Sem categoria

LIÇÃO Nº 12 – O PAPEL DA PREGAÇÃO NO CULTO

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo sobre Eclesiologia, veremos o papel da pregação do culto.

-A pregação da Palavra é o principal momento do culto.

I– A PREGAÇÃO DO EVANGELHO É A PRINCIPAL TAREFA DA IGREJA

-A Grande Comissão, ou seja, a tarefa que o Senhor Jesus deu à Igreja, inicia-se com a pregação do Evangelho.

“Ide, pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc.16:15); “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt.28:19 NAA); “E disse-lhes:

Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse e, ao terceiro dia, ressuscitasse dos mortos, e em Seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc.24:46,47) e

“…Assim como o Meu Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós” (Jo.20:21b), o que deve ser compreendido à luz de Lc.4:43:

“…Também é necessário que Eu anuncie a outras cidades o evangelho do Reino de Deus, porque para isso fui enviado”.

-Notamos, portanto, que a pregação do Evangelho é a primeira tarefa que o Senhor determinou fosse realizada pela Igreja, é um dos pontos principais da própria missão da Igreja.

Não há como se pensar em Igreja sem se levar em conta que se está diante de um povo que prega o evangelho da salvação (Ef.1:13), o evangelho da graça de Deus (At.20:24).

-Bem por isso, Marcos, ao finalizar o seu evangelho, sucintamente, para mostrar o cumprimento da Grande Comissão pelos discípulos, diz que eles “…tendo partido, pregaram por todas as partes…” (Mc.16:20).

-Quis o Senhor que a salvação fosse obtida por meio da pregação do Evangelho. O apóstolo Paulo descreve esta dinâmica ao dizer que a salvação vem pela invocação do nome do Senhor, mas que tal invocação depende da fé no Senhor, fé, que, por sua vez, exige que se ouça a mensagem da salvação, oitiva que exige a pregação e pregação, que, por fim, depende do envio dos pregadores (Rm.10:13-15).

-Se a tarefa da Igreja é dar continuidade à obra salvífica de Cristo Jesus, não há como ser ela realizada se não houver a pregação do Evangelho, portanto. Como costumamos dizer, a essência do trabalho da Igreja é pregar o Evangelho aos incrédulos e ensinar a Palavra de Deus aos crentes.

-Não por acaso, a primeira tarefa desempenhada pela Igreja, no dia em que nasceu, no dia de Pentecostes do ano 29, foi pregar o Evangelho, o que foi feito por Pedro e os demais apóstolos (At.2:14,37) e o resultado disto foi a salvação de quase três mil pessoas, a primeira colheita de almas da história da Igreja (At.2:41).

-A palavra “pregar” é a palavra grega “kerysso” (κήρυσσω), enquanto “pregação” é “kerygma” (κήρυγμα), cujo significado é “proclamar, anunciar publicamente”, “a proclamação de uma mensagem cuja substância é distinta do ato” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbetes 2782 e 2784, pp.2265-6).

-Note-se, pois, que a pregação do Evangelho é um anúncio público, uma mensagem que é entregue às pessoas em geral, onde se fala de outrem que não o pregador, onde se apresenta uma mensagem que é distinta dos pensamentos, sentimentos e vontade do pregador.

-A Igreja, portanto, precisa levar ao conhecimento dos incrédulos a mensagem de que Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e brevemente voltará bem como fazer uma distinção entre quem prega e o assunto da pregação. Não é por outro motivo, aliás, que as Escrituras dizem que prega o Evangelho, está a pregar a Cristo (At.8:5; Rm.14:18; I Co.1:23,24; 2:2; Fp.1:15,17).

-Como diz a Declaração de Fé das Assembleias de Deus, a Igreja recebeu “…também a missão de proclamar o evangelho da salvação ao mundo todo, anunciando que Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e que em breve voltará.

O evangelho é proclamado a homens e mulheres, sem fazer distinção de raça, língua, cultura ou classe social, pois ‘o campo é o mundo’ (Mt.13:38) …” (DFAD XI.6, pp.122-3).

