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LIÇÃO 1 – DAVI E A SUA VOCAÇÃO

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A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Agradecemos a Deus por concluirmos mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical. Em 2009, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus teve como foco, nos três primeiros trimestres, estudar livros da Bíblia Sagrada.

Assim, no primeiro trimestre, estudamos o livro de Josué, na instrumentalidade do pastor Elienai Cabral, quando, então, pudemos não só conhecer a história da conquista de Canaã por Israel, como fazer uma salutar aplicação daqueles fatos à nossa vida espiritual, visto que vivemos, neste mundo, em constante luta para alcançarmos nossa Canaã celestial.

No segundo trimestre, com comentários do pastor Antonio Gilberto, tivemos diante de nós o estudo da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, quando vimos quais os problemas existentes naquela é que era a mais fervorosa das igrejas mencionadas em o Novo Testamento, o que nos permitiu verificar a problemática hoje existente em nossas igrejas locais.

No terceiro trimestre, eu acabamos de estudar, por intermédio do pastor Eliezer Lira e Silva, estudamos a Primeira Carta de João, profícuo estudo que nos levou a refletir sobre os fundamentos da nossa fé, a excelência da pessoa de Jesus Cristo em nossa vida espiritual e sobre os riscos da atuação do espírito do anticristo e de seus agentes (anticristos e falsos profetas).

Agora, no último trimestre deste ano letivo, a CPAD traz duas novidades. Por primeiro, apresenta-nos um tema que nunca antes havia sido objeto de um trimestre, a saber: a vida de Davi. Retoma-se, assim, um foco que não se apresentava nas Lições Bíblicas desde o 4º trimestre de 2002, quando, em comentários do pastor Elienai Cabral, estudamos a vida de Abraão (Abraão: êxitos e fracassos do amigo de Deus), o de estudo minudente de uma personagem bíblica.

A segunda novidade que a CPAD nos apresenta é a estreia de um novo comentarista. Neste trimestre, temos a satisfação de receber no rol de comentaristas das Lições Bíblicas o pastor José Gonçalves, pastor das Assembleias de Deus em Teresina/PI, escritor, conferencista, apologista e professor de línguas bíblicas, que mantém um blog na internet, a saber: http://www.prjosegoncalves.blogspot.com/.

Verificamos, desta maneira, que, a despeito de algumas críticas, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus tem procurado ampliar a temática e o grupo de comentaristas das Lições Bíblicas.

O estudo da vida de Davi reveste-se de grande importância. Davi é, indubitavelmente, uma personagem-chave no plano de Deus para a salvação da humanidade. Se com Abraão, Deus começa a formar o povo de onde viria o Messias e com Moisés, traz a lei a este povo para que aguarde o Cristo, é a Davi quem escolhe para construir a estirpe real do Seu Ungido.

O próprio Deus, ao escolher o ainda jovem pastor Davi para ser o novo rei de Israel, diz que havia achado um homem ―segundo o Seu coração‖ (I Sm.13:14; At.13:22).

A vida de Davi, portanto, mostra-nos um exemplo de alguém que faz a vontade de Deus, que é escolhido pelo Senhor para realizar a Sua vontade, ou seja, um verdadeiro tipo de Jesus Cristo, que veio a este mundo para fazer a vontade do Pai (Jo.4:34).

Ao estudarmos a vida de Davi, portanto, não só vamos aprender características do próprio Cristo, como também como devemos ser para fazermos a vontade do Senhor em nossa existência terrena, pois é este um requisito indispensável para aquele que é servo de Deus.

Mas, como sói ocorrer com todas as personagens bíblicas, Davi, apesar de ser um homem segundo o coração de Deus, era um homem e, como tal, sujeito a falhas e fracassos. O vitorioso rei Davi, o maior conquistador de todos os tempos da história de Israel, o profeta e salmista exímio, também teve sérios deslizes durante a sua vida, porque era homem, sujeito às mesmas vicissitudes de qualquer outro ser humano.

Ao lado das suas muitas vitórias, teremos, também, ocasião de observar as suas derrotas e fracassos, até porque as Escrituras, por serem o livro de Deus, são imparciais, não omitindo as falhas de seus grandes heróis, o que não ocorre em qualquer obra humana.

Nestas derrotas, também haveremos de aprender, pois são exemplos que nós não devemos seguir e advertências para que nos mantenhamos vigilantes em nossa jornada para o céu.

Antes, porém, de esmiuçarmos as lições do trimestre, seria interessante fazermos um panorama da vida de Davi, uma das biografias mais longas do texto sagrado, o que é plenamente justificável visto que se constitui em uma das figuras centrais do plano divino para a salvação da humanidade, como vemos na genealogia de Jesus Cristo em Mateus, que o aponta como ―filho de Davi‖ e ―filho de Abraão‖ (Mt.1:1), mostrando que se trata das duas personagens centrais da história da redenção.

Sem prejuízo do elucidativo quadro da Bíblia Thompson, que segue anexo a este esboço, gostaríamos de definir na vida de Davi algumas fases, inclusive fazendo relação delas à vida terrena de Jesus, de quem Davi é um dos mais eloquentes tipos.

Vejamos, então, o quadro que segue:

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A primeira lição fala-nos da chamada de Davi, da sua escolha para ser o novo rei de Israel. Em seguida, na lição 2, estudaremos a tão conhecida e famosa vitória de Davi sobre o gigante Golias, o fato que o torna conhecido pelo povo de Israel e que mostra estar ele sob o domínio do Espírito de Deus.

Na lição 3, estudaremos a vida de Davi na corte do rei Saul, quando, comandante do exército de Israel e, depois, genro do rei, talvez já pensasse que bastava a morte de Saul para o cumprimento das promessas de Deus em sua vida. Na lição 4, porém, vemos que não era este o caminho de Deus para a vida de Davi, mas, sim, o duro aprendizado da perseguição e incompreensão.

Na quinta lição, veremos como Deus formou o tão famoso grupo dos ―valentes de Davi‖, a partir da caverna de Adulão, o verdadeiro ensino divino de liderança ao futuro rei de Israel.

Na lição 6, diante da morte de Saul, vemos como Davi obteve a unificação do reino de Israel e, finalmente, assumiu o reinado, depois de ter reinado dois anos somente sobre a tribo de Judá. Em seguida, na lição 7, estudaremos as grandes conquistas militares de Davi, quando, pela guerra, conseguiu levar Israel a ter a efetiva posse de toda a terra que Deus havia prometido a Abraão.

Na lição 8, então, veremos o maior fracasso espiritual de Davi e as consequências decorrentes dos pecados cometidos, a nos mostrar que, apesar de rei e possuidor das promessas divinas, Davi era homem e deveria ter sido vigilante.

Na lição 9, porém, estudaremos a restauração espiritual de Davi, uma vívida lição bíblica a respeito da misericórdia divina. Ainda em conexão com este lamentável episódio da vida de Davi, veremos, na lição 10, as consequências do pecado cometido, ainda que perdoado, como também uma das facetas mais negativas da vida do rei Davi, qual seja, a sua vida familiar negligente, que tantos males lhe causou.

Na lição 11, abordaremos o papel de Davi na restauração do culto a Deus em Israel, a mais importante obra de seu reinado.

Mais do que tornar Israel uma potência política e militar da região do Oriente Médio, Davi, prefigurando o Messias, fez o povo voltar a adorar a Deus e, inclusive, decidiu construir um templo para tornar permanente este culto, obra que, entretanto, seria realizada apenas por seu sucessor. Diante desta disposição é que Davi viria a ser agraciado com a bênção de ser o ancestral do Messias.

Na lição 12, veremos como Davi prepara o seu sucessor, demonstrando que é indispensável ao verdadeiro homem de Deus lembrar-se que é homem e, como tal, sujeito à morte, e que deve se preocupar com a sua sucessão.

