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Lição 12 – Lança o teu pão sobre as águas

lição 12

A vida debaixo do sol tem de ser vivida.

A vida debaixo do sol tem de ser vivida.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do livro de Eclesiastes, estudaremos o capítulo 11 daquele livro sapiencial.

– Neste capítulo, Salomão ensina-nos que a vida debaixo do sol tem de ser vivida, não podemos ser passivos em nossa peregrinação terrena.

I – UM CHAMADO À AÇÃO EM FAVOR DO PRÓXIMO

– Temos visto, ao longo do estudo do livro de Eclesiastes, que é ele uma profunda investigação feita por Salomão a respeito da vida debaixo do sol, uma pesquisa com o propósito de se procurar o sentido da vida terrena (Ec.1:13,14), pesquisa esta que, já em seu início, é dito que chega a uma conclusão, qual seja, a de que a vida debaixo do sol é “vaidade e aflição de espírito”.

– Verdade é que, como temos visto nestas lições do segundo bloco deste trimestre, o pregador chegou a uma constatação, qual seja, a de que a vida debaixo do sol nos remete a algo que fica “além do sol”, “acima do sol” e que dá sentido à vida, faz com que deixe de ser “vaidade e aflição de espírito”.

– Assim dissertando, pareceria que o pregador chegasse à conclusão de que deveríamos nos conformar a esta existência terrena repleta de perplexidades, tendo uma vida absolutamente passiva, inerte, simplesmente respeitando as coisas sagradas, dedicando-nos a Deus, mas nos afastando de toda “vaidade e aflição de espírito”, a fim de não sermos tomados pelo desânimo e pela frustração.

– Mas, ao iniciar o capítulo 11, Salomão mostra-nos que é exatamente o contrário que se deve fazer. A vida debaixo do sol, em si mesma, não faz sentido, há uma necessidade de nos voltarmos ao Criador para que esta vida tenha sentido, mas a vida precisa ser vivida, ela precisa ser vivenciada, estamos aqui para agradar a Deus e para mostrar a nós mesmos e aos que nos cercam que a vida tem, sim, um sentido, desde que nos voltemos ao Senhor e, sob esta perspectiva, ajamos, tomemos atitudes enquanto estivermos neste planeta.

– Eis a razão pela qual o livro de Eclesiastes não deve ser considerado um livro de desencanto existencial, um livro que nos convida à depressão ou à inação. O pregador, mesmo tendo analisado profundamente a vida terrena e constatado que ela, em si, não tem sentido, é “vaidade e aflição de espírito”, não diz que devamos ficar inertes e alheios ao que se passa à nossa volta, ainda que não tenhamos controle algum sobre o desenrolar dos acontecimentos, sobre o ciclo da natureza.

– O pregador, então, no início do capítulo 11 de seu livro, afirma a todos os seus leitores: “Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás” (Ec.11:1).

– Salomão já havia dito, ao descrever o ciclo da natureza, que “todos os ribeiros vão para o mar e contudo o mar não se enche; para o lugar para onde os ribeiros vão, para aí tornam eles a ir” (Ec.1:7). Assim, como tudo nesta vida debaixo do sol, as águas vivem num ciclo, sempre retornando ao lugar de onde vieram.

– Ora, se assim é o ciclo da natureza, se tudo retorna ao lugar de onde veio, por que não haveria o homem de fazer o bem, de “lançar o teu pão sobre as águas”? Fazendo isto, o homem, certamente, haverá de receber, num determinado momento, o bem que fez, já que tudo vive num ciclo. Assim como o pão lançado nas águas tornará como as águas onde foi lançado, de igual modo, o bem que o homem fizer, também haverá de voltar para o benfeitor.

– Este ciclo natural também revela haver um ciclo moral, um ciclo de justiça que também é controlado pelo Criador, pelo Senhor de todas as coisas. O pregador já dissera que tinha a convicção de que Deus julgará o justo e o ímpio, porque há um tempo para todo o intento e toda a boa obra (Ec.3:17). Assim, não há motivo algum para que o homem deixe de praticar o bem, mesmo vendo tanta maldade na vida debaixo do sol.

– Como ensina o comentarista bíblico Matthew Henry (1662-1714), “…Salomão tinha frequentemente, neste livro [Eclesiastes, observação nossa] se dirigido com insistência aos ricos para que desfrutassem das suas riquezas; aqui ele se lhes dirigisse para que fizessem bem aos outros e que fossem abundantes em liberalidade para com os pobres, o que lhes resultaria em abundância um outro dia…” (Comentário a Ec.11:1. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/ecclesiastes/11.html Acesso em 30 out. 2013) (tradução nossa de texto original em inglês).

– Temos aqui uma determinação do pregador para que o pão fosse “lançado”, fosse “jogado” “sobre ás águas”, ou seja, de forma indiscriminada, o que nos lembra o conhecido dito popular segundo o qual “deve-se fazer o bem sem olhar a quem”. Matthew Henry equipara esta expressão, seguindo alguns estudiosos, à expressão de “sair a semear”, que encontramos na parábola do semeador, dita por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, onde se diz que o “semeador saiu a semear” (Mt.13:3; Mc.4:3; Lc.8:5).

– O semeador da parábola de Cristo saiu semeando sem olhar para onde semeava, tendo, por isso mesmo, atingido diversos tipos de terreno (a beira do caminho, o terreno pedregoso, o terreno com espinhos, a boa terra), mas cumpriu o seu dever, que era o de semear. Sem semeadura, não haverá colheita e, por isso, se deve semear indiscriminadamente, a fim de que se possa ter o que colher no futuro.

– Aqui, também, o pão deve ser lançado sobre as águas, sabendo-se que, num determinado momento, este pão há de tornar para aquele que o lançou, não se preocupando em saber onde ele foi lançado. O dever é lançar, a fim de que se possa ter, algum dia, o retorno.