-O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16) e, por meio dele, se descobre a justiça de Deus de fé em fé (Rm.1:17).

-A pregação do Evangelho é a pregação da Palavra (Mc.16:20), Palavra esta que é a transmissora da fé salvífica (Rm.10:17) que, encontrando um coração disposto para crer em Jesus (Cf. Lc.1:17), germina e faz nascer uma nova criatura, como o Senhor nos mostra na parábola do semeador, em que a semente é, precisamente, a Palavra de Deus (Mt.13:3-9,19-23).

-A Igreja é “a semeadora que saiu a semear”, que tem de anunciar publicamente a Palavra de Deus, a fim de que sejam encontrados corações dispostos a crer em Jesus e, assim, iniciar a jornada de fé que os conduzirá aos céus.

-Não há como se ter a salvação sem que se tenha fé e não há como se ter fé se não se tiver a pregação da Palavra.

-Ora, em se trazendo a fé, a pregação da Palavra traz também a vida, pois, como já dissemos, por meio do acolhimento da semente, há a germinação, ou seja, o nascimento de uma nova criatura, o novo nascimento de que fala o Senhor Jesus a Nicodemos (Jo.3:3,5). Daí porque o Senhor ter dito que quem n’Ele crê passa da morte para a vida (Jo.5:24).

-Não há como a Igreja cumprir o propósito divino de dar continuidade à obra salvífica de Jesus, cujo objetivo é dar a vida eterna aos homens (Jo.3:16), sem que leve vida às pessoas e esta vida somente poderá ser adquirida pelas pessoas se houver a fé em Jesus, se houver a pregação do Evangelho.

-A Palavra de Deus, ainda, promove a santificação das pessoas. O próprio Jesus, em Sua oração sacerdotal, rogou ao Pai que fôssemos santificados na verdade, que é a Sua Palavra (Jo.17:17), tendo também afirmado aos discípulos que eles estavam limpos pela Palavra que lhes tinha falado (Jo.15:3), Palavra esta que é continuamente lembrada à Igreja pelo Espírito Santo (Jo.14:26).

-Assim, o pecador, ao ouvir a palavra e crer em Jesus, é santificado, ou seja, tem seus pecados perdoados e é resgatado do poder das trevas (At.26:18; Cl.1:13; I Pe.2:9), passando a estar separado e liberto do pecado, saindo do charco de lodo e do lado horrível para ter seus pés postos em Cristo (Sl.40:2).

-A pregação do Evangelho, portanto, tem por essência o convite ao arrependimento dos pecados. O primeiro ato do Espírito Santo na salvação de uma pessoa é convencê-la do pecado (Jo.16:8,9) e não pode alguém estar a pregar o Evangelho, pregação que, como vimos, tem uma necessária distinção entre a mensagem e o pregador, sem que fale da necessidade de as pessoas terem de se arrepender de seus pecados.

-João Batista, como precursor do Cristo, pregou o arrependimento de pecados (Mt.3:1,2; Mc.1:4; Lc.3:3). Assim que João foi preso, o Senhor deu início à Sua pregação e pregou o arrependimento de pecados (Mc.1:15) e Sua mensagem prosseguiu com a Igreja, pois, no dia de Pentecostes, a pregação foi o arrependimento dos pecados (At.2:38), como também no sermão pregado logo após a cura do coxo da porta Formosa do templo (At.3:19).

-Cristo afirmou que a pregação a ser feita pela Igreja era a pregação do arrependimento e a remissão dos pecados em nome de Jesus (Lc.24:47).

-Este é o primeiro elemento da pregação – “Jesus salva”. Não há como dizer que Jesus salva, que Jesus é o Salvador se não se disser que os homens são pecadores e que, sem Cristo, irão para a perdição eterna.