Por fim, na lição 13, teremos uma lição que será um balanço final do trimestre, onde analisaremos o significado da expressão bíblica que diz ser Davi um homem segundo o coração de Deus.

Antes de encerrarmos, falemos algo a respeito da capa da revista, que nos apresenta a figura de um jovem pastor apascentando suas ovelhas.

Numa lição sobre Davi, não poderia faltar a figura do pastor. Era esta a profissão de Davi na casa de seu pai Jessé quando o profeta Samuel para lá foi enviado a fim de ungi-lo como novo rei de Israel (I Sm.16:11).

O fato de Davi ser um pastor diligente e cuidadoso (I Sm.17:34-37) foi, sem dúvida, um fator preponderante para que o Senhor o escolhesse para cuidar de Israel. Seu cuidado para com as ovelhas de seu pai era um indicador de sua bondade e de seu zelo, requisitos indispensáveis para um bom governante.

Tanto assim é que, mesmo quando Davi já ocupava o trono, Deus nunca permitiu que ele se esquecesse de suas origens, tanto que, quando o profeta Natã é enviado para anunciar-lhe que não construiria o templo, o Senhor se dirige a Davi como o pastor que havia sido tirado de detrás das ovelhas de Jessé para que apascentasse o povo de Israel (II Sm.7:8). Aliás, não é por acaso que, na capa da revista, o jovem pastor se encontra atrás das ovelhas.

Sabemos que Israel, desde o início de sua formação, era um povo formado por pastores de gado (Gn.47:3), a começar por Abraão, mas é com Davi que a figura do pastor é associada ao governo do povo de Deus e ao próprio Deus.

É o próprio Davi que em seu salmo mais conhecido faz a vinculação do Senhor com o pastor de ovelhas (Sl.23), o que repete em outros salmos, como o Sl.100, v.g., vinculação esta que foi consolidada pelo Senhor Jesus, que não só disse ser o bom Pastor (Jo.10:11), como também nos ensina que devemos todos cuidar uns dos outros como verdadeiros pastores de ovelhas, especialmente aqueles que são chamados para apascentar o rebanho de Deus (I Pe.5:1-4).

Davi era, assim, para Deus, sobretudo o pastor das ovelhas de seu pai e, no trono, assim também deveria se comportar, como pastor das ovelhas do pai da nação, que é o próprio Senhor. Tanto assim é que a ilustração utilizada para a denúncia do seu pecado por parte do profeta Natã foi, também, relacionada à figura do pastor (II Sm.13:1-7).

Para sermos considerados homens segundo o coração de Deus, devemos ter a dedicação, o cuidado e o amor que tem um pastor para com as suas ovelhas. Se somos filhos de Deus (I Jo.3:2), participantes de Sua natureza (II Pe.1:4), temos de nos comportar como o pastor de ovelhas, sabendo que o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas, não é mercenário e não foge quando o lobo vem para devorá-las.

Davi era “amado” de Deus (o nome ―Davi‖ significa ―amado‖) porque era dedicado, zeloso e amava as suas ovelhas, dando a sua vida por elas.

Temos esta disposição? Temos este sentimento, este comportamento? O Senhor agradou-Se de Davi por causa disto e como Ele não muda, também devemos nos esforçar para assim nos comportarmos.

Que o estudo destas lições possa nos encorajar a servirmos a Deus com a dedicação e a disposição de coração que encontramos na vida de Davi e que, assim fazendo, possamos ver o Filho de Davi nas nuvens do céu naquele grande dia, que tão próximo está.

Feliz 2010!

B) LIÇÃO 1 – DAVI E A SUA VOCAÇÃO

O chamado de Davi mostra-nos, claramente, que Deus conhece o interior do homem e que é este o fator preponderante na existência de alguém.

INTRODUÇÃO

Iniciamos o quarto e último trimestre letivo deste ano de 2009, que tem como tema a vida de Davi. Desde o 4º trimestre de 2002, não estudávamos uma personagem bíblica em um trimestre. Davi é, sem dúvida, uma das mais importantes personagens da Bíblia Sagrada, pois é nele que se forma a estirpe real de onde viria Jesus que, por isso mesmo, é chamado de Filho de Davi.

As Escrituras revelam que Davi foi escolhido por Deus para ser o novo rei de Israel e o fundador da dinastia real messiânica porque era um ―homem segundo o coração de Deus‖.

A vida de Davi é um ensino a todos nós de como deve ser nossa dedicação e nosso amor a Deus, mas, não nos esqueçamos, apesar de ser um homem segundo o coração de Deus, Davi foi homem e, por isso, teve também grandes fracassos espirituais.

I – AS ORIGENS DE DAVI

Davi foi o segundo rei de todo o Israel entre cerca de 1016 a 976 a.C., tendo assumido o trono com trinta anos de idade (II Sm.5:2), o que faz com que sua data de nascimento seja estabelecida por volta de 1046 a.C. Seu nome significa ―amado‖ ou ―predileto‖ e, segundo o site iremar.com.br, ―significa predileto, amado e indica uma pessoa que aproveita todas as oportunidades de sucesso que surgem mostrando competência e dedicação.‖ (http://www.iremar.com.br/index.php?q=Davi&con=conexao&inc1=header&inc2=footer& banner=rodape&site=nomes Acesso em 24 maio 2007).

Davi surge na história sagrada, pela vez primeira, no livro de Rute, onde o autor (que a tradição diz ter sido o profeta Samuel), anuncia que o neto de Obede, filho de Rute e Boaz, seria o rei Davi (Rt.4:17,22). Sua história, porém, é relatada nos livros de Samuel e nos primeiros livros de Reis e de Crônicas.

Davi era da tribo de Judá, tribo esta que, naquela altura da história de Israel, em que pese a bênção de Jacó que lhe prometia a supremacia (Gn.49:10), bem como a vida fiel de Calebe e a sua densidade populacional (Js.14 e 15), havia vivido mais ou menos marginalizada no meio do povo de Deus, tanto que, com exceção de Otoniel, o primeiro juiz de Israel (Jz.3:9-11), não fornecera qualquer outra liderança nacional até então.

Quando surge na história sagrada, Davi é apresentado como o filho caçula de Jessé, filho de Obede e neto de Boaz e, portanto, pelo que vemos do relato do livro de Rute, um grande proprietário de terras na tribo de Judá. Sendo o filho mais novo, porém, Davi não tinha qualquer posição de realce na sua família. Seus irmãos, além de mais velhos, eram pessoas fortes e robustas que, por isso mesmo, haviam sido selecionadas por Saul, o primeiro rei de Israel, para servirem como seus soldados (cf. I Sm.8:11).

Tanto assim é que Samuel, ao ver o primogênito de Jessé, Eliabe, logo se convenceu que estava diante do escolhido do Senhor, dado o seu porte físico (I Sm.16:6,7).

Davi trabalhava como pastor de ovelhas(I Sm.16:11) e, neste seu trabalho, sem que muito provavelmente seu pai e seus familiares o soubessem, agia com dedicação e zelo, visto que, apesar de ser pequeno, pôs sua vida em risco para proteger o seu rebanho (cf. I Sm.17:34-36). Esta dedicação, este sentimento de compromisso com a tarefa que lhe havia sido cometida pelo seu pai foi um dos fatores que levou o Senhor a escolhê-lo para a tarefa de reinar sobre Israel.

Devemos, desde já, verificar que a consciência do compromisso assumido, que a disposição para cumprir com as tarefas que são cometidas por quem de direito é um traço de caráter indispensável para quem quer servir a Deus. Davi foi chamado por Deus como  ―um homem segundo o coração de Deus‖ (I Sm.13:14), precisamente porque, no silêncio, no anonimato, fazia questão de honrar o compromisso de cuidar do rebanho que lhe fora confiado.