– Estamos, portanto, a falar, nesta determinação de ação por parte do pregador, de filantropia, de fazer o bem ao próximo, de “caridade” e, para o pregador, “…caridade não é algo a ser praticado apenas com pessoas conhecidas. Salomão afirma que todo ato de caridade, de alguma forma, acaba trazendo uma recompensa…” (Torá – a lei de Moisés. Trad. de Meir Matzliah Melamed. com. Ec.11, p.683).

– Notamos que o pregador mostra, claramente, que os homens não podem viver solitários nesta vida debaixo do sol, que devem conviver e se ajudar mutuamente, pois estão peregrinando para algo “além do sol”, e, por isso mesmo, devem se submeter a este ciclo tanto natural quanto moral.
– O pregador manda que se “reparta com sete e ainda até com oito, porque não sabes que mal haverá sobre a terra” (Ec.11:2). O pregador já havia demonstrado que as riquezas são instáveis e, por isso mesmo, não se deve confiar nelas, gesto este que representará um afastamento de Deus e um perigo constante para que elas se percam, pois esta é uma das diferenças entre o justo e o ímpio (Ec.5:11-17).

– Se as riquezas são instáveis, se não se pode confiar nelas, o que se deve fazer é reparti-las com todas as pessoas a fim de que, diante de uma perda, não se tenha qualquer proveito, pois somente aquele bem que fizermos, no repartir, poderá nos tornar como recompensa, se o mal nos sobrevier.
– Quando se reparte com o próximo, isto é como que introduzido no ciclo moral da vida debaixo do sol e, por isso mesmo, este bem há de retornar para o benfeitor. Quando há retenção, e as riquezas forem perdidas por alguma “má aventura”, teremos simplesmente a perda e, como não se praticou o bem, não se terá o que retornar para aquele que detinha as riquezas.

– É importante observar que o pregador, ao estabelecer este paralelo entre o ciclo natural das águas e o ciclo moral, mostra-nos que a justiça divina começa a ser praticada ainda neste mundo, ainda na vida debaixo do sol, embora, aos olhos incautos do ser humano, pareça que, neste mundo, reine a maldade e que Deus não detenha qualquer controle sobre ele. Salomão mostra-nos que bem o contrário disto, que Deus está no controle de tudo e que, assim como o homem não pode modificar o curso da natureza, também não pode impedir que se produza a “lei da semeadura”.

– O apóstolo Paulo é bem explícito ao afirmar que Deus não Se deixa escarnecer e o que o homem semear, isto também ceifará (Gl.6:7). Tudo quanto Deus faz durará eternamente, nada se lhe deve acrescentar e nada se lhe deve tirar e isto faz Deus para que haja temor diante d’Ele (Ec.3:14). Destarte, há um momento, um tempo em que o “pão retorna junto com as águas”, e, neste momento, seja aqui, ainda, na vida debaixo do sol, seja na eternidade, haverá o devido pago pelo que se fez e pelo que não se fez.

– O pregador diz que isto se dará “depois de muitos dias”. Como afirma Matthew Henry, “…o retorno pode ser lento, mas é certo e será o mais abundante. O trigo, o grão mais valioso, demora a frutificar no campo. As longas viagens são as que trazem maior retorno…” (ibid.). Pode ser que o retorno de todo o bem realizado venha a ocorrer tão somente no mundo-além, na eternidade, como, aliás, ocorreu com Lázaro, na história contada pelo Senhor Jesus (Lc.16:19-31). Mas não importa, o que devemos fazer é sermos fiéis ao mandamento do Senhor e fazermos o bem, pois é nisto que demonstraremos, inclusive, a nossa justiça, a nossa condição de discípulos de Cristo, de salvos (Jo.13:35).

– Salomão já nos mostra que o verdadeiro justo, aquele que teme a Deus, é alguém que pratica o bem, que reparte as suas riquezas com os outros, que “faz o bem sem olhar a quem”. Este repartir, inclusive, parte de uma premissa, qual seja, a de que o mal pode vir sobre a terra e, portanto, é importante fazermos o bem quando ainda podemos fazê-lo, pois não sabemos se, no futuro, estaremos privados de realizá-lo.

– Já vimos em lição anterior que um dos deveres do homem para com Deus é o dever do serviço, o de que fazer o que está em nossas mãos fazê-lo antes que isso se torne impossível (Ec.9:10), de sorte que o pregador, aqui, reitera este pensamento, a fim de que façamos o bem enquanto há possibilidade de fazê-lo, pois pode chegar o momento em que o mal chegue e isto se torne impossível para nós.

– Salomão mostra, com absoluta clareza, que a abundância não é um convite à retenção, mas, sim, à repartição. Quando o Senhor nos abençoa, devemos repartir com os demais aquilo que recebemos e este princípio não abrange tão somente os bens materiais, mas, sobretudo, as bênçãos espirituais que tenhamos alcançado do Senhor.

– Somente quando repartimos o que temos, isto que temos tem o seu devido proveito, é posto no “ciclo moral” do mundo e traz recompensa, traz proveito, traz fruto. O que não for repartido será simplesmente perdido, não terá valor algum, nem mesmo para aquele que o recebeu, o adquiriu e não repartiu. Porventura, não foi isto que aconteceu com o tolo Nabal, que, por não ter repartido com Davi um pouco do que tinha, tudo perdeu por uma ação divina (cf. I Sm.25:10-42)?

