permite viver neste mundo sem que venhamos a tropeçar espiritualmente, é a qualidade que nos fará saber o que fazer, como fazer, onde fazer e quando fazer ou deixar de fazer algo.

– Foi o pedido que fez Salomão a Deus quando o Senhor lhe permitiu pedir o que quisesse (I Rs.3:5-10; II Cr.1:7-12) e o pedido tanto agradou a Deus que o Senhor lhe deu muito mais do que sabedoria, mas nos mostrando que, sem sabedoria, nada mais pode ser adquirido, enquanto que, com sabedoria, o mais sempre é possível de ser acrescentado.  

– Paulo não queria que os efésios perdessem a espiritualidade que tinham, que não fracassassem em sua vida espiritual e, para tanto, era indispensável que eles recebessem do Pai o espírito de sabedoria para que pudessem prosseguir servindo ao Senhor enquanto vivessem sobre a face da Terra.  

– Mas, além do espírito de sabedoria, o apóstolo dos gentios também pediu ao Pai que desse aos efésios o espírito de revelação.

“Revelação” aqui é a palavra “apokalypsis” (αποκαλυψις), a mesma palavra que inicia o último livro da Bíblia Sagrada, cujo significado é o de descoberta, de aparição, de manifestação, “…a remoção do véu da ignorância da escuridão pela transmissão da luz e do conhecimento…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 602, p.2083).  

– Trata-se, portanto, do “espírito de conhecimento” que se encontra em Is.11:2, pelo qual nós temos a revelação das “coisas grandes e firmes que não sabemos” (Jr.33:3), coisas que somente podem ser reveladas pelo Senhor, pois as coisas espirituais se discernem espiritualmente e ninguém conhece as coisas de Deus senão o próprio Espírito Santo (I Co..2:6-11).

– A ação do “espírito do conhecimento” faz com que a nossa fé não se apoie em sabedoria humana mas no poder de Deus, e, por meio dele, passamos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus (I Co.2:13).  

– O próprio Paulo é utilizado pelo Senhor como instrumento deste “espírito do conhecimento” nesta carta aos efésios, para mostrar a todos a posição da Igreja no plano da salvação e o que o Senhor tem reservado e destinado ao Seu povo.  

– Este “espírito do conhecimento”, juntamente com o “espírito de sabedoria” providenciaria a iluminação dos olhos do entendimento dos crentes de Éfeso para que eles pudessem saber qual era a esperança da sua vocação e quais as riquezas da glória de sua herança nos santos (Ef.1:18).  

– Paulo pedia que a ação do Espírito Santo na vida dos crentes de Éfeso fosse tal que ampliasse ainda mais a visão deles a respeito das coisas espirituais, depois que eles já tinham tido a iluminação dos olhos do seu entendimento.  

– A salvação em Jesus Cristo abre-nos a visão espiritual. Antes de sermos salvos, somos espiritualmente cegos, pois o deus deste século cega o entendimento dos incrédulos para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus (II Co.4:4).  

– O homem no pecado é um cego espiritual, porque não consegue enxergar as coisas espirituais, a dimensão da eternidade, a sua própria situação terrível de condenação eterna.

Como bem assinalou o escritor John Bunyan, no seu livro “O Peregrino”, é necessário que a pessoa perceba que se encontra “na cidade da destruição”, para que, então, se disponha a iniciar sua jornada para o céu.

OBS: Eis o trecho inicial do livro de Bunyan:

“Vi um homem coberto de andrajos, de pé, e com as costas voltadas para a sua habitação, tendo sobre os ombros uma pesada carga e nas mãos um livro (Isaías 64:6; Lucas 14:33; Salmo 38:4; Habacuque 2:2).

Olhei para ele com atenção e vi que abria o livro e o lia; e, à proporção que o ia lendo, chorava e estremecia, até que, não podendo conter-se por mais tempo, soltou um doloroso gemido e exclamou: “Que hei de fazer?” (Atos 2:37 e 16:30; Habacuque 1:2-3).

Neste estado voltou para sua casa, diligenciando reprimir-se o mais possível, a fim de que sua mulher e seus filhos não percebessem sua aflição.