Este mesmo sentimento de dedicação e de consciência do compromisso nas mínimas coisas continua a ser observado por Deus, que conhece os corações (I Sm.16:7 ―in fine‖). Jesus fez questão de lembrar, na parábola dos talentos, que um requisito para que alguém alcance o gozo do Senhor é o de ter sido fiel sobre o pouco (Mt.25:21,23). Por isso, o profeta nos aconselha a jamais desprezarmos o dia das pequenas coisas (Zc.4:10a).

A dedicação de Davi era tanta que seu pai, mesmo sem sequer saber onde se encontrava o pequeno, sabia que ele estava a apascentar as ovelhas, tanto que não houve dificuldade em achá-lo (I Sm.16:12).

Esta dedicação e este compromisso são, pois, fatores importantíssimos aos olhos do Senhor. Davi era um homem agradável a Deus por causa deste seu comportamento. Não foram as guerras que fizeram Davi agradável ao Senhor, nem tampouco os salmos ou os esforços em prol da obtenção de materiais para o templo, mas, sim, este sentimento de serviço, de submissão. Este foi o fator que fez com que Deus escolhesse a Davi.

E nós, será que temos este mesmo sentimento? Jesus, o Filho de Davi, tinha-o, como nos mostra o apóstolo Paulo (Fp.2:5-8) e o escritor aos hebreus (Hb.10:7-9), que, de resto, apenas confirmam aquilo que o próprio Senhor publicamente afirmou (Mt.5:17), sendo testificado pelo Pai (Mt.3:17). Estamos imitando a Cristo? Temos aprendido esta lição com Davi?

Davi, apesar de ser integrante de uma família abastada e respeitada em sua tribo, não tinha qualquer realce ou relevância segundo os critérios sociais então vigentes.

Filho caçula, pastor de ovelhas, era pessoa sem importância aos olhos da sociedade, que nem sequer foi convidado para participar do banquete que se seguiu ao sacrifício que Deus mandara o profeta Samuel fazer em Belém. Entretanto, como disse o próprio Deus a Samuel, Deus não olha para a aparência, nem para a altura da estatura, mas, sim, para o coração do homem (I Sm.16:7).

– Devemos ter esta consciência. Deus chamou a Davi por causa do seu interior, da sua sinceridade, da sua disposição em servir. Deus não muda e continua a agir deste modo: escolhe com base no interior das pessoas, não faz julgamentos de acordo com a aparência ou com as convenções humanas, ou seja, os critérios criados pela vida em sociedade. Jesus ensina-nos a proceder como o Senhor, não julgando segundo a aparência, mas, sim, segundo a reta justiça (Jo.7:24).

Lamentavelmente, nos dias difíceis em que estamos a viver, cada vez mais frequentes são os julgamentos segundo a aparência e a prevalência das convenções sociais no meio das igrejas locais, como, aliás, já denunciava Tiago em sua epístola (Tg.2:1-13). Tomemos cuidado e aprendamos neste episódio bíblico a sublimidade do interior humano.

II – A UNÇÃO DE DAVI

Israel passava por um momento delicado de sua história. Saul, seu primeiro rei, havia conseguido importantes vitórias militares sobre os filisteus, os maiores inimigos dos israelitas, e consolidava, assim, o seu poder sobre toda a nação.

Parecia, aos olhos humanos, que Israel, finalmente, conseguia sua unidade política e criava condições para se impor junto a seus vizinhos e se transformar numa potência política regional.

No entanto, aos olhos do Senhor, o quadro não era assim tão favorável ao povo israelita. Saul, o homem que Deus havia escolhido para reinar sobre Seu povo (I Sm.9:16), embora cumprisse a vontade de Deus no tocante à unidade nacional para derrotar os filisteus, havia se rebelado contra o Senhor.

Assumira, em verdadeira afronta à lei de Moisés, a qualidade de sacerdote, oferecendo sacrifícios antes de uma batalha contra os filisteus, porque não suportara esperar Samuel chegar para oferecê-los (I Sm.13:8-14) e tornara a se rebelar contra o Senhor ao poupar Agague, rei dos amalequitas, e o melhor do gado daquele povo, quando Deus lhe havia mandado tudo destruir (I Sm.15).

O rei Saul, pois, apresentara-se como um rebelde contra o Senhor e, diante disso, não poderia mais continuar reinando sobre Israel, sob pena de levar todo o povo à perdição. Espiritualmente, pois, o reino caminhava muito mal e Deus já revelara ao seu profeta, Samuel, o desejo de escolher um outro rei, que fizesse a Sua vontade.

Ciente desta disposição e estando afeiçoado a Saul, Samuel começou a interceder pelo rei, a fim de que Deus pudesse modificar a sua triste sorte (I Sm.16:1).

Estes fatos mostram-nos como devemos ter muito cuidado na obra do Senhor. Assim como Deus queria o bem-estar espiritual de Seu povo e isto não era possível com Saul à frente, diante de seu espírito rebelde, do mesmo modo, nos dias hodiernos, Deus também não tem prazer em ver ―capitães‖ rebeldes à frente da Igreja do Senhor.

Não é por outro motivo, aliás, que o apóstolo Paulo diz que os que presidem devem fazê-lo com muito cuidado (Rm.12:8), pois o Senhor a tudo observa e não admite que rebeldes fiquem à frente de Seu povo.

Em resposta à oração intercessória de Samuel, o Senhor lhe manda até a casa de Jessé, em Belém de Judá, pois ali Se tinha provido de um rei entre os filhos de Jessé. Samuel, numa lição que nos dá, ao saber qual tinha sido a resposta de Deus a seus pedidos por Saul, prontamente obedeceu, não ficou insistindo nem teimando.

Que possamos todos, ao receber de Deus uma resposta a nossas súplicas, conformarmo-nos à Sua vontade, pois não se ganha coisa alguma em contender contra o Senhor.

Samuel, porém, sabia que Saul era um rei duro e impiedoso. Ao receber a ordem divina para ungir a um dos filhos de Jessé, o profeta, que desfrutava de intimidade com Deus, temeu por sua vida, pois sabia que Saul não hesitaria em mandar matá-lo, caso soubesse que ele havia ungido outrem para reinar sobre Israel.

O Senhor, então, dá-lhe uma estratégia, qual seja, a de fosse realizar um sacrifício pacífico em Belém e que convidasse a Jessé e a sua família e, após o sacrifício, quando estivessem todos para comer a refeição, Deus indicaria quem deveria ser ungido (I Sm.16:2,3).

Vemos como Deus trabalha. O receio de Samuel era justificado. Saul já dera mostra de sua impulsividade e de seu caráter violento,m o que muito explicava a sua rebeldia contra o Senhor. No entanto, Deus não Se irou contra Samuel nem viu nesta atitude do profeta uma recusa a realizar a Sua vontade. Prontamente, deu-lhe uma estratégia em que a ordem divina seria prontamente cumprida e o risco de perseguição por parte de Saul senão completamente, sensivelmente diminuído.

O mesmo hoje ainda acontece. Devemos levar ao Senhor as nossas dúvidas e dificuldades quando somos convocados para o Senhor para realizarmos alguma obra. O que não podemos é desprezar as reais circunstâncias que se apresentam como obstáculos à realização da vontade de Deus como também, por conta de tais dificuldades, deixar de fazer a vontade do Senhor.

Muitos hoje ou deixam de lado a prudência e querem cumprir a vontade de Deus sem o devido cuidado e, diante disto, saem prejudicados, ou, então, o que é pior, simplesmente desobedecem a Deus por conta dos problemas que se apresentam. Samuel não fez nem uma coisa, nem outra.