– Eis um dos motivos pelos quais os judeus entendem que a “caridade” seja uma manifestação da justiça, tanto que a palavra hebraica “tzedakah” signifique literalmente “virtude”. “…O Talmude descreve uma discussão — não se sabe se real ou apócrifa — entre o rabi Akiva e Turnus (Tineius) Rufus, governador da Judeia. O romano perguntou a rabi Akiva: ‘Se o seu Deus ama os pobres como diz o senhor, por que então não os sustenta?’ Uma pergunta cabível, na verdade! Rabi Akiva respondeu que se Deus deixava o cuidado dos pobres à benevolência dos próprios judeus era propositadamente ‘ para que possamos ser salvos, por esses méritos, do castigo do Gehinom (…)’. Em que se baseava o rabino para inferir essa intenção de Deus? Akiva citou a passagem: ‘Não deverá repartir teu pão com o faminto, e recolher os pobres desabrigados em tua casa? E se vires o nu o cobrires, e não te esconderes dos teus semelhantes? (Is.58:7)…” (AUSUBEL, Nathan. Caridade. In: A JUDAICA, v.5, pp.113-4).

– Prossegue Nathan Ausubel, “…no próprio sentido do equivalente hebraico da caridade —tzedakah — pode ser encontrado um índice de como os judeus encaram o dar e o receber. Se bem que a palavra signifique, na verdade, ‘virtude’, também tem uma certa conotação de ‘justiça’. Em outras palavras, aquilo que é dado aos pobres e por eles aceito, pertence-lhes por direito moral! Por direito? Esta é a maneira ela qual os antigos rabinos tentavam explicá-lo: Se a pobre existia, era principalmente a sociedade que deveria ser responsabilizada, uma vez que permitia a opressão dos pobres e fracos. Esta situação era tida como uma violação da lei natural, e a prática difundida da benevolência servia, meramente, como forma de expiação e aprimoramento. Quando o salmista cantava: ‘A terra é do Senhor e tudo o que nela se encontra’, o princípio daquele direito estava claramente indicado. O mesmo princípio adquiriu força de lei no texto das Escrituras: ‘Minha é a prata e Meu é o ouro, disse o Senhor das Hostes.’

E, obviamente, uma vez que Deus havia dado a terra com ‘todas as suas riquezas’ — a prata e o ouro — somente aos ricos e poderosos, os Sábios deduziram daí que Deus tinha uma dívida material para com os pobres que tinham sido deixados de mãos vazias. Por consequência, fazer com que essa dívida fosse paga aos pobres pelos ricos constituía um ato de ‘justiça’ e, portanto, de ‘virtude’. Além disso, acreditavam que quando Deus havia dado riqueza aos abastados, não as havia entregue em caráter definitivo, nem como recompensa por suas ações ou por qualquer mérito especial. Era somente para que a retivessem em custódia para os pobres! Os ricos seriam, assim,a meros agentes fiscais de Deus, por assim dizer, em favor dos pobres! Estender a tzedakah aos pobres ‘com todo o coração’ tinha, portanto, a significação intrínseca de um ato de ‘virtude’. Daí ter-se desenvolvido o axioma que, se os ricos fossem realmente honestos e tementes a Deus, distribuiriam prazerosamente a riqueza que retinham em custódia de Deus, entre os inúmeros credores de Deus — os pobres, os doentes, os desamparados, os necessitados etc.…” (ibid.) (itálicos originais).

– Dentro desta explicação rabínica é que entendemos o espírito do pensamento do próprio Salomão, de onde, aliás, advém esta explicação talmúdica. Quando há repartição das benesses, há proveito, há a introdução de nossa participação na ordem estatuída por Deus, fazemos parte de Seu propósito, de Sua ordenação, passamos a ser, realmente, Seus “filhos”, aqueles que atendem ao Seu chamado, aprendem com Ele e põem em ação o que aprenderam.

– Como ensina Hugo de São Vítor (1096-1141), um pedagogo cristão da Idade Média, o aprendizado somente se dá quanto se põe em prática aquilo que se aprendeu, pois a ação é o penúltimo estágio da edificação do aprendizado. Diz ele: “…Há quatro coisas nas quais se exerce a vida dos santos, que são como degraus pelos quais se elevam à futura perfeição. São estes:o estudo, ou doutrina; a meditação; a oração; a ação. Há ainda uma quinta que se segue destas, que é a contemplação, que é, de certo modo, o fruto destas quatro primeiras. Na contemplação temos antecipadamente já nesta vida a futura recompensa das boas obras. Foi por isto que o salmista, falando dos preceitos de Deus e recomendando-os, logo em seguida acrescentou: ‘Grande é a recompensa para os que os observarem’ [Sl.19:15, observação nossa]…” (Didascaliom, L.V, c.9 apud Notas sobre a pedagogia de Hugo de São Vitor. Disponível em: http://www.cristianismo.org.br/pedggvit.htm Acesso em 30 out. 2013).

– Se aprendemos com Deus, se somos “bons diante d’Ele” (Ec.2:26), se somos “sábios”, pois temos visto, ao longo deste trimestre, que é sábio aquele que aprende com Deus, que Lhe dá ouvidos, não há como se deixar de praticar boas obras nesta vida debaixo do sol, não há como se deixar de demonstrar o amor ao próximo e é precisamente por este motivo que Jesus indica que o sinal que prova alguém ser Seu discípulo, Seu aprendiz, o de manifestar o amor ao próximo, o amor de uns aos outros.

– Por isso mesmo, ainda no Talmude, vermos que o já mencionado Rabi Akiva (40-137), que foi o responsável pela redução a escrito da tradição dos anciãos, ter dito que os homens são chamados de “filhos” por Deus quando atendem aos Seus desejos e cita como exemplo disso aqueles que fazem bem aos pobres, precisamente porque, quando isto sucede, não são cobrados pelos publicanos.