-Entretanto, a pregação do Evangelho não se circunscreve a uma bela retórica, ou seja, não se faz tão somente com o uso de palavras persuasivas. Desde a Antiguidade, existe toda uma técnica de convencimento das pessoas por meio do discurso, a chamada retórica, que teve grande desenvolvimento na Grécia e, depois, em Roma, sendo conhecidos grandes oradores como Demóstenes e Cícero.

-A pregação do Evangelho não pode ser tão somente o que o apóstolo Paulo (ele próprio, certamente, alguém que foi devidamente formado em retórica, já que era natural de Tarso, centro filosófico dos maiores daquele tempo) denominou de “sublimidade de palavras ou de sabedoria”.

-A pregação do Evangelho tem por objetivo a salvação das pessoas e, portanto, tem de se apresentar com o poder de Deus, visto que salvar pessoas é retirá-las das trevas e do poder de Satanás e a convertê-las à luz e ao poder de Deus (At.26:18).

-Ora, é sabido que as hostes espirituais da maldade, que são compostas de anjos (Ef.6:12) são superiores a nós, homens (Sl.8:4,5).

Tanto que o apóstolo João é bem claro ao dizer que “…maior é o que está em vós do que o que está no mundo” (I Jo.4:4 “in fine”), ou seja, somos inferiores ao diabo e seus anjos, mas, quando estamos em comunhão com o Deus, por sermos morada de Deus no Espírito (Ef.2:22), podemos vencê-los.

-Em sendo assim, não há como querermos ter sucesso na pregação do Evangelho se não estivermos em comunhão com o Senhor e, mais do que isto, revestidos de poder. Não foi à toa que o Senhor Jesus mandou que os discípulos aguardassem o revestimento de poder para pregarem o Evangelho (Lc.24:49).

-Por isso, a pregação do Evangelho não se pode dar apenas em “sublimidade de palavras ou de sabedoria” mas precisa se apresentar como “demonstração de Espírito e de poder” (I Co.2:4).

-Paulo diz que, se a pregação não for demonstração de Espírito e de poder, os ouvintes não apoiarão sua fé no poder de Deus mas na sabedoria dos homens e, desta maneira, não alcançarão a salvação de suas almas (I Co.2:5), porque temos entrada na graça pela fé em Jesus (Jo.1:12; Rm.5:1).

-A pregação do Evangelho, portanto, também precisa afirmar que “Jesus cura” e que “Jesus batiza no Espírito Santo”, pois é mister que não se anuncie mas que os ouvintes vejam a manifestação do poder de Deus, que tem por papel confirmar a palavra e de testificar a proclamação com sinais que se seguem (Mc.16:20; Hb.2:4).

-Por isso mesmo, exige-se dos pregadores mais do que eloquência e conhecimento das Escrituras, o que é fundamental, sem o que não se pode anunciar o Evangelho, mas, além disto, que sejam revestidos de poder a fim de que possam ser usados em sinais, prodígios e maravilhas.

-A pregação do Evangelho tem de também lembrar as pessoas de que precisam se decidir agora por servir a Cristo, pois o tempo da salvação é hoje (Hb.4:7), estamos no dia aceitável do Senhor (Lc.4:19).

Torna-se necessário lembrar que ninguém sabe o dia de sua morte e que Jesus brevemente voltará para arrebatar a Sua Igreja, em data que também não é sabida.

-Assim, há urgência em se decidir por Cristo e isto deve ser feito de imediato, pois não nos pertence o dia de amanhã (Mt.6:34).

-A pregação do Evangelho precisa sempre mostrar a transitoriedade desta vida terrena e o encontro que temos com o Senhor na eternidade, a Quem deveremos prestar contas (Hb.4:13).

II– O PAPEL DA PREGAÇÃO NO CULTO

-Já vimos, na lição anterior, como é o culto da igreja cristã. O apóstolo Paulo mostra-nos que, quando nos ajuntamos, cada um de nós terá salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação, tudo se fazendo para edificação (I Co.14:26).