Correu aos pés do Senhor e lhe pediu uma estratégia, exatamente o que Tiago nos conclama a fazer: ―e, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e não lança em rosto, e lhe será dada‖ (Tg.1:5).

Ao chegar a Belém, uma pequena cidade de Judá (Mq.5:2), Samuel causou não pequeno alvoroço entre os anciãos da cidade, pois a presença do homem de Deus nunca era despropositada ou gratuita. Samuel, porém, apazigua a todos e diz que sua vinda é de paz e que deveria oferecer sacrifício pacífico ao Senhor, convidando Jessé e sua família para a efeméride, o que significava que, após o sacrifício, tomaria a refeição na residência de Jessé (I Sm.16:4,5).

Após o sacrifício e já na hora da refeição que se lhe seguia (Lv.7:15-17), Samuel, então, em obediência à ordem divina, mandou que se lhe trouxessem os filhos de Jessé, pois o Senhor havia dito que, dentre eles, tinha Se provido de um rei. (I Sm.16:1).

Chegou, então, o primogênito de Jessé, Eliabe. Além de ser o primogênito e, portanto, ser, por força da lei de Moisés, não só aquele que pertencia ao Senhor (Ex.13:2; Nm.3:13; 8:17), como também o mais abençoado dentre todos os filhos, tanto que fazia jus à porção dobrada na herança (Dt.21:17), Eliabe era de porte atlético, guerreiro (I Sm.17:13) e, diante de tantas ―evidências‖, Samuel não teve dúvida de que, diante dele, estava o novo rei de Israel (I Sm.16:6).

No entanto, se Samuel via o exterior e fazia suas avaliações com relação às convenções humanas e, até mesmo, diante das conclusões humanas diante da lei divina, Deus conhecia o coração de Eliabe e sabia que ele era um homem covarde e invejoso, apesar de sua aparência e altura (cf. I Sm.17:28), motivo pelo qual não era o escolhido do Senhor para reinar sobre Israel (I Sm.16:7).

Mesmo Samuel, o homem de Deus daquele tempo, o homem em que habitava o Espírito Santo (o Espírito, embora ainda estivesse sobre Saul naquele instante, já não mais operava no rei, o que fazia de Samuel a única pessoa, que temos conhecimento, naquele instante, a ter o Espírito de Deus em Israel), não era capaz de conhecer o coração humano, pois só Deus pode fazê-lo.

Por isso, ante esta história da rejeição de Eliabe, sejamos cuidadosos e não façamos julgamentos precipitados sobre A ou B, pois não temos condição de saber o que há no interior do homem, o que existe em seu coração enquanto não convivermos com ele o suficiente para vermos os seus frutos e, então, sabermos quem ele é (cf. Mt.7:15-20).

Ante estas palavras do Senhor a Samuel, o profeta mandou que passasse diante dele os outros filhos de Jessé. Passaram diante de Samuel, então, os sete filhos que ali estavam (I Sm.16:10), tendo Deus rejeitado a todos eles, inclusive os dois outros guerreiros, Abinadabe e Samá (por isso, os únicos nomeados no texto sagrado, nessa ocasião – I Sm.16:8-10).

Quando passou diante dele o sétimo moço e o Senhor o recusou, Samuel, certamente, ficou atônito. Deus havia lhe dito que de um dos filhos de Jessé havia Se provido de um rei e o último acabara de ser rejeitado. Como Samuel, porém, sabia em quem cria, indagou a Jessé se havia ainda outro filho.

Foi, então, que Jessé deu notícia da existência de um oitavo, o menor, que estava a apascentar as ovelhas. Davi era o menor, aquele que nem sequer era considerado a ponto de ser convidado para participar do sacrifício e da refeição que lhe seguiria (I Sm.16:11).

Mais uma vez vemos como Deus vê diferentemente do homem. Aquele que havia sido desprezado, desconsiderado, de que ninguém sentiu a falta, era o escolhido de Deus. Isto ainda continua a acontecer, pois ―…Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias, e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes, e Deus escolheu as coisas vis deste mundo e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são, para que nenhuma carne se glorie perante Ele‖ (I Co.1:27-29).

Temos a visão divina para ver e compreender estas coisas, ou temos nos prendido às coisas deste mundo e nos tornado cegos ante a obra do Senhor ?

Diante desta notícia, Samuel, já sabedor de que se trava do escolhido de Deus, mandou que se enviasse alguém para chamar o filho que restava, pois ninguém se assentaria em roda da mesa enquanto ele não chegasse. Deus já começava ali a honrar Davi, pois, de não-convidado, passara a ser o convidado de honra.

De desprezado pelo próprio pai e pela família, passara a ser o homenageado do profeta e ex-juiz de Israel. De rejeitado pelos homens, passara a ser o escolhido de Deus. Davi, mesmo antes de ter conhecimento do seu chamado, já prefigurava o Cristo que, de rejeitado pelos homens e por Israel (Is.53:3;Jo.1:11), foi o escolhido de Deus para ser posto acima de todos (Fp.2:9-11), a pedra rejeitada que foi posta por cabeça da esquina (At.4:11).

Muito se discute sobre o número dos filhos de Jessé. O texto de I Sm.16 fala-nos que havia sete filhos no banquete e que, depois, Davi foi chamado, o que faz com que o número de filhos seja de oito, o que é confirmado por I Sm.17:12.

Em I Cr.2:13-15, entretanto, Davi é apontado como o sétimo filho de Jessé, como se Jessé tivesse apenas sete filhos e não oito como constou em I. Sm. Em I Cr., aliás, são dados os nomes de todos os filhos de Jessé, o que não ocorre em I Sm., que apenas dá o nome dos três mais velhos (Eliabe, Abinadabe e Simeia ou Samá), que eram os filhos de Jessé que faziam parte do exército de Israel (I Sm.17:13).

Ali ficamos sabemos os nomes dos outros três, a saber:

Netanel, Radai e Ozem (I Cr.2:14,15). Diante desta divergência, há, inclusive, quem aí veja uma―contradição da Bíblia‖, querendo, com isso, infirmar a origem divina do texto sagrado.

Esta dificuldade, por primeiro, não tem o condão de trazer qualquer dúvida quanto ao fato de a Bíblia ser a Palavra de Deus.

A revelação divina ao homem e o cumprimento de tudo quanto está nas Escrituras não pode ser simplesmente anulado ou posto em dúvida porque dois textos, muito provavelmente escritos num intervalo entre eles de mais de quinhentos anos (pois os livros de Samuel foram escritos durante os reinados de Davi e Salomão e os livros das Crônicas são obras posteriores ao cativeiro da Babilônia, muito provavelmente escritos por Esdras), destoam quanto ao número de filhos de Jessé, uma informação absolutamente secundária, para não dizer terciária, quaternária etc.

Por segundo, tem-se que os livros das Crônicas são baseados em registros feitos anteriormente (I Cr.4:38) e, nestes registros, que não foram inspirados pelo Espírito Santo e, portanto, não são dotados de infalibilidade, não constava senão o nome de sete filhos de Jessé. Por quê?

Ora, um deles muito bem pode ter morrido sem deixar descendentes e antes mesmo de Davi subir ao trono, quando, então, se teve o cuidado de fazer os registros a respeito da família que então se tornou a família real. Isto é possível e não pode ser refutado, e só esta possibilidade elimina a hipótese de ―contradição‖.

O importante é que, em ambos os textos, Davi é apresentado como ―o filho menor‖, que é o objetivo da revelação divina, ou seja, mostrar que a escolha de Davi foi divina e fora de quaisquer parâmetros humanos, o que é relevantíssimo no que toca ao desenvolvimento do plano de Deus para a salvação do homem.

