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LIÇÃO Nº 9 – O REINADO DE DAVI 

Davi, no trono, consolidou a unidade israelita e praticamente deu a Israel os limites prometidos por Deus a Abraão.

 INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo dos livros de Samuel, veremos a subida de Davi ao trono e o início de seu reinado.

 – Davi consolidou a unidade israelita e praticamente deu a Israel os limites prometidos por Deus a Abraão.

 I – DAVI TORNA-SE REI DE JUDÁ

 – Na lição anterior, havíamos deixado Davi na sua cidade de Ziclague, que havia ganhado de Áquis, rei de Gate, ainda sob os louros da vitória conquistada sobre os saqueadores, que haviam sido completamente derrotados (I Sm.30).

Davi vencera o teste da oposição e da divisão de seus homens, conseguindo uni-los apesar de todas as dificuldades.

Como dissemos naquela lição, ao conseguir unificar e pacificar os seus homens, Davi completou a sua formação como líder, pois teria, como rei, de unificar o povo de Israel, que ingressava numa profunda crise.

 – Enquanto Davi perseguia os amalequitas e conseguia vencê-los e ganhar grande despojo como também recuperar não só seu patrimônio e familiares, como os de seus homens, ocorria a guerra entre israelitas e filisteus, aquela guerra que os filisteus não haviam permitido que Davi participasse ao lado do rei de Gate (I Sm.29:6-11). 

– Enquanto Davi conseguia a união de seus homens e a vitória sobre os amalequitas, com grande despojo, Israel experimentava uma derrota acachapante.

Saul, completamente desorientado, ao perceber que Deus não mais falava com ele, aprofundou-se ainda mais em sua impiedade e foi consultar uma feiticeira, numa verdadeira “sessão espírita”, que é descrita em I Sm.28, texto bíblico que,

bem ao contrário do que fazem os espiritualistas, que nele buscam apoio para a invocação de mortos, é a cabal demonstração de que tal atitude é abominável aos olhos do Senhor, só pode ser praticada por quem não agrada a Deus e que, além de tudo,

é um ambiente onde, apesar das manifestações sobrenaturais, só há mentira e, quando muito, repetição de palavras que o diabo e seus anjos conhecem por meio de profecias anteriormente divulgadas pelos homens de Deus. 

– O fato é que, enquanto Davi tinha acesso ao Senhor, era dirigido por Deus e, apesar das dificuldades, saíase vitorioso, Saul, sem a direção de Deus, tendo consultado espíritos malignos, era completamente derrotado na montanha de Gilboa.

Os filisteus, depois de muito tempo, obtinham uma grande vitória sobre Israel, tornando a ocupar parte do território israelita (I Sm.31:7). 

– Como se não bastasse a grande vitória filisteia, tanto Saul quanto Jônatas foram mortos na batalha.

Saul, temeroso e demonstrando uma covardia muito grande, pediu a seu pajem de armas que o matasse antes que caísse nas mãos dos flecheiros.

Ante a recusa do pajem de armas, o próprio Saul tomou a espada e se lançou sobre ela, suicidando-se (I Sm.31:4),

se bem que o golpe que se deu não foi suficiente para matá-lo de uma só vez, tendo, no mínimo, o “serviço” sido completado por um amalequita que por ali passava (II Sm.1:9,10), se é que o amalequita falou a verdade a Davi. 

– Terminava, assim, de modo tão triste e lamentável a trajetória de Saul. De ungido de Deus a um suicida, Saul experimentou a degradação espiritual numa verdadeira figura daqueles que apostatam da fé, daqueles que, uma vez tendo provado o dom celestial, s

ido feito participantes do Espírito Santo, provado a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro (Hb.6:4,5), recaem, sendo-lhes impossível o arrependimento.

 

– Este episódio mostra-nos claramente os destinos diferentes daqueles que, uma vez, se encontraram com o Senhor e receberam o Espírito Santo.

Os que permanecem fiéis, seguem a direção e orientação do Espírito, são por Ele guiados (Rm.8:16), são filhos de Deus, passam por grandes dificuldades (e vimos, na lição passada, quanta dificuldade Davi enfrentou com o saque de Ziclague),

mas são mais do que vencedores por Aquele que nos amou (Rm.8:37), enquanto que os que deixam o Senhor, rejeitam a Sua direção e orientação, negam o Senhor que os resgatou (II Pe.2:1),

trazem sobre si repentina perdição, pois não será tardia a sua sentença e a sua perdição não dormita (II Pe.2:3). 

– Anos se passaram entre a rejeição do Senhor e o triste fim de Saul, mas tudo se deu no tempo de Deus.

Embora tenha permanecido como rei, inclusive com força para perseguir impiedosamente a Davi, o fato é que seu fim não poderia ser outro, pois é, no fim, que vemos a diferença entre quem serve a Deus e quem não O serve (Sl.73:17-19; Ml.3:18). 

– Apenas três dias após a chegada de Davi em Ziclague, chega ao seu encontro o amalequita que supostamente havia apressado a morte de Saul e que lhe conta não só a derrota dos israelitas diante dos filisteus, mas, também,

a morte de Saul e de Jônatas (na verdade, na batalha morreram todos os filhos de Saul, com exceção de Isbosete, também chamado de Es-Baal, a saber: Jônatas, Malquisua e Abinadabe – I Cr.8:33).  

– O amalequita deu a notícia a Davi e, como prova de que estava a falar a verdade, trouxe a coroa de Saul bem como a manilha (ou bracelete) que trazia no seu braço a Davi, certamente pensando que, com este gesto, cairia na graça de Davi, de quem Saul era inimigo, buscando tirar algum proveito de sua “proeza”. 

– A reação de Davi, porém, foi bem diferente da que pensava o amalequita.

Davi não se alegrou com a morte de Saul, mas, de  imediato, juntamente com seus homens, passaram a prantear e a chorar, tendo, também jejuado até a tarde tanto por Saul, quanto por Jônatas, pelo povo do Senhor e pela casa de Israel, porque haviam caído à espada (II Sm.1:12).

 – Davi mostra, nesta atitude, diversas qualidades que deve ter um homem segundo o coração de Deus.

Por primeiro, o homem que anda na direção e na vontade do Senhor não se alegra com a desgraça alheia.

As Escrituras são claríssimas ao nos ensinar que Deus não Se agrada daqueles que se alegram com o infortúnio do próximo, ainda que seja de um inimigo seu (Pv.24:17,18).

 – Nos dias de hoje, muitos são os que estão a propalar, no meio do povo de Deus, uma “vingança santa”, um sentimento de revide e de desejo de mal aos adversários, aos “filhos do diabo”.

Chegam mesmo a dizer que a vergonha e a humilhação de quem se opôs contra nós é um verdadeiro “sabor de mel” para a vitória do cristão. Não, não e não!

Não devemos nos alegrar da desgraça alheia, ainda que seja de alguém que se tenha voltado injustamente contra nós.

Davi havia sido impiedosamente perseguido por Saul, tinha plena consciência de que o rei havia sido rejeitado pelo Senhor, mas jamais quis o seu mal,

porque era um homem segundo o coração de Deus (I Sm.13:14), ou seja, cuja vontade, sentimento, entendimento e pensamento eram os que se encontram em a natureza divina. 

– Davi não queria o mal para Saul e muito menos para Jônatas, seu grande amigo, como para o povo do Senhor e para a casa de Israel.

Davi, embora exilado, desejava o bem de sua nação, porque sentia como o Senhor, que sempre quer o bem de todos os homens, notadamente de Sua propriedade peculiar dentre os povos.

Não podemos, pois, amados irmãos, ser daqueles que desejam o “quanto pior, melhor”, pois este não é o comportamento de um verdadeiro cristão.

Devemos sempre estar ao lado daqueles que buscam proporcionar algum bem-estar aos nossos irmãos, aos nossos concidadãos, aos nossos compatriotas.

A Igreja, sal da terra e luz do mundo, está sempre do lado daqueles que querem melhorar, nunca daqueles que, como diz conhecido e saudoso irmão que conosco participava dos estudos da EBD, “torcem para o touro”. 

– Por segundo, Davi demonstrou que amava o seu povo e o amor ao povo é o primeiro requisito para que se possa governá-lo.

Quanto mal temos sentido por aqueles que, ao governarem as nações, demonstram seu amor ao dinheiro e ao poder, mas não ao povo.

Saul era um rei que amava o poder, tinha verdadeira obsessão por ele, mas não amava o povo.

Davi, cujo nome, como sabemos, significa “amado”, era alguém que amava o povo do Senhor e a casa de Israel, tendo, pois, plenas condições para reinar sobre ele. Não foi à toa que se notabilizou como o principal governante de Israel até os dias de hoje. 

– Por terceiro, Davi mostrou que havia formado um grupo unido, dotado de um só sentimento, uma só regra de fé e prática.

Não somente ele rasgou seus vestidos, pranteou, chorou e jejuou, como também os seus homens, os quais, também, tinham muitos motivos para, humanamente falando, se alegrarem com a morte daquele que os havia posto em tantas dificuldades.

Davi, porém, tinha conseguido dar ao grupo um só sentimento, havia conseguido uni-los conforme a vontade e orientação do Senhor.

O líder, no meio do povo de Deus, deve assim também fazer: levar o povo à unidade debaixo da direção do Espírito Santo (Jo.17:23; Ef.4:3,13).

 – Após ter pranteado, chorado e jejuado por Saul, Jônatas e por Israel, Davi, então, fez justiça, matando o amalequita que lhe trouxera as notícias, tendo em vista que não havia temido matar o ungido do Senhor, segundo a sua própria história. Davi mostra sua imparcialidade.

Matou aquele que havia supostamente matado o seu inimigo, porque seu inimigo era ungido do Senhor, não poderia ser assassinado.

Aliás, como o próprio amalequita havia dito, era desnecessário “o golpe de misericórdia” a Saul, que já havia se lançado sobre sua espada (II Sm.1:10).

O amalequita havia agido sem temor de Deus, buscando tirar proveito da desgraça alheia, pensando que, ao matar Saul e levar a prova disto a Davi, conseguiria alguma vantagem econômico-financeira e, até mesmo, alguma posição em o novo governo de Israel. 

– Quantos, na atualidade, não procedem da mesma forma? Em troca de vantagens de ordem material, não têm qualquer temor de Deus e matam os ungidos do Senhor (que são todos os crentes e não somente os ministros – I Pe.2:9),

principalmente aqueles que se encontram enfraquecidos e à beira do caminho, ou, pelo menos, manquejando.

Em vez de seguir o conselho bíblico de ajudar a levantá-los (Hb.12:12,13), preferem o caminho mais fácil do apressamento de sua morte, a fim de desfrutar as benesses imaginadas.

Seu fim será como o do amalequita. O Senhor, aqui tipificado por Davi, lhes dará o devido pago por seu homicídio: a morte.

Nenhum homicida entrará no reino de Deus e quem mata seu irmão terá este triste fim (I Jo.3:15; Ap.22:15). 

– O sentimento nutrido por Davi em relação a Saul e a Jônatas não era hipócrita, nem formal.

Pelo contrário, provinha do fundo do coração, visto que Davi amava o povo de Deus e sabia que a desgraça atingia não só a Israel mas o próprio nome do Senhor, já que se questionaria, diante de tamanha derrota, a supremacia do Deus de Israel.

Assim, Davi, em meio à dor, compõe, inspirado pelo Espírito Santo, um lamento em honra a Saul e a Jônatas, que foi registrado no perdido “livro do Reto” (II Sm.1:17-27).

Na sua poesia, Davi chora a morte dos dois heróis da história de Israel, mostrando, também, a sua grande afeição para com Jônatas.

Chama a ambos de valentes, mostra o “lado bom” de Saul, o que se haveria de lembrar dele pelas gerações de Israel.  

– A morte de Saul e de Jônatas foi terrível para os israelitas. Além de perderem algumas cidades para os filisteus, que, assim, recuperavam fôlego numa sequência que lhes tinha sido amplamente desfavorável no controle da região, o país ficava sem governante.

A monarquia ainda incipiente de Israel estava vaga. Jônatas, que estava sendo preparado para suceder Saul, havia morrido juntamente com o pai, assim como todos os filhos de Saul, com exceção do mais moço, Es-Baal ou Isbosete, pessoa sem qualquer expressão na família real, tanto que nem guerreiro era.  

– O país encontrava-se esfacelado. O domínio por parte dos filisteus de parte do território, bem como uma indisposição existente entre as tribos do norte e a tribo de Judá, no sul, que era a mais numerosa mas que não conseguia nenhuma expressão política, prejudicava ainda mais a superação da crise.

Não devemos nos esquecer, ainda, que Israel não tinha uma capital, onde ficasse a infraestrutura do governo, pois a corte de Saul, ainda pequena, tinha se formado na própria cidade de Saul, Gibeá. 

– Esta situação de indefinição não era desconhecida de Davi que, como ninguém, sabia que o trono era seu, pois fora ungido rei em lugar de Saul por Samuel há muitos anos.

Davi, então, consultou a Deus sobre se deveria voltar para Israel (pois Ziclague ficava no território dos filisteus) e o Senhor lhe respondeu afirmativamente.