Como, porém, o seu mal recrudecesse, não pôde por mais tempo dissimulá-lo, e, abrindo-se com os seus, disse poresta forma: “Querida esposa, filhos do coração, não posso resistir por mais tempo ao peso deste fardo que me esmaga.

Sei com certeza que a cidade em que habitamos vai ser consumida pelo fogo do céu, e todos pereceremos em tão horrível catástrofe se não encontrarmos um meio de escapar.

O meu temor aumenta com a ideia de que não encontre esse meio.”… (Bunyan, John. O Peregrino. Digitaliz. Por Carlos Boas, p.1).  

– A cegueira é tanta que mesmo quando é conscientizada, os seus portadores fazem questão de dizer que veem, como ocorreu com os fariseus, como vemos em Jo.9:39-41, quando o Senhor, inclusive,

explicitamente disse que veio para que os cegos vejam, mas também para que os que veem sejam cegos, ou seja, para que se revele a cegueira espiritual daqueles que, extremamente enganados pelo diabo, insistam em dizer que veem espiritualmente.  

– A iluminação espiritual advém com a salvação na pessoa de Jesus. O próprio Jesus, em Seu diálogo com Nicodemos, disse que quem nasce de novo vê o reino de Deus (Jo.3:3).

Com esta iluminação, adquirimos a visão da fé, pois devemos andar por fé e não por vista (II Co.5:7).  

– Todavia, o apóstolo quer que os crentes de Éfeso tenham aumentada a sua visão espiritual, mediante o espírito de sabedoria e de revelação, para que possam saber qual é a esperança da sua vocação e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos.

– Paulo queria que os crentes de Éfeso soubessem qual é a esperança da sua vocação, ou seja, tivessem ampliado o seu entendimento espiritual para que pudessem divisar que estavam a esperar a glorificação,

o estágio final de nossa salvação, quando, então, seremos semelhantes ao Senhor Jesus, veremos como Ele é (I Jo.3:1-3) e passaremos a desfrutar da glória divina, morando na cidade celestial (Fp.3:20,21).  

– A visão espiritual leva-nos a divisar as mansões celestiais, faz-nos enxergar o que estamos esperando, que o nosso destino são os céus, é a glorificação e que, para isso, temos de nos manter em santificação.

– Nos dias hodiernos, esta oração de Paulo é oportuníssima. Muitos são os que perderam completamente a visão dos céus, encontram-se entre os mais miseráveis dos homens, pois esperam em Cristo só para as coisas desta vida (I Co.15:19).

Estes precisam receber o espírito de sabedoria e de revelação para que saibam a esperança da sua vocação, que foram salvos para irem para os céus, não para terem benefícios aqui na Terra.  

– Além da esperança da sua vocação, Paulo queria que os efésios soubessem também as riquezas da glória da sua herança nos santos. Que herança é esta?

O pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes entende que é o próprio Deus, “in verbis: “…Meu entendimento é que Paulo está falando que Deus é a nossa herança. Salmo 16.5 diz que Deus é a nossa herança.

Mas, agora, Paulo diz que nós somos a herança de Deus. Aqui não é a herança que Deus outorga, mas a herança que ele recebe.

Essa frase não se refere à nossa herança em Cristo (1.11) mas à herança em nós. Essa é uma tremenda verdade.

Deus olha para nós e vê em nós sua gloriosa riqueza, sua preciosa herança. Jesus verá o fruto do Seu penoso trabalho e ficará satisfeito (Is 53.11). Paulo expressa, aqui, o desejo de que os crentes compreendam quão preciosos eles são para Deus.

Eles são o troféu da graça de Deus. O tesouro deles está em Deus, e, num sentido bem verdadeiro, o tesouro de Deus está nos santos.…” (Efésios – a Igreja, a noiva gloriosa de Cristo, p.40).  

– A visão espiritual pretendida pelo apóstolo aos crentes de Éfeso é que eles entendessem que somos herança de Deus, somos o Seu tesouro, não porque tenhamos valor em nós mesmos, mas, sim, porque, ao entrarmos na unidade com o Senhor, passamos a ter, em nós mesmos, este tesouro, que é o próprio Deus em nós.   