Quando Davi chegou, a Bíblia diz que ele era ruivo, formoso de semblante e de boa presença. Esta descrição física do jovem mostra-nos claramente que Davi não era rejeitado porque fosse defeituoso ou uma pessoa feia, mas, única e exclusivamente, porque era ―o filho menor‖, em virtude das convenções sociais de seu tempo.

Era um rapaz bonito, bem-apessoado, simpático e educado, mas que era desprezado por conta de sua qualidade de filho caçula. Isto também impede que se diga que Davi era um filho bastardo ou algo semelhante, como se chegou mesmo a apregoar.

Se o fosse, isto, certamente, não impediria a escolha da parte de Deus, mas não podemos inferir tal afirmação pois o texto sagrado não nos permite fazê-lo, visto que a Bíblia jamais omitiria tal dado, caso ele existisse, como, por exemplo, vemos no caso de Jefté (Jz.11:1,2).

Discute-se se Davi era ―ruivo‖ mesmo ou se o termo não foi corretamente traduzido, querendo dizer ―loiro‖ ou ―claro‖ em relação aos seus irmãos, que deveriam ser mais escuros. Muitos acham que a expressão revela que Davi era ―bronzeado‖ ou ―moreno‖ (como traduziu a Nova Versão Internacional), em virtude de sua exposição ao sol. De qualquer maneira, ele se distinguia dos seus irmãos na sua aparência física.

Não tinha o corpo atlético e ―sarado‖ de seus irmãos mais velhos, mas era de ―gentil aspecto‖, ou seja, uma pessoa simpática que transmitia ternura e dulçor, algo bem diferente da imagem que Israel tinha para um rei e que tanto havia se adaptado à aparência física de Saul. Como os olhos humanos se enganam…

Quando Davi chegou, Samuel somente o ungiu depois que o Senhor lhe mandou, prova de que aprendera a lição de que só Deus conhece o coração do homem.

Apesar das evidências, o profeta se manteve obediente à voz do Senhor e, quando o Senhor confirmou que aquele era o escolhido, tomou o vaso de azeite e ungiu Davi no meio de seus irmãos. Este ato, apesar de solene, foi sobretudo um ato espiritual, que teve efeito imediato tão somente no interior de Davi, pois a Bíblia diz que, a partir daquele instante, o Espírito de Deus Se apoderou de Davi (I Sm.16:13).

Do ponto-de-vista exterior, após aquela unção, todos tomaram a refeição e Samuel, como nos diz o texto sagrado, levantou-se e tornou a Ramá. Enquanto isto, ―o novo rei‖, no dia seguinte, voltou a apascentar as ovelhas de seu pai. Nada, aparentemente, havia mudado, tudo como antes.

Na verdade, porém, Davi não era mais o mesmo. Assim como Saul, quando ungido, tornou-se um outro homem (I Sm.10:6), Davi também teve alterado o seu estado espiritual. No entanto, se Saul profetizou logo em seguida ao apossamento do Espírito, o mesmo não se deu com Davi.

No entanto, diz-nos a Bíblia, o Espírito do Senhor se retirou de Saul, como resultado direto da unção de Davi e, a partir de então, Saul ficou à mercê de um espírito maligno, enviado da parte do Senhor, ou seja, por Sua vontade permissiva (I Sm.16:14).

Como estávamos ainda na dispensação da lei, vemos que o Espírito operava sob medida e, diante da rejeição divina a Saul, não podia mais o Espírito habitar em Saul quando se ungiu um novo rei.

Por isso, o Espírito Se apoderou de Davi e, simultaneamente, Se retirou de Saul. Espiritualmente, pois, já havia ocorrido a sucessão. Davi só viria a ocupar o trono muitos anos depois, como teremos ocasião de verificar ao longo do estudo deste trimestre, mas, diante de Deus, a sucessão já se fizera. Havia um novo rei, um novo ungido em Israel.

O mesmo ocorre nos dias hodiernos. Quando somos salvos pelo Senhor, o Espírito Santo vem habitar em nós (Jo.14:17; Rm.8:9), sem que, para isso, porém, tenha de sair de ninguém mais. Agora o Espírito Santo atua livremente, não mais por medida (Jo.3:34), de sorte que podemos desfrutar da condição de templos do Espírito Santo independentemente da conduta dos demais (I Co.6:19).

No entanto, se entristecermos o Espírito Santo e, em mantendo nossa conduta pecaminosa, O agravarmos (Ef.4:30; Hb.10:29), corremos sério risco de cairmos na mesma situação de Saul, quando não um, mas até mesmo oito espíritos malignos podem nos causar enorme e, por vezes, irremediável prejuízo espiritual em nossas vidas (Mt.12:43-45; Lc.11:25-26; Hb.10:30,31).

III – PRIMEIRAS CONSEQUÊNCIAS DA UNÇÃO DE DAVI

Davi não era mais o mesmo desde a sua unção. Aparentemente, tudo ficara do mesmo Ele continuava sendo ―o filho menor de Jessé que apascentava as ovelhas de seu pai‖.

O rei de Israel ainda era Saul e a situação política e militar de tensão entre israelitas e filisteus não havia tido qualquer alteração depois daquela visita de Samuel a Belém.

Nos dias hodiernos, muitos se confundem porque acham que as coisas devem acontecer de imediato. Nos lugares celestiais em Cristo, elas ocorrem assim que Deus as quer, mas, neste mundo material, neste planeta Terra, tudo tem de esperar a ―plenitude dos tempos(Gl.4:4).

Não sabemos quanto tempo demorou entre a unção de Davi e a sua subida ao trono, pois as Escrituras não informam a idade de Davi ao ser ungido, apenas relatando que começou a reinar com trinta anos (II Sm.5:2),.

Parece, mesmo, que o Senhor quis, propositadamente, omitir este dado aos homens, a fim de que, nesta omissão, aprendêssemos a lição de esperar com paciência no Senhor, o que, aliás, nos é explicitamente cantado por ninguém mais, ninguém menos que o próprio Davi no salmo 40 (Sl.40:1). Não foram, certamente, poucos os anos entre a unção e a subida ao trono.

Ainda que continuasse a apascentar as ovelhas de seu pai, Davi era agora um outro homem. Não sabemos se antes Davi já não mantinha uma vida de adoração a Deus (o que é bem provável), mas o fato é que, com a unção, Davi passou a ter uma vida de adoração a Deus que se intensificou e passou a ser notada.

Em I Sm.16:18, é dito que um dos mancebos que serviam ao rei Saul lhe falou a respeito de Davi, que era uma pessoa que sabia tocar e que Deus era com ele. Este ―saber tocar bem‖ não só nos fala do conhecimento técnico de Davi, mas, sobretudo, de sua vida espiritual, afinal de contas, pelo que nos mostra o contexto, estava-se a procurar alguém que ―Deus fosse com ele‖, a fim de expulsar o espírito maligno que atormentava o rei Saul.

Davi tinha recebido o Espírito Santo e, aliado à técnica que já possuía, passou a adorar a Deus com um verdadeiro louvor. É desta época já que vemos nascer aquele que haveria de ser ―o suave em salmos de Israel‖ (II Sm.23:1 ―in fine‖, isto é, a parte final do versículo).

A presença do Espírito Santo na vida de alguém faz com que este alguém passe a ter uma vida de adoração, passe a servir ao Senhor, inclusive no que toca ao louvor, um louvor que faz afugentar o maligno, um louvor que é contrário a Satanás.

Como, então, podemos admitir ―louvores‖ na atualidade que têm suas raízes e sua razão de ser em cultos de adoração ao diabo, como o samba, filho dos terreiros de candomblé ou o ―rock‖, criado para a satisfação da carne, ou, como na sua versão ―heavy metal‖, criado pelos satanistas para adorarem ao diabo?