OBS: Eis o trecho do Talmude: ‘…Ele [Rabi Akiva, observação nossa] lhe disse: ‘Vocês são chamados tanto filhos quanto servos. Quando vocês executam os desejos do Onipresente, são chamados ‘filhos’ e quando não executam os desejos do Onipresente, ‘servos’. Atualmente, vocês não estão executando os desejos do Onipresente. Rabi Akiva respondeu: ‘As Escrituras dizem: ‘Não é para distribuíres o teu pão aos famintos e trazer os pobres para bani-los de tua casa. Quando ‘trazes os pobres que são banidos de tua casa’? Agora; e se diz [ao mesmo tempo], não é para distribuir teu pão aos famintos/”… (Baba Bathra 10a).

– Se somos “filhos” do Senhor, se atendemos aos Seus desejos, então repartimos com os necessitados aquilo que recebemos, seja de ordem material, seja de ordem espiritual. Hugo de São Vítor diz que o objetivo de quem aprende tem de ser ensinar e que o Senhor Jesus prometeu estar com aqueles que levassem a cabo o ensino de tudo quanto tinham aprendido d’Ele (Mt.28:19,20).

– Por isso, se aprendemos com Deus, temos de repartir com os demais o que aprendemos e não é por outro motivo que o pregador traz a imagem das nuvens que existem para que se encham e, depois, derramem a chuva sobre a terra (Ec.11:3), ou seja, as nuvens foram feitas para se encher de água e, depois, derramá-la, são meros instrumentos neste “ciclo natural das águas”.

– Os “filhos de Deus”, de igual modo, também são passam de instrumentos nas mãos de Deus para que se faça o “ciclo moral”, o “ciclo da virtude”, o “ciclo da justiça”, enchendo-se das benesses do Senhor para depois distribuí-la em favor dos outros, para a glorificação do nome do Senhor.

– Não foi isto que fez Davi, o “homem segundo o coração de Deus” (I Sm.13:14) ? Demonstrando ser realmente um “filho”, tomou todo o seu tesouro particular e o entregou ao Senhor para que fosse construído o templo, reconhecendo que havia recebido tudo de Deus, que tudo a Deus pertencia e que, por isso mesmo, o entregava novamente ao Senhor, sendo, neste gesto, seguido por todo o povo, o que, certamente, serviu de exemplo e aprendizado para o jovem Salomão, que estava para iniciar o seu governo (I Cr.29:10-18).

– Somos como as nuvens, estamos aqui nesta vida debaixo do sol para nos encher, mas, uma vez cheios, devemos derramar a chuva sobre a terra. Somos abençoados pelo Senhor com o único propósito de nós mesmos nos tornarmos uma bênção. Foi isto que Deus prometeu a Abrão (Gn.12:2) e esta bênção que Deus deu ao patriarca chega até nós na pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Gl.3:14).

– Ser um homem “bom diante de Deus” neste mundo, ter a visão de que a vida debaixo do sol é somente “vaidade e aflição de espírito” não nos faz, portanto, em absoluto, pessoas “alienadas” deste mundo, voltadas para si mesmas, sem qualquer preocupação com o bem do próximo, com a melhoria das condições da vida terrena. Muito pelo contrário, o verdadeiro e genuíno servo de Deus, aquele que é Seu “filho” é sempre alguém comprometido com o bem-estar do outro, com o bem do próximo, com a justiça social, com o bem do outro.

– Este bem, entretanto, ao contrário do que defende o socialismo, o marxismo ou suas variantes, não é feito mediante a tomada de quem tem para favorecer quem não tem, mas, antes, pela nossa própria entrega, pelo nosso próprio dar-se em favor do outro. A nuvem não toma a água de alguém e derrama sobre a terra, mas se esvazia para que a terra seja derramada. Cabe a cada um de nós fazer o bem, não deixar isto a cargo de outros, como o Estado, por exemplo.

OBS: “…Ainda há homens e mulheres de verdade, capazes de agir por si próprios, sem intermediário estatal, orgulhosos de sua liberdade. Eles sabem que a liberdade efetiva não tem nada a ver com ‘direitos’ outorgados pela burocracia espertalhona. Sabem que a liberdade vem do coração e depende de símbolos inspiradores profundamente arraigados na cultura dos milênios. Quando são abordados por um pobre na rua, sabem que não estão diante de um problema administrativo. Não correm para esconder-se sob as saias da burocracia. Encaram o pobre como um igual temporariamente caído, merecedor de tanto carinho e atenção quanto eles próprios o seriam em circunstâncias análogas. Não hesitam em estender algum dinheiro ao infeliz, em conversar com ele, às vezes em assumir responsabilidade pessoal por tirá-lo da sua condição infame, dando-lhe trabalho, um abrigo, um conselho.

A sociedade já se condenou a si mesma quando virou o rosto aos pedintes, sonhando em transformá-los numa equação administrativa. Só homens e mulheres de verdade podem salvá-la da derradeira abjeção.…” (CARVALHO, Olavo de. Aprendendo com o dr. Johnson. In: BRASIL, Felipe Moura (org.). O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. 3.ed., pp.83-4).

– De outro lado, o pregador dá a ilustração da árvore que, em caindo, ou seja, deixando de ficar presa à terra e, consequentemente, deixando de dar fruto, “no lugar em que cair, ficará” (Ec.11:3). Ora, se não distribuirmos aquilo que recebermos, seremos como a árvore caída, que não mais frutifica, que não se desenvolverá e apenas apodrecerá no lugar em que caiu.

– Não distribuir o bem que recebemos da parte de Deus para os outros é, portanto, morrer espiritualmente, deixar de dar fruto e o Senhor Jesus nos deixou bem claro que, quando isto sucede, somos cortados da videira verdadeira e lançados no fogo (Jo.15:2,4,6). Não distribuir o que se recebe é não estar em Cristo e, por isso mesmo, cedo ou tarde, este impostor será lançado fora, para que seja queimado juntamente com os ímpios. Qual é a nossa situação, amados irmãos?