Davi perguntou para que cidade deveria ir e o Senhor lhe mandou que fosse para Hebrom (II Sm.2:1).

 

– A ida de Davi para Hebrom, feita na direção e orientação do Senhor, tinha amplo significado. Hebrom era cidade de refúgio, mas era, também, a cidade de Calebe, o grande nome da tribo de Judá, cujo genro, Otniel, aliás, havia sido o único judaíta a ter governado Israel, tendo sido seu primeiro juiz.

Sua ida até lá demonstra sua pretensão de ser o próximo rei de Israel. Seria isto indevida pretensão da parte de Davi? Em absoluto, foi uma atitude feita sob a direção de Deus.

Além do mais, a pretensão de Davi era legítima, vez que já era público e notório que Deus estava com ele e que demonstrava ser o ungido do Senhor. 

– Davi foi para Hebrom juntamente com seus familiares e com os seus homens. Este gesto de Davi mostra a sua convicção de que não deveria mais morar em Ziclague e que deveria retornar para Israel.

Davi age, assim, pela fé, pois, embora Deus o tivesse mandado fazer aquilo, não podemos nos esquecer que os judaítas não lhe haviam sido favoráveis quando da perseguição impiedosa de Saul.

No entanto, Davi não se guiava pelas circunstâncias políticas, mas, sim, pela orientação de Deus. Como agimos?

Por fé ou diante das circunstâncias? Davi nada deixou em Ziclague, fez com que seus homens e seus familiares o seguissem a Hebrom, sem saber a reação que haveria da parte dos judaítas, mas confiando na Palavra do Senhor.

 

– Alguns dizem que Davi estava confiante de uma boa recepção, porque havia mandado parte do despojo conquistado junto aos amalequitas aos anciãos de Judá (I Sm.30:26).

No entanto, não podemos assim pensar. Por mais que os anciãos de Judá estivessem simpáticos a Davi, daí a achar que o aceitariam como rei é ir muito longe. Davi agiu pela fé em Deus. 

– Quando Davi chegou a Hebrom, os homens de Judá foram até ele e ungiram a Davi como rei de Judá.

Começava uma nova fase na vida de Davi, em que, ungido pelos seus irmãos, passou a reinar sobre a sua tribo.

Judá, assim, iniciava uma divisão no meio do povo de Israel, divisão que antecipava o que ocorreria oitenta anos depois, ao término do reinado de Salomão. 

– Esta segunda unção de Davi, agora pelos judaítas, como bem expressa o príncipe dos pregadores britânciso, Charles Haddon Spurgeon (1834-1892),

é figura da unção de Jesus pelos Seus irmãos, ou seja, pela Igreja que, após Sua vitória na cruz, tem sido aclamado como o Cristo, o Filho de Deus, pelos filhos de Deus (I Jo.5:1), até os tempos da restauração de tudo (At.3:21). 

– Numa demonstração de que Davi não era um “divisor”, mas que agia sob a orientação e direção do Espírito de Deus, assim que Davi é avisado de que os homens de Jabes-Gileade haviam tirado os corpos de Saul e de seus muros e os sepultado, Davi mandou a eles uma mensagem de elogio e parabenização, comunicando a sua unção como rei de Judá (II Sm.2:5-7).

 – Este gesto mostra que Davi não via neste gesto um obstáculo à sua ascensão como rei de todo o Israel, mas dava o devido valor à beneficência e à fidelidade,

mostrando que não era um inimigo de Saul nem de quem o havia servido, mas, sim, que buscava o bem-estar de todo o povo, que vinha para unir, não para dividir. 

– Como é bom quando agimos como Davi, quando valorizamos toda beneficência e fidelidade, sem nos preocuparmos se somos aceitos ou não, se somos reconhecidos ou não pelos homens.

O importante é reconhecermos que o que agrada a Deus deve ser elogiado, louvado, independentemente dos relacionamentos que tenhamos com quem o faça.

Davi dava mais uma demonstração de imparcialidade, de cuidado em agradar a Deus e não aos homens, nem a si mesmo.

– Em Hebrom, Davi torna-se pai. O texto bíblico diz que chegou àquela cidade acompanhado de suas duas mulheres: Ainoã e Abigail (II Sm.2:2).

Ali, nasceram alguns de seus filhos. Amnom foi o primogênito, filho de Ainoã. Seu segundo filho foi Quileabe, de Abigail. 

– Ainda em Hebrom, Davi casou-se com Maaca, filha de Talmai, rei de Gesur, o seu primeiro casamento “político”, com o qual mostrava sua intenção de firmar laços de amizade com os povos em volta,

uma política de aproximação com os outros povos que seria, mais à frente, a grande arma a ser usada por Salomão na manutenção do reino expandido por Davi.

Com Maaca, Davi teve seu terceiro filho, Absalão. OBS: Gesur era um país que ficava na margem oriental do rio Jordão, cujo povo habitava perto do Sinai, terra que deveria pertencer a Manassés, mas que não foi conquistada por eles – Js.13:13). 

– Além de Maaca, Davi ainda tomou para si outras mulheres, adotando, assim, o costume poligâmico dos monarcas de outras nações, a saber:

Hagite, de quem teve Adonias, seu quarto filho;

Abital, de quem teve o quinto filho,

Sefatias e, por fim,

Eglá, de quem teve o sexto filho, Itreão (II Sm.3:4,5).

Apesar de ser rei de Judá, Davi continuou sua desastrada vida familiar, o que lhe traria muito prejuízo no futuro, até porque a lei era bem clara ao dizer que o rei não poderia multiplicar suas mulheres (Dt.17:17). 

II – O CONFLITO ENTRE DAVI E ISBOSETE 

– Mas, apesar de Davi ter sido feito rei pelos judaítas e, em sua mensagem aos homens de Jabes-Gileade, ter demonstrado que estava disposto a uma missão de reconciliação do país, de reerguimento da nação, Abner, comandante do exército de Israel, mais do que depressa,

levantou a Isbosete, o único filho de Saul que havia sobrevivido à derrota militar, como rei de Israel, tendo-o constituído como rei sobre todo o Israel, com exceção de Judá, que havia ungido a Davi (II Sm.2:8-11). 

– Isbosete, pessoa sem expressão, que nem sequer guerreiro era, foi constituído como rei sobre Israel por imposição de Abner, comandante do exército, tendo sido aceito pelo povo, com exceção dos judaítas.

Isbosete não tinha qualquer chamado divino para reinar, foi feito rei por causa única e exclusivamente da sua qualidade de filho de Saul, como se isto fosse bastante.

O povo pensava que a monarquia era tão somente hereditária, que Deus não deveria ter qualquer papel na escolha dos reis de Israel.

 – O resultado desta escolha foi a divisão do país. Já enfraquecido pela derrota diante dos filisteus, Israel agora se dividia entre dois reis: Davi, reinando sobre Judá e Isbosete, reinando sobre as demais tribos.

Isbosete parecia ter a seu lado a legitimidade: o exército o apoiava, era filho do rei Saul e tinha recebido o apoio de onze tribos, além do que parecia ser mais maduro que Davi, pois tinha 40 anos (II Sm.2:10), enquanto Davi, apenas 30 (II Sm.4:4).

Davi, por sua vez, sem qualquer ascendência real, havia como se posto como rei em rebeldia da tribo de Judá. 

– As aparências, porém, enganam. Devemos ter muito cuidado para não permitir que a aparência das estruturas, as circunstâncias sócio-políticas substituam a direção e orientação de Deus.

É interessante observar que não é dito, no texto bíblico, que Isbosete tenha sido ungido rei pelo sumo sacerdote, mas, sim, constituído rei pelo comandante do exército.

Aliás, neste período, o sumo sacerdócio vivia também uma crise, pois Abiatar, filho de Aimeleque, acompanhava Davi, depois da matança de Nobe e não se fala coisa alguma sobre a existência de outro sumo sacerdote nesse período da vida de Israel.

– Isbosete era um rei feito pelas estruturas de poder existentes no meio do povo de Deus, não um rei escolhido por Deus. Vemos aqui um verdadeiro conflito entre “o povo do Senhor” e “a casa de Israel” (II Sm.1:12).

Triste é a organização que não segue a orientação do Espírito Santo e passa a seguir os modelos mundanos, passa a constituir líderes que não são chamados por Deus, que não têm a unção do Espírito Santo.

Lamentavelmente, vemos, com pesar, que, em muitas igrejas locais, a hereditariedade tem prevalecido sobre a direção do Espírito Santo. Que Deus nos guarde de Isbosetes que venham tão somente a enfraquecer o povo de Deus.

– Embora Isbosete tenha iniciado seu reinado em nítida vantagem em relação a Davi, tendo ao seu lado o povo, as armas, a tradição, a ascendência biológica, o fato é que não tinha o principal: a unção de Deus.

Isbosete, dia após dia, nos seus dois anos de reinado, foi se enfraquecendo (II Sm.3:1), porque se tratava de uma escolha fundada em uma estrutura construída à margem da vontade do Senhor.

Davi não tinha o que temer, pois haveria de reinar sobre todo o Israel, ainda que tivesse ainda de esperar um pouco mais. 

– Às vezes, isto ocorre também conosco. No instante em que pensamos que a promessa está para se realizar, vemos que estruturas, inclusive no meio do povo de Deus, parecem nos impedir de chegar aonde Deus tem nos mandado.

Isbosetes e Abneres levantam-se e ficamos reinando apenas sobre Judá, ganhamos lutas em vez de reconhecimento, em vez da realização de promessas.

Neste instante, devemos agir como Davi: ficar ao lado daqueles que servem a Deus e aguardar que, no momento certo, a promessa se realize.

 – Após ter constituído Isbosete como rei, Abner vai em direção à tribo de Judá, que se comportava como “tribo rebelde”, vez que havia constituído Davi como rei.

A guerra era inevitável e Davi, diante desta situação, já sendo rei, precisava constituir um comandante para o seu exército. Davi constitui a seu primo Joabe, filho de sua irmã Zeruia (I Cr.2:16).

 – Joabe vai em direção aos homens de Abner e quando as duas tropas ficaram uma diante da outra, no tanque de Gibeão, Abner fez uma proposta a Joabe no sentido de que as lutas se fizessem apenas entre os mancebos, os principais homens de cada lado.

Tal proposta mostra-nos como o lado de Isbosete estava fora da direção de Deus.

Com efeito, a ideia de que a luta entre os dois exércitos se transformasse num “campeonato de luta”, num jogo revela quão distante estavam os homens de Isbosete da direção divina (II Sm.2:12-14).

 – Israel vivia uma crise sem precedentes em sua história. Havia um verdadeiro “racha” no povo.

Dois reis haviam sido aclamados e Israel corria o risco de desaparecer como nação.

Os dois exércitos encontram-se a proposta de Abner é que tudo se resolvesse num “jogo”, num “campeonato”.

Numa situação tão séria, pretende-se resolver isto pela sorte, pelo entretenimento. Porventura, não é o que muitos, igualmente desorientados, estão a fazer em nossos dias?

As estruturas transformam o momento sério de luta contra o mal, de apostasia e de iminência da volta de Jesus em instantes de entretenimento, de diversão, de passatempo.

Fujamos destas coisas, irmãos! Igreja não é para nos divertirmos, mas para lutarmos contra as hostes espirituais da maldade!

OBS: Já há igrejas e denominações que transformam os templos em local de eventos esportivos. Já puseram ringues para fazer “campeonatos de vale-tudo” depois dos cultos.

E, durante os cultos, tudo se torna um grande “show”, com exibições de artistas, sejam pseudocantores, sejam pseudopregadores.

Ah, antes que nos esqueçamos, também há as festas das nações ou dos estados (verdadeiras quermesses evangélicas), sem se falar na feijoada com pagode gospel e outras coisas mais.

Já até “culto pet”, um culto para os animais de estimação dos crentes. Fujamos disto!!! 

– Como se não bastasse isso, a proposta de Abner não esconde a sua inspiração: os filisteus.

Anos antes, Golias havia proposto que uma guerra entre israelitas e filisteus se transformasse numa luta individual entre o gigante e alguém enviado pelos israelitas.

Agora, o próprio Abner, comandante do exército de Israel, adotava uma tática do inimigo e propunha que uma luta coletiva se transformasse num torneio dos melhores.

Como havia constituído Isbosete mediante o modelo das outras nações, em que as monarquias eram hereditárias, Abner agora, também, adotava o modelo filisteu de lutar. Que decadência, que perda de identidade!

 

– Joabe aceitou a proposta de Abner. Mostra-se, de pronto, que sua qualidade de comandante era inferior a de Davi.

Joabe, na verdade, nunca superará Davi e terá um comportamento sempre oscilante e vago, que explica bem o seu trágico fim.

Joabe aceitou a oferta e lá foram os campeões de um lado e de outro para o embate. O resultado foi o pior possível: todos morreram (II Sm.2:15,16).

 – O “torneio” não resolveu coisa alguma e privou ambos os exércitos de seus melhores soldados.

Este é o resultado do folguedo e do entretenimento na igreja nos nossos dias: morte de todos os que se envolvem com isso, sem que se tenha qualquer proveito.

Vamos mudar esta triste situação que avança sobre nossas igrejas locais?

– Diante da morte de todos os “competidores”, inevitável foi a peleja entre ambos os exércitos.