OBS: ―…Depois de tudo isto, surgiu a música gospel, que teve grande influência do rock, jazz, pop, funk etc., criada com o intuito de trazer aqueles jovens para dentro das igrejas. No entanto, esta música não tem compromisso em ser perfeita para adoração, pois não se diferencia da música secular, destina-se ao homem e não a Deus. Para atrair o jovem à igreja, o único caminho é a cruz de Cristo.

Chegamos ao ponto de determinadas ‗igrejas‘, no afã de atrair os jovens, promoverem até mesmo pagode com feijoada e, na época de carnaval, formam com os seus fiéis, blocos de samba e, mais recentemente, trouxeram para dentro das igrejas, as lutas do tipo ‗vale-tudo‘( será que isto é a forma de evangelizar e agradar a Deus?).…‖ (LEITE, Edson Luiz Tenório. Palestra sobre música na igreja. Março/2009).

Deus começa, então, a agir. Atormentado por um espírito maligno, o rei Saul é orientado a buscar um músico ungido, que tocasse bem harpa e afugentasse o espírito maligno. É interessante que um dos mancebos do rei é quem dá a notícia ao rei da existência de Davi, certamente porque, em alguma ocasião, viu Davi tocando e sentiu que o Senhor era com aquele jovem.

Mostra-se, então, que Davi não era mais o mesmo desde a unção. Sua música, tocada despretensiosamente, enquanto apascentava as ovelhas de seu pai, já não era a mesma.

Mexia com as pessoas, fazia com que elas sentissem a presença de Deus. Davi, que já então tinha o Espírito Santo, talvez ali já começasse a entoar os seus primeiros salmos, a falar profeticamente. Não fazia isto para exibir-se ou apresentar-se a quem quer que seja, pois, muito provavelmente, não tinha sequer conhecimento de que era ouvido e notado pelos que se encontravam com ele no campo, muito menos que haveria de ser mencionado por um dos mancebos ao rei Saul, mas tudo fazia porque tinha prazer em louvar e adorar ao Senhor.

O salvo tem de proceder do mesmo modo. Tem de, no campo (que é o mundo, como se vê de Mt.13:38), louvar e adorar ao Senhor, no anonimato, como resultado de sua gratidão a Deus por tão grande salvação e pela presença do Espírito Santo em seu interior.

Deve fazer com que a sua atividade profissional, o seu meio de vida para a satisfação de suas necessidades materiais, seja um instrumento de louvor e adoração ao Senhor. Assim fazendo, certamente será notado e um vaso de Deus para a libertação de todos os oprimidos do diabo (At.10:38). Como temos nos comportado no campo? Quais têm sido as atitudes diante dos homens?

Não nos esqueçamos de que somos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens (I Co.4:9).

Um dos mancebos percebeu que Davi sabia tocar, era valente e animoso, homem de guerra, sisudo em palavras, de gentil presença e com quem o Senhor estava (I 16:18). Que testemunho dava Davi depois que fora ungido!

Antes, era apenas ruivo, formoso de semblante e de boa presença, ou seja, suas qualidades eram basicamente físicas, relacionadas com o seu corpo, sua aparência, ou seja, com a vida terrena, com as coisas desta vida. Depois da unção, o jovem, embora continuasse fisicamente atraente, era muito mais do que isto: era valente e animoso, homem de guerra e sisudo em palavras, além do que mostrava, claramente, que o Senhor estava com ele.

Que diferença vemos, nos dias hodiernos, entre os jovens que cristãos se dizem ser. Estão somente preocupados com a aparência física, são facilmente levados pela mídia e aderem irrefletidamente à moda, aos ditames sociais a respeito da aparência e da maneira de vestir e de se comportar, pouco se importando se isto corresponde, ou não, aos princípios bíblicos, quase sempre tachados de ―mandamentos de homens‖, ―atraso‖ ou ―coisas do passado‖, como se a Palavra de Deus perdesse seu vigor ao longo dos anos.

Assim, vemos jovens se preocupando muito mais com o exterior do que com sua vida espiritual, do que com sua intimidade com o Senhor. Nos congressos e encontros, então, o que vale é o uniforme, os penteados, as maquiagens e não, propriamente, a presença do Espírito de Deus, os reais batismos com o Espírito Santo e a manifestação dos dons espirituais.

Davi, embora fosse bonito, não estava se importando com isto. Pelo contrário, a presença do Espírito Santo na sua vida fez com que se mostrasse um jovem valente. Davi era valente e não ―valentão‖. Não era um espancador, um homem violento. Não, não e não!

Era valente, ou seja, não tinha medo, era corajoso, sabendo enfrentar as feras que ameaçavam o rebanho de seu pai. Sabia enfrentar o mal. Quantos jovens hoje têm esta qualidade? Quantos podem dizer, como canta o poeta sacro Almeida Sobrinho no hino 225 da Harpa Cristã, que, na batalha contra o mal, segue em marcha triunfal, olha para Jesus, não deixa a sua cruz, enfrenta o maligno, luta sem recuar, é franco, não teme o mal, manifesta o amor aos caídos em redor, proclama o Evangelho, vive sempre com Jesus e vence a si próprio?

A presença do Espírito Santo na vida de alguém faz com que ela se torne valente. Por isso, é dito que os tímidos, os covardes não herdam o reino de Deus (Ap.21:8), porque eles não têm fé (Mc.4:40), não têm o Espírito Santo em suas vidas. Por isso, ao vermos tantos que cristãos se dizem ser, na atualidade, sem qualquer valentia, não podemos ter outra conclusão senão a de que não pertencem, infelizmente, ao corpo de Cristo.

Mas, além de valente, com a unção, Davi se tornou, também, animoso. Na Versão Almeida e Atualizada, como na Tradução Brasileira, o termo utilizado é ―forte‖. Não basta ser valente, é preciso ser ―forte‖, ou seja, ter força, ter sustentação para suportar as adversidades. O salvo também é um forte, pois é fortificado na graça que há em Cristo Jesus (II Tm.2:1). A força dada por Deus nos permite passar por todas as coisas, inclusive pelas necessidades e carências (Fp.4:13). É o Espírito Santo quem nos dá a força necessária para o nosso coração (Sl.104:15).

A presença do Espírito Santo na vida de Davi já havia modificado a impressão que causava diante dos homens. Se, antes da unção, era visto apenas como alguém formoso de semblante e de gentil presença, agora já inspirava respeito e temor no ponto-de-vista humano e militar.

Era tido como ―animoso‖ e como ―homem de guerra‖. Davi não havia ainda sequer feito parte do exército de Israel (basta ver que, mesmo depois destes fatos, não foi chamado para a guerra contra os filisteus, mas somente seus três irmãos mais velhos – I Sm.17:13), mas já era notado e sentido como um ―homem de guerra‖. Que era isto? O resultado da presença do Espírito Santo na sua vida!

O salvo, também, não precisa ―convocar batalhas espirituais‖, nem ficar à procura de ―espíritos territoriais‖ e tantas outras tolices que os defensores da chamada ―teologia da batalha espiritual‖ têm espalhado no meio das igrejas locais em nossos dias. A simples presença do Espírito Santo faz com que seja visto como um ―homem de guerra‖, seja notado como alguém que tem comunhão com Deus.

Eis a fonte de uma série de ―ódios à primeira vista‖ de que os salvos são alvo no trabalho, na escola, na vizinhança. Quando passamos a fazer parte da Igreja, as portas do inferno se levantam contra nós, mas, graças a Deus, jamais prevalecerão contra nós (Mt.16:18). Aleluia!

Mas Davi tinha, ainda, outra característica, após a sua unção, que não na tinha antes: ser sisudo em palavras, ou seja, ser prudente em palavras, ter sabedoria ao falar.