-Por primeiro, notamos que há esta necessidade de o povo de Deus se ajuntar para adorar e louvar ao Senhor.

Como a Igreja é um corpo com muitos membros e como estes membros dependem uns dos outros para que haja o crescimento espiritual, é necessário que eles se reúnam para que, coletivamente, venham a sentir a presença do Senhor, que se fará de modo especial, pois é Sua promessa estar em nosso meio quando dois ou três estiverem reunidos em Seu nome (Mt.18:20).

-Esta afirmação do Senhor Jesus mostra a importância do culto. Ao subir aos céus, Cristo mandou o Espírito Santo para que ficasse conosco para sempre e habitasse em nós (Jo.14:16,17). Entretanto, quando nos reunimos em nome de Jesus, o próprio Jesus vem estar em nosso meio.

-Assim, quando estamos em um culto, temos a presença especial de Jesus, que é o Nosso Senhor e Salvador, que é o Rei dos reis e Senhor dos senhores e só isto já nos exige uma postura de reverência e de adoração.

Se, já na época da lei, Salomão dizia que devemos guardar o nosso pé quando entrássemos na casa do Senhor (Ec.5:1), quanto mais agora, na graça, quando o próprio Cristo vem estar em nosso meio durante a reunião.

-Por segundo, vemos que o culto é um ajuntamento, mas onde todos os que se ajuntam trazem algo ao Senhor: “cada um de vós tem…”.

Todos devem se reunir para cultuar ao Senhor, para adorar a Deus, não simplesmente para vir assistir ao culto, ser um elemento passivo, ser um espectador.

-A Igreja sempre deve agir, ela deve tomar as atitudes, praticar as ações de adoração. O adorador adora em espírito e em verdade (Jo.4:24), ou seja, é ele quem adora e não assiste ou testemunha a adoração de outrem. As Escrituras dizem-nos que quem devem ser os espectadores da atuação da Igreja são os anjos e os homens incrédulos (Ef.3:10; I Co.4:9).

-Esta falta de consciência de que o culto a Deus é algo que devemos fazer a Ele, que cada um dos que se ajuntam deve oferecer ao Senhor tem sido um dos principais fatores que têm transformado os cultos em “shows”, em exibições, porque, quando se perde esta noção, é fácil gerar “espetáculos”, pois boa parte das pessoas que se ajuntam, fazem-nos para assistir às apresentações que serão feitas.

-O próprio comentarista do trimestre, ao falar sobre o declínio do avivamento pentecostal no Brasil em um post no Facebook, no ano passado, disse que a transformação de cultos em shows e momentos de entretenimento é um dos fatores que tem contribuído para a frieza espiritual de muitas igrejas locais na atualidade.

-Dentro deste espírito de coisas, que é totalmente antibíblico, surgiu a ideia de que temos de nos reunir para “receber a bênção de Deus”, para “receber”, mentalidade que está, lamentavelmente, impregnada em muitos na atualidade, a ponto de ser este tão somente o objetivo de grande parte dos que se reúnem em cultos.

-Trata-se de uma verdadeira subversão do que é um culto, porquanto a adoração, como diz a Declaração de Fé das Assembleias de Deus, “…é o nosso reconhecimento de que Deus é digno de ser adorado como resposta humana à natureza divina: ‘o meu coração Te disse a Ti: o Teu rosto, Senhor, buscarei’ (Sl.27:8) (…) Reunimo-nos como corpo de Cristo para a adoração pública ao Deus Trino…” (DFAD XV, pp.143-4).

-Ir a um culto para “receber” é simplesmente tratar o Senhor como servo, é inverter as posições, querendo que Deus sirva o homem e não indo à reunião para servir ao Senhor.

Evidentemente que uma postura desta natureza, na presença de Jesus que está no meio dos que se reúnem, é praticamente uma blasfêmia, um insulto à majestade divina. Como, tendo este comportamento, queremos ter o agrado de Deus a este ajuntamento?