Asael, um dos valentes de Davi, irmão de Joabe, foi ao encalço de Abner que acabou por matá-lo depois de muito insistir que o moço não lhe perseguisse.

Tal morte fez com que Abner ficasse na mira de Joabe, que, pela lei de Moisés, tinha o direito de vingar o sangue de seu irmão (Nm.35:19; Dt.19:12). 

– A hesitação de Abner em matar Asael indica-nos que faltava a Abner convicção no que estava a fazer em Israel.

Ao contrário de Davi que, seguindo a direção de Deus, deixara Ziclague e se instalara em Hebrom, Abner, apesar de ordenar a peleja contra Judá, primeiro, tentou resolver tudo na base de um “torneio”.

Depois, com a inevitabilidade da peleja, não queria matar o irmão de Joabe, primo de Davi, fazendo-o depois de muito tentar desviar Asael de seu intento homicida.

– Logo em seguida, quando a batalha se encaminhava para uma decisão, Abner propôs uma trégua, que foi aceita por Joabe, tendo cada um ido para o seu lado (II Sm.2:26-32).

Apesar da trégua, os homens de Davi haviam tido nítida vantagem sobre os homens de Isbosete, pois morreram apenas 19 homens judaítas, enquanto que as baixas do lado de Abner tinham sido de 360.

 – Abner, sabendo de sua fraqueza e inferioridade, propôs a trégua, que foi prontamente aceita por Joabe. Uma vez mais, Joabe aceitava a oferta do inimigo e não resolvia o problema de Israel. Havia se mostrado vacilante, hesitoso, assim como Abner.

Dois comandantes vacilantes, mortes inúteis e a situação de dificuldade não havia se alterado, mas se intensificado, visto que surgira uma maior inimizade entre os contendores.

Este é sempre o resultado de aceitarmos as ofertas e tréguas propostas pelo inimigo: morte e nenhuma solução.

 – A guerra entre Davi e Isbosete continuou, mas, dia após dia, Davi ia se fortalecendo e Isbosete, enfraquecendo (II Sm.3:1).

Além da vantagem militar, o partido de Davi teve, ainda, como vantagem, o surgimento de desavenças entre Isbosete e Abner. 

– Abner havia mantido um relacionamento com uma concubina de Saul, Rizpa (II Sm.3:7), o que desagradou a Isbosete, que viu neste gesto uma clara indicação de que Abner se sentia o verdadeiro governante de Israel, o que era mais do que natural, já que havia sido o próprio Abner quem havia constituído a Isbosete sobre Israel.  

– Quando Isbosete procurou impor sua autoridade a Abner, este se desgostou e resolveu passar para o lado de Davi, consciente de que Davi era aquele a quem Deus havia escolhido para reinar sobre Israel.

Quis entrar em contato com Davi e este só aceitou dialogar depois que lhe fosse restituída sua mulher Mical, que se encontrava casada com Paltiel.

Isbosete atendeu a seu pedido, numa prova de que até o próprio Isbosete, diante de seu enfraquecimento constante, já aceitava que Davi reinasse sobre Judá e o mantivesse em paz (II Sm.3:14-16). 

– Mais um gesto desastrado de Davi com relação a sua vida familiar. Mical lhe foi “devolvida”, mas as Escrituras nos mostram que havia uma grande afinidade entre ela e seu segundo marido, Paltiel, que ficou atrás dela, lamentando e chorando, humilhando-se, numa clara indicação de amor, pois isto era ridículo e admissível naquele tempo.

Mical não se importou com Paltiel pois achava que havia tirado a “sorte grande”, que se tornaria rainha, a favorita de Davi, que tanta questão fazia de lhe ter de volta.

Davi, entretanto, quis Mical de volta não por amor, mas como restituição do que lhe havia sido tomado na perseguição, por uma questão de autoafirmação, o que demonstra porque este casamento foi um fracasso, como teremos ocasião de estudar em lição próxima. 

– Abner, porém, seguiu sua tentativa de aproximação com Davi e houve um banquete onde Abner se comprometeu a trazer todo o Israel para o comando de Davi (II Sm.3:17-21).

No entanto, após o banquete, quando Joabe, que estava ausente, volta para Hebrom, ao saber disto, vai ao encontro de Abner e o mata à traição, num gesto que Davi fez questão de mostrar seu desagrado, dando um funeral honroso a Abner e lamentando publicamente a sua morte (II Sm.3:22-39).

– Davi não havia se agradado da morte de Abner, mas não podia punir Joabe por ela.

Com efeito, Joabe era vingador do sangue de Asael e Abner havia vacilado em aceitar encontrar-se com Joabe a sós. Esta vacilação e hesitação de Abner acabaram levando-o à morte, precisamente porque agia sem a direção de Deus ou, tardiamente, percebia que havia agido contra a vontade de Deus.

Ainda que tivesse tentado remediar a situação, no meio de seus erros, havia cometido um homicídio e deveria ser devidamente punido pelo que havia cometido. 

– Davi não se agradou do assassinato de Abner e levaria este desagrado até o final de sua vida, tanto que o rememorou a Salomão (I Rs.2:5,6).

No entanto, como Joabe estava amparado pela lei e Abner era, ainda, o comandante do exército de Israel que, em tese, era inimigo de Davi, não havia como tomar qualquer providência naquele instante e momento.

 – Esta situação mostra-nos que, muitas vezes, as injustiças estão fora do alcance do homem. Não é possível sempre vermos a justiça triunfar entre os homens.

O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) chegou mesmo a dizer que a existência de injustiças neste mundo é uma prova da existência de Deus, pois, como não é possível a justiça triunfar, a sua presença e manutenção até o fim da existência terrena de algumas pessoas é a prova de que há “um mundo além da morte” e que, neste mundo, “há um juiz que aplica a justiça”. 

– Morto Abner, destruiu-se o último alicerce em que se construíra o reinado de Isbosete.

Sem Abner, sem ser um guerreiro, já enfraquecido, Isbosete não tinha como se manter no trono. Diz a Bíblia que as mãos de Isbosete se afrouxaram e que todo Israel pasmou (II Sm.4:1). 

 – Isbosete não tinha qualquer perfil real. Tinha sido feito rei, mas não era um rei.

Queria tão somente “sombra e água fresca”, gozar do desfrute da função, como, infelizmente, agem muitos que estão à frente de igrejas locais.

Tomem cuidado, senhores, pois, quando menos esperarem, no seu sono, sobrevirá a morte. Como assim?

Vejamos o que aconteceu com Isbosete ou Esbaal, nome cujo significado é “homem de Baal” ou “homem de vergonha”, nome apropriadíssimo para tal espécie de pessoas que lideram, ou procuram liderar, o povo de Deus sem que tenham para isso sido chamados. 

– Em meio a uma situação tão desesperadora e que exigia iniciativa, Isbosete apenas desfrutava das benesses da corte, mantendo uma vida de desfrute do luxo e dos benefícios do cargo.

Tanto assim que, em pleno meio-dia, dormia (II Sm.4:5), horário em que dois de seus homens entraram em sua casa e o mataram, cortaram sua cabeça e a trouxeram a Davi (II Sm.4:5-8). 

– Encontramos aqui outros dois que procuram tirar vantagem da desgraça alheia.

O amalequita havia trazido a coroa e a manilha de Saul para Davi. Agora, Recabe e Baaná, filhos de Rimom, levavam a cabeça de Isbosete a Davi.

Ao apresentar seu “troféu”, disseram que Isbosete era o filho de Saul, o inimigo de Davi, aquele que procurava a morte e que o assassinato de Isbosete era “a vingança de Saul e da sua semente” (II Sm.4:8). 

– Como os filhos de Rimom estavam enganados. Davi não via a Saul como seu inimigo, mas, sim, como o ungido do Senhor.

Não considerava que precisava de vingança junto a Saul ou a sua semente, mas, pelo contrário, bem sabia ter se comprometido em preservar a descendência de Jônatas.

Infelizmente, muitos agem como os filhos de Rimom em nossos dias: pecam, praticam iniquidade e dizem que tudo é “vingança do Senhor”. Tomemos cuidado! 

– Davi, ao ouvir aquelas afirmações, não se deixou levar pela bajulação daqueles homens, que lhe chamavam de “rei meu senhor”, embora tivessem servido a Isbosete até aquele dia.

Observou que eram homens maus, assassinos, “ímpios homens, que mataram um homem justo em sua casa, sobre a sua cama” e que só mereciam o extermínio, tendo ambos sido mortos, cortado os pés e as mãos e pendurados sobre o tanque de Hebrom. Já a cabeça de Isbosete foi sepultada na sepultura de Abner, em Hebrom (II Sm.4:10-12).

 – Davi demonstrava, uma vez mais, sua imparcialidade e sua correção. Recabe e Baaná eram assassinos, que haviam matado “um homem justo”.

Notemos que Davi, em momento algum, reconheceu a condição de rei de Isbosete, pois sabia que, diante de Deus, Isbosete não fora rei, tanto que não o mandou enterrar juntamente com Saul e Jônatas, mas na sepultura de Abner.

A justiça está em dar a cada um o que é seu e Davi bem demonstrava ser homem segundo o coração de Deus, porque sua justiça era presente em suas atitudes. Podemos dar este mesmo testemunho? 

III – DAVI É UNGIDO REI SOBRE TODO O ISRAEL  

– A situação política encaminhava-se para um só ponto: a entrega da coroa real a Davi. Isbosete fora assassinado e Abner também não mais vivia.

As lideranças das tribos de Israel viram que não havia outro que pudesse governar sobre o povo senão Davi, que já reinava sobre Judá.

 – Foram, então, a Hebrom, onde se confessaram “ossos e carne” de Davi e reconheceram toda a dedicação que Davi havia feito em prol de Israel quando fora comandante de tropas de Saul.

Reconheceram, também, que Davi havia sido escolhido por Deus para apascentar o povo de Israel e, em Hebrom, fizeram aliança com Davi e o ungiram rei sobre Israel (II Sm.5:1-4). 

– Esta foi a terceira unção de Davi, que, ainda seguindo os ensinos de Charles Spurgeon, é figura da unção de Jesus como rei de Israel, que se dará no limiar da batalha do Armagedom, como vemos profetizado em Is.34:6 e Zc.12:10-13:6, instante em que Israel, finalmente,

reconhecerá a Jesus como o Messias e Ele virá, derrotará o Anticristo e estabelecerá o Seu reino milenial sobre a Terra (Ap.20:6), o dia da salvação do remanescente de Israel (Rm.11:25,26).

– Davi tinha trinta anos quando começou a reinar em Hebrom sobre Judá e entendemos que tinha trinta e dois anos quando foi ungido por todo o Israel como rei, tendo, ainda reinado mais cinco anos e seis meses em Hebrom, onde, aliás, os israelitas foram ungi-lo. 

– A unção de Davi como rei de todo o Israel é cercada de algumas características importantes, que nos servem de grande lição. Por primeiro, devemos observar que foi resultado de uma unidade: “todo o Israel se ajuntou a Davi em Hebrom” (I Cr.11:1). 

– A situação de divisão do país, que já perdurava dois anos, as tragédias militares, as mortes, tudo isso levara o povo a uma conscientização: precisavam se unir.

Esta ideia da unificação, já presente nas iniciativas de paz de Abner, foram intensificadas após a morte tanto de Abner quanto de Isbosete.

Não foi uma imposição pela força, mas fruto de um consenso, de uma reflexão profunda por parte das lideranças de Israel. 

– A unificação não se impõe pelo medo, pela força, pela violência. Muito pelo contrário, deve ser obtida por um consenso, por uma concordância entre todos, pela concessão de liberdade ao Espírito Santo.

Israel era o povo de Deus e não podia ficar se digladiando indefinidamente.

Foi preciso acontecer algumas tragédias para que o povo percebesse que deveria agir segundo a orientação do Senhor. Nesta meditação, chegaram à conclusão que Davi deveria reinar sobre eles. 

– Com a Igreja, o Israel de Deus (Gl.6:16), não é diferente, mas, antes, isto é muito mais necessário, indispensável até.

Em Israel, não eram todos os que tinham o Espírito Santo. Deveriam buscar aqueles que eram ungidos pelo Senhor para por eles se orientarem.

Nos dias que estamos a estudar, a situação espiritual era desesperadora: não havia quem tivesse o Espírito de Deus.

Quem o tinha era Davi, mas este reinava sobre Judá. Não havia sumo sacerdote, pois Abiatar, o filho daquele que havia sido assassinado por Saul (Aimeleque),  estava com Davi.

Não há notícia de que tivessem ido consultar os “filhos dos profetas” que, por sinal, já estavam sem o seu mentor, pois Samuel também já havia morrido.  

– Sem o Espírito Santo, a situação fica difícil, quase insustentável. Foi preciso acontecer muita coisa para que os anciãos de Israel “acordassem” e percebessem que Davi era, na realidade, aquele escolhido por Deus para reinar sobre Seu povo. Mas, não é o que vemos acontecer em muitas igrejas locais nos dias de hoje?

Despertamentos tardios, que ocorrem só depois que se chega a um estado desesperador, de verdadeira falência da organização?

 – A Igreja é constituída pela premissa da unidade do Espírito pelo vínculo da paz (Ef.4:3).