A presença do Espírito Santo dá-nos prudência, dá-nos sabedoria, pois o temor do Senhor é o princípio da sabedoria e a prudência, a ciência do Santo (Pv.9:10). Davi cedo foi instruído pelo Espírito de Deus a saber falar, a saber se conduzir, o que seria indispensável para que pudesse vir a reinar em Israel. A prudência é uma qualidade que devemos sempre buscar junto ao Senhor.

OBS: Por sua biblicidade, transcrevemos recente pronunciamento do chefe da Igreja Romana a respeito da prudência e seu importante papel na vida do servo de Deus: “… A segunda característica que Jesus requer do servo é a prudência. Isto exige que, de pronto, se evite um mal-entendido.

A prudência é coisa diversa da astúcia. Prudência, segundo a tradição filosófica grega, é a primeira das virtudes cardeais: indica o primado da verdade, que, mediante a ―prudência‖ se torna critério de nosso agir. A prudência exige a razão humilde, disciplinada e vigilante, que não se deixa abalar com os prejuízos; não julga segundo os desejos e paixão, mas segundo a verdade — mesmo a verdade que incomoda.

A prudência significa pôr-se em busca da verdade e agir de acordo com ela. O servo prudente é, sobretudo, um homem de verdade e um homem de razão sincera. Deus, por meio de Jesus Cristo, escancarou a janela da verdade que, diante de nossas forças, permanece rígida, ainda que transparente.

Ela se mostra nas Escrituras Sagradas e na fé da Igreja, a verdade essencial sobre o homem, que imprime a direção justa ao nosso agir. Assim, a primeira virtude cardeal do ministro de Jesus Cristo consiste em se deixar plasmar pela verdade de Cristo que se lhe mostra.

Desta maneira, tornamo-nos homens verdadeiramente razoáveis, que julgam com base no conjunto e não a partir de detalhes casuais. Não nos deixemos guiar pela pequena janela de nossa astúcia pessoal, mas pela grande janela da verdade integral que Cristo nos abriu, olhemos o mundo e os homens e reconheçamos aquilo que verdadeiramente conta nesta vida.‖ (BENTO XVI. Homilia na consagração episcopal ocorrida na Basílica Vaticana em 12 de setembro de 2009. Disponível em: http://212.77.1.245/news_services/bulletin/news/24320.php?index=24320&po_date=12.09.2009&lang=po Acesso em 12 set. 2009) (tradução nossa de texto em italiano).

Diante deste testemunho dado pelo mancebo, Saul resolveu mandar chamar aquele jovem para que lhe viesse tocar harpa a fim de aliviá-lo da presença do espírito maligno. É interessante vermos a mensagem que Saul mandou a Jessé: ―envia-me Davi, teu filho, o que está com as ovelhas‖.

Apesar de todas as qualidades apresentadas pelo jovem, o que mais o caracterizava, o que o tornava peculiar era o fato de estar com as ovelhas de seu pai, era a sua qualidade de pastor. Foi por causa disto que havia sido escolhido por Deus, era por causa disto que haveria de se notabilizar.

Davi foi chamado para ser levado até a presença do rei, como uma linda figura de que precisamos ser chamados para servirmos junto ao Rei dos reis e Senhor dos senhores. Davi não foi até Saul para oferecer os seus serviços e, humanamente falando, até poderia fazê-lo, já que havia sido ungido como o novo rei de Israel. No entanto, soube esperar o momento de Deus para assumir o trono, e esta ida até o rei seria apenas um primeiro estágio, um primeiro contato com a vida da corte.

Mandado por seu pai, Davi se apresenta ao rei com um presente da parte de Jessé. Levou um jumento carregado de pão, um odre de vinho e um cabrito (I Sm.16:20).

Davi começa bem e diferente de Saul. Enquanto Saul tinha ido completamente desprovido de presentes e ofertas ao sacerdote e profeta Samuel, então o governante de Israel (I Sm.9:7,8), Davi, bem instruído por seu pai, chega à presença do rei com algo a lhe oferecer.

Temos consciência de que temos de comparecer com algo diante do Rei Jesus? Como diz o poeta sacro Simon Lundgren, no hino 16 da Harpa Cristã: ―Posso, tendo as mãos vazias, com Jesus eu m‘encontrar? Nada fiz e vão-se os dias, que Lhe posso apresentar?

(…) Quantas almas poderia ao Senhor apresentar?‖ (primeira estrofe e refrão). Muitos, hoje em dia, entretanto, não tem esta preocupação, são piores que Saul e Davi, pois Saul, embora nada tivesse para oferecer ao profeta, só foi à sua presença depois que seu moço lhe disse ter algo a dar ao profeta…

Este jumento levado por Davi a Saul também nos traz importantes lições a respeito das consequências da unção do Espírito Santo na vida do jovem Davi. O jumento estava carregado, prova de que havia abundância. A vida trazida pelo Espírito Santo é uma vida abundante, não é uma vida mesquinha.

Ficamos muito impressionados com a vida espiritual medíocre que muitos estão vivendo na atualidade. O Espírito Santo não é dado por medida (Jo.3:34) e, portanto, não podemos nos conformar com esta mesquinhez, que é antes um indicativo da ausência do Espírito do que qualquer outra coisa. Que nosso seja o pedido do hino traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão:

―Nós queremos ter vida abundante de pureza e de santidade, para amarmos a Deus em verdade, pela graça que Ele nos deu. Vem nos dar Tua vida abundante, nosso amado e divino Senhor. Tua vida de gozo exultante, abundante no Consolador.‖ (primeira estrofe e refrão do hino 374 da Harpa Cristã).

Mas a carga do jumento também é elucidativa. Trazia Davi a Saul pão, símbolo maior da Palavra de Deus, o alimento espiritual por excelência. ―Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus‖, disse o Senhor quando tentado pelo diabo, repetindo palavras escritas por Moisés (Dt.8:3; Mt.4:4b).

A presença do Espírito Santo na vida do homem faz com que ele queira mais e mais da Palavra de Deus. Como, então, entender como manifestação do Espírito Santo reuniões onde a Palavra de Deus é exígua, quando não totalmente inexistente, como é o caso dos malfadados e funestos ―louvorzões‖ que estão a empestar as igrejas locais na atualidade?

Além de pão, o jumento trouxe um odre de vinho, vinho que é o símbolo da alegria (Ec.10:19).

A presença do Espírito Santo traz alegria ao homem, a verdadeira alegria, que não depende das circunstâncias nem do momento para se manifestar, mas a alegria perene, a sensação de satisfação pela comunhão com Deus, a alegria manifestada pelo advogado norte-americano Horatio Gates Spafford (1828-1868), autor do hino ―Sou feliz com Jesus‖, feito em adoração a Deus depois da perda de todos os seus filhos no naufrágio do vapor francês ‗Ville de Havre‖ em 1874, onde diz: ―Se paz a mais doce me deres gozar, se dor a mais forte sofrer; oh, seja onde for, Tu me fazer saber que feliz com Jesus hei de estar. Sou feliz com Jesus, sou feliz com Jesus, meu Senhor. (primeira estrofe do hino 230 do  Hinário Adventista). Como, pois, entender que há presença do Espírito Santo na vida daqueles que não têm prazer em servir ao Senhor, que não gostam de participar dos cultos e das reuniões, que vivem cabisbaixos e depressivos por causa das dificuldades da vida?

Mas o jumento também trazia um cabrito, um animal que deveria ser sacrificado para ser consumido pelo rei. Tal presente nos lembra a necessidade de jamais nos esquecermos do papel do sacrifício de Cristo, meio pelo qual pudemos nos chegar à mesa do Senhor e ter com Deus comunhão.