-O culto é uma oferta, tanto que o apóstolo Paulo diz que devemos apresentar a Deus o nosso culto racional, que é um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm.12:1). Se é um sacrifício é algo que tem de ser oferecido ao Senhor.

-Entretanto, muitos em fez de oferecer algo a Deus, querem tão somente receber de Deus alguma coisa ou, então, assistir ao que os outros oferecem, o que é, efetivamente, algo que não está de acordo com a vontade e propósito divinos. Qual é a nossa situação? Pensemos nisto!

-Cada um de nós tem de ter doutrina, ou seja, cada um dos participantes do culto deve estar apto para expor a Palavra de Deus, para pregar.

É verdade que as circunstâncias na atualidade são tais que, seja pelo número de membros da igreja local, seja pelo fato de, na grande parte das vezes, há preletores convidados ou escalados entre os obreiros para a ministração da Palavra, muitos, já sabendo que não terão esta incumbência, não se preparar para expor a Palavra.

-Entretanto, não podemos deixar de cumprir o que manda a Bíblia, nossa única regra de fé e prática. Temos de estar sempre preparados, pois quem dirige o culto genuíno não é o homem, mas o Espírito Santo e, portanto, pode acontecer de, contra todas as circunstâncias, sermos chamados a pregar numa reunião.

-Certo dia, conversando com um querido irmão, ele nos disse que, após décadas congregando numa determinada igreja local, foi chamado de sopetão para trazer uma mensagem e, como sempre se preparava para esta circunstância, pois “cada de vós tem doutrina”, pôde dizer que estava surpreso com a chamada para pregar, mas que não estava despreparado. Que grande testemunho!

-Este dever de cada um ter doutrina mostra a grande importância que tem a Palavra de Deus em um culto. Todos devem estar preparados para expô-la, todos já devem ter meditado nas Escrituras, já ter tido uma experiência com o Senhor antes de ir à reunião, tendo, assim, algo da parte do Espírito Santo para transmitir ao povo se lhe for determinado.

-Ora, já vimos o bem que a Palavra de Deus faz a cada um dos membros em particular do corpo de Cristo e o fato de já termos meditado nas Escrituras e termos até algo a dela expor quando vamos a um culto mostra como estaremos, efetivamente, em condições de sermos usados por Deus e de oferecer o nosso sacrifício vivo, santo e agradável a Deus.

-Com efeito, ao meditarmos na Palavra de Deus, somos santificados (Jo.17:17) e, deste modo, nosso sacrifício a Deus, que será o nosso culto racional, será conforme a vontade divina, que é a de que o sacrifício seja santo.

-Ao meditarmos nas Escrituras antes de irmos à reunião, ganharemos vida, pois a Palavra de Deus é espírito e vida (Jo.6:63), de modo que, quando nos reunimos aos outros, nosso sacrifício é vivo.

-E, ao estarmos a cumprir o que nos manda o texto sagrado, efetivamente estaremos agradando a Deus, estando dispostos a servir, de modo que o nosso sacrifício será agradável ao Senhor.

-Infelizmente, porém, muitos vão à reunião sem qualquer meditação nas Escrituras, pelo contrário, antes de ir ao culto, muitos, notadamente aos domingos, costumam participar de atividades profanas que só trazem prejuízo espiritual. Como podem querer oferecer, deste modo, um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus?

-Tal comportamento é o que Salomão denomina de “sacrifícios de tolos”, porque são pessoas que, por não terem consciência do que é cultuar a Deus, não sabem que estão fazendo mal (Ec.5:1).

-Mas, além de “cada um ter doutrina”, é necessário que estejamos prontos a ouvir Deus falar. Salomão, no texto já mencionado, diz que, na casa de Deus, devemos estar mais inclinados a ouvir do que a falar (Ec.5:1).

-Temos de estar prontos para ouvir Deus falar no culto. Devemos oferecer-Lhe o culto racional, mas tal oferta tem de estar acompanhada da disposição para ouvir o Senhor.