Há um só corpo, um só Espírito, uma só esperança da vocação, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos (Ef.4:4-6).

No entanto, nos dias hodiernos, o que vemos é a disseminação do partidarismo que havia em Corinto (I Co.3:1-5), sinal da carnalidade que caracteriza a apostasia de nossa dispensação. 

 – Que devemos fazer? Ora, se os anciãos de Israel, que não tinham o Espírito, refletiram e chegaram à conclusão de que deveriam unificar a nação, como nós, que temos o Espírito Santo, podemos agir de modo diferente?

Batalhemos pela unificação, pela construção de uma unidade do Espírito pelo vínculo da paz.

Que nos unamos para enfrentar as hostes espirituais da maldade, respeitando cada um a sua peculiaridade, a sua individualidade, mas todos seguindo a orientação do único e verdadeiro Deus!

– Ao chegarem à presença de Davi, os anciãos, após terem se conscientizado da necessidade da unificação, deram o primeiro passo para tanto, confessando-se “ossos e carne” de Davi.

Esta expressão, que nos evoca a expressão de Adão em relação a Eva (Gn.2:23), é a mais sublime expressão da unidade: somos unidos quando nos consideramos iguais e participantes uns dos outros.

Só há união quando entendemos que temos todos o mesmo Espírito, que somos um corpo, ou seja, que dependemos uns dos outros, que somos parte integrante uns dos outros. 

– Nos dias em que vivemos, em que impera o discurso da autossuficiência, do egoísmo,  é muito difícil entendermos que precisamos uns dos outros, que somente seremos completos se um e outro estiverem juntos, caminhando no mesmo sentido.

Somente quando percebermos que sem o outro não podemos atingir a nossa plenitude, o propósito de Deus para conosco, teremos condições de construir esta unidade. 

– Os anciãos de Israel modificaram a situação que até então existia. Até ali, os israelitas tinham dito que podiam viver sem Davi e Davi, por sua vez, também achava que podia viver sem os israelitas.

Aliás, quando partiu para viver entre os filisteus, Davi estava como que afirmando que não precisava dos israelitas para sobreviver. Ledo engano, porém, de ambas as partes. 

– Os israelitas estavam aprendendo, com o sofrimento, que, enquanto não fossem ao encontro de Davi, a situação da nação só tenderia a piorar.

Viviam eles um retrocesso de anos, toda a luta pela liberdade dos inimigos ao redor (em especial dos filisteus) e pela construção de uma consciência nacional estava em xeque e tudo porque os israelitas se negavam a ter Davi como seu rei.  

– Do mesmo modo, Davi tinha aprendido que, enquanto os israelitas não o aceitassem como rei, jamais se cumpriria em sua vida a promessa de Deus. Um precisava do outro.

 

– O mesmo ocorre na igreja do Senhor. Somos um corpo, onde cada integrante é absolutamente necessário.

Há, atualmente, muito sofrimento, muita situação de calamidade porque muitos membros têm se negado a integrar-se, a se tornar parte deste organismo regido pelo Senhor Jesus.

O resultado é a doença e, muitas vezes, a morte espiritual. Que acontece com um membro do corpo que dele se separa? Que acontece com o ramo que se desprende do tronco? Morrem, são lançados ao fogo.

Não há espaço para o individualismo e para o orgulho na vida com Deus. Despertemos antes que venhamos a ser lançados fora, sequemos e sejamos colhidos e lançados no fogo, para arder continuamente (Jo.15:6).

 – É importante observar que os anciãos de Israel não vieram se submeter a Davi, dizer-se servos dele, como, aliás, era costume no governo anterior, em que todos haviam se assumido como “servos de Saul”.

Embora fosse claro que, como rei, Davi haveria de ter posição de proeminência sobre o povo de Israel, a proposta era de serem “teus ossos e carne”, tanto que se fez uma aliança entre Davi e os anciãos de Israel.

Davi governaria, estaria adiante do povo, mas não poderia se isolar e simplesmente desmerecer o povo. Deveria apascentá-los, ou seja, cuidar deles, alimentá-los, cuidar da sua sobrevivência.

Por isso, oitenta anos depois, quando as tribos se separam da casa de Davi, estavam juridicamente corretas, porque Roboão, por suas palavras (I Rs.12:13-15), quebrou esta aliança firmada entre Davi e Israel (II Sm.5:3).

 – Por que os anciãos resolveram ungir Davi como rei de Israel? Por primeiro, porque reconheciam a dedicação e fidelidade de Davi enquanto servira Saul.

O primeiro ponto a observar para que alguém assuma a liderança no meio da igreja do Senhor é a sua “folha de serviços prestados”, o seu “curriculum vitae”.

Davi havia sido fiel, trabalhador, prudente e obediente a Saul. Tais qualidades o credenciavam para reinar sobre Israel.

Davi era guerreiro, conhecia a arte da guerra, não era apenas um teórico, mas alguém que tinha experiência e maturidade, apesar de sua pouca idade (32 anos).

 – Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo diz que não podem ser levados ao ministério pessoas neófitas, ou seja, pessoas que não tenham experiência com Deus, que não tenham maturidade espiritual, que não tenham sido bons servidores antes de ser guindados ao ministério (I Tm.3:6).

A triste experiência de Isbosete tinha sido exemplar para os anciãos. Embora Isbosete fosse mais velho que Davi, era bem menos experiente, bem menos vivido. 

– Temos de admitir que, na atualidade, nossas igrejas locais têm sofrido muito pela avalanche de obreiros neófitos, que são precipitadamente separados sem que tenham qualquer experiência espiritual profunda com Deus.

O resultado é que sua infantilidade contamina a direção da igreja com grande prejuízo à obra de Deus. 

– Mas não bastava a “folha de serviços prestados”, que, ademais, deve ser avaliada tanto em seu aspecto quantitativo, quanto qualitativo.

Os anciãos também se recordaram das evidências e das profecias que mostravam que Davi era o ungido de Deus.

O próprio Saul disto tinha conhecimento, como também os que tinham visão espiritual, como tinha sido o caso de Jônatas.

Davi apresentou-se a Israel, progressivamente, como sendo aquele homem que haveria de suceder Saul, que havia sido rejeitado por Deus. 

 – A situação de calamidade por que passava Israel era necessária para que todos pudessem enxergar aquilo que, no início, só os espirituais haviam discernido: que Saul havia sido rejeitado por Deus e que sua casa não mais poderia reinar sobre Israel, bem como que Deus há havia escolhido novo rei e dinastia.

Alguns, como Jônatas, entenderam isto logo depois que Davi venceu Golias. Outros precisariam do desastre armado por Saul, Abner e Isbosete para entendê-lo. 

– Os anciãos chegaram à conclusão de que não poderiam contender com Deus. Como é bom quando deixamos de contender com o Espírito de Deus e nos submetemos à Sua vontade.

Muito sofrimento, muita tragédia, muito desastre, muita aflição simplesmente nunca ocorreriam se fôssemos menos teimosos e mais submissos ao Senhor.

Quando há contenda com o Espírito Santo, Deus tem de lançar mão dos Seus juízos (Gn.6:3).

Precisou acontecer todo este desastre para que todos os anciãos percebessem que Davi era o escolhido de Deus para apascentar e chefiar Israel (II Sm.5:2). 

– Davi é ungido pelos anciãos de Israel em Hebrom, perante o Senhor. Embora estivessem a escolher um novo rei, os anciãos tinham, também, aprendido a lição de que não é possível ter um rei sem o consentimento e a escolha do Senhor.

Isbosete fora constituído sem unção, por um arranjo político, fora da direção do Senhor. Agora, Davi era ungido (ali estava Abiatar para ungi-lo) diante do Senhor, mediante uma aliança firmada com Israel. Que diferença! 

– Davi era o escolhido de Deus, mas isto não o isentou de ter de fazer aliança com o povo. O ungido não deixa de ter compromissos com o seu próximo.

Por isso, toda a lei se resume em amar a Deus e ao próximo como a si mesmo (Mt.22:37-40).

Quantos que, na atualidade, pensam que podem agradar a Deus sem que tenham de cumprir compromissos assumidos perante terceiros.

Quantos que, na atualidade, acham que podem servir a Deus sem se comprometer com outros homens.

Fujamos deste comportamento, pois isto é um engano proveniente do maligno para nos impedir de ter real comunhão com o Senhor.

 – Depois de não se sabe quantos anos (pois não sabemos a idade de Davi quando foi ungido por Samuel), Davi, finalmente, via cumprir-se na sua vida a promessa de Deus de que haveria de ser tirado de detrás das ovelhas de seu pai para reinar sobre todo Israel.

Davi chegava ao trono e iniciava o seu reinado propriamente dito, sobre todas as tribos de Israel.

 IV – A CONQUISTA DE JERUSALÉM

 – Após ser ungido rei de todo o Israel, Davi, que estabeleceu Hebrom como a capital do seu reino (II Sm.5:5), houve uma celebração pela subida ao trono de Davi, celebração esta que durou três dias (I Cr.13:39,40),

com uma intensa participação popular, pois os próprios israelitas forneceram a provisão para a festa, com a vinda de pão sobre jumentos e camelos, mulos e bois, provisões de farinha, pastas de figos, cachos de passas, vinho, azeite, bois e gado miúdo em abundância. 

– Esta manifestação popular de alegria em virtude da unção de Davi mostra-nos claramente como tinha havido um consenso de todo o povo para que Davi sobre eles reinasse, mais uma prova de que havia chegado o “tempo de Deus” para o filho de Jessé.

Aquela hostilidade, que havia caracterizado o relacionamento entre Davi e o povo de Israel, desaparecera e o povo, cansado da guerra civil e vendo em Davi o escolhido de Deus, resolveu fazer aliança e se submeter a ele. 

– A natureza popular da manifestação de celebração da unção de Davi como rei de todo o Israel mostra-nos, também, o resultado de todo o procedimento de Davi desde quando se integrou à corte de Saul.

Como já tivemos ocasião de estudar neste trimestre, Davi sempre foi alguém que se misturou com o povo, que não se isolava a exemplo de Saul, de modo que, quando foi ungido rei de todo o Israel, recebeu a justa retribuição por este contato popular.

Vemos aqui, uma vez mais, no texto sagrado, o cumprimento da lei da ceifa (Gl.6:7). 

– Firmado no reino, Davi mostrou logo quais eram as suas prioridades. O novo rei sabia que não podia mais permanecer uma situação que perdurava há séculos, qual seja, a dificuldade de contato entre o norte e o sul de Israel.

Além de a geografia facilitar uma distância entre ambas as regiões, por causa dos montes existentes no centro da Palestina e pelos desertos, havia um outro fator complicador:

no centro do país, estava a cidade de Jebus, que havia sido dada aos benjaminitas na partilha da terra (Js.18:28), mas que os judaítas quiseram conquistar, mas não o puderam (Js.15:63). 

– Vemos, pois, desde logo, que a cidade de Jebus, a antiga Salém de Melquisedeque, cidade situada numa área alta, no centro da Palestina, uma verdadeira fortaleza natural, era um obstáculo para a união de todo o povo de Israel, uma cunha que se mantinha na terra dada por Deus a Israel.

Davi percebeu, logo no início de seu reinado, que tinha de conquistar esta cidade, para trazer ao povo uma verdadeira unidade, para não permitir que inimigos se mantivessem no centro de seu país.

 – Esta atitude de Davi tem profundo significado espiritual. Não podemos bem desempenhar a tarefa que o Senhor nos dá se permitirmos, se tolerarmos que o inimigo de nossas almas se mantenha no centro de nosso “campo de trabalho”.

Muitos têm fracassado, apesar de chamados e escolhidos por Deus, porque, depois da festa, da comemoração pela chamada divina, pela conquista da bênção, não enfrenta a cidadela do inimigo que se encontra, muitas vezes, há anos, no centro de seu “campo de trabalho”.

 – O adversário de nossas almas é atrevido e não perde qualquer oportunidade para se acastelar em alguma área de nossas vidas, da vida de nossas igrejas locais, como também na vida daqueles que se encontram ainda sob o domínio do maligno, pois todo o mundo está no maligno (I Jo.5:19).

É nossa tarefa lutar contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:12). Não podemos, para termos uma vida espiritual e um ministério exitosos, deixar de lutar contra a permanência destas cidadelas satânicas, deve ser nossa prioridade lutar contra Jebus. 

– É interessante observar que a palavra “Jebus” significa “pisada”, numa clara referência à antiga serpente, ao diabo, que foi “pisado” pelo Senhor Jesus, como prometido por Deus no Éden (Gn.3:15).

É indispensável para cumprirmos o nosso ministério na obra do Senhor que, em nome de Jesus, vençamos o inimigo, que tornemos realidade aquilo que o Senhor já realizou na cruz do Calvário, pois Ele nos prometeu poder para pisar serpentes e escorpiões e toda a força do inimigo (Lc.10:19).

 – Apesar deste poder que nos deu o Senhor Jesus, não podemos sair por aí dizendo que temos de “pisar a cabeça do diabo”, como tantos paroleiros inconsequentes têm pregado em nossos púlpitos.

Quem pisou a cabeça da serpente foi única e exclusivamente o Senhor Jesus, ao viver sem pecado e triunfar sobre o pecado e o mal ao Se imolar por nós na cruz do Calvário.