A centralidade de Jesus em nossas vidas tem de ser uma constante. Como diz querido irmão que sempre nos acompanha em nossas idas e vindas, nunca podemos nos esquecer do Calvário, jamais podemos tirar de nossa mente a cruz do Calvário, algo que tem sido tão esquecidos nos dias hodiernos. A presença do Espírito Santo em nossas vidas não nos permite esquecer a ―palavra da cruz‖ e nos faz pregar a Cristo e Este, crucificado (I Co.2:2).

OBS: Não devemos olvidar que o cabrito, assim como o cordeiro, era animal que podia ser utilizado para a celebração da Páscoa (Ex.12:5), motivo pelo qual podemos relacionar o cabrito desta passagem bíblica à figura de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, a nossa páscoa (I Co.5:7).

Davi foi até Saul e, diz-nos o texto sagrado, que esteve perante ele, ou seja, passou a trabalhar para o rei. A dedicação de Davi foi tanta que a Bíblia nos diz que Saul o amou muito (I Sm.16:21).

Não é à toa que o nome de Davi significa ―amado‖. Sua presença gentil e, sobretudo, a sua dedicação e zelo conquistavam os corações daqueles que desfrutavam da sua companhia. Davi era um servo exemplar, alguém que tinha prazer em servir e, neste particular, encontramos mais uma característica que faz da nossa personagem deste trimestre como um tipo de Cristo, o Servo do Senhor, o Servo por excelência (Is.42:1; 49:3; 52:13; Mt.20:28; Mc.10:45).

De igual modo, nós, que fomos salvos pelo Senhor Jesus, devemos, também, servir. O principal título que devemos ter é o de ―servo de Jesus Cristo‖, como, aliás, gostava de se identificar o apóstolo Paulo. Nos dias de apostasia em que vivemos, porém, muitos são os que querem ser servidos em vez de servir.

Acumulam para si honrarias e servidores, mas não querem servir, numa postura completamente oposta à determinada pelo Senhor Jesus aos Seus discípulos (Mc.10:42-45). A figura do pastor, aliás, é bem elucidativa a este respeito:

embora seja aquele que conduz o rebanho, seja o único racional no meio de seres irracionais, é o pastor que serve as ovelhas e não o contrário. Estamos dispostos a servir?

Davi não impressionou o rei Saul pela sua unção, pelo fato de, ao tocar sua harpa, o espírito maligno se retirar do rei atormentado. Davi não se fez prevalecer nem foi amado por causa do poder de Deus que nele estava, mas, sim, por causa do seu serviço, de seu trabalho, de sua dedicação.

Assim devemos proceder na obra do Senhor. É certo que temos de mostrar o poder de Deus que há em nós, mas não é esta manifestação do poder de Deus que deve ser o fator a nos levar a obter o respeito, a consideração e o amor dos nossos irmãos e do mundo, como, infelizmente, tem ocorrido em tantos lugares, mas o nosso serviço, a nossa dedicação, o nosso amor a Deus.

Muitos têm fracassado espiritualmente porque se deixam ser considerados pelo poder de Deus que neles opera (cf. Ef.3:20) e facilmente se esquecem que o poder é de Deus e não deles e que devem eles se afirmar entre o povo como vasos de barro, como pessoas dedicadas e servidoras (cf. II Co.4:7). Por não se comportarem assim, envaidecem-se e têm um fim semelhante ao do soberbo rei Uzias (II Cr.26:16-21). Que Deus nos guarde!

A dedicação de Davi bem como o seu porte diante do rei fez com que Saul o amasse muito (I Sm.16:21) e o fizesse seu pajem de armas, ou seja, seu escudeiro, aquele que carregava as armas. Entrava, assim, Davi em contato com o exército do rei, ainda que como mero pajem de armas.

É pelo serviço dedicado que o Senhor abre as portas para que adentremos, ainda que humildemente, no caminho que ele tem determinado para o nosso ministério diante d‘Ele.

A presença do Espírito Santo na vida de Davi se fez sentir, também, no fato de Davi, com sua harpa, afugentar o espírito maligno que atormentava Saul. Isto era um indicador de que Davi estava cheio do Espírito Santo. O Espírito que nele estava lhe dava o poder para que, com o dedilhar de sua harpa, houvesse a fuga do demônio que afligia o rei.

A unção do Espírito Santo dá-nos poder sobre os demônios. É um sinal que segue aos que creem (Mc.16:17).

Nos dias hodiernos, muitos querem ―amarrar o demônio‖, ―entrevistar o demônio‖ e há, mesmo, aqueles que nem acreditam mais em demônios ou que nem sequer se incomodam com eles, que passeiam livremente por entre os crentes nos cultos frios e despidos da presença do Senhor que cada vez mais ocorrem nas igrejas locais.

Entretanto, a presença do Espírito Santo faz com que os espíritos malignos sejam expulsos, saiam do meio do povo de Deus.

O verdadeiro louvor, o louvor baseado nas Escrituras Sagradas, o louvor resultante de uma vida santa e piedosa, de um ritmo consagrado ao Senhor, faz com que os demônios desapareçam, que os espíritos malignos se retirem daquele ambiente. Por que não se vê isto mais nas igrejas?

Simplesmente, porque não há ―Davis‖ a entoar e a cantar os louvores a Deus, não há vidas cheias do Espírito Santo a interpretar obras genuinamente sacras e destinadas ao louvor do Senhor. Enquanto estivermos nos ―balanços‖, nas ―baladas‖, nos ritmos destinados ao homem e/ou ao diabo, estaremos bem longe de expulsar os demônios.

Aliás, verdade seja dita, em muitos lugares, hoje em dia, há invocação dos demônios por este ―pseudo-louvor‖, uma vez que são usados ritmos e instrumentos que foram criados para chamar os espíritos malignos, como o samba, pontos de macumba, agogôs, atabaques etc. etc. etc.

Davi inicia a sua vida junto ao trono como o carregador das armas de Saul. Que exemplo a ser seguido! Embora fosse já considerado um jovem valente (I Sm.16:18), com capacidade para ser um bom soldado (I Sm.16:18 NTLH), um homem de guerra (I Sm.16:18 ARA, ARC), um guerreiro (I Sm.16:18 TB, NVI), o jovem foi posto tão somente para carregar as armas. E qual foi a sua reação?

Obedeceu, passou a servir ao rei com a mesma dedicação que havia servido ao seu pai no pastoreio das ovelhas.

Quantos que, chamados por Deus para ser generais, não aceitam começar como carregadores de armas e, por causa disto, jamais chegam a comandar exércitos na luta espiritual contra o mal. Aprendamos a lição da humildade de espírito com Davi!

Davi foi, então, ―efetivado‖ como pajem de armas pelo rei Saul, que deu ordem a Jessé para que o deixasse em sua companhia (I Sm.16:22). Muitos procuram encontrar neste texto uma ―contradição‖, pois, no capítulo seguinte, vemos Davi novamente servindo a seu pai, apascentando suas ovelhas.

Não há, porém, qualquer contradição: os servidores do rei não serviam ininterruptamente. A monarquia israelita ainda estava em seu início e não havia uma estrutura burocrática permanente e constante.

Os servidores atuavam durante parte do ano e, depois, voltavam a suas famílias, até porque, nesta época, não havia sequer uma capital em Israel.

Por isso, Davi, embora tenha sido ―efetivado‖, não ficava sempre com o rei e, em mais uma demonstração de sua humildade e espírito servidor, quando retornava à casa de seu pai, retomava a sua tarefa de pastor de ovelhas. Que exemplo, que dedicação que devemos seguir na obra do Senhor!

Davi era o pajem de armas de Saul mas este era apenas o início de uma carreira brilhante que mal se iniciava. Ali, de detrás das ovelhas, o jovem pastor seria tirado para realizar o mais famoso combate de todos os tempos. E o que veremos na próxima lição.

Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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