II – UM CHAMADO À AÇÃO AO LONGO DOS ANOS

– Mas o pregador não se limita a mostrar a necessidade de fazermos o bem ao próximo, de sermos generosos, de repartirmos aquilo que temos recebido da parte do Senhor. Salomão, também, mostra que devemos ser ativos, operosos, que temos de trabalhar enquanto estivermos nesta vida debaixo do sol.

– Na sua reflexão, o pregador já havia dito que o trabalho é um fator que nos dá sentido à vida, na medida em que nos serve de sinal, de indicador de que existe algo além do sol, de que existe um Criador que dá sentido à vida. O trabalho leva-nos ao desfrute legítimo daquilo que produzimos, sendo esta dádiva algo que provém da mão de Deus (Ec.2:24-26).

– Por isso mesmo, embora o trabalho, em si, seja algo desprovido de sentido, “vaidade e aflição de espírito” (Ec.2:26), o fato é que poder gozar daquilo que se trabalhou é uma bênção divina, que desfrutam aqueles que Lhe são tementes (Ec.5:16-20).

– Agora, o pregador conclama a todos que sejam ativos nesta vida terrena, que não cessem de trabalhar, ainda que se saiba que tudo aqui é passageiro e que, muitas vezes, o fruto do trabalho fica para outrem que não se sabe se será sábio ou tolo. Salomão exorta seu leitor a que semeie, não olhando para o vento nem tampouco para as nuvens (Ec.11:4).

– “Pela manhã, semeia a tua semente e, à tarde, não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará; se esta, se aquela, ou se ambas igualmente serão boas” (Ec.11:5). O fato de o homem não ter controle sobre a ordem natural das coisas não o dispensa de que deve fazer a sua parte, que é a semeadura, que é o trabalho.

– Conforme vimos na lição 3 deste trimestre, quando estudamos sobre o trabalho, o trabalho foi imposto ao homem por Deus como um fator que o assemelha ao Criador, algo que o dignifica. Por isso, o pregador diz que o homem deve trabalhar, independentemente de saber se seu esforço terá, ou não, um resultado, pois o próprio ato do trabalho, em si, é algo que alegra o Senhor, que faz com que o homem seja agradável a Deus.

– Neste ponto, o pregador volta a nos mostrar que o tempo é outro fator que não nos compete determinar ou fazer, mas, tão somente, que nos leva a confiar em Deus e de procurar, junto a Ele, cumprir o Seu propósito. “Quem observa o vento, nunca semeará e o que olha para as nuvens, nunca segará” (Ec.11:4). Não cabe a nós querer prever quando haverá bom tempo para o plantio, se irá ou não ter resultado o ato da nossa semeadura. Cabe a nós semear, deixando estas questões para quem de direito, ou seja, para o Criador.

– O homem “bom diante de Deus” é aquele que faz aquilo que está ao seu alcance, que põe a sua fé em ação, andando por fé e não por vista (II Co.5:7), fazendo aquilo que está ao seu alcance fazer, deixando que Deus faça a Sua parte no momento oportuno, que outro não é senão “o tempo de Deus”.

– Assim, não cabe ao homem indagar se deve fazer o bem, ou não, se este é o momento propício, ou não, mas, simplesmente, deve fazê-lo, se está ao seu alcance fazê-lo, porquanto, se ficar a perquirir se deve fazê-lo, ou não, estará como aquele que vê o vento ou as nuvens e que, depois que eles se vão, simplesmente nada fez.

– Vivemos dias em que o homem quer, a todo custo, saber prever o que vai acontecer, ter a máxima segurança de suas ações e atitudes e, no mais das vezes, diante de alguma incerteza, deixa de fazê-lo, retendo aquilo que está em suas mãos por medo, por receio, por “segurança”. Este gesto não pode ser imitado pelos que servem ao Senhor, pois estes não podem se mover pelo que veem, mas têm de confiar em Deus e em Suas promessas, agindo de forma a agradar-Lhe, ainda que se saiba que há sempre uma incerteza nesta ou naquela atitude a se tomar.

– Não se está aqui defendendo a insensatez, o agir sem pensar, pois o andar por fé não se confunde, em absoluto, com o agir irrefletido que, como temos visto ao longo deste trimestre, é um agir típico de quem não serve a Deus. Temos o Espírito Santo em nós, devotamos ao Senhor um culto racional, de sorte que somos caracterizados pela prudência, pela cautela, prudência e cautela, entretanto, que não se confundem com um inércia enquanto não tivermos o “pleno domínio da situação”, algo que jamais teremos, pois somos criaturas e não o Criador, o único que conhece todas as coisas, que tem “pleno domínio do fato”.

– O homem deve ter ciência de que seu conhecimento é limitado e que, dentro desta limitação, deve agir em plena consonância com a vontade de Deus, confiando no Senhor, sabendo que Deus está no controle de todas as coisas e que tudo contribuirá para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados pelo Seu decreto (Rm.8:28).

– Diz o sábio Salomão, do alto de sua sabedoria que nunca foi atingida por qualquer ser humano, com a exceção de Cristo, que “assim como tu não sabes qual o caminho do vento nem como se formam os ossos no ventre da que está grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas” (Ec.11:5).

– O segredo do sábio, do prudente nesta vida debaixo do sol é ter consciência de que “sabemos que nada sabemos”. Devemos assumir a nossa real posição nesta vida debaixo do sol e agirmos dentro desta postura de que somos servos do Senhor, meros homens (Sl.9:20) e que não nos cabe “mudar o mundo”, mas viver neste mundo agradando a Deus.

– Devemos, então, trabalhar, fazer aquilo que temos de fazer, não nos importando se a semente que semearmos irá frutificar ou não. Este ensino do pregador, como já dissemos, foi retomado pelo Senhor Jesus, sendo uma lição a seguirmos no tocante à pregação do Evangelho.