Será Ele, também, Aquele que esmagará a cabeça da serpente brevemente, quando executar o juízo sobre o diabo (Rm.16:20).

O que fazemos é sermos instrumentos de Deus para expulsão dos demônios e desfazimento das obras do diabo, mas tudo em nome de Jesus e pelo poder do Senhor.

Não nos envaideçamos e tomemos para nós algo que só a Deus pertence, pois Ele não divide a Sua glória com ninguém (Is.42:8). 

– Quanto prejuízo não tem causado ao povo de Deus a manutenção de Jebus nas mãos do inimigo. Não nos iludamos.

Nos dias em que vivemos, a presença dos espíritos enganadores no meio do povo de Deus, em especial nos cultos em nossas igrejas locais, nos lares dos crentes, têm sido uma constante (cf. I Tm.4:1)!

Jebus tem sido mantida nas mãos do adversário, sem que muitos se percebam disso.

Como disse, com muita razão,  na 68ª Escola Bíblica de Obreiros na Assembleia de Deus do Belenzinho em São Paulo (2009), o pastor Aldery Nelson Rocha, não nos esqueçamos que, nos dias de Jesus, os demônios estavam presentes nas sinagogas, numa clara demonstração de que é em igrejas locais, nos templos, que há uma aglomeração de espíritos malignos.

Muitos não percebem isto e estão se deixando destroçar e enfraquecer pela presença de Jebus no meio do povo de Deus.

Acordemos enquanto é tempo, eliminemos a “sinagoga de Satanás” que se constrói diuturnamente entre os crentes (Ap.3:9)!  

– Davi, sabendo desta situação e da necessidade de expelir os jebuseus, decide tomar a cidade.

O texto bíblico é sucinto, mas, ao nos relatar que os jebuseus desafiaram Davi, dele desdenharam, dizendo que ele ali não entraria a menos que lançasse fora os coxos e cegos, como que dizendo que não entraria Davi em Jebus (II Sm.5:6; I Cr.11:5), permite-nos deduzir que, num primeiro instante, Davi propôs aos jebuseus uma entrega pacífica da cidade, como, aliás, mandava a lei (Dt.20:10). 

– No entanto, a resposta atrevida dos jebuseus mostra-nos que não é possível fazer trégua nem qualquer acordo com o inimigo de nossas almas.

Aliás, os jebuseus não tinham mesmo qualquer direito a um acordo pacífico, pois eram dos sete povos que deveriam ser totalmente exterminados por Israel (Dt.20:15-17).

O mesmo se dá com relação ao nosso adversário e a suas hostes, não há possibilidade alguma de qualquer acordo ou trégua com ele. Devemos continuar a obra do Senhor Jesus, que é a de desfazer as obras do diabo (I Jo.3:8). 

– Davi, então, diante da resposta atrevida dos jebuseus, convoca todo o exército de Israel e empreende a conquista de Jerusalém.

Tendo tomado a fortaleza de Sião, esta ficou sendo conhecida como a “cidade de Davi” (II Sm.5:7).

Com Davi, também, vemos uma nova forma de lidar com os soldados.

Enquanto Saul fazia votos e ameaçava o povo com maldições, Davi incentivava os soldados, prometendo-lhes recompensas pelo mérito a ser demonstrado na batalha.

Assim, na conquista de Jebus, prometeu a quem chegasse até o canal, onde ficavam os cegos e coxos, seria o comandante do exército.

 – Que importante lição de liderança: deve-se incentivar e estimular pelo prêmio, nunca pelo medo ou pavor.

Quantos, na atualidade, seguem fielmente os ensinos do pai da ciência política, o italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), que dizia que é melhor ser temido do que ser amado.

Davi, entretanto, como era um homem segundo o coração de Deus, preferia ser amado a ser temido.

Afinal de contas, “Davi” significa “amado”. Na obra de Deus, os líderes devem agir como Jesus, que sempre amou os Seus discípulos (Jo.13:1) e pelo Seu amor primeiramente demonstrado foi amado (I Jo.4:19).

 

– Joabe, filho de Zeruia, primo de Davi, foi quem alcançou o arraial dos jebuseus e primeiro os feriu, tendo, então, se tornado comandante do exército, cargo que ocuparia até o final do reinado de Davi (I Cr.11:6).

Apesar de ser parente de Davi, obteve, por mérito, a sua função. Verdade é que se tornaria, ao longo dos anos, “um espinho na carne” do rei, mas chegou ao lugar pelo seu valor, até porque, lembremos, por Davi mesmo nunca alcançaria tal função, já que havia assassinado Abner, o que muito desagradou Davi. 

– Conquistada Jebus, teve ela seu nome mudado para “Jerusalém”, palavra cujo significado é disputado até os dias de hoje, mas parece significar “cidade da paz” ou “fundada em paz”.

A partir de Davi, Jerusalém se tornaria a capital de Israel e o centro de toda a adoração a Deus.

A conquista de Jerusalém significou a retirada do obstáculo para o contato entre o norte e o sul de Israel e, mais do que isto, a existência de uma capital,

de uma cidade que fosse propriamente do rei e não de qualquer tribo, um centro onde se pudesse instalar, de modo definitivo, a corte real, o que muito contribuiu para o fortalecimento do governo israelita.

 – Diz Edward Reese, o organizador da Bíblia em ordem cronológica, que foi nessa ocasião que se elaborou o Salmo 118, cuja autoria é desconhecida, mas que teve como objetivo o louvor a Deus pela conquista de Jerusalém por Davi e seus homens.

Era a primeira grande vitória militar de Davi como rei de todo o Israel, uma vitória memorável que ficaria para sempre marcada no coração de Israel, para quem Jerusalém é sua “eterna e indivisível capital”.

 – Após a conquista de Jerusalém, Davi empreendeu a melhoria da cidade, edificando-a e a ampliando, num processo que teve a colaboração de Joabe, a mostrar que a conquista não deve apenas significar a tomada, mas o constante melhoramento, a constante edificação.

Isto nos traz uma linda lição espiritual: não basta afugentarmos o inimigo do centro de nossa vida, crendo em Jesus como Senhor e Salvador, mas é necessário que, dia após dia, cresçamos espiritualmente, tanto na graça quanto no conhecimento de Cristo Jesus (I Pe.3:18).

Neste crescimento, temos tanto a participação divina quanto a humana.

Não é à toa que a Bíblia relata que, neste empreendimento, trabalharam tanto Davi quanto Joabe.

Davi, tipo de Cristo; Joabe, tipo do crente que se esforçou e erradicou o inimigo do centro de sua vida. Temos batalhado pela edificação de Jerusalém, ou seja, de nossa vida espiritual com Deus?

Ou, depois da expulsão dos jebuseus, deixamos Jerusalém no estado lamentável encontrado por Neemias (cf. Ne.2:13-15)?

 – A Bíblia diz-nos que Davi habitou na fortaleza, ou seja, na parte central da cidade, tendo edificado de Milo até dentro (ou até o circuito) (II Sm.5:9; I Cr.11:8).

Muito se discute que seria “Milo”, palavra que, em hebraico, significa “encher”. Seria “…um local, ou estrutura, chamado “Milo” (2Sm 5:9; 1Cr 11:8).

A partir de outros textos (1Rs 9:15, 24; 1Rs 11:27; 2Cr 32:5), é provável que Milo se situasse dentro da cidade e que fosse periodicamente alargado e fortificado.

Aparentemente, fazia parte do sistema de fortificações da cidade no seu ponto mais fraco, que terá sido a extremidade norte do monte a sudeste. A LXX identifica-o com Acra, uma cidadela a sul do templo que ali permaneceu até aos dias de Judas Macabeu.

O nome hebraico millô’, que significa “encher”, tem sido explicado de várias maneiras.

Poderá ter sido uma muralha dupla cheia de terra, ou uma plataforma sobre a qual se construíram as fortificações.…” (Jerusalém. Disponível em: http://www.igrejaema.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=167:jerusalem&catid=47:c uriosidades Acesso em 08 out. 2009).

 

– Pelo que podemos verificar, portanto, Davi, além de habitar na fortaleza, tomou o cuidado de criar uma estrutura na cidade que permitisse a constante edificação de muralhas a partir de um aterro ou de um forte alicerce de onde se poderia erguer mais fortificações.

Sem dúvida alguma, este fato nos mostra que, em nossa vida espiritual, é o Senhor Jesus quem deve estar entronizado em nossos corações, em nossas vidas. Deve ele ser o nosso Rei e Senhor.

Ele, por sua vez, uma vez no trono de nosso coração, onde só é posto por nós, pois não invade o interior de homem algum, aguardando o convite para entrar (Ap.3:20),

toma as devidas providências para nos dar um forte alicerce espiritual, que permite que cresçamos a cada instante, que nos enchamos a cada dia da Sua presença e da Sua salvação e isto infinitamente e de forma cada vez mais íntima, pois Davi construiu Milo “até dentro”, “até o circuito”, não permitindo que brecha alguma possa ser invadida pelo inimigo.

 – Mas, enquanto Davi cuidava de Milo, a Bíblia nos diz que Joabe renovava o resto da cidade (I Cr.11:8).

Cabe a cada um de nós nos renovar a cada dia, a fim de que a fortaleza construída pelo Senhor possa ser devidamente completada pela nossa dedicação, pelo nosso esforço.

Este esforço, esta luta diária contra o pecado e contra o mal, esta renovação constante de nossa vida com Deus é algo que nos cabe fazer.

A santificação tem o alicerce, a plenitude e a proteção promovidos pelo Senhor, mas temos de fazer a nossa parte, não permitindo que “o resto da cidade” se envelheça ou fique à mercê do inimigo.

Devemos nos santificar a cada instante, como, aliás, fez Jesus por nós (Jo.17:19) e tal santificação deve abranger todos os aspectos de nossa vida debaixo do sol (I Pe.1:15). Como está nossa edificação espiritual?

 – Deus aprovou tudo quanto Davi fez, pois a Bíblia nos informa que Davi ia cada vez mais aumentando e crescendo, porque Deus era com ele (II Sm.5:10; I Cr.11:9).

Este aumento e crescimento foi resultado não só da conquista, mas também das providências tomadas para as melhorias de Jerusalém.

Deus sempre estará conosco quando tomarmos medidas para nosso crescimento espiritual. 

– Duas foram as reações a esta grande vitória de Davi e ao estabelecimento de Jerusalém como capital de Israel.

Por primeiro, Davi recebeu mensageiros da parte do rei de Tiro, Hirão, então a mais próspera cidade comercial da região.

Hirão quis fazer aliança com Davi e mandou pedreiros, carpinteiros e madeira de cedro que construíram um palácio para Davi em Jerusalém (II Sm.5:11; I Cr.14:1). 

– Tiro era uma cidade comercial e que dominava toda a região da Fenícia, hoje correspondente ao Líbano e Síria.

O fato de Hirão ter querido manter relações mais estreitas com Davi era a demonstração de que Israel havia se tornado um respeitável aliado, de credibilidade e que não tinha ambições expansionistas.

Isto prova que, apesar de suas vitórias militares, Davi não se apresentava como uma ameaça, como um conquistador ganancioso e que queria construir um império.

Quando nos aproximamos de Deus, chamamos ao nosso encontro pessoas que veem, apesar de não serem salvas, que somos pessoas dignas de confiança, zelosas do bem e, por isso, dignas de aproximação.

 

– Com este gesto de Hirão, Davi entendeu que o Senhor o estava abençoando e que tinha confirmado como rei sobre Israel (II Sm.5:12;  Cr.14:2).

 Vemos, aqui, como Davi era diferente de Saul. Enquanto Saul teve duas oportunidades para ter confirmado o reino e as desperdiçou, não tendo o discernimento de que Deus o estava confirmando, Davi, numa atitude de um gentio, entendeu claramente que Deus o confirmava no reino.

O discernimento espiritual é fundamental para todos quantos servem ao Senhor. 

– Mas por que Davi tinha este discernimento e Saul não? Porque Davi mantinha a vida espiritual, ao contrário do seu antecessor. Durante toda a perseguição, vemos Davi compondo salmos ao Senhor, consultando a Deus, quase nada fazendo sem a direção e orientação divina, enquanto que não encontramos Saul fazendo estas coisas.

Davi tinha uma vida com Deus e, por isso, tinha discernimento espiritual. Era um homem espiritual, não um homem natural (I Co.2:12-16). E nós, com quem parecemos: com Davi ou com Saul? 

– Por ter uma vida com Deus, Davi dava prioridade às coisas de Deus, ao contrário de Saul, que, inclusive, não teve qualquer preocupação de reunir as peças do tabernáculo, que se encontravam dispersas desde os dias de Eli, entre as quais a arca do Senhor (I Cr.13:3).

O salvo em Jesus também busca as “coisas de cima” (Cl.3:1-3). Como é diferente a realidade bíblica dos “crentes” que são seguidores dos ensinos da teologia da prosperidade nos dias hodiernos… 

– Por isso, Davi tratou logo de trazer a arca para Jerusalém, pois sabia ele que o mais importante para Israel era reativar o culto a Deus, observar a lei de Moisés, visto que Israel era a propriedade peculiar do Senhor dentre os povos (Ex.19:5,6).  