– Paulo já dissera aos coríntios que Cristo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo, sendo Ele o tesouro que está em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós (II Co.4:6,7).  

– Não é por outro motivo que o Senhor Jesus chama Seus discípulos de “luz do mundo” (Mt.5:14), já que, iluminados por Deus, que é luz (I Jo.1:5), passam a ser, para os homens, luzeiros (Fp.2:15 ARA), ou seja, refletores de luz, assim como os planetas são em relação a suas estrelas.  

– Não podermos ser luz do mundo se, antes, não formos iluminados pelo Senhor.  

III – A GRANDEZA DO PODER DE DEUS   

– O apóstolo Paulo, na sua oração em favor dos efésios, além de pedir que o espírito de sabedoria e de revelação aumente a visão espiritual daqueles crentes, também já traz uma revelação, qual seja, a respeito da sobre-excelente grandeza do poder de Deus sobre os crentes.  

– Não podemos nos esquecer que o fato de estarmos salvos é resultado do poder de Deus, por isso não se pode imaginar um evangelho que não dê espaço à manifestação do poder divino, pois o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16).  

– O apóstolo dos gentios diz que Deus exerce sobre os que creem a sobre-excelente grande do Seu poder, poder este que Ele demonstrou quando ressuscitou Cristo dentre os mortos e O pôs à Sua direita nos céus (Ef.1:19).  

– A ressurreição de Jesus é a garantia da nossa fé, é a comprovação de que realmente poderemos ser salvos, que a pregação do Evangelho é uma realidade, não se trata de uma imaginação ou uma fantasia.

O túmulo vazio de Jesus é a prova de que Seu sacrifício realmente salva e que o nosso pecado pode ser perdoado e podemos ter comunhão com Deus.

– Jesus morreu por nós, ressuscitou e foi posto acima de todo o principado, poder, potestade e domínio e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro (Ef.1:21).  

– Depois de ressuscitado, o Senhor Jesus fez questão de dizer aos discípulos que Lhe fora dado todo o poder no céu e na terra (Mt.28:18), precisamente para que eles tivessem a confiança de que poderiam segui-l’O e realizar a Sua vontade sem qualquer temor, pois há a promessa da vitória, eis que as portas do inferno não podem prevalecer contra a Igreja (Mt.16:18).  

– Jamais podemos nos esquecer de que estamos em comunhão com o Senhor e que, portanto, Seu poder está sobre nós.

Esdras tinha esta consciência por isso não pediu ao rei da Pérsia que lhe desse soldados para guarda-lo e ao povo que com ele ia para Jerusalém, mas, antes, foi orar pedindo a proteção divina e, conforme ele mesmo afirma, o Senhor ouviu as suas orações e eles foram guardados na sua jornada para Jerusalém (Ed.8:21-31).  

– O Senhor Jesus, quando da missão dos setenta, afirmou que dava poder aos Seus discípulos para pisar serpentes e escorpiões e toda a força do inimigo e nada lhes faria dano algum (Lc.10:19), e ainda não tinha ressuscitado.

Com a Sua ressurreição, então, não há porque nos acovardarmos diante de toda a batalha espiritual que temos de enfrentar, porque, como ensina Paulo aos efésios, há sobre os crentes um poder de sobre-excelente grandeza, poder este que se demonstra pela própria ressurreição e ascensão de Jesus.  

– Como afirma o pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes, em Ef.1:19, o apóstolo Paulo utilizou-se de quatro palavras diferentes para se referir a “poder”:

“…Paulo enfatiza o poder de Deus usando quatro palavras distintas para a palavra poder no versículo 19:

 ‘E qual é a suprema grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, segundo a atuação da força do seu poder:’

1) dunamis — traz a ideia de uma dinamite, um poder irresistível;

2) energeia — o poder que trabalha como uma energia;

3) kratos — poder ou força exercida;

4) ischus — poder, grande força inerrante . Paulo faz uso dessas quatro palavras para enfatizar a plenitude e a certeza desse poder.