– Nos dias difíceis em que vivemos, muitos já estão a “observar o vento” e a “olhar para as nuvens” em termos de evangelização. Elaboram projetos, planos, métodos de crescimento de igreja, mas nada fazem em prol do reino de Deus. Outros, por sua vez, discutem qual será o “retorno estimado” da evangelização ali ou acolá (e, muitas das vezes, este “retorno” é visto sob o prisma exclusivamente econômico-financeiro) e, por isso mesmo, deixam de realizar a obra de Deus. Que Deus nos guarde destas atitudes, pois a ordem divina é “pela manhã, semeia a tua semente e, à tarde, não retires a tua mão”!

– O apóstolo Paulo, um grande trabalhador do Evangelho, bem entendeu este ensino de Salomão e disse, com convicção, que devemos ser firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor (I Co.15:58).

– Matthew Henry, ao comentar sobre este trecho do Eclesiastes, afirmou que “…isto é aplicável à caridade espiritual, nossos esforços piedosos pelo bem das almas dos outros; vamos continuá-los, pois, embora tenhamos trabalhado muito tempo em vão, podemos, finalmente, ver o seu sucesso. Que os ministros, nos dias de sua semeadura, semeiem tanto de manhã quanto de tarde, pois quem pode dizer qual prosperará?…” (ibid.) (tradução nossa de texto original em inglês). Era este o mesmo sentimento do pastor Paulo Leivas Macalão externado no hino 149 da Harpa Cristã: “Quando há um temporal e a pesca corre mal, novamente no meu barco vou pescar! Pode ser que desta vez, eu não tenha mais revés, pois Jesus eu levo para m’ensinar” (quinta estrofe). Temos procedido deste modo?

– O comentarista interpreta esta passagem, reportando-se ao escritor Derek Kinder, levando em conta o tempo. Entende que a nuvem e o vento falam do presente, enquanto que a árvore caída retrataria o passado. Desta forma, como o passado é imóvel, não podemos nos prender a ele, mas, no presente, no momento em que vivermos, temos de agir, fazendo o que nos está posto às mãos, pois, só deste modo, aproveitaremos a oportunidade que se nos dá nesta vida passageira e tão instável como é a vida debaixo do sol.

– Não deixa de ser uma leitura possível, que também nos mostra a importância do trabalho e da ação no momento, instante em que estamos a viver, pouco nos importando o que se sucederá daqui para a frente, qual será o futuro, porquanto, em vivendo assim, estaremos demonstrando nossa confiança em Deus, que quer que o nosso futuro seja de paz, pois os pensamentos do Senhor são pensamentos de paz e não de mal, para nos dar o fim que esperamos (Jr.29:11).

– Por isso, o Senhor Jesus nos ensina que o Seu discípulo, ao buscar primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, age no presente sem se preocupar com ansiedade com relação ao futuro, visto que sabe que basta a cada dia o seu mal (Mt.6:33,34).

– Quem se inquieta por causa do futuro ou fica preso ao passado, deixa passar o presente como aquele que observa o vento ou olha para as nuvens, nada fazendo neste instante, que é o único que existe na realidade. A vida debaixo do sol tem de ser vivida aqui e agora, pois é este o momento em que podemos agir. O que passou, passou, não pode mais ser alterado, como a árvore caída que não sai do lugar onde caiu; o futuro ainda não chegou, de forma que nada poderemos fazer para alterá-lo ou construí-lo. Resta-nos, tão somente, viver o presente, de forma agradável a Deus, semeando o que poderemos segar quando o futuro chegar.

– Quando vivemos o presente, demonstramos nossa fé em Deus, porquanto passamos a vida debaixo do sol de forma alegre e confiante, sem nos inquietarmos por causa do futuro. Vivemos dia a dia com o Senhor, fazendo o bem aos outros, repetindo, deste modo, o próprio viver de Cristo sobre a face da Terra (At.10:38). Seguimos o conselho do salmista, entregando o nosso caminho ao Senhor, confiando n’Ele e esperando que Ele tudo faça (Sl.37:5), pois, em fazendo o bem, habitaremos nesta terra confiados n’Ele e sendo verdadeiramente alimentado por Ele (Sl.37:3). Aleluia!

III – ADVERTÊNCIA SOBRE A LONGEVIDADE

– Ao término deste capítulo, o pregador, já se encaminhando para o término de seu sermão, tendo mostrado que fazer o bem é essencial nesta vida debaixo do sol, conclui este seu ensino dizendo que “verdadeiramente suave é a luz e agradável é aos olhos ver o sol” (Ec.11:7).

– Quando o pregador nos fala em uma vida na luz, impossível não deixarmos de recorrer ao apóstolo João que sempre identifica o andar com Cristo com o andar na luz. No seu evangelho, João faz questão de dizer que Jesus é a luz dos homens 9Jo.1:4), a “luz verdadeira que alumia todo o homem que vem ao mundo” (Jo.1:9). Fez questão de dizer que o próprio Jesus Se identificou como “a luz do mundo” (Jo.8:12; 9:5). Assim, quem segue a Cristo terá a luz da vida.

– Na sua primeira epístola, João retoma este mesmo pensamento, ao afirmar que “…Deus é luz e não há n’Ele trevas nenhumas. Se dissermos que temos comunhão com Ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado” (I Jo.1:5-7).

– No Evangelho, ainda, João afirma que “a condenação é esta: que a luz veio ao mundo, e os homem amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não vem pra a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas oras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (Jo.3:19-21).

– Ora, se assim é, quando o pregador nos mostra que “verdadeiramente suave é a luz e agradável aos olhos ver o sol” (Ec.11:7), está a nos mostrar que a vida debaixo do sol somente tem sentido quando estamos andando na luz, ou seja, quando estamos em comunhão com Cristo, quando praticamos a verdade, quando nos deixamos purificar pelo sangue de Cristo e passamos a viver em comunhão com Ele e com a Sua Igreja.