V – AS VITÓRIAS DE DAVI SOBRE OS FILISTEUS 

– Mas dissemos que foram duas as reações após a conquista de Jerusalém por Davi.

A de Hirão, fez com que Davi entendesse que Deus o confirmava como rei de Israel, uma aproximação que lhe mostrou o respeito e que resultou num palácio.

Entretanto, a outra reação não foi nada agradável: os filisteus, sabendo que Davi havia sido ungido rei sobre Israel, resolveram novamente guerrear contra Israel (II Sm.5:17).

 – Os filisteus mostraram bem quem eram: inimigos do povo de Deus. Como Davi havia vencido o filho de Saul na guerra civil, poderiam ter tentado um acordo de paz, uma convivência pacífica com aquele que, afinal de contas, havia sido um leal servidor de Áquis, rei de Gate.

No entanto, os filisteus eram inimigos do povo de Deus e, como tal, nunca tinham intenção de promover o bem-estar de Israel. Seu ânimo era sempre o de oprimir os israelitas. 

– Deste mesmo modo procede o inimigo de nossas almas. Seu trabalho é matar, roubar e destruir (Jo.10:10). Não nos iludamos pois não ficará contente enquanto não nos levar juntamente com ele para o lago de fogo e de enxofre, preparado para ele e para os seus anjos (Mt.25:41).

Não há qualquer possibilidade de o inimigo querer o nosso bem, de nos oferecer algo que nos seja, de alguma maneira, favorável ou bom.

Jesus foi bem claro: quem não é por nós, é contra nós (Mc.9:40; Lc.9:50), quem não ajunta com o Senhor, espalha (Mt.12:30; Lc.11:23). 

– Tendo conhecimento que o povo de Israel estava em paz, que não mais sofria a guerra civil, os filisteus resolveram guerrear, a fim de aproveitar o que achavam ser ainda a fragilidade do novo governo para “recuperar o tempo perdido”.

Seu objetivo outro não era senão “buscar a Davi” (I Cr.14:8). Não devemos nos esquecer que os filisteus tinham tido uma grande vitória sobre Saul e, se não tinham sido subjugados pelos israelitas, almejavam recuperar a posição que tinham de opressores do povo de Deus.

A aliança entre Davi e Hirão, por outro lado, atingia diretamente os filisteus, que viam neste acordo uma projeção ainda maior para Israel, que já se encontrava totalmente liberto dos filisteus, o que, aliás, nada mais era que cumprimento da Palavra do Senhor, que dissera que a libertação da opressão dos filisteus, iniciada sob Sansão (Jz.13:5), encerrar-se-ia com Saul (I Sm.9:16).

 – O inimigo de nossas almas é assim: não descansa enquanto nos vê livres de seu jugo (Ap.12:10).

Muitos salvos têm negligenciado esta circunstância e acham que o diabo não mais procura derrubá-los, que o diabo os teme ou já desistiu de tentar matá-los espiritualmente. Ledo engano!

O adversário não se cansa de nos acusar diante de Deus, de nos lançar ciladas astutas na nossa caminhada para o céu.

Precisamos estar vigilantes e, por meio do sangue de Jesus e da palavra do seu testemunho, vencermos, dia a dia, o adversário e suas hostes, neste “bom combate” para que, no fim, possamos ser chamados de vencedores.

Muitos estão se esquecendo que, para vencermos o maligno, não podemos amar as nossas vidas, mas, sim, ao perdermos nossas vidas, ganhamos a salvação (Mt.16:25; Mc.8:35; Lc.17:33; Jo.12:25). 

– Os filisteus reuniram-se para guerrear contra Davi e Davi, então, desceu à fortaleza (II Sm.5:17).

Já vimos que a fortaleza, a cidade de Davi, Sião, era o local onde Davi havia ido habitar.

Ao saber que os filisteus se reuniam para ir guerrear contra ele e que estavam no vale de Refaim, Davi, em primeiro lugar, foi para a fortaleza. 

– Temos ido para a fortaleza antes de enfrentarmos o inimigo, que, se puder, nos engolirá vivos (Sl.124:1-3) ou temos displicentemente ido ao seu encontro sem estarmos devidamente revestidos da armadura de Deus?

Não podemos ir para a batalha contra o adversário desprotegidos e despreparados! 

– Davi desceu à fortaleza, ao centro da proteção, onde estava o trono, a habitação do rei, onde as muralhas o cercavam, onde havia firmeza de um alicerce bem estruturado.

Na luta contra o mal, não devemos crer nas fábulas e invencionices da “teologia da batalha espiritual”, com suas “unções de óleo” com helicópteros, com suas “demarcações de território” com urina e tantas outras “neobesteiras”, mas, sim,

irmos ao encontro do Senhor no aposento, na madrugada, buscando a face do Senhor, orando no Espírito, meditando nas Escrituras, santificando-nos a cada instante, a cada momento, a fim de que, cheios do Espírito Santo, purificados pelo sangue do Cordeiro e sabendo manejar a espada do Espírito, possamos vencer o inimigo. 

– Após ter descido à fortaleza, Davi não se deixou levar pela sua popularidade, nem tampouco pela unidade e respeito que havia conquistado em Israel e entre os países vizinhos.

As Escrituras mostram-nos que, na fortaleza, Davi consultou ao Senhor se devia, ou não, guerrear contra os filisteus (II Sm.5:19; I Cr.14:10).

Novamente, vemos uma grande diferença entre Davi e Saul. Saul não quis a bênção de Deus, fez um indevido sacrifício para ir à guerra e, embora tenha vencido a guerra, perdeu o reino. Davi, bem ao contrário, não se atreveu a ir à luta sem antes saber a vontade do Senhor.

 – Davi era já um experimentado guerreiro, um novo rei que precisava mostrar ao seu povo todo o seu valor, notadamente contra os filisteus, a quem tantas vezes havia vencido.

Mas Davi era, sobretudo, um servo do Senhor e, como tal, sabia que não tinha vontade própria, mas devia única e exclusivamente o que Deus quisesse que ele fizesse.

Jesus afirmou que a Sua comida era fazer a vontade do Pai (Jo.4:34) e este deve ser uma realidade na vida daqueles que estão marchando para o céu.

 

– Quantos não têm causado inúmeros transtornos em suas vidas porque se deixam levar pela sua vaidade, pelas suas habilidades pessoais, pela sua capacidade e não consultam a Deus.

O resultado é um rotundo fracasso, são consequências que são levadas anos a fio por parte dos homens, por sua arrogância e falta de humildade.

Tudo deixemos nas mãos do Senhor, nada façamos sem que, antes, venhamos a consultá-l’O, pois, como disse Nosso Senhor, sem Ele nada podemos fazer (Jo.15:5 ”in fine”). 

– Consultar a Deus, entretanto, não significa que devemos deixar de fazer a nossa parte ou sermos inativos.

O texto sagrado mostra-nos que Davi quis saber qual era a vontade do Senhor, mas estava pronto e saiu logo contra os filisteus (I Cr.14:8).

Davi não vacilou, não ficou na dúvida se devia, ou não, posicionar-se contra os filisteus.

Viu que os filisteus eram os inimigos do povo de Deus e deviam, por isso, ser combatidos, mas nada quis fazer do seu jeito, de acordo com o seu pensamento.

Estava decidido a lutar contra o inimigo, mas sabia que dependia de Deus para vencer.  

– Prudência, ouvidos atentos à vontade do Senhor não se confundem com covardia ou negligência na luta contra o pecado, na luta contra o mal. Se há os atrevidos que agem fora da direção e orientação do Senhor, por sua arrogância, há, também, os que nunca agem, que titubeiam sem se posicionar ao lado do Senhor nesta batalha cósmica, nesta luta espiritual.

Sabemos de que lado estamos e não podemos, em absoluto, admitir recuar na luta sob a desculpa de que “não sabemos a vontade de Deus”.

Busquemos tal vontade mas estejamos sempre prontos a combater o bom combate. Deus não tem prazer naquele que se acovarda (Hb.10:38). 

– Davi consultou ao Senhor e o Senhor lhe disse para que combatesse os filisteus, pois certamente Ele os entregaria na mão do novo rei. Davi, então, foi até onde estavam os filisteus e os feriu ali. Foi uma vitória estonteante a ponto de o próprio Davi, com toda a sua experiência, admirar-se e dar ao lugar o nome de “Baal-Perizim”, cujo significado é “o Senhor que destrói” ou “o rompimento do Senhor”, pois disse Davi:

“o Senhor rompeu a meus inimigos diante de mim como quem rompe águas” (II Sm.5:20), ou, na Nova Versão Internacional,

“Assim como as águas de uma enchente causam destruição, pelas minhas mãos o Senhor destruiu os meus inimigos diante de mim”. 

– Esta admiração de Davi mostra-nos como é bom fazermos a vontade do Senhor, que supera todas as nossas expectativas.

O que Deus deseja fazer está sempre além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera (Ef.3:20).

Vale a pena confiarmos no Senhor e seguirmos rigorosamente aquilo que Ele nos tem mandado fazer.  

– Davi jamais imaginara que o Senhor faria com que os filisteus fossem destruídos daquela maneira.

Mas, ao mesmo tempo em que o rei constatou a destruição dos seus inimigos, não deixou de reconhecer que aquilo era obra do Senhor, chegando mesmo a dar o nome ao lugar de “Baal-Perizim”, ou seja, “o Senhor que destrói”, para que não se esquecesse que ali Deus havia vencido a guerra e destroçado os inimigos em favor de Seu povo.

 – Nosso Deus ainda é o mesmo e, por isso, também destrói os inimigos do povo de Deus. No tempo certo e aprazado, Ele Se encarrega de executar a Sua vingança, que só a Ele pertence e a mais ninguém.

Deus estava executando Seu juízo sobre os filisteus, por todos os séculos de males que havia cometido contra Israel, mas isto somente se deu no instante em que Israel era governado por um rei segundo o seu coração e quando o povo estava a servir a Deus fielmente. Lembremos disto!

– A vitória foi tão acachapante que os filisteus, inclusive, deixaram seus ídolos no campo de batalha. Não houve sequer tempo para que eles levassem consigo seus deuses, a demonstrar quão terrível foi a vitória de Israel.

Davi, demonstrando toda a sua fidelidade a Deus, assim que verificou que os ídolos dos filisteus foram deixados, tomou-os (II Sm.5:21) e os queimou a fogo (I Cr.14:12). 

– Quem desce à fortaleza, faz a vontade de Deus e vence os inimigos, reconhecendo que a vitória vem da parte do Senhor não admite qualquer convivência com ídolos.

Não admite sequer a sua existência e os queima a fogo. Assim deve proceder um servo do Senhor e não como, muitos anos depois, o rei de Judá, Amazias, que, vencendo os edomitas, adotaria seus deuses (II Cr.25:14-16).

Muitos, na atualidade, são os que têm seguido o mau exemplo de Amazias em vez de fazer aquilo que Davi fez.

Não podemos dar margem alguma à idolatria em nossas vidas, principalmente depois de grandes vitórias.

Lembre-mos sempre do que nos ensina o apóstolo João ao término de sua primeira epístola: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém” (I Jo.5:21). 

– Após esta retumbante vitória, o que aconteceu? Os filisteus tornaram a se reunir e a querer nova guerra!

Que incrível, depois de tamanha demonstração do poder de Deus, os inimigos tornaram a se reunir no mesmo vale de Refaim, com o intuito de lutar novamente contra Davi e contra Israel (II Sm.5:22; I Cr.14:21). 

– Assim é a vida do cristão: depois de uma tempestade, vem outra tempestade.

Não nos iludamos: teremos vitórias extraordinárias da parte do Senhor, mas o inimigo jamais desistirá de lutar contra nós. Após a vitória, estejamos certos que o adversário voltará a nos atacar. 

– Os filisteus recobraram forças e novamente foram ao campo de batalha. Diante de uma vitória tão estonteante, Davi poderia ter reiniciado a peleja, certo da vitória do Senhor.

No entanto, Davi não se deixava levar pela vanglória. Ao saber que os filisteus tornavam à guerra, ele tornou a consultar ao Senhor (I Cr.14:14).

Se o diabo torna a nos atacar, tornemos a buscar a Deus. Se o diabo torna a nos tentar, tornemos a buscar a Deus. Ficamos muito preocupados com os crentes que reclamam da “monotonia” da vida espiritual, porque os cultos são sempre os mesmos, porque sempre se prega a mesma coisa, porque sempre se fala em orar, jejuar, ler a Bíblia.

Bendita a igreja local e bendito o crente que torna a fazer as mesmas coisas, porque o maligno torna a nos atacar sempre. Devemos andar de fé em fé, para que cheguemos ao fim vitoriosos. 

– Davi, então, consultou ao Senhor e, para sua surpresa, o Senhor lhe disse que, desta vez, não subiria ao encontro dos filisteus. Deveria rodear por detrás deles e vir a eles por defronte das amoreiras.

Deveria ali aguardar o estrondo de marcha pelas copas das amoreiras e, então, se apressar, porque, quando isto acontecesse, o Senhor teria saído diante de Davi e ferido o arraial dos filisteus (II Sm.5:23,24; I Cr.14:14,15).