Esse poder é tão tremendo que é o mesmo que Deus exerceu para ressuscitar seu Filho…” (op.cit., p.41).  

– Jesus teve um ministério em que demonstrou este poder divino, como atestam os discípulos que iam para Emaús, que O chamaram de “um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo” (Lc.24:19), ou de Pedro, na casa de Cornélio, “o qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At.10:38).   

– Deste modo, os crentes, também, sabendo que estão debaixo deste mesmo poder, que está em sua plenitude no Senhor Jesus, não pode senão desejar demonstrar este mesmo poder, como, aliás, ocorriam com os apóstolos na igreja primitiva, pois é dito que “muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povos pelas mãos dos apóstolos” (At.5:12).  

– Paulo, mesmo antes de os efésios terem esta maior visão espiritual do Senhor, faz questão de lhes mostrar que têm eles à sua disposição todo o poder de Deus e que, portanto, devem dele fazer uso, para terem uma vida espiritual abundante.

O próprio Paulo afirmou aos coríntios que lhes pregou o Evangelho com poder, dizendo que “a sua palavra e a sua pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder” (I Co.2:4).  

– Jesus assumiu uma posição que está acima de todos os demais seres criados. Ele está acima dos anjos, tendo sido constituído como Senhor e Cristo (At.2:36), como Aquele que há de julgar a todos (At.10:42) e que, também, é a cabeça da Igreja(At.1:22), Igreja que é o Seu corpo (Ef.1:23).

– Ao falar do poder que há em Cristo, o apóstolo já nos revela a condição de Jesus como cabeça da Igreja, ou seja, o seu único e exclusivo chefe, Aquele que tem o comando do povo de Deus, povo este que está intrinsecamente ligado a Jesus, tanto que, enquanto Jesus é a cabeça, a Igreja se constitui em Seu corpo.

– Preferimos denominar Jesus de “a cabeça” da Igreja e não como consta em algumas outras versões mais atualizadas, “o cabeça” da Igreja, precisamente diante daquilo que Paulo revela aos efésios nesta passagem.  

– Paulo está a falar do poder de Jesus, da sua superioridade sobre todos e, então, diz que, para a Igreja, Jesus é “a cabeça”, já que a Igreja é “Seu corpo”.

Ora, se a Igreja é o corpo de Jesus, Jesus tem de ser “a cabeça do corpo”, e não “o cabeça” do corpo.

Estamos a falar da própria natureza que existe entre Cristo e Sua Igreja, da unidade que é a tônica de todo este trecho da epístola aos efésios e, diante da figura trazida pelo apóstolo dos gentios para que entendamos esta verdade espiritual que está sendo revelada, é evidente que se deva tratar Jesus como “a cabeça”, a parte proeminente, principal e comandante do “corpo”.  

– Ademais, o bom português nos diz que que “o cabeça” é expressão utilizada para denominar os líderes rebeldes, os líderes de rebeliões, os sediciosos, ou seja, aqueles que se fazem chefes, que se insurgem contra a ordem estabelecida.  

– Ora, o Senhor Jesus, bem ao contrário, tem uma conduta diametralmente oposta. Em perfeita obediência ao Pai, para restabelecer uma ordem subvertida por instigação do rebelde Satanás, subemte-Se à vontade divina e morre em nosso lugar, sendo, então, por isso mesmo, constituído como “a cabeça” deste corpo que se formaria por conta desta obra salvífica.  

– Assim, a expressão “a cabeça” mostra toda a submissão, toda a obediência e a naturalidade com que Jesus ocupa esta função perante todos os salvos, até porque, como diz o apóstolo, é Ele “a plenitude d’Aquele que cumpre tudo em todos” (Ef.1:23).  

– É sobre este corpo, que tem esta cabeça, a Igreja, este povo que é resultado deste poder de Deus que é o evangelho que Paulo começará a descortinar na continuidade da sua epístola.  

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/5195-licao-3-eleicao-e-predestinacao-i-2

Video 02: https://youtu.be/LJVPpvkowz4

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