– A vida debaixo do sol tem de ser vivida, vivenciada, mas a vida só é vivida quando nos pomos a trabalhar, no momento presente, devidamente em comunhão com o Senhor Jesus, tendo o Espírito Santo e, assim, fazendo bem e curando a todos os oprimidos do diabo (At.10:38). Somente quando entramos no corpo de Cristo, passamos a pertencer à Sua Igreja, podemos, de forma cabal, dar sentido à vida terrena e vivê-la de forma agradável e prazerosa.

– “Não Me escolhestes vós a Mim, mas Eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em Meu nome pedirdes ao Pai, Ele vo-lo conceda” (Jo.15:16). Fomos chamados pelo Senhor para produzir fruto, e o fruto somente será produzido se nós semearmos de manhã a nossa semente e, à tarde, não retirarmos as nossas mãos, pouco importando qual semente prosperará. Temos feito isto? Ou estamos a observar o vento e a olhar para as nuvens, absolutamente inertes, não produzindo fruto e, por isso mesmo, nos candidatando a sermos cortados da videira verdadeira? Pensemos nisto!

– O sentido da vida, portanto, está em agir segundo a vontade de Deus, segundo o Seu propósito. Não está nem mesmo na longevidade, que é tida como uma bênção divina, porquanto é uma promessa que se encontra nos dez mandamentos, mais precisamente no que toca à honra ao pai e à mãe (Ex.20:12; Dt.5:16).

– O pregador já havia dito que a longevidade, ou seja, uma grande quantidade de dias, em si mesma nada representa, porquanto de nada adianta alguém viver cem anos se não puder desfrutar do fruto do seu trabalho e não amealhar honra diante dos semelhantes durante todo este tempo, pois, em assim sendo, uma vida tão longa valeria menos do que a vida daquele que nunca chegou a nascer (Ec.6:3-5).

– Aqui, também, Salomão, que já se encontrava em idade bem avançada, mostra que a vida longa, em si mesma, nada representa, pois, ainda que se alegre e desfrute do seu trabalho legitimamente, há de saber que, na vida longa, também são muitos os dias maus (Ec.11:8).

– Dentro do realismo que lhe é peculiar, o pregador não foge à constatação de que, na vida debaixo do sol, há tanto o dia bom, o dia da prosperidade, como também o dia mau, o dia da adversidade, um sucedendo ao outro, independentemente de a pessoa ser boa ou má aos olhos do Senhor (Ec.7:14). Assim, quem viver bastante, também terá mais dias maus do que os que viverem menos.

– Não está, portanto, na quantidade de dias a felicidade da vida de alguém, mas, sim, de se viver na luz, em comunhão com o Senhor, fazendo o bem quando se pode fazê-lo, mesmo que venham os dias maus.

– A vida, seja longa, seja breve, vale a pena ser vivida se estivermos “olhando para o sol”, ou seja, seguindo o exemplo do “Sol da justiça”, olhando para Jesus, o autor e consumador da nossa fé (Hb.12:2), o que nos permitirá superar todo o mal que virá nesta vida debaixo do sol sobre nós, tudo suportando pelo gozo que nos está proposto. Não há como viver-se neste mundo sem que nosso olhar esteja para o além, pois, neste mundo, a vida não faz sentido algum.

– Olhar para o além, no entanto, em absoluto significa que nos alienamos do que aqui ocorre, mas, pelo contrário, é por estarmos a divisar o mundo “além do sol” que temos forças para praticar a verdade, para fazer o bem, mesmo que não venhamos a receber qualquer recompensa por parte dos outros, por parte do próximo. A visão do além dá0-nos força e condição para aqui fazermos o bem, praticarmos a verdade, pois, “à luz do sol”, manifestamos nossas obras e divisamos que elas são feitas em Deus.

– Por isso mesmo, não há sentido algum nos pensamentos que andam rondando o povo de Deus, de falsas doutrinas que têm entendido que a visão do além é “alienadora” do povo de Deus e que, por isso mesmo, não podemos estimular o povo a um olhar escatológico ou à consideração de que Deus tem o controle de todas as coisas. Ambas as visões, que procuram “reinterpretar” as Escrituras de modo a dar um “engajamento social” aos crentes são, na verdade, armadilhas satânicas, para que nós percamos o sentido da vida debaixo do sol. Fujamos disto, amados irmãos!

– Esta vida debaixo do sol é passageira, não tem sentido em si mesma, mas ela nos aponta para o Criador, que controla todas as coisas, em quem podemos confiar e que nos convida, nesta confiança n’Ele, a fazermos o bem, mesmo sabendo que, “depois de muitos dias”, acharemos o pão que lançamos sobre as águas. A vida tem sentido, sim, e seu sentido não está em sua longura de dias, pois, em tal longura, só teremos mais dias maus, mas em que, ao praticarmos o bem, estaremos andando na luz e percebendo que para isso viemos neste mundo e que para isso estamos aqui, a fim de que o nome do Senhor seja glorificado. Aleluia!

– Por isso, Salomão dirige-se aos jovens, dizendo que ele se alegre na sua mocidade e recreie o seu coração nestes dias de vigor, aproveitando a vida, mas se lembrando que de tudo quanto fizer, Deus o levará a juízo (Ec.11:9).

– Salomão, ao se dirigir aos jovens, não o faz de modo castrador, como é próprio, às vezes, dos mais velhos. O pregador entende o vigor da juventude, que é próprio desta idade o querer fazer, o querer aproveitar, sendo, mesmo, este o momento para o desgaste das energias, que são muitas e estão aí para serem usufruídas e desfrutadas. O jovem tem vigor e este vigor deve ser usado, sim, em toda a sua plenitude.