 – Deus mandou a Davi que não fosse ao encontro dos filisteus, mas que rodeasse o local onde os filisteus estavam, posicionando-se atrás deles e ali aguardasse o ruído de um som de passos, uma “andadura” por cima das amoreiras, nas copas das amoreiras.

Davi estava, portanto, com seu exército, numa região de amoreiras, numa floresta, que, como toda floresta palestina, era uma floresta aberta, ou seja, em que as árvores se distanciam uma das outras e permitem a penetração da luz solar no seu interior. 

– As amoreiras são “…árvores de porte médio que podem atingir cerca de 4 a 5 metros de altura, possuem casca ligeiramente rugosa, escura e copa grande.

As folhas têm coloração mais ou menos verde, com uma leve pilosidade que as torna ásperas.

As flores são de tamanho reduzido e cor branco-amarelada.…” (Morus. In: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Morus Acesso em 08 out. 2009). T

êm, segundo Russell Norman Champlin (1933-2018), “…densa folhagem, produzindo uma sombra bastante densa.…” (Amoreira. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.1, p.142). 

– Pelo que podemos verificar, portanto, Deus mandou que Davi, depois de ter rodeado os filisteus, ficasse detrás deles e mandasse que seu exército ficasse olhando para as copas das amoreiras, árvores com cerca de 4 a 5 metros de altura, para que ouvissem o ruído de passos que viesse de cima, ou seja, da copa das árvores.

Em outras palavras: o exército deveria ficar posicionado atrás do exército inimigo e ficar olhando para cima, aguardando um barulho de passos vindo de cima das árvores. 

– Já imaginou qual foi a reação dos soldados de Davi quando este manda que eles fiquem olhando para cima, aguardando passos a ser ouvidos de cima das árvores? Que loucura! Que coisa mais sem sentido!

Que absurdo! Mas é isto mesmo: Deus quis saber como estava a fé tanto de Davi quanto de seus soldados.

Davi reconhecera que a vitória anterior fora obra do Senhor, pois então veria que Deus era ainda mais surpreendente, ainda mais admirável, ainda mais poderoso! 

– A cada instante em nossa vida espiritual, devemos ter o aumento de nossa fé.

Quando tivermos aumentada a nossa fé e Deus nos der grande vitória, saiba que, no próximo embate, necessitaremos de mais fé ainda, pois Deus fará maravilhas ainda maiores, testar-nos-á mais ainda.

Não é à toa, aliás, que o Senhor Jesus diz que nossa fé deve ser como o grão de mostarda, que é a menor semente, mas que dá origem à maior hortaliça.

Será que nossa fé tem aumentado? Se isto não está acontecendo, ainda há tempo para repetirmos a oração dos discípulos: “Acrescenta-nos a fé” (Lc.17:5b). 

– A Bíblia nos diz que Davi fez o que foi ordenado pelo Senhor (II Sm.5:25; I Cr.14:16).

Certamente não foi fácil convencer um exército a ficar olhando para a copa das árvores para ouvir passos vindos de cima das árvores.

Como ouvimos certo pregador em um sermão sobre este texto, é possível que os soldados tenham até se deitado para ficar observando as amoreiras.

Somente alguém que detivesse a confiança e a credibilidade dos seus homens poderia conseguir que um exército procedesse dessa maneira tão inusitada. 

– Temos a mesma disposição para fazer o que o Senhor nos ordena? Ou ainda estamos presos à lógica humana, aos valores culturais, aos nossos “achismos”?

Davi nunca havia guerreado daquele jeito e, certamente, nunca mais o fez, mas sabia que deveria obedecer ao Senhor.

Se fizermos o que o Senhor nos ordena, seremos vitoriosos, independentemente de qualquer conceito ou valor humanos.

Muitos de nós não têm uma vida espiritual elevada e vitoriosa porque ainda ama mais a glória dos homens do que a glória de Deus (Jo.12:43). 

– Nesta ordem divina, vemos, claramente, que Deus quis ensinar Davi e seu exército de que o Senhor não precisa do homem, embora queira ter a sua companhia e cooperação.

 Ao homem bastava contemplar a operação divina e agir no momento aprazado pelo Senhor. Temos procedido desta maneira? Temos simplesmente contemplado a face do Senhor e esperado que venha o momento de agirmos segundo Sua orientação?

Quantos não têm mais tempo ou paciência de contemplar a Deus na oração, na meditação da Palavra, e, antes do tempo determinado, saem solitários na batalha da vida e são fragorosamente derrotados.

O apóstolo João faz questão de dizer que havia comtemplado, havia visto o Senhor (I Jo.1:1). Como está a nossa vida de contemplação? 

– O som dos passos viria de cima das copas das árvores, ou seja, era a indicação de que Deus estava a marchar com o povo, estava a acompanhá-lo na batalha.

Devemos aguardar dos céus a solução para os nossos problemas, devemos confiar em Deus para termos as vitórias necessárias na jornada da fé.

É muito triste vermos pessoas que cristãs se dizem ser procurando alcançar o bem-estar de suas vidas no dinheiro, no poder, na fama, na posição social. Nosso socorro vem do Senhor, de ninguém mais (Sl.121:2). 

– O povo deveria levantar as suas cabeças e aguardar o estrondo, o som dos passos do Senhor, estar, pois, vigilante e atento ao movimento do céu.

Do mesmo modo, nós, o exército de Deus aqui na Terra, devemos levantar as nossas cabeças, porque a nossa redenção está próxima (Lc.21:28), não deixando de vigiar um só momento (Mc.13:37), a fim de que ouçamos não o estrondo de passos, a trombeta  de Deus, o alarido do Senhor, a voz de arcanjo (I Ts.4:16).

Se os soldados não percebessem o som vindo da copa das amoreiras, não alcançariam a vitória. Estamos vigiando, amados irmãos? 

– O exército deveria ficar atrás dos inimigos e somente deveria se apressar quando ouvisse o estrondo de cima das amoreiras. O exército tinha de ficar na posição determinada por Deus.

Devemos, também, nos manter na posição mandada por Deus, qual seja, sobre a rocha, que é Cristo, separados do pecado, em santificação, para que, assim que ouçamos o estrondo da trombeta, possamos subir aos céus e encontrarmos com o Senhor nas nuvens. Quantos estão, porém, distraídos, despercebidos. Acordemos enquanto é tempo!

 

– O exército deveria ficar atrás, porque o Senhor sairia diante dele. Que belo quando, apesar de nossas vitórias e de nossa fama diante dos povos, mantemo-nos atrás do Senhor, sabemos que é Ele quem opera, não nós.

Quantos, lamentavelmente, estão à frente de Jesus nos dias em que vivemos. Quantos aparecem mais que o Senhor Jesus.

Não sabem que a vitória depende de o Senhor sair diante de nós, na nossa frente, pois sem Ele nada podemos fazer. 

– Quando ouviu o estrondo, o exército de Israel apressou-se e foi ao encalço dos filisteus, que foram vencidos desde Geba até chegar a Gezer (II Sm.5:25; I Cr.14:16).

Esta vitória sobre os filisteus trouxe temor sobre todas as nações vizinhas de Israel (I Cr.14:17). Davi não tinha mais só a simpatia de Tiro, mas o respeito de todas as nações em volta. 

– Diante deste quadro absolutamente favorável e depois de ter levado a arca do Senhor para Jerusalém, Davi iniciou nova guerra contra os filisteus, querendo agora submetê-los a Israel, sendo bemsucedido, pois os venceu em Metegue-Ama (II Sm.8:1; I Cr.18:1).  

– “Metegue-Ama” significa “freio da cidade mãe”. Precisamos, na luta contra o inimigo, retirar o “freio da cidade mãe”, ou seja, “as rédeas da metrópole”, aquilo que dá a força e o sustento do adversário.

Para vencermos o inimigo, precisamos tirar aquilo por onde o adversário sempre consegue o controle sobre nossas vidas, as nossas fraquezas, que são muito bem conhecidas por ele, um exímio conhecedor das coisas dos homens (Mt.16:23).

Somente nos libertaremos do inimigo e o subjugaremos se encontrarmos a nossa “Metegue-Ama” e a vencermos.

– Pelo que se verifica do texto sagrado, Metegue-Ama era uma cidade vinculada a Gate, cidade muito conhecida de Davi, que havia trabalhado para Áquis.

Sua conquista não deveria ser desconhecida para Davi, pois, como sendo a cidade-chave para a conquista das cidades filisteias, em especial, de Gate, a principal delas.

Por que, então, demorou tanto tempo para conquistá-la e obter a sujeição dos filisteus? Porque só depois de a arca do Senhor estar em Jerusalém, no centro do país, é que isto poderia ocorrer.  

– Necessitamos entronizar o Senhor Jesus (que é tipificado pela arca) em nosso coração, no centro de nossas vidas para alcançarmos a plena liberdade sobre o inimigo, para crucificarmos a carne, a natureza pecaminosa, a nossa Metegue-Ama.

Enquanto não entregarmos nossas vidas realmente para o Senhor e não crucificarmos a nós mesmos, jamais teremos a libertação do pecado.

A renúncia de nós mesmos é indispensável para que venhamos a seguir a Cristo (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23). 

– Muito se fala, atualmente, de “libertação”. Pululam nas igrejas locais os “cultos de libertação” e são muitos os que defendem “quebras de grilhões”, “quebras de maldições” e coisas semelhantes,

nomenclatura extremamente perigosa porque dá a entender que a salvação em Jesus Cristo não é suficiente para libertar o homem, o que contraria a Bíblia que é categórica ao afirmar que “se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres.” (Jo.8:36). 

– A libertação, ensina-nos o Senhor Jesus, é resultado do conhecimento da verdade, da santificação.

O processo da salvação nos livra da natureza e do poder do pecado. Assim, se, ao sermos perdoados pelo Senhor, somos lavados no sangue de Jesus e nos tornamos uma nova criatura(II Co.5:17; Gl.6:15), a cada dia que passa, somos mantidos separados do poder do pecado (At.26:18).

 

– Nesta separação do poder do pecado, temos de saber conviver com o conflito que há entre a nova e a velha natureza, a carne, a qual precisa ser crucificada com Cristo (Rm.6:6; 8:21; II Co.13:4; Gl.2:20; 6:14).

Esta carne, assim como Metegue-Ama, precisa ser tomada, subjugada e, enquanto isto não ocorrer, corremos o risco de sermos derrotados, numa luta que somente terminará na glorificação, quando, então, a carne não mais nos acompanhará (I Co.15:50).

– Davi submetia os filisteus, os principais inimigos de Israel, dando assim início à expansão do seu reino, a fim de atingir as fronteiras prometidas a Abraão, fronteiras nas quais se incluíam as cidades dos filisteus.

 VI – OUTRAS VITÓRIAS MILITARES DE DAVI E SEU SENTIMENTO DE GRATIDÃO A DEUS

 – A sujeição dos filisteus fez com que Davi iniciasse uma série de conquistas, a fim de estabelecer o território prometido por Deus a Abraão.

Observemos que as guerras de conquista de Davi não tinham um objetivo simples de formação de um império, de construção de um imenso poder, como ocorreu na formação dos grandes impérios ao longo da história da humanidade, mas era movido pelo interesse de se ter o território da promessa divina.

Davi sabia que era o escolhido de Deus para que o povo de Israel cumprisse o seu papel sacerdotal diante dos demais povos e, por isso, fez tais empreendimentos militares. 

– Como é importante sabermos qual é a vontade de Deus para as nossas vidas, qual é a nossa missão e a ela nos vincularmos debaixo da orientação do Espírito Santo.

Triste é o homem ou mulher de Deus que, embalados pelos sucessos e êxitos proporcionados pelo Senhor, esquecer deste propósito e se deixar levar pela fama, posição e consequências terrenas da bênção divina, cedo será o seu fracasso.

– Davi conquistou Moabe, tornando-os servos seus (II Sm.8:2; I Cr.18:2), tendo, inclusive, matado a todos os mais altos, como forma de impedi-los de terem condições de formar um exército em condições de lutar contra o domínio israelita. 

– Davi, também, venceu e submeteu a Hadade-Ezer, rei de Zobá, país que se situava próximo ao rio Eufrates, levando, assim, o domínio de Israel até a fronteira estabelecida por Deus a Abraão e que nunca antes havia sido sequer ocupada pelos israelitas (II Sm.8:3; I Cr.18:3,4). 

– Nesta luta contra Zobá, Davi tomou mil e seiscentos cavaleiros e vinte mil homens de pé, tendo Davi jarretado a todos os cavalos dos carros e reservado cem deles (II Sm.8:4; I Cr.18:4) .

Temos aqui a introdução do cavalo na Palestina, fato, aliás, que foi recentemente comprovado pelas pesquisas arqueológicas a respeito dos hititas, que habitavam precisamente na região que a Bíblia denomina de Zobá.

O fato de Davi ter cortado as pernas dos cavalos e apenas reservado cem deles foi uma bela estratégia, visto que o povo de Israel não tinha a tecnologia necessária para usar este tipo de arma.

Assim, manter estes carros sem ter quem tivesse domínio sobre eles era tão somente deixar nas mãos algo que inimigos poderiam se aproveitar mais tarde. 