Vamos ao culto para Deus falar conosco. Já que reconhecemos que Deus é o Senhor, e este é o significado de adoração, temos de também reconhecer que Ele é quem fala, Ele é quem determina como devemos viver e o que devemos fazer.

-Por isso, o momento sublime do culto é a exposição da Palavra de Deus, porque, como ela é a verdade (Jo.17:17), temos que é o próprio Deus que estará falando conosco, e devemos estar inclinados mais a ouvir quando nos reunimos na casa do Senhor.

-Temos de estar atentos à voz do Senhor em cada momento do culto, pois Deus também fala por meio dos cânticos, testemunhos e manifestação dos dons espirituais, mas, sobretudo, Ele fala por meio da exposição das Escrituras, porque são elas as fiéis testemunhas de Jesus (Jo.5:39).

-Não se pode ficar distraído em um culto, disperso, prestando atenção ao movimento das pessoas, desligando-se, por completo, da sequência da liturgia. Devemos estar concentrados em Deus, a fim de poder ouvir a Sua voz em cada momento do culto.

-O padre e “santo” católico romano Dom Bosco (1815-1888), fundador da ordem dos salesianos, que se notabilizou por ter tido vários sonhos, conta de um em que via as pessoas sendo distraídas, numa missa, por demônios.

Tal sonho mostra-nos precisamente a realidade: as hostes espirituais da maldade lutam tenazmente para que não estejamos inclinados a ouvir o Senhor quando estamos na casa de Deus. Lembremos do que diz o apóstolo Paulo: “Não deis lugar ao diabo” (Ef.4:27).

-A Declaração de Fé das Assembleias de Deus afirma que “…A adoração pública é a atividade de glorificar a Deus em coletividade e serve também para a comunhão [I Jo.1:7], despertamento [I Ts.5:11], exortação [Cl.3:16] e edificação da Igreja [I Co.14:26].

Essa adoração pública é realizada com ordem e decência para que os descrentes reconheçam a presença de Deus no culto [I Co.14:40; I Co.14:33; I Co.14:25] e para que somente Deus seja adorado no culto da Igreja [Mt.4:10] …” (DFAD XI.1, p.144).

-A exposição da Palavra no culto cumpre todos os propósitos apontados pela Declaração de Fé para o culto.

-A Palavra de Deus santifica-nos (Jo.15:3; 17:17) e o que é santificação senão manter a comunhão nossa com o Senhor e nos aproximar mais d’Ele?

-A pregação promove a santificação dos participantes do culto, porque somos limpos pela Palavra que o Senhor nos fala. Daí a necessidade de estarmos atentos ao que é pregado e em atitude de escuta, com disposição para aprender e cumprir aquilo que for ensinado.

-Temos de estar dispostos a nos moldarmos ao que o Senhor determina em Sua Palavra, termos sempre a disposição de “andar conforme a regra” (Gl.6:16) e isto nada mais é que um espírito quebrantado e um coração contrito, duas circunstâncias que muito agradam ao Senhor (Sl.51:17).

-Aliás, como o diz Davi, não é possível oferecer um sacrifício a Deus se seu espírito não estiver quebrantado (Sl.51:17), de modo que se não tivermos esta disposição para acolher a pregação da Palavra, não estaremos verdadeiramente a cultuar ao Senhor.

-Eis um primeiro motivo para o adversário de nossas almas querer, a todo custo, que não estejamos atentos à pregação, porque ela nos aproxima de Deus.

-A exposição da Palavra traz-nos despertamento espiritual. Ora, a santificação, ao nos aproximar mais do Senhor, faz com que fiquemos mais alerta, mais avivados. A Palavra do Senhor é espírito e vida (Jo.6:63) e, deste modo, não há como não recebermos mais vida, alcançarmos um avivamento espiritual.

-Aliás, quando observamos as Escrituras Sagradas, não há um só caso de avivamento espiritual que não tenha se iniciado pela Palavra de Deus, o que mostra que é ela o principal motor de tal vivificação. O próprio Jesus disse que o espírito vivifica, mas isto se dá pelas Suas palavras.

-Muitos hoje querem saber de agitação, de movimento, de emocionalismo, pensando que, com isto, “liberam o Espírito Santo”, promovem avivamentos espirituais, mas tudo isto é balela, engano e ignorância espiritual.

Somente a Palavra de Deus proporciona o verdadeiro avivamento espiritual e um culto genuinamente avivado é aquele em que a exposição das Escrituras tem a proeminência e o lugar de destaque na reunião.

-A exposição da Palavra de Deus traz-nos exortação, ou seja, estímulo, incentivo, encorajamento para prosseguirmos a nossa peregrinação terrena. O apóstolo Paulo diz que as Escrituras fazem com que tenhamos esperança, por meio da sua paciência e consolação (Rm.15:4).

-Quantas vezes as lutas, aflições e dificuldades que se nos apresentam nos abatem, fazem com que cheguemos mesmo a desanimar.

Mesmo combalidos, vamos ao culto e lá a pregação da Palavra nos traz ânimo, porque ficamos a verificar como Deus tem agido desde o início, como Ele tem Se mantido fiel e como Ele não muda.

-Ao sermos confrontados com a Bíblia Sagrada, na pregação, o Senhor vai nos mostrando claramente que o que estamos a passar, outros já passaram e até em situações piores, mas que Deus nunca deixou o justo desamparado ou à mercê, mas sempre agiu em favor do Seu povo.

-Jesus, nas Suas últimas instruções, diz que Seus discípulos teriam aflições no mundo, mas que deveriam ter bom ânimo porque Ele venceu o mundo (Jo.16:33).

São as Escrituras que testificam de Jesus (Jo.5:39) e, por isso mesmo, quando elas são expostas e pregadas, elas mostram a vitória de Cristo sobre todas as coisas e isto fortalece a nossa fé, fé que a vitória que vence o mundo (I Jo.5:4).

-Quem nos exorta é a Palavra de Deus e só ela. Lamentavelmente, muitos, em nossos dias, estão a trazer mensagens de autoajuda, incentivos e estímulos ao próprio ego de cada ouvinte, numa atitude completamente contrária ao que o Senhor estabeleceu no culto.

-Devemos nos apresentar com espírito quebrantado, com coração contrito, pois assim seremos plenamente aceitos por Deus e a Ele agradáveis.

Deus habita com o contrito e abatido de espírito (Is.57:15), Seus discípulos são pobres de espírito (Mt.5:3), que procuram imitar o seu Senhor e Salvador, que é manso e humilde de coração (Mt.11:29).

-As mensagens de autoajuda, entretanto, fomentam a soberba, a autossuficiência do ser humano, num verdadeiro desprezo a Deus e a Sua Palavra, o que nada mais é que a aplicação da mentira satânica contada ao primeiro casal de que eles poderiam viver independentemente do Senhor (Gn.3:5). Tomemos cuidado com estas doutrinas de demônios (I Tm.4:1) que estão a ocupar os nossos púlpitos!

-A pregação da Palavra no culto, portanto, leva-nos a uma humilhação diante de Deus e esta humilhação debaixo da potente mão de Deus é uma grande bênção, pois nos credencia para a exaltação no tempo d’Ele (I Pe.5:6), que outra não é senão a da glorificação (Rm.8:30), o estágio final de nosso processo de salvação, quando o Senhor transformará o nosso corpo abatido para ser conforme Seu corpo glorioso, segundo o Seu eficaz poder de sujeitar também a Si todas as coisas (Fp;3:21). Aleluia!

-A pregação da Palavra promove a edificação da Igreja. Por ser meio de santificação, a Palavra já é responsável pelo nosso crescimento espiritual, que se dá na graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (II Pe.3:18).

-Mas, além disso, a Palavra de Deus é responsável pela nossa edificação em amor, pois todos os membros em particular do corpo de Cristo, diante da exposição da Palavra, não serão meninos inconstantes, levados em rodo por todo vento de doutrina, pelo engano de homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente, mas levará cada um a seguir a verdade em amor, crescendo em Cristo (Ef.4:14,15).

-A Palavra de Deus é um martelo que esmiúça a penha (Jr.23:29) e, como cada membro em particular do corpo de Cristo é uma pedra viva (I Pe.2:5), é por intermédio da pregação que são retiradas as arestas, as irregularidades que impedem a perfeita interação entre cada pedra e que conceda uma sólida estrutura a todo o edifício.

O corpo somente aumenta quando há a justa operação de cada parte e é a palavra que molda cada pedra para que haja este encaixe perfeito que trará solidez e aumento de estatura para a Igreja (Ef.4:16).

-A pregação da Palavra transmite a fé salvífica que, acolhida por um coração disposto, faz com que a pessoa creia em Jesus e seja salvo. Assim, não há como ganharmos almas para o Senhor em nossos cultos se não houver a pregação do Evangelho. A fé vem pelo ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17).

-As conversões em massa no início da história da Igreja foram resultado direto da pregação da Palavra, seja no dia de Pentecostes, seja após a cura do paralítico da porta Formosa do templo.

-O menosprezo à Palavra de Deus nos cultos faz com que diminuam as conversões de pessoas e que não haja da parte dos ouvintes a necessária compulsão do coração que leva ao arrependimento dos pecados.

No dia de Pentecostes, os ouvintes não suportaram o poder da Palavra e, com os corações compungidos, perguntaram aos apóstolos o que deveriam eles fazer (At.2:37).

-O saudoso pastor Walter Marques de Melo (1938-2018) costumava dizer que os crentes, antigamente, iam para o culto com a Bíblia, o hinário e um lenço, porque era corriqueiro que, ante o quebrantamento de espírito e a contrição de coração, eles chorassem, pedissem perdão e misericórdia ao Senhor e, também, sentissem a alegria da salvação em suas vidas.

-Hoje em dia, porém, não são poucas as reuniões onde há a proliferação de gracejos, piadas (já criaram até o “stand-up gospel”…), num ambiente de total irreverência e superficialidade, que nada tem que ver com o que se espera de um culto, havendo tão somente entretenimento e diversão.

-É a Palavra de Deus que traz esta compulsão do coração, este quebrantamento de espírito, como podemos ver no avivamento espiritual ocorrido nos dias de Esdras e Neemias (Ne.8:1-12).

-Por fim, a Palavra de Deus é a responsável pela sobrevivência espiritual dos servos de Deus. Cristo afirmou, ao ser tentado pelo diabo, que nem só de pão o homem viverá, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus (Mt.4:4; Lc.4:4).

-A Palavra, portanto, tem para o homem interior (alma e espírito) o mesmo papel que o pão, o alimento físico tem para o corpo. Sem nos alimentarmos fisicamente, teremos desnutrição e acabaram morrendo de fome, como acontece em muitos lugares do nosso planeta lamentavelmente.

-Se não houver a pregação da Palavra, muitos sofrerão desnutrição e acabarão morrendo de fome espiritual, e esta morte nada mais é que a perdição da alma.

-A pregação da Palavra no culto garante a alimentação espiritual dos participantes do culto, impede que eles sofram de desnutrição, inanição e morte.

-Uma igreja local que tenha sempre a pregação da Palavra em suas reuniões é uma igreja que garante a sua sobrevivência, que garante a sua posteridade. Infelizmente, porém, muitos são os que, a exemplo do ocorre na questão da alimentação física, estão também a perecer, ainda que dentro de templos, porque não têm o devido alimento espiritual. Que Deus nos guarde!

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/10334-licao-12-o-papel-da-pregacao-no-culto-i

Deixe uma resposta