– No entanto, esta utilização do vigor deve ser feita de modo responsável, ou seja, o jovem, ainda que esteja jovem e com todo o vigor e, na sua ilusão, longe da morte, longe do momento da prestação de contas, deve tudo fazer, desde já, sabendo que deverá prestar contas a Deus de tudo quanto fizer.

– Não se deve impedir o jovem de usar a sua energia, o seu vigor. Não, não e não! Deve-se, apenas, lembrá-lo que ele terá de prestar contas a Deus de tudo quanto fizer e que, portanto, será muito melhor que tudo que ele venha a fazer, seja feito na luz, debaixo da bênção divina, de acordo com a vontade e o propósito do Senhor.

– Ao jovem, não devemos inibir o seu vigor, mas pôr o seu vigor e a sua juventude debaixo da vontade e do propósito do Senhor! Quantos, na atualidade, nas igrejas locais, não têm desperdiçado o vigor da juventude, impedindo-a de trabalhar para o Senhor e querendo que eles se comportem como se velhos fossem? Urge sabermos identificar este vigor dos jovens e inseri-los na obra do Senhor, antes que o diabo complete este trabalho tão eficaz de retirá-los dos caminhos do Senhor, precisamente porque se tem tentado, loucamente, impor aos jovens uma inatividade que lhes é absolutamente antinatural. Pensemos nisto!

– Para que os jovens possam se conduzir na luz, possam utilizar a sua energia e vigor fazendo o bem e já plantando cedo para terem uma colheita abundante ainda nesta vida, pois, quanto antes começarem a plantar, mais cedo hão de colher os frutos de suas boas ações, é necessário, diz o pregador, que “afastem a ira do seu coração e removam da carne o mal” (Ec.11:10).

– A primeira atitude é “afastar a ira do coração”. “Ira” aqui, é melhor traduzido por “desgosto” tanto pela Versão Almeida Revista e Atualizada quanto pela Bíblia de Jerusalém, assim como a King James Atualizada. O que o pregador procura dizer aqui, portanto, é que o jovem, no auge do seu vigor, ao perceber como o mundo é, não pode se “desgostar”, se “angustiar”, ver, na falta de sentido da vida terrena enquanto tomada em si, um fator para desânimo, para a inércia.

– Uma das grandes armas do inimigo de nossas almas, em nossos dias, tem sido, precisamente, o de trazer aos jovens uma “falta de sentido para a vida”, uma “angústia”, um “desalento” que os leve a perder a motivação para viver, a fugir da realidade, a buscar um escape para a difícil situação da vida debaixo do sol. Vem daí o “culto à morte” e a alternativa das drogas que tem destruído milhões e milhões de jovens em nossos dias.
– Precisamos mostrar a estes jovens que eles devem “afastar o desgosto do coração”, de que a vida debaixo do sol tem um sentido, sentido este que se encontra em Cristo Jesus e que, portanto, é preciso ir, através da fé, para “além do sol”, para que, então, na luz, tudo seja visto de modo a que pratiquemos a verdade, façamos o bem neste mundo, encontrando em Jesus o sentido para nossas vidas.

– A segunda atitude é “remover o mal da carne”, que a Versão Almeida Revista e Atualizada traduz por “remover a dor da carne”, a Bíblia de Jerusalém por “afastar o sofrimento do corpo”; a King James Atualizada por “fazer parar o teu corpo de sofrer” e a Nova Versão Internacional por “acabar com o sofrimento do teu corpo” e a Tradução da CNBB, por “afastar o mal do teu corpo”.

– Pelo que observamos aqui, há, por parte do pregador, um conselho aos jovens que não façam mal ao seu corpo, o que nos lembra a admoestação anteriormente já estudada com relação ao respeito às coisas sagradas, um dos deveres do homem diante de Deus, como vimos na lição 10, onde se envolve a questão do respeito ao próprio corpo, que é templo do Espírito Santo (I Co.6:19).

– Como consequência do próprio desalento em função da falta de sentido para a vida debaixo do sol em si mesma, ou, na busca deste sentido, através do prazer, da alegria mundana ou das riquezas, o jovem, facilmente, é levado a desrespeitar o seu corpo, a não observar os limites físicos, tamanho o seu vigor.

– Assim agindo, o jovem, certamente, comprometerá o seu físico na continuidade da sua vida, trazendo para si diversos sofrimentos, que não permitirão que ele possa desfrutar daquilo que a vida lhe oferece. Além do mais, não cuidando devidamente de seu organismo, o jovem pode nem mesmo chegar à idade avançada, até porque a impiedade demasiada faz com que o homem morra antes do tempo (Ec.7:17).

– Por isso, ao jovem, sem que se lhe iniba o legítimo uso do vigor que possui, é recomendado pelo pregador que não exceda os limites do seu corpo, que não o destrua, que se abstenha de todas as ações que venham a trazer dor ao seu corpo, pois isto não levará a lugar nenhum, senão ao sofrimento na continuidade de sua existência terrena, se é que conseguirá lá chegar.

– Vemos aqui, aliás, como o inimigo tem trabalhado precisamente no sentido contrário, desenvolvendo toda uma mentalidade hedonista e irresponsável, onde a mutilação do corpo e sua total destruição é, exatamente, a linha que tem sido observada, basta ver o quanto se tem propagado entre os jovens na atualidade, com a defesa de uma vida totalmente irresponsável seja na libertinagem sexual, seja na mutilação física, seja no uso de drogas, lícitas ou ilícitas.

– A adolescência e a juventude são vaidade, diz o pregador, e, como são como o vapor, que logo desaparece, devem ser tratadas como tal pelos que a possuem, que devem viver fazendo o bem, desde cedo, para que seja semeado algo que possa dar a devida recompensa na continuidade da existência terrena. Temos agido como Salomão e instruído conveniente os nossos jovens e adolescentes? Pensemos nisto!

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/files/4T2013_L12_caramuru.pdf

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