– Temos esta prudência em nosso dia-a-dia? Será que não aquinhoamos coisas que não sabemos bem manejar e que podem ser usadas pelo inimigo para nosso desfavor?

Nos dias em que vivemos, de muito desenvolvimento tecnológico e de muitas novidades, muitos se têm envolvido com coisas novas que não sabem dominar e isto pode ser usado pelo inimigo para nosso mal, em vez de servir para o nosso bem.

Quantos “carros de cavalos” não têm tomado nosso tempo e nossa atenção em relação às coisas do Senhor?Quantos “carros de cavalos” não têm servido de arma para o nosso inimigo em vez de bênçãos para as nossas vidas? 

– Com relação aos escudos de ouro usados pelos servos de Hadade-Ezer, entretanto, Davi os levou todos a Jerusalém, como também grande quantidade de bronze de Beta e de Berotai, cidades de Zobá(II Sm.8:7,8; I Cr.18:7,8).

Este material era útil para Davi, pois serviria de matéria-prima para a edificação do templo e de seus utensílios, pois, embora Davi tivesse sido proibido por Deus para edificar o templo, sentiu a responsabilidade de tudo preparar para que a construção se fizesse por seu filho, como havia sido prometido por Deus. 

– Mais uma vez, vemos o exercício da prudência por parte de Davi. Além de não se utilizar do que não sabia dominar, Davi ainda usa aquilo que seria útil para o serviço da casa do Senhor, como também se assegurava que houvesse material para o futuro.

Davi, em meio a vitória, não se esqueceu de honrar a Deus com a sua fazenda, como também de prevenir o futuro.

Que lição para nós, nestes dias dominados pelo culto ao prazer, pelo imediatismo irresponsável, pelo consumismo desenfreado.

Davi cuidou de levar o que havia ganho na guerra para ser usado na obra do Senhor, como também para que se tivesse uma provisão para o futuro.

Será que nossa administração patrimonial tem deixado a parte do Senhor como também tem formado provisões para o futuro, ou estamos na mesma correria do materialismo dominante entre as pessoas do mundo? 

– Quando Davi se voltou contra Zobá, os sírios de Damasco vieram socorrer Hadade-Ezer, mas foram derrotados, apesar de serem vinte e dois mil homens.

Davi, após vencer os sírios, pôs guarnições na Síria e os tornou, igualmente, servos (II Sm.8:6; I Cr.18:5,6).

– A vitória sobre Zobá não trouxe apenas problemas político-militares para Davi. Toí (ou Toú), rei de Hamate, tornou-se aliado de Davi, trazendo-lhe presentes, pois havia guerra constante entre Hamate e Zobá (II Sm.8:9,10; I Cr.18:9,10). Hamate localizava-se próximo a Zobá, sendo a fronteira norte de Israel. 

– Os presentes trazidos por Toí (ou Toú) a Davi foram, também, consagrados ao Senhor, assim como todos os despojos apanhados por Davi em suas conquistas.

Este comportamento de Davi, que não procurou enriquecer-se com as vitórias militares obtidas, mas antes reforçou o tesouro do Senhor, mostra bem como Davi se considerava um servo de Deus, apesar de ser o rei de Israel, uma conduta bem diferente da apresentada por seu sucessor. 

– Davi sentia-se apenas um ministro constituído por Deus, ou seja, alguém que exercia uma autoridade mas que dependia única e exclusivamente do Senhor, que Lhe devia fazer a vontade.

Neste ponto, também, é um tipo de Jesus Cristo que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus (Fp.2:6), mas Se comportou como o Servo do Senhor (Is.42:1). 

– Segundo Edward Reese, em sua ordem cronológica, foi nesta oportunidade em que Davi estendeu as fronteiras de Israel até o rio Eufrates que o rei compôs o Salmo 9, que, como afirmam os autores Vitor Fridlin, David Gorodovits e Jairo Fridlin, “…é o cântrico extasiado de quem tem a clareza de visão para perceber a obra de Deus em toda parte e sente que as realizações do ser humano são dádivas de Deus a Quem deve se dedicar…” (Salmos:com tradução e transliteração, p.10).

Com efeito, neste salmo, o rei reconhece que os inimigos retrocederam, caíram e pereceram diante da face do Senhor, que é o Senhor que executa Seu juízo sobre as gentes, bem como que nos faz ver que as nações são constituídas por meros homens.

Em dias em que o homem se arroga o direito de fazer história, nada como lermos este salmo, feito por alguém que, humanamente falando, poderia se achar o senhor da situação, mas que reconhecia que tudo era devido ao Senhor. Temos o mesmo sentimento de Davi nos momentos de nossas vitórias? 

– Nos dias em que vivemos, porém, são raros os que assim se comportam. Fazem-se donos do povo de Deus, dominam sobre ele (ou pensam que o fazem), tratando-os como verdadeiros “escravos”, esquecidos de que, máxime na dispensação da graça, não há a menor possibilidade de serem mais do que “servos” (Jo.13:16; 15:20).

Tenhamos dó destes “iluminados”, que se acham “donos do rebanho do Senhor”, pois, brevemente, saberão quem é o Sumo Pastor e o que os espera. 

– Davi sabia que o Senhor era o seu pastor e se comportava como tal.

Embora fosse um rei vitorioso e que tinha um poder político-militar que nunca antes havia sido atingido por qualquer governante em Israel, durante o seu tempo, jamais os israelitas tiveram tanta certeza de que era Deus quem reinava sobre o Seu povo.

Líderes da igreja, têm os senhores causado esta impressão no rebanho do Senhor? 

– Não bastassem estas vitórias, Abisai, irmão de Joabe, também venceu dezoito mil siros no Vale do Sal (II Sm.8:13; I Cr.18:12), tendo Davi também subjugado os edomitas (descendentes de Esaú), pondo guarnições em todo o seu território.

Tais vitórias foram possíveis, diz-nos o texto sagrado, porque ”o Senhor ajudava e guardava a Davi por onde quer que ia” (II Sm.8:14; I Cr.18:13).

 – Se o Senhor não guardasse nem ajudasse Davi, nenhuma das vitórias teria sido possível.

O próprio Davi deixava bem claro isto em suas manifestações, demonstrando que não deixava se vangloriar por causa de sua crescente força político-militar.

Como é importante sabermos que tudo devemos ao Senhor e que não podemos achar que fizemos algo de nós mesmos. 

 

– Quando Davi ganha nome por causa destas vitórias suplementares, compõe o Salmo 60, onde lembra que Israel havia sido oprimido anteriormente pelos povos que estavam em redor, notadamente no período dos juízes,

mas que tinha sido misericordioso com o povo do Senhor e, após fazer com que o povo bebesse do vinho da perturbação, permitiu que Israel, enfim, dominasse sobre todas as nações da região.

Na Sua santidade, o Senhor havia tornado Moabe a bacia de lavar dos israelitas, Edom, o lugar onde foram lançados os sapatos de Israel.

O Senhor era o responsável pelas proezas realizadas por Davi e por seu exército, pois somente Deus pode pisar os inimigos do povo de Deus.

 – Que mensagem profunda para os nossos dias de triunfalismo!

Por primeiro, Davi faz-nos lembrar que Deus, quando vê desobediência e pecado, não enaltece nem exalta o Seu povo, pois não Se agrada do pecado.

Por segundo, lembra que, na santidade, podemos, sim, alcançar vitórias sobre o inimigo, mas tudo se deve única e exclusivamente ao Senhor. Ele, que havia sido auxílio na angústia, havia permitido que o exército de Davi fizesse proezas e que os inimigos fossem pisados pelo Senhor. Vejamos bem: é o Senhor quem pisa os inimigos, não os israelitas (Sl.60:12).

Deixemos, pois, este antibíblico triunfalismo que leva o povo a ficar pisando o diabo, quando não é este o nosso papel. Glória a Deus pelas vitórias que temos! Glória a Deus pelas proezas que, em Seu nome e poder, realizamos! 

– Também foi nesta ocasião, segundo Reese, que o rei Davi compôs o salmo que se encontra no capítulo 22 de II Samuel, o único salmo reconhecido como sendo de Davi por todos os teólogos, mesmo os chamados “liberais”.

Neste salmo, Davi reconhece que todas as suas vitórias, desde o momento em que foi salvo de Saul, eram obra do Senhor, a  sua rocha, a sua fortaleza e o seu libertador.  

– Em momento algum, Davi atribui algum resultado a sua liderança proeminente, nem tampouco a suas reconhecidas habilidades de guerreiro.

Sempre fez questão de, publicamente, reconhecer o Senhor como o autor de tudo quanto havia conquistado: Eis as palavras de Davi: “ Persegui os meus inimigos, e os derrotei, e nunca me tornei até que os consumisse.

E os consumi, e os atravessei, de modo que nunca mais se levantaram, mas caíram debaixo dos meus pés.

Porque me cingiste de força para a peleja, fizeste abater debaixo de mim os que se levantaram contra mim.

E me deste o pescoço de meus inimigos, daqueles que me tinham ódio, e os destruí (II Sm.22:38-41). Este é um exemplo eloquente de como devemos ser como servos do Senhor. 

– Davi foi bem explícito: se agora era rei de um grande extensão de terras na Palestina e nos arredores, isto não se devia a sua habilidade nem a sua força.

Para todos ouvirem, assim cantava: “Os filhos de estranhos descaíram, e, cingindo-se, saíram dos seus encerramentos.

Vive o Senhor, e bendito seja o meu rochedo, e exaltado seja Deus, a rocha da minha salvação; o Deus que me dá inteira vingança, e sujeita os povos debaixo de mim; e o que me tira dentre os meus inimigos; e Tu me exaltas sobre os que contra mim se levantam; do homem violento me livras.

Por isso, ó Senhor, te louvarei entre as gentes, e entoarei louvores ao Teu nome.

Ele é a torre das salvações do Seu rei, e usa de benignidade com o Seu ungido, com Davi, e com a sua semente para sempre” (II Sm.22:45-51).

 

– Temos esta capacidade de gratidão a Deus, de reconhecimento de Seu poder e de nossa pequenez em meio a tanto poder, em meio a tanta fama, em meio a tanta força?

Davi teve esta capacidade e, se quisermos ser um homem segundo o coração de Deus, temos de agir do mesmo modo.

 – Para encerrarmos este sentimento de gratidão que invadiu o coração de Davi após suas sucessivas vitórias que o tornaram o mais poderoso rei que Israel já teve, contemplemos outra composição por ele elaborada, o Salmo 144, que Reese também entende ter sido composta após estas vitórias militares.

Neste Salmo, o rei agradece a Deus porque adestrou suas mãos para a peleja e os seus dedos para a guerra.

Davi reconhece que toda a sua destreza, toda a sua habilidade eram devidas ao Senhor. Temos reconhecido isto quando temos sucesso em nossa vida profissional, escolar ou ministerial?

 – Davi mostra-nos, neste salmo, que a misericórdia de Deus é extrema, pois o homem é semelhante à vaidade e os seus dias são como a sombra que passa, mas, mesmo assim, o ser humano, em sua nulidade, estima o homem.

Desde os céus, o Senhor desce ao nível do homem e o protege do mal e o faz ser vitorioso nas guerras e pelejas.

Davi mostra claramente que a prosperidade de Israel e a bem-aventurança do povo escolhido de Deus dependia única e exclusivamente do Senhor.  

– Davi punha-se na simples condição de servo de Deus (Sl.144:10), a quem o Senhor concedia a vitória, pois é Deus quem dá vitória aos reis.

O povo de Deus deveria ser liberto daqueles cuja boca falam vaidade e daqueles cuja mão direita é a falsidade.

Vemos que não há como sermos abençoados pelo Senhor se não estivermos em santidade.

O povo de Deus deve sempre entoar um “cântico novo”, com o saltério e o instrumento de dez cordas cantar louvores ao Senhor.

Não pode, portanto, o povo de Deus usar a música dos filhos dos estranhos, sair das letras que estejam de acordo com as Escrituras (o saltério), nem deixar de utilizar os instrumentos convenientes para o louvor (o instrumento de dez cordas).

O cântico deve ser “novo”, provindo de uma “nova criatura”, não a música velha misturada com o pecado, com a sensualidade, enfim, com a carne. Como este salmo tinha de ser lido por muitos na atualidade!

 – Davi, vitorioso e já um pequeno imperador, diante das suas conquistas, lembrava ao povo, como sábio governante, que, desde a família até os negócios de Estado, que a economia e o bem-estar social dependiam única e exclusivamente de o povo buscar a Deus e tê-lo como seu Senhor (Sl.144:11-15).

Eis a plataforma de governo que não falha e que, infelizmente, tem sido deixada de lado pelos governos das gentes, neste período que aguarda a manifestação do Anticristo.

 – Davi alargava, pela vez primeira, as fronteiras de Israel aos limites estabelecidos por Deus.

O Senhor fora com ele e Davi isto reconhecia, o que era motivo para ainda mais bênçãos da parte de Deus.

Israel vivia um auge espiritual e, consequentemente, político, econômico e militar.

Davi atingia o seu ápice no trono, com tão pouco tempo de reinado. Tudo estava bem, mas, como homem que era, Davi encerraria esta fase áurea da sua vida (que corresponde ao reino milenial de Cristo). É o que veremos na próxima lição.